A senhora deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) pronuncia o seguinte discurso: Senhor presidente, senhoras e senhores deputados: Não só como mãe e avó, mas também como passageira frequente de empresas aéreas, quero manifestar minha indignação em relação ao ocorrido no vôo GOL desta terça-feira, quando a coreógrafa e empresária Debora Colker e sua família sofreram constrangimentos por seu neto possuir uma doença não contagiosa que, como algumas outras, ainda carregam preconceitos e desinformação. Há anos tenho participado de diversos fóruns e também frentes de apoio a luta contra discriminação seja por questão racial, social ou derivada de deficiências físicas ou doenças. Causa sempre muita indignação às famílias a forma com que as pessoas reagem a diferença. Por mais que se explique a preocupação com a segurança dos passageiros, nada justifica a arrogância e a indiferença ante as explicações médicas e da família, nesse caso em especifico. Solidarizo-me com Debora Colker, sua filha e neto. Apesar da fragilidade da pele, sabemos que todos os portadores de Epidermólise Bolhosa podem vir a ter uma vida quase normal, com apoio da família e acompanhamento médico. Para isso é necessário informação e respeito. Nesse preconceito se manteve mesmo após a caso da Gol, o apresentação de um atestado médico aos comissários de bordo. Muitos são impedidos de frequentar escola e do convívio social, assim como também outros portadores de doenças não contagiosas e genéticas. Como 1 disse Colker, é preciso que haja investimento em terapia genética no Brasil, para haver devido esclarecimento sobre doenças. É preciso que as empresas que trabalhem com o público sejam informadas, que nas escolas se criem condições para que pessoas que possuam alguma diferença na cor, na pele, no cabelo, nos olhos, possam ser tratados dignamente. Sabemos da importância do trabalho da Associação de Parentes, Amigos e Portadores de Epidermólise Bolhosa Congênita (APPEB) para a educação das pessoas a respeito dessa doença, que é visível e por isso causa uma reação de desconhecimento nas pessoas. Há 5 milhões de portadores de epidermólise bolhosa no mundo segundo especialistas, milhares no Brasil. Ainda de acordo com a entidade, a Epidermólise Bolhosa é uma doença grave e rara, não contagiosa, que se caracteriza por uma sensibilidade muito acentuada na pele e mucosas com formação de bolhas nas células epidérmicas, especialmente nas áreas de maior atrito, como resposta a qualquer acidente doméstico ou casual, ou mesmo mudanças climáticas. Até o momento, a EB não tem cura. A engenharia genética e as ciências da saúde têm trabalhado no assunto, mas a cura ainda é vista como um fato a acontecer no futuro. Com o avanço da Ciência na área de genética, tem-se a esperança de cura dentro de alguns anos. No Brasil, existe a "Política Nacional de Atenção Integral em Genética Clínica", lançada pelo Ministério da Saúde em 2009. Segundo o Ministério, cerca de 80% das doenças raras têm origem genética e muitas delas ainda não possuem cura conhecida. O tratamento, quando existe, costuma ser bastante complexo e caro, 2 o que configura um desafio adicional ao Sistema Único de Saúde (SUS), que proporciona mais de 72 mil consultas e mais de 560 mil procedimentos laboratoriais para o tratamento e o diagnóstico de doenças raras. O investimento é superior a R$ 4 milhões por ano. Outro importante esforço no combate às doenças raras é o Programa Nacional de Triagem Neonatal, que oferece exames para diagnóstico precoce de doenças genéticas em crianças recémnascidas. O programa atinge 86% das crianças no País e exige R$ 50 milhões de investimentos anualmente. Esperamos que esse triste episódio ajude a que outras mães e portadores consigam visibilidade para esse desafio, que é evitar que esses constrangimentos tirem a alegria e a confiança dos portadores. Nós, legisladores, temos que dar a nossa contribuição encaminhando propostas a nossos governos para que possam investir mais em pesquisa a fim de conseguir vencer essa doença. Temos feito isso no caso da Tuberculose, Hanseníase e outras doenças que também sofreram e, ainda sofrem com preconceitos contra seus portadores. É um desafio de toda a sociedade. Muito obrigada. 3