ASCENSÃO DO SENHOR B 2012 - MONIÇÕES PARA A CELEBRAÇÃO Entrada: Esta é a hora de Jesus partir do mundo para o Pai. Esta é a hora de nós partirmos de Cristo, para o mundo. Depois do Senhor ter sido elevado ao Céu, os discípulos reuniram-se em oração no Cenáculo, com a Mãe de Jesus (cf. Act 1, 14), invocando juntos o Espírito Santo, que os teria revestido de poder, para o testemunho que deveriam prestar de Cristo ressuscitado (cf. Lc 24, 49; Act 1, 8). Também nós nos dirigimos agora a Maria, implorando a sua proteção sobre a Igreja e especialmente sobre quantos se dedicam à obra de evangelização mediante os meios de comunicação social. Comecemos por pedir perdão ao Senhor, pelas vezes, em que nos distraímos a olhar para o céu e nos esquecemos de transformar a Terra, pelo poder do silêncio e da Palavra. Kyrie: Senhor, Jesus elevado à glória do Pai, tende piedade de nós! Cristo, Cabeça da Igreja, vosso Corpo, tende piedade de nós! Senhor, Sacerdote da Nova Aliança, tende piedade de nós! Pai-Nosso: Com espírito de sabedoria, que o Pai da glória nos concede, ousamos rezar, unidos a Jesus, que junto do Pai, intercede por nós! Rito da Paz: Na hora da despedida, o Senhor não nos deixou órfãos... Ele «abraça» a sua Igreja, como seu Corpo e sua Esposa. Que o abraço que trocamos seja sinal da comunhão que nEle vivemos. Saudai-vos... Final: O silêncio é a Casa da Palavra. Silêncio e palavra são caminhos de missão. Que o silêncio vos ajude a escutar e a deixar florescer a Palavra, como em Maria. Diácono: Ide em Paz… HOMILIA NA SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR B - FESTA DA PALAVRA Missas Vespertinas de Sábado (16h30 e 19h00) e Domingo, às 10h30 1. Estamos a celebrar a Festa da Palavra, neste domingo da Ascensão do Senhor. De algum modo, este último acontecimento da vida de Jesus marca não só a hora de Jesus partir deste mundo para o Pai, levando-nos e elevandonos com Ele. Mas marca igualmente a hora de nós partirmos “a pregar por toda a parte a Boa Nova”. Dito, de modo simples, Jesus parte, para ficar no meio de nós e por meio de nós. E nós ficamos para partir e pregar a sua Boa Nova, com Ele e por meio dEle. Pois, como dizia o evangelho, “Jesus cooperava” com os discípulos e “confirmava” a força da Palavra, com sinais maravilhosos, pois a Palavra de Deus transforma sempre a nossa Vida! 2. Mas, neste Domingo, e neste mês de Maio, nós recordamos uma companhia muito especial, na vida de Jesus e na vida da Igreja. Maria. Ela está ligada à hora de Jesus, a todas as suas horas, mas, de modo especial, à hora da sua glorificação, em que Jesus é elevado, precisamente quando é levantado na Cruz, morto e ressuscitado. Também nas primeiras horas da vida da Igreja, os discípulos contaram sempre com a presença da Mãe de Jesus, com o seu exemplo e proteção. Naquela mesma sala de cima, onde Jesus celebrou a Ceia e se manifestou vivo aos discípulos «e estava à mesa a conversar com eles», também aí se encontrava Maria, entre outras mulheres (cf. At.1,14), em oração e em união com os apóstolos. 3. Por isso, Maria é para nós, como foi para os discípulos, a verdadeira imagem de uma Casa, habitada pela Palavra de Deus. Desde o princípio dos evangelhos, vemos claramente que Maria foi aquela que verdadeiramente abriu e escancarou a porta do seu coração à Palavra de Deus! Ela mesmo respondeu e correspondeu à Palavra de Deus dizendo: «Faça-se em Mim, segundo a Tua Palavra” (Lc.2,38). Maria era um coração todo puro, onde a Palavra de Deus estava como que "em sua casa". Na medida em que Maria pensava com as palavras de Deus, falava com as palavras de Deus, também os seus pensamentos eram os pensamentos de Deus! Da boca de Maria, só saíam palavras sábias, palavras boas, palavras da Palavra de Deus, palavras que ela meditava e guardava em seu coração! Maria vivia da palavra de Deus, estava imbuída da palavra de Deus, era inundada pela Palavra de Deus Por isso, um dia, Jesus fez o maior elogio da Mãe, quando disse a seu respeito: «Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc.11,28). 4. O facto de Maria viver imersa na palavra de Deus e esta palavra lhe ser totalmente familiar, dá-lhe também uma luz interior de sabedoria. Na verdade, quem pensa com Deus, pensa bem; e quem fala com as palavras de Deus fala bem. Quem conhece a palavra de Deus tem critérios de juízo válidos, para todas as coisas do mundo. Torna-se sábio, prudente, e constrói a casa da vida sobre a rocha, que é Cristo! 5. Queridos meninos, queridos pais: Nesta hora, Maria fala-nos e convida-nos a conhecer a Palavra de Deus, a amar a Palavra de Deus, a pensar com a Palavra de Deus, a falar com a Palavra de Deus, a viver a Palavra de Deus. Só deste modo, com Maria, e como Maria, é que cada um, em sua família e na Igreja, se tornará Casa da Palavra! Em Maria cumpriu-se, de modo único, aquele desejo e aquela promessa que Jesus nos fez um dia: «Se alguém me tem amor, há- de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo.14,23). Homilia – Sermão na Solenidade da Ascensão do Senhor B Missa de Domingo, às 19h00 – Festa em honra de Nossa Senhora da Hora 1. A ascensão é o cumprimento pleno daquela Hora, anunciada, em primeira mão, por Jesus a Maria, em Caná da Galileia. É a hora de Jesus, partir deste mundo para o Pai, levando-nos consigo e elevando-nos a todos com Ele. Mas é também a hora de nós partirmos “a pregar por toda a parte a Boa Nova” (Mc.16,20). Dito, de modo simples, nesta hora Jesus parte, para ficar no meio de nós e por meio de nós. E nós ficamos para partir e pregar a sua Boa Nova, com Ele e por meio d’Ele. É a hora do parto da própria Igreja, que tem de dar um grito e fazer-se à vida, como uma criança acabada de nascer. Jesus, porém não é um ausente; ele permanece presente e, como dizia o evangelho (Mc.16,20) “cooperava” com os discípulos e “confirmava” a força da Palavra, com sinais maravilhosos! A Palavra de Deus transforma sempre a nossa Vida! 2. Mas, neste domingo, em que se assinala também o 46º Dia Mundial das Comunicações Sociais (DMCS), o Santo Padre vem lembrar-nos que o caminho da evangelização não passa apenas pelo anúncio da Palavra, mas que o acolhimento desta requer sempre o difícil exercício do silêncio. Pois o silêncio é o berço da Palavra. E perguntamo-nos: fará sentido este elogio do silêncio, numa Mensagem para o Dia das Comunicações Sociais? Sim, faz. Porque a nossa, é uma época, na qual não se favorece o recolhimento; aliás, às vezes tem-se a impressão de que as pessoas têm medo de se separar, nem que seja por um instante, do rio de palavras e de imagens que marcam e enchem os dias. Ora, a vertigem com que hoje a informação nos chega ao ecrã do telemóvel, da net, da TV, exige, da nossa parte, uma maior ponderação, uma seleção, uma séria capacidade crítica, para “discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório”. E esta «digestão» da informação não é possível se não for ruminada no silêncio. Mais ainda, o silêncio é fundamental para podermos “descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si; o silêncio é um bem necessário, para avaliar e analisar as mensagens” recebidas. No meio de tanta informação, impõe-se-nos “criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons” (Bento XVI, Mensagem para o 46º DMCS 2012). 3. Assim, se, por um lado, devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual, não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, por outro lado, também devemos buscar e encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus! Daí a necessidade de voltar a “aprender a escutar, a contemplar, para além do falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja, para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo” (Bento XVI, Mensagem para o 46º DMCS 2012). 4. Neste sentido, já tinha dito muito antes o Papa: “redescobrir a centralidade da Palavra de Deus, na vida da Igreja, significa também redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior. Só no silêncio é que a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu em Maria, mulher inseparável da Palavra e do silêncio» ” (Bento XVI, Verbum Domini, n. 66). 5. Sim, meus queridos irmãos e irmãs: esta necessária harmonia entre o silêncio e a Palavra, não podia encontrar melhor expressão, do que em Maria! Maria é para nós, como foi para os discípulos, a verdadeira imagem de uma Casa, da morada enamorada de Deus, habitada pelo silêncio. Desde o princípio dos evangelhos, vemos que Maria foi aquela que verdadeiramente abriu e escancarou a porta do seu coração à Palavra de Deus! Ela mesmo respondeu e correspondeu à Palavra de Deus dizendo: «Faça-se em Mim, segundo a Tua Palavra” (Lc.2,38). Maria era um coração todo puro, recetividade plena, silêncio absoluto, onde a Palavra de Deus estava como que "em sua casa". Por isso, também Maria, nos dias da vida de Jesus, «ponderava todas as palavras e todas as coisas em seu coração», (cf. Lc.2,19.51), ela meditava em tudo o que ouvia e em tudo o que via. Ela como que recolhia e ligava todas as palavras e todas as imagens da sua vida, procurando, no silêncio do coração, decifrar aí os apelos de Deus. 6. Mas Maria está ligada, sobretudo pelo silêncio, à grande hora de Jesus, a todas as suas horas, mas, de modo especial, à hora da sua cruz e da sua glorificação, “em que o Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se “disse” até calar, nada retendo do que nos devia comunicar» Domini, 12). (Bento XVI, Verbum Também nas primeiras horas da vida da Igreja, os discípulos contaram sempre com a presença silenciosa da Mãe de Jesus, com o seu exemplo e proteção. Naquela mesma sala de cima, onde Jesus celebrou a Ceia e se manifestou vivo aos discípulos «e estava à mesa a conversar com eles», também aí se encontrava Maria, entre outras mulheres (cf. At.1,14), em oração. 7. Nesta hora, de parto e de partida, para a Igreja, Maria, fala-nos e convidanos ao silêncio, a olhar para o céu, a ver a vida, a partir do alto, a acolher a Palavra, a escutá-la, até chegarmos, como ela, a pensar com a Palavra de Deus, a falar com a Palavra de Deus, a viver a Palavra de Deus. A Maria, Nossa Senhora da Hora, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra», confiemos pois toda a obra de evangelização desta Paróquia, que é sua e se tornará tanto mais sua, quanto for verdadeira Casa do Silêncio e Casa da Palavra! ORAÇÃO DOS FIÉIS - ASCENSÃO DO SENHOR B 2012 P- Irmãos caríssimos: Jesus subiu hoje ao Céu, sem deixar de estar connosco na terra. Por meio d'Ele oremos a Deus Pai, para que os cristãos levem o Evangelho a toda a parte e deem testemunho da verdade, dizendo com alegria: R. Cristo, elevado ao Céu, ouvi-nos. 1. Pela Igreja de Jesus: para que saiba confirmar, por meio dos sinais concretos do amor, a Palavra de Deus que escuta e anuncia. Oremos. 2. Pelos governantes: para que, através dos meios de comunicação social, promovam o diálogo, o respeito, a amizade e a comunhão entre pessoas, povos e civilizações. Oremos. 3. Pelos educadores cristãos, que se sentem incapazes de transmitir a fé: para que procurem antes de tudo, tornar-se ouvintes da Palavra, para a poder viver e testemunhar na vida. Oremos. 4. Por todos nós, para que, à imagem de Maria, e através do silêncio, escutemos e deixemos florescer em nós a semente da Palavra de Deus. Oremos. P - Senhor, nosso Deus, ouvi as súplicas deste Povo que reconhece em Cristo ressuscitado o Sacerdote sempre vivo diante de vós para interceder em favor dos irmãos: a abundância das bênçãos do Céu acompanhe sempre o caminho dos que nEle creem. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. ORAÇÃO DO PAPA BENTO XVI A NOSSA SENHORA – Depois da comunhão Maria, Mãe do sim, tu escutaste Jesus e conheces o timbre da sua voz e o palpitar do seu coração. Estrela da manhã, fala-nos dele e conta-nos o teu percurso para o seguires no caminho da fé. Maria, que em Nazaré habitaste com Jesus, imprime na nossa vida os teus sentimentos, a tua docilidade, o teu silêncio que escuta e faz florescer a Palavra em opções de verdadeira liberdade. Maria, fala-nos de Jesus, para que o vigor da nossa fé brilhe nos nossos olhos e anime o coração de quem nos encontra, como tu fizeste, visitando Isabel que na sua velhice rejubilou contigo pelo dom da vida. Maria, Virgem do Magnificat, ajuda-nos a levar a alegria ao mundo e, como em Caná, estimula cada jovem, comprometido no serviço aos irmãos, a fazer só o que Jesus disser. Maria, dirige o teu olhar para esta paróquia, para que seja o terreno fecundo da Igreja. Pede para que Jesus, morto e ressuscitado, renasça em nós e nos transforme numa noite plena de luz, plena d'Ele. Maria, Nossa Senhora da Hora, porta do céu, ajuda-nos a elevar para o alto o olhar. Queremos ver Jesus. Falar com Ele. Anunciar a todos, no silêncio e na palavra, o mistério do Seu amor. Cf. BENTO XVI, Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de Setembro de 2007 AVISOS – ENTRE A ASCENSÃO E O PENTECOSTES 1. Casais que completam 10, 25, 50 ou 60 anos de casados, e queiram receber a bênção própria dos esposos, por parte do Bispo, na celebração do Dia Diocesano da Família, a 03 de Junho, no Palácio de Cristal, deverão inscrever-se no Cartório Paroquial. Preparação, no dia 22 de Maio, às 21h30. 2. Quarta-feira, às 21h30: Catequese de adultos; 3. Quarta-feira, às 21h30, encontro de jovens e de crismandos, sobre a figura da jovem beata Chiara Luce; 4. Sábado, às 16h30: Festa do envio (10º ano). Às 11h00 encontro do pároco com os adolescentes do 10º ano. 5. Domingo, às 17h30: reunião especial de acólitos e participação destes no rosário, às 18h15. 6. Interessados na Viagem à Polónia devem inscrever-se durante este mês de Maio. 7. Hoje celebra-se o dia mundial das comunicações sociais, subordinado ao tema: “Silêncio e palavra: caminho de evangelização”. 8. Agradecimentos - Festas MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 46º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS «Silêncio e palavra: caminho de evangelização» Ao aproximar-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, desejo partilhar convosco algumas reflexões sobre um aspeto do processo humano da comunicação que, apesar de ser muito importante, às vezes fica esquecido, sendo hoje particularmente necessário lembrá-lo. Trata-se da relação entre silêncio e palavra: dois momentos da comunicação que se devem equilibrar, alternar e integrar entre si para se obter um diálogo autêntico e uma união profunda entre as pessoas. Quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certo aturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém se integram reciprocamente, a comunicação ganha valor e significado. O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e permitenos a nós não ficarmos presos, por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma relação humana mais plena. É no silêncio, por exemplo, que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam a alegria, as preocupações, o sofrimento, que encontram, precisamente nele, uma forma particularmente intensa de expressão. Por isso, do silêncio, deriva uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e àquela capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços. Quando as mensagens e a informação são abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é importante daquilo que é inútil ou acessório. Uma reflexão profunda ajuda-nos a descobrir a relação existente entre acontecimentos que, à primeira vista, pareciam não ter ligação entre si, a avaliar e analisar as mensagens; e isto faz com que se possam compartilhar opiniões ponderadas e pertinentes, gerando um conhecimento comum autêntico. Por isso é necessário criar um ambiente propício, quase uma espécie de «ecossistema» capaz de equilibrar silêncio, palavra, imagens e sons. Grande parte da dinâmica atual da comunicação é feita por perguntas à procura de respostas. Os motores de pesquisa e as redes sociais são o ponto de partida da comunicação para muitas pessoas, que procuram conselhos, sugestões, informações, respostas. Nos nossos dias, a Rede vai-se tornando cada vez mais o lugar das perguntas e das respostas; mais, o homem de hoje vê-se, frequentemente, bombardeado por respostas a questões que nunca se pôs e a necessidades que não sente. O silêncio é precioso para favorecer o necessário discernimento entre os inúmeros estímulos e as muitas respostas que recebemos, justamente para identificar e focalizar as perguntas verdadeiramente importantes. Entretanto, neste mundo complexo e diversificado da comunicação, aflora a preocupação de muitos pelas questões últimas da existência humana: Quem sou eu? Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar? É importante acolher as pessoas que se põem estas questões, criando a possibilidade de um diálogo profundo, feito não só de palavra e confrontação, mas também de convite à reflexão e ao silêncio, que às vezes pode ser mais eloquente do que uma resposta apressada, permitindo a quem se interroga descer até ao mais fundo de si mesmo e abrir-se para aquele caminho de resposta que Deus inscreveu no coração do homem. No fundo, este fluxo incessante de perguntas manifesta a inquietação do ser humano, sempre à procura de verdades, pequenas ou grandes, que dêem sentido e esperança à existência. O homem não se pode contentar com uma simples e tolerante troca de céticas opiniões e experiências de vida: todos somos perscrutadores da verdade e compartilhamos este profundo anseio, sobretudo neste nosso tempo em que, «quando as pessoas trocam informações, estão já a partilhar-se a si mesmas, a sua visão do mundo, as suas esperanças, os seus ideais» (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011). Devemos olhar com interesse para as várias formas de sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem atual não só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Na sua essencialidade, breves mensagens – muitas vezes limitadas a um só versículo bíblico – podem exprimir pensamentos profundos, se cada um não descuidar o cultivo da sua própria interioridade. Não há que surpreender-se se, nas diversas tradições religiosas, a solidão e o silêncio constituem espaços privilegiados para ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas e àquela Verdade que dá sentido a todas as coisas. O Deus da revelação bíblica fala também sem palavras: «Como mostra a cruz de Cristo, Deus fala também por meio do seu silêncio. O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra Encarnada. (...) O silêncio de Deus prolonga as suas palavras anteriores. Nestes momentos obscuros, Ele fala no mistério do seu silêncio» (Exort. ap. pós-sinodal Verbum Domini, 30 de Setembro de 2010, n. 21). No silêncio da Cruz, fala a eloquência do amor de Deus vivido até ao dom supremo. Depois da morte de Cristo, a terra permanece em silêncio e, no Sábado Santo – quando «o Rei dorme (…), e Deus adormeceu segundo a carne e despertou os que dormiam há séculos» (cfr Ofício de Leitura, de Sábado Santo) –, ressoa a voz de Deus cheia de amor pela humanidade. Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio, também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e de Deus. «Temos necessidade daquele silêncio que se torna contemplação, que nos faz entrar no silêncio de Deus e assim chegar ao ponto onde nasce a Palavra, a Palavra redentora» (Homilia durante a Concelebração Eucarística com os Membros da Comissão Teológica Internacional, 6 de Outubro de 2006). Quando falamos da grandeza de Deus, a nossa linguagem revela-se sempre inadequada e, deste modo, abre-se o espaço da contemplação silenciosa. Desta contemplação nasce, em toda a sua força interior, a urgência da missão, a necessidade imperiosa de «anunciar o que vimos e ouvimos», a fim de que todos estejam em comunhão com Deus (cf. 1 Jo 1, 3). A contemplação silenciosa faz-nos mergulhar na fonte do Amor, que nos guia ao encontro do nosso próximo, para sentirmos o seu sofrimento e lhe oferecermos a luz de Cristo, a sua Mensagem de vida, o seu dom de amor total que salva. Depois, na contemplação silenciosa, surge ainda mais forte aquela Palavra eterna pela qual o mundo foi feito, e identifica-se aquele desígnio de salvação que Deus realiza, por palavras e gestos, em toda a história da humanidade. Como recorda o Concílio Vaticano II, a Revelação divina realiza-se por meio de «ações e palavras intimamente relacionadas entre si, de tal modo que as obras, realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez, declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido» (Const. dogm. Dei Verbum, 2). E tal desígnio de salvação culmina na pessoa de Jesus de Nazaré, mediador e plenitude da toda a Revelação. Foi Ele que nos deu a conhecer o verdadeiro Rosto de Deus Pai e, com a sua Cruz e Ressurreição, nos fez passar da escravidão do pecado e da morte para a liberdade dos filhos de Deus. A questão fundamental sobre o sentido do homem encontra a resposta capaz de pacificar a inquietação do coração humano no Mistério de Cristo. É deste Mistério que nasce a missão da Igreja, e é este Mistério que impele os cristãos a tornaremse anunciadores de esperança e salvação, testemunhas daquele amor que promove a dignidade do homem e constrói a justiça e a paz. Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio «escuta e faz florescer a Palavra» (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em Loreto, 1-2 de Setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a Igreja realiza através dos meios de comunicação social. Vaticano, 24 de Janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2012. O elogio do silêncio Quando penso no contributo que a experiência religiosa pode dar num futuro próximo à cultura, ao tempo e ao modo da existência humana, penso que mais até do que a palavra será a partilha desse património imenso que é o silêncio. Já a bíblica narrativa de Babel ponha a nu os limites do impulso totalitário da palavra. Mesmo que construamos a palavra como uma torre, temos de aceitar que ela não só não toca cabalmente o mistério dos céus, como muitas vezes nos incapacita para a comunicação e a compreensão terrenas. Precisamos do auxílio de outra ciência, a do silêncio. Já Isaac de Nínive, lá pelos finais do século VII, ensinava: «A palavra é o órgão do mundo presente. O silêncio é o mistério do mundo que está a chegar». Na diversidade das tradições religiosas e espirituais da humanidade, o silêncio é um traço de união extraordinariamente fecundo. Na tradição muçulmana, por exemplo, o centésimo Nome de Deus é o nome inefável que não pode ser rezado senão no silêncio. Os místicos não se cansaram de explorar essa via. Veja-se o persa Rûmi (1207-1247) que aconselha ao seu discípulo: «Àquele que conhece Deus faltam-lhe as palavras». Noutra geografia temos a anotação espiritual de Lao-Tsé, «o som mais forte é o silencioso», ou a de Bashô, «silêncio/ uma rã mergulha/ dentro de si», ou a de Eléazar Rokéah de Worms, cabalista judeu que afirmava: «Deus é silêncio». Também a Bíblia coteja minuciosamente o silêncio de Deus. E este nem sempre é um silêncio fácil, mesmo se somos chamados a acreditar na verdade do dístico que nos oferece o Livro das Lamentações: «É bom esperar em silêncio a salvação de Deus». O silêncio de Deus fustiga os salmistas: «Ó Deus, não fiques em silêncio; não fiques mudo nem impassível!» (83,2); leva Job a erguer-se numa destemida teologia de protesto; e faz o inconformado profeta Habacuc dizer: «Tu contemplas tudo em silêncio» (Hab 1, 13). O silêncio do Pai será particularmente enigmático na agonia no Getsémani e na experiência da Cruz, onde Jesus lança o grito: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?». Contemplamos neste grito o mistério de Deus e o do Homem no mais devastador silêncio que o mundo conheceu. Contudo, é no lancinante silêncio que sucede ao seu grito que reside a revelação pascal de Deus. José Tolentino Mendonça 28. O silêncio – Catequese do Papa Queridos irmãos e irmãs, Numa série de catequeses precedentes falei sobre a oração de Jesus e não gostaria de concluir esta reflexão sem meditar brevemente acerca do tema do silêncio de Jesus, tão importante na relação com Deus. Na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini fiz referência ao papel que o silêncio adquire na vida de Jesus, sobretudo no Gólgota: «Aqui vemo-nos colocados diante da “Palavra da cruz” (cf. 1 Cor 1, 18). O Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se “disse” até calar, nada retendo do que nos devia comunicar» (n. 12). Diante deste silêncio da cruz, são Máximo, o Confessor, põe nos lábios da Mãe de Deus a seguinte expressão: «Fica sem palavras a Palavra do Pai, o qual fez todas as criaturas que falam; sem vida estão os olhos apagados daquele por cuja palavra e por cujo aceno se move tudo o que tem vida» (A vida de Maria, n. 89: Textos marianos do primeiro milénio, 2, Roma 1989, p. 253). A cruz de Cristo não mostra somente o silêncio de Jesus como sua última palavra ao Pai, mas revela também que Deus fala por meio do silêncio: «O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada. Suspenso no madeiro da cruz, o sofrimento que lhe causou tal silêncio fê-lo lamentar: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15, 34; Mt 27, 46). Avançando na obediência até ao último suspiro de vida, na obscuridade da morte, Jesus invocou o Pai. A Ele entregou-se no momento da passagem, através da morte, para a vida eterna: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46)» (Exortação Apostólica póssinodal Verbum Domini, 21). A experiência de Jesus na cruz é profundamente reveladora da situação do homem que reza e do ápice da oração: depois de ter ouvido e reconhecido a Palavra de Deus, devemos medir-nos também com o silêncio de Deus, expressão importante da própria Palavra divina. A dinâmica de palavra e silêncio, que caracteriza a oração de Jesus em toda a sua existência terrena, sobretudo na cruz, diz respeito também à nossa vida de oração, em duas direções. A primeira é a que se refere ao acolhimento da Palavra de Deus. É necessário o silêncio interior e exterior, para que tal palavra possa ser ouvida. E este é um ponto particularmente difícil para nós, no nosso tempo. Com efeito, a nossa é uma época na qual não se favorece o recolhimento; aliás, às vezes a impressão é de que as pessoas têm medo de se separar, mesmo por um instante, do rio de palavras e de imagens que marcam e enchem os dias. Por isso, na já mencionada Exortação Verbum Domini recordei a necessidade de nos educarmos para o valor do silêncio: «Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja significa também redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior. A grande tradição patrística ensina-nos que os mistérios de Cristo estão ligados ao silêncio e só nele é que a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu em Maria, mulher inseparável da Palavra e do silêncio» (n. 66). Este princípio — que sem silêncio não se sente, não se ouve, não se recebe uma palavra — é válido sobretudo para a oração pessoal, mas também para as nossas liturgias: para facilitar uma escuta autêntica, elas devem ser também ricas de momentos de silêncio e de acolhimento não verbal. É sempre válida a observação de santo Agostinho: Verbo crescente, verba deficiunt — «Quando o Verbo de Deus cresce, as palavras do homem faltam» (cf. Sermo 288, 5: pl 38, 1307; Sermo 120, 2: pl 38, 677). Os Evangelhos apresentam com frequência, sobretudo nas escolhas decisivas, Jesus que se retira totalmente sozinho num lugar afastado das multidões e dos próprios discípulos para rezar no silêncio e viver a sua relação filial com Deus. O silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a sua Palavra permaneça em nós, a fim de que o amor por Ele se arraigue na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida. Portanto, a primeira direção: voltar a aprender o silêncio, a abertura à escuta, que nos abre ao próximo, à Palavra de Deus. Porém, há uma segunda importante relação do silêncio com a oração. Com efeito, não há apenas o nosso silêncio para nos dispor à escuta da Palavra de Deus; muitas vezes, na nossa oração, encontramo-nos diante do silêncio de Deus, experimentamos quase um sentido de abandono, parece-nos que Deus não ouve e não responde. Mas este silêncio de Deus, como aconteceu também para Jesus, não marca a sua ausência. O cristão sabe bem que o Senhor está presente e escuta, mesmo na escuridão da dor, da rejeição e da solidão. Jesus garante aos discípulos e a cada um de nós que Deus conhece bem as nossas necessidades, em qualquer momento da nossa vida. Ele ensina aos discípulos: «Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais, antes que vós lho peçais» (Mt 6, 7-8): um coração atento, silencioso e aberto é mais importante que muitas palavras. Deus conhece-nos no íntimo, mais do que nós mesmos, e ama-nos: e saber isto deve ser suficiente. Na Bíblia, a experiência de Job é particularmente significativa a este propósito. Em pouco tempo, este homem perde tudo: familiares, bens, amigos e saúde; até parece que a atitude de Deus no que se lhe refere é a do abandono, do silêncio total. E no entanto Job, na sua relação com Deus, fala com Deus, clama a Deus; na sua oração, não obstante tudo, conserva intacta a sua fé e, no fim, descobre o valor da sua experiência e do silêncio de Deus. E assim no final, dirigindo-se ao Criador, pode concluir: «Eu tinha ouvido falar de ti, mas agora são os meus olhos que te veem» (Jb 42, 5): todos nós conhecemos Deus quase só por ter ouvido falar dele, e quanto mais abertos permanecemos ao seu e ao nosso silêncio, tanto mais começamos a conhecê-lo realmente. Esta confiança extrema que se abre ao encontro profundo com Deus amadureceu no silêncio. São Francisco Xavier rezava, dizendo ao Senhor: eu amo-te, não porque podeis conceder-me o paraíso, ou condenar-me ao inferno, mas porque Vós sois o meu Deus. Amo-vos porque Vós sois Vós! Aproximando-nos da conclusão das reflexões sobre a oração de Jesus, voltam à mente alguns ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica: «O drama da oração énos plenamente revelado no Verbo que se faz carne e habita entre nós. Procurar compreender a sua oração através do que as suas testemunhas nos dizem dela no Evangelho, é aproximar-nos do Santo Senhor Jesus como da sarça ardente: primeiro, contemplando-O a Ele próprio em oração; depois, escutando como Ele nos ensina a rezar para, finalmente, conhecermos como é que Ele atende a nossa oração» (n. 2.598). E como é que Jesus nos ensina a rezar? No Compêndio do Catecismo da Igreja Católica encontramos uma resposta clara: «Jesus ensina-nos a rezar, não só com a oração do Pai-Nosso» — certamente o ato central do ensinamento do modo como rezar — «mas também com a sua própria oração. Assim, para além do conteúdo, ensina-nos as disposições requeridas para uma verdadeira oração: a pureza do coração que procura o Reino e perdoa aos inimigos; a confiança audaz e filial que se estende para além do que sentimos e compreendemos; a vigilância que protege o discípulo da tentação» (n. 544). Percorrendo os Evangelhos vimos como o Senhor é, para a nossa oração, interlocutor, amigo, testemunha e mestre. Em Jesus revela-se a novidade do nosso diálogo com Deus: a oração filial, que o Pai espera dos seus filhos. E de Jesus aprendemos como a oração constante nos ajuda a interpretar a nossa vida, a fazer as nossas escolhas, a reconhecer e a acolher a nossa vocação, a descobrir os talentos que Deus nos concedeu, a cumprir diariamente a sua vontade, único caminho para realizar a nossa existência. Para nós, muitas vezes preocupados com a eficácia funcional e com os resultados concretos que alcançamos, a prece de Jesus indica que temos necessidade de parar, de viver momentos de intimidade com Deus, «desapegando-nos» da confusão de todos os dias, para ouvir, para ir à «raiz» que sustenta e alimenta a vida. Um dos momentos mais bonitos da oração de Jesus é precisamente quando Ele, para enfrentar doenças, dificuldades e limites dos seus interlocutores, se dirige ao seu Pai em oração e assim ensina a quantos estão ao seu redor onde é necessário procurar a fonte para ter esperança e salvação. Já recordei, como exemplo comovedor, a oração de Jesus no túmulo de Lázaro. O evangelista João narra: «Quando tiraram a pedra Jesus, erguendo os olhos para o céu, disse: “Pai, dou-te graças por me teres atendido. Eu já sabia que sempre me atendes, mas Eu disse isto por causa das pessoas que me rodeiam, para que venham a crer que Tu me enviaste”. Dito isto, bradou em alta voz: “Lázaro, vem para fora!”» (Jo 11, 4143). Mas o ponto mais alto de profundidade na oração ao Pai, Jesus alcança-o no momento da Paixão e Morte, quando pronuncia o extremo «sim» ao desígnio de Deus e mostra como a vontade humana encontra o seu cumprimento precisamente na adesão plena à vontade divina, e não na oposição. Na oração de Jesus, no seu brado na Cruz, confluem «todas as desolações da humanidade de todos os tempos, escrava do pecado e da morte, todas as súplicas e intercessões da história da salvação... E eis que o Pai as acolhe e atende, para além de toda a esperança, ao ressuscitar o seu Filho. Assim se cumpre e se consuma o drama da oração na economia da criação e da salvação» (Catecismo da Igreja Católica, 2.606). Caros irmãos e irmãs, peçamos com confiança ao Senhor para viver o caminho da nossa oração filial, aprendendo quotidianamente do Filho Unigénito que se fez homem por nós como deve ser o modo de nos dirigirmos a Deus. As palavras de são Paulo, sobre a vida cristã em geral, são válidas também para a nossa oração: «Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades nem a altura, nem o abismo nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em nosso Senhor Jesus Cristo» (Rm 8, 38-39). HOMILIA NA SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR B 2009 I. “Uma nuvem escondeu-O a seus olhos”! É uma nuvem de espanto e de temor, uma neblina de saudade e apreensão, que atravessa, por cima e por dentro, o coração dos discípulos! Jesus parte para ficar. A Igreja fica para partir. São tempos novos, e com eles, novas relações, novos desafios, nova missão. 1. Novas relações entre o Pai e o Filho. Não é o regresso à infância. Jesus ressuscitado, e elevado aos céus, leva agora consigo a marca e o peso da nossa frágil humanidade, transformada pelo seu amor. Sentado à direita do Pai, Jesus Cristo reconcilia, na perfeição, a relação entre Deus e os Homens. Pois Ele mesmo é Deus no homem e é o Homem em Deus! 2. Ascensão é também tempo de relações novas, entre Jesus e os discípulos! Doravante, eles terão de renunciar ao contacto físico, à doce consolação de quem Se deixava ver ressuscitado, com os sinais da sua crucifixão! O acesso a Jesus, e por Ele ao Pai, faz-se agora no Espírito Santo, numa relação pura de amor, com pequenos sinais e gestos, que avivam a memória de Jesus, numa presença inteiramente nova, que não desaparece, numa amizade que antes se intensifica! 3. Chegou, por isso, a hora da partida, a hora da missão, a hora do testemunho! O desafio é ir por todo o mundo, partir por toda a parte, levar o evangelho, por todos os meios, aos confins da terra. E “o Senhor coopera”, com eles, através do Espírito, que lhes dá novo ardor, novo alento, para percorrer novas vias, no anúncio do Evangelho. II. Queridos irmãos e irmãs: estamos a celebrar, nesta solenidade da Ascensão do Senhor, o 43º Dia Mundial das Comunicações Sociais, guiados pela mensagem de Bento XVI, sob o lema "Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade." 1. Estamos também nós, como os discípulos, a viver um tempo novo, de “mudanças fundamentais, nos modelos de comunicação e nas relações humanas" provocadas pelo desenvolvimento técnico. Mudanças que afectam cada vez mais pessoas, em particular, os jovens, a nova "geração digital". Há todo um "potencial extraordinário, nas novas tecnologias: elas permitem uma velocidade de comunicação "impensável para as gerações anteriores”, facilitam o acesso ao conhecimento, o contacto entre amigos e familiares geograficamente separados. Esta comunicação, esta amizade alargada, corresponde bem ao desejo humano e ao desígnio divino de uma cada vez maior comunhão entre as pessoas. 2. Todavia alertemo-nos, para alguns perigos, que vão desde os maus conteúdos em circulação, ao desejo descontrolado da novidade. Mais, “seria triste se o nosso desejo de sustentar e desenvolver on-line as amizades, fosse realizado à custa da nossa disponibilidade para a família, para os vizinhos e para aqueles que encontramos na realidade do dia a dia, no lugar de trabalho, na escola, nos tempos livres. De facto, quando o desejo de ligação virtual se torna obsessivo, a consequência é que a pessoa se isola, interrompendo a interacção social real. Isto acaba por perturbar também as formas de repouso, de silêncio e de reflexão necessárias para um são desenvolvimento humano”. 3. Neste dia da Ascensão, em que Jesus nos deixa o desafio da missão, não podemos ignorar o potencial destas novas tecnologias, quais novas vias, para o anúncio do Evangelho. “A vós, jovens, diz o Papa, “compete a tarefa da evangelização deste «continente digital». Sabei assumir com entusiasmo, o anúncio do Evangelho aos da vossa idade! O dom mais precioso, que lhes podeis oferecer, é partilhar com eles a «boa nova» de um Deus que por nós Se fez homem, sofreu, morreu e ressuscitou. (…) O coração humano anseia por um mundo onde reine o amor, onde os dons sejam compartilhados, onde se construa a unidade, onde a liberdade encontre o seu significado na verdade e onde a identidade de cada um se realize numa respeitosa comunhão. A estas expectativas pode dar resposta a fé: sede os seus arautos”! Como São Paulo, anunciai todo o Cristo, a todo o Homem, com todos os meios! ORAÇÃO DOS FIÉIS - ASCENSÃO DO SENHOR B 2009 P- Irmãos caríssimos: Jesus subiu hoje ao Céu, sem deixar de estar connosco na terra. Por meio d'Ele oremos a Deus Pai, para que os cristãos levem o Evangelho a toda a parte e dêem testemunho da verdade, dizendo com alegria: R. Cristo, elevado ao Céu, ouvi-nos. 5. Pela Igreja de Jesus, para que saiba confirmar, por meio dos sinais concretos do amor, a palavra de Deus que anuncia, e a presença de Cristo que celebra. Oremos. 6. Pelos governantes de toda a terra, para que, através dos meios de comunicação social, saibam promover o diálogo, o respeito, a amizade e a comunhão entre pessoas, povos e civilizações. Oremos. 7. Pelos pais e educadores cristãos, que se sentem incapazes de transmitir a fé aos seus filhos ou catequizandos, para que procurem antes de tudo testemunhar a sua fé, pela prática do amor. Oremos. 8. Por todos nós: para que saibamos anunciar, com alegria, todo o Cristo, a todo o Homem, por todos os meios. Oremos. P - Senhor, nosso Deus, ouvi as súplicas deste Povo que reconhece em Cristo ressuscitado o Sacerdote sempre vivo diante de vós para interceder em favor dos irmãos: a abundância das bênçãos do Céu acompanhe sempre o caminho dos que nEle crêem. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. HOMILIA NA ASCENSÁO 2009 FESTA DO PAI-NOSSO 2009 (2º ANO DA CATEQUESE) 1. Gostava de vos contar um encontro especial, que tive esta semana. Estávamos à mesa, de um restaurante, longe daqui, que pertence a um produtor de vinho, meu amigo. Esse senhor trabalha na vinha há muitos anos. Mas de há uns anos para cá o seu filho começou a trabalhar com o seu pai, na tal vinha. Com a experiência do pai e o saber do filho, produzem juntos um vinho muito bom, que ganhou já vários prémios. Orgulhoso, o pai dizia-me: “sabe, senhor padre, este ano, no dia 5 de Junho, vai-nos ser atribuído o prémio de melhor vinho verde tinto”. Então, eu disse-lhe: “Parabéns”. E ele disse: “Não. Os parabéns são para o meu filho. O mérito é dele”. O Filho ouviu e disse: “Não, o meu Pai é que sabe fazer o melhor vinho”. E contou-me que, em anos anteriores já tinha ganho vários prémios. E quando chamam, pelo nome do representante daquela marca de vinho, ele dá um toque ao filho, para se levantar e ir receber o prémio. Mas o Filho dá um toque ao Pai e diz “vai tu”. Comentava o pai: «este ano vai ser mesmo ser Ele a receber o prémio. Sinto-me mais feliz se for ele do que se for eu». 2. Esta história mostra-nos um “filho” que admira o Pai e que quer que seja o Pai a receber todas as honras, quer sempre engrandecer o seu Pai. Mas mostra-nos também um “Pai” que quer que o seu Filho receba o prémio, que seja Ele, o Filho, o grande vencedor. De modo que o Pai se sente “orgulhoso” e engrandecido pelo seu Filho. 3. É um pouco assim, mas de modo perfeitíssimo, a história do amor entre o Pai e o seu Filho Jesus. O Pai enviou o Seu Filho Jesus ao mundo. E o Filho, cá na terra, só sabia falar do Pai, só mostrava o rosto do Pai, só queria fazer a vontade do Pai, só queria que o Pai fosse honrado, que o seu Nome fosse engrandecido. E por isso deu a Vida até ao fim. Então, por fim, o Pai quis mesmo que o seu Filho merecesse o prémio, fosse Ele o «vencedor», fosse Ele o «maior». E por isso, quando o Filho morreu e ressuscitou, o Pai “sentou-o à sua direita”, quer dizer, deu-lhe toda a importância. Deste modo, o Pai mostrou ao mundo que estava feliz com o seu Filho. Era Ele o vencedor, que recebia o prémio maior. 4. A ascensão de Jesus, esta “subida” de Jesus ao céu, de que nos falava o evangelho, quer dizer isto mesmo: o Pai sentiu-se tão honrado pela obra do Filho, que agora quer que o Filho seja engrandecido; o Pai quer que sejam dadas todas as honras ao Filho Jesus; dá-lhe então o prémio maior, de primeiro vencedor. 5. Meus meninos e meninas: Nós todos somos filhos deste Pai, que nos ama a cada um, como ama seu Filho Jesus. A alegria do Pai que está nos céus, a sua glória, o seu orgulho, é ver-nos vivos, felizes, vencedores. A nossa alegria deverá ser amar o Pai, honrar o seu Nome, fazer a sua vontade. Foi isso Jesus que Jesus fez e nos ensinou a fazê-lo, sobretudo numa oração, que todos conhecemos: o PaiNosso. Cada vez que o rezarmos, dêmos ao Pai todo o amor que Ele nos merece. E deixemos, que Ele se orgulhe de nós, por vivermos como filhos dEle e como irmãos uns dos outros. HOMILIA NA ASCENSÃO DO SENHOR B 2006 1. “Porque estais a olhar para o Céu”? Não há salvação fora do mundo, para quem quer chegar ao céu! Por isso, eles partiram a pregar por toda a parte. Era afinal um pequeno grupo… não chegava a uma dúzia de homens, sem quaisquer meios técnicos, sem dinheiro, sem televisão, sem internet, sem automóvel, sem qualquer curso de marketing! Eles aceitaram tamanho desafio, na certeza de que o seu Jesus lhes continuava presente. A obra era dEle e não deles. Diz o evangelho que “o Senhor cooperava com eles” e isso explica por que não havia medo, nem mal algum que lhes pegasse! 2. De lá, até cá, chegou-nos, por meio deles, por meio da Igreja, a feliz notícia da Ressurreição! Foi-nos transmitida, pela sucessão dos apóstolos e sem interrupção, a fé em Jesus Cristo! Perguntamo-nos, pasmados, pelo segredo de tão resistente correia de transmissão da fé! Ela não se rompeu, nem se corrompeu, na erosão dos séculos! Onde está afinal toda a força expansiva deste pequeno grupo de cristãos, deste corpo de intervenção de Jesus? Como puderam eles, sem grandes meios, com a sua fé, ainda marcada pela dúvida, vencer um mundo tão estranho e tão hostil? E esta pergunta tem que ver com outras perguntas, que por vezes nos angustiam: por que não conseguimos nós sequer, transmitir a fé aos de nossa casa? Por que não seremos nós capazes tampouco de tocar a sensibilidade religiosa dos nossos amigos, colegas e vizinhos, de modo a descobrirem e a consentirem a presença de Jesus nas suas vidas?! Por que é tão pouco atraente a nossa fé? Por que é que a nossa fé cristã, sobretudo na Europa, se ressente de um triste cansaço? Por quê tantos meios, inclusive os de comunicação social, para propagar, ao longe e ao largo, o Evangelho e tão pouco visíveis os frutos da missão?! Que segredo nos tem a dizer o cristianismo das origens, para o nosso presente e para o seu próprio futuro? 3. Em primeiro lugar, notemos bem: estes homens de Deus não atraíram os judeus e pagãos para Cristo, graças ao domínio do palavreado, ou a boas razões da argumentação! O cristianismo não é, de facto, uma doutrina mais. «No início do ser cristão, não há uma decisão moral ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento» (Bento XVI, DCE 1). Trata-se sobretudo de viver a experiência do amor de Deus, de a viver e de a comunicar, de a descobrir e testemunhar. Ora, foi pelo “testemunho” das suas próprias vidas, tomadas e transformadas pelo amor de Cristo, que os pagãos puderam perceber a novidade e a presença do Senhor, no meio das suas vidas! Assim, vede: a fé cristã, para ser transmitida, requer em primeiro lugar, o testemunho! Na transmissão da fé, não pode haver distância entre o que se transmite e a pessoa que o transmite. No cristianismo, o meio de transmissão é a própria pessoa! Cada um, há-de pôr a sua própria vida, como selo e garantia de fidelidade, à pessoa de Jesus. A fé não se transmite como mera «herança» ou por uma espécie de «trespasse». A fé só pode existir, como acto livre da pessoa. O que podemos fazer pela fé dos outros, é deixar transparecer em nós a alegria e a beleza da presença de Deus a reinar na nossa vida, à qual os outros possam vir a dar o seu consentimento. Trata-se de viver a vida humana, à luz da fé, e de levar os outros a descobrir, que “afinal Deus estava aqui e eu não o sabia”. Esta nossa vida quotidiana, vivida divinamente, é a melhor palavra de que dispomos para dizer Deus. O testemunho é, pois, o mais adequado e o eficaz convite à fé, a mais perfeita proposta de fé que se pode fazer! 4. Em segundo lugar, percebamos que «o crescimento do cristianismo não se fez por este estar dotado de grandes meios, mas precisamente pelo testemunho da caridade, do amor mútuo entre os seus membros, da hospitalidade e do cuidado pelos pobres, pelas viúvas, pelos doentes. «Vede como eles se amam»! Esta é a senha e a chave para o problema da transmissão da fé! «A sua palavra era confirmada com os sinais que a acompanhavam», dizia o evangelho. Evangelizar não é necessariamente falar. Aliás, «o cristão sabe quando é tempo de falar de Deus e quando é justo não o fazer, deixando falar somente o amor” (DCE 31). Também hoje o essencial do testemunho cristão, há-de a ser o de uma fé que actua pela caridade; o de ter e o de viver uma forma alternativa de vida, na qual se manifesta o amor de Deus! De facto, “o amor na sua pureza e gratuidade é o melhor testemunho do Deus em que acreditamos e que nos impele a amar» (DCE 31). 5. Irmãos e Irmãs: Desde a Ascensão do Senhor, que somos enviados como testemunhas de Cristo, por toda a parte. Não nos preocupemos tanto por saber quem são, e como são tantos… os destinatários do evangelho! Não tenhamos a pretensão de os converter a todos. “Só Deus conhece os seus e só ele pode contá-los”. O essencial, na transmissão da fé, é sermos cristãos de verdade, que põem os seus cuidados, inclusive os cuidados do Reino, nas mãos de Deus! Somos poucos? Sejamos diferentes! Não conseguimos fazer tudo, por todos?! Comecemos por deixar Cristo fazer, em nós, a sua obra! Deste modo, ele coopera connosco na transmissão da fé, até ao fim dos tempos! Homilia na Solenidade da Ascensão do Senhor B Dia Mundial da Criança (1 de Junho de 2003) 1. Jesus cresceu, com o tempo, e apareceu entre nós. O Menino Jesus de Belém apresenta-se agora, a nossos olhos, como o Homem perfeito, o Cristo na sua glória divina e na sua plenitude humana. Com a sua vida inteira, a sua vocação realizada, a sua missão cumprida. «Sentado à direita de Deus» (Mc.16,19), curiosamente, Jesus engrandece, regressando, como Filho, ao seio do Pai. Para Jesus, a sua realização plena e a meta da sua vida passam, ao fim e ao cabo, por voltar aos alvores da infância, ao seio das origens, aos princípios do insondável mistério da vida. NEle se percebe bem como o horizonte último da vida plena de cada pessoa, coincide precisamente em encontrar-se, de novo, com o seu ponto de partida. 2. Jesus, de facto, já algumas vezes nos ensinara que ninguém chegaria com um dedo ao céu se não se tornasse como uma criança (cf. Mt.18,3). “Das crianças é o Reino dos Céus… e dos que são como elas” (Mt.19,14), disse um dia. Como os ramos de uma árvore, a vida do homem ergue-se tanto mais para o alto, cresce tanto mais, quanto mais descerem as suas raízes em profundidade, na simplicidade, «em humildade, em mansidão e paciência» (Ef.4,2). 3. E era um pouco assim, “como crianças”, que se sentiam aquela dúzia de homens “duros e maduros”, a quem Jesus confiara a sua presença, obra e missão. Ao ver Jesus aconchegado, de uma vez para sempre, ao Pai, eles portamse como meninos de tenra idade, que nem sabem ainda sequer falar (cf.Jer.1,6), e estão a dar os primeiros passos, no anúncio do seu evangelho. É afinal o tempo da infância da Igreja, - oh belos tempos! - em que, naquela beleza ingénua da primeira idade, conta mais o abandono confiante nas mãos de Deus, do que o esforço abnegado de quem quer mudar o mundo. É o tempo da infância da primitiva comunidade cristã, em que as regras valem bem menos do que a fantasia. É o tempo da inocência das pequeninas comunidades, em que a alegria pesa mais do que a responsabilidade. E nem os perigos os parecem assustar, como se não sofressem nenhum mal (Mc.16,18) aqueles que se abrigam às asas do amor materno de Deus ou se atiram, seguros, nos braços do Pai que está nos Céus! 4. Neste Dia Mundial da Criança, pergunto-me se a infância não é um sonho dos adultos. E se o grande projecto, tarefa ou maturidade da nossa vida, não é afinal regressar ao seio materno, ao saboroso e seguro colo do pai, a esse estado de felicidade, que só a consciência da idade, nos impede de ver e de viver cada dia com alegria. No fundo, o caminho da nossa vida vive-se na miragem da infância perdida. Diríamos que “o estado de homem perfeito”, a que todos somos chamados (Ef.4,13), consiste em alcançar ou em regressar ao mais puro espírito da infância. 5. Não sou muito de conselhos aos meninos. E nem sei se as crianças me estarão a (para) ouvir. Mas, se não pelo menos aos adultos, esta palavra pode fazer renascer a criança ou a esperança, que cada um traz dentro de si. Permitam-me que directamente me dirija aos mais pequeninos, com dois apelos, para que nunca deixem de ser crianças: - Em primeiro lugar, - querida criança - pela manhã, quando acordares, maravilha-te, como se pela primeira vez, o sol se fosse levantar, como se pela primeira vez saltasses para fora da cama para viver. Imagina que o que vês agora, não existia ontem, como se, num espanto, assistisses, de graça, ao começo do sol e ao princípio da criação do mundo. - Na aula, sei que fazes os teus deveres e te aplicas quanto baste, mas nunca, claro está, o bastante, para sossegares os teus pais. Eu atrevo-me a aconselhar-te a seres alguma vez distraído, a teres, e muito bem, uma parte de ti que dê atenção às linhas, à pontuação, a tudo o que os professores te ensinam… Mas depois, uma outra parte de ti, que seja como um pássaro, que levanta voo muito para além… e que não presta atenção... Para permaneceres criança toda a vida, é esta segunda parte de ti mesmo que deves cultivar. Dirão que tu sonhas. Mas é o sonho acordado que nos fará «chegar ao estado de homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude» (Ef.4,13). E os sonhos das crianças são os mais belos dos sonhos, que nos fazem crescer e chegar ao céu. Homilia na Ascensão do Senhor 2000 1. De olhar fito no Céu e com os pés bem assentes na terra, somos cidadãos de duas pátrias. Estrangeiros e peregrinos, pisamos esta Terra, caminhando por entre a poeira dos séculos, mas vivemos na esperança da Pátria Prometida. Não é uma ilusão que nos move na subida. É a visão de «Cristo, nossa Cabeça, que para aí nos chama como membros do seu Corpo». Lá do alto ele nos atrai para cima, para não sucumbirmos à força de gravidade deste mundo que é nosso, desde que não sejamos nós dele. E está connosco até ao fim dos tempos! Nesta árdua e difícil missão de transformar o mundo. 2. Jesus parte e deixa-nos a Igreja. E a Igreja fica no mundo, com a tarefa de instaurar o Reino. «Sendo simultaneamente assembleia visível e comunidade espiritual, a Igreja caminha com toda a humanidade e partilha o destino terrestre do mundo» (GS 40). É chamada a erguer do chão para o alto, a aproximar o mundo dos homens da cidade de Deus. É chamada a semear na terra que pisa, os valores do alto, em que acredita, inflamada por aquele amor com que Deus amou o mundo e lhe enviou o seu Filho Unigénito. 3. Todos os cristãos, membros da comunidade dos crentes, são simultaneamente membros da cidade dos homens. Aí, com a força inspiradora da fé, se devem empenhar no progresso da sociedade no seu conjunto. “O Concílio exorta os cristãos, cidadãos de uma e outra cidade, a desempenhar com zelo e fidelidade as suas tarefas terrestres, deixando-se guiar pelo espírito do Evangelho” (GS 43). 4. A Igreja relaciona-se privilegiadamente com a sociedade de que faz parte integrante. É a ela que foi enviada em missão. Ela é promotora de valores objectivos, considerados essenciais e prioritários para o evoluir positivo da própria sociedade, tais como: a dimensão espiritual da existência, a paz, a justiça, a afirmação da dignidade da pessoa humana, a valorização da família como célula base da sociedade, a construção de modelos de desenvolvimento em que todos os cidadãos possam ser protagonistas, a salvaguarda da harmonia da natureza que o progresso deve respeitar. Acentue-se que os grandes objectivos da missão da Igreja no mundo convergem com as metas a atingir no desenvolvimento da sociedade democrática, o que dá à missão da Igreja, no seu conjunto, um sentido altamente positivo na construção da comunidade humana. 5. Estas são algumas ideias fortes da última Carta Pastoral dos Bispos Portugueses sobre “ a Igreja numa sociedade democrática”. Carta em que, desde o princípio, somos justamente levados a considerar a nossa dupla condição de cidadãos: da terra e do céu, da sociedade e da Igreja. A mesma conclui que “a presença dos valores evangélicos nas leis e nas estruturas do Estado depende, em grande parte, do empenhamento político dos cristãos”. E lembra que «o Concílio Vaticano II é bem claro a esse respeito: “Todos os cristãos devem ter consciência do papel próprio que lhes cabe na comunidade política. Devem dar o exemplo, desenvolvendo o sentido de responsabilidade e de dedicação ao bem comum. Mostrarão, assim, pelos factos, como se pode harmonizar a autoridade com a liberdade, a iniciativa pessoal com a solidariedade e as exigências de todo o corpo social, as vantagens da unidade com as diversidades profundas”» (GS75). Como afinal a fidelidade ao Evangelho é ficar de olhar fito no Céu e com os pés bem assentes na terra. Homilia na Ascensão do Senhor/ B 1997 1. Pés na terra e olhos fitos no Céu. Lá no alto, Jesus. Sem a estreiteza do espaço, sem os limites do tempo. Cá em baixo, a Igreja. Chamada a ir por toda a parte e a caminhar até ao fim dos tempos. Lá em cima, a Cabeça! Cristo, Senhor do Mundo e da História. Cá em baixo, o seu Corpo. A Igreja, Serva dos Homens e do Reino de Deus em cada tempo. Numa palavra, Jesus parte para ficar. E junto do Pai intercede por nós. E nós ficamos para partir. Na certeza de que Ele coopera connosco até ao fim dos tempos... Com os pés na terra e de olhos fitos no Céu... Chegou o nosso tempo. Chegou a nossa vez. De «ir por todo o mundo, e anunciar a boa nova a toda a criatura». Fiéis aos gemidos do Espírito, que chama e envia, sempre para mais alto e mais longe... e atentos aos gritos da Terra que nos prende e compromete, aqui e agora. 2. A Ascensão do Senhor é, por assim dizer, o dedo indicador de Jesus a atirar o nosso olhar para cima. A elevar o nosso espírito para as alturas do Eterno, a mostrar-nos a meta última do nosso crescimento. “Elevando-se à nossa vista», Ele ilumina os olhos do nosso coração para compreendermos a esperança a que somos chamados, desafia-nos a caminhar de cara levantada, peito firme e cabeça erguida. É um exercício fundamental este de «olhar para o Alto», de contemplar Jesus, de olhar o Homem Novo, para que a nossa vida tenha largos horizontes, raízes fundas e desejos profundos... e assim aspire a crescer para Ele «até que cheguemos todos ao estado de homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude» (Ef.4,13). 3. Somos chamados a «crescer interiormente», para que todo o Corpo da Igreja se configure à sua Cabeça, Jesus Cristo. Se nEle tudo já se cumpriu, se nele o corpo da sua humanidade atingiu o seu melhor... em nós tudo deve ainda cumprir-se. E por isso, há que vencer a lei da gravidade, que sempre nos atira para o chão, e seguir a lei da Vida, que nos liberta para o Alto. Este apelo a crescer, a ir mais longe e mais fundo é para todos: Um apelo para os pais, que devem educar, «puxando para cima» sem se resignar à tentação cómoda de deixar ir tudo por onde sopra a corrente... Um apelo para os filhos, que devem pedir menos dos outros, e exigir mais de si, sem caírem na tentação de «atingir os objectivos mínimos», de fazer só o que lhes é útil e agradável, mas antes procurar o sentido último da vida e das coisas... nas aulas de moral, na Catequese ou nos grupos de Jovens; no jogo e na Oração, na festa e no compromisso. E esse apelo a crescer, em humanidade e em fé, deve ver-se também na Paróquia. Nenhum colaborador da vida pastoral pode contentar-se simplesmente em ler sem meditar, em ensinar sem testemunhar, em prestar ajuda sem servir, em cantar sem rezar, em receber sem dar, em estar sem participar, em construir sem edificar. O desafio que nos é feito cada vez que lemos, ensinamos, cantamos, rezamos ou nos reunimos aqui, em Eucaristia e em Oração, é o de «crescermos na fé e no conhecimento de Jesus Cristo». Só assim, o Corpo de Cristo se edificará até que cheguemos todos ao estado de Homem perfeito, à medida de Cristo na sua plenitude. Crescei. E aparecei! Dirá hoje o Senhor a cada um de nós! Lectio Divina - Ascensão Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos Mc 16, 15-20 (Lugares paralelos: cf. Mt.28,16-20; Lc 24,46-53; Act 1,4-11) 14 Apareceu, finalmente, aos próprios Onze quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração em não acreditarem naqueles que o tinham visto ressuscitado. 15 E disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. 16 Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado. 17Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em meu nome expulsarão demónios, falarão línguas novas, 18 apanharão serpentes com as mãos e, se beberem algum veneno mortal, não sofrerão nenhum mal; hão-de impor as mãos aos doentes e eles ficarão curados.» 19 Então, o Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus. 20 Eles, partindo, foram pregar por toda a parte; o Senhor cooperava com eles, confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam. 1. LECTIO: o que diz o texto? 1. Situe a cena da Ascensão. Qual o seu contexto? Aparece depois da narrativa das aparições de Jesus! 2. Quantas aparições antecederam a Ascensão, no relato de São Marcos (Mc.16)? Identifique-as: três: - Mc.16,9: «apareceu primeiramente a Maria Madalena»; - Mc. 16,12: «apareceu a dois deles»; - Mc.16,13: «Apareceu aos Onze»… 3. Divida o texto que tem em duas partes: - O envio dos onze e os sinais da fé (vv. 15-18). - A ascensão de Jesus e a execução do mandato pelos Onze (vv. 19-20). 4. A quem aparece agora Jesus? Aos Onze! 5. Qual o mandato de Jesus? Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda a criatura 6. Porquê o «anúncio a toda a criatura»? Qual o significado e alcance desta «expressão»? Porque não o anúncio «a todo os homens»? O envio (v. 15) é universal e cósmico! 7. Quais os sinais da fé? Que acontece a quem acredita? Exorcismos, curas, glossolalia e imunidade a serpentes e venenos. 8. Que significado terá a expressão: «não sofrerão nenhum mal»? 9. Jesus parte? É um ausente. Ou continua presente? Como se verifica a sua presença? O Senhor «cooperava com eles». 10. Como traduziria hoje: «foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus»? 11. Como se «confirma a Palavra»? Com os sinais. II. MEDITAÇÃO: QUE ME DIZ O SENHOR? 1. Que me impressiona neste texto? a) b) c) d) e) O facto de Jesus enviar os discípulos, apesar da sua incredulidade? A ousadia da missão? Os sinais concretos da fé? A resposta imediata dos discípulos? A confirmação da Palavra com os sinais? 2. Sinto-me chamado a anunciar o evangelho a toda a criatura? Tenho levado o evangelho «a toda a parte»: ao mundo do trabalho, da economia, da ecologia, da família, dos tempos livres? 3. Sinto a cooperação do Senhor na minha missão? Sinto-me seu cooperador? III. ORAÇÃO: Que digo eu ao Senhor? 1. 2. 3. 4. Senhor, fica connosco! Senhor, coopera connosco! Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé! Senhor, eis-me aqui, enviai-me! Cânticos: (proposta) Eu estou sempre convosco Ide por todo o mundo… Porque Ele está connosco! IV. CONTEMPLAÇÃO: Que me é dado ver, viver, sentir e agir, a partir desta Palavra? - Discernir os vastos campos do mundo, da paróquia, da minha vida, onde que ainda não chegou o Evangelho! - Sentir a consolação da presença do Senhor, que parte, para ficar connosco! - Fixar os meus olhos em Cristo! Rezar, com a consciência, de que Ele intercede por mim, junto do Pai! Acção: Que vou fazer? Rever a acção pastoral de modo a avaliar a nossa dimensão missionária?