Microeconomia - Parte I Proposta de conteúdo 2008-09 Quarta versão - Setembro 2008 Preâmbulo Como, felizmente, vivemos numa sociedade que permite ao indivíduo liberdade de acção (sob restrições), os modelos económicos construídos apenas com informação passada, i.e. os modelos empíricos, não são suficientes para prever o sentido de evolução das variáveis económicas em resposta a choques exógenos diferentes dos que aconteceram no passado. Para ser possível desenvolver essa capacidade de previsão, é necessário fundamentar o conhecimento económico em modelos teóricos que sejam suficientemente genéricos e distantes da realidade empírica a ponto de abarcarem situações novas, i.e., teremos que construir modelos profundos. Como a realidade económica resulta da agregação das decisões individuais, então os modelos profundos terão que ter por base teorias quanto à tomada de decisão individual (Robert E. Lucas Júnior). Infelizmente, por serem construções do intelecto que não resultam directamente por indução da realidade observada, os modelos profundos terão como limitação serem apenas hipóteses de explicação, mais ou menos fundamentadas, e não verdades incontestáveis. Neste texto, será apresentada uma teoria do comportamento individual no qual o sistema de preços é o guia supremo das decisões dos agentes económicos. Tentaremos também explicar como essas decisões individuais não concertadas se conjugam na explicação do que se observa no mercado e de como levam ao bem comum. No capítulo 1 deste texto, tendo por fim convencer o leitor da pertinência da teoria proposta nos capítulos seguintes, apresentamos um modelo do mercado que explica superficialmente a evidência empírica quanto à evolução dos preços e das quantidades transaccionadas. Assim, desagregamos o mercado em três Leis da Natureza: i) que a decisão dos vendedores quanto à quantidade que pretendem alienar se agrega na função de oferta; ii) que a decisão dos compradores quanto à quantidade que pretendem adquirir se agrega na função de procura; iii) que o preço de mercado equilibra as pretensões dos compradores com as dos vendedores. 2 Nos capítulos 2 e 3, apresentamos, no contexto do paradigma neoclássico, uma teoria profunda da tomada de decisão individual dos agentes económicos enquanto compradores. Assim, deduzimos a curva de procura de mercado assumindo o princípio não observável de que os agentes económicos são optimizadores (i.e., o Homo Economicus). No capítulo 2 consideramos consumidores que maximizam o seu bem-estar individual (i.e., uma função de utilidade) sob restrição do rendimento disponível e dos preços de mercado dos bens ou serviços enquanto que no capítulo 3 consideramos produtores que minimizam o custo de produzir uma determinada quantidade de bens ou serviços sob a restrição da tecnologia e dos preços de mercado dos factores de produção. Este texto, sendo de apoio à primeira parte do curso de Microeconomia, não aborda a questão da curva da oferta nem do equilíbrio (a desenvolver numa segunda parte da disciplina). No sentido de simplificar a apreensão dos conceitos económicos, tentei que o texto fosse o mais simples possível de ler, apoiando a exposição em gráficos e num formalismo matemático rudimentar (apenas se utilizando funções isoelásticas). 3 Índice I – Funcionamento do Mercado 6 1.1. Conceitos introdutórios Limitações da teoria Economia positiva ou Economia normativa (do bem-estar) Factos estilizados 1.2. Quantidade transaccionada e preço de mercado Variáveis endógenas e exógenas ao modelo 1.3. Curvas de oferta, de procura e equilíbrio de mercado 1.4. Alterações nas curvas de oferta e de procura Deslocamento da curva de oferta Deslocamento da curva de procura Curvas agregadas e curvas individuais Variações relativas, Elasticidade arco e ponto Procura elástica 1.5. Aplicações Preço máximo / mínimo Imposto /subsídio Repartição do imposto/subsídio entre vendedores e compradores O preço do dinheiro e sua evolução. 4 II – Teoria do Consumidor 37 2.0. Introdução 2.1. Preferências e gostos dos consumidores 2.1.1 Curva de indiferença Comparabilidade entre os cabazes de bens e serviços: Transitividade da Comparação; Insaciabilidade Taxa marginal de substituição Evolução da taxa marginal de substituição com a quantidade 2.1.2. Função de utilidade Função ordinal / cardinal 2.2. Restrição orçamental Recta orçamental Bens privados e públicos. Efeito na RO da alteração do rendimento. Efeito na RO da alteração dos preços. 2.3. Decisão do consumidor – Escolha do melhor cabaz possível. Generalização a cabazes em IRn. Formalização matemática do problema de optimização. Efeito de uma alteração do preço. Bens substitutos, complementares e independentes. Efeito de uma alteração do rendimento. Bens inferiores e bens normais (de primeira necessidade e de luxo). Efeito substituição e efeito rendimento. Determinação da curva de procura individual. Função de utilidade indirecta. Excedente do consumidor. 2.4. Aplicações Combate à exclusão: Subsídio em dinheiro ou em espécie. Desconto no preço. Função de oferta de trabalho. Taxa de juro, consumo e poupança. Risco. Lotaria. Aversão / neutralidade / atracção pelo risco. Capital humano e crescimento endógeno. Contabilidade do bem-estar 5 III – Teoria do Produtor 78 3.1 – O produtor 3.2 – Tecnologia de produção - Função de produção (de longo prazo). Mapa de isoquantas Propriedades das isoquantas Taxa Marginal de Substituição Técnica Função implícita e a TMST Produtividade marginal Rendimentos à escala Progresso tecnológico 3.3 – Minimização do custo de produção Linha de Isocusto 1ª condição da minimização do custo Efeito de uma alteração dos preços dos inputs. Progresso tecnológico poupador de capital ou de trabalho Função procura de factores de produção Função custo total (de longo prazo) 3.4 – Alteração do nível de produção - curto prazo Curto prazo – Longo prazo Função de produção de curto prazo Produtividade total, média e marginal Comportamento da produtividade com a quantidade de factor Lei dos rendimentos decrescente Relação entre produtividade marginal e produtividade média Custo total de curto prazo Custo médio e custo marginal Custo afundado Parcela fixa do custo variável e custo afundado 3.5 – Aplicações A taxa de juro e o investimento Comportamento sob risco – Método de Monte Carlo Estimação da função de produção de um processo produtivo concreto 6 I – Funcionamento do Mercado Duração lectiva: 9 aulas. Sumário: Compreender como do observado empiricamente se pode justificar o mercado (quanto à evolução dos preços e das quantidades transaccionadas em resultado de alterações exógenas) como a interacção de três Leis da Natureza: A curva de oferta; a curva de procura e o equilíbrio de mercado. Estudar a evolução do mercado em resultado da ocorrência de choques exógenos (que induzem reforço ou enfraquecimento do padrão da procura e da oferta) e de intervenções do governo (imposição de preço mínimo e preço máximo; impostos e subsídios). Objectivos: Apresentação de um modelo empírico do mercado obtido a partir da observação de factos estilizados quanto à evolução do preço e das quantidades transaccionadas. O modelo contempla três Leis da Natureza: i) os compradores agregam-se na curva de procura, ii) os vendedores agregam-se na curva de oferta, e iii) a transacção de mercado acontece no ponto de intersecção destas duas curvas (ponto de equilíbrio). Considerando o preço e a quantidade como as variáveis endógenas do modelo empírico de mercado, compreender o efeito das alterações na procura e na oferta (i.e., deslocamentos das curvas) e nas políticas do governo (controlo de preços e impostos/subsídios). Neste capítulo não se pretende racionalizar as Leis da Natureza do modelo apresentado (i.e., qual a justificação profunda para a existência das curvas de oferta, de procura e do equilíbrio de mercado). 7 1.1. Conceitos introdutórios Objecto. A Microeconomia trata das decisões dos agentes económicos de pequena dimensão (etimologicamente, micro que dizer pequeno). O estudo pode ser feito à escala do indivíduo ou a um nível mais agregado como, por exemplo, à escala da família, da empresa, da indústria ou do sindicato. A esta escala micro, sendo fixa a quantidade de recursos (bens e serviços), a decisão dos indivíduos quanto à sua afectação tem como principal variável o preço relativo dos diversos bens ou serviços. Os bens ou serviços poderão ser perfeitamente homogéneos (e.g., Maça Golden calibre 40/45) ou ter um certo grau de agregação (e heterogeneidade), por exemplo, ao nível de Maçãs, Fruta ou Produtos Vegetais Frescos. Sendo o preço a variável fundamental da Microeconomia, então também a podemos entender como a “teoria dos preços”. Por oposição, a Macroeconomia trata das grandezas agregadas ao nível do país (por exemplo, o Produto que traduz o total de bens e serviços produzido no país) não havendo a possibilidade de estudar o efeito da alteração dos preços relativos dos diversos bens ou serviços. Limitações da micro-teoria. É sabido que dois indivíduos aparentemente iguais não tomam necessariamente a mesma decisão. Em termos epistemológicos não podemos distinguir se é o modelo que erra (por falta de informação) ou se é o comportamento individual que tem uma parcela de “erro” (por exemplo, 30% do comportamento é racionalizado e os restantes 70% é aleatório). Em termos de falhas de informação, podemos pensar que, apesar de parecerem idênticos, cada indivíduo tem uma história diferente (modelizável por uma multiplicidade de parâmetros) que é desconhecida. Apenas se a história fosse perfeitamente conhecida é que seria possível a previsão sem erro. Em termos de racionalidade humana limitada, a capacidade de cálculo do cérebro humano não permite resolver problemas com muito elevada complexidade pelo que o comportamento é aproximado ao que deveria ser. Pode também acontecer que o pensamento humano tenha uma componente aleatória: como o cérebro é formado por células, os problemas serão divididos em pequenas partes, processados parcelarmente e, depois, as soluções parcelares reunidas. Pode acontecer que, como a velocidade das partes é diferente, aconteçam faltas ou repetições de parcelas, ocorrendo um erro de cálculo (ver no final o Método de Monte Carlo). 8 Motivado pelo erro de previsão dos modelos, os resultados microeconomicos devem ser interpretado como uma fundamentação para as tendências (e.g., de aumento, diminuição ou manutenção) e não devem ser olhados no pormenor da magnitude estimada pelo modelo. Apesar da Microeconomia ser uma simplificação grosseira da realidade, o seu estudo é fundamental porque permite compreender a economia em novas situações, por exemplo, quando forem aplicadas políticas nunca antes experimentadas. Além disso, por estar a um nível próximo da empresa (o nível dos preços e das quantidades) permite que os gestores compreendam a evolução dos mercados em resposta à alteração das suas acções e racionalizem como os outros agentes económicos vão responder. Se ponderarmos, os preços relativos estão ligados até à escolha do curso universitário (de gestão) que actualmente frequentam pois esta escolha está predominantemente ligada ao salário que podem vir a receber (que será o preço do vosso trabalho). Economia positiva ou Economia normativa (do bem-estar) Positivismo: Para que haja progresso terá que ser continuamente gerado conhecimento novo. Se nos contentarmos por saber bem o que a geração anterior sabia, a nossa geração não pode aspirar a ter um nível de vida superior. Resulta desta certeza a reflexão de Albert Einstein (1879-1955) de que “a imaginação é mais importante que o conhecimento porque o conhecimento está limitado ao que sabemos e compreendemos enquanto que a imaginação abarca todo o mundo e tudo o que vier a ser conhecido e compreendido.” Para que possa haver conhecimento novo, o conhecimento antigo tem que poder ser retomado por qualquer outro homem sem necessidade de o refazer. Para que isso seja possível, terá que ser utilizado um método objectivo de criação de conhecimento: o método científico. Por objectivo quer-se dizer que é universal e, tanto quanto possível, não pessoal. Considera-se que o método científico é positivo no sentido de que i) o investigador não emite opinião moral sobre o fenómeno (i.e., se a Natureza está bem ou mal); ii) o conhecimento é um modelo (matemático) da realidade (e não a realidade); iii) resultam dos modelos predições que podem ser testadas empiricamente e; iv) apenas as hipóteses explicativas que estão positivamente em acordo com a realidade é que podem ser aceites como válidas (não basta não poder provar que são falsas). Por exemplo, eu não saber o que são os OVNIs (exactamente Objectos Voadores não Identificados) e não poder afiançar que não são construídos por extraterrestre, não me permite afirmar que existem extraterrestres. O conhecimento científico serão hipóteses sobre a realidade que vão sendo progressivamente reforçadas e aceites por uma percentagem cada vez maior de pessoas, ou enfraquecidas e 9 aceites por uma percentagem cada vez menor de pessoas. Por exemplo, a teoria de evolução das espécies é uma hipótese para explicar a existência, extinção e aparecimento das espécies vivas. Actualmente é uma hipótese muito forte e aceite pela maior parte das pessoas. No entanto, há muitas pessoas que não a aceitam. Conhecimento normativo: Além de haver muito conhecimento que não pode ser objectivo (e.g., o conhecimento estético, religioso ou filosófico), o fim último do conhecimento é a tomada de decisão (i.e., a acção). Mas a tomada de decisão obriga a classificar as situações como boas ou más e o sentido da alteração que melhora as situações. Por exemplo, eu dizer que a pobreza tem que ser combatida pressupõe que é uma coisa má. Então, estou a adoptar uma perspectiva normativa: o que fazer para transformar a realidade no sentido que eu penso ser bom. Ex1.1: Que analises têm subjacente uma perspectiva positiva ou normativa? A) Se a EU liberalizar a politica de vistos para os indivíduos de elevada escolaridade, os países africanos ficam sem médicos; B) Quando a temperatura desce, o preço das verduras aumenta; C) Os subsídios agrícolas da EU são prejudiciais às economias dos países africanos; D) O investimento das autarquias deve ser canalizado para os espaços públicos (e.g., jardins e vias de comunicação) em desfavor dos espaços privados (e.g., habitação e estacionamento). R: A) e B) Perspectiva positiva; C) e D) Perspectiva normativa. Factos estilizados. A Natureza é demasiado complexa para as nossas capacidades de observação e raciocínio pelo que se torna necessário que decomponhamos (i.e., analisemos) a realidade em algumas variáveis assumidas como independentes e que nos concentremos apenas nas tendências gerais dessas variáveis de estudo. Por exemplo, o salário de uma pessoa depende de muitos factores e condicionantes: se é homem ou mulher, a sua experiência, o jeito natural, a idade, a altura e peso, se se relaciona bem com o chefe, etc. No entanto, se nos concentrarmos nas “mais importantes”, comparando milhares de indivíduos, podemos ver que, em média, existe uma tendência positiva entre o nível de escolaridade e o salário. Denominam-se factos estilizados exactamente às “grandes tendência” das variáveis e dos seus relacionamentos. 10 1.2. Quantidade transaccionada e preço de mercado. Por haver diversidade de clima, de recursos naturais ou resultante da especialização na produção, os indivíduos têm uns bens e serviços em grande quantidade e outros em pequena quantidade. Os indivíduos, por apreciarem o consumo diversificado de bens e serviços, podem melhorar globalmente o seu bem-estar se trocarem os bens que têm em grande quantidade pelos que têm em pequena quantidade. Por exemplo, as pessoas que vivem à beira-mar têm muitas sardinhas e pouco milho enquanto que as que vivem mais no interior têm muito milho e poucas sardinhas. Então, todas as pessoas melhoram se houver a possibilidade de trocar sardinhas por milho. Sendo que a troca implica a mudança de mãos de determinadas quantidades de bens ou serviços, vamos procurar construir um modelo que explique a decisão de troca que se traduz pela quantidade transaccionada a um determinado preço. Parece evidente que o preço da transacção é o factor mais importante na determinação da quantidade trocada. O preço traduz a razão de troca entre cada par de bens, e.g., eu poder trocar três quilogramas de milho por cada quilograma de sardinhas. Como vivemos numa sociedade com moeda (que funciona como unidade de valor), cada bem terá o seu preço monetário. Então, posso imaginar, em vez da troca directa entre bens ou serviços, a transacção de cada bem ou serviço contra uma quantidade de moeda (i.e., o seu preço). Vamos considerar um modelo do mercado de um bem ou serviço em que existe, por um lado, o preço nominal e a quantidade transaccionada (que serão variáveis endógenas do modelo) e, por outro lado, múltiplos parâmetros (que serão variáveis exógenas ao modelo). A quantidade transaccionada num mercado é, geralmente, um fluxo, e.g., 100kg de maçãs por hora (mercado contínuo). Existem também mercados que funcionam apenas pontualmente no tempo (mercado por chamada). Assim sendo, tanto podemos representar a quantidade transaccionada como “kg/hora” como apenas por “kg”. No caso do preço unitário, mesmo que as quantidades sejam em “kg/hora”, será sempre em unidades monetárias por unidade de bem ou serviço, “€/kg”. Se não houvesse alteração das variáveis exógenas, o mercado ficaria sempre no mesmo ponto, i.e., o preço de mercado e a quantidade transaccionada seriam invariantes no tempo. Por exemplo, o preço das maçãs seria de 1.00€/kg e vender-se-iam 10000kg de maçãs por hora. No entanto, as múltiplas variáveis exógenas estão continuamente a alterar de valor pelo que o mercado (i.e., o preço e a quantidade transaccionada) evolui ao longo do tempo. Em termos empíricos, apresento na Fig. 1 a evolução diária de um mercado de maçãs onde várias vendedoras competem pelos compradores que aparecem (dados simulados com cada ponto a 11 representar um quarto de hora). Desta figura não é possível conjectura qualquer regularidade que possa ser aproveitada na explicação da evolução das variáveis endógenas (da quantidade transaccionada em função do preço) quando ocorrem alterações exógenas. No sentido de descobrir as Leis da Natureza que caracterizam o mercado, teremos que analisar acontecimentos isolados (i.e., fazer uma análise parcial, Walras, 1834-1910; Cournot, 180177; Marshall, 1842-1924). preço 2,00 € 1,50 € 1,00 € 0,50 € 0,00 € 0 5 10 Quantidade15 (t) Fig.1.1 – Quantidade transaccionada e preço de mercado (de maçãs). Variação no padrão da procura. Já referi que se “tudo se mantivesse constante” os preços e as quantidades transaccionadas ficavam fixos. No entanto, nos últimos anos, o milho, além do habitual consumo na alimentação animal e humana (que cresceu a uma taxa anual de 2%) começou a ser usado na produção de bio combustíveis (que cresceu a uma taxa anual de 10%/ano). Pensemos que as condicionantes da oferta (tecnologia e área disponível) têm-se mantido constantes. Apresento na Fig.2 a evolução do preço médio e das quantidades transaccionadas a cada ano (dados simulados). Neste exemplo, contrariamente à Fig.1.1, transparece uma regularidade na evolução (as variáveis preço e quantidade estão positivamente correlacionadas) que se acentua se representarmos num gráfico os preços de transacção com as quantidades transaccionadas (ver, Fig.1.3): nas horas em que aumenta o preço de mercado (em €/tonelada), também aumenta a quantidade transaccionada (em toneladas). 12 400 € 130 Mt Preço 350 € 125 300 € 120 250 € 115 Quantidade 200 € 110 150 € 105 100 € 1990 1995 2000 2005 100 Ano Fig.1.2 – Quantidade transaccionada e preço de mercado. preço 400 € 350 € 300 € 250 € 200 € 150 € 100 € 100 105 110 115 Quantidade 120 (Mt) Fig.1.3 – Quantidade transaccionada e preço de mercado (milho). Vejamos outro exemplo que permite visualizar o mesmo tipo de relação entre preço e quantidade transaccionada. Relativamente às verduras cruas, os consumidores apreciam-nas mais no Verão que no Inverno não havendo diferenças na produção. Desta forma, o mercado tem dois períodos distintos: o Verão e o Inverno. Na fig.1.4 apresento a evolução do mercado (quantidades e preços) dos últimos 15 anos (dados simulados com cada ponto a representa um semestre). 13 Preço 1,7 1,6 Verão 1,5 1,4 1,3 Inverno 1,2 1,1 100 110 120 130 140 150 Quantidade 160 170 Fig.1.4 – Quantidade transaccionada e preço de mercado (verdura). Nas Fig.1.3 e Fig.1.4 observa-se que, em termos estilizados, existe uma associação entre a quantidade transaccionada e o preço: a um preço mais elevado está associada uma quantidade transaccionada maior. Vamos denominar esta correlação positiva por Curva A. Variação no padrão da oferta. Vejamos agora exemplos que parecem contrariar a Lei da Natureza que estávamos a induzir. A produção de leite está muito condicionada pelas condições meteorológicas: Quando o Inverno é seco, a produção enfraquece e vice-versa. No entanto, o consumo não se altera significativamente (com a pluviosidade durante o Inverno). Apresento na Fig.1.5 a evolução do mercado quanto as quantidades transaccionadas e preços do leite ao longo dos últimos 16 anos (dados simulados). Preço 400 (€/t) 390 Seco 380 370 Húmido 360 350 100 105 110 115 Quantidade (Mt) 120 125 Fig.1.5 – Quantidade transaccionada e preço de mercado (leite). 14 Tal como nas Fig.1.3 e Fig.1.4, na Fig.1.5 também se observa, em termos estilizados, uma associação entre a quantidade transaccionada e o preço mas de sentido contrário: um preço mais elevado está associado a uma quantidade transaccionada menor. Vamos denominar esta correlação negativa por Curva B. O que podemos observar nas fig.1.3, fig.1.4 e fig.1.5? Aparentemente, não conseguimos relacionar as quantidades transaccionadas com os preços, havendo duas possibilidades, a relação ser positiva (a curva A) ou negativa (a curva B). (Há ainda a possibilidade de a relação ser nula, Fig.1.1) 1.3. Curvas de oferta, de procura e equilíbrio de mercado A divisão do mercado nestas três Leis da Natureza deve-se a Walras (1834-1910); Cournot (1801-77) e Marshall (1842-1924). Curva da Oferta: Na curva A, (fig.1.3 e fig.1.4), o que observamos no mercado é o efeito isolado de uma alteração no padrão da procura (mantivemos as condições de oferta). Assim, resulta do reforço da procura (por exemplo, pelo aumento do rendimento) um aumento da quantidade transaccionada e do preço de mercado (e vice-versa quando há um enfraquecimento da procura). Por estranho que pareça, quando há uma alteração no padrão da procura e mantendo o resto constante (ceteris paribus), o que é revelado pelo mercado é o comportamento dos vendedores: ficamos a saber que os vendedores estarão disponíveis para vender uma maior quantidade se o preço for maior (maior quantidade disponível implica maior preço). Curva da Procura: Na Curva B, (fig.1.5), o que observamos no mercado é o efeito isolado de uma alteração nas condições da oferta (mantivemos o padrão de procura). Resultou que um reforço da oferta (por exemplo, pela ocorrência de uma inovação tecnológica) induz um aumento da quantidade transaccionada e uma diminuição do preço de mercado (e vice-versa quando há um enfraquecimento da oferta). Também parece estranho que, quando há uma alteração no padrão da oferta e se mantém o resto constante (ceteris paribus), o que é revelado pelo mercado seja o comportamento dos compradores: ficamos a saber que os compradores estarão disponíveis para adquirir uma maior quantidade se o preço de mercado diminuir (maior quantidade implica menor preço). 15 Equilíbrio de Mercado: Sendo que no mercado se encontram as intenções dos compradores e dos vendedores, então, a quantidade transaccionada e o preço de mercado resultam do equilíbrio entre as vontades destes agentes económicos: o mercado vai transaccionar no ponto onde a vontade dos compradores (i.e., a curva de procura) iguala (i.e., está em equilíbrio) a vontade dos vendedores (i.e., a curva da oferta). Representamos na fig.1.6 as curvas da procura e da oferta e o equilíbrio de mercado. Preço 130 C. Procura 120 Equilíbrio C. Oferta 110 100 90 100 105 110 115 120 125 Quantidade 130 Fig.1.6 – Curvas da procura e da oferta e equilíbrio de mercado. Non-tâtonnement de Walras: No mercado apenas existem as transacções do ponto de equilíbrio (tâtonnement: tentativa e erro): Enquanto o mercado está fechado, os agentes calculam o ponto de equilíbrio e, quando o mercado abre, realizam-se as transacções. Não nos vamos preocupar agora sobre uma teoria profunda para o equilíbrio de mercado. Aqui é apenas uma Lei da Natureza a utilizar sem questionar. Nota: A quantidade transaccionada no mercado não é “a curva da procura” nem a “curva da oferta” mas apenas um ponto destas duas curvas que coincide nas duas. Assim, falamos de “quantidade procurada” e “quantidade oferecida” como as quantidades que de facto são concretizadas no mercado. Ex1.2: Supondo que a curva de oferta de mercado é dada por S(p) = 50 + 0.25p e a curva de procura de mercado é dada por D(p) = 100 – 0.75 p, qual será a quantidade transaccionada no mercado e a que preço? 16 R: O equilíbrio será S = D 50 + 0.25p = 100 – 0.75p p = 50 e Q = 62.5. 1.4. Alterações nas curvas de oferta e de procura. Quando falamos nas “alteração do padrão” da procura ou da oferta estávamos a referirmo-nos a deslocamentos das curvas (em linguagem mais actual, funções) no espaço preço/quantidade. Deslocamento da curva de oferta. Quando acontecem alterações nos valores das variáveis exógenas (qualquer variável menos o preço) que influenciam a quantidade que os vendedores oferecem para cada preço, dizemos que acontece um deslocamento da curva de oferta como um todo. Existe um enfraquecimento da oferta quando, para cada preço, diminui a quantidade que os vendedores disponibilizam para venda (para cada preço). Por exemplo, quando o vento forte destrói as estufas da nossa região, a curva de oferta de legumes deslocase no sentido do enfraquecimento. Em termos gráficos, traduz-se um enfraquecimento da oferta pelo deslocar para a esquerda e para cima da curva de oferta (ver fig. 1.7). Preço 130 C. Procura 120 o P. Equilíbrio muda 110 100 C. Oferta 90 100 105 110 115 120 125 Quantidade 130 Fig.1.7 – Efeito no ponto de equilíbrio de mercado de um enfraquecimento da oferta. Existe um fortalecimento da oferta quando, para cada preço, aumenta a quantidade que os vendedores estão disponíveis para vender. Por exemplo, o acordo que permitiu ao chineses vender camisas na EU fez com que a curva de oferta de camisas se deslocasse no sentido do fortalecimento. Em termos gráficos, um fortalecimento da oferta implica que a curva de oferta se desloca para a direita e para baixo (ver fig.1.8). 17 ceteris paribus é uma expressão latina que traduz a condição de que tudo o resto (neste caso, a curva da procura) se mantém inalterado. É a condição imposta para se poder levar a cabo a análise parcial (e o equilíbrio parcial) que estamos a apresentar. Na análise parcial apenas temos em atenção metade de um mercado enquanto que no equilíbrio parcial apenas temos em atenção o equilíbrio do mercado de um bem ou serviço (e assumimos tudo o resto exógeno e constante). Em termos matemáticos consiste na “análise de derivadas parciais”. Preço 130 C. Procura 120 110 o P. Equilíbrio muda 100 C. Oferta 90 100 105 110 115 120 125 Quantidade 130 Fig.1.8 – Efeito no ponto de equilíbrio de mercado de um reforço da procura. Podemos confirmar visualmente nas Fig.1.7 e Fig.1.8 que quando há alterações na curva de oferta, ceteris paribus, o equilíbrio de mercado torna visíveis pontos ao longo da curva de procura. Associado a deslocações da curva de oferta está o aumento das quantidades transaccionadas e a diminuição do preço de mercado (e vice-versa): do enfraquecimento resulta um aumento do preço e diminuição da quantidade transaccionada e no fortalecimento resulta uma diminuição do preço e um aumento da quantidade transaccionada. Ex1.3: Referente a cada ano, a curva de oferta de leite (Mt) é positivamente influenciada pela pluviosidade (mm), S(p) = 50 + 0.50p + 0.10h, enquanto que a curva de procura não, D(p) = 150 – 0.75 p. De que forma o preço (€/l) e a quantidade transaccionada no mercado se alteram se num ano a pluviosidade for maior em 1mm? R: O equilíbrio de mercado será onde S = D 50 + 0.50p + 0.01h = 150 – 0.75p 1.25p = 100 – 0.01h p = 80 – 0.008h e Q = 90 + 0.006h. Um aumento da pluviosidade de 1mm, ceteris paribus, induz um aumento da quantidade transaccionada de 0.006Mt = [90 + 18 0.006(h+1) – (90 + 0.006h)] e uma diminuição do preço de 0.008€/l = [80 – 0.008(h+1)–(80 – 0.008h)]. Deslocamento da curva de procura. Quando acontecem alterações nos valores das variáveis exógenas que influenciam a procura, dizemos que se observa um deslocamento na curva de procura como um todo. Existe um enfraquecimento da procura quando, para cada preço, diminui a quantidade que os compradores se disponibilizam a comprar. Por exemplo, no Inverso existe um enfraquecimento da procura de gelados. Em termos gráficos, o enfraquecimento faz com que a curva de procura se desloque para a esquerda e para baixo (ver fig.1.9). Preço 130 C. Procura 120 C. Oferta 110 o P. Equilíbrio muda 100 90 100 105 110 115 120 125 Quantidade 130 Fig.1.9 – Efeito no ponto de equilíbrio de mercado de um enfraquecimento da procura. Existe um fortalecimento da procura quando, para cada preço, aumenta a quantidade que os compradores se disponibilizam a adquirir. Por exemplo, quando chove, existe um fortalecimento da procura de guarda-chuvas. Em termos gráficos, a curva de procura deslocase para a direita e para cima (ver Fig.1.10). 19 Preço 130 C. Procura 120 o P. Equilíbrio muda 110 100 C. Oferta 90 100 105 110 115 120 125 Quantidade 130 Fig.1.10 – Efeito no ponto de equilíbrio de mercado de um fortalecimento da procura. Podemos visualizar nas Fig.1.9 e Fig.1.10 que quando há alterações na curva de procura, ceteris paribus, o equilíbrio de mercado torna visíveis pontos ao longo da curva de oferta. Associado a alterações na curva de procura está o aumento (ou diminuição) das quantidades transaccionadas e do preço de mercado: do enfraquecimento resulta uma diminuição do preço e da quantidade transaccionada e no fortalecimento resulta um aumento do preço e da quantidade transaccionada. Ex1.4: Numa região, onde normalmente se consumem 100t/dia de pão a um preço unitário de 0.15€, têm-se ultimamente consumido 150t/dia de pão a um preço unitário de 0.18€. Será que esta alteração é induzida por um padeiro estar doente? R: Não. Um padeiro doente induziria um enfraquecimento na oferta sendo de espera uma diminuição da quantidade transaccionada acompanhada por um aumento do preço. No entanto, observa-se um aumento do preço em simultâneo com o aumento da quantidade transaccionada o que indicia um reforço da procura. Curvas agregadas e curvas individuais. As curvas que se observam no mercado resultam da soma das curvas dos agentes económicos individuais que estão presentes no mercado. Se por exemplo, ao preço de 0.50€/kg o João quer adquirir 3kg de maçãs e a Maria 5kg de maçãs, então, no agregado, ao preço de 0.50€/kg, querem adquirir 8kg de maçãs. No caso de termos as curvas individuais como funções explicitadas em ordem àsquantidades, bastará somá-las. Se o Joaquim se caracteriza por sJ(p) = 5 – 0.1p e a Mariana por sM(p) = 10 – 0.2p, a curva de 20 mercado será S(p) = sJ(p) + sM(p) = 55 – 0.3p. Agregam-se de forma idêntica as curvas de oferta. Ex1.5: Numa mercado existem 1000 compradores idênticos cujas curvas de procura individual são d(p) = 1 – 0.01p e 50 vendedores idênticos cujas curvas de oferta são s(p) = –1 + 0.1p (preço em c/kg). Qual será a quantidade adquirida por cada comprador e a que preço? R: Primeiro, somamos para cada preço as quantidades. Com compradores idênticos, teremos D(p) = 1000d(p) = 1000.( 1 – 0.01p) = 1000 – 10p. Com vendedores idênticos, teremos S(p) =50s(p) = 50.(– 1 + 0.1p) = –50 + 5p. Segundo, o equilíbrio de mercado que será em D(p) = S(p) 1000 – 10p = –50 + 5p 15p = 1050 p = 70 c/kg e Q = 300 kg. Terceiro, o preço será o de mercado, p = 70 c/kg, enquanto que a quantidade individual se obtém dividindo o total transaccionado pelos 1000 compradores, q = 0.300 kg. Devemos notar que a soma das curvas individuais se faz sempre nas quantidades e nunca nos preços. Supondo que temos a representação gráfica de dois grupos de consumidores (grupo 1 e 2), em termos gráficos, como o preço está representado no eixo vertical, a soma será feita na horizontal (ver Fig. 1.11). 120 Preço 100 80 60 S = s1 + s2 40 s1 s2 20 0 0 10 20 30 40 Quantidade 50 60 Fig.1.11 – Curva de procura como soma horizontal de duas curvas de procura individuais. Ex1.6: Num mercado de produtos higiénicos, a curva de procura é linear e passa por dois pontos conhecidos, para mulheres e homens (ver tabela abaixo). Existem 1000 mulheres e 1500 homens e a curva de oferta é S(p) = –2500 + 2000p. Qual o género (homem ou mulher) que adquire mais deste produto? 21 Consumo 1 u./mês 2 u./mês Mulheres 1€ 0.5€ Homens 0.5€ 0.25€ R: 1) a curva de procura de cada mulher será dm(p) = a + b.p {1 = a + b 2 = a + 0.5b} {a = 3 b = –2} dm(p) = 3 – 2p, p <3/2 e de cada homem será dh(p) = c + d.p {1 = c + 0.5d 2 = c + 0.25d} {c = 5 d = –4} dh(p) = 5 – 4p, p <3/4; 2) a curva de procura de mercado vai ter uma quebra no preços 0,75€/u. porque os homens saem do 1500dh 1000dm, p 3 / 4 7500 8000 p, p 3 / 4 mercado: D 3) o equilíbrio 1000dm, 3 / 4 p 3 / 2 3000 2000 p, 3 / 4 p 3 / 2 de mercado será D(p) = S(p) 7500 – 8000p = –2500 + 2000p 10000 = 10000p p = 1€ e dm(1) = 1u. e dh(1) = –1u; 4) Não estamos no domínio aceitável para o preço. Teremos que usar a “outra” parte da curva da procura D(p) = S(p) 3000 – 2000p = –2500 + 2000p 5500 = 4000p p = 1.375€ e dm(1.375) = 0.25u. e dh(1.375) = 0u. No mercado, a quantidade transaccionada será 250u. São as mulheres que adquirem mais (os homens não compram). Variações relativas, Elasticidade. Em termos empíricos, a evolução relativa das variáveis económicas é mais relevante que a sua variação absoluta. Por exemplo, o produto dos países pobres cresce em termos absolutos (em € por pessoa e por ano) muito menos que o produto dos países ricos mas, em termos de percentagem, a taxa de crescimento é semelhante. Então, tem importância definir as curvas de procura e de oferta (na vizinhança do ponto de equilíbrio) em termos relativos. Por exemplo, dizer que, quando o preço aumenta 1%, a quantidade procurada aumenta 0.75%. Esta grandeza não tem dimensões e denomina-se por elasticidade (no exemplo seria 0.75). Elasticidade arco. A determinação da elasticidade arco (ou média) é feita quando se conhecem dois pontos da curva e obtém-se dividindo a variação relativa da quantidade pela variação relativa do preço. Por exemplo, conhecemos os pontos S(5) = 90 e S(7) = 110. Então, em torno do ponto médio, existe uma variação relativa da quantidade oferecida de (90 – 110)/100 = 20% e uma variação relativa do preço de (7–5)/6 = 33.3% pelo que a elasticidade preço da oferta será 20%/33% = 0.6. Em termos de expressão matemática temos: 22 a p ,Q Q2 Q1 Q p2 p1 p Q2 Q1 0.5(Q2 Q1 ) p2 p1 0.5( p2 p1 ) Também poderíamos utilizar logaritmos (i.e., ajustar um função isoelástica). Partindo de dois pontos, (y1, x1) e (y2, x2) determinamos ajustando y = A.x: ln( y1 ) ln( y 2 ) ln( 90) ln( 110) y1 A.x1 y / y ( x / x 2 ) 0.596 1 2 1 ln( x ) ln( x ) ln( 5 ) ln( 7 ) y A . x 1 2 2 2 Elasticidade ponto. A determinação da elasticidade ponto é feita com recurso ao cálculo matemático. Assim, é o limite da elasticidade arco quando a diferença dos preços se aproxima de zero. Tem em consideração o valor da derivada da função e os valores da quantidade e do preço no ponto. Para ficar mais claro, vou usar a definição de derivada na elasticidade preço da procura: lim p 2 p1 Q2 Q1 Q p2 p1 p D ( p h) D ( p ) p D( p ) D ( p h) D ( p ) p lim lim D' ( p) h 0 h 0 h h D( p) D( p) p Podemos agora confirmar que a elasticidade ponto de y = A.xe é e em qualquer abcissa: y ' ( x) x x A.e.x e 1 e y A.xe Procura elástica ou inelástica: Se a elasticidade da função de procura for menor que um, diz-se que a procura é inelástica enquanto que se for superior a um diz-se que a procura é elástica. No caso fronteira, a procura é de elasticidade unitária. Ex1.7: Sendo a curva de procura D(p) = 100 – p e a curva de oferta S(p) = –10 + 10p, relativamente ao ponto de equilíbrio, qual será a variação relativa da quantidade procurada se o preço aumentar 1%? R: O equilíbrio é D(p) = S(p) 100 – p = –10 + 10p p = 10€/u. e Q = 90u. A elasticidade no ponto é D’(p).p/Q = –1x10/ 90 = –0.11. Então, se o preço aumentar 1%, a quantidade procurada diminui 0.11%. 23 Outro exemplo: Para a função de procura D(p) = 100 – 3p, determine a elasticidade preço da procura. Determine o ponto em que a essa elasticidade vale –0.5. R: Para um ponto genérico, temos O ponto em que dD p p 3p 3 . dp D 100 3 p 100 3 p p,D = –0.5 resolve 3p 0.5 3 p 50 1.5 p p 11.11€ / u. , 100 3 p D(11.11) = 66.67u. Meio de transporte e utilização Elasticidade preço da procura Viagem de avião, passeio –1.52 Viagem de comboio, passeio –1.40 Viagem de avião, negócios –1.15 Viagem de comboio, negócios –0.70 Tab. 1.1 – Estimativa da elasticidade preço da procura (eq,p) (Fonte: Besanko, 2ªed, Table 2.2) Ex1.8: Sendo que a curva de procura se fortalece com o rendimento disponível, D(p) = 100 – p + 0.25R, e a curvas de oferta é S(p) = –10 + 5p, para um rendimento de 1000€ qual será a variação relativa da quantidade procurada induzida por um aumento do rendimento em 1%? R: O equilíbrio será D(p) = S(p) 100 – p + 0.25R = –10 + 5p 360 = 6p p = 60€/u. e Q = 290u. A elasticidade no ponto será relativamente ao rendimento D’R(p).R/Q = 0.25x1000/290 = 0.862. Então, o aumento de 1% no rendimento induz um aumento de 0.862% na quantidade procurada. Alimento Elasticidade rendimento da procura Natas 1.72 Maças 1.32 Ervilhas frescas 1.05 Cebolas 0.58 Manteiga 0.37 Margarina –0.20 Tab. 1.2 – Estimativa da elasticidade rendimento da procura (eq,r) (Fonte: Besanko, 2ªed, Table 2.4) 1.5. Aplicações: intervenções do governo. O governo, por vezes, julga que o mercado não está a funcionar de forma conveniente para o bem da sociedade e decide intervir politicamente no sentido de alterar os preços e a quantidade transaccionadas na direcção politicamente considerada como a mais conveniente. 24 Vamos considerar, havendo outras, as politicas de imposição de um preço máximo ou mínimo e a cobrança de um imposto (que se soma ao preço) ou atribuição de um subsídio (que se subtrai ao preço). Imposição de um preço máximo. Por vezes, os governos intervêm no mercado impondo um preço máximo. Por exemplo, as condicionantes do mercado apontam para que o preço do pão suba de 0.15€/u. para 0.20€/u. mas o governo, pensando acalmar o descontentamento dos consumidores, impõe que o preço não possa ultrapassar os 16€/u. Apenas existem efeitos no mercado da imposição de um preço máximo se o preço imposto for inferior ao preço de equilíbrio de mercado. É óbvio que se o governo impusesse que o preço do pão não podia ultrapassar 1.00€/u., a política não teria qualquer efeito. Já a imposição de um preço máximo de 0.16€/u. terá efeitos no mercado. A imposição de um preço máximo inferior ao preço de equilíbrio induz uma diminuição da quantidade transaccionada e do preço de mercado (ver Fig.1.12). Preço 2,4 D S 2,2 2 1,8 1,6 1,4 95 100 105 110 Quantidade 115 Fig.1.12 – Imposição de um preço máximo menor que o preço de equilíbrio. Ao preço máximo obrigatório, os consumidores estariam disponíveis para consumir maior quantidade mas os vendedores não estão disponíveis para colocar à venda tanta quantidade. Observa-se que deixa de haver mercadoria disponível: no caso dos bens, as prateleiras ficam vazias e, no caso dos serviços, aumenta o tempo de espera para o atendimento. Pode ainda verificar-se uma degradação da qualidade do bem ou serviço e surgir um mercado paralelo em que as transacções acontecem a um preço maior que o valor máximo imposto pelo governo. 25 Nas situações de imposição de um preço máximo efectivo, o mercado vai ficar fora do normal ponto do equilíbrio e sobre a curva da oferta. Ex1.9: Num mercado de pão, a curva de procura é D(p) = 280 – 6p e a curva de oferta é S(p) = 80 + 4p (preço em c./carcaça e quantidade em milhares de carcaças). i) Qual o equilíbrio de mercado e ii) que alterações induz o governo ao impor 16c./carcaça como preço máximo? R: i) O equilíbrio de mercado será D(p) = S(p) 280 – 6p = 80 + 4p 200 = 10p p = 20 e Q = 160. ii) Se for imposto como preço máximo 16c/carcaça, então haverá uma diminuição do preço de transacção (16 < 20) acompanhada por uma diminuição da quantidade transaccionada: Q = menor{280 – 6p; 80 + 4p} = menor{184; 144} = 144. O mercado vai ficar sobre a curva de oferta. Preço mínimo. Os governos também podem intervir no mercado pela imposição de um preço mínimo. Por exemplo, o mercado aponta para que o preço da carne de vaca diminua de 5.00€/kg para 3.50€/kg mas o governo, pensando tal ser pernicioso para os agricultores, decreta que o preço não pode ser inferior a 4.00€/kg. Apenas existirão efeitos desta política se o preço mínimo for superior ao preço de equilíbrio. Se, no exemplo, o governo impusesse que o preço da carne não podia ser menor que 1.00€/kg não haveria qualquer alteração no mercado. Pelo contrário, a imposição de 4.0€/kg como preço mínimo já terá efeitos no mercado. A imposição de um preço mínimo superior ao preço de equilíbrio induz uma diminuição da quantidade transaccionada e um aumento do preço de mercado (ver Fig.1.13). Ao preço mínimo obrigatório (mais elevado que o de equilíbrio normal), os vendedores estariam disponíveis para vender maior quantidade mas os compradores não estão disponíveis para adquirir tanta quantidade. Observa-se que começa haver excesso de mercadoria disponível: no caso dos bens, as prateleiras ficam cheias e, no caso dos serviços, não existem clientes. Como os vendedores têm muitos stocks, surge um mercado paralelo em que as transacções acontecem a um preço de saldo (preço menor que o obrigatório). Nas situações de imposição de um preço mínimo efectivo, o mercado vai ficar fora do normal ponto do equilíbrio e apenas sobre a curva da procura. 26 Preço 4,5 D 4 S 3,5 3 100 102 104 106 108 110 112 Quantidade 114 Fig.1.13 – Imposição de um preço mínimo superior ao preço de equilíbrio. Ex1.10: No mercado de carne, a curva de procura é D(p) = 430 – 60p e a curva de oferta é S(p) = 80 + 40p (preço em €/kg e quantidade em milhares de kg). Qual o equilíbrio de mercado e que alterações induz o governo ao impor 4€/kg como preço mínimo? R: 1) O equilíbrio de mercado será D(p) = S(p) 430 – 60p = 80 + 40p 350 = 100p p = 3.5€ e Q = 220t. Se for imposto 4€/kg como preço mínimo, então haverá um aumento do preço de transacção (4 < 3.5) acompanhada por uma diminuição da quantidade transaccionada: Q = menor{430 – 60p; 80 + 40p} = menor{190; 240} = 190. O mercado vai ficar sobre a curva de procura. Resumindo, a imposição pelo governo de um preço efectivo diferente do de normal equilíbrio, induz sempre uma diminuição da quantidade transaccionada. Se for imposto um preço máximo inferior ao de normal equilíbrio, os vendedores não querem vender tanto como os compradores querem comprar. Se for imposto um preço mínimo superior ao de normal equilíbrio, os compradores não querem comprar tanto como os vendedores querem vender. Ex1.11: Num hipotético mercado, as curvas de procura D e de oferta S são dadas na tabela ao lado. Qual será o preço e a quantidade transaccionada em equilíbrio de mercado? Qual será a quantidade transaccionada se o governo impuser 4€/kg como preço máximo? E 10€/kg como preço mínimo? 27 p 2€/kg 4€/kg 6€/kg 8€/kg 10€/kg 12€/kg D 150kg 140kg 130kg 120kg 110kg 100kg S 25kg 80kg 130kg 137kg 140kg 155kg R: Em equilíbrio a quantidade transaccionada será 130kg ao preço de 6€/kg. A quantidade transaccionada a 4€/kg será 80kg (lado da oferta). A quantidade transaccionada a 10€/kg será 110kg (lado da procura). Cobrança de um imposto. Os governos também podem intervir no mercado cobrando um imposto sobre o preço, tipo IVA. O principal objectivo do governo, além de controlar o mercado, é obter rendimentos para cobrir os custos do seu funcionamento (e para poder atribuir subsídios noutros mercado). A cobrança de um imposto faz com que o preço que os compradores pagam seja superior (no valor do imposto) ao preço que os vendedores recebem. Assim, o imposto aumenta o preço que os consumidores pagam e diminui o preço que os vendedores recebem de forma que diminui a quantidade transaccionada. Na Fig.1.14, inicialmente no mercado são transaccionadas 110u. ao preço de 3.5€/u.. e a introdução de um imposto de 1€/u. faz diminuir a quantidade transaccionada para 105u., aumentar o preço que os compradores pagam para 4€/u. e diminuir o preço que os vendedores recebem para 3€/u. Preço 4,5 D 4 S Imposto 3,5 3 2,5 100 102 104 106 108 110 112 Quantidade 114 Fig.13 – Efeito da imposição de um imposto Ex1.12: No mercado de bacalhau, a curva de procura é D(p) = 1500 – 50p e a curva de oferta é S(p) = 950 + 5p (preço em €/kg e quantidade em toneladas). Qual o equilíbrio de mercado e que alterações induz a imposição de 3€/kg de imposto? R: 1) O equilíbrio de mercado será D(p) = S(p) 1500 – 50p = 950 + 5p 550 = 55p p = 10€/kg e Q = 1000t. 2.1) Se for cobrado o imposto de 3€/kg, o cálculo do novo ponto de equilíbrio de mercado pode ser feito ao preço dos vendedores (o preço dos compradores será 28 maior que o preço dos vendedores, ver Fig.1.14). pc = pv + 3 D(pv + 3) = S(pv) 1500 – 50(pv+3) = 950 + 5pv 400 = 55pv pv = 7.27€/kg, pc = 10.27€/kg e Q = 986.4t. Preço 4,5 D pc4 S Imposto 3,5 pv3 2,5 100 102 104 106 108 110 112 Quantidade 114 Fig.1.14 – Determinação do equilíbrio de mercado ao “preço do comprador” 2.2) De forma equivalente, podemos calcular o novo equilíbrio de mercado ao “preço dos compradores”: D(pc) = S(pc – 3) 1500 – 50pc = 950 + 5(pc – 3 ) 565 = 55pc pc = 10.27€/kg, pv = 7.27€/kg e Q = 990.9t. 3) Haverá uma redução de 13.6t na quantidade transaccionada, um aumento de 0.27€/kg no preço pago preços compradores e uma redução de 2.73€/kg no preço recebido pelos vendedores. Repartição do imposto entre vendedores e compradores. O imposto, I, induz um aumento do preço que os compradores pagam, pc, e uma diminuição do preço que os vendedores recebem, pv, de tal forma que pc – pv = I. O que pretendemos calcular neste ponto é, em termos percentuais, a distribuição do efeito relativo do imposto no preço dos compradores e dos vendedores. Retomando o Ex.1.12, em termos absolutos, o imposto de 3€/kg repartiu-se 0.27€/kg para os compradores e 2.73€/kg para os vendedores. Então, em termos relativos, 9% do imposto será suportado pelos compradores e 91% do imposto será suportado pelos vendedores. Quanto mais sensível for a curva ao preço, menor será a percentagem do imposto suportada. Ex1.13: Num mercado de seguros, a curva de procura é D(p) = 3000 – 10p e a curva de oferta é S(p) = –750 + 5p (preço em €/seguro e quantidade em seguros). i) Qual o equilíbrio de 29 mercado, ii) que alterações induz a imposição de 30€/s de imposto e iii) como é distribuído o imposto? R: i) O equilíbrio de mercado será D(p) = S(p) 3000 – 10p = –750 + 5p 3750 = 15p p = 250€/s e Q = 500s. ii) Se for cobrado o imposto de 30€/s, o cálculo do novo ponto de equilíbrio de mercado ao preço dos vendedores será pc = pv + 30 D(pv + 30) = S(pv) 3000 – 10(pv+30) = –750 + 5pv 3450 = 15pv pv = 230€/s, pc = 260€/s e Q = 400s. iii) Os compradores suportam (260–250)/30 = 1/3 e os vendedores (250–230)/30=2/3 do imposto. Atribuição de um subsídio. Em termos algébricos, um subsídio corresponde a um imposto de sinal negativo. Assim sendo, a atribuição de um subsídio faz com que o preço que os compradores pagam seja inferior (no valor do subsídio) ao preço que os vendedores recebem. Assim, o imposto diminui o preço que os consumidores pagam e aumenta o preço que os vendedores recebem de forma que aumenta a quantidade transaccionada. Na Fig.1.15, inicialmente no mercado são transaccionadas 110u. ao preço de 3.5€/u.. e a atribuição de um subsídio de 1€/u. faz aumentar a quantidade transaccionada para 115u., baixa o preço que os compradores pagam para 3€/u. e aumenta o preço que os vendedores recebem para 4€/u. Preço 4,5 S 4 Subsídio 3,5 3 D 2,5 108 110 112 114 Quantidade 116 Fig.1.15 – Efeito da atribuição de um subsídio Ex1.14: No mercado de bacalhau, a curva de procura é D(p) = 1500 – 50p e a curva de oferta é S(p) = 950 + 5p (preço em €/kg e quantidade em toneladas). Qual o equilíbrio de mercado e que alterações induz a atribuição de 3€/kg de subsídio? R: 1) O equilíbrio de mercado inicial é (ver Ex1.12) p = 10€/kg e Q = 1000t. 2.1) Com o subsídio de 3€/kg, o novo ponto de equilíbrio de mercado feito ao preço dos vendedores será 30 pc = pv – 3 D(pv – 3) = S(pv) 1500 – 50(pv – 3) = 950 + 5pv 700 = 55pv pv = 12.73€/kg, pc = 9.73€/kg e Q = 1013.6t. Repartição do subsídio entre vendedores e compradores. O subsídio, S, é um imposto de sinal negativo pelo que virá o preço que os compradores pagam, pc, menor que o preço que os vendedores recebem, pv, de tal forma que pv – pc = S. O que pretendemos calcular neste ponto é, em termos percentuais, a distribuição do efeito relativo do subsídio no preço dos compradores e dos vendedores. Retomando o Ex.1.13, em termos absolutos, o subsídio de 3€/kg repartiu-se 0.27€/kg para os compradores e 2.73€/kg para os vendedores. Então, em termos relativos, 9% do subsídio vai para os compradores e 91% do subsídio vai para os vendedores. Quanto mais sensível for a curva ao preço, menor será a percentagem do subsídio com que ficam beneficiados. Ex1.15: Num mercado de “tomar conta de crianças ao fim de semana”, a curva de procura é D(p) = 500 – 25p e a curva de oferta é S(p) = –250 + 50p (preço em €/criança e quantidade em crianças). i) Qual o equilíbrio de mercado, ii) que alterações induz a atribuição pelo estado de um subsídio de 5€/c. e iii) como é distribuído o subsídio? R: i) O equilíbrio de mercado será D(p) = S(p) 500 – 25p = –250 + 50p 750 = 75p p = 10€/c e Q = 250c. ii) Se for atribuído 30€/s de subsídio, o cálculo do novo ponto de equilíbrio de mercado ao preço dos compradores será pc + 5 = pv D(pc) = S(pc + 5) 500 – 25pc = –250 + 50(pc + 5) 500 = 75pc pc = 6.67€/c, pv = 11.67€/c e Q = 333c. iii) Os compradores beneficiam (10–6.67)/5 = 2/3 e os vendedores (11.67–10)/5=1/3 do subsídio. O preço do dinheiro e sua evolução. O valor do dinheiro não é intrínseco (excepto para os coleccionadores de notas e moedas) mas resulta de ter poder aquisitivo. Assim, o valor de uma soma de dinheiro é consequência de, com ela, se poder comprar bens e serviços que têm valor (apesar de dependente da valoração que cada pessoa faz). O preço unitário de um bem ou serviço é a quantidade de dinheiro necessária para adquirir uma unidade desse bem ou serviço. Então, o preço unitário do dinheiro será uma unidade monetária (e.g., como para comprar um euro é necessário pagar um euro, então o preço de um euro será um euro) parecendo que esta discussão não faz sentido económico. A questão ganha sentido quando retiramos à moeda a sua função de unidade de valor e a atribuirmos a outro activo: e.g., custando o milho 0.50€/kg e o frango 1.75€/kg, passando o milho a ser a unidade de valor, 31 então o preço do frango passará a ser 3.5kg de milho/kg e o preço do dinheiro a ser 2kg de milho/euro. Considerando um bem compósito que agrega os bens e serviços que se transaccionam numa zona monetária e assumindo uma unidade desse bem compósito como unidade de valor, então o preço do dinheiro serão as unidades de bem compósito necessárias para adquirir uma unidade de dinheiro (ou as unidades de bem composto que se obtêm pela venda de uma unidade de dinheiro). Efeito de uma variação da quantidade de moeda. Em função do preço do dinheiro, por um lado, os vendedores de dinheiro (i.e., quem tem dinheiro e não tem bens e serviços) vão pretender vender uma determinada quantidade de dinheiro e, por outro lado, os compradores de dinheiro (i.e., quem não tem dinheiro e tem bens e serviços) vão pretender comprar uma determinada quantidade de dinheiro. Então, podemos imaginar um mercado de dinheiro com curvas de oferta, de procura e equilíbrio em que o preço do dinheiro são kg do bem compósito por € e a quantidade transaccionada são € por dia (a quantidade transaccionada como um fluxo): preço 130 kg/€ Curva de Procura de € 120 Curva de Oferta de € 110 100 90 100 105 110 115 120 125 130 135 Quantidade €/dia Fig.1.16 – O mercado de dinheiro Em termos verbais, definimos que o preço do dinheiro é o inverso do preço dos bens e serviços transaccionados na zona monetária (e não a taxa de juro que é o preço do crédito). Quando há um reforço da oferta de dinheiro (e.g., por o banco central emitir mais moeda) a curva da oferta de dinheiro desloca-se para a direita pelo que diminui o preço do dinheiro (i.e., o dinheiro desvaloriza; aumenta a inflação) e aumenta a quantidade de dinheiro em circulação. Quando há um reforço da procura de dinheiro (e.g., as pessoas aumentam o seu rendimento, i.e., a quantidade de bens e serviços que têm) a curva da procura de dinheiro 32 desloca-se para a direita pelo que aumenta o preço do dinheiro (i.e., o dinheiro valoriza; diminui a inflação) e aumenta a quantidade de dinheiro em circulação. O mesmo raciocínio pode ser aplicado ao preço de uma moeda em termos de unidades monetárias de outra moeda (i.e., à taxa de cambio). Exercícios de recapitulação Ex1.16: (As contas estavam certas mas clarifiquei, 28-10) No mercado das “Viagens à Terra Santa”, sabemos que em condições normais são vendidas por ano 6000 viagens a 1500€ cada uma. Nos anos de intifada, há enfraquecimento da procura de forma que são vendidas 1200 viagens a 1000€ cada uma. Sabemos ainda que, quando o preço aumenta 1%, a quantidade procurada diminui em 0.5% e que o IVA é de 20%. Determine o efeito no mercado de uma diminuição do IVA de 20% para 5% e como se distribui o efeito sobre o preço. R. Primeiro, determinamos a curva da oferta e a curva da procura. Como é dada a elasticidade da procura (–0.5) e um ponto (1500; 6000), vou estimar o modelo isoelástico: A) D(p) = K.p–0.5 6000 = K.1500–0.5 K = 232379 D(p) = 232379.p–0.5 B) Como há alterações na procura, os pontos (1500; 6000) e (1000, 1200) são da curva de oferta. Para usar o preço dos vendedores, temos que retirar o IVA (de 20%) do preço dos compradores de forma que 1500€1250€ e 1000€833.3€. Podemos estimar uma recta: 6000 A 1250 B 4800 416.7 B B 11.52 S(p) = A + B.p 1200 A 833.3B A 8400 S(p) = –8400 + 11.52p Segundo, determinamos o equilíbrio de mercado com a nova taxa de IVA (ao preço dos compradores, podendo também ser calculado ao preço dos vendedores). D(p) = S(p/1.05) 232379.p–0.5= –8400 + 11.52p/1.05 Apenas conseguimos resolver esta equação no Excel B2: = 232379+8400*A2^0,5-10.97^A2^1,5 Atingir objectivo: definir célula B2 para o valor 0 por alteração da célula A2. O preço de mercado das viagens diminuirá de 1500€ para 1343.48€ e a quantidade transaccionada aumentará de 6000 viagens para 6340 viagens. A diminuição do IVA induz uma diminuição do preço dos compradores em 156.52€ e um aumento do preço dos vendedores em 29.50€. 33 Ex1.17: Num mercado de alimentos, em termos de kg por mês, a curva de procura do individuo i cujo rendimento é ri vem dada por d(p) = 1.75p–0.5ri0.5. A curva de oferta de cada vendedor vem dada por s(p) = 20p0.25.(2h – h2) onde h mede a pluviosidade anual. Existe um total de 50 vendedores e 300 consumidores (200 com 400€/mês e 100 com 900€/mês). i) Determine o equilíbrio de mercado num ano em que chova 1m. ii) Determine quanto adquiriu cada consumidor. iii) Quantifique o efeito do governo, para ajudar os consumidores, impor como preço máximo 20€/kg. iv) Quantifique o efeito do governo, para ajudar os vendedores, impor como preço mínimo 20€/kg. R. Obtém-se a curva de procura de mercado somando as curvas individuais dos 300 consumidores, repartidas em duas classes de rendimento: D( p) 200(1.75 p 0.5 4000.5 ) 100(1.75 p 0.5 9000.5 ) 7000 p 0.5 5250 p 0.5 12250 p 0.5 A curva de oferta obtém-se multiplicando a curva individual por 50: S ( p) 1000 p 0.25 . No equilíbrio a quantidade procurada é igual à quantidade oferecida: D( p) S ( p) 12250 p 0.5 1000 p 0.25 12.250 p 0.75 p 28.239€; Q 2305kg ii) Os mais pobres consomem D( p) 1.75(28.239) 0.5 4000.5 6.586kg por mês e os mais ricos consomem D( p) 1.75(28.239) 0.5 9000.5 9.880kg por mês. iii) A quantidade transaccionada será o mínimo entre a quantidade que uns querem comprar e a que outros querem vender. menorD( p); S ( p) menor 12250 200.5 ; 1000 200.25 menor2739.2; 2114.7 2114.7 A quantidade transaccionada no mercado diminui porque os vendedores diminuem a quantidade oferecida. iv) Como o preço de mercado é superior ao preço mínimo imposto, não tem qualquer efeito. Ex1.18: Segundo um estudo de um hipermercado, os 700 pescadores de sardinha de Matosinhos estão disponíveis para vender 100t/dia se o preço for de 1€/kg, 200t/dia se o preço for de 2€/kg e 200t/dia se o preço for de 3€/kg. Supondo que a curva de procura dos clientes do hipermercado é D(p) = 500 – 10p e que o hipermercado tem 0.5€/kg de margem de comercialização (para cobrir os custos de transporte, exposição, refrigeração, etc.). i) Qual o preço contratado com os pescadores? ii) Qual o efeito de o governo cobrir os custos de comercialização e quanto custa por cada pescador esta política? R. Com os três pontos podemos estimar uma curva de oferta do segundo grau. 34 100 A B C 100 B C A A 100 S ( p) A Bp Cp 200 A 2 B 4C 100 3C B B 50 400 A 3B 9C 300 2 B 8C C 50 2 i) O preço pago aos pescadores é o de equilíbrio de mercado em que o preço dos compradores é maior em 0.5€/kg (a margem é como se fosse um imposto): S ( p) D( p 0.5) 100 50 p 50 p 2 435 10( p 0.5) 50 p 2 40 p 330 0 p 3€ / kg . ii) Esta política ajuda mais os consumidores que os pescadores já que o preço pago aos pescadores aumenta 0.02€/kg e o preço pago pelos consumidores diminui 0.03€/kg. S ( p) D( p) 100 50 p 50 p 2 435 10 p 50 p 2 40 p 335 0 p 3.02€ / kg Como serão comercializadas 404.808t/dia, a política custará 20240€/dia que, a dividir por 700, dá 28.91€/dia/pescador. Ex1.19: No mercado de Camarão há 1000 compradores idênticos com curva de procura d(p) = 0.6 – 0.05p e 40 vendedores idênticos com curva de oferta s(p) = –1.5 + 1.5p. i) Determine o equilíbrio de mercado. o preço e a quantidade transaccionada no equilíbrio. ii) Se o governo quiser que as capturas diminuam em 20%, que imposto terá que impor? iii) Se o preço mínimo fosse 8€/kg, qual a quantidade transaccionada? R. i) D(p) = S(p) 1000( 0.6 – 0.05p) = 40(–1.5 + 1.5p) p = 6.00€/kg; Q = 300kg. ii) D(pv + I) = S(pv) 1000( 0.6 – 0.05(pv + I)) = 40(–1.5 + 1.5pv) pv = 6 – 0.(45). Resolvendo S(pv ) = 240 vem –60 + 60(6 – 0.(45)I) = 240 I = 2.2€/kg. iii) menor{S(8); D(8)} = menor{420; 200} = 200kg. Os compradores não querem adquirir maior quantidade. Ex1.20: Na última década assistimos a um aumento extraordinário do preço do petróleo. Represento na figura seguinte a evolução do preço (dólares americanos por barril) e quantidade transaccionada (milhões de barris por dia) médias ao longo de cada ano civil: 35 $/b 75 65 y = 0,3641x 2 - 53,627x + 1997,8 55 45 35 25 15 73 78 83 M.b/dia i) O que representará a recta de ajustamento y = 0.3641x2 – 53.627x + 1997.8? ii) Será que podemos afirmar que a responsabilidade para o aumento dos preços foi a guerra do Iraque (i.e., um enfraquecimento da oferta)? iii) Sendo que em 2007 a quantidade consumida foi de 85.220 Mil.b/dia ao preço médio de 72.4$/b, se em 2008 essa quantidade aumentar 1%, para quanto se prevê que aumente o preço médio do barril de petróleo? R. i) A recta ajustada é uma estimativa para a função de oferta inversa p(S) pois no eixo vertical está o preço e no horizontal as quantidades transaccionadas. Se quiséssemos a função procura teríamos que utilizar a formula resolvente da equação do 2º grau: p 0.3641S 2 53.627 S 1997.8 S ( p) 53.627 53.627 2 4 0.3641 (1997.8 p) 2 0.3641 ii) Como aconteceu em simultâneo um aumento do preço e da quantidade transaccionada, é o resultado dum reforço da procura. Se fosse um enfraquecimento da oferta, observava-se um aumento do preço associado a uma diminuição da quantidade transaccionada. iii) Usando p(S) obtemos p 0.3641 (1.01 85) 2 53.627 (1.01 85) 1997.8 77.4$ / b . 36 II – Teoria do Consumidor Duração lectiva: 14 + 1 aulas. Sumário: Curva de indiferença, função de utilidade, recta orçamental, maximização da utilidade, efeito substituição e efeito rendimento, aplicações. Objectivos: Apresentar a teoria do consumidor como uma justificação para a existência da curva de procura. A teoria contempla três axiomas: i) que os gostos e preferências dos consumidores se condensam na função de utilidade, ii) que os consumidores têm um rendimento disponível e iii) que escolhem o cabaz de bens ou serviços que maximiza a sua utilidade sob restrição do rendimento disponível e dos preços de mercado (é assumido serem price takers). Aplicar a teoria do consumidor às políticas de combate à exclusão, à oferta de trabalho, à poupança, ao risco à teoria do bem-estar. 2.0 Introdução O núcleo conceptual da Teoria do Consumidor é o princípio de que a decisão dos agentes económicos resulta de uma comparação entre o benefício da sua acção (i.e., o ganho de bemestar que origina) com o custo de a implementar (i.e., o dispêndio de recursos escassos disponíveis): ”La Nature a placé l’Humanité sous le gouvernement de deux souverains maîtres, la douleur e le plaisir [...]. Par principe d’utilité, on entend ce principe qui approuve ou désapprouve chaque action, quelle qu’elle soit, en fonction de la tendance qu’elle paraît avoir à augmenter ou diminuer le bonheur de la partie dont l’intérêt est en cause.” Jeremy Bentham (1789), Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação. O filósofo Bentham (1748-1832), seguido por John Stuart Mill (1806-73) e James Mill (1773-1836), teorizou e difundiu o utilitarismo como o fundo ético do Homem que responde a todas as 37 questões acerca do que fazer, do que admirar e de como viver, em termos da maximização da felicidade individual sob restrição do permitido pela sociedade. Assim, insere-se num movimento filosófico de libertação do Homem da esfera do sagrado (i.e., da moral cristã). O princípio da optimização resulta directamente da teoria da Selecção Natural de Charles Darwin (1809-82): os indivíduos mais optimizadores têm maior probabilidade de sobreviver, de ter filhos e de transmitir essa ética aos seus filhos (e concidadãos). 2.1. Preferências e gostos dos consumidores Na teoria do consumidor que vamos expor, consideramos que o problema económico do indivíduo é a escolha de um cabaz formados por quantidades variáveis de dois bens ou serviços (ocasionalmente, mais bens ou serviços) sujeita ao rendimento disponível. Vamos assumir que os indivíduos possuem informação e raciocínio perfeitos (o que é público). 2.1.1 Curva de indiferença Princípio da Utilidade (dos bens ou serviços): Cada indivíduo tem necessidades que, quando satisfeitas, lhe permitem viver numa situação de maior conforto, de maior bem-estar. Em termos económicos, as necessidades humanas são satisfeitas com a apropriação e fruição de bens e serviços. O valor económico dos bens e serviços resulta directamente da sua capacidade em satisfazer essas necessidades humanas. Se um objecto não satisfaz nenhuma necessidade humana, então não tem valor económico. De entre as coisas com valor económico, a afectação das que estão disponíveis em quantidades ilimitadas não são um problema porque o indivíduo consegue sempre apropriar a quantidade suficiente para satisfazer as suas necessidades. Assim, a Economia concentra-se nos bens ou serviços úteis e que são escassos. O valor das coisas (i.e., a sua utilidade) é subjectiva pois depende dos gostos e preferências da pessoa que as vai consumir. A aceitação do utilitarismo como princípio moral que rege a vida do indivíduo inviabiliza a existência de uma economia centralizada eficiente. Princípio da Comparabilidade (entre cabazes de bens e serviços): Se considerarmos um cabaz A formado pelas quantidades a1 e a2 de dois bens ou serviços abstractos, A = (a1, a2), o ser humano é capaz de o comparar com outro qualquer cabaz B = (b1, b2) formado por quantidade diferentes dos mesmos bens ou serviços. O indivíduo pode considerar que o cabaz 38 B é pior, análogo, ou melhor, que o cabaz A. Esta comparação traduz que o indivíduo prefere o cabaz A ao B, está indiferente entre A e B ou prefere o cabaz B ao A, respectivamente. Princípio da Transitividade da Comparação: A transitividade das comparações traduz que as escolhas do consumidor são consistentes. Se, por exemplo, A melhor que B e B melhor que C, então A melhor que C. Vamos codificar “melhor que” como >; “análogo a” como =; e “pior que” como <; Exercício 2.1. Considere os cabazes, A, B, C e D. Se A = B, B > C e C = D como se compara A com D? Se A = B e B = C como se compara A com C? Se A ≤ B, B ≤ C e C = D como se compara A com D? Se A ≤ B, B = C e C ≥ D como se compara A com D? R: A > D; A = C; A ≤ D; Não se sabe. Princípio da Insaciabilidade: O ser humano prefere sempre apropriar uma maior quantidade/qualidade de bens ou serviços. Sendo que, em termos de quantidade, isso não é uma verdade absoluta, se pensarmos em termos de qualidade já se torna perfeitamente aceitável este princípio teórico. Por exemplo, apesar de não querermos consumir maior quantidade de comida, preferíamos comida mais saborosa (i.e., de maior qualidade). A insaciabilidade é importante na definição teórica das escolhas do indivíduo. Sendo o cabaz A = (a1, a2) e o cabaz B = (b1, b2), então (ver fig. 2.1) : B é pior que A se a1 > b1 e a2 ≥ b2; ou se a1 ≥ b1 e a2 > b2. B é melhor que A se a1 ≤ b1 e a2 < b2; ou se a1 < b1 e a2 ≤ b2. Fig.2.1 – Aplicação da insaciabilidade na comparação de cabazes 39 Taxa marginal de substituição: Sendo o cabaz A = (a1, a2), existe uma proporção k que faz o cabaz B = (a1 + ; a2 + .k) análogo a A (em que é uma quantidade infinitesimal e k uma constante de valor negativo). Isto traduz que se eu substituir a quantidade infinitesimal do bem 1 pela quantidade .k do bem 2, o indivíduo fica indiferentes entre os dois cabazes. Este princípio permite-me começar a preencher as zonas “incomparáveis” da fig. 2.1. A proporção k denomina-se por taxa marginal de substituição de a1 por a2 e traduz a inclinação da linha de fronteira que separa a zona dos cabazes melhores que A da zona dos cabazes piores que A (ver, fig.2.2). Fig.2.2 – Aplicação da substituibilidade na comparação de cabazes Curva de indiferença: Se eu continuar a aplicar a “substituição” de um pouco do bem 1 por um pouco do bem 2 (e vice-versa), vou traçando uma linha que contêm todos os cabazes análogos ao cabaz A. Como o indivíduo é indiferente entre os cabazes que formam essa linha, esta denomina-se por curva de indiferença e separa a zona dos capazes melhores que A da zona dos cabazes piores que A. A taxa marginal de substituição entre o bem 1 e o bem 2 indica a inclinação da curva de indiferença em cada ponto, i.e., a derivada da curva de indiferença (ver fig. 2.3). Evolução da taxa marginal de substituição com a quantidade: Para termos uma “teoria bem comportada” é necessário que qualquer linha que una dois cabazes da curva de indiferença passe apenas pela zona dos cabazes melhores que A., o que, em termos matemáticos, traduz que a CI é convexa. Esta característica obriga a que a taxa marginal de substituição (a inclinação da CI) diminua da esquerda para a direita. Esta característica é aceitável em termos económicos já que traduz que se eu tiver uma pequena quantidade do 40 bem 1, apenas trocarei uma unidade desse bem por uma quantidade grande do bem 2 (k será grande em grandeza). Se, pelo contrário, eu tiver uma grande quantidade do bem 1, então estarei disponível para trocar uma unidade desse bem por uma quantidade mais pequena do bem 2 (k será pequeno em grandeza). Fig.2.3 – Curva de indiferença Exercício 2.2. Um indivíduo tem como curva de indiferença y = 100/x. Qual é, em A = (x, y) = (5, 20), a taxa marginal de substituição do bem X pelo bem Y? E no cabaz B = (20, 5)? R: TMSxy = y’ = –100/x2 TMSA = –4: quando tenho 5 unidades do bem X, para compensar a perda de uma unidade do bem X, necessito de adquirir 4 unidades do bem Y; TMS B = – 0.25: quando tenho 20 unidades do bem X, para compensar a perda de uma unidade do bem X, apenas necessito de adquirir 0.25 unidades do bem Y. Posso caracterizar as preferências do indivíduo por um conjunto de curvas de indiferença. Comparando duas curvas de indiferença, as que estão à direita e acima contêm cabazes que são preferíveis aos que se encontram nas curvas de indiferenças à esquerda e abaixo (ver, fig.2.4). 41 Fig.2.4 – Curvas de indiferença “melhores” As curvas de indiferença nunca se intersectam. Por redução ao absurdo, observando a figura ao lado e atendendo à insaciabilidade, o cabaz D é preferível ao cabaz A porque contém mais do bem 1 e do bem 2. Mas, o cabaz B que é análogo ao cabaz A (está sobre a mesma C.I.) é preferível ao cabaz C que é análogo ao cabaz D, resultando ser o cabaz A preferível ao cabaz D. Exercício 2.3. Conhecem-se duas curvas de indiferença de um individuo, CI1: a2 = 100/a12 e CI2: a2 = 10/a12. i) Verifique que estas duas curvas não se intersectam. ii) Qual das duas curvas contêm cabazes preferíveis? iii) Calcule e interprete a taxa marginal de substituição em A = (5, 4) e em B = (2.5, 1.6) e verifique se estão de acordo com a teoria. R: i) Teria que haver um ponto em que as curvas coincidissem: a2 = 100/a12 e a2 = 10/a12 100/a12 = 10/a12 100 a12 = 10 a12 a1 = 0 e a2 = +∞, mas este ponto não faz parte de IR2. ii) Pegando num cabaz de CI1, A = (10, 1), existe em CI2 o cabaz B = (10, 0.1) que é pior que A pelo que os cabazes da CI1 são preferíveis aos cabazes da CI2. iii) Em A pertence à CI1: TMSA = –200/a13 = – 1.6, preciso de 1.6 unidades do bem 2 para compensar a perda de uma unidade do bem 1. B pertence à CI2: TMSA = –20/a13 = –1.28, preciso de 1.28 unidades do bem 2 para compensar a perda de uma unidade do bem 1. Apesar de eu ter menor quantidade do bem 1, como estou em curvas de indiferença diferentes, não se verifica necessariamente o princípio de que a TMS diminui da esquerda para a direita (quando a quantidade do bem 1 aumenta). 42 2.1.2. Função de utilidade Poderíamos avançar com uma análise das escolhas do consumidor usando apenas a representação gráfica das curvas de indiferença. No entanto, para modelizar de forma matemática a Teoria do Consumidor, torna-se necessário atribuir um número a cada curva de indiferença de tal forma que uma curva de indiferença com cabazes preferíveis terá que ter associado um número superior. A esse número chama-se nível de utilidade e com ele constrói-se uma Função de Utilidade que dá as curvas de indiferença de forma implícita. Podemos obter a taxa marginal de substituição num determinado cabaz sem explicitar a forma funcional da curva de indiferença que lá passa. Para isso usa-se o teorema da derivação da função implícita (não nos vamos concentrar na apresentação deste teorema porque não tem importância económica e o tema será tratado em Matemática I). U ( x, y ) dy x Sendo y(x) dada implicitamente por U ( x, y) q TMSxy . U ( x, y ) dx y Função ordinal: A função de utilidade denomina-se por ordinal porque a magnitude da utilidade apenas é considerada em termos relativos (de ordenação). Se, por exemplo, o cabaz A for melhor que o cabaz B, então basta que U(A) seja maior que U(B), não interessando a magnitude da diferença (ver Ex2.4). No caso de importar a magnitude, denomina-se a função por cardinal. Ex2.4. Os gostos e preferências de um agente económico condensam-se na função de utilidade U(a1,a2) = a1.a2. i) Determine a curva de indiferença que passa pelo cabaz A = (5,10). ii) Verifique que as funções V(a1,a2) = ln(a1) + ln(a2) e Z(a1,a2) = a14. a24 condensam as mesmas preferências que U(a1,a2). iii) Calcule directamente de U(a1,a2) e de Z(a1,a2) e interprete a taxa marginal de substituição em A = (10, 10). R: i) U(5, 10) = 50 a2 = 50/a1. ii) V(5, 10) = ln(5) + ln(10) = 3,912 ln(a2) = 3,912 – ln(a1) a2 = 50/a1; Z(5, 10) = 6.25E6 a24 = 6.25E6/a14 a2 = 50/a1 iii) TMS = – U’a1/U’a2 = – a2/a1 = –10/5 = –2; TMS = – Z’a1/Z’a2 = – a12 a23/a13 a22 = a2/a1 = –10/5 = –2, em A, preciso de 2 unidades do bem 2 para compensar a perda de uma unidade do bem 1. 2.2. Restrição orçamental É sabido que, em termos genéricos, o estudo da Economia está dependente da circunstância de a quantidade disponível de bens e serviços ser limitada e inferior às necessidades. Em 43 termos individuais, o consumidor tem um rendimento nominal (i.e., em euros) que aplica na aquisição de bens ou serviços cujos preços de mercado são dados (o agente é price taker). O rendimento disponível das famílias tem origem principalmente nos salários (ver, Tab. 2.1), sendo também importantes os rendimentos do capital (e.g., dividendos) e as transferências do estado (e.g., rendimento de inserção social). É normal usar a família como a célula individual de decisão económica porque as decisões dos seus membros estão interligadas (em média, metade dos seus membros não tem rendimento). Sector de actividade principal Portugal Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira Todos os sectores 736 684 648 899 685 687 637 693 Agricultura, silvicultura e pesca 507 446 502 646 567 456 512 522 Indústria, construção, energia e água 662 619 591 883 676 656 551 635 Serviços 787 749 696 905 710 708 687 721 Tab. 2.1 - Salário médio mensal líquido 2007, trabalhadores por conta de outrem, www.ine.pt Ex2.5: Um determinado aluno tem 600 € /mês de rendimento que pode gastar em alimentação cujo preço é 5€/u., vestuário cujo preço é 10€/u. e habitação cujo preço é 100€/u.. Qual será o cabaz que o aluno pode consumir em cada mês? R: Qualquer cabaz X = (a, v, h) que custe menos que o rendimento, 5a + 10v + 100h ≤ 600. Tal como consideramos para as curvas de indiferença (e.g., fig.2.4), tomemos o exemplo de um cabaz genérico com dois bens ou serviços, A = (a1, a2). Neste caso, a restrição orçamental vem dada por p1.a1 + p2.a2 ≤ r, podendo ser representada graficamente (ver, Fig.2.5). Fig.2.5 – Restrição orçamental 44 Recta orçamental: Denomina-se a linha fronteira entre a zona dos cabazes que o indivíduo pode adquirir da zona de cabazes que o indivíduo não pode adquirir por recta orçamental, RO. O indivíduo ao adquirir os cabazes sobre a RO esgota o rendimento, p1.a1 + p2.a2 = r. Podemos explicitar a RO, a2 = r/p2 – a1.p1/p2 e verificar que na intersecção com o eixo vertical (i.e., a1 = 0) a RO vale r/p2, na intersecção com o eixo horizontal (i.e., a2 = 0) a RO vale r/p1, e que a inclinação da RO vale – p1/p2. A intersecção com o eixo vertical traduz o máximo que eu posso comprar do bem 2 enquanto que a intersecção com o eixo horizontal traduz o máximo que eu posso comprar do bem 1. A inclinação da RO traduz que para comprar mais uma unidade do bem 1 eu tenho que abdicar de comprar – p1/p2 unidades do bem 2: é idêntico à TMS mas aqui pretendo manter a despesa constante (e igual ao rendimento), enquanto na TMS pretendo manter o nível de utilidade constante. Ex2.6: Um indivíduo tem de rendimento disponível 1000€/mês que gasta em alimentação e habitação, (a, h), cujos preços unitários são 2.5€/u. e 5€/u., respectivamente. i) Qual a quantidade máxima de alimentação e de habitação que o individuo pode adquirir? ii) Sobre a RO, quantas unidade de alimentação tem que abdicar para adquirir mais uma unidade de habitação? iii) Verifique se o indivíduo pode adquirir o cabaz (a, h) = (200, 150). R: i) amax = 1000/2.5 = 400u.; hmax = 1000/5=200u.. ii) Para manter a despesa sobre a RO, tem que abdicar de 2 unidades de a por cada unidade a mais de h: –ph/pa = –5/2.5 = –2. iii) Não pode adquirir pois a despesa, 200*2.5+150*5 = 1250€, seria maior que os 1000€ de rendimento disponível. Bens privados e bens públicos. No exemplo anterior os bens são privados no sentido de que o indivíduo para os consumir tem que gastar na sua aquisição parte do rendimento que tem disponíveis (principio da exclusão: quem não paga, não tem) e, por outro lado, os outros indivíduos deixam de o poder consumir (princípio da rivalidade: se eu consumo, mais ninguém consome). No entanto, existem bens ou serviços que não têm estas características: os Bens Públicos: e.g., eu posso usufruir da iluminação de uma rua que não prejudico o consumo de outros bens (é-me gratuito pois é paga pela Câmara Municipal) e o meu consumo em nada diminui as possibilidades dos outros indivíduos usufruírem da iluminação. Normalmente, o custo marginal de produzir (ou usufruir) um bem público é próximo de zero e muito menor que o custo fixo (conceitos a desenvolver no capítulo da teoria do produtor). Há ainda os bens comuns (não-exclusão e rivalidade) e os bens de clube (exclusão e não-rivalidade). 45 Efeito na RO da alteração do rendimento: Quando o rendimento aumenta (e os preços se mantêm), o indivíduo pode consumir cabazes mais recheados. Em termos gráficos, este acontecimento traduz-se por um deslocamento da RO para a direita e para cima (ver Fig.2.6). Quando o rendimento diminui, passa-se exactamente o contrário: deslocando-se a RO para a esquerda e para baixo. Como o declive traduz o rácio entre os preços (dado por –p1/p2), o deslocamento da RO induzido pela alteração do rendimento dá origem a uma nova RO paralela à inicial. Fig.2.6 – Efeito da alteração do rendimento na RO Ex2.6: Sendo que um indivíduo tem de rendimento disponível 500€/mês que gasta em dois bens, (x, y), cujos preços unitários são 2€/u. e 5€/u., respectivamente. i) Represente graficamente a RO ii) Represente graficamente um aumento no rendimento de 100€/mês. R: i) 2x + 5y = 500 y = 100 – 0.4x posso localizar os pontos extremos (0;100) e (250;0) e uni-los por uma recta (linha azul) ; ii) 2x + 5y = 600 y = 120 – 0.4x posso localizar os pontos extremos (0;120) e (300,0) e uni-los por uma recta (linha rosa). 120 100 80 60 y 40 20 0 0 50 100 x 150 46 200 250 300 Efeito na RO da alteração dos preços: Quando um preço se altera, a intersecção com o eixo que representa o bem ou serviço respectivo também se altera mas em sentido contrário. Esse facto resulta de o ponto de intersecção ser a quantidade que eu posso comprar e por isso inversamente proporcional ao preço, r/p: Quanto mais barato for o bem ou serviço, maior quantidade posso comprar. Na Fig. 2.7, represento uma alteração da RO quando o preço do bem representado no eixo dos yy diminui (mantendo-se o rendimento e o preço do bem representado no eixo dos xx). Fig.2.7 – Efeito da diminuição do preço do bem 2 na RO A RO altera-se de forma análoga, mutatis mutandis, quando acontece uma diminuição do preço do bem representado no eixo dos xx, situação que represento na Fig 2.8 (mantendo-se o rendimento e o preço do bem representado no eixo dos yy). Fig.2.8 – Efeito da diminuição do preço do bem 1 na RO 47 mutatis mutandis: Expressão latina que traduz “mudando o que tem que ser mudado”. É aplicado na comparação de situações que são diferentes mas entre as quais existe alguma analogia. e.g., o ser humano, mutatis mutandis, é anatomicamente igual ao rato. Ex2.7: Sendo que um indivíduo tem de rendimento disponível 500€/mês que gasta em dois bens, (x, y), cujos preços unitários são 2€/u. e 5€/u., respectivamente. i) Represente graficamente a RO e ii) o efeito na RO de o preço do bem y passar a ser 10€. R: i) inicialmente, 2x + 5y = 500 y = 100 – 0.4x pontos extremos (0; 100) e (250; 0); depois, ii) 2x + 10y = 500 y = 50 – 0.2x pontos extremos (0; 50) e (250, 0). 120 Y 100 py = 5€/u. 80 60 py = 10€/u. 40 20 0 0 50 100 150 200 250 X 300 Pela comparação das Fig.2.6, Fig.2.7 e Fig.2.8, vemos que uma alteração do rendimento é equivalente a uma alteração proporcional e de sinal contrário de ambos os preços. Por exemplo, o aumento do rendimento em 1% é equivalente à descida de ambos os preços em 1%. Isto traduz, e veremos com mais pormenor em ponto posterior, que uma alteração da RO pode ser decomposta numa alteração dos preços relativos (a rotação da RO) e numa alteração do rendimento (o deslocamento da RO). 2.3. Decisão do consumidor – Escolha do cabaz. Agora que já introduzi os conceitos de Curva de Indiferença e de Restrição Orçamental, podemos avançar para a decisão do consumidor que, sob o princípio de que o consumidor é optimizador, será a escolha do melhor cabaz possível (e que resulta da insaciabilidade). Em termos gráficos, vamos reunir um exemplo de uma restrição orçamental com uma curva de indiferença de nível de utilidade U1 (Fig.2.9). No caso representado, devido ao princípio da 48 insaciabilidade, qualquer cabaz à direita da CI e abaixo da RO é ainda possível de adquirir e existem nessa área cabaz melhores que os que se localizam em U1, (os contidos na zona azul). Fig.2.9 – Escolha do consumidor (1) Então, o cabaz óptimo obriga a considerar outra CI mais à direita e acima, por exemplo a CI de nível de utilidade U2 > U1. No entanto, ainda é possível a aquisição de cabazes melhores que os da curva U2 (a zona vermelha da Fig.2.10). Fig.2.10 – Escolha do consumidor (2) Na melhor das hipóteses, o consumidor pode escolher um cabaz sobre a CI cujo nível de utilidade é U3 > U2 > U1 (ver Fig.2.11). Neste caso limite, a CI é tangente à RO e o cabaz óptimo encontra-se exactamente no ponto de tangencia. Em termos matemáticos, no cabaz óptimo teremos que a taxa marginal de substituição é igual inclinação da Recta Orçamental: TMSxy = –px/py. 49 Fig.2.11 – Escolha do consumidor (3) Ex2.8: Sendo que um indivíduo tem de rendimento disponível 500€/mês que gasta em dois bens, (x, y), cujos preços unitários são 2€/u. e 5€/u. respectivamente, e os seus gostos se podem condensam-se na função de utilidade U(x,y) = x.y. i) Determine o cabaz óptimo. ii) verifique que o cabaz óptimo não se altera se a utilidade se condensar em V(x,y) = x4.y4. R: A inclinação da RO é –2/5 = –0.4. i) A TMSxy genérica é – U’x / U’y = –y/x. Então no cabaz óptimo (y/x = 0.4 e 2x + 5y = 500) (y = 0.4x e 2x + 2x = 500) (x, y) = (125, 50); ii) A TMSxy mantém-se, – U’x / U’y = – (3x2.y3)/(3x3.y3) = –y3/x3 = –y/x, pelo que o cabaz óptimo também se mantém. Generalização a cabazes em IRn: Podemos facilmente generalizar a primeira condição de optimização a cabazes com n bens ou serviços (havendo necessidade ainda de que se verifique a restrição orçamental). Esta forma é muito mais simples de memorizar. Em IR 2 , U '2 p U' U' 1 1 2 U '1 p2 p1 p2 Em IR n i, U 'i k pi Esta condição também garante que, apesar de a função de utilidade ser diferente de consumidor para consumidor, é possível que todos os consumidores igualem o mesmo preço de mercado à sua utilidade marginal. Apesar da função de utilidade ser diferente de pessoa para pessoa, utilidade marginal será igual para todos (a menos de um factor de escala). 50 Ex2.9: Um determinado aluno tem 600 € /mês de rendimento que pode gastar em alimentação (5€/u.), vestuário (10€/u) e habitação (100€/u.). Sendo que as seus gostos se podem condensar na função de utilidade U(a, v, h) = a.v.h, determine o cabaz óptimo do aluno. R: (a, v, h) = (40, 20, 2). Como temos três bens, temos que ter um sistema com três equações: U 'a U 'v U 'v U 'h ; ; a. pa v. pv h. ph 600 Resolvendo, vem pv pv ph pa 10v 5a a 2v a 40 v.h a.h a.h a.v ; ; 100h 10v h 0.1v h 2 10 10 100 5 10v 10v 10v 600 v 20 Formalização matemática do problema de optimização: A escolha do cabaz óptimo obriga a utilizar a (primeira) condição de optimização que foi obtida de forma gráfica. No entanto, podemos formalizar o problema de optimização do consumidor em termos matemáticos e resolvê-lo: ( x, y) : V MaxU ( x, y), sa x. p x y. p y r Este modelo de extremos com uma equação de ligação pode ser tratado genericamente utilizando a equação Lagrangeana (tema tratado aprofundadamente em Matemática I). Lx 0 U x . px 0 U x U y L U ( x, y ) .( x. px y. p y r ) Ly 0 U y . p y 0 px p y L 0 x. px y. p y r x. px y. p y r Também podemos resolver este problema de optimização por incorporação da equação de ligação na função a optimizar. Desta forma determina-se a quantidade de um dos bens, e.g., x: x : V MaxU ( x, r / p y x. px / p y ) E, substituindo a solução na equação de ligação, obtemos a quantidade do outro bem. Ex2.10: Um indivíduo tem 1000 €/mês de rendimento que pode gastar em alimentação (5€/u.) ou habitação (10€/u.) e os seus gostos condensam-se na função U(a, h) = a + 2h + a.h. Determine i) o seu cabaz óptimo; e ii) a elasticidade preço da procura de alimentos e a elasticidade preço-cruzado da procura de habitação. R: i) (a, h) = (100, 50). O problema é (a, h) : V Maxa 2h a.h, sa 5a 10h 1000 V Max(200 2h) 2h (200 2h).h V Max 200 200h 2h 2 200 4h 0 h 50 e a 100 . ii) Vou aumentar o preço de a em 1%: (a, h) : V Maxa 2h a.h, sa 5.05a 10h 1000 51 V Max(198.02 1.98h) 2h (198.02 1.98h).h V Max 198.02 198.04h 1.98h 2 198.04 3.96h h 50.005 e a 99 99 100 50.005 50 ea pa / 1% 1.005; eh pa / 1% 0.010 . 99.5 50.0025 Também se poderia calcular a elasticidade com a resolução para um preço genérico e o cálculo analítica da elasticidade ( x, y) : V Maxa 2h a.h, sa pa .a 10h 1000 505 1 h 2 a 1 pa .a 10 10h 2 pa a 10 pa pa 10 10h 2 pa 10h 1000 pa .a 10h 1000 p .a 10h 1000 h 49.5 0.1 p a a da pa 505 pa dh pa 0.1 0.1 ea pa . 2 1; ehpa . 0.01 dpa a dpa h 49.5 / pa 0.1 9.9 0.1 pa 505 / pa Carne\preço P. Vaca P. Porco P. Frango C. Vaca –0.65 0.01 0.20 C. Porco 0.25 –0.45 0.16 C. Frango 0.12 0.20 –0.65 Tab. 2.2 – Estimativa da elasticidade preço-cruzado da procurada (eqx,py) (Fonte: Besanko, 2ªed, Table 2.5) Efeito de uma alteração do preço: Quando se altera o preço de um bem ou serviço, resulta uma alteração em sentido contrário na quantidade consumida do bem ou serviço respectivo mas também é possível que ocorra uma alteração na quantidade consumida dos outros bens. Do aumento do preço resulta sempre numa diminuição da quantidade consumida do bem correspondente. Na Fig.2.12 representa-se uma diminuição do preço do bem 1. Fig.2.12 – Efeito de uma alteração do preço 52 Na Fig.2.12, quando o preço do bem 1 é px1, o cabaz óptimo a adquirir é o representado pelo ponto A. Quando ocorre uma diminuição do preço do bem 1, a recta orçamental roda para a esquerda pelo que o indivíduo pode passar para uma curva de indiferença mais à direita (melhor) da inicial. Desta forma passa a adquirir o cabaz representado pelo ponto B que tem maior quantidade do bem 1 (e do bem 2). Podemos ver o que acontece com o aumento do preço revertendo a análise (passar de px2 para px1). Bens substitutos, complementares e independentes: Quando o preço de um bem varia, a quantidade adquirida dos outros bens também varia. Quando acontece um aumento do preço do bem X, se a quantidade procurada do bem Y aumenta, então Y é um bem substituto do bem X. Se a quantidade procurada do bem Y diminui, então Y é um bem complementar do bem X. Se a quantidade procurada do bem Y se mantém, então Y é um bem independente do bem X. Notar que estas definições têm subjacente que existe um preço concreto para o outro bem e que estamos na condição de ceteris paribus. Efeito de uma alteração do rendimento: Quando o rendimento disponível aumenta, acontece um deslocamento da recta orçamental para a direita (e para cima) pelo que a situação do indivíduo melhora. O aumento do rendimento, em termos gerais, induz um aumento das quantidades adquiridas dos bens ou serviços considerados no cabaz (ver Fig.2.13). No entanto, também pode acontecer que a quantidade procurada de um (ou de alguns) dos bens ou serviços (mas nunca de todos devido ao princípio da insaciabilidade) diminua. Fig.2.13 – Efeito de um aumento do rendimento 53 Bens inferiores e bens normais (de primeira necessidade e de luxo): Se, quando o rendimento aumenta, a quantidade consumida aumentar, temos um bem ou serviço normal. De entre os bens normais, se a quantidade adquirida aumentar pouco (se a elasticidade da quantidade relativamente ao rendimento for menor que 1), temos um bem ou serviço de primeira necessidade; se a quantidade adquirida aumentar muito (se a elasticidade da quantidade relativamente ao rendimento for maior que 1), temos um bem ou serviço de luxo. Se, pelo contrário, a quantidade consumida diminuir, temos um bem inferior. Um exemplo de bem ou serviço inferior é a estadia em parques de campismo (em relação com a estadia em hotéis). Para um gestor de um produto interessa saber que tipo de bem coloca no mercado pois, por exemplo, se o seu produto for de primeira necessidade, as suas vendas vão evoluir de forma menos positiva que a economia no geral, passando-se o contrário em períodos de crise. Nota: Imaginando um preço genérico para os outros bens, podemos verbalizar estas definições em termos de reforço ou enfraquecimento da curva (ou função) de procura dos outros bens quando ocorre uma alteração do preço de mercado de um bem ou do rendimento do individuo. Efeito substituição e efeito rendimento: Quando se verifica uma alteração de um preço, por um lado, a recta orçamental roda e, por outro lado, desloca-se. O efeito substituição (também se pode considerar que é um efeito preço relativo) quantifica a alteração do cabaz que resulta da rotação da recta orçamental mas compensado o rendimento de forma que o indivíduo fica sobre a mesma curva de indiferença. O efeito rendimento quantifica a alteração do cabaz que resulta do deslocamento da recta orçamental (depois de introduzido o efeito substituição). Estes conceitos são importantes porque estão por detrás do cálculo da taxa de inflação (i.e., na escolha dos ponderadores utilizados no cálculo do índice de preço). Na Fig.2.14-1, inicialmente estamos na recta orçamental (e na CI) azul de que resulta o cabaz óptimo representado pelo ponto A = (a1, a2). Posteriormente, acontece um aumento do preço do bem 1 para o dobro, passando o cabaz óptimo a ser o representado pelo ponto B. Indo para a Fig.2.14-2, vemos que o efeito substituição se traduz pela alteração do cabaz do ponto A para o ponto A’ = (a1+ ESx, a2 + ESy) em que os preços são os novos mas o rendimento do indivíduo é compensado de forma a manter o mesmo nível de utilidade (RO cor de laranja). O efeito rendimento traduz-se pela passagem do cabaz do ponto A’ para o cabaz do ponto B = 54 (a1+ ESx + ERx, a2 + ESy + ERy) e mede quanto o indivíduo piora pela não compensação do rendimento. Fig.2.14-1 – Efeito substituição e efeito rendimento Fig.2.14-2 – Efeito substituição e efeito rendimento Reparar que o aumento do preço de um bem ou serviço tem como efeito substituição a diminuição da quantidade procurada do bem cujo preço aumenta (na Fig.2.14-2, ESx < 0) e o aumento da quantidade procurada de todos os outros bens ou serviços, (na Fig.2.14-2, ESy > 0) e vice-versa. Também podíamos decompor o efeito total determinando primeiro o efeito rendimento (mantendo os preços iniciais e deslocando a RO para a nova CI) e depois determinando o efeito substituição (rodando a RO sempre tangente à nova CI). Os preços evoluem ao longo do tempo e, no fim de cada período (e.g., cada ano), nas negociações salariais o trabalhador procura retornar, em termos de utilidade, pelo menos à 55 situação de partida, i.e., voltar do ponto B para o ponto A’. Sendo que nessa negociação é tido em conta a evolução dos preços (i.e., a taxa de inflação), então, a compensação do rendimento necessária para voltar à situação inicial, em termos percentuais, será a exacta medida dessa taxa de inflação. EX2.11. (contas corrigidas, 28-10) Um indivíduo tem de rendimento disponível 500€/mês que gasta na aquisição de dois bens, (x, y), cujos preços unitários são 5€/u. e 10€/u., respectivamente, e os seus gostos podem-se condensar na função de utilidade U(x,y) = x + 2y + x.y. i) Quantifique o efeito substituição e o efeito rendimento nos bens x e y de um aumento do preço de x para 10€. ii) Determine a taxa de inflação. x 50 1 y 2 x 10(1 y ) 5(2 x) 2 y x R: 5 y 25 10 10 y 10 y 500 U 1350 5 x 10 y 500 Vou determinar o cabaz que, com os novos preços, mantém o nível de utilidade U = 1350: 1 y 2 x 10 10 y x 1 10(1 y ) 10(2 x) x 2 x 2 x 2 x 1350 x 2 y x. y 1350 10 x 10 y R x 2 4 x 1348 0 x 34,77u. y 35,77u. _ R 705,40€ O efeito substituição em x é 34.77–50 = –15.23u. e em y é 35.77–25 = +10.77u. O efeito rendimento é a diferença para o novo cabaz óptimo: U ' x U ' y 1 y 2 x 10(1 y ) 10(2 x) y x 1 P P 10 10 y x 20 y 10 500 P .x P . y R 10 x 10 y 500 x y x 24.5; y 25.5 O efeito rendimento em x é 24.5 – 34.77 = –10.27u. e em y é 25.5–35.77 = – 10.17u. ii) Para manter o nível de utilidade seria necessário, para adquirir x =34.77u. e y = 35.77u., aumentar o rendimento para 705.40€: a inflação foi de 705.40/500–1 = 41.1%. 56 Dificuldade empírica de determinação do rendimento compensado: Como a função de utilidade não é observável, não é empiricamente possível determinar qual a compensação do rendimento necessário para que o individuo volte ao mesmo nível de utilidade. Então, não é possível determinar a “verdadeira” taxa de inflação. Como, em termos empíricos, apenas é conhecido o perfil de consumo do indivíduo (i.e., o cabaz A e o cabaz B) e os preços de mercado, teremos que os usar para obter uma estimativa da taxa de inflação. Existem duas alternativas. Na primeira, denominada de índice de Laspeyres (ver Fig.2.15), compara-se a despesa inicial, p x , 0 x0 p y , 0 y0 , com a despesa “final” p x ,1 x0 p y ,1 y0 que seria necessária para voltar a adquirir, aos novos preços (px,1; py,1), o cabaz de bens adquirido inicialmente, i.e., o cabaz A = (x0; y0),: I L px ,1 x0 p y ,1 y0 / px ,0 x0 p y ,0 y0 . Fica claro na figura que, se o rendimento for actualizado com a medida da taxa de inflação de Laspeyres, quando a inflação é positiva, o consumidor fica numa situação melhor que a do início do período (pois, com a RO cor de laranja, pode atingir uma curva de indiferença superior à inicial). Fig.2.15 – Compensação do rendimento com o índice de Laspeyres Na segunda alternativa, denominada de Índice de Paasche (ver Fig.2.16), compara-se a despesa final, px ,1 x1 p y ,1 y1 , com a despesa “inicial” px , 0 x1 p y ,0 y1 que seria necessária para adquirir, aos preços antigos (px,0; py,0), o cabaz de bens adquirido actualmente, i.e., o cabaz B = (x1; y1): I L px ,1 x1 p y ,1 y1 / px ,0 x1 p y ,0 y1 . 57 Com inflação positiva, como a situação no fim do período (cabaz B), é pior que a prevista pela RO cor de laranja (pois esta permitiria adquirir um cabaz melhor que B), se o rendimento for actualizado com a medida da taxa de inflação de Paasche, o consumidor fica numa situação pior (pois, com a RO cor de laranja, poderia atingir uma curva de indiferença superior à actual: quantifica-se na Fig.2.16 a perda de rendimento a verde). As diferenças entre os índices dão uma medida do erro da estimativa da inflação. Para alterações pequenas dos preços relativos, as diferenças entre os índices são pouco expressivas. Fig.2.16 – Compensação do rendimento com o índice de Paasche Voltando ao EX2.11: iv) Determine a taxa de inflação segundo Laspeyres e Passche. R: iv) – (contas corrigidas 5Nov) Inicialmente o rendimento era 500€/mês e o cabaz óptimo era x = 50 e y = 25. Segundo o Índice de Laspeyres, torna-se necessário o rendimento de 750€/mês (50x10 + 25x10) para comprar o cabaz inicial aos novos preços pelo que a estimativa para a taxa de inflação é de 50% (superior à “verdadeira” que é 41.1%). Segundo o Índice de Passche, seria suficiente o rendimento de 377.50€/mês (24.5x5+25.5x10) para comprar o cabaz actual aos preços anteriores pelo que a estimativa para a taxa de inflação é 500/377.5 – 1 = 32.5% (inferior à “verdadeira” que é 41.1%). Sobre o cabaz de Laspeyres anda-se para esquerda (i = 750/500 – 1) enquanto que sobre o cabaz de passche anda-se para a direita (i = 500/377.5 – 1). Apenas consideramos uma alteração dos preços (entre dois períodos). Se considerarmos mais períodos (ver, tab. 2.3), o índice de Paasche vai ser calculado com um “cabaz variável” (o de cada período), enquanto que o índice de Laspeyres vai ser calculado com um “cabaz fixo” (o do período base). 58 Tab. 2.3 – Comparação do índice de Paasche com o índice de Laspeyres F2: =B2*C2+D2*E2 G2: =B2*$C$2+D2*$E$2 I2: =$B$2*C2+$D$2*E2 J2: =I2/$I$2 H2: =F2/G2 Por ser mais fácil de construir e favorecer os consumidores, o índice de preços ao consumidor usa o método de Laspeyres, actualizado o cabaz a intervalos de tempo espaçados. Em Portugal, o Índice de preços no Consumidor é um índice de Laspeyres calculado com base em 2002 usando os seguintes ponderadores das classes de consumo (dados: INE, IPC - base 2002 - Nota Metodológica, 2003): Classe Ponderação Alimentação e bebidas não alcoólicas 20,081% Bebidas alcoólicas e tabaco 3,017% Vestuário e calçado 6,965% Habitação, água, gás e outros combustíveis 10,029% Acessórios para o lar, equipamento doméstico e manutenção corrente da habitação 8,055% Saúde 5,642% Transportes 19,130% Comunicações 3,439% Lazer, recreação e cultura 5,009% Educação 1,502% Restaurantes e hotéis 10,790% Bens e serviços diversos 6,341% Tab. 2.4 – Ponderadores do IPC - Portugal, 2002 como ano base (dados: www.ine.pt) Determinação da curva de procura individual: Quando, no capítulo 1, falamos do mercado, referi que a curva de procura de mercado (que não é directamente observável) resulta da soma das curvas de procura individuais dos agentes económicos. Então, se conseguirmos obter uma teoria de que resultem curvas de procura individuais com propriedades adequadas (serem decrescente com o preço), então fica justificado teoricamente a existência da curva de procura de mercado (e a conjectura de que é decrescente com o 59 preço). A obtenção de uma curva de procura particular vai estar dependente dos gostos e preferências do indivíduo e do seu rendimento disponível. Vamos obter a curva da procura resolvendo o problema de maximização da utilidade considerando o preço do bem x como variável e o preço do bem y e o rendimento disponível como parâmetros (variáveis exógenas). Sendo o indivíduo optimizador, então resolve: U x U y py X ( p) : px x. p y. p r y x Ex2.12: Sendo que um indivíduo tem de rendimento disponível 500€ que gasta em dois bens, A = (x, y), cujos preços unitários são px e 2€/u., respectivamente, e os seus gostos se condensam na função de utilidade U(x,y) = x.y, determine a curva de procura individual x(px). y x 2 y x. px 250 R: A curva de procura será px 2 que é x x . p x . p 500 p x x x x. p 2 y 500 x decrescente com o preço do bem x. Ex2.13: Um indivíduo tem de rendimento R que gasta no cabaz, A = (x, y), cujo preço unitário é P = (px, py), e os seus gostos condensam-se na função de utilidade U(x, y) = x2.y. Classifique os bens que fazem parte do cabaz. p R y x. x y 2 x. y x 2 U ' x U ' y 2 2 py 2 x. y. p y x px 3 py py p y px px x. px y. p y R RO x. p y. p R x. p x. p x . p R x 2R x y x y 2 py 3 px err , y y 'R . 3p 3p R 1 R 2 .R. y 1; er , x x'R . .R. y 1; e py, x 0; e px, y 0 y 3 py R y 3 py 2R Os bens x e y são bens normais com elasticidade da procura relativamente ao rendimento unitária e são bens independentes entre si. Função de utilidade indirecta: O cabaz que o indivíduo vai adquirir está dependente do seu rendimento (e dos preços). Então, matematicamente, eu posso calcular a função de utilidade indirecta como o nível de utilidade que o indivíduo atinge para cada rendimento (sob a suposição de que escolhe o cabaz óptimo). Esta função é crescente com o rendimento (o que resulta da insaciabilidade). 60 V (r ) Max{U ( x1, x2 ), s.a. p1.x1 p2 x2 r}, V ' (r ) 0 Esta função será posteriormente utilizada, por exemplo, no estudo do comportamento sob risco e na Teoria do Produtor. Curva de Engel: A função que relaciona a quantidade adquirida com o rendimento denomina-se por Curva de Engel. Na Macroeconomia esta curva (agregando todos os bens e serviços) é denominada por Curva de Consumo e é assumida positiva e crescente com o rendimento, tendo, sem perda de generalidade, forma funcional C = C0 + k.R, em que C0 é o consumo autónomo e k é a propensão marginal ao consumo (0 < k < 1 se o rendimento estiver nas mesmas unidades que a quantidade consumida). Ex2.14: Sendo que um indivíduo tem de rendimento disponível r que gasta em dois bens, A = (x, y), cujos preços unitários são px. e py, respectivamente, e os seus gostos se podem condensam-se na função de utilidade U(x,y) = x.(1 + y). i) Determine a curva de procura individual x(px) e y(py). ii) determine a elasticidade preço da procura, a elasticidade preço cruzado da procura e a elasticidade rendimento da procura do bem x quando r = 1000€/mês, px = 10€/u. e py = 10€/u.; iii) determine a função de utilidade indirecta. R: i) Como temos 2 bens, temos que resolver um sistema com duas equações: x 1 y (1 y ). p y x. p x r py r py p p y( p y ) ; x( p x ) 1 x y 2 py 2 px (1 y ). p y y. p y r x. p y. p r x y ii) ex( px ) x' ( px ) ex( p y ) x' ( p y ) ex(r ) x' (r ) py x r py r py px 2 px 990 px < 0. 2 x 2 px r p y 2 px r p y 1010 2 px py 1 2 px 10 py < 0 (complementares). 2 px 2 Px r p y 2 Px r p y 1010 r 1 2 px r 1000 r x 2 px 2 px r p y 2 px r p y 1010 que é >0 e <1 (primeira necessidade). r p y r p y (2 Px r p y )( r p y ) 1 iii) V (r ) x.(1 y ) 1 2 px 2 p y 4 px . p y 61 Excedente do consumidor: Como a função de procura resulta do problema de maximização da utilidade do indivíduo, então existe uma relação entre esta função e a função de utilidade (que é uma escala do bem-estar do indivíduo) que não é observável: U' U 'x U ' y U U ' x y px k . px px py py x Sendo que U é uma função, então nesta expressão px deixa de ser um valor para ser a função de procura explicitada em ordem ao preço (função de procura inversa). Se, e.g., a função de procura fosse dada por x(p) = A + B.p, a função inversa viria dada em por p(x) = (x – A)/B. Como existe esta relação entre o preço e a derivada da função de utilidade, podemos algebricamente calcular o ganho de bem-estar invertendo a operação de derivação: x U k . px U k . px .x U ( x) U (0) k . px .x 0 x A partir da observação do mercado, não conseguimos estimar U(0) nem k. No entanto, como a função de utilidade é ordinal, podemos construir uma função utilidade equivalente à que desconhecemos partindo apenas da curva de procura: Ec( x) U ( x) U (0)/ k px .x . Esta x 0 função denomina-se por Excedente do Consumidor e é uma medida de quando o indivíduo aumenta o seu bem-estar por poder comprar a quantidade x do bem ou serviço e vem dada em unidades monetárias (i.e., euros). Em termos gráficos, o excedente do consumidor vem dado pela área que fica abaixo da função de procura e acima do preço de transacção (ver, Fig.2.17). Fig.2.17 – Excedente do Consumidor Em termos matemáticos, como a integração é a operação inversa da derivação, se g(x) = f(x)’, então f(x) = C + g(x). A integração é um ponto programático a tratar aprofundadamente em 62 Matemática II. Se, por exemplo, a curva de procura é q = 100 – 5.p, se o preço de mercado for P = 10€/u. (e Q = 50u.), o excedente do consumidor será (comparar com a área do triangulo): Q q 100 5 p p 20 0.2q E.c(q) (20 0.2q).x 20Q 0 0.2 2 .Q 2 E.c(50) 500 250 250€ Se o preço de transacção aumentar, então o excedente do consumidor diminui (ver, Fig.2.17). Será que se, relativamente ao equilíbrio (de concorrência), o preço diminuir, aumenta necessariamente o excedente do consumidor? 2.4. Aplicações Neste ponto aplicamos a teoria do consumidor a alguns exemplos de políticas do governo. Estas políticas, por actuarem ao nível dos preços e das quantidades transaccionadas de determinados bens ou serviços, denominam-se por microeconómicas (por oposição às políticas macroeconómicas). Pretende-se ainda neste ponto que o aluno compreenda o que é a taxa de juro e como actua na estabilização da economia. 2.4.1. Combate à exclusão: Subsídio em dinheiro ou em espécie. Desconto no preço. Uma economia para progredir tem que criar incentivos para que os agentes económicos revelem as suas capacidades, arrisquem novas soluções e criem novos bens ou serviços de maior valor. Estes incentivos têm como efeito acessório o surgir de assimetrias no rendimento: o motor do progresso tem a exclusão como dano colateral. Não se pode por em causa o benefício que resulta da existência de liberdade económica (i.e., o modelo capitalista) porque tem esta falha. Até porque o modelo económico alternativo (a economia planificada) não funciona. Devemos antes imaginar mecanismos que, dentro da economia de mercado, ultrapasse as suas (relativamente pequenas) falhas. Por exemplo, vamos supor que existem dois polícias em que um deles corre muito mais rápido que o outro (mas o “chefe” não sabe qual). Numa economia igualitária, como ambos ganham o mesmo salário, então o que corre mais rápido vai esconder essa capacidade (para não se cansar tanto). Numa economia de mercado, como será dado um salário maior ao polícia que capturar mais fugitivos, então o que corre mais vai revelar a sua capacidade (correndo a toda a velocidade atrás deles). Sendo que a falta de recursos é a principal causa de exclusão, as políticas dos governos de combate à exclusão passam pela atribuição de subsídios (em dinheiro ou em espécie). Em Portugal no ano de 2008, a principal política de combate à exclusão social é o Rendimento de 63 Reinserção Social que se traduz num subsídio em dinheiro de 177.05€/mês para os adultos e 88.50€ para as crianças. A atribuição de subsídios em espécie traduzem-se na oferta de bens ou serviços de primeira necessidade (alimentação, habitação, assistência médica, ensino, cabeleireiro, etc.), mas, pelas razões que vamos explicar usando a Teoria do Consumidor, apenas se justifica a pessoas com uma desarticulação social de especial gravidade (e.g., toxicodependentes, sem abrigo, dementes, crianças e idosos). No entanto, em Portugal o Serviço Nacional de Saúde e o Sistema Público de Ensino tem cobertura universal. Subsídio em dinheiro: Na Teoria do Consumidor, a atribuição de um subsídio em dinheiro induz um aumento do rendimento. Sendo que o indivíduo acrescenta o subsídio s ao rendimento r e gasta ambos na aquisição dos bens X e Y, então passará a ter como recta orçamental x.px + y.py = r + s. Esta nova recta orçamental ficará localizada à direita da RO sem subsídio pelo que o nível de consumo (e consequente bem-estar) do indivíduo aumenta (ver, Fig.2.18). Fig.2.18 – Efeito da atribuição de um subsídio em dinheiro Ex2.15: Uma família, formada por dois adultos e três crianças, tem como único rendimento um salário líquido de 400€/mês que gasta em vestuário e alimentação cujos preços são 5€/u. e 2.5€/u., respectivamente. Os gostos e preferências da família podem ser condensados na função de utilidade U(v, a) = a2.v0.5. Se lhes for atribuído 300€/mês de RSI, calcule em quanto aumentará o consumo da família. R: Vamos introduzir no sistema de equações o subsídio em dinheiro como o parâmetro s: 64 2.a.v 0.5 0.5.a 2 .v 0.5 8v a a 128 0.32s . Substituindo s por 300, 5 2.5 20 v 5 v 400 s v 16 0 . 04 s 2.5a 5v 400 s resultam mais 96 unidades de alimentação e mais 12 unidades de roupa (por mês). Subsídio em espécie: Neste caso, também vai existir um deslocamento da recta orçamental para a direita mas não se desloca a totalidade da recta (supondo que o indivíduo não vende os bens que recebe). Na Fig.2.19 podemos ver que o deslocamento da recta orçamental induzido pela oferta da quantidade s do bem 1 causa uma quebra na RO. No exemplo apresentado da Fig.2.19, a atribuição do subsídio em espécie é equivalente à atribuição do subsídio em dinheiro (pois a CI atingida é a mesma). Fig.2.19 – Efeito da atribuição de um subsídio em espécie (1) No exemplo apresentado na Fig.2.20 já podemos ver que, a atribuição do subsídio em espécie é menos favorável (para o indivíduo) que o correspondente subsídio em dinheiro (pois a CI atingida é inferior). Se fosse atribuído um subsídio em dinheiro, o indivíduo podia adquirir o cabaz representado no ponto C e atingir a CI de nível U3. O subsídio em espécie (a quantidade s do bem 1) permite adquirir o cabaz B e atingir a CI de nível U2 que é menor que U3. 65 Fig.2.20 – Efeito da atribuição de um subsídio em espécie (2) Em termos algébricos, resolve-se o modelo de optimização acrescentando o subsídio em espécie como se fosse em dinheiro. Se a solução cair fora da zona possível, a solução será exactamente a quantidade do subsídio. Por exemplo, se o subsídio for a dadiva da quantidade s do bem 1, a solução estará fora da restrição se a1 < s, sendo que neste caso o cabaz será a1 = s e a2 = r/p2. Ex2.16: Uma família, formada por dois adultos e três crianças, tem como único rendimento um salário líquido de 400€/mês que gastam em vinho e alimentação cujos preços são 5€/u. e 2.5€/u., respectivamente. Os gostos e preferências da família podem ser condensados na função de utilidade U(v, a) = a.v10. Se lhes for atribuído um subsídio de 120u. de alimentação (cujo valor pecuniário é 300€/mês), calcule em quanto aumentará o consumo da família. R: Vamos introduzir no sistema de equações o subsídio em dinheiro como o parâmetro s: 0.5.a 0.5 .v10 10.a 0.5 .v 9 a 0.1v a 7.62 5.71 a 13.33 2.5 5 0.25v 5v 400 2.5s v 76.19 57.14 v 133.33 2.5(a s ) 5v 400 Como a solução algébrica não verifica a condição a ≥ s, o cabaz consumido será a = 120u. (aumenta 102.38u.) e v = 400/5 = 80u. (aumenta 3.81u.). Se o subsídio fosse em dinheiro, a maior parte iria para vinho (aumentava 57.14u.). Desconto no preço: Será uma situação intermédia entre a atribuição de um subsídio em dinheiro e um subsídio em espécie, havendo um reforço maior do bem cujo preço tem um desconto. Em termos gráficos, vai induzir uma rotação da recta orçamental no sentido da expansão das possibilidades de consumo. 66 Fig.2.21 – Efeito da atribuição de um desconto no preço Ex2.17: Uma família, formada por dois adultos e três crianças, tem como rendimento um salário líquido de 400€/mês que gastam em vinho e alimentação cujos preços são 5€/u. e 2.5€/u., respectivamente. Os gostos e preferências da família podem ser condensados na função de utilidade U(v, a) = a.v10. Se lhes for atribuído um desconto no preço da alimentação de 2.35€ calcule o aumento do consumo da família e o rendimento equivalente. 0.5.a 0.5 .v10 10.a 0.5 .v 9 v 0.6a a 126.98 2.5 2.35 5 R: 0.15a 3a 400 v 76.19 (2.5 2.35)a 5v 400 RE : 2.5a 5v 698.41€ / mês Notar que, como se pretendia, a quantidade adquirida de alimentação aumentou sem aumentar a quantidade adquirida de vinho. Assim, a atribuição de um desconto no preço também é eficaz na condução do consumo na direcção pretendida (mas não aplicável, por exemplo, aos dementes ou às crianças). A atribuição de um desconto no preço (do bem que se quer ver o consumo aumentado) tem a vantagem de poder ser auxiliado pela imposição de um imposto no preço (do bem que se quer ver o consumo diminuído) e assim tornar nula a despesa pública da política de alteração do padrão de consumo. Exemplo desta combinação de políticas é a tributação dos combustíveis e a atribuição de subsídios aos transportes públicos colectivos. A atribuição de um subsídio em dinheiro permite que o subsidiado atinja um nível de bemestar (dado pela sua função de utilidade) superior a um desconto no preço ou a um subsídio em espécie. Nos ex2.15 a 2.17, Udinh = 4.35E21 > Udesc = 1.07E21 > Uesp = 0.84E21. No 67 entanto, quando os gostos e preferências do indivíduo estão de tal maneira danificados (e.g., toxicodependentes) que socialmente as suas opções são contrários ao “seu” bem-estar, a atribuição de desconto no preço ou de um subsídio em espécie são políticas mais eficazes na condução do consumo na direcção socialmente considerada mais conveniente. Restarão sempre algumas situações em que apenas os subsídios em espécie são eficazes. 2.4.2. Função de oferta de trabalho. Podemos imaginar a economia como dois agentes económicos, as empresas e as famílias, em que as famílias procuram (e consomem) bens e serviços e oferecem trabalho e as empresas procuram trabalho e oferecem bens e serviços (ver Fig.2.22). Para as famílias, o aumento do consumo tem um efeito positivo no seu nível de bem-estar enquanto que o aumento das horas de trabalho tem um efeito negativo no bem-estar. Fig.2.22 – O circuito económico com Famílias e Empresas Considerando que i) podemos agregar todos os bens e serviços numa mercadoria compósita, X, cujo preço unitário é 1 (é o numerário), ii) que o indivíduo nasce com uma quantidade de tempo disponível, L0, que pode consumir como lazer, L, ou vender como trabalho, T = L0 – L, cujo preço unitário é w (o salário real unitário), então podemos facilmente aplicar a Teoria do Consumidor na determinação da função de oferta de trabalho do indivíduo. ( X , L) : V MaxU ( X , L), sa X ( L0 L).w Precisamos formalizar a função de utilidade para podermos determinar uma forma funcional para L(w) e, consequentemente, uma curva de oferta de trabalho, T(w) = L0 – L(w) 68 A recta orçamental vem dada por X = (L0 – L).w (é gasto todo o salário na aquisição do bem X ao preço unitário) e tem a forma explícita L = L0 – X/w (a RO intersecta o eixo do lazer em L0 e o eixo dos bens e serviços em L0.w (ver Fig.2.23). Fig.2.23 – Oferta de trabalho (1) Ex2.18: Supondo L0 = 100 horas/semana e que os gostos e preferências da família podem ser condensados na função de utilidade U(X, L) = 2L + X.L. Determine a função oferta de trabalho da família. L 2 X X Lw 2 L 50 1 / w R: 1 T ( w) 50 1 / w . w Lw 2 (100 L) w X 50w 1 X (100 L) w É importante notar que uma alteração do salário unitário não altera o ponto de intersecção da RO com o eixo do lazer porque esse ponto vale sempre L0. Assim, um aumento do salário é equivalente a uma diminuição do preço dos bens e serviços e vice-versa pelo que não tem como efeito, obrigatoriamente, um aumento da quantidade oferecida de trabalho (ver Fig.2.24 onde se representa uma diminuição da quantidade oferecida de trabalho). 69 Fig.2.24 – Oferta de trabalho (2) A evidência empírica é no sentido de corroborar que, nos países onde o salário unitário é relativamente elevado, a curva de oferta de trabalho é decrescente (ver Fig.2.25, dados da curva de oferta individual de trabalho dos USA retirados de Burda and Wyplosz, 2005, tabela 4.1, p. 76, transformados assumindo que cada ano tem 52 semanas, T em horas por semana e w é um índice do salário real normalizado a w1870 = 1). 8 w 2000 7 6 5 4 3 2 1870 1 0 30 35 40 45 50 55 T60 Fig.2.25 – Curva de oferta de trabalho, USA, 1870-2000, Burda and Wyplosz (2005) 2.4.3. Taxa de juro, consumo e poupança. O princípio da insaciabilidade parece excluir que a Teoria do Consumidor possa explicar a existência de poupança. No entanto, esse resultado depende de termos considerado até agora que a decisão do agente não tem em atenção o futuro (o modelo também é válido sob o pressuposto de que o indivíduo tem vida infinita e que os valores assumidos pelas variáveis se mantêm constantes para sempre). No sentido de estudarmos a influência da taxa de juro no 70 consumo e na poupança, vamos agora estudar uma situação que se desenvolve ao longo do tempo. Em termos de modelação, vamos considerar períodos de tempo distintos, começamos a análise pelo último período de vida e andamos para traz no tempo. Está metodologia denomina-se por Backward Induction. Último período: Assumindo que o indivíduo i) vive o seu último período, ii) no início do qual recebe o activo S, iii) e durante o qual obtém o rendimento r0. O princípio da insaciabilidade garante que o indivíduo gastará S + r0 na aquisição do bem ou serviço compósito X0 ao preço p0. O índice zero traduz que já não lhe resta mais nenhum período de vida. X 0 (S r0 ). p0 Penúltimo período: Vamos agora assumir que o indivíduo i) vive o seu penúltimo período, ii) no início do qual recebe a riqueza h1 (que também poderíamos denominas por S1), iii) e durante o qual obtém o rendimento r1. O indivíduo tem como rendimento h1 + r1 podendo gastar parte na aquisição de bens ou serviços (X1 ao preço p1) e poupar a parte S que transitará para o período futuro (mais o juro). Sendo que condensamos os gostos e preferências do indivíduo na função de utilidade U(x1, x2) = u(x1) +u(x0) e que a poupança é remunerada à taxa de juro R por período, então a recta orçamental será x1.p1 + x0.p0 = h1 + r1 + S.R + r0 onde S = (h1 + r1 – x1.p1) quantifica a poupança do período presente. Apesar de o modelo incorporar o que se vai passar no período futuro (o período de índice zero), a decisão quanto ao consumo e à poupança é tomada no período presente (o período de índice um). Esta questão é importante se pensarmos que o rendimento e o preço do último período são previsões (o modelo é aplicável no estudo da informação imperfeita: com incerteza e expectativas). Re-arranjando a RO na forma “descontada” e na forma explícita em relação ao presente (sem inflação, i.e., p = p1 = p0): x1. p x0 . p r r 1 h1 r1 0 ; x1. h1 r1 0 / p x0 . 1 R 1 R 1 R 1 R Quando há um aumento da taxa de juro (de Ra para Rb, ver Fig.2.26), A RO roda em torno do ponto (r0/p0, r1/p1) no sentido do bem futuro (porque o seu preço “diminui”, p0/(1 + R), e desloca-se para baixo porque o “rendimento” futuro, r0/(1 + R), também diminui). 71 Fig.2.26 – Efeito na Recta Orçamental de um aumento da taxa de juro No caso de o indivíduo apenas ter rendimento no período presente (porque no futuro está reformado), a alteração da RO apenas sofre o efeito da “diminuição” do preço futuro. No caso de o indivíduo apenas ter rendimento no período futuro (crianças que andam a estudar), a alteração da RO sofre o efeito do “aumento” do preço presente. Apesar de na realidade não haver alterações dos preços ou dos rendimentos, a taxa de juro faz diminuir o consumo (no período presente) e, consequentemente, aumentar a poupança e o consumo planeado para o período futuro (ver Fig.2.27). Notar estar neste modelo a fundamentação teórica para as intervenções dos Bancos Centrais: Sendo que se pretende manter um nível de preços estáveis e, no presente, há um excesso de consumo que pressiona uma subida de preços (i.e., inflação), a forma de diminuir o consumo (e controlar a inflação) é através de uma subida da taxa de juro (neste caso, inicialmente o indivíduo pretendia endividar-se mas o aumento da taxa de juro faz com que equilibrasse o orçamento: o cabaz caminha no sentido do ponto de rotação). Fig.2.27 – Efeito no consumo de um aumento da taxa de juro (de R0 para R1) 72 Ex2.19: Supondo indivíduo cujo um rendimento é de r = 100€/mês, que vive este e mais outro mês, que consome um bem ou serviço compósito X cujo preço é 5€/u., que os gostos e preferências podem ser condensados na função de utilidade U(x1, x0) = x1+x0. Determine a função de poupança. 0.5 / x1 0.5 / x0 x0 (1 R) 2 x1 x0 20(1 R) 100 R 5 5 /( 1 R ) R:; s( R) 20 2 R 1 R 5 100 x1 (2 R) 20 x1 1 R 5 x x . 100 1 R 1 0 1 R 1 R O modelo pode ser estendido a vários períodos, começando a análise sempre no último. 2.4.4. Risco. O risco surge de o indivíduo não ter conhecimento perfeito do que vai acontecer no período futuro. Assim, os modelos que o incorporam traduzem a relaxação de que existe conhecimento público e perfeito. Existem autores quem distinguem o risco da incerteza mas não tem relevância. Vamos considerar um modelo de uma lotaria simples. No entanto, este modelo é de aplicação mais genérica (o que faremos no capítulo da teoria do produtor). A aplicação da teoria do consumidor ao estudo do risco obriga a que a função de utilidade seja semi-cardinal. Quer isto dizer que não basta que a função de utilidade atribua um número maior aos cabazes melhores mas tem que dar uma medida da proporção relativa de valor dos cabazes. Por exemplo, terá que dizer que o cabaz A é 3 vezes melhor que o cabaz B. Lotaria: O indivíduo pretende escolher entre a quantia r certa (sem risco) e uma lotaria da qual pode ganhar o valor P0 com a probabilidade q ou P1 com a probabilidade (1 – q). A decisão vai ser em termos de valor esperado. Sendo V(r) o nível máximo de utilidade que o indivíduo atinge com o rendimento r, V (r ) Max U ( x, y ), sa x. px y. p y r , o indivíduo vai comparar V(r) com a utilidade esperada da lotaria e escolher a opção a que corresponder maior valor: se V (r ) V ( P0 ).q V ( P1 ).(1 q) Lotaria; senão r Ex2.20: Um indivíduo ganha actualmente 600€/mês que gasta em vestuário e alimentação cujos preços são 5€/u. e 2.5€/u., respectivamente e os seus gostos e preferências podem-se 73 condensar na função de utilidade U(a, v) = a0.5.v0.5. Se se despedir, tem 40% de probabilidade se arranjar um novo emprego cujo salário é 1000€/mês mas pode não o arranjar e ficar reduzido a ganhar apenas 400€/mês. Será de se despedir? R: Primeiro, determinamos a função utilidade indirecta V(r): 0.5.a 0.5 .v 0.5 0.5.a 0.5 .v 0.5 a 2v a 0.2r V (r ) 0.020.5 r 2.5 5 5 v 5 v r v 0 . 1 r 2.5a 5v r Segundo, comparamos o certo com o valor esperado: V (600) ?? 0.4V (1000) 0.6V (400) 0.020.5 600 ?? 0.4 0.020.5 1000 0.60 0.020.5 400 84.85 90.51 Conclui-se que se deve despedir e tentar a sua sorte. Aversão / neutralidade / atracção pelo risco: Vamos supor a situação em que o rendimento fixo (sem risco) é igual ao rendimento esperado (médio) da lotaria (com risco). Neste caso, se o indivíduo preferir o rendimento fixo, é avesso ao risco (risk averse); se estiver indiferentes, é neutro ao risco (risk neutral), se preferir a lotaria, é atraído pelo risco (risk lover). No Ex2.20, o indivíduo é neutro ao risco: se a lotaria fosse ganhar 900€/mês com 40% de probabilidade ou 600€/mês com 60% de probabilidade, o valor esperado (médio) seria exactamente o que ganha agora, i.e., 600€/mês e teríamos uma igualdade nas utilidades: 0.02 0.5 600 ?? 0.4 0.020.5 900 0.60 0.020.5 400 84.85 84.85 2.4.5. Capital humano e crescimento económico endógeno. A evidência empírica mostra que o aumento da escolaridade é o principal factor que justifica a tendência secular do crescimento económico per capita. Em termos estáticos, a capacidade de um indivíduo criar riqueza é crescente com a sua escolaridade e, em termos dinâmicos, os pais transmitem aos filhos um nível de escolaridade superior ao seu. Como a escolarização dos filhos implica que os pais diminuam o rendimento disponível para consumo, para racionalizarmos este comportamento teremos que assumir que os pais incorporam na sua função de utilidade o bem-estar futuro dos filhos, i.e., os pais são altruístas. Vamos assumir que i) o rendimento é linearmente crescente com a escolaridade, R = k.E, e que ii) quem não tem filhos maximiza o bem-estar consumindo os bens x e y cujos preços são unitários. iii) Sendo a função de utilidade U(x, y) = x.y, teremos como função utilidade indirecta: 74 x y x 0.5kE V (k.E ) 0.25k 2 E 2 1 1 y 0.5kE x y kE Vamos ainda supor que iv) quem tem filhos, gasta parte do rendimento na sua escolarização e v) inclui na sua utilidade, a utilidade dos filhos. Supondo que vi) escolarizar os filhos tem um preço unitário p, teremos para os pais altruístas com n filhos: VP (k .E0 ) V (k .E0 n. p.E ).V (k .E ) n Então, os pais altruístas vão determinar o nível de escolaridade dos filhos que maximiza esta nova medida de bem-estar: VP (k .E0 ) V (k .E0 n.E. p ).V (k .E ) n VP (k .E0 ) 0.25(k .E0 n.E. p ) 2 .0.25n k 2 n .E 2 n dVP 0.5(k .E0 E. p )( n. p ).0.25n k 2 n .E 2 n 0.25(k .E0 n.E. p ) 2 .0.25n k 2 n .2nE 2 n 1 0 dE k E E0 (1 n). p Análise de estática comparada. Podemos agora estudar como evolui a escolaridade de geração para geração com as diversas variáveis exógenas do modelo (o número de filhos, o preço da escolaridade e a “produtividade” da escolaridade). Apenas haverá progresso se os pais tiverem poucos filhos (n pequeno), se o aumento do rendimento com a escolaridade for elevada (k elevado) e se o preço da escolarização for baixo (p pequeno): E E0 sse k k 1 p (1 n). p 1 n Não precisamos de supor que os pais antecipam que o bem-estar dos filhos vai depender da escolaridade dos netos para modelizarmos um processo dinâmico de progresso económico. 2.4.6. Contabilidade do bem-estar. Como os gostos e preferências dos indivíduos são codificados em funções de utilidade ordinais, então não podemos comparar os indivíduos pelo nível de utilidade. Em particular, não podemos calcular o efeito social de uma política pela simples soma das utilidades dos indivíduos afectados. O caminho certo é determinar o saldo (em termos monetários) das compensações dos rendimentos (mais os impostos cobrados) que permitem retornar à situação de bem-estar inicial de todos os indivíduos. 75 Ex2.21: Existem dois indivíduos, I1 e I2, que gastam o seu rendimento em alimentação, a, e em vinho, v. Actualmente, um tem 500€/mês de rendimento e os seus gostos condensam-se na função de utilidade U(a, v) = 10.a0.3.v0.7 e outro tem 1000€/mês de rendimento e seus gostos condensam-se na função de utilidade U(a, v) = a0.7.v0.3. Os preços da alimentação e do vinho são 2€/kg e 5€/l, respectivamente. Supondo que a diminuição do consumo de vinho em 1% aumenta o rendimento em 0.1%, deverá o governo cobrar um imposto de 1€/l de vinho? R: Primeiro, determinamos o nível de bem-estar inicial: 3.a 0.3 .v 0.7 7.a 0.3 .v 0.7 v 0.933a v 70 I1: 2a U1 714.640 5v 2a 4.667a 500 a 75 2a 5v 500 0.7.a 0.7 .v 0.3 0.3.a 0.7 .v 0.3 v 0.171a v 60 I2: U 2 206.202 2a 5v 2 a 0 . 857 a 1000 a 350 2a 5v 1000 Depois, determinamos a nova situação para um rendimento genérico: 3.a 0.3 .v 0.7 7.a 0.3 .v 0.7 v 0.777a v 0.117r I1: 2a V1 (r ) 1.258r 6v 2a 4.667a r a 0.150r 2a 5v r 0.7.a 0.7 .v 0.3 0.3.a 0.7 .v 0.3 v 0.143a v 0.05r V2 (r ) 0.195r I2: 2a 6v 2a 0.857 a r a 0.35r 2a 5v r Compensamos o rendimento para voltarem a uma situação idêntica à inicial: r1 : V1 (r ) 714.640 r1 714.640 /1.258 568.06€ v1 66.274 (diminui 5.3%) r2 : V2 (r ) 206.202 r2 206.202 / 0.195 1056.22€ v2 52.811 (diminui 12.0%) E determinamos o saldo da política somando os efeitos sobre os dois indivíduos: i=(Rnecessário – salário + imposto) 1 2 568.06 500 1.0053 66.27 1056.22 1000 1.012 52.81 9,44€ Como o saldo é positivo, o governo deverá implementar esta política. Exercício de recapitulação Ex2.22: Um homem que ganha 600€/mês está a pensar casar-se com uma mulher que ganha 1500€/mês. Agora é ele que decide o que comprar com o seu rendimento mas, depois de casar será a mulher a gerir o lar. O dinheiro pode ser gasto em habitação (4€/m 2/mês), alimentação 76 (3€/kg) ou diversões (10€/u.). Os gostos do homem condensam-se na função de utilidade Uh(h, a, d) = 10h0.1a0.3d0.6; e os da mulher na função Um(h, a, d) = 10h0.5a0.3d0.1. i) Sendo que quando casados, a habitação é desfrutada plenamente por ambos, a alimentação é dividida por 2 e as diversões por 1.1, e.g., Um(h, a, d) = 10h0.5(a/2)0.3(d/1.1)0.1, devem casar? ii) E se fosse o homem a decidir o que comprar? R. Enquanto solteiros, o nível de bem-estar do homem é 448.1 e o da mulher 1761.9: h 0.1a 0.3d 0.6 3h 0.1a 0.3d 0.6 3a 0.1 40h.3 0.6 h 15m 2 a 4 h 0 . 1 0 .3 0 . 6 6h a d h a d d 2. 4 h a 60kg u 448.1 4h 10d 4h 12h 24h 600 d 36u. 4h 3a 10d 600 6h 0.6 a 0.3d 0.1 3h 0.6 a 0.3d 0.1 4 h 3a h 260.9m 2 0. 6 0. 3 0. 1 a 0.667 h 0 . 5 0. 6 0 . 1 h a d 6h a d d 0.067 h a 173.9kg 4h 10d 4h 3h 0.667 h 2000 d 17.4u. 4h 3a 10d 1500 Depois de casados, a mulher adquirirá: 6h 0.6 (a / 2) 0.3 (d / 1.1) 0.1 3h 0.6 (a / 2) 0.3 (d / 1.1) 0.1 4h 3a 0.6 h 339.13m 2 a 0.667 h 0. 3 0.1 0.5 0.6 0.1 h a (d / 1.1) 6h (a / 2) (d / 1.1) d 0.067 h a 226.09kg 4h 10d 4h 3h 0.667 h 2600 d 22.61u. 4h 3a 10d 2600 Devem casar pois os níveis de bem-estar do homem e da mulher subirão (para 453.7 e 1786.5, respectivamente). 77 III – Teoria do Produtor – parte I Duração lectiva: 11 aulas Sumário: Produção de um determinado nível de output. Função de produção de longo prazo, isoquanta, minimização do custo, curva de procura de factores de produção. Expansão da produção no curto prazo. Objectivos: Apresentar o produtor no lado dos factores de produção. Assim, supondo o nível de produção predeterminado, estudar o produtor como minimizador do custo de fabricar esse nível de output sob a restrição tecnológica (função de produção de longo prazo) e sob os preços de mercado dos factores de produção (agente price taker). Consolidar a metodologia (de optimização) apresentada na teoria do consumidor. Apresentar a possibilidade tecnologia de alteração, no curto prazo, do nível de output (sem determinação do nível óptimo). 3.1 – O produtor Em termos genéricos, a actividade económica do produtor consiste em ir ao mercado adquirir factores de produção (i.e., os inputs), transformá-los em bens e serviços (i.e., produzir os outputs) e voltar ao mercado para a sua venda. Os inputs podem ser recursos naturais, terra, maquinaria, instalações, bens e serviços intermédios, trabalho, royalties, patentes, conhecimento, ideias, etc. Os outputs podem ser bens e serviços intermédios (a usar por outros produtores/vendedores), bens de capital (maquinaria, instalações, etc. a usar em processos produtivos) ou bens e serviços finais (a serem consumidos). O produtor será, em simultâneo, um comprador, um transformador e um vendedor que se localiza entre o mercado de inputs e o mercado de outputs: primeiro, vai adquirir os inputs, segundo, vai aplicar uma tecnologia na transformação desses inputs nos outputs e, terceiro, 78 volta ao mercado para vender os outputs (ver Fig.3.1). Por exemplo, um agricultor vai ao mercado arrendar terra e adquirir sementes, estrume, produtos químicos, máquinas agrícolas, trabalho, vacas e conhecimento, depois transforma-os em milho, feijão, batatas e leite de vaca, e volta ao mercado para vender os produtos produzidos. Fig.3.1 – Localização económica do Produtor A actividade de transformação pode ser diminuta de forma que o produtor seja um intermediário. Por exemplo, a Sonae Distribuição, S.A adquire um espaço de venda, bens diversos e contrata trabalhadores e revende os bens adquiridos. Podemos ainda pensar a actividade de produção como mais um dos inputs: um agente económico que adquire ouro, pedras preciosas, design de joalharia e contrata um joalheiro que lhe executar as jóias (a feitio) que depois vende. No mercado real que é descentralizado (e tem informação imperfeita), a característica mais importante do comprador/transformador/vendedor é a sua capacidade de explorar as oportunidades que vão surgindo no mercado de forma mais eficiente que o próprio mercado, i.e., realizar operações de arbitragem. Este ganho de eficiência surge de a firma ser organizada de forma centralizada (tendo informação menos imperfeita que o mercado). A discussão que existiu durante todo o século XX sobre a eficiência das economias centralizadas (i.e., planificadas - socialistas) e das descentralizadas (i.e., de mercado capitalistas) deveu-se ao facto da decisão centralizada ser mais eficiente à escala pequena (i.e., ao nível da empresa) e a decisão descentralizada ser mais eficiente à escala grande (i.e., ao nível dos países). Sendo que neste capítulo (adequado a undergraduate students) é assumido o pressuposto de que a informação é pública (i.e., que todos sabem) e perfeita, a actividade económica de transformação assume-se como a mais importante do produtor. 79 3.2 – Tecnologia de produção - Função de produção. A transformação dos inputs nos outputs é um intrincado problema de engenharia que tem muitas variáveis de controlo mas que pode, em termos de ciência económica, ser simplificado numa Função de Produção. Esta função pressupõe que o processo produtivo está afinado e, por isso, não necessita serem consideradas as variáveis de engenharia. Fique claro que a realidade do produtor é muito mais complicada do que se pode depreender da Função de Produção que vamos apresentar sendo que esta abstracção serve apenas para apresentar, em termos genéricos, os conceitos económicos. A estimação, num caso concreto, da função de produção é um problema complicado de realizar (no fim do texto veremos um exemplo simples). Podemos condensar a tecnologia de transformação numa função de produção f, de forma que o produtor, consumindo as quantidades de inputs X = (x1, x2, …, xn), produz as quantidades de outputs Y = (y1, y2, …, yn) segundo a desigualdade: (y1, y2, …, yn) ≤ f(x1, x2, …, xn). A desigualdade inclui a possível de existência de ineficiências. Sendo o agente económico insaciável, então diligenciará no sentido de produzir uma dada quantidade de output utilizando a mínima quantidade possível de inputs, i.e., vai afinar o processo produtivo de forma a atingir a igualdade, Y = f(X). A função produção relaciona quantidades físicas (e.g., relaciona horas de trabalho, quilogramas de fertilizante e metros quadrados de terra com litros de leite). Nota: Representando a tecnologia como uma aplicação de X em Y (i.e., a função Y = f(X)), então não se podem usar quantidades negativas de factores de produção ou produzir uma quantidade negativa de bens ou serviços. Alternativamente, a tecnologia pode ser representada como uma ligação (i.e., a equação de restrição g(X, Y) = 0), em que as quantidades dos inputs são negativas e as quantidades dos outputs são positivas. Dois inputs e um output. Vamos considerar, sem perda de generalidade, que o produtor produz um bem ou serviço y usando dois factores de produção x1 e x2: y = f(x1, x2). Podemos dar interpretação física a estes dois inputs considerando que consistem em trabalho, L, e em capital, K. O trabalho agrega a actividade laboral das pessoas enquanto que o capital agrega as máquinas, equipamentos, imóveis, etc. 80 Ex.3.1. Na produção de consultas médicas, usam-se como inputs o tempo do médico e da sua assistente (que agregamos como factor Trabalho) e o consultório e equipamento (que agregamos como factor Capital). Em termos matemáticos, sendo o processo produtivo condensado na função de produção Y = 5.L0.6.K0.3, qual será o nível de produção se forem utilizadas 10 unidades de trabalho e 50 unidades de capital? R. Y = 5.100.6.500.3 = 64: serão produzidas 64 consultas. Mapa de isoquantas – linha de igual nível de produção. Considerando que o nível de output é fixo, f(x1, x2) = q, a função de produção (com dois inputs e um output) pode ser representada graficamente como uma linha de nível q sobre o domínio dos inputs. Essa linha de igual quantidade de produção contém todas as combinações possíveis de inputs (i.e., todos os cabazes de factores) que permitem atingir esse nível de produção. Essa linha que, em termos matemáticos, será uma relação entre os dois inputs, x2 = g(x1), obtém-se explicitando a equação f(x1, x2) = q. Sendo que a função de produção já traduz os locais de eficiência, então a isoquanta traduz as menores quantidades de inputs que permitem atingir o nível de produção considerado. Propriedades das isoquantas: As isoquantas “bem comportadas” São decrescentes, A inclinação vai diminuindo (têm curvatura virada para cima) e Nunca se intersectam. Em termos económicos, considerando que o trabalho está no eixo dos xx, as isoquantas serem decrescentes traduz que eu posso manter um determinado nível de output substituindo trabalho por capital (um input por outro input), e.g., aumentando a quantidade de trabalho e diminuindo a quantidade de capital. A inclinação ir diminuindo traduz que a proporção de troca vai diminuindo com a quantidade utilizada do input, e.g., quando uso 100h de trabalho, para diminuir o trabalho numa hora preciso aumentar a quantidade de terra em 10m2, enquanto que quando uso 200h de trabalho, para diminuir o trabalho numa hora já só preciso de aumentar a quantidade de terra em 8m2. Nunca se intersectarem traduz que a isoquanta representa pontos de eficiência produtiva. 81 Ex.3.2. A produção de batatas depende da quantidade de terra e de trabalho segundo a função de produção, y(L, K) = 25L0.4.K0.5 kg. Determine a isoquanta q = 1000 kg. R: y(L, K) = q 25L0.4.K0.5 = 1000 L0.4.K0.5 = 40 K = 1600 / L0.8. Se a quantidade de trabalho for 32h, , serão necessários 100m2 de terra. Se se reduzir a quantidade de trabalho para 31h, será necessário aumentar a quantidade de terra para 102.57h. ** Ainda sobre o problema do Ex.3.2, mostro na Fig.3.2 duas isoquantas: a de nível de produção 1000kg e a de nível de produção 200kg. Pode-se verificar em ambas essas isoquantas que, em termos genéricos, posso produzir a mesma quantidade trocando o uso de um factor de produção por outro (caminhando sobre uma das isoquanta): aumentando a quantidade de trabalho posso diminuir a quantidade de terra e vice-versa. 250 Terra 200 Y = 2000kg 150 100 Y = 1000kg 50 0 0 50 100 150 200 Trabalho 250 Fig.3.2 – Duas isoquantas da função produção de batatas Taxa Marginal de Substituição Técnica: A proporção de substituição que permite manter o mesmo nível de produção denomina-se por Taxa Marginal de Substituição Técnica e vem, em termos geométricos, dada pela tangente à isoquanta. Assim (estando o trabalho no eixo das abcissas), traduz quantas unidades de capital eu tenho que aumentar para poder diminuir a quantidade de trabalho numa unidade e manter o mesmo nível de produção. No Ex.3.2., em termos contínuos, como K = 1600 / L0.8 vem TMST = –1280/L1.8. No ponto (32m2, 100h), a TMST vale 2.5: posso substituir 1m2 de terra por 2.5h de trabalho que mantenho o mesmo nível de produção. A TMST decresce em grandeza quando se caminha da esquerda para a direita: TMST’ = 2340/L2.8 = 0.006. 82 Função implícita e a TMST: Sendo que a equação q = f(L, K) define implicitamente a isoquanta de nível q, então, pelo teorema da derivação da função implícita, podemos calcular matematicamente a Taxa Marginal de Substituição Técnica a partir das derivadas parciais da função de produção (que traduzem as produtividades marginais, ver o ponto seguinte): TMSTL,K = – f’L/ f’K. Ex.3.3. Na produção de comunicações telefónicas, a tecnologia condensa-se na função produção, y(L, K) = 10L0.1.K0.8, i) determine a TMST de trabalho, L, por capital, K, quando o nível de capital é 100u. e o de trabalho é 10u. ii) determine a elasticidade de substituição técnica de trabalho por capital. R: i) K ( L) TMSTL , K K ( L) f' L0.9 K 0.8 K 100 L 0.1 0.2 0.125 0.125 1.25 : L f 'K 8L K L 10 Quando se pretende diminuir em uma unidade a quantidade de trabalho, para manter o mesmo nível de produção será necessário aumentar em 1.25 unidades a quantidade de capital (19J09). ii) TMSTL , K K ( L) K ( L) L f' L K L eSTL , K l 0.125 0.125 : Quando se L L K f 'k K L K pretende diminuir em 1% a quantidade de trabalho, será necessário aumentar em 0.125% a quantidade de capital para manter o mesmo nível de produção (19Jan09). Produtividade marginal: A função produção quantifica quanto é, em termos físicos, a produção total de usar determinadas quantidades dos factores. A produtividade marginal traduz o aumento de produção induzido pela última unidade de um dos factores utilizados sendo que as quantidades de todos os outros factores se mantêm inalteradas (i.e, ceteris paribus). Em termos matemáticos contínuos, a produtividade marginal de um input consiste na derivada parcial relativamente a esse inputs. Ex.3.4. Na produção de cortes de cabelo (c/dia), a tecnologia condensa-se na função de produção, y(L, K) = L + 10L0.7.K0.2, i) determine a TMST de trabalho, L, por capital, K, quando o nível de capital é 10u. e o de trabalho é 8h/dia. ii) determine a elasticidade de substituição técnica de trabalho por capital. iii) Determine a produtividade marginal do trabalho. 83 R: i) K ( L) TMSTL , K K ( L) f' 1 7 L0.3 K 0.2 L 5.11 : Quando se pretende L f 'K 2 L0.7 K 0.8 diminuir em uma h/dia a quantidade de trabalho, para manter o mesmo nível de produção (de 76c/dia) será necessário aumentar em 5.11 unidades a quantidade de capital. ii) eSTL , K TMSTL , K L 8 5.11 4.09 : Quando se pretende diminuir em 1% a K 10 quantidade de trabalho, para manter o mesmo nível de produção será necessário aumentar em 4.09% a quantidade de capital. iii) Em termos discretos, a Pmg será a produção atribuída à ultima unidade do factor trabalho: PmgL = y(8, 10) – y(7, 10) = 75.946 – 68.883 = 7.063 c/dia/h. Em termos contínuos, será a derivada da função produção em ordem ao trabalho y’L(8,10) = 1 + 7L–0.3K0.2 = 6.943 c/dia/h; Também poderíamos calcular na vizinhança do valor, (por exemplo, se pudéssemos dividir o input em centésimas): PmgL = [y(8.01, 10) – y(7.99, 10)]/0.02 = 6.945 c/dia/h. A expressão que se obtém para a TMST usando a derivação da função implícita traduz que esta grandeza é o rácio das produtividades marginais. Ex.3.5. Num restaurante, mediu-se que a produção de refeições depende das horas de trabalho e da área do estabelecimento. Mais uma hora de trabalho permite produzir mais 4 refeições enquanto que mais 1 m2 de área permite produzir mais 0.2 refeições. i) Determine a TMST de trabalho, L, por capital, K. ii) Quanto será necessário aumentar a área do estabelecimento se se pretender diminuir a quantidade utilizada de trabalho em 8 horas? R: i) TMSTL , K f 'L 4 20 . ii) Como 1h de trabalho a menos obriga a ter 20m2 de f 'K 0.2 área a mais, será necessário aumentar o estabelecimento em 160m2. Rendimentos à escala (acrescentado 10Nov). Quando mudamos da isoquanta q0 para a isoquanta q1, em que q1 > q0, haverá necessidade de aumentar as quantidades usadas de inputs. Ressalvando que a alteração das quantidades de inputs é um processo que demora tempo, no longo prazo podemos pensar que existe a possibilidades de expandir a produção. Se, em termos relativos, o aumento da produção (de longo prazo) necessitar de um aumento mais que proporcional dos inputs, então estamos em presença de um processo com rendimentos decrescentes à escala. Se pelo contrário, em termos relativos, o aumento da produção (de longo prazo) necessitar de um aumento menos que proporcional dos inputs, 84 então estamos em presença de um processo com rendimentos crescentes à escala. No caso intermédio temos rendimentos constantes à escala. A determinação dos rendimentos determina-se multiplicando os inputs por uma constante e verificando se o aumento da quantidade produzida é menor, igual ou maior que essa constante. Por exemplo. Sendo um processo produtivo que pode ser condensado na função de produção y ( x1 , x2 ) A x1 x2 0.5 0.6 , então, aumentando os inputs na proporção k, y(k x1 , k x2 ) , obtemos o nível de output A(k x1 ) 0.5 (k x2 ) 0.6 A k 1.1 x1 x2 que aumenta mais que a proporção k. Então existem rendimentos crescentes à escala. No caso da função isoelática (também denominada de Cobb-Douglas) y ( x1 , x2 ) A x1 x2 , os rendimentos à escala são dados pela soma dos expoentes, ( + ). Progresso tecnológico: O progresso tecnológico permite produzir igual quantidade de output com menor quantidade de inputs. Em termos de isoquanta, o progresso técnico traduz-se por uma deslocação da isoquanta para a esquerda (no sentido de gastar menos inputs), ver Fig.3.3. Notar que o deslocamento da isoquanta pressupõe que o progresso tecnológico “caiu do céu”, i.e., abstraímos que têm que ser dispendidos recursos escassos em actividades de investigação e desenvolvimento, I&D, para que o progresso tecnológico aconteça, o que, na generalidade dos casos, infelizmente não é verdade. Como exemplo de inovação tecnológica, em 2002 descarregaram-se nas lotas 148 mil toneladas de pescado (“Peixes marinhos” + “Crustáceos” + “Moluscos”) utilizando 10548 barcos e 22025 trabalhadores. Em 2007, apesar de as descargas terem aumentado para 161 mil toneladas, foram utilizados menos recursos: 5050 barcos e 17021 trabalhadores (fonte: www.ine.pt). Fig.3.3 – Efeito do progresso tecnológico numa isoquanta 85 3.3 – Minimização do custo de produção Já está consolidada a ideia de que, para produzir um bem ou serviço que vai ser vendido no mercado, é necessário utilizar/gastar factores de produção que têm que ser adquiridos no mercado a um determinado preço. O produtor, como ser humano, pretende consumir bens e serviços que adquire no mercado com o benefício que obtém da sua actividade. Então, por um lado, dado um nível de rendimento (e os preços de mercado), o seu problema económico é idêntico ao tratado na Teoria do Consumidor: o objectivo é maximizar a utilidade. O seu problema como consumidor traduz-se em escolher o cabaz óptimo que maximiza a utilidade dado o rendimento (e os preços). Vimos no capítulo 2 que podemos sumariar o resultado da decisão óptima do consumidor na função de utilidade indirecta que é crescente com o rendimento: V (r ) MaxU (a1 , a2 ,..., an ), s.a. p1.a1 p2 .a2 ... pn .an r Acrescenta agora que, o produtor tendo o nível de output fixo, vai escolher os inputs que maximizam esta utilidade indirecta (sujeito à função de produção e aos preços de mercado). ( x1 , x2 ,...) : z Max V q. p y ( x1. p1 x2 . p2 ...) , s.a. q f ( x1 , x2 ,...) Como V(r) é monótona crescente com o rendimento, então a escolha das quantidades de inputs a utilizar será independente da forma da função de utilidade e traduz-se na maximização do rendimento que, dada a restrição do nível de output ser fixo, é equivalente à minimização do custo de produção. Assim, podemo-nos abstrair do problema da escolha do cabaz de consumo óptimo e concentrarmo-nos no problema da minimização do custo: ( x1, x2 ,...) : z Min x1. p1 x2 . p2 ..., s.a. q f ( x1, x2 ,...) Vamos, primeiro, apresentar em termos gráficos o problema económico da determinação das quantidades óptimas de factores de produção a utilizar como inputs na produção de uma quantidade pré determinada de output assumindo que o preço desses inputs é um dado (obtido no mercado) do problema de minimização do custo que é resolvido pelo produtor (i.e., é um agente price taker dos factores de produção). Linha de Isocusto - de igual nível de custo : Na produção usando mais do que um input não faz sentido económico agregar os recursos dispendidos na produção como a soma das quantidades dos diferentes inputs. É necessário identificar um ponderador que normalize as quantidades dos diversos factores de produção às mesmas unidades. Em termos económicos é norma usar o preço de aquisição (no nosso caso, o preço de mercado) como ponderador das quantidades, resultando uma despesa. 86 Ex.3.6. Na produção de “transporte de 100 pessoas em comboio a carvão”, por cada 1000km, gastam-se 100kg de carvão, 1000 litros de água, 0.3 litros de óleo, 75 horas de trabalho e 30 horas de comboio cujos preços de mercado são 0.25€/kg, 0.01€/l, 7.5€/l, 12.5€/h e 500€/h, respectivamente. Determine o custo de produzir cada 1000km de “transporte de 100 pessoas em comboio a carvão”. R: Custo = 100x0.25 + 1000x0.01 + 0.3x7.5 + 75x12.5 + 30x500 = 15974.25€/1000km. Em termos genéricos, sendo que são usadas as quantidades L e K dos inputs trabalho e capital, cujos preços de mercado são pL e pK, respectivamente, então o custo dos inputs em termos monetários vem dado por C = L.pL + K.pK. Sendo que impomos um determinado nível para o custo C, podemos explicitar a função custo em ordem a um dos inputs, e.g., em ordem ao capital, K(L) = C/pK – L.pL/pK, e representá-la graficamente (a linha a vermelho da fig. 3.4) no mesmo gráfico que a isoquanta de nível de produção q (a linha a preto da fig. 3.4). A intersecção desta linha de isocusto com o eixo vertical é no ponto (0, C/pK) e com a linha horizontal é no ponto (C/pL, 0). A inclinação da linha de isocusto obtém-se derivando K(L). É negativa e, em termos de grandeza, é igual ao rácio dos preços dos factores de produção, i.e., traduz o preço relativo do inputs do eixo dos xx, – pL/pK. Fig.3.4 – Linha isocusto C e isoquanta q 1ª condição da minimização do custo: Esta Fig.3.4 é muito semelhante à representação gráfica do problema de optimização resolvido pelo Consumidor (ver, Fig.2.9). Mutatis 87 mutandis, a linha isocusto representa a recta orçamental e a linha isoquanta representa a linha de indiferença. Comparando as situações, torna-se óbvio que a decisão do produtor se pode localizar em qualquer ponto da zona sombreada a azul pois ai tem quantidades de inputs suficientes para atingir o nível de output q e tem um custo menor que se se localizar sob a recta isocusto C. Então, se se colocar numa curva de isocusto mais próxima da origem, produz o mesmo e tem um custo menos (A curva C2 da Fig.3.5) Fig.3.5 – Zona possível de produzir q mas com custo menor O produtor pode-se deslocar para uma recta de isocusto ainda mais próxima da origem, C*, até que esta se torna tangente à recta isoquanta q (Ver, Fig. 3.6). Este ponto de tangencia traduz o custo mínimo de produzir a quantidade q. Fig.3.6 – Linha de custo mínimo que permite produzir q A condição de tangencia traduz a 1ª condição da minimização do custo de produção: 88 min( C ) TMSTL , K pL pK Em termos económicos, esta condição traduz que a mistura óptima de outputs faz a Taxa Marginal de Substituição Técnica igual à razão dos preços. Sendo f(L, K) a função de produção, em termos matemáticos resulta como condição de minimização do custo uma expressão idêntica à condição de maximização da utilidade e em que a “restrição orçamental” é substituída pela “restrição tecnológica”. TMSTL , K pL f' p L L pK f 'K pK f 'L f 'K pL pK Equivalente à restrição orçamental, agora, para termos duas equações (pois precisamos de determinar duas incógnitas) acrescenta-se a restrição tecnológica, i.e., a isoquanta que se pretende atingir. f 'L f 'K pK ( L, K ) : min C , s.a. q f ( L, K ) pL q f ( L, K ) Esta equação é facilmente generalizável a n inputs. f '1 f '2 p p 2 1 ... ( x1 , x2 ,..., xn ) : f '1 f 'n p1 pn q f ( x1 , x2 ,..., xn ) Ex.3.6. Num estabelecimento do ensino superior, a produção de conhecimento (cujas unidades traduzem a quantidade de conclusões a multiplicar pela média em dezenas de valores) depende do número de professores e da dimensão das instalações segundo a proporção Y = 10.L0.8.K0.3 – 50. Sendo que os preços unitários de L é 30000€/ano e de K é 1000€/ano, determine o nível de inputs que se implica uma custo mínimo de atingir o nível de produção Y = 330u. f' K 171.36 8L0.2 K 0.3 3L0.8 K 0.7 f 'L K K 12.5L pK 30000 R: pL L 13,709 1000 L 13,709 C 582634€ Y f ( L, K ) 330 10 L0.8 K 0.3 50 Em termos matemáticos, a função objectivo do problema de minimização do custo é a curva de isocusto sob a restrição tecnológica que se traduz na isoquanta que se pretende atingir: 89 (l , k ) : c min l. pl k. pk , s.a. f (l , k ) q Este problema pode ser algebricamente resolvido utilizando a Lagrangeana. Como explicado em Matemática I, a Lagrangeana consiste em acrescentar a equação de ligação à função objectiva a multiplicar por um parâmetro (o multiplicador de Lagrange). Quando se verifica a restrição, mesmo que o parâmetro utilizado seja diferente de zero, a minimização da Lagrangeana será igual à minimização da função objectivo. Se houver n restrições, será necessário utilizar n parâmetros. L l. pl k . pk . f (l , k ) q (l , k ) : c min L min l. pl k . pk . f (l , k ) q L'l 0 pl . f 'l 0 f 'l pl f 'k L ' k 0 pk . f ' k 0 pk L' 0 f (l , k ) q 0 f (l , k ) q A condição de segunda ordem ultrapassa a necessidade deste curso. Efeito de uma alteração dos preços dos inputs. A alteração dos preços de um input vai fazer com que a linha de isocusto rode (porque se altera a inclinação – pL/pK) e se desloque a intersecção com o eixo coordenado que representa o input cujo preço aumenta, (0, –c/pK) ou (c/pL, 0). Na Fig.3.7 represento um aumento para o dobro do preço do capital. Fig.3.7 – Efeito do aumento do preço do capital (sentido da seta) na linha de isocusto O aumento do preço dos inputs tem como consequência que, para atingir o mesmo nível de produção, há um aumento do custo mas também o produtor altera a mistura relativa dos factores de produção: utiliza menos quantidade do factor cujo preço aumentou e utiliza mais do factor cujo preço se manteve (ver, Fig.3.8). Esta situação é muito semelhante ao que acontece ao consumidor quando se verifica um aumento dos preços dos bens e serviços e o 90 consumidor pretende manter o mesmo nível de utilidade: a despesa aumenta e altera-se a mistura de bens e serviços no cabaz no sentido do aumento da proporção dos bens cujo preço se tornam relativamente mais baratos. Fig.3.8 – Efeito do aumento do preço nas quantidades de inputs Ex.3.7. Na produção de “aulas de ginástica personalizadas”, a tecnologia condensa-se na função produção, y(l, k) = l0.7.k0.2 aulas, i) Sendo que o preço do capital é 0.05€/u. e o do trabalho é 15€/h, determine o custo mínimo que permite atingir o nível de produção de 1000 aulas. ii) determine as mudanças que ocorrem se o preço da mão de obra subir para 16€/h. fl f k l 821.25 0.7l 0.3k 0.2 0.2l 0.7 k 0.8 k 85.71 l p pk R: i) l k 68678 15 0.05 1000 l 0.7 k 0.2 c 15452.60€ l 789.84 0.7l 0.3 k 0.2 0.2l 0.7 k 0.8 k 85.71 l ii) k 72214 15 0.05 1000 l 0.7 k 0.2 c 16248€ O trabalho diminuiu 11.4h (despedimentos), o capital aumentou 3535u. (mais máquinas) e o custo aumentou 795.47€ (mais 0.795€/aula). Se não houvesse alteração nos inputs, o custo teria aumentado 801.25€ (mais 0.801€/aula). Progresso tecnológico poupador de capital ou de trabalho: Retomando o progresso tecnológico, por comparação com a linha de isocusto, torna-se possível visualizar que o progresso tecnológico pode ser relativamente (mais) poupador de capital ou de trabalho. 91 Inovação poupadora de capital. Quando, mantendo a mesma proporção de inputs, o deslocamento da isoquanta é no sentido de aumentar (em grandeza) a TMSTL,K (de trabalho por capital), i.e., vamos para o ponto A da Fig.3.9, então torna-se maior (em grandeza) que o preço relativo do trabalho. No sentido de igualar a TMSTL,K com o rácio dos preços, como esta é decrescente com a quantidade (de trabalho), a proporção de trabalho aumentará e a de capital diminuirá (ponto B da Fig.3.9) pelo que esta inovação tecnologia é (relativamente mais) poupadora de capital. Fig.3.9 – Progresso tecnológico poupador de capital Inovação poupadora de trabalho. Quando, mantendo a mesma proporção de inputs, o deslocamento da isoquanta é no sentido de diminuir (em grandeza) a TMSTL,K (de trabalho por capital), i.e., vamos para o ponto A da Fig.3.10, então a TMSTL,K torna-se menor (em grandeza) que o preço relativo do trabalho. No sentido de igualar a TMST L,K com o rácio dos preços, como esta é decrescente com a quantidade (de trabalho), a proporção de trabalho diminui e a de capital aumenta (ponto B da Fig.3.10) pelo que esta inovação tecnologia é (relativamente mais) poupadora de trabalho. 92 Fig.3.10 – Progresso tecnológico poupador de trabalho A inovação tecnológica poderá levar ao aumento da quantidade utilizada de um (ou alguns) dos factores de produção mas nunca de todos, e leva sempre a uma redução do custo. Ex.3.8. Em 1980, a tecnologia de produção de “seguros automóveis” condensava-se na função de produção Y1980 = 10.L0.8.K0.3 milhares de seguros em que L traduz o número de agentes e K o número de balcões de atendimento. O aparecimento da Internet alterou a tecnologia passando a função de produção, em 2000, a ser Y2000 = 20.L0.3.K0.8. Considerando que, em ambos os períodos, os preços dos agentes era 2000€/u. e do capital era 3000€/u., para um nível de produção de 4000 milhares de seguros, i) Determine quantos agentes havia por posto em 1980, o número de postos e a TMST. ii) Comparando a evolução da TMSTL,K, determine se a inovação tecnológica foi poupadora de trabalho. 8l 0.2 k 0.3 3l 0.8k 0.7 f l f k l 4k l 338.62 pk 2000 R: i) pl 3000 k 84.65 y f (l , k ) 4000 10l 0.8k 0.3 TMSTL , K fl 8l 0.2 k 0.3 8k 8 84.65 0.8 0.7 0.667 f k 3l k 3l 3 338.62 ii) Mantendo a proporção de 1980 (l = 4k) e usando a tecnologia de 2000, para produzir 4000 mil seguros precisamos de 4000 20(4k )0.3 k 0.8 k 45.08; l 180.32 . Teríamos TMSTL , K fl 6l 0.7 k 0.8 6k 6 45.08 0.3 0.2 0.094 f k 16l k 16l 16 180.32 Como a TMSTL,K diminuiu em grandeza, a inovação foi poupadora de trabalho. 93 6l 0.7 k 0.8 16l 0.3k 0.2 l 0.5625k l 81.21 3000 2000 k 144.54 4000 20l 0.8k 0.3 A inovação tecnológica levou à redução em 76% do trabalho e ao aumento em 71% dos postos de atendimento, resultando numa redução em 34.5% dos custos de produção. Também podemos analisar a questão pela evolução da “intensidade capitalística” dada por k/l: se aumentar, a inovação será poupadora de trabalho e vice-versa. Notar que a tecnologia ser poupadora de trabalho não implica que vá aumentar a taxa de desemprego. Por um lado, o pressuposto de informação pública e perfeita garante sempre o pleno uso dos factores de produção. Por outro lado, o progresso tecnológico (“caído do céu”) é sempre positivo pois permite poupar recursos escassos o que potencia o aumenta das possibilidades de produção (e de consumo) da sociedade como um todo. Recordar, no entanto, que o progresso tecnológico pode, pelo menos transitoriamente, não ser benéfico para todos (e.g., pode obrigar à reconversão do factor trabalho). Por exemplo. Existe uma economia com duas empresas com nove trabalhadores cada: uma padaria onde cada trabalhador produz (e recebe como ordenado) dois pães e uma salsicharia onde cada trabalhador produz (e recebe como ordenado) duas salsichas. Supondo que os consumidores apenas retiram utilidade de comer cachorros quentes (i.e., um pão com uma salsicha), a troca no mercado de um pão por uma salsicha permite que todos consumam um cachorro quente. De repente, uma inovação tecnológica passa a permitir que cada padeiro produza (e receba como ordenado) 4 pães. Então, ninguém quer tanto pão pelo que o preço do pão diminui tornando-se obrigatório despedir 3 padeiros que, transitoriamente, ficam no desemprego pois precisam de aprender a ser salsicheiros. No final, apesar de a padaria ficar com apenas 6 trabalhadores e do preço diminuir para 0.5 pães por salsicha, a salsicharia passa a ter 12 trabalhadores de forma que não existe desemprego e todos os indivíduos melhoram aumentando o consumo para 1.33 cachorros quentes. (Ideia retirada de Paul Krugman, 1998, The Accidental Theorist). Função procura de factores de produção. Para atingir um determinado nível de produção é necessário adquirir inputs no mercado de factores de produção. Então, considerando preços de mercado genéricos, da resolução da minimização do custo, podemos determinar as funções de procura dos factores de produção que permitem atingir um determinado nível de produção. 94 Ex.3.9. Na produção de “contas bancárias” é utilizado capital (instalações, computadores, etc.) e trabalho (funcionários) segundo a proporção y(l, k) = 10l0.5.k0.8 contas. Determine as funções procura de trabalho e de capital para um nível de produção de 100000contas. 5l 0.5 k 0.8 8l 0.5 k 0.2 f l f k l 893.94( pk / pl )0.6154 k 1.6 l. pl / pk pk pl pk pl 1.3 0.8 k 1430.3( pl / pk )0.3846 10000 l (1.6 pl / pk ) y f (l , k ) 100000 10l 0.5 k 0.8 A quantidade procurada de trabalho é decrescente com o preço unitário do trabalho (e crescente com o preço unitário do capital). A quantidade procurada de capital é decrescente com o preço unitário do capital (e crescente com o preço unitário do trabalho). Estes dois inputs são factores de produção substitutos. Apesar de não considerarmos a possibilidade de ocorrerem alterações do nível de produção, a quantidade procurada de factores de produção é crescente com este parâmetro de forma que, havendo um aumento do nível de produção, haverá um deslocamento (fortalecimento) da função de procura para a direita e para cima (e vice-versa): para cada preço de mercado, aumentará a quantidade procurada de factor de produção (19Jan09). Função custo total (de longo prazo). O custo total será dado pela despesa incorrida pelo produtor vendedor na aquisição dos factores de produção ao custo de mercado. Apesar de ser obtida sob o pressuposto de que a quantidade a produzir é fixa (ser um parâmetro), podemos obter uma função que relacione o custo total para cada nível de produção. Realço que esta função custo total é determinada sob o pressuposto de que existe tempo disponível entre os níveis de produção que permite um ajustamento de longo prazo de ambos os factores de produção pelo que não tem relevância económica para ser utilizada em alterações de mercado de curto prazo. Ex.3.10. Na produção de sardinha, a tecnologia condensa-se na relação y(L, K) = 5ln(L) + 10ln(K) cabazes. Determine a função custo para um nível genérico de produção q quando os preços de mercado do trabalho e do capital são 25€/u. e 5€/u., respectivamente. f l f k 5 1 / L 10 1 / K K 10 L K 10 exp( q / 15 1.535) p p 25 5 l k q 10 Ln(10) 15Ln( L) L exp( q / 15 1.535) y f (l , k ) q 5Ln( L) 10 Ln( K ) C (q) 25L 5K 75 exp( q / 15 1.535) 95 3.4. Alteração do nível de produção - curto prazo O mercado está em constante evolução, sendo obrigatório que o produtor, para se manter vivo, responda rapidamente. No longo prazo, a resposta pode consistir numa variação, percorrendo uma isoquanta, da proporção dos diversos inputs ou uma alteração de isoquanta (i.e., uma variação dos inputs de forma a alterar também a quantidade produzida). No entanto, na resposta rápida, dos diversos factores de produção utilizados, existem alguns que não é possível alterar a intensidade/quantidade que é utilizada. Por exemplo, se eu tenho uma empresa de autocarros, precisando aumentar a minha produção em resposta a uma avaria do Metropolitano, posso aumentar o horário dos meus motoristas em duas horas mas não posso variar o número de autocarros. Curto prazo – Longo prazo. É corrente ouvir os agentes económicos referirem-se à capacidade de ajustamento do seu negócio em termos de curto e longo prazo. A escala temporal destes conceitos não é objectiva, podendo o curto prazo ser na ordem dos dias, semanas ou meses e o longo prazo na ordem dos anos ou dezenas de anos. A questão fundamental é que, no longo prazo, todos os inputs são ajustáveis enquanto que no curto prazo, apenas alguns dos inputs são ajustáveis. Função de produção de curto prazo. Porque consideramos que na produção apenas são utilizados dois factores de produção, o trabalho e o capital, vamos agora assumir que no curto prazo apenas é possível ajustar o nível de trabalho às condicionantes do mercado. Assim, no curto prazo, posso variar a quantidade de trabalho mas tenho que manter fixa a quantidade de capital (e que foi decidida num tempo anterior). Notar que eu não vou determinar qual o nível óptimo de output mas apenas responder a uma vontade exógena de alterar rapidamente o nível de produção. Ex.3.11. Na produção de “uma aula de Judo com Y alunos”, a função de produção (de longo prazo) é Y(L, K) = 10.L0.8.K0.5u. Sendo que os preços de mercado dos Mestres e do Dojo são 50€/h e 5€/m2, respectivamente i) determine o nível óptimo de factores de produção para produzir uma aula com 100 alunos. ii) Sendo que, de forma imprevista, é necessário aumentar rapidamente o nível de produção para uma aula com 200 alunos, determine a resposta em termos de factores de produção. 96 8L0.2 K 0.5 5L0.8 K 0.5 fl f k K 6.25L K 18.155m 2 pk 50 i) pl 1.3 5 L 4 L 2.9h y f (l , k ) 100 10 L0.8 K 0.5 ii) Só é possível aumentar o trabalho do Mestre: 200 10 L0.818.1550.5 L 6.9h Produtividade total, média e marginal. Considerando irrelevante na análise de curto prazo os factores fixos, então a função produção de curto prazo quantifica, em termos físicos, a produtividade total do factor trabalho. Por exemplo, se a função de produção de batatas for dada por y(L) = 60L0.8 – 50, sendo L horas de trabalho, então com 100h de L, a produtividade total será 2338.6 kg de milho. A produtividade média traduz quanto, em média, produz cada unidade de factor utilizado e obtém-se dividindo a produção total pela quantidade de factor variável utilizado. Não tem em conta a importância e contributo no nível de output dos outros factores de produção. No exemplo do milho teremos ymed(L) = (60L0.8 – 50)/L de que resulta uma produtividade média de 23.4 kg/h (quilogramas de milho por cada hora de trabalho). Também é normal ouvir falar de produtividade de um recurso natural, como por exemplo, a produtividade por hectare de terra (sem atender aos outros factores utilizados como quantidade de trabalho, de adubos, maquinaria, etc.). Na Fig. 3.11 apresento exemplos de produtividade da terra de sequeiro. Culturas \ Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Trigo mole 1 199 1 648 666 2 388 1 865 2 240 Trigo duro 787 1 543 559 2 298 1 790 2 060 Triticale 839 1 397 403 2 093 1 582 1 980 Cevada 1 133 1 651 765 2 390 1 994 2 290 Centeio 888 953 779 1 014 1 022 1 020 Aveia 721 1 099 469 1 623 1 347 1 685 8 985 11 821 8 319 9 499 10 358 9 840 Batata de sequeiro Fig.3.11 – Produtividade em Portugal Continental, kg/ha (fonte: www.ine.pt) A produtividade marginal traduz o aumento de produção induzido pela última unidade de factor utilizado. No exemplo do milho teremos ymarg(L) = y(L) – y(L–1) de que resulta uma produtividade marginal de 2338.643 – 2319.515 = 19.128 kg/h para a 100ª hora. Se a variável L puder ser aproximada por uma quantidade contínua, então a produtividade marginal vem dada pela derivada da função produção ymarg(L) = y’(L). No exemplo teremos ymarg(L) = 48L–0.2 pelo que virá ymarg(100) = 19.109 kg/h. Notar neste exemplo a grande semelhança entre os resultados de considerarmos a variável discreta ou contínua (0.1%). 97 Em termos gráficos (ver Fig.3.12), a produtividade total é o valor da ordenada, a produtividade média (linha a vermelho) é dada pela inclinação da recta que une a origem das ordenadas, o ponto (0, 0), ao nível de produção considerado, enquanto que a produtividade marginal (linha a azul) traduz a inclinação da função no nível de produção considerado. Fig.3.12 – Produtividade total, média e marginal Comportamento da produtividade com a quantidade de factor. Em termos empíricos, a generalidade dos processos produtivos pode ser condensado numa função de produção de curto prazo com inclinação variável com o nível de produção, i.e., a produtividades marginal do trabalho é variável (ver, Fig.3.13). Podemos tipificar a função produção em três troços. No primeiro troço, a produção é pequena mas aumenta a uma velocidade maior que o consumo do trabalho (troço a azul da Fig.3.13), i.e., a produção e a produtividade são crescentes com o nível de trabalho utilizado (a curvatura é virada para cima). Temos rendimentos crescentes com o aumento do uso do factor. No segundo troço, a produção aumenta a uma velocidade menor que o consumo do trabalho (troço a vermelho da Fig.3.13), i.e., a produção é crescente mas a produtividade é decrescente com o nível de trabalho utilizado (a curvatura é virada para baixo). Temos rendimentos decrescentes com o aumento do uso do factor. No terceiro troço, existe congestionamento do factor (troço a preto da Fig.3.13), i.e., a produção e a produtividade são decrescente com o aumento do uso do factor. Lei dos rendimentos decrescente. A propriedade mais importante da função produção de curto prazo é ter um troço em que a produtividade é crescente mas a velocidade decrescente. Quando for apresentada a determinação do nível óptimo de produção (no 98 capítulo IV), será mostrado que a decisão óptima do produtor se vai localizar nesse troço (em que a derivada da função produção é positiva e a sua segunda derivada é negativa). Historicamente, o surgir, na segunda metade do século XIX, do princípio de que a produtividade marginal é decrescente está ligado à actividade agrícolas que utiliza primeiro as áreas de terra mais produtivas, donde a produtividade marginal ser decrescente. Fig.3.13 – Função produção de curto prazo (capital = K*) Ex.3.12. Na produção de batatas, sendo fixo a quantidade de terra, a função de produção de curto prazo vem dada por Y(L) = 5L + 3L2 – 0.1L3. i) Determine o domínio em que a produtividade do factor trabalho é crescente mas a velocidade decrescente. R. A abcissa inferior é a do ponto de inflexão: Y’’L = 0 6 – 0.6L = 0 L = 10u.; e a superior, a do ponto de produtividade máxima: Y’L = 0 5 + 6L – 0.3L2 = 0 L = 19.13u. A diminuição da produtividade com o aumento da dimensão prende-se com o facto de haver factores de produção que não se conseguem aumentar, passando a haver necessidades acrescidas do factor variável. Por exemplo, motivado pelo aumento do preço dos combustíveis, o fluxo de passageiros no metropolitano de Paris tem aumentado rapidamente (cerca de 10% ao mês). A administração, como não consegue aumentar as dimensões físicas dos túneis, para aumentar a cadência das composições, tem contratado pessoas para auxiliar os passageiros a entrar nas carruagens, o que é cada vez menos eficaz. Relação entre produtividade marginal e produtividade média. Tendo presente a figura Fig.3.12, no estágio inicial da função de produção, a produtividade marginal é superior à produtividade média (ver Fig.3.13). 99 Fig.3.14 – Produtividade média e marginal (1) Pelo contrário, no estágio seguinte da função de produção, a produtividade marginal é inferior à produtividade média (ver Fig.3.15). Fig.3.15 – Produtividade média e marginal (2) Então, relativamente à produtividade média, a produtividade marginal é superior no estágio inicial e inferior depois (ver Fig.3.16). É importante notar que a produtividade media atinge o máximo no ponto em que iguala a produtividade marginal. O ponto de produtividade marginal máxima corresponde ao ponto de inflexão da F.P e o ponto de produtividade média máxima encontra-se já dentro do troço de rendimento decrescente da F.P. 100 Fig.3.16 – Produtividade média e marginal (3) Custo total de curto prazo. A função custo, como a função de produção, é uma forma de traduzir a tecnologia de transformação, mas tendo em atenção os preços dos factores de produção. Sendo que, no curto prazo, a alteração do nível de produção é feito pela alteração de apenas um factor de produção, então, em termos matemáticos, a função custo total, c(y), obtém-se substituindo a função de produção e o nível de capital na expressão de cálculo do custo. c(q) K. pK L. pL , s.a. q f (L, K ), K K * Como nesta análise consideramos apenas um factor variável, não é necessário resolver qualquer problema de minimização. Ex.3.12. Sendo a função de produção de milho y(L) = 12L0.8K0.7 sacas, para K = 100u. e preços de mercado pL = 5€/h e pK = 1€/u., determine a função custo total de curto prazo. R: A função custo total de curto prazo resolve c(q) 2K 5L, s.a. q 6L0.8 K 0.7 , K 100 , pelo que vem dada por c(q) 200 1.043q1.25 . Ex.3.13. Usando trabalho, adubos e terra, um agricultor produz maçãs segundo a função de produção Y(L, A, K) = 0.25L0.6.A0.2.K0.2 toneladas. Assumindo que os preços de L é 5€/h, de A é 6€/saca e de K é 200€/há, determine a curva de custo de longo prazo e compare-a com a curva de custo de curto prazo (K* fixo para um nível de produção de 20 toneladas). R. O custo de longo prazo é 112.20€ por tonelada, qualquer que seja o nível de output: 101 0.15 L0.6 A0.2 K 0.2 0.05 L0.6 A0.2 K 0.2 f l f a p pa 5L 6A l A 0.278 L A 3.740q 0 .6 0 . 2 0 .2 0.6 0.2 0.05 L A K 0.2 0.15 L A K f l f k K 0.00833L K 0.1122q pk 5L 200 K pl L 13.463q 0 .6 0 . 2 0 .2 y f (l , a, k ) q 0.25 L A K C (q ) 112.196q Para produzir 20t, no longo prazo usava-se 2.244ha de terra. No curto prazo posso alterar a quantidade de trabalho e de adubo pelo que a função custo de curto prazo será: A 1.768q1.25 A 0.278L 0.15L0.6 A0.2 K 0.2 0.05L0.6 A0.2 K 0.2 f l f a pa 5L 6A pl y f (l , a, k ) q 0.25L0.6 A0.2 2.2440.2 L 6.366q1.25 1.25 C (q | K * 2.244) 448.782 42.44q 6.000 € Custo cp 5.000 € 4.000 € Custo lp 3.000 € € 2.000 € 1.000 € 0€ 0 10 20 30 40 q 50 Custo médio e custo marginal. Se dividirmos o custo total pela quantidade total produzida, obtemos a função custo médio, c.médio = c(y)/y. No Ex.3.12., a produção de 2500 sacas de milho tem como custo médio 7.46€/saca. A função custo marginal consiste, em termos discretos, no custo de produzir a última unidade de bem, c.mg(y) = c(y) – c(y–1). No caso das 2500 sacas, o custo marginal será c.mg(y) = 18638.38 – 18629.16 = 9.22€/saca. É importante realçar no troço em que a produtividade cresce a velocidade decrescente, o custo total é crescente a velocidade crescente. Quando a função produção é concava, i.e., f(x)’’ < 0, o incremento de mais uma unidade de factor de produção induz uma aumento menos que proporcional do output. Como contrapartida, a função custo virá convexa, i.e., c(y)’’ > 0, o 102 que traduz que para produzir mais uma unidade de output, o custo aumenta mais que proporcionalmente. Fig.3.17 – Função custo, custo médio e marginal Podemos representar a evolução do custo (médio e marginal) com a quantidade produzida, visualizando que há um ponto (onde o custo marginal iguala o custo médio) em que o custo médio é mínimo. Fig.3.18 – Função custo médio e marginal (com a quantidade q) Custo afundado: Como a implementação do nível de capital demora “muito tempo” a sua aquisição é feita “muito” antes da decisão quanto ao nível de output. Então, a despesa feita na aquisição do capital é irreversível, não sendo relevante na posterior tomada de decisão quanto 103 à quantidade de trabalho a utilizar. O custo afundado será apenas um custo a considerar em termos contabilísticos. Ex.3.13. Um agricultor tem que arrendar (e pagar) a terra em Novembro para apenas decidir em Março a quantidade de batatas que vai produzir. Supondo que a função de produção de batata usa terra, T, trabalho, L, e fertilizantes, F, segundo y(T, L, F) = 0.5T0.6.L0.4.F0.2t, cujos preços unitários de mercado são 200€/ha, 5€/h e 0.30€/kg, respectivamente. i) Sendo que, em Novembro, o agricultor pensa produzir 150t de batatas, determine quanta terra é óptimo arrendar. ii) Quando, em Março, ao falharem as encomendas o agricultor decidiu produzir apenas 50t de batatas, qual o consumo de inputs que minimiza o custo? R. i) O agricultor vai determinar a quantidade de terra variando todos os factores de produção: 0.3T 0.4 L0.4 F 0.2 0.2T 0.6 L0.6 F 0.2 fT f L p pL 200 5 T L 26.67T 0 . 4 0 .4 0 . 2 0.6 0.4 0.8 0.1T L F 0.3T L F fT f F F 222.2T T 15.76ha pF 200 0.30 pT 150 5.48T 1.2 0.6 0.4 0.2 q f (T , L, F ) 150 0.5T L F ii) O agricultor, se pudesse, só arrendava 6.31ha de terra e usava 168.3h de trabalho e 1402.8kg de fertilizante a que corresponderia um custo de 2525€. Mas já que não pode alterar a quantidade de terra, vai assumir esse custo como afundado, 3154€, e optimizar o que é ainda possível variar: a quantidade de trabalho e de fertilizante. 0.2T 0.6 L0.6 F 0.2 0.1T 0.6 L0.4 F 0.8 f F f L L 0.12 F L 67.4h pL 5 0.30 pF 0.6 F 561.6kg 50 1.12 F q f (15.76, L, F ) 150 0.5 x15.760.6 L0.4 F 0.2 O custo será de 3659€. Notar que o agricultor, mesmo que não produzisse nada, tinha na mesma 3154€ de custo. A actual agitação social que resulta do aumento do custo dos combustíveis (principalmente nos sectores dos transportes, pescas e agricultura) resulta de os elevados custo com os equipamentos serem custos afundados o que faz com que ao nível óptimo de actividade quase seja insensível ao preço dos combustíveis pelo que não há alterações nos mercados dos outputs. Se o custo em equipamento não fosse afundado, haveria um enfraquecimento da oferta que induziria um aumento do preço dos bens ou serviços produzidos nesses sectores. 104 Parcela fixa do custo variável e custo afundado: Sendo que a produção tem uma escala mínima (por exemplo, se uma pessoa empurrar um comboio, ele não se mexe), então existirá um custo mínimo que é independente da quantidade produzida e que, por ser independente do nível da quantidade produzida, se denomina por custo fixo. No entanto, este custo fixo é diferente do custo do factor fixo no curto prazo por não existir se for decidido não produzir nada. Assim, esta parcela fixa não é um custo afundado. Ex.3.14. Um pastor comprou 100 cabras por 3500€ (que não pode vender pois recebeu um subsídio), produzindo litros de leite segundo a relação Y(L) = 2.5L – 12.5. Para um salário de 5€/h, determine o custo afundado e a parcela fixa do custo variável. R: Se decidir não produzir nada, incorre no custo das cabras que é o custo afundado: 3500€. Se decidir produzir, o custo do factor variável será cv (q) 5L, s.a. q 2.5L 12.5 cv (q) 2q 25 que tem 25€ como parcela fixa (i.e., 5 h de trabalho gastas na alimentação). Custo de curto prazo e de longo prazo: Em resposta às flutuações dos preços de mercado, o produtor apenas pode ajustar, no curto prazo, o nível de trabalho utilizados na produção enquanto que, no longo prazo, pode ajustar também o capital. Então, o custo de curto prazo é sempre maior (ou igual) ao custo de longo prazo (ver, Fig.3.19). Apenas será igual quando a quantidade de capital coincidir com a óptima de longo prazo (no ponto A da Fig.3.19). Fig.3.19 – Custo de longo prazo e de curto prazo 3.3. Aplicações 105 Vamos apresentar aqui dois exemplos que são importantes em termos de compreensão do funcionamento da empresa. Primeiro vamos formalizar o custo do capital como sendo a taxa de juro a multiplicar pelo preço do capital. Segundo, vamos a aplicação a teoria do risco à decisão de longo prazo do produtor (com o nível de output fixo). A taxa de juro e o investimento: O input denominado como capital agrega os factores de produção que não se destroem no processo produtivo, (por exemplo, maquinaria, terrenos, instalações fabris, veículos, patentes, etc.). Pelo contrário, o input trabalho agrega os factores de produção que se destroem durante o processo produtivo. Vamos desprezar que parte do capital se degrada durante a produção (i.e., não existe amortização). Então, o preço do capital vai ser uma “taxa de utilização” denominada por taxa juro, r, paga ao preço de mercado do capital (enquanto que o preço do trabalho é o salário horário, w). Por exemplo, se o preço de mercado do capital for de 10€/unidade, a empresa usar 50000 unidades de capital e a taxa de juro for de 7% ao ano, então o custo do capital será de 35000€/ano. Incorporando esta forma de contabilizar o custo do capital, então a minimização do custo de produção (de longo prazo) resolve um problema de optimização com duas variáveis, L e K: (L, K ) : C(q) min L.w K.(r. pK ), s.a. q f ( L, K ) Em termos matemáticos, construindo a Lagrangeana L.w K.(r. pK ) ( f q) , obtemos a condição de 1ª ordem da minimização desta função custo: p L f ' L 0 f' f 'L K r. pK f 'K 0 pL r. pK q f q f Resulta deste sistema de equações a função investimento (procura de capital) que é decrescente com a taxa de juro. Ex.3.15. A produção de navios tem como função produção, y(L, K) = l0.4.k0.5u. Sendo os preços unitários do trabalho 10€/h e do capital 15€/u., determine a função investimento (em função da taxa de juro) para um nível de produção de 10 navios. f 'K 0.4l 0.6 k 0.5 0.5l 0.4 k 0.5 f 'L l 1.2 r.k 11.91 R: i) pL r. pK k 0.444 10 15r r q f 10 l 0.4 k 0.5 106 Se recordarmos o efeito da taxa de juro nos consumidores (o seu aumento faz enfraquecer a procura de bens ou serviços – ver, Fig2.27), a taxa de juro, tendo também o efeito de diminuir o investimento, é sem margem para dúvida, a variável económica que regula a economia relativamente ao desajustamento inter-temporais. Comportamento sob risco – Método de Monte Carlo: (Este ponto é apenas ilustrativo porque obriga a que o aluno tenha conhecimentos de estatística e de informática) No curto prazo, o produtor não pode alterar o nível de capital. Então, como a determinação do nível de capital que permite que o custo seja mínimo é obtido no longo prazo e este, está dependente dos preços dos inputs, é necessário, prever antecipadamente quais vão ser esses preços, o que não é possível sem algum erro. Esta ideia pressupõe a relaxação do pressuposto de que existe conhecimento público e perfeito (quanto aos preços futuros). Vamos considerar, sem perda de generalidade, que o produtor tem conhecimento perfeito do preço do capital (pois é adquirido agora) mas não sabe qual vai ser a taxa de juro nem o preço unitário do trabalho (que apenas vão sendo revelados ao longo do tempo quando o investimento já está feito e é um custo afundado). A prudência aconselha a que o produtor tenha um certo grau de aversão ao risco isto porque, está matematicamente provado, um investidor neutro ao risco acaba por falir. Uma forma de incorporar esse grau de prudência é fazer com que a função objectivo a minimizar seja crescente com o risco (e.g., medido o risco pelo desvio padrão do custo de produção), e crescente com o custo médio. Por exemplo, pode ser usada como função objectivo a forma funcional Z (k ) CM (k ) .SC (k ) , em que CM traduz o custo médio, SC o desvio padrão do custo e quantifica a aversão ao risco ( > 0). Como os preços são desconhecidos (a menos da sua distribuição probabilística), e o nível de trabalho é ajustável, CM e SC têm o nível utilizado de capital como única variável. Como esta função objectivo Z(k) é calculada sob o pressuposto de que existe erro na previsão dos preços, torna-se muito difícil a sua determinação algébrica. Uma metodologia simples é construir um modelo do Excel e simular variações aleatórias dos preços (usando a distribuição probabilística que se considera apropriada) que permitam calcular em termos computacionais qual é o custo médio e o seu desvio padrão em função do nível de capital. Este método computacional denomina-se por Método de Monte Carlo e a solução encontrada tem associada um erro que decresce com o aumento do número de simulações realizadas. 107 Ex.3.16. A produção de “dormidas de hotel” segue a função produção é, y(L, K) = l0.5.k0.8u. Sendo que cada quarto do hotel custa 15000€, que a taxa de juro estará entre 5% e 10% por ano e o preço do trabalho estará entre 5€ e 10€ por hora, determine a dimensão óptima do hotel para um nível de produção de 10000 dormidas por ano. Suponha que o produtor minimiza a soma do custo médio acrescido de metade do desvio padrão do custo: Z C 0.5SC . R: Para um nível K de capital, a quantidade de trabalho será L = 100002/K1.6. Se houvesse mais que um factor variável (por exemplo, trabalho e aquecimento), seria necessário determinar a quantidade óptima de factores variáveis em função dos preços. Vamos usar o Excel para simular preços (sortear da distribuição uniforme nos intervalos previstos) e calcular o custo (por dormida) esperado e o desvio padrão em função do nível de capital (e de trabalho). Consideramos a média de 2000 iterações (ver, Fig. 3.17). D2: =Media(D6:D2005); E2: =Desvpad(D6:D2005); F2: =D2+0,5*E2 B6: =5%+Aleatorio()*5%; C6: =5 + Aleatorio()*5; D6: =($C$2*$B$3*B6+$B$2*C6)/500 Fig.3.20 – Exemplo de aplicação do Método de Monte Carlo Usamos agora este modelo de simulação implementado no Excel para estudar a evolução do lucro e da função objectivo com o nível de capital. Para simplificar a rotina (podermos copiar os resultados da simulação para as colunas H, I, J e K usando o comando past+special+values e repetir com a tecla F4), colocamos na célula C2 a formula =Maximo(H5:H39)+5. Os resultados (ver Fig.3.19) apontam para que a dimensão óptima do hotel seja próximo dos 210 quartos. 108 "Custo" 50,0 € 47,5 € 45,0 € 42,5 € 40,0 € 100 150 200 250 300 Quartos 350 Fig.3.21 – Nível óptimo de capital para um produtor avesso ao risco Estimação da função de produção de um processo produtivo concreto. Como, na generalidade dos processos produtivos, os factores de produção são complementares, é adequado usar para a função de produção a forma funcional de Cobb-Douglas (i.e., a forma isoelástica). Acresce que também é frequente que a soma dos expoentes seja próxima da unidade. Então, identificados os principais factores de produção, podemos assumir para as potências (i.e., elasticidades) da função produção a proporção de cada factor nos custos totais. Esta propriedade faz com que, por um lado, havendo um aumento do preço de um factor, a quantidade utilizada seja reduzida na mesma proporção e que, por outro lado, se a proporção nos custos totais de um factor variar ao longo do tempo, então o produtor não está a ser optimizador (ou ocorreram inovações tecnológicas). Prova por exemplo: Um produtor tem como função de produção Y(T, L, F) = 0.5T0.5.L0.3.F0.2. Sendo os preços de mercado dos inputs 20€/u, 5€/u e 1€/u, respectivamente e o nível de produção 100. O produtor vai determinar a quantidade de inputs óptima resolvendo: 0.5T 0.5 L0.3 F 0.2 0.3T 0.5 L0.7 F 0.2 fT f L p pL 20 5 T L 2.4T T 152.209 0.5 0.3 0.2 0 .5 0 . 3 0 . 8 0.2T L F 0.5T L F fT f F F 8T L 365.301 pF 20 1 pT T 152.209 F 1217.67 0.5 0.3 0.2 q f (T , L, F ) 150 0.5T L F Os custos relativos virão iguais aos expoentes dos factores de produção: CL 365.301 20 3044.18 50% CF 1217.67 5 1826.51 30% C 152.209 1 1217.67 20% T 109 Se a forma funcional aplicável não for a Cobb-Douglas, a proporção dos inputs não for a óptima ou se a soma dos expoentes não for unitária, haverá algum erro em assumir os valores estimados como os verdadeiros. 110