OS DESAFIOS DA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO: A PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE Gustavo Cunha de Araújo1 Discente de Pós-Graduação FACED/UFU [email protected] RESUMO Este estudo tem como finalidade analisar os desafios da profissão docente, tema este bastante problematizado na esfera educacional. Para tal, foi feita uma análise das pesquisas inseridas no bojo da história da educação brasileira, que abordam este tema, para que se pudesse produzir reflexões e compreender questões acerca do propósito colocado neste trabalho, além de se somar as observações realizadas na atuação enquanto docente e dos estudos realizados por um grupo de pesquisa da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. Neste sentido, esta investigação corrobora a relevância de pesquisas sobre a profissão-professor ao socializar e disseminar conhecimento sobre temas que envolvem a profissionalização docente e os desafios que permeiam essa profissão no âmbito educacional. PALAVRAS-CHAVES: Docência, Profissionalização Docente, Educação. INTRODUÇÃO Atuando como professor da educação básica e, também, fazendo parte de um grupo de estudos2 e pesquisas de professores da rede pública de ensino estadual, municipal e superior da Universidade Federal de Uberlândia, veio observando que o tema “profissionalização docente” vem sendo bastante enfatizado nas discussões realizadas por este grupo, assim como também na educação em geral. O âmbito educacional nos possibilita realizar diversas e relevantes discussões sobre assuntos atuais voltados para a profissão-professor, inseridos na história da educação, nos instigando a interpretá-los e compreendê-los durante a realização de pesquisas que abordam temas relacionados à formação e profissão docente. Nesta ótica, 1 Professor de Artes da rede estadual de ensino de Uberlândia/MG e Especializando em Docência pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia. 2 Membro do grupo de pesquisa e estudos credenciado pelo CNPq “História da Alfabetização: Lugares de formação, cartilha e modos de fazer”, pela Faculdade de educação da Universidade Federal de Uberlândia, e que fazem parte, também, professores das redes municipais, estaduais e superiores de ensino da cidade de Uberlândia/Minas Gerais. 2 ao falarmos sobre os desafios da docência na educação, temas como qualidade de ensino, a didática e a profissionalização docente são bastante problematizados nessa esfera educacional. Neste sentido, entendo que tais desafios existentes no exercício profissional da docência são inúmeros. Assim, não tenho a pretensão de salientá-los todos neste estudo (se é que se consegue citar todos), mas sim, destacar aqueles que considero importantes e pertinentes no bojo educacional, tendo como aporte teórico estudos científicos sobre a profissionalização e formação docente no Brasil, para que possamos compreender e refletir sobre esta problemática ora apresentada nesta investigação, e da atuação profissional enquanto pesquisador e professor da rede pública de ensino. Na opção por focar a profissionalização docente, compreendo a necessidade e a relevância de socializar conhecimentos, experiências, saberes e reflexões sobre a prática educativa, para que se possa ter uma melhor compreensão da profissão-professor, bastante questionada e problematizada em nosso meio social, político e educacional atualmente. Por este caminho, foi possível apontar alguns desafios e problemas enfrentados por esse profissional, o qual encaro como ser uma profissão de grande valor e mérito, devido a tais empecilhos vivenciados por este durante toda a sua trajetória histórica e profissional. Assim, com reflexões a respeito deste tema, esta pesquisa soma-se as contribuições de pesquisadores que focam este estudo sobre a profissionalização docente e suas práticas, compartilhadas nesta investigação. Dentre estes destaco as contribuições de (CATANI e SILVA, 2007; CHIOVATTO, 2001; DINIZ-PEREIRA, 2011; LELIS, 2001; NÓVOA, 1992, 1998, 2008; TARDIF e LESSARD, 2008; PENIN, 2009 e THERRIEN, 2005). Sendo assim, acredito que se é verdade que a literatura internacional chegou na última década sobre a profissão e profissionalização docente foi extremamente estimulante do ponto de vista dos perigos que cercam o controle político do trabalho docente [...]. Também é verdade que é preciso investir na compreensão dos vários sentidos atribuídos ao trabalho docente [...] (LELIS, 2001, p. 41). Por outro lado, compreendendo a escola como espaço do trabalho e do saber docente, fundamental para a sua socialização profissional, é importante enfatizar a necessidade do resgate da autonomia e valorização do professor, muita das vezes, ameaçada pelo contexto da falta ou má preparação inicial deste profissional, ocorrida ao longo dos anos da história da educação brasileira. 3 A PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NA ESFERA EDUCACIONAL Historicamente, acredita-se que a profissão-professor surgiu por volta do século XVIII, na época da burguesia européia, o qual passou a assumir o status de profissional, ancorado por estudos oriundos da pedagogia, influenciando toda a sociedade da época. No que se refere ao Brasil, essa profissionalização docente só se efetivou com a criação da Universidade de São Paulo, em 1931, nos quais cursos de formação de professores para o ensino primário começaram a surgirem no país, em nível secundário, até que décadas depois, com a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394/96, nos anos 90, propusesse essa formação em nível superior, a qual atualmente se tem conhecimento (PENIN, 2009). Posteriormente, observa-se que a maioria dos docentes atuantes na educação na década de 1970 eram formados em instituições públicas e confessionais, sendo que só a partir dos anos 90, com a expansão da educação básica e a criação da LDB anteriormente citada, a profissionalização docente começa a ser questionada, principalmente ao se observar as estatísticas educacionais no Brasil, se comparada com a de outros países, evidenciando, assim, a má qualidade de educação brasileira. Considerando este pensamento, acredito que a escola, enquanto instituição educacional e social, é o espaço no qual o professor vai organizar, analisar, planejar e refletir sobre a sua prática e profissão na educação, mas também, com a colaboração dos alunos e da própria instituição, fazendo com que este possa redefinir seu papel de sujeito relevante no processo de produção de conhecimento no bojo escolar e acadêmico, lembrando que “os docentes devem ser formados, não só para uma relação pedagógica com alunos, mas também para uma relação social com as ‘comunidades locais’ (NÓVOA, 2008, p. 229)”. Ao enfatizar essa profissionalização, a atenção dada aos conhecimentos e saberes do professor se mostra relevante em sua prática educativa, ao entender que ambos se relacionam com o seu processo de profissionalização durante toda a sua trajetória profissional, e que precisam ser repensadas, avaliadas e questionadas sempre, principalmente no contexto educativo, que é o lugar no qual sua prática se desenvolve efetivamente. [...] é preciso reconhecer que não fomos suficientementes atentos as formas de organização do trabalho profissional. Nós nos interessamos pelo docente a titulo individual, no nível dos seus saberes e capacidades, mas raramente nos indagamos sobre essa 4 ‘competência coletiva’, que é mais do que a soma das ‘competências individuais’ [...]. Assim, é importante que se caminhe para a promoção da organização de espaços de aprendizagem entre pares, de trocas e de partilhas. Não se trata apenas de uma simples colaboração, mas de possibilidade de inscrever os princípios do coletivo e da colegialidade na cultura profissional dos docentes (NÓVOA, 2008, pp. 230-231). Por outro lado, venho observando que as reformas educacionais ocorridas nos últimos anos no Brasil, voltadas para a democratização e universalização do ensino, têm revelado tentativas de melhoria na qualidade da educação e prática educativa, buscando repensar a atuação docente em sua profissão, reconhecendo que é preciso propostas e mudanças significativas. Desta forma, compreende-se que tais mudanças, que devem abranger toda a historicidade de sua profissão, não são apenas responsabilidades do Estado, mas sim da própria educação escolar, ao oferecer um espaço de intenso e continuo processo coletivo de contextualização e formação docente (NÓVOA, 1998). Ao enfatizar a prática do professor, Therrien (2005) vai mencionar os saberes da racionalidade na profissão docente, enraizada geralmente numa pedagogia, segundo ele, cientifico/instrumental, que vai abordar uma necessidade de se produzir os referenciais, métodos e técnicas pedagógicas, relevantes para o exercício da docência. Neste sentido, compreendo que o professor é visto, muitas vezes, como detentor de conhecimentos e saberes no contexto escolar, porém, além de concordar com esta afirmação, ainda defendo um professor como um sujeito histórico-social que, além de ser o produtor de tais conhecimentos e saberes, devem adequá-los e relacioná-los a realidade escolar de seus alunos. Neste raciocínio, é preciso salientar também que [...] nossa compreensão do docente como profissional do saber, deve considerar a dimensão ética do trabalho desse profissional de ensino. A educação é uma ação social que, portanto, requer a coordenação entre os planos de ação de dois ou mais sujeitos. A autonomia docente, na gestão pedagógica da matéria em situações de praxis, é regulada pela postura ética/moral que o processo de interação-comunicação-dialogicidade fundante da aprendizagem impõe [...]. Por ser mediador de saberes em contexto de intersubjetividade, o docente revela também sua compreensão de vida no mundo e da ideologia que a sustenta (THERRIEN, 2005, p. 07). O que se pode perceber nesta prática, por meio de estudos e atuação na área, é a falta de uma formação mais adequada e voltada para o trabalho pedagógico e reflexões crítica sobre a profissão-professor, fazendo este sujeito repensar e refletir sobre sua prática diária. Desta forma, acredito que não bastam cursos de formação continuada, ou 5 mesmo, de capacitação, se não buscam preparar este docente para a realidade de sua prática profissional, realidade essa das escolas e da educação atualmente no Brasil. ANALISANDO A PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE: EM BUSCA DE REFLEXÕES Atualmente, observa-se que na profissionalização docente, nem sempre a prática de ensino, presente nos cursos de formação de professores, preparam o professor de acordo com a realidade apresentada na profissão, isto é, existe uma discrepância entre a teoria (o que se aprende nestes cursos) e a prática vivenciada enquanto educador. Além disso, compreende-se que a própria prática de ensino deve ir além do simples fato de “teorizar” a formação do professor, mas também e mais importante, preparar este profissional para a realidade escolar, contextualizando sua prática. Assim, entendo que o professor, em sua prática profissional, deve ir além de ser um simples mediador de produção de conhecimento no ambiente educativo, ou seja, creio que o mesmo, deve enfatizar a sua prática por meio de investigações em sua área e na própria vivência diária enquanto profissional da educação, ressaltando não apenas a sua profissão e os desafios por ela enfrentados, mas o cotidiano escolar no qual atua como campo e objeto de estudo cientifico, procurando ainda desvelar e propor soluções por meio de estratégias educacionais, desenvolvendo saberes e reflexões acerca desta problemática inserida na história da educação e, que possa contribuir, para o seu trabalho pedagógico. Entretanto, por meio de estudos sobre a profissionalização docente realizados pelo grupo de pesquisa, somados a vivência enquanto docente da educação básica, venho observando que esta área envolve, dentre outros: um processo de organização, planejamento, observação, análise e reflexão; necessita de condições da própria escola para que o trabalho do docente seja desenvolvimento plenamente; exige uma relação de afetividade entre aluno e o professor no processo de ensino-aprendizagem; implica numa investigação e disseminação constante da pesquisa sobre a profissão-professor e suas práticas por meio de estudos dos próprios professores, a comunidade escolar e acadêmica. Assim, enfatizando esta profissão, é importante salientar que, Não é fácil definir o conhecimento profissional: ele tem uma dimensão teórica, mas não é apenas teórico; tem uma dimensão empírica, mas não é unanimemente produzido pela experiência. Estamos diante de um conjunto de saberes, de competências e 6 atitudes, mais (e esse mais é essencial) a sua mobilização numa ação educativa determinada (NÓVOA, 2008, p. 231). Nesta perspectiva, acredito que as mudanças ocorridas no campo educacional são construídas a partir de mudanças nas próprias práticas dos professores e das escolas, além de compreender a profissionalização como um processo de formação de um sujeito numa profissão (PENIN, 2009), entendendo que a própria formação continuada e a inicial irão fazer parte diretamente da formação do professor. A profissionalização e a construção da profissionalidade incluem os diferentes aspectos que envolvem uma profissão, assim como os diversos tipos de ação que o profissional realiza. Neste sentido, compreender uma situação de trabalho é conhecer tanto as condições objetivas quanto as subjetivas nas quais o trabalho é realizado e, ainda, as relações recíprocas entre ambas. Condições objetivas são entendidas como os aspectos exteriores da profissão (salário, carreira, prescrições legais, condições concretas de trabalho em um local) e condições subjetivas como a vivência diária de um profissional no desempenho do trabalho, incluindo as angustias e alegrias nas relações que estabelece, no caso do professor, especialmente com os alunos (PENIN, 2009, p. 04). De acordo com esta citação, fica claro que não apenas as condições de trabalho do professor precisam ser enfatizadas, mas também a valorização de sua imagem e papel enquanto docente da educação. Diante deste raciocínio, acredito que deve haver propostas de melhorias que possam permear todo o seu campo de trabalho. É importante salientar, ainda, que durante a sua prática educativa, é necessário que o docente leve em consideração a diversidade social, econômica e cultural não apenas da instituição educativa o qual trabalha, mas também de seus alunos em sala de aula, resultante da universalização da educação básica ocorrida nos últimos anos em nosso país. Assim, acredita-se que a diversidade também passa a ser um desafio para a sua prática, devendo este docente saber lidar com essa situação e buscar compreender que tal empecilho precisa ser encarado diariamente, sem que o mesmo perca o foco de seu trabalho. No entanto, percebe-se na literatura educacional muito o professor exercendo sua profissão sem mesmo ter uma formação específica para aquela disciplina que leciona e, mesmo quando tem, é carente de disciplinas didáticas pedagógicas durante a graduação e a pós-graduação. Diante disso, percebo na própria docência em artes essa problemática, ao deparar com profissionais da educação ministrando aulas de artes, sem mesmo ter a formação especifica para atuar nesta área. Desta forma, vejo um grave problema, pois, como ministrar uma aula de determinado conteúdo e área especifica do 7 conhecimento, sem mesmo ser formado ou ter conhecimento especifico nesta área? Logicamente, constata-se que professores que socializam conteúdos de outras áreas do conhecimento em sala de aula, sem terem a formação especifica nesta área, correm o risco de transmitir um conhecimento equivocado e errôneo para o aluno, agravando ainda mais a qualidade de ensino e o processo de aprendizagem do discente na esfera educativa. Uma vez tendo como foco a qualidade a ser alcançada no ensino e conseqüentemente na educação escolar, é preciso salientar que tal qualidade está diretamente relacionada à formação de professores, independente da área de formação. Neste sentido, ressalto alguns, dentre outros, desafios enfrentados pelo professor durante a sua prática educativa observada no contexto escolar: formação inicial fraca, diferente da realidade escolar; inadequação de conteúdos a realidade do aluno; má preparação de professores devido a escassez de leitura e pesquisas; a pouca ou nenhuma compreensão da relação professor-aluno; a falta de conexão efetiva e coerente entre teoria e prática contextualizada com o meio social; a falta de diálogos entre professores e alunos; falta de iniciativa e interesse por parte de professores em inovações e propostas pedagógicas que possam colaborar para a produção de conhecimentos e saberes nos alunos entre outros. Além disso, deve-se salientar a importância de se realizar pesquisas 3 e estudos voltados para a profissão docente, suas histórias de vida e produção de saberes, além de suas experiências e suas práticas educativas, que possam contribuir efetivamente para a construção e socialização de conhecimento para a educação. Neste sentido, Vasconcelos (2000) vai desvelar para este estudo que o perfil do docente atuante na educação precisa levar em consideração o saber ensinar, ser bom crítico e um incansável pesquisador, e que acredita-se ser fundamental durante toda a sua prática pedagógica. Nessa direção, afirma-se, então, o professor enquanto sujeito histórico fundamental neste processo, que além de propor novos métodos de ensino, precisa também instigar e motivar seus alunos a não apenas aprenderem, mas também a “apreenderem” os ensinamentos ali constituídos em âmbito escolar ou acadêmico. Assim, cabe ao docente, ser o mediador, o facilitador, por produzir, disseminar e 3 Dentre as diversas inovações historiográficas, pode-se destacar a valorização das pesquisas que almejam dar conta dos vários atores envolvidos no processo educativo, investigando o que se passa no interior das escolas. A ênfase dada às análises sistêmicas tem cedido lugar às reflexões que privilegiam uma visão mais profunda dos espaços sociais destinados aos processos que envolvem as representações, as práticas, os sujeitos e os processos escolares. 8 compartilhar o conhecimento em sala de aula, instigando em seus alunos novos saberes e para que estes os apreendem e passam a utilizarem de acordo com as suas necessidades sociais e educacionais, implicando no avanço de seus aprendizados sociais e acadêmicos. É importante que o professor procure novos meios pedagógicos e inovadores para um melhor desenvolvimento de sua profissão docente, acarretando em resultados satisfatórios durante sua prática e para que objetivos sejam alcançados. Buscando trabalhar com qualidade, faz com que seus métodos de ensino possam ser desenvolvidos da melhor maneira possível, e que possam satisfazer a aprendizagem de seus alunos. Entre alguns requisitos que venho constatando nesta área, para que se desenvolva um bom profissional, e que se acredita ser importante compartilhar neste artigo, são: os professores deverão ser líderes de aprendizado e produção de conhecimento durante o exercício de sua profissão; ser flexíveis e adaptáveis a novas situações que surgirem durante sua profissão; serem capazes de aceitar e propor novas mudanças em sua prática educativa; deverão ser abertos as novas idéias e troca de experiências de colegas de profissão e alunos; serem colaboradores e criadores de novos meios que possam auxiliar sua prática pedagógica e deverão investir em novos saberes e motivar seus alunos a aprenderem e apreenderem os conhecimentos adquiridos e compartilhados. Por outro lado, vejo a prática pedagógica também como fundamental na constituição dos saberes dos professores, pois estes sentem a necessidade de contribuírem efetivamente na aprendizagem e na motivação dos alunos em aprender, além de poderem superar os problemas4 diários que eles mesmos enfrentam durante a sua profissão. Nesta linha de raciocínio, é importante ressaltar cursos de formação para docentes5 e de pós-graduação que focam a prática e a sua formação, citados no início deste artigo, ao procurar tornar este profissional melhor preparado para enfrentar os desafios diários de sua profissão, e fazê-lo repensar e refletir sobre suas práticas docentes e produção de saberes, também condicionados ao ensino e a aprendizagem, mesmo sabendo que a realidade de seu trabalho enquanto educador é bem discrepante da sua formação inicial. Conseqüentemente, trata-se de pensar a formação do professor como um projeto único que engloba a inicial e a contínua. Nesse sentido, a formação envolve um duplo processo: o da autoformação 4 Dentre os diversos problemas enfrentados pelos professores hoje em dia, destaca-se a má remuneração, espaço físico escolar precário e a desvalorização profissional, frente a outras profissões. 5 Como exemplo, cito o Programa de Formação Continuada para Docentes da Educação Básica, oferecido anualmente pela Pró-Reitoria de Ensino e pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia. 9 dos professores, com base na reelaboração constante dos saberes que realizam em sua prática, confrontando suas experiências nos contextos escolares; e o de formação nas instituições escolares onde atuam (PIMENTA, 2000, pp. 174-175). Enfatizando a qualidade de ensino, venho observando que a didática assume grande relevância na sala de aula. Por fazer a mediação entre o professor e os processos de aprendizagem, entende-se que a didática se configura como fator motivador para que o aluno possa ter interesse em aprender. Por isso, “saber ensinar” e “de que forma ensinar” se tornam duas questões fundamentais a serem respondidas no processo de ensino e aprendizagem nas instituições de ensino e educação. O que se observa, também na profissão docente, é que não adianta apenas compreender que para ser um bom professor, não basta dominar e ser um profundo conhecedor de sua área de estudo e ensino, mas também, procurar a melhor forma de trabalhar didaticamente com os diversos alunos na sala de aula, pois estes têm níveis de aprendizados diferentes. Assim, destacar a qualidade da aula na educação é extremamente importante para se compreender melhor e propor soluções para as mazelas existentes na esfera da educação brasileira. Porém, para Gomes (2002), existem quatro referências sobre o desenvolvimento de uma aula com qualidade e a qual se acredita ser importante na profissão-professor, para que reflexões possam ser produzidas em sua prática pedagógica: o ensino induzindo o aluno a pensar, e não apenas como transmissor de conhecimento; a importância da pesquisa e dos diversos meios e fontes de investigação; a escolha certa do material ou recurso didático a ser utilizado na sala de aula; e saber escolher qual a melhor maneira de se avaliar na educação superior, levando em conta a realidade, o contexto de cada instituição de ensino. Com relação a esta última referência, é importante se frisar que a avaliação de antes, tinha por objetivo selecionar e classificar, e o que se propõe hoje é que ela seja progressiva e formativa, propiciadora de espaço para debate, onde o professor observa, anota e sugere auto-avaliação (GOMES, 2002, p. 49). Em vista disso, entendo que o docente, não apenas do ensino básico, mas também no ensino superior, está longe de ter o reconhecimento que deveria ter frente às 10 outras áreas do conhecimento. Mesmo terem sido criadas reformas e políticas públicas6 que pudessem melhorar a qualidade da educação no Brasil e, conseqüentemente, da profissionalização docente, essas não alcançaram o resultado esperado. Não basta apenas o professor se formar na graduação ou ter um diploma de licenciatura se não for um conhecedor de teorias, ser seguro na transmissão dos conteúdos, se não conhecer profundamente sua área e saber fazer a transposição didática do conhecimento científico e do acadêmico para a sala de aula. Assim, com relação às políticas educacionais, [...] introduzem no cenário brasileiro não somente um modo de compreensão da formação de professores e do próprio professor, como também criam novas instâncias formadoras como o Curso Normal Superior e os Institutos Superiores de Educação; estabelecem uma lógica de estreita articulação entre as agências formadoras e os sistemas de ensino; e balizam os conhecimentos considerados básicos para os professores da Educação Básica. (BORGES e TARDIF, 2001, p. 04). Além de ser importante se procurar refletir como se encontra a concepção da didática no ensino superior, também é necessário que se possa caracterizar a docência como atividade profissional e continuar produzindo pesquisas7, como é o propósito deste estudo, para que se possa instigar reflexões e trocas de experiências com profissionais da área da educação. Assim, se defende a idéia de que a didática do professor compreende muito mais do que conteúdo, aprendizagem e ensino, mas uma relação com as metodologias e com as práticas de ensino do docente durante sua profissão. Considerando a problemática enfatizada neste artigo, é importante salientar que o desenvolvimento de tais interpretações e reflexões discorridas neste estudo possa se confrontar com dados de outras pesquisas na área da história da educação, compartilhando e socializando conhecimento, saberes e experiências, além de produzir novas e relevantes investigações que focam a profissão docente no sistema educacional brasileiro. Porém, mesmo a educação passar a ser uma ciência dotada de método e racionalidade cientifica, por volta do século XIX ao inicio do XX, a teoria continuou a andar de forma “desmembrada” da prática docente, fazendo com que esta prática, baseada no conhecimento cientifico, trate as questões que envolvem a educação como 6 Um das novidades da Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9394/96, foi à introdução das habilidades visando formar “especialistas” em orientação educacional, administração escolar, professor para o ensino normal, inspeção e supervisão escolar. 7 As aulas do curso de Especialização em Docência, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, serviram como apoio teórico relevante para conseguirmos discutir neste artigo temas como a qualidade de ensino, profissão docente e didática no ensino superior. 11 problemas “técnicos” que poderiam ser solucionados por meio da racionalidade cientifica (DINIZ-PEREIRA, 2011). Por meio deste raciocínio, entende-se que o professor precisa se preparar por meio de conteúdos científicos e que sejam pedagógicos e contextualizados com a sua prática educativa. Assim, acredita-se que durante essa prática, o docente deve socializar tais conteúdos com os seus alunos, para que o conhecimento seja construído no processo de ensino-aprendizagem dos discentes. Dessa maneira, além de se constatar um contraste na identidade docente nos dias de hoje, pelo fato da profissão estar desvalorizada frente às demais, compreendo que esta identidade está relacionada diretamente ao momento em que o profissional da educação atua enquanto educador, isto é, durante toda a sua prática docente, pois, concordo que, [...] é a partir do momento que se assume a condição de educador – ou seja, a pessoa se coloca diante de outras e estas, reconhecendose como alunos, identificam-na como professor – que se inicia efetivamente o processo de construção da identidade docente (DINIZ-PEREIRA, 2011, p. 48). Nesta perspectiva, para Diniz-Pereira (2011), na década de 1980, já existia indícios de uma possível crise na formação docente, no qual a literatura educacional começava a enfatizar discussões e debates os problemas e desafios pertinentes na profissão-professor, o qual este vinha passando durante sua trajetória profissional na educação brasileira. Neste sentido, percebe-se que a expansão do ensino básico e superior, assim como a democratização de acesso a educação nestes níveis de ensino, não foi seguida pela qualidade de ensino, tampouco pela preparação docente em cursos de formação para atenderem essa demanda educacional. Assim, tais problemas trouxeram outros já existentes na profissão docente, mencionados neste trabalho. Dentre estes, a ênfase dada às condições precárias de trabalho, a desvalorização de sua profissão e a má remuneração colocam este profissional, equivocadamente, como o responsável pelo fracasso escolar. Por outro lado, observo na literatura educacional, que nos últimos vinte anos de nossa história da educação, o problema grave da dicotomia entre “teoria” e “prática” na profissionalização docente se mostra cada vez mais problemática na educação. Até os dias de hoje, percebo que a articulação entre ambas é um grande desafio para a prática docente, e para aqueles que iniciam na formação docente, implicando também nas diferenças entre licenciatura e bacharelado, nos cursos de graduação, ocasionando a 12 discrepância entre a realidade prática educativa com a formação inicial acadêmica. Diante disso, entendo que tais implicações e divergências contribuíram para multiplicar os problemas enfrentados pelos professores em sua profissão, gerando intensos debates e tensões no pensamento educacional brasileiro. CONCLUSÃO Venho observando na esfera educacional que os intensos debates sobre a formação docente e a sua profissionalização na educação básica e superior instigam questões relacionadas à sua prática educativa e aos diversos desafios enfrentados durante sua profissão. Desta forma, a discussão proposta neste artigo procedeu de observações, trocas de experiências com professores, grupo de pesquisa e vivências na prática docente inseridas no contexto educativo. Por meio de reflexões desencadeadas neste estudo, sobre a profissionalização docente, entendo que não bastam cursos de preparação docente, ou mesmo, capacitação e pós-graduação voltados para esta temática, se o próprio docente não estiver disposto e seguro em sua prática. Assim sendo, entendo que por mais difícil que seja atuar nesta profissão, devido a tanto problemas e desafios existentes nesta área, pontuados neste trabalho, acredito ser necessário o docente jamais desanimar de sua profissão e que este esteja disposto de forma contínua e bem preparado para enfrentar as mazelas presentes na educação, contribuindo para uma educação com qualidade, a qual todos nós precisamos. Ao socializar o conteúdo em sala de aula, não basta o professor ter o domínio e conhecimento do mesmo, pois é necessário que esteja, primeiramente, seguro ao transmitir este conteúdo, ao disseminar com seus alunos, produzindo conhecimentos e saberes, além de saber conduzir discussões e orientá-las para melhor qualidade e andamento da aula. Agindo assim, se acredito que já é um bom começo para que a aula tenha produtividade no ensino e na aprendizagem. Por meio dessas reflexões, defendo a idéia de um professor que pensa, age, que seja um agente transformador do ambiente escolar e, que por meio da reflexão, possa estabelecer relações entre os conteúdos a serem ministrados com as necessidades de aprendizagem de seus alunos. Desta forma, fica entendido que o professor é o responsável por mediar à produção de conhecimento no aluno, assim como a troca de experiências e saberes no processo de ensino e aprendizagem no âmbito escolar. 13 Assim, além de compreender o trabalho docente como processos e práticas de produção, organização, socialização e apropriação de conhecimentos e saberes que se desenvolvem em espaços escolares e acadêmicos, relacionados ainda ao contexto social e histórico, é relevante pontuar também que é preciso compreender o professor como um sujeito histórico-social, que media seus conhecimentos e saberes aos seus alunos, constituindo como o principal responsável para o desenvolvimento pleno do processo de ensino e aprendizagem do aluno, no contexto escolar e acadêmico, e durante todo o seu desenvolvimento social e educativo. Neste sentido, fica entendido neste estudo que a docência, enquanto prática educativa, em seus campos de ensino e pesquisa, vai se referir as atividades pedagógicas relacionadas à aprendizagem educativa, e também na produção e disseminação de conhecimentos para a educação em geral. Seguindo este pressuposto, defendo também a idéia da valorização da profissão docente frente às demais áreas do conhecimento, pois acredita-se na relevância e fundamental contribuição deste na mediação de conhecimentos e saberes importantes para o processo de ensino e aprendizagem do aluno e para uma educação plena e progressiva na sociedade. Observo também, por meio da experiência docente e de estudos sobre este tema, que um dos grandes desafios que a profissionalização docente vem passando nos últimos anos se refere à discrepância da formação inicial do professor com a prática no contexto escolar, isto é, um currículo desenvolvido para a formação e preparação docente distante da realidade das escolas brasileiras. Ao discutir essa problemática na esfera educacional, é importante enfatizar que as experiências e conhecimentos adquiridos pelos docentes durante toda a sua prática educativa e social, principalmente ao participarem de grupos de estudos e de pesquisas coletivos, socializando e compartilhando saberes voltados para a sua área da formação ou estudo são de suma importância para que possam compreender as mazelas existentes na profissão-docente e, conseqüentemente, na educação. De fato, é relevante destacar que a importância das fontes na constituição desses saberes também merece ser considerado na prática educativa, pois faz com que estes profissionais da educação socializam conhecimento e saberes com outras áreas e profissionais, disseminando e socializando conhecimentos e experiências docentes para a educação. A prática pedagógica também tem seu papel importante na constituição desses saberes, pois os professores sentem a necessidade de contribuírem efetivamente na aprendizagem e na motivação dos alunos, além de poderem superar os problemas 14 diários que eles mesmos enfrentam durante sua profissão. Diante disso, ressalto a importância a programas de formação continuada e cursos de pós-graduação que focam a prática e a formação docente, ao procurar tornar este profissional melhor preparado para enfrentar os desafios diários de sua profissão, e fazê-lo repensar, reavaliar e refletir suas práticas educativas, mesmo sabendo que a realidade de seu trabalho enquanto educador é bem discrepante da sua formação inicial. Um ponto colocado neste estudo, e que seria fundamental destacar, é a constituição da identidade do professor, enquanto profissional da educação, e a autonomia que este tem nos dias de hoje. Verifica-se que a “imagem” que se tem do professor hoje, por parte da sociedade, está bastante fragilizada e desgastada, devido muitas vezes da situação calamitosa em que se encontra a educação hoje no Brasil. Porém, esta “imagem” é constituída dia a dia, e não é apenas individual, mas coletiva também, pois o professor compartilha suas experiências e se inter-relaciona com outros docentes também durante todo o exercício de sua profissão. Esta linha de raciocínio me faz entender que a autonomia do professor se esbarra num currículo “pronto”, o qual este deverá se adaptar ou procurar formas e meios para melhor solucionar os problemas existentes em seu trabalho e desenvolver melhor este. Acontece que o currículo acaba por direcionar o trabalho do professor, deixando às vezes este sem muito o que fazer sem ala de aula, em se tratando de criatividade e inovação pedagógica. É necessário, que se tenha em mente que os alunos precisem ser motivados e instigados a quererem aprender. Da mesma forma que é fundamental haver professores dinâmicos, inovadores, curiosos pelo seu trabalho e dispostos para encarar desafios para a melhoria da educação, que buscam propostas de ensino viáveis e que atinjam os resultados esperados. Acredito que esta investigação pode conduzir a novas interpretações e reflexões a respeito do propósito explicitado neste estudo. Na área da educação, mesmo ao encontrarmos pesquisas que tratam de temas relacionados à formação de professores e profissionalização docente na educação, ainda se percebe algumas lacunas importantes a serem preenchidas, o qual este estudo, procurou contribuir para pesquisas sobre docência, qualidade de ensino e profissionalização docente. Enfim, é necessário que o docente saiba lidar com as diversidades de aprendizagem e características dos alunos e os diversos desafios que permeiam a sua prática educativa e profissional. Ser flexível frente as necessidade que surgirem, criativo e dinâmico com seus discentes, conhecer o aluno, propor inovações didático- 15 pedagógicas, também são fatores que o professor precisa levar em conta durante o exercício de suas práticas educativas, durante toda a sua trajetória profissional e os empecilhos educacionais que estiverem em seu caminho. Pois, uma coisa é mais que certa para os docentes que exercem sua profissão e a qual se acredita efetivamente: é na sala de aula que se aprende a ensinar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, C. M. F. e TARDIF. M. Apresentação. Educação & Sociedade. Campinas: v. 22, nº. 74, 2001, p. 01-14. [Scielo]. CATANI, Denice Barbara e SILVA, Vivian Batista. Memória e história da profissão dos professores: as representações sobre o trabalho docente nos manuais pedagógicos. In: Educação em Foco: Profissão Docente, Memórias e Trajetórias. n.º 01. Vol. 12, mar/ago. 2007, pp. 159-184. CHIOVATTO, Milene. O professor-mediador. In: Boletim Arte na Escola. n.º 24, out./nov. de 2001. DINIZ-PEREIRA, Júlio Emilio. O ovo ou a galinha: a crise da profissão docente e a aparente falta de perspectiva para a educação brasileira. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. v. 92, n.º 230, jan/abril, 2001, p. 34-51. GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil. São Paulo: Cortez, 1994. GOMES, Táuria Oliveira. Teria sentido pensar no desenvolvimento de uma aula de qualidade no ensino superior? In: Revista Eletrônica Print. Disponível em: UFSJ <http://www.funrei.br/publicacoes/ Metavoia >. São João Del-Rei: Metavóia, nº 4, p. 47-51, julho de 2002. BRASIL: LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. – 5. Ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação Edições Câmara, 2010. LELIS, Isabel. Profissão Docente: uma rede de histórias. In: Revista Brasileira de Educação. N.º 17, maio/jun/jul/ago. 2001. LINDINO, Terezinha Corrêa e DOURADO, Rosana Maria C. Didática no ensino superior: profissionalismo no ensinar e aprender. In: , 2008. NAGEL, Lizia Helena. O Estado brasileiro e as políticas educacionais a partir dos anos 90. In: GUIMARÃES, Francis Mary Nogueira. Estado e Políticas Sociais no Brasil. Cascavel: UNIOESTE, 2001, p. 99-122. NÓVOA, Antonio (Org.). Os Professores e sua Formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. NÓVOA, Antonio. Histoire e Comparaison (Essais Sur I’ Éducation). Lisbonne: Educa, 1998. NÓVOA, Antonio. Os professores e o novo espaço público da educação. In: TARDIF, M. e LESSARD, C. (Orgs.). O oficio do professor: história, perspectivas e desafios internacionais. Petrópolis/RJ: Vozes, 2008, p. 217-233. PENIN, Sônia Terezinha de Sousa. Salto para o futuro. Edição Especial: Profissão Docente. Ministério da Educação: Secretaria de Educação a Distância. Ano XIX. N.º 14, outubro de 2009. PIMENTA, S. G. Formação de professores: saberes da docência e identidade do professor. In: FAZENDA, I. (org.) Didática e Interdisciplinaridade. 4. ed. Campinas: Papirus, 2000. 16 RICCI, Rudá. Breve balanço das reformas educacionais. Revista Espaço Acadêmico. Ano 2, n.º 21, fevereiro de 2003. SAVIANI, Dermeval. História das idéias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007. SARDELICH, Maria Emilia. Formação Inicial e Permanente do Professor de Arte na Educação Básica. In: Cadernos de Pesquisa. n.º 114, nov/dez. 2001, p. 137-152. SHIROMA, Eneida Oto. (Org.). Política educacional. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2004. THERRIEN, Jacques. Os Saberes da Racionalidade Pedagógica na Sociedade Contemporânea. In: V Colóquio Internacional Paulo Freire. Recife, setembro de 2005. VASCONCELOS, M. L. A formação do professor do ensino superior. 2. Ed. São Paulo: Pioneira, 2000.