Leucemia Linfóide Aguda (LLA)- Comparação entre Esquema

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Miocardiopatia Dilatada Associada ao Interferon Alfa
Antonio Sérgio Cordeiro da Rocha*
Júlio Mandu*
Maria Tereza Machado de Paula***
Luiz Carlos Rubim**
Heloisa Helena Arantes Gallo da Rocha****
Rev. Inst. Est. Hem. “Arthur de Siqueira Cavalcanti”,11(1/2): 31-34,1994
ABSTRACT
This is a case report of a 41 years-old-white-man with hairy cell leukemia that developed
systemic lupus erythemathosus after treatment with interpheron alpha 2 b and 24 months
after he also developed cardiomyopathy dilated. It is discussed that the cardiomyopathy
could be secondary to lupus but this is not the case for the agressivity of the disease does
not support this diagnosis. So this is a cardiomyopathy interpheron induced.
INTRODUÇÃO
O interferon alfa é uma glicoproteína derivada dos leucócitos com propriedade
imunomoduladora, antiproliferativa e antiviral. Tem sido empregado com sucesso no
tratamento da tricoleucemia, leucemia mielóide crônica, mieloma múltiplo, trombocitemia
essencial e outras patologias 1.
Apesar de causar uma série de efeitos colaterais, os efeitos cardiovasculares adversos são
raros 2. Durante as reações febris inicial, induzidas por esse medicamento, taquiarritmias
supraventriculares, hipotensão e/ou hipertensão podem ocorrer transitoriamente, sem
colocar em risco a vida dos pacientes 2. No entanto, nos últimos anos, alguns casos de
disfunção miocárdica relacionados ao seu uso foram descritos 2,3.
Neste relato descrevemos o caso de um paciente com tricoleucemia que desenvolveu
miocardiopatia dilatada após o uso de interferon alfa.
RELATO DO CASO
Homem, 41 anos, branco, eletricista, natural do Espírito Santo , matriculado e
acompanhado ambulatorialmente no Instituto Estadual de Hematologia do Rio de Janeiro
(IEHE) desde 1990, com diagnóstico de tricoleucemia. Não havia história pregressa de
hipertensão arterial, alcoolismo ou uso de drogas ilícitas. Ao exame físico de admissão
hospitalar, além dos sinais de anemia, hepato-esplenomegalia e das lesões cutâneas
causadas pela tricoleucemia (vasculite leucocitoclástica),exame cardiovascular normal. Um
RX de tórax obtido na admissão mostrava área cardíaca normal. Após o início do
tratamento com interferon alfa 2b, 2,5 milhões U bi- semanalmente, houve involução das
visceromegalias e aumento progressivo dos índices hematimétricos. No entanto, houve
desenvolvimento de lupus eritematoso sistêmico (LES) secundário ao interferon,
caracterizado por exacerbação das lesões de pele e aparecimento da neurite periférica
1
.Vinte e quatro meses após a suspensão do interferon, o paciente foi internado com
insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Queixava-se de dispnéia progressiva aos esforços,
ortopnéia, dispnéia paroxística noturna e apresentava-se em anasarca.O RX de tórax
mostrava aumento moderado a grande da área cardíaca, à custa das quatro cavidades e
sinais de congestão venosa pulmonar (Figura 1). O ecocardiograma bidimensional mostrava
um grande aumento do ventrículo esquerdo, com hipocinesia severa do septo e parede
posterior, valva mitral em “pinheiro tombado” e aumento das demais cavidades (Figura 2),
configurando grave comprometimento da função biventricular. O eletrocardiograma
revelava baixa voltagem no plano frontal, sinais de hipertrofia ventricular esquerda e
alterações primárias e difusas da repolarização ventricular. Tratado com digoxina, captopril
e furosemida apresentou melhora da síndrome congestiva sistêmica e pulmonar.
DISCUSSÃO:
A miocardiopatia dilatada é uma doença que se caracteriza pela dilatação das cavidades
ventriculares, diminuição da força contrátil do miocárdio e que culmina, quase que
invariavelmente, em quadro de insuficiência cardíaca congestiva. Apesar da natureza difusa
do acometimento miocárdico, é comum um aumento mais acentuado do ventrículo
esquerdo durante a evolução da doença. Pode ser de origem idiopática ou secundária a
infecções virais ou bacterianas, parasitoses, agentes químicos (etanol, cobalto, etc), drogas
(antracíclicos, cocaína e outras), deficiência nutricional (tiamina, selênio, carnitina),
reações imunes e outras4.
Nos últimos anos, casos de disfunção miocárdica reversível 2 e de insuficiência cardíaca
congestiva fatal 3 foram descritos na literatura médica.
Neste relato é descrito o caso de um paciente portador de tricoleucemia que desenvolveu
LES e miocardiopatia dilatada após o uso de interferon alfa.
A disfunção miocárdica apresentada pelo paciente poderia ser causada pelo LES. No
entanto, sabe-se que nessa doença a agressão miocárdica é proporcional a intensidade da
agressão sistêmica e, no caso em questão, as lesões, restritas a pele e ao sistema nervoso
periférico (neurite periférica), estão longe de representar as manifestações sistêmicas graves
do LES. Desse modo, o grave comprometimento da função miocárdica verificada no
paciente tem etiologia diferente daquela produzida pelo LES.
Nos casos de insuficiência cardíaca (IC) secundários ao uso de interferon alfas descritos na
literatura até a presente data, a disfunção miocárdica desenvolveu-se durante o curso do
tratamento, sendo que em alguns desses casos houve regressão da disfunção com a
suspensão ou a diminuição da dose da droga 2. No caso que relatamos, a IC surgiu alguns
meses após a suspensão do medicamento. No entanto, devido a gravidade da disfunção
miocárdica encontrada, é plausível admitir que tais alterações tenham se iniciado mais
remotamente à época da internação do paciente em IC. É comum, na história natural da
miocardiopatia dilatada, haver um intervalo de tempo, que pode durar anos, entre o início
da agressão miocárdica e suas manifestações clínicas, o que explicaria o espaço de tempo
entre a interrupção do interferon e o aparecimento da IC.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA
1. PAULA,MTM., RUBIM,LC, GALLO DA ROCHA, HHAG et al: Lupus eritematoso
sistêmico após uso de interferon na tricoleucemia. Ver. Inst. Est. Hemat. “Arthur de
Siqueira Cavalcanti”, 1993,10 (1/2): 5-9.
2. DEYTON,LR,WALBER,RE, KOVACS,JÁ et al: Reversible cardiac dysfunction
associated with interpheron alpha therapy in AIDS patients with Kaposi’s sarcoma.
N.Engl.J.Med., 1989, 321: 1246- 1249.
3. COHEN, MC, HUBERMAN,MS & NESTO, RW. Recombinant alpha 2 interpheronrelated cardiomyopathy. Am. J. Med., 1988, 85: 549-551.
4.WYNNE,J, & BRAUNWALD E. The cardiomyopathies and myocarditides: toxic,
chemical, and physical damage to the heart.In: braunwald, E. Heart disease. Philadelphia,
WB Saunders Co., 1992, p. 1394- 1450.
* Cardiologistas do Serviço de Hematologia Clínica do IEHE.
** Médicas Hematologistas do Serviço de Hematologia Clínica do IEHE
*** Chefe do Serviço de Clínica Hematológica do IEHE .
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