cap-44-Formação territorial e regionalização

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FORMAÇÃO TERRITORIAL E REGIONALIZAÇÃO
Regionalização e formação histórica
1- Um elemento importante a ser ressaltado na divisão do Brasil em três regiões geoeconômicas, é que ela se ajusta melhor ao
processo de formação histórico-territorial do país. A formação histórico-territorial permite entender melhor a divisão de um espaço
nacional em regiões, como fica evidente no caso de países com Estados Unidos, Itália, Alemanha, China e vários outros.
1.1- Nos Estados Unidos, há uma diferença regional entre o norte e o sul (e também entre essas duas áreas e o oeste), pois
houve formas de colonização e de ocupação do espaço diferentes. O que deixaram marcas até os dias de hoje. No caso da Itália
a diferença regional entre o norte, mais industrializado, e o sul, mais agrícola, também reflete o processo histórico de unificação
do país.
1.2- No Brasil, é notável a diferença na ocupação histórica dessas três imensas regiões. O Nordeste foi a primeira região a ser
intensamente ocupada e explorada, desde os primórdios da colonização, no século XVI, com as plantações de cana-de-açúcar.
Já o Centro-Sul só começou a ser efetivamente ocupado após a mineração, no século XVIII, e principalmente com a economia
cafeeira, a chegada de imigrantes e a industrialização, fatos que ocorreram a partir do fim do século XIX. E a Amazônia foi a
última grande região do país a ser ocupada, num processo que ainda se encontra em andamento.
1.3- De forma resumida, pode-se dizer que o Nordeste simboliza o “Brasil velho ou colonial”, onde houve intenso uso de mão-deobra escrava e ainda há forte presença dos latifúndios e dos senhores de engenho ou usinas. O Centro-Sul identifica-se mais
com o “Brasil novo”, da indústria e da modernização, com grande presença de imigrantes italianos, espanhóis, japoneses,
eslavos, alemães, etc. a Amazônia, por sua vez, seria potencialmente a “região do futuro”, a área que, nos dias de hoje, conhece
o maior crescimento demográfico, com intensas transformações.
1.4- È lógico que essa caracterização não é de todo verdadeira, pois há elementos do “Brasil novo” no Nordeste, que apresenta
inúmeras áreas industrializadas e modernas, principalmente na Bahia e em Pernambuco. A participação do Nordeste na
economia brasileira, por sinal, cresceu de cerca de 12% do PIB nacional em 1980 para cerca de 14% em 2000. e, por outro lado,
também há forte presença do “Brasil velho ou colonial” no Centro-Sul, com latifúndios e áreas predominantemente agrícolas que
remuneram muito mal os trabalhadores. E na Amazônia nota-se a presença desses dois elementos, embora essa região ainda
possa ser caracterizada pela floresta e pelas baixas densidades demográficas, pelos desmatamentos e por conflitos pela posse
da terra.
1.5- Os contrastes regionais do interior do território brasileiro, dessa forma, originaram-se da nossa história, ou seja, do modo
pelo qual o Brasil se desenvolveu, desde a sua colonização por Portugal até a independência e a posterior industrialização e
urbanização. O fato de o Brasil ter sido colônia de Portugal voltada exclusivamente para o enriquecimento da metrópole, deixou
marcas que perduram até os dias de hoje, como a distribuição da população brasileira no espaço, por exemplo. Nas áreas
próximas ao litoral ocorrem as maiores concentrações demográficas e existem pouquíssimas áreas interiores com grandes
agrupamentos populacionais.
1.6- Na época do Brasil colonial, a população se adensou no litoral porque esse era o ponto de ligação do país com a metrópole.
Ainda hoje as regiões litorâneas são muito valorizadas porque a economia brasileira continua dependente das grandes potências
mundiais, especialmente dos Estados Unidos e da Europa ocidental.
1.7- Um economia do tipo colonial é aquela voltada essencialmente para a exportação de mercadorias baratas, produzidas com a
utilização de mão-de-obra mal remunerada. Os melhores produtos são destinados ao mercado externo, os piores são reservados
ao mercado interno, ou seja, ao consumo da própria população. Isso leva a valorização dos portos e das áreas litorâneas, pois o
transporte marítimo é o principal canal de comércio externo.
Nordeste, a primeira região colonizada
2- O Nordeste brasileiro é a região onde mais se percebem os traços da colonização. Primeira região de povoamento europeu, foi
a principal região econômica do Brasil colonial durante cerca de três séculos. Em algumas capitais nordestinas, como Salvador,
Recife e São Luís, existem até hoje igrejas e sobrados erguidos naquela época. Essas cidades, as primeiras a serem construídas
no Brasil, foram, durante todo período colonial, bem mais desenvolvidas e importantes que cidades como São Paulo ou Curitiba.
2.1- A colonização do Nordeste foi baseada na economia canavieira: a cana-de-açúcar era cultivada em grandes propriedades
monocultoras, com a utilização do trabalho escravo. Outros produtos, como o algodão, também foram cultivados, mas tiveram
importância muito menor. Até hoje encontram-se canaviais nos melhores solos nordestinos, desde o Rio Grande do Norte até o
norte da Bahia.
2.2- A ocupação colonial, voltada somente para o enriquecimento da metrópole, deixou no Nordeste características marcantes,
como a pouca vegetação original, que começou a ser derrubada no século XVI, e a grande presença da etnia negra na
população, resultante do uso maciço da mão-de-obra escrava até o fim do século XIX.
Centro-Sul, a região mais rica
3- O Centro-Sul do país, que se desenvolveu economicamente depois do Nordeste, é uma região mais industrializada, onde se
destacam cidades como Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Essa região teve um grande
desenvolvimento após a independência do Brasil (1822) e alcançou uma rápida industrialização a partir do fim do século XIX.
3.1- Apenas os estados de Minas gerais e do Rio de Janeiro foram intensamente povoados e explorados economicamente pelos
portugueses na época colonial. No entanto, considerando a região como um todo, podemos dizer que ela não conheceu
amplamente o trabalho escravo.
3.2- Nela se fixaram os maiores contingentes de imigrantes que vieram para o Brasil após a independência: italianos, espanhóis,
portugueses, japoneses, eslavos, alemães, etc. Nessa parte do Brasil é marcante a presença de povos de etnia branca de origem
européia, ao contrário das demais regiões, onde ela sem dúvida é minoritária.
Amazônia, a região menos povoada
4- A Amazônia, imensa região que abrange o norte e uma parte do centro do país, ainda é a região menos povoada do Brasil,
embora nas últimas décadas venha conhecendo um intenso processo de povoamento.
4.1- Durante vários séculos, permaneceu praticamente esquecida, porque os colonizadores não encontraram na região quase
nada de importante para explorar. Por ser distante da Europa e apresentar solos frágeis, a Amazônia não era conveniente para o
cultivo da cana de açúcar, principal produto exportado pelo Brasil colonial. Além disso, não se encontravam aí riquezas minerais,
como ouro ou diamante, durante o período colonial. Por isso, os portugueses não levaram a região muito em conta.
4.2- Até hoje, a Amazônia tem grandes “vazios demográficos”, áreas com baixíssimas densidades demográficas – às vezes até
menos de um habitante por quilometro quadrado. Nela encontramos os mais numerosos grupos indígenas, os habitantes originais
do nosso país.
As estreitas ligações entre as três regiões
5- As três regiões geoeconômicas do país dependem umas das outras. Elas participam da mesma economia nacional e da
mesma vida cultural e política, embora o país apresente grandes diversidades sociais e espaciais. Por exemplo, a decadência
econômica do Nordeste e o desenvolvimento do Centro-Sul, que ocorreram especialmente a partir do fim do século XIX, não
foram fatos isolados; pelo contrário, um está intimamente ligado ao outro.
5.1- No século XIX, o Brasil deixou de ser uma colônia de Portugal e conheceu, no fim do século, um início de industrialização. As
atividades econômicas declinaram – principalmente as exportações de açúcar e algodão – e as novas atividades se
desenvolveram, como o cultivo do café e a indústria. Com todas essas transformações, o Centro-sul passou a ser a região
economicamente mais importante do país, e seu poder político se tornou maior que o do Nordeste.
5.2- Até o fim do século XVIII, a capital do Brasil era a cidade nordestina de salvador (Bahia). Sua transferência, em 1763, para o
Rio de Janeiro, ou seja, para o Centro-Sul ocorreu justamente por causa do início do declínio econômico e político do Nordeste,
até então a região mais importante, mais rica e populosa do país. Nessa época, desenvolveu-se a mineração na “região das
minas” (parte do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais), que, justamente com o cultivo da cana de açúcar, foi uma das atividades
econômicas mais importantes da época colonial.
5.3- O declínio econômico do Nordeste em relação ao desenvolvimento do Centro-Sul acentuou-se ainda mais no século XIX. As
principais atividades agrícolas do Nordeste – e de todo o Brasil colonial – mergulharam numa grande crise. O algodão do
Maranhão e, principalmente, o açúcar de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas conheceram uma baixa nos seus
preços no mercado internacional por causa as expansão da produção dessas mercadorias em outros países.
5.4- Esse fato, juntamente com a enorme concentração da propriedade das terras nas mãos de poucas famílias nordestinas, fez
com que muitas pessoas saíssem da região para o Centro-Sul.
5.5- Dessa forma, desde o século XVIII o Nordeste vem fornecendo migrantes para as demais regiões brasileiras. Nos séculos
XVI e XVII, mais da metade da população nacional era constituída por nordestinos. No fim do século XVIII, o Nordeste possuía
mais de 40% da população brasileira. Essa percentagem caiu para 35% em 1940 e para 28% em 2000. apesar de a população
nordestina ter aumentado bastante nesse período, houve um decréscimo relativo, isto é, sua população passou a representar
uma parte menor do total do país.
5.6- A Amazônia, entretanto, vem sendo intensamente ocupada desde 1970, aproximadamente. Trechos enormes da floresta
amazônica foram derrubados, dando lugar ao capim para a criação de gado. Outras áreas foram reservadas para a agricultura,
para a mineração ou para a edificação de cidades e povoados, para onde afluem grandes levas de migrantes provenientes do
Centro-Sul (principalmente o Rio Grande do Sul) e do Nordeste (a maior parte).
5.7- Afinal, podemos perceber que, embora fortemente influenciada pelo mercado externo, a economia nacional é uma só, da
qual todas as regiões participam. Quando uma área entra em decadência e outra começa a se expandir, ocorrem deslocamentos
de migrantes de uma região para a outra.
5.8- O mercado internacional muito contribui para esses transformações. Por exemplo, com a diminuição das compras do açúcar
brasileiro – produzido principalmente no Nordeste – pelo mercado internacional, a partir do século XIX, desenvolveram-se as
exportações de café. Como nesse período o café era cultivado principalmente em São Paulo, grandes levas de nordestinos
deixaram a região, indo para o Centro-Sul do país.
5.9- Hoje isso vem ocorrendo em relação à Amazônia. Região de imensas riquezas minerais e enormes espaços ainda pouco
explorados, a Amazônia vem sendo mais intensamente ocupada nas últimas décadas; pra lá vão populações das outras regiões –
principalmente do Nordeste – em busca de melhores oportunidades de vida.
ATIVIDADES
I- Explique quais são as ligações entre regionalização e formação histórico-territorial de um país.
II- Por que a divisão do Brasil em três regiões geoeconômicas se ajusta melhor à nossa formação histórico-territorial?
III- Essas três regiões geoeconômicas são isoladas ou interdependentes? Justifique.
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