ÓXIDO NÍTRICO: MECANISMO DE AÇÃO John Kinsella (EUA) XVI Congresso Brasileiro de Perinatologia-Salvador: 21-26 de novembro de 1998 Reproduzido pelo Dr. Paulo R. Margotto, Chefe da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF Quando falamos em circulação pulmonar e transição ao parto, existem mudanças fantásticas que ocorrem com a primeira respiração, de tal forma que a pressão pulmonar cai de um nível elevado fetal, o fluxo sanguíneo na artéria pulmonar aumenta e há queda dramática da resistência pulmonar. Entretanto em alguns RN, estas alterações não acontecem tão rapidamente, persistindo uma elevada razão pressão da artéria pulmonar / pressão aórtica, propiciando shunt D-E (via ductus arteriosus ou canal arterial), condição que se conhece como hipertensão pulmonar persistente do RN (HPP). Existem várias limitações a respeito da abordagem terapêutica atual da HPP do RN. Existe problema com a hiperventilação e hiperóxia, causando barotrauma, a toxicidade do O2. Todos os vasodilatadores usados no passado tiveram efeitos não seletivos, como por exemplo: hipotensão sistêmica, aumento do shunt D-E através dos canais fetais (arterial / foramen ovale) e shunt intra-pulmonar. Muitos destes agentes causavam taquifilaxia: os efeitos não eram muito duradouros. Nós agora sabemos que existem vários estímulos relacionados ao parto que causa esta transição da circulação pulmonar na hora do parto, incluindo a ventilação pulmonar que aumenta o fluxo sanguíneo pulmonar e aumento do teor de O2. Existem várias substância vasoativas que são produzidas pelo endotélio vascular,entre as quais: prostaciclina e o NO (Óxido Nítrico). O NO é produzido pela célula endotelial como resultado de vários estímulos fisiológicos e químicos, sendo difundido à musculatura lisa e causando a vasodilatação. Existem outros efeitos, como redução da aderência de neutrófilos. A vasodilatação ocasionada pelo óxido nítrico é motivo de grandes estudos. O NO ao ser produzido pelo endotélio vascular, ele pode se difundir para os alvéolos adjacentes, produzindo GMP cíclico causando relaxamento ou vasodilatação. Ao se difundir para outra direção (sangue) ele se conbina com a hemoglobina, gerando a metahemoglobina, sendo assim inativado. O Óxido Nítrico é um gás que ao ser inspirado será difundido para as células da musculatura lisa dos vasos, causando vasodilatação. Fazendo experiência com um carneiro a termo, em Denver (Colorado), fizemos a pergunta se ele iria responder a baixas doses de NO inalado. Observamos aumento do fluxo sanguíneo pulmonar e redução com a retirada no NO. Na época ficamos fascinados, embora hoje isto já seja noticia antiga. Observamos que doses baixas de NO causava melhora no fluxo sanguíneo pulmonar mas existem outras informações críticas. Se a resposta é mantida ou sustentada, se a resposta fica limitada à circulação pulmonar (seletiva ou não). Em outros estudos, observamos que o fluxo sanguíneo pulmonar aumentava e este aumento era sustentado desde que continuássemos administrando o NO. A pressão sistêmica se mantinha, sendo o efeito então seletivo à circulação pulmonar. Dois estudos clínicos iniciais (Roberts e cl, 1992) observaram que o NO aumentava a saturação pré e pós ductal. Muita ênfase tem sido dado à otimização da insuflação pulmonar antes de administrar o NO como vasodilatador. Eu acho que este é um dado crítico. Por quê?: A maioria dos nossos pacientes não tem apenas HPP, mas também shunt intra-pulmonar, de tal forma que o sangue arterial chega aos alvéolos não insuflados e o retorno venoso não ficava bem oxigenado. Assim, este shunt intra-pulmonar é tão importante quanto a hipertensão pulmonar. Adequada insuflação pulmonar é essencial na severa PHP. Ao pensar sobre o shunt intra-pulmonar nos pacientes com pneumonia, aspiração de mecônio, etc, doença da membrana hialina, se torna uma parte importante da sua doença: usando o NO onde o pulmão não está bem insuflado não terá resultados muito eficazes, pois o NO precisa chegar à periferia do pulmão para fazer seu efeito. Isto ficou óbvio nos casos em que conhecemos que a doença subjacente é criticamento importante no auxílio da determinação da eficácia no NO. Então combinamos o NO com outros tratamentos, como oscilação de alta frequência na busca de melhora da insuflação pulmonar. Este bebê tem uma hérnia diafragmática com doença parenquimatosa significativa no pulmão saudável; ao tratá-lo com alta frequência, houve uma melhora na insuflação pulmonar, com uma melhor resposta ao NO. No passado, não entendíamos porque alguns RN não respondiam bem ao NO e outros apresentavam boa resposta. Hoje sabemos que um dos motivos seja este: a presença da doença parenquimatosa dificulta a distribuição do NO na periferia do pulmão. Assim é importante o conhecimento da fisiopatologia de cada um dos casos de falência respiratória (é importante determinar a causa predominante da hipoxemia). Com um grande shunt intrapulmonar, há uma boa resposta ao NO com o recrutamento pulmonar. Ao pensarmos em mecanismos de resposta, eu penso que esta observação é de grande importância em termos da resposta ao NO: aqui tenho uma série de ecocardiogramas, todos mostrando uma regurgitação tricúspide, em uma imagem M com baixa contratilidade do VE, insuficiência mitral. Estes achados são vistos em pacientes com hérnia diafragmática, sepse bacteriana e podem, estes achados, prevêem uma resposta precária ao NO. Em outras palavras: na disfunção do VE, insuficiência mitral levando à hipertensão venosa pulmonar, o NO não vai ser muito eficaz, pois seria como se fosse administrar um push de volume para um paciente com insuficiência cardíaca congestiva. Estes achados sutis da ecografia são importantes quando usamos terapias tais como o NO; devemos estar associados ao cardiologista para podermos obter melhor compreensão de um problema subjacente que pode então a nos ajudar a prever as respostas ao NO no RN com hipertensão pulmonar persistente. Concluo que os processos fisiopatológicos múltiplos contribuem para a hipoxemia no RN. Nada é mágico. Nenhuma terapia individual vai melhorar todos os pacientes. As terapias devem endereçar o processo subjacente. Reconhecemos que a HPP do RN pode complicar todas as doenças respiratórias que causam falência respiratória hipoxêmica e o NO é uma ferramenta útil principalmente para aqueles pacientes que têm shunt D-E extra-pulmonar.