História dos Barattas Ômicidas Quando pensei em escrever a história da nossa “bandinha” me empolguei imediatamente, mesmo não sabendo exatamente o por quê. O que eu teria para contar sobre uma banda que tem um nome desse tipo: Barattas Ômicidas, sendo o inseto com dois tês e o homicidas sem “h” e com acento circunflexo no “o” (fato que deixa a palavra impronunciável)? Acho que foi exatamente isso que me impulsionou a escrever esta história (hehehe), ou seja, o ridículo que a banda sempre bateu de frente ou então andou paralelamente em todo tipo de evento que participou. Afinal, dizem que um bom time começa com um bom goleiro (frases feitas são horríveis, portanto me desculpem o apelo), mas nossa banda começava com um péssimo nome, certamente. O nosso saxofonista costuma fazer uso de seu conhecimento acadêmico (Gustavo é aluno de Ciências Sociais na UFPE) para dar uma explicação lógica para o nome Barattas Ômicidas. A personificação da barata seria um processo semelhante à transformação do homem em barata feita pelo escritor Kafka, tentando demonstrar a insignificância do elemento individual na sociedade moderna, havendo, assim, a morte do narrador. Visto por esse prisma, o nome Barattas seria perfeito para explicar a revolta do individual, da necessidade de falar, de expor pensamentos, enfim de mostrar o que realmente quer mostrar, sem a violência cultural a qual estamos submetidos em qualquer lugar do mundo, seja no Brasil ou no tão idolatrado Estados Unidos. Sinceramente, leitor, não se espante. Talvez eu devesse plagiar Machado de Assis e propor a você, que está do outro lado das letras, que desista desta história e procure algo útil para ler, mas o que é útil hoje em dia? Veja? Isto É? Caras? Fique, por favor, e espere o final da história e você verá que perdeu seu tempo, mas você já faz isso o tempo inteiro, por quê não mais uma vez? No dia 21 de dezembro de 1998 eu (Chico Sá Barreto) ganhei uma guitarra de meu tio Antônio, como prêmio pela minha aprovação no vestibular de História da UFPE (hehehe, morallll). Isso findou por proporcionar algumas reuniões (zonas) com o objetivo de tocar algumas musicas. O primeiro grande problema se apresentou logo no primeiro ensaio. Eu, Cleber (Baixo) e Henrique (guitarra) éramos iniciantes. Ou melhor, ainda somos. Eu não sabia tocar absolutamente nada; Cleber e Henrique já manjavam alguma coisa, muito pouco, mas alguma. Algo como ‘Eu Tenho Pressa’, dos Devotos, e ‘Sonífera Ilha’, dos Titãs, foi o que conseguimos tocar nos primeiros dias. Até então, não tínhamos um nome, nem uma banda (afinal será que temos?) e nem uma idéia para formar uma. Só queríamos brincar e pronto. Tempo era o que não faltava. Eu tinha três meses de férias, Cleber (costumeiramente chamado de mOTA (seu nick na internet)) e Henrique tinham oito (passaram no vestibular, mas só entrariam na Segunda entrada; mOTA em Publicidade na UFPE e Henrique em Administração na Católica). A vontade, particularmente falando, de tocar algo mais difícil, como Engenheiros do Hawaii (hehehe, não resisti à tentação de mencionar minha banda predileta) era o que nos impulsionava a fazer sempre o melhor. Passávamos todos os dias juntos e à noite ainda nos encontrávamos no IRC (programa de bate-papo na internet), onde conversávamos com outras pessoas que tocavam, como Gileno e Gustavo. Estes, eram melhores que a gente e poderiam até entrar para a banda, e por quê não? Gileno caiu como uma luva, pois tocava infinitamente melhor que a gente (não sei se mudou muita coisa não, mas já nos entendemos melhor) e seus solos delicados (hum!!!) apareceram muito bem na banda, que já tinha um nome de brincadeira: Baratas Homicidas Viciadas em BAIGON. Gustavo toca sax e quase nenhuma banda de rock tem um sax, logo, precisávamos aparecer um pouco mais. Como Gil, Gustavo entendia de teoria musical e podia ajudar no nosso crescimento. Podemos até concluir que a entrada de Gil e Gustavo na banda foi uma questão de interesse, afinal só queríamos melhorar. Quando isso acontecer, botaremos os dois para fora da banda (heheheheheh, uma brincadeirinha para descontrair). A verdade é que a entrada de um novo guitarrista (um solista) e um saxofonista enriqueceu bastante a banda. Paralelamente a esse processo, começávamos a compor (acho que seria mais adequado dizermos que começamos a “inventar” músicas, mas me lembro que Drummond dizia que “o poeta penetrava no mundo das palavras e de lá tirava suas poesias”, com a música deve funcionar da mesma maneira; elas estão todas lá, no mundo da harmonia, do som, do delírio; cabe ao músico, ou “musiqueiro”, penetrar nesse esconderijo e reinventar o que todos já sabem). ‘Dilemas da Simetria’ (música mais conhecida da banda) surgiu dessa maneira. Eu fiz a música e Gustavo arranjou e fez a letra. Ficou uma musiquinha realmente bonita e nos inspirou a fazer mais e mais. Dessa forma, acredito, eu e Gustavo assumimos a posição e responsabilidade de compor para banda. A grande verdade é que a participação em eventos era impossível. Nem sequer tínhamos um baterista e nome. A banda se caracterizava por ser uma banda de amigos, só faltava um amigo baterista. E conhecíamos um: Mivacyr Filho (isso mesmo, eu não errei na digitação não). Miva era um colega nosso do Marista (todos nós somos ex-alunos Maristas, mesmo que de épocas diferentes, como Gileno, que concluíra em 96; todos os outros haviam se formado em 98(devemos dizer, no entanto, que no Marista não passávamos de conhecidos)); um cara punk, ou melhor, brega, quer dizer, pagodeiro, melhor dizendo sei lá, era qualquer coisa que fizesse som. Mas a verdade é que Miva não gostava do que fazíamos (costumava dizer que tocávamos coisas do tempo da vó dele, um pouco de exagero, só porque somos meio apegados aos anos oitenta, mesmo sem termos sido adolescentes naquela época). No segundo semestre de 99 iria acontecer o 2º Garagem Marista (um festival de bandas de garagem filiadas ao colégio: oportunidade perfeita para estrearmos). Estávamos morrendo de vontade de participar, mas não tínhamos um baterista. Bom, a banda se formara toda na internet, então por quê o baterista não viria de lá? Comecei a procurar loucamente até que encontrei Harlan. Este era um cara meio doido, mas muito gente fina (o cara que topa tocar com os Barattas tinha que ser muito gente fina mesmo). Praticamente intimei o tal desconhecido a entrar na banda e tocar no Garagem Marista, que aconteceria alguma semanas depois (duas, mais precisamente). Éramos uma banda: tínhamos nome (BaRaTTaS ÔmIcIdAs) e componentes (Eu (Chico) na guitarra e voz, Gileno na guitarra, Henrique na guitarra, mOTA no baixo, Gustavo no sax e voz e Harlan na bateria). Um detalhe que deve ser mencionado é que somos mesmo uma banda gigantesca. Dia 3 de setembro de 1999 estreamos fechando o Festival Garagem. Foi uma apresentação péssima, mas muito bem recebida pelos 75 mortais (aproximadamente) que esperaram até uma hora da manhã para nos assistir. Tocamos ‘Toda Forma de Poder’ para abrir o show e, modéstia à parte, levantamos a galera. Eu estava completamente rouco de nervoso e de modo geral a banda errou bastante, mas agradamos em cheio. Parece que aquele público que tinha ouvido punk-rock das cinco da tarde à uma da manhã finalmente dançava o que queria dançar. Queriam mexer as pernas e cantar. ‘Dilemas da Simetria’ também surgiu como grata surpresa e nos deixou realmente feliz, tirando o erro no solo, cometido por Gileno (todo mundo percebeu). Gabriela, uma amiga nossa, foi quem cantou tal música e, não é porque ela é gata não, mas ela detonou mesmo (a menina tem uma voz impressionante). Gabi tem uma voz doce e deixou a nossa música melhor ainda. ‘Exército de Um Homem Só II’ emendada com ‘Que País é Este?’ só comprovou a vontade que o público tinha de dançar, de pular, enfim de comemorar a primeira apresentação dos amigos que estavam ali naquele palco. Gustavo cantou sua primeira música em ‘Another Brick in The Wall’ (ela mesma, do Pink Floyd) e também se saiu muito bem. ‘Revoluções Por Minuto’ foi meio que uma lástima. Eu e Gustavo, que cantávamos juntos tal música conseguimos esquecer o mesmo trecho da letra (ehehehhhehehe, que coisa horrível). Acabamos o show e o público queria mais. O grande problema é que não sabíamos tocar mais nada. Mesmo assim, ainda mostramos ao público uma versão nossa para ‘Eu Tenho Pressa’ (Eu Tenho Pressa de Vender), ‘Sweet Child O’mine’ (do Guns) e ‘Sonífera Ilha’. Para um primeiro show, merecíamos até um churrasco de comemoração, que realmente aconteceu no dia seguinte, na casa de Henrique (lugar que sempre acolheu com muito boa vontade e disposição os ensaios amadores dos Barattas; agradeço à santa paciência de seu Clóvis e dona Marluce (pais de Henrique)). Depois do show do Marista Amigo, paramos e começamos a achar que não mais seríamos convidados a tocar no ano de 99, mas isso não aconteceu. Surgiram outras duas oportunidades: a festa do dia das Bruxas do ABA e uma festa da Cultura na UFPE. A apresentação no ABA foi excelente. Além de festa era uma espécie de torneio que disputamos com outras 13 bandas. Ficamos em décimo, mas a nossa fidelidade ao estilo (algo que foi único em meio às várias bandas Mangue (modismo pernambucano) e o velho punk rock (modismo da revolta do jovem moderno)) foi o que mais nos deixou feliz. Conseguimos ficar na frente de 4 bandas que tocavam o estilo que foi melhor recebido pelos jurados. Além disso nossas composições: ‘Dilemas da Simetria’ e ‘Demiurgo’ obtiveram nota máxima no quesito músicas próprias. No caso do show na UFPE, o que se pode dizer é: problema técnico. De modo geral, tivemos mais problemas que músicas. Mesmo assim, o público era excelente e o ambiente (Riacho do Cavouco, mais conhecido como Laguinho), melhor ainda. Nossas músicas foram todas bem recebidas. A verdade é que aquele show me envaidece muito. Algo que devemos lembrar é que no show do ABA e na UFPE já contávamos com um novo baterista: Miva, aquele mesmo do início da história. Podemos dizer que ele assumiu a vaga por ser o único conhecido e por não ser tão doido quanto Harlan. Além disso um fato que influenciou bastante era a realidade de Miva ter um carro e poder dar carona de volta dos ensaios para alguns pé rapados como eu (brincadeira, Miva, gradativamente, se mostrou como um excelente baterista, o melhor que conheço, é verdade, se bem que conheço poucos). Apesar de problemas internos, somos uma banda muito legal (eu tinha que colocar algo desse tipo, pra vocês acharem que somos mesmo legais e comprarem nossos produtos). Sem modismos e principalmente desimpedida. Tocamos o que realmente queremos e compomos o que gostamos. Atualmente, estamos trabalhando nas músicas novas e devemos entrar em processo de gravação do nosso cd independente. Podemos resumir BaRaTTaS ÔmIcIdAs a: bom humor e falta do que fazer. Espero que você, caro leitor, tenha gostado de perder seu tempo lendo a história dessa banda de apenas um ano, mas certamente original! Recife, 1 de outubro de 2000