PRINCIPIANDO O PRINCIPIA – Parte II PÁGINA PRINCIPAL PRINCIPIANDO O PRINCIPIA – Parte I A TEORIA DAS PROPORÇÕES COMO NEWTON DE FATO ESCREVEU O PRINCIPIA? PRINCIPIANDO O PRINCIPIA – Parte II DE MOTU CORPORUM O PROBLEMA INVERSO DAS FORÇAS CENTRAIS NO PRINCIPIA LIBER I, SECTIO VI, LEMMA XVIII DE MUNDI SYSTEMATE NEWTON DEMONSTROU QUE ÓRBITAS SÃO ELÍPTICAS? A segunda seção do Principia se intitula ‘AXIOMATA, SIVE LEGES MOTUS’, ou ‘AXIOMAS, OU LEIS DO MOVIMENTO’, e começa assim: Lei I. Todo o corpo permanece no seu estado de repouso, ou de movimento uniforme retilíneo, a não ser que seja compelido a mudar esse estado devido à ação de forças aplicadas. Obviamente, Newton nunca a chamou ‘Primeira Lei de Newton’, na verdade ele a atribui a Galileo, que não exatamente a demonstrou, mas explicou como experiências do dia-a-dia pareciam contradizê-la. REFERÊNCIAS LINKS Lei II. A variação de movimento é proporcional à força motriz aplicada; e dá-se na direção da reta segundo a qual a força está aplicada. Claro que hoje em dia escrevemos esta lei como: F ma . Essa lei parece não ter sentido, uma vez que ainda não tenhamos dito como medir a massa m, nem como medir a força F . Mas na verdade há mais coisas aí do que parece, como vemos ao pular para o ‘Scholium’: Escólio. Os princípios que determinei são aceitos por matemáticos e confirmados por experimentos de vários tipos. Por meio das primeiras duas leis (...) Galileo descobriu que a queda dos corpos pesados está na razão quadrada do tempo (...) como os experimentos confirmam, exceto um tanto por serem retardados por resistência do ar. Quando um corpo cai, a gravidade uniforme, agindo igualmente em partículas iguais individuais de tempo exerce forças iguais sobre este corpo e gera velocidades iguais; e no tempo total ela... gera uma velocidade total proporcional ao tempo. E os espaços percorridos em tempos proporcionais são como as velocidades e os tempos conjuntamente, isto é, na razão quadrada dos tempos. O que Newton está dizendo é o seguinte: Suponha que nosso corpo começa do repouso. A força da gravidade, que pensamos estar atuando no tempo 0, incrementa a velocidade em v. Após um pequeno incremento de tempo t o corpo caiu vt. Então sua velocidade recebe um incremento adicional v, dando-lhe velocidade 2v, logo ele cai, após um próximo incremento de tempo t, uma quantidade 2vt. No próximo incremento de tempo t, ele cai 3vt, e depois 4vt, etc. Assim, após um grande número N de incrementos ele caiu 2 1 2 N vezes vt, que é quase N vt / 2 , 2 ou vT / 2 , onde T é o tempo total de queda. Parece existir um longo caminho entre “forças iguais produzem acelerações iguais” e “força é igual a massa vezes aceleração”, mas isto é meramente devido a ausência de uma definição operacional de massa, descrevendo como ela é medida. A descrição de um experimento bastante simples (porém quase impossível de se realizar, o que é muito comum) que fornece uma definição bastante honesta de massa e que faz a equação F ma funcionar, além de alguma discussão em torno da distinção entre massa e peso, tal como concebida por Newton, pode ser encontrada em [6], pág. 10 e seguintes. Relembremos como Newton começa o Principia: Definição I. Quantidade de matéria é uma medida da matéria que provém de sua densidade e conjuntamente. volume “Se a densidade do ar é duplicada em um espaço que também é duplicado, haverá quatro vezes mais ar e haverá seis vezes mais se o espaço é triplicado. (...), me refiro a esta quantidade quando uso os termos ‘corpo’ ou ‘massa’ nas páginas seguintes. Ela sempre pode ser conhecida a partir do ‘peso’ do corpo, pois – fazendo meticulosos experimentos com pêndulos – descobri ser ela proporcional ao peso do corpo, como será mostrado abaixo”. Esse certamente foi um lugar estranho para Newton colocar isso (pois ele está introduzindo a noção de massa, e já quer distinguí-la de peso). Também o ‘como será mostrado abaixo’ se refere a material escrito umas 400 páginas a frente. Aproximadamente 300 páginas após o início do livro, Newton obtém que dados dois objetos, com massas W2 , m1 e m2 , e pesos W1 e que oscilam num pêndulo (de mesmo comprimento) com períodos T1 e T2 , então m1 W1 T12 m2 W2 T22 . É assustador citar esse resultado tal como ele aparece: Proposição XXIV. Em pêndulos simples, cujos centros de oscilação distam igualmente do centro de suspensão, as quantidades de matéria estão na razão composta da razão dos pesos e da razão quadrada dos tempos de oscilação. “Pois a velocidade que uma dada força pode gerar num dado tempo, numa dada quantidade de matéria é como a força e o tempo diretamente e como a matéria inversamente (...) se os pêndulos têm o mesmo comprimento, as forças motrizes em lugares igualmente distantes da perpendicular são como os pesos, e se os dois corpos oscilantes descrevem arcos iguais e se os arcos são divididos em partes iguais, então, como os tempos em que os corpos descrevem essas partes simples correspondentes de arco são como os tempos totais de oscilação, as velocidades em partes correspondentes de oscilação são uma para a outra como as forças motrizes e os tempos totais de oscilação diretamente e quantidades de matéria inversamente; e, portanto, as quantidades de matéria serão como as forças e os tempos de oscilação diretamente e velocidades inversamente. Mas as velocidades são inversamente como os tempos, e assim os tempos são diretamente e as velocidades são inversamente como os quadrados dos tempos, e portanto as quantidades de matéria são como as forças motrizes e os quadrados dos tempos, isto é, como os pesos e os quadrados dos tempos”. Aproximadamente 100 páginas à frente Newton descreve como ele testou: g 2 T12 2, g1 T2 obtendo assim a proporcionalidade entre matéria (massa) e peso, usando pesos iguais de “ouro, prata, ligas, vidro, areia, sal comum, madeira, água, e trigo”. Newton foi a primeira pessoa a realmente fazer uma distinção entre massa e peso, e sua decisão de fazer massa e força os conceitos básicos em termos dos quais outros seriam definidos – e de escolher as duas primeiras leis como base para deduzir os demais resultados - foi uma de suas principais realizações. A terceira lei rege as interações entre dois corpos: Lei III. A toda ação, corresponde uma reação igual e oposta; noutras palavras, as ações entre dois corpos são sempre iguais e opostas em direção. O teorema de ‘conservação do momentum’ é apresentado algumas linhas depois, como corolário das três leis: Corolário III. A quantidade de movimento, que é determinada somando-se os movimentos numa direção e subtraindo-se os movimentos na direção oposta, não é alterada pela ação entre dois corpos.