V I Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia

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A INCORPORAÇÃO DA DIMENSÃO DO TURISMO
NO ENSINO DA GEOGRAFIA1
Herbe Xavier2
Por ocasião da realização do 5o. Encontro Nacional de Prática de Ensino de
Geografia, realizado em 1999, na PUC-Minas, Belo Horizonte e que tivemos a
oportunidade de coordenar, colocamos na pauta da programação, um tópico
referente à dimensão do turismo na Prática de Ensino de Geografia. Deu-se, esse
fato, em função da necessidade de repensar os programas de Geografia, diante
das grandes mudanças ocorridas nesta passagem de milênio e que repercutiram
na definição de novos valores e na incorporação de novos paradigmas em todos
os campos do conhecimento.
Por ocasião de tais discussões, destacou-se o amplo espaço aberto para as
atividades de recreação, de lazer e de turismo nas sociedades pós-modernas,
bem como o significado do turismo na organização espacial. Destacou-se,
também, o fato de que em nossa formação geográfica a conscientização pelo
turismo foi negligenciada. Como exemplo significativo foi ressaltado que no ensino
fundamental e médio, tanto os programas, como os livros didáticos deram ênfase
às atividades do homem como a agricultura e a indústria, incluindo sempre
capítulos referentes a essas atividades. O turismo não era citado. Assim, tomamos
consciência sobre a importância da agricultura ou da indústria na organização do
espaço geográfico. Sobre o turismo, essa tomada de consciência não aconteceu.
Com isso, vale dizer que não podemos esperar ações efetivas, da comunidade,
se a população ainda não atingiu o limiar do conhecimento sobre o turismo. Assim
considerando, a incorporação do turismo pela prática de ensino de Geografia é
importante e deve ser considerada.
Interessante, ainda, foi destacar que na conferência de abertura do 5 o. Encontro
Nacional de Prática de Ensino proferida pela Professora Lívia de Oliveira foram
feitas considerações sobre entrada no novo milênio, destacando que um mundo
novo se apresenta diante de nós. A referida professora (1999) chamou a atenção
no sentido de se criar novas técnicas e novos métodos para uma clientela nova.
Deve ser uma nova Geografia, uma Geografia para um novo mundo. Ainda por
essa ocasião, destacou-se a importância da interdisciplinaridade, continuando
presente, não apenas entre as disciplinas da grade curricular, e talvez mais
relevante seja a “ousadia do diálogo” dentro da própria disciplina. A Geografia
precisa ousar, trabalhar as atividades geográficas como um todo. Chamou a
atenção para o fato de ter-se dado, até então, prioridade ao econômico, em
detrimento do social, do construído e das condições de vida.
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Palestra apresentada em mesa redonda no ô. Encontro Nacional de Prática de Ensino de
Geografia, USP, 2001.
2 Doutor em Geografia pela UNESP/ Rio Claro. Professor do Departamento de Geografia e da
Escola Superior de Turismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
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Nesse sentido, ressalte-se a importância de nos preocuparmos com as mudanças.
Entre elas: as variações ambientais, as transformações e os novos ritmos do
crescimento, do apogeu, e das crises de certas atividades do homem. É
exatamente nesse contexto que nos deparamos com as grandes transformações
que se verificaram na economia, na política, na tecnologia e nas ciências que, de
certa maneira, vieram reforçar a importância das atividades de lazer nas
sociedades pós-modernas, proporcionando condições para que as viagens se
incorporassem, cada vez mais na vida dos homens e fazendo do turismo a
atividade que vem apresentando a maior expansão nesta virada de milênio.
Segundo todas as estimativas, a atividade de turismo continuará crescendo, em
taxas elevadas, durante as próximas décadas, contribuindo, assim, para a
criação de novos postos de trabalho e de riqueza.
Tal situação vem mostrar, como diz a Professora Dra. Lívia de Oliveira (1999) a
necessidade da Geografia vestir roupas novas, coloridas, enfeitadas e continuar
privilegiando o seu conteúdo, o espaço terrestre geográfico. Por isto,
questionamos como a Geografia deverá incorporar a dimensão do turismo?
Como atividade que mais cresce no mundo-hoje, o turismo vem proporcionando
enormes transformações na organização dos espaços geográficos, explorando as
grandes riquezas conhecidas e procurando novos espaços. O turismo ao se
expandir nos países ricos, mostra seu interesse em satisfazer as necessidades de
uma clientela com aspirações e motivações decorrentes de uma nova realidade
contemporânea. Dos países ricos a prática do turismo expandiu-se pelo planeta,
convocando regiões, distantes, bem conservadas, dos países periféricos de todo o
mundo a entrarem em seu cenário.
No Brasil, tornou-se patente a revelação dos interesses externos, para a expansão
do turismo, colocando-se à disposição dos centros de decisão do capitalismo
internacional. Enquanto isso, internamente, brasileiros se deslocam de seus locais
de moradia para outras regiões anunciando a perspectiva de um grande
incremento dos deslocamentos internos. No plano de negócios, são simulados
vários cenários, como necessidades essenciais de assegurar a viabilidade
financeira dos projetos, de atrair investidores, conduzindo os interesses muito
mais para a função econômica do que para as funções sociais, culturais ou
ecológicas do turismo.
Por tudo isso, algumas situações ligadas à organização do turismo, no Brasil,
devem ser mencionadas para discutirmos a respeito da incorporação da dimensão
do turismo no ensino da Geografia.
1- O processo de interiorização do turismo
2- O Programa Nacional de Municipalização do Turismo
3- Os impactos sócioambientais gerados pela atividade turística nas áreas
receptoras.
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O processo de interiorização do turismo reflete uma situação atual da expansão de
formas alternativas a exemplo do turismo em base de desenvolvimento local, que
muito tem sido trabalhado pela professora Dra. Adyr Ballestrari Rodrigues e que
corresponde a uma modalidade de organização que, além de possibilitar o
deslocamento de pessoas em distâncias mais curtas, irá privilegiar os lugares,
oferecendo oportunidades para os pequenos investidores e garantindo uma maior
sustentabilidade dos recursos e das identidades locais.
A concepção de estratégias de desenvolvimento local pelo turismo encontra-se no
nível de micro-regiões, de pequenos territórios, de cidades pequenas e médias ou
mesmo de vilas e povoados onde são fortemente sentidas as mediocridades de
condições de vida, traduzidas no êxodo e na pobreza. Nas regiões carentes ou
estagnadas são acatadas as atividades turísticas com vistas à correção dos
desníveis de desenvolvimento, na expectativa de que elas possam proporcionar
um aumento na geração de renda e de empregos e, consequentemente, na
melhoria da qualidade de vida da população.
O professor Irleno Porto Benevides (1996) postula que o turismo com base no
desenvolvimento local, se contrapõe ao modelo dominante no Brasil, conectado
com o processo de globalização e que acarreta tendências ambientais
degradantes. Segundo esse autor, a manutenção da identidade cultural dos
lugares constitui uma via mais democrática de desenvolvimento e que acarreta
tendências ambientais menos degradantes. Tendo na comunidade os atores do
processo, o turismo em bases locais, favorece o estabelecimento de pequenas
operações com baixos efeitos impactantes de investimentos.
Para a Geógrafa portuguesa Dra. Carminda Cavaco (1996) o turismo ligado ao
desenvolvimento local se assenta na revitalização e na diversificação da
economia. Possui plena capacidade de fixar e atrair a população com êxito para
assegurar melhores condições de vida. Ressalte-se, ainda, considerável êxito na
valorização de certas produções como na agricultura, além de favorecer planos
de desenvolvimento do artesanato e de outras atividades ligadas à cultura, a
exemplo das feiras e das festas tradicionais e das manifestações populares.
Cavaco destaca que os modelos de crescimento apresentam fundamentos
essencialmente quantitativos dos fatores de produção, tais como, os recursos
naturais, a mão-de-obra, o capital e a tecnologia. Fundamentam-se também nos
efeitos da aglomeração da produção e de sua proximidade dos mercados. Diante
disso acrescenta que ficam marginalizadas muitas questões ligadas às condições
sociais, culturais, psicológicas e ambientais.
Além disso, tais modelos têm, por vezes, gerado efeitos negativos do próprio
crescimento, a exemplo da externalização e socialização dos custos ambientais,
os riscos de uso intensivo dos recursos naturais que levam aos limiares da
sustentabilidade, ocasionando o desemprego, a violência e os bolsões de
pobreza. Portanto, é pois, sugerido por Cavaco formas alternativas de turismo que
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possam estimular a implantação de pequenas e médias empresas e manutenção
de unidades artesanais de produção de bens e serviços.
De toda sorte, verifica-se a abertura para estudos ligados ao planejamento e uso
turísticos, elegendo a estratégia de desenvolvimento local, vem proporcionar um
amplo campo de interesse para a Geografia.
Além de todas essas considerações que se traduzem no valor do turismo local,
surge outro aspecto de consideração extremamente relevante: o envolvimento da
comunidade. A comunidade local tem melhores oportunidades de envolvimento
em todas as fases do processo de implementação do turismo e nas tomadas de
decisão sobre o planejamento. Portanto, considera-se de fundamental importância
a participação comunitária nos processos de inventário e no planejamento, a nível
municipal.
Já em relação ao item ligado ao Programa Nacional de Municipalização do
Turismo, vale dizer que o objetivo, proposto pela EMBRATUR, está em fomentar
o desenvolvimento turístico de maneira durável nos municípios, com base na
sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e política; conscientizando
e sensibilizando a sociedade para a importância do turismo como instrumento de
crescimento econômico, de geração de emprego, de melhoria da qualidade de
vida da população e de preservação de seu patrimônio natural e cultural;
descentralizando as ações de planejamento, e coordenação; motivando os
segmentos organizados do Município a participar da formulação e da co-gestão do
Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo, e disponibilizando aos
municípios brasileiros com potencial turístico, as condições técnicas,
organizacionais e gerenciais para o desenvolvimento da atividade, no sentido de
elevar os níveis de qualidade, eficiência e eficácia da prestação dos serviços
voltados para o turismo.
Isso posto, verifica-se que tanto o processo de interiorização do turismo com base
no desenvolvimento local, quanto a Política Nacional de Municipalização do
Turismo, bem como nos programas ligados à sustentabilidade do turismo, têm em
seus propósitos o envolvimento da comunidade local e a conservação do
patrimônio ambiental e cultural. Esses propósitos nos levam aos seguintes
questionamentos:
1- A comunidade está preparada para esse envolvimento.?
2- A atividade turística vem garantindo a sustentabilidade dos recursos?
3- Como a Prática da Geografia poderá contribuir para esses propósitos?
A escola, de modo geral, tem permanecido omissa ao processo. Como já
destacamos anteriormente, ela, ainda, está mais voltada para outras atividades
econômicas a exemplo da indústria e seus reflexos na organização do espaço.
Assim, partimos do pressuposto de que, de modo geral, não houve, ainda, uma
tomada de consciência da comunidade sobre o turismo.
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Por outro lado, na procura de estabelecer relações com o ensino de Geografia
destacamos outras questões:
Qual seria o papel da Prática de Ensino da Geografia, nesse contexto? Quais
seriam as possibilidades de, através do ensino, proporcionar uma tomada de
consciência da população no sentido de buscar um maior equilíbrio entre as várias
funções que o turismo apresenta? Se a Geografia tem como proposta a interação
do binômio sociedade/natureza como trabalhar a questão diante das grandes
transformações ambientais que o turismo vem proporcionando? Como as pessoas
avaliam o turismo? Essas pessoas conhecem seus benefícios e seus riscos? Que
opções as pessoas têm no sentido de viverem ou trabalharem em lugares
turísticos? Quais seriam seus limiares de conhecimento e de tolerância em relação
às transformações que o turismo proporciona?
A tentativa de responder a tais questões, que constituem, todas elas, temas em
abertos para as pesquisas em Geografia,
nos leva a considerar alguns
pressupostos.
1- O conhecimento da atividade turística inicia-se pelo reconhecimento dos
benefícios e dos riscos que a atividade proporciona. São retratadas situações
de risco-benefício.
2- O conhecimento do turismo, tem sido, em grande parte, proporcionado pela
mídia, retratando quase que exclusivamente as situações de viagens.
3- Diante dos poucos conhecimentos e informações sobre o fenômeno turístico,
as pessoas absorvem a atividade mas, permanecem, entretanto, sem saber o
que fazer.
4- A estratégia da percepção do meio ambiente poderá proporcionar situações
importantes no sentido da Geografia incorporar a dimensão do turismo na vida
das pessoas.
Diante de tais pressupostos, e para abrir uma discussão a respeito, inicialmente,
tomo a liberdade de fazer uso das palavras a Professora Maria Teresa Souza Cruz
(1999), quando diz que, uma proposta de Prática de Ensino de Geografia deve ser
capaz de ultrapassar o reducionismo da discussão meramente pedagógica (o
discurso conteúdo-forma) e lançar-se no ponto central da questão: meta a atingir
seja em sala de aula, seja nos diferentes papeis vivenciados na sociedade, a partir
de uma visão crítica de mundo.
Segundo Souza Cruz é de importância fundamental realçar que uma proposta
para a Prática de Ensino de Geografia, deve explicitar caminhos a serem
perseguidos, a partir da relação ação-reflexão-ação por professor e aluno na
situação real e vivencial da aprendizagem. Acrescenta, portanto, que os
pressupostos de educação e de aprendizagem deverão nortear os objetivos a
serem colimados, mas sem perder de vista a importância e o significado da
orientação ao saber fazer didático, dentro de um processo participativo de
produção o conhecimento e mudança de conduta em relação à sociedade, na
perspectiva do Para quê? Para quem? Como? Ensinar Geografia. Extrapolando,
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as questões colocadas pela Professora Maria Teresa Souza Cruz, acrescentamos:
como incorporar a dimensão do Turismo na Prática de Ensino da Geografia?
O turismo interage com todas as áreas do saber geográfico. Uma visão a esse
respeito torna-se bastante clara ao considerar o Sistema Turístico, cujo conceito
foi muito bem expresso pelo Prof. Dr. Mário Carlos Beni que mostra uma ampla
visão sobre todo o processo ligado às atividades turísticas, possibilitando nortear a
posição da Geografia do Turismo.
De acordo com o Professor Beni o Sistema Turístico se compõe de três grandes
conjuntos: o das relações ambientais, o das organizações institucionais e o das
ações operacionais. Assim ousamos em destacar que o espaço da Geografia do
Turismo se coloca paralelo ao conjunto das relações ambientais e se estende
procurando explicar a interseção dos três grandes conjuntos.
A Geografia do Turismo se apoia no estudo da paisagem geográfica. Assim,
todas as considerações apontadas nos levam a destacar que por sua
característica espacial, o turismo constitui um campo de interesse para as
pesquisas em geografia. Os estudos a esse respeito vêm ganhando ênfase nas
últimas décadas, face à crescente expansão da atividade. A par disso, nestas
últimas décadas, tornou-se necessário um mais amplo conhecimento da conduta
das pessoas, frete ao turismo, procedimento fundamentado, muitas vezes na
percepção geográfica que, atualmente, vem se destacando como uma das mais
significativas abordagens.
Assim, todos esses aspectos vêm destacar a importância geográfica e social do
turismo. São aspectos ligados à organização do espaço, às atividades humanas e
à interação sociedade/natureza, portanto, inter-relações íntimas e profundas.
A percepção geográfica tem oferecido grandes possibilidades para o estudo do
turismo. Essa abordagem tem sido empregada como uma das estratégias na
tomada de consciência da população frente ao turismo, e na tomada de decisão
de governos que visam à solução de numerosos problemas. A abordagem
perceptiva vem sendo adotada em diversas partes do mundo, em níveis de
planejamento, no manejo integrado do meio ambiente e, além disso, é
considerada de crucial importância para melhor entendimento da conduta do
Homem no espaço geográfico, conduzindo, assim, esclarecimentos sobre suas
relações com o espaço turístico.
A prática de ensino da Geografia deve assegurar espaços de aprendizagem
próprios, adequados à nova realidade do mundo e, assim, particularmente, com a
realidade da comunidade envolvida com o turismo. Assim a escola poderá
trabalhar uma educação turística de qualidade, portanto consciente, buscando no
cotidiano da vida do aluno e no seu relacionamento com o meio ambiente natural
e construído, exemplos concretos e perceptíveis para uma aprendizagem
contextualizada, fazendo do aluno o sujeito da construção de seu próprio
conhecimento.
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A Geografia ao incorporar a dimensão do turismo na prática docente deverá
trabalhar com temas que possam conduzir a uma tomada de consciência pelo
turismo. São, pois, sugeridos temas como: o estudo e a valorização da paisagem
geográfica; a educação ambiental pelo turismo e a interpretação do patrimônio,
dentre outros.
Considerando que o conhecimento da comunidade sobre a importância do turismo
ainda é precário, necessário se faz o desenvolvimento de atividades que levem a
proceder-se à interiorização das informações, afim de que essas pessoas possam
atingir o limiar do conhecimento do turismo, proporcionando, assim, atitudes mais
efetivas sobre seu uso. Com isso, convém refletir um pouco sobre as operações
que caracterizam um processo ensino-aprendizagem.
Uma dessas operações seria o reconhecimento do espaço onde o turismo irá
acontecer. Necessário se faz um trabalho de valorização da paisagem para que a
população se torne responsável por ela. Em seguida deverão ser desenvolvidas
atividades diversas no sentido de interiorizar as informações, para que os
indivíduos desenvolvam sua aprendizagem em relação ao uso dos recursos. As
trilhas interpretativas desempenham importante função, uma vez que nos levam à
experienciar paisagens. (Lima 1998).
A paisagem geográfica constitui tema central para as atividades turísticas e
educativas. Ela deve ser entendida como constituída por componentes naturais e
construídos, visíveis e não visíveis. A realização de projetos ligados ao estudo da
paisagem geográfica, nas escolas, deverá constar de atividades que levem o
educando a observá-la, por meio de sua descrição, representação e da
identificação de seu valor, seja estético, histórico, ambiental ou arquitetônico. A
paisagem poderá ser trabalhada diretamente no campo, através da percepção
direta ou em sala de aula, através da observação indireta, por meio de fotografias,
filmes, mapas ou pré-mapas.
Para a atribuição de valor à paisagem têm sido utilizada a estratégia da
interpretação do patrimônio, cujas informações a respeito foram desenvolvidas por
Stela Maria Murta e Brian Goodey, ao tratarem da interpretação do patrimônio
para o turismo sustentado. (1995), pela professora Eny Kleyde Vasconcelos Farias
(1999) considerando a interpretação do patrimônio relacionada à cidadania,
envolvendo a participação da comunidade em áreas turísticas e pelo professor
Gustavo V. Farias (1999) que tratou da interpretação do patrimônio relacionado à
empregabilidade.
Segundo Eny Kleyde V. Farias, a interpretação do patrimônio pode ser
compreendida como a soma de significados e demonstração de interações com o
ambiente, com a cultura e com a história do lugar, entendendo com isso de que
pessoas valorizam quando conhecem o patrimônio, e tornam-se responsáveis por
ele, quando o valorizam.
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Dadas as características do Turismo, uma atividade que, para se manter,
necessariamente necessita da conservação dos recursos, consideramos que as
propostas de Educação Ambiental deverão apresentar características
abrangentes, conduzindo ao conhecimento do fenômeno turístico; à formação de
imagens mentais; à interiorização das informações para que as pessoas possam
alcançar o limiar do conhecimento; o desenvolvimento de atividades, mediante
ações efetivas, para que possa alcançar o limiar da ação. Deve ser abrangente,
também, pelo fato de envolver os diversos segmentos relacionados ao turismo.
É de grande importância que os programas de Educação Ambiental, na escola ou
mesmo junto à comunidade local, tenham o Turismo incluído em suas pautas.
Dentre as várias justificativas para um procedimento de tal natureza, devemos nos
lembrar de que a escola tem papel fundamental na formação do indivíduo, além de
ser veículo multiplicador das informações, apresentar grande alcance e contribuir
para conscientização do valor do turismo.
A educação para a comunidade deverá se orientar em diversos sentidos, sendo
um deles relacionado com a valorização da paisagem e outro com a cultura local,
considerando a história, as crenças, os sonhos e o “saber-fazer” da comunidade.
Contudo, em todas as formas de Educação Ambiental, sejam nas escolas ou junto
à comunidade, é necessário que os trabalhos se orientem para um melhor
conhecimento e uso da paisagem utilizada como recurso pelo turismo, bem como
uma tomada de consciência sobre o desenrolar das diversas etapas que
constituem essa atividade. Devem ser priorizadas ações para que o turismo traga
benefícios para a qualidade da vida da população e que faça uso racional dos
recursos, uma vez que os benefícios devem ser traduzidos em direitos,
favorecendo, tanto ao homem quanto à natureza, para que no próximo milênio
homem e natureza não sejam tão degradados como foram no século XX.
À guisa de conclusão destacamos que a incorporação da dimensão do Turismo
pela Geografia é importante e deve ser considerada, seja em sua colocação nos
programas e nos livros didáticos de Geografia, seja na participação dos
professores nos programas de conscientização pelo turismo nas escolas, na
participação efetiva do profissional de Geografia nas pesquisas que envolvam o
turismo, na valorização do turismo como tema transversal nas propostas
curriculares e diante dos Parâmetros Curriculares da Educação, em fim, em todas
as oportunidades de discutir o binômio geografia/turismo no âmbito acadêmico.
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