1 Para esclarecer a distinção e a relação entre Pastorais e M

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Para esclarecer a distinção e a relação entre Pastorais e Movimentos1
Pe. Antonio Elcio de Souza (Pitico)
Para início de conversa...
a) É muito comum nas reuniões gerais ou paroquiais ouvirmos: “Eu sou da RCC”, “Eu sou do ECC”, “Eu
sou das ENS”, “Eu sou da pastoral Familiar”, e tantos outros que vão se definindo como se
representassem uma agremiação ou um clube. De repente, cabe a pergunta para ajudar a
esclarecer: não são todos da Igreja? Por que tantas diversidades? O que une todos esses membros?
b) Sem entrar em uma reflexão aprofundada, mas recolhendo alguns elementos importantes para a
nossa compreensão, a partir da constituição dogmática Lumen Gentium, documento do Concílio
Vaticano II, vemos que se redescobre o Mistério da Igreja à luz da obra salvífica de Cristo. Somos
Povo de Deus: comunhão, participação, colegialidade, diaconia – todos esses termos passam a ser
palavras-chave num grande convite à santidade e santificação do mundo. Conduz a uma Igreja
peregrina e missionária e define sua santidade no serviço e no ministério, cada vez mais fiel ao
Evangelho.
c) Essa não é uma realidade antiga, mas que encontrou maior espaço a partir do Concílio Vaticano II, e
por isso mesmo, muitos têm dificuldade na hora de explicitar as tarefas específicas de cada um.
d) Na Redemptoris Missio, São João Paulo II, afirma: “No âmbito da Igreja, existem vários tipos de
serviços, funções, ministérios e formas de animação da vida cristã. Recordo, como novidade surgida
recentemente em bastantes Igrejas, o grande desenvolvimento dos « Movimentos eclesiais »,
dotados de dinamismo missionário. Quando se inserem humildemente na vida das Igrejas locais e
são acolhidos cordialmente por Bispos e sacerdotes, nas estruturas diocesanas e paroquiais, os
Movimentos representam um verdadeiro dom de Deus para a nova evangelização e para a
atividade missionária propriamente dita. Recomendo, pois, que se difundam e sirvam para dar novo
vigor, sobretudo entre os jovens, à vida cristã e à evangelização, numa visão pluralista dos modos
de se associar e exprimir.” (n.72)
e) De certa forma, foi a partir do papa São João Paulo II, que reunindo os movimentos na Praça de São
Pedro em Roma, que se direcionou um pouco o que são os movimentos. Destaquemos alguns
textos:
1.
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“O que se entende, hoje, por ‘movimentos’? O termo é com frequência referido a realidades
diversas entre si, às vezes, até por configuração canônica. Se, por um lado, ela não pode
certamente exaurir nem fixar a riqueza das formas suscitadas pela criatividade vivificante do
Espírito de Cristo, por outro, porém, está a indicar uma concreta realidade eclesial de
participação prevalecentemente laical, um itinerário de fé e de testemunho cristão, que
assenta o próprio método pedagógico sobre um carisma dado à pessoa do fundador, em
circunstâncias e modos determinados. A originalidade própria do carisma que dá vida a um
Movimento não pretende, nem o poderia, acrescentar algo à riqueza do depositum fidei,
conservado pela Igreja com apaixonada fidelidade. Ela, porém, constitui um apoio poderoso,
um apelo sugestivo e convincente a viver plenamente, com inteligência e criatividade, a
experiência cristã. (27/05/1998).
O presente texto foi apresentado no encontro que aconteceu na Casa Dom Luís em Brodowski no dia 03 de julho
com os representantes de movimentos ligados à família (ENS e ECC), da Animação Bíblico-catequética da
Arquidiocese, do SAV/PV, da Pastoral Familiar e Setor Família em preparação do Projeto Agosto.
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2.
f)
“Pela sua natureza, os carismas são comunicativos e fazem nascer aquela «afinidade
espiritual entre as pessoas» (cf. Christifideles laici, 24) e aquela amizade em Cristo que dá
origem aos «movimentos». A passagem do carisma originário ao movimento acontece pela
misteriosa atração exercida pelo Fundador sobre quantos se deixam envolver na sua
experiência espiritual. Desse modo, os movimentos reconhecidos oficialmente pelas
autoridades eclesiásticas propõem-se como formas de auto-realização e reflexos da única
Igreja. O seu nascimento e a sua difusão trouxeram à vida da Igreja uma novidade
inesperada (...) não deixou de suscitar interrogativos, dificuldades e tensões; às vezes
comportou, por um lado, presunções e intemperanças e, por outro, não poucos
preconceitos e reservas. Foi um período de prova para a sua fidelidade, uma ocasião
importante para verificar a genuinidade dos seus carismas. Hoje, diante de vós, abre-se uma
etapa nova, a da maturidade eclesial. Isto não quer dizer que todos os problemas tenham
sido resolvidos. É, antes, um desafio. Uma via a percorrer. A Igreja espera de vós frutos
«maduros» de comunhão e de empenho.” (30/05/1998)
“Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são um sinal luminoso da beleza de Cristo e da
Igreja, sua Esposa. Vós pertenceis à estrutura viva da Igreja.” Bento XVI (31/05/2006).
g) O Subsídio doutrinal da CNBB nos diz que os movimentos eclesiais tem se tornado, pela dinâmica
de seus carismas, canais para vivência de novas formas de religiosidade diante dos desafios da
cultura moderna. Eles respondem também à necessidade de experiência pessoal de Deus e de
busca de sentido e orientação para a vida, como uma considerável contribuição para a vivência da
fé, a participação de tantos na vida da Igreja e para a evangelização no mundo de hoje. (n. 23) No
entanto, há dificuldades no âmbito do relacionamento entre movimentos eclesiais, novas
comunidades e estruturas da Igreja particular (n. 24). Apresenta as principais características (n. 2629) e as contribuições e desafios (n. 30). (CNBB. Igreja Particular, Movimentos Eclesiais e Novas
Comunidades. Subsídios Doutrinais, 3)
h) O Documento de Aparecida também dedica alguns números aos movimentos:
311. Os novos movimentos e comunidades são um dom do Espírito Santo para a Igreja. Neles,
os fiéis encontram a possibilidade de se formar na fé cristã, crescer e se comprometer
apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários.
312. Os movimentos e novas comunidades constituem uma valiosa contribuição na realização
da Igreja local. (...) Na vida e na ação evangelizadora da Igreja, constatamos que no mundo
moderno devemos responder a novas situações e necessidades da vida cristã. Neste contexto
também os movimentos e novas comunidades são uma oportunidade para que muitas pessoas
afastadas possam ter uma experiência de encontro vital com Jesus Cristo e, assim, recuperar
sua identidade batismal e sua ativa participação na vida da Igreja. Neles “podemos ver a
multiforme presença e ação santificadora do Espírito”.
313. Para aproveitar melhor os carismas e serviços dos movimentos eclesiais no campo da
formação dos leigos desejamos respeitar seus carismas e sua originalidade, procurando que se
integrem mais plenamente na estrutura originária que acontece na diocese. Ao mesmo tempo,
é necessário que a comunidade diocesana acolha a riqueza espiritual e apostólica dos
movimentos. É verdade que os movimentos devem manter sua especificidade, mas dentro de
uma profunda unidade com a Igreja local, não só de fé, mas de ação.
i)
São João Paulo II destaca que os movimentos são um apoio poderoso para a vivência da vida cristã
e Bento XVI aponta que pertencem à estrutura viva da Igreja. Pertencem à Igreja, estão na Igreja e
não a Igreja neles. Nessa relação com a Igreja universal não se tem dificuldades de compreensão. A
questão se torna mais complexa no âmbito da diocese e da paróquia, quando se busca uma sadia
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relação entre as estruturas específicas de cada movimento e as pastorais de cada paróquia ou em
nível arquidiocesano (Plano de Pastoral).
j)
O recente documento sobre as paróquias (Doc. 100 da CNBB) alerta para o surgimento de grupos
fechados (n. 34), mas reconhece como “sinais da providência de Deus” os movimentos e
associações, com a multiplicidade de experiências para o seguimento de Jesus (n. 231). Indica com
clareza no número 233 o desafio de comunhão dada as orientações específicas e os planos de
pastorais fechados. No número seguinte aponta a necessidade de encontrar um caminho de
diálogo e comunhão.
k) Aqui a nossa tarefa é uma tentativa de esclarecer essa relação para ajudar na comunhão de
serviços entre pastorais e movimentos, sobretudo ligados à família.
l)
Como podemos definir as pastorais da Igreja?
Em uma visão geral: Pastoral vem de “pastor”. Fazendo referência a Cristo e exprime a atividade
salvífica em favor dos homens e de sua comunhão no mundo. Uma atividade entregue à Igreja e
por ela realizada. É a continuação da obra salvífica de Cristo que terá seu fim na parusia e na
realização definitiva do Reino de Deus.
m) A ação pastoral surge quando se compreende que a paróquia isolada na sua ação não seria
suficiente para atingir a evangelização. E com o passar do tempo foi-se compreendendo que essa
ação pastoral precisava estar articulada em níveis mais amplos como na paróquia, na diocese, no
regional, etc. Denominando-se pastoral de conjunto. (Dicionário de Pastoral)
n) Num primeiro momento, define-se como pastorais aquelas atividades que se voltam para dentro da
Igreja, como catequese, família, liturgia, etc. Em nossos dias, a atividade pastoral quase que
corresponde a evangelização. Na exortação do papa Francisco, A alegria do Evangelho, ele afirma
que Nova Evangelização interpela a todos e realiza-se fundamentalmente em três âmbitos (n. 14): a
pastoral ordinária (os que participam da comunidade, para que correspondam cada vez melhor e
com toda a sua vida ao amor de Deus), as pessoas batizadas, mas não vivem as exigências do
batismo e aqueles que não conhecem Jesus Cristo (ad gentes).
o) Pastoral orgânica e de conjunto: “É o trabalho pastoral em que se integram, num exercício efetivo
de comunhão e de corresponsabilidade, os vários níveis de Igreja e seus vários serviços, colegiando
pessoas e universalizando recursos e experiências. Ação que dá unidade às diferenças, não
unificação.” (Pe. Alfeu Piso)
Como fica a relação entre pastorais e movimentos?
p) Ambos estão a serviço da vida cristã plena. Esse sem dúvida é o ponto comum.
q) Os movimentos são, sem dúvida, uma porta de acolhida para muitas pessoas, seja as que estavam
afastadas da Igreja ou que nunca se fizeram presente nela, e também as que dela participam. Os
movimentos e as associações têm atividades próprias que ajudam na formação dessas pessoas o
que não impede que essas mesmas pessoas também possam viver em sintonia com a comunidade
paroquial.
r) Uma imagem que poderia nos ajudar é que por essa “porta de acolhida”, essas pessoas passam a
conhecer a Igreja e aquelas que já foram batizadas, passariam por uma “reeclesialização”, seriam
como que “re-socializadas” no âmbito da Igreja.
s) Após serem acolhidas pelos movimentos, essas pessoas deveriam se engajar nas pastorais
paroquiais, pois, são membros da comunidade e devem também enriquecer a comunidade com
seus dons. E mais ainda, também devem ser alimentadas pela própria comunidade paroquial, que
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garante na perspectiva da eclesiologia da comunhão, a comunhão com a Igreja e os meios que a
Igreja dispõe para educar e alimentar seus membros.
t) Ou, as pessoas assumirem os compromissos da vida cristã conforme vemos no decreto conciliar
sobre o apostolado dos leigos. Pois, este ensina que todos leigos devem participar da missão da
Igreja, tanto na Igreja como no mundo, quer pelo testemunho, quer pelo anúncio do Evangelho aos
não crentes. Um Apostolado de evangelização, de santificação e de caridade. E apresenta os
diversos campos em que os leigos são chamados a atuar: partindo da comunidade eclesial (diocese,
paróquia), família, jovens, sociedade civil (política, meios de comunicação, trabalho, lazer, estudo,
habitação...) em âmbito nacional e até internacional.
u) Como exemplos poderíamos citar: os casais que participam do ECC poderiam, sem nenhum
problema, permanecerem participando dos círculos depois do Encontro, mas também se inserirem
em uma pastoral na paróquia, o que enriqueceria a sua formação e vivência cristã. O mesmo
acontece com os casais das Equipes de Nossa Senhora que, além dos compromissos com o
movimento, nada os impedem de participarem de pastorais paroquiais, não somente naquelas que
trabalham com casais, como em outras também. O mesmo acontece com membros da RCC e
outros.
v) Os grandes encontros são portas de acolhida, mas para manter viva a fé cristã se faz necessário a
vivência em uma comunidade, não ficando fechado somente para as atividades restritas dos
movimentos. A comunidade é sempre mais!
Para finalizar:
w) É preciso crescer muito nessa comunhão e para iniciar esse processo é preciso passos de
aproximação, contendo renúncias e aberturas. A proposta dessas atividades em conjunto pode ser
um primeiro passo. Reunidos os movimentos que trabalham com a família e a pastoral familiar,
começarmos um trabalho de poderem se conhecer melhor e ver que existem tarefas comuns.
x) Muitos movimentos precisam encontrar um lugar de ação que ultrapassa os seus próprios
membros e pode servir à evangelização e por que não servir essa comunidade no qual se reúnem
para celebrar, para alimentar-se da Palavra e da Eucaristia, tornando-se um testemunho autêntico.
Como exorta o papa Francisco, as comunidades, movimentos e associações, dizendo que é muito
salutar que não percam contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem
de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular, e isso, evitará que fiquem só com uma parte
do Evangelho e da Igreja, ou que se transformem em nômades sem raízes. (cf. EG, n. 29 e Doc. 100
da CNBB, n. 236)
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