Abordagem Behaviorista e o ensino de língua Objetivo: Apresentar ao aluno os pressupostos teóricos que norteiam a abordagem behaviorista e a sua influência no ensino de língua. Vimos na aula 01, alguns pressupostos que norteiam a abordagem tradicional e nesta aula continuaremos nosso estudo sobre as abordagens de ensino apresentando os conceitos principais da abordagem behaviorista e como ela influencia e se manifesta no ensino da língua portuguesa. Iniciamos nossa aula pontuando que o behaviorismo é uma teoria cujo objetivo é estudar os eventos psicológicos a partir de evidências comportamentais. Para entendermos melhor o behaviorismo e a sua influência no ensino de língua, faz-se necessário conhecer as contribuições teóricas desenvolvidas por Skinner. Clique aqui para conhecer um pouquinho mais teórico. De acordo com Moreira (1999,p.49), a teoria skinneriana se fundamenta no eixo ER (estímulo –resposta), isto é, o comportamento é influenciado por estímulos que irão desencadear respostas específicas. Na teoria de Skinner, o estímulo deve ser entendido como qualquer objeto ou ato que provoque determinada mudança e a resposta corresponde ao ato que o indivíduo faz a partir de determinado estímulo. Assim, para exemplificar o que acabamos de explicar, podemos citar a fome como o estímulo e a resposta como a ação que o individuo faz, neste caso, a de procurar algo para se alimentar. Com relação à fala, podemos pensar no seguinte exemplo: a criança recebe como estímulo a foto de sua mãe e ao ouvir a pergunta: “Quem é ela?” A criança, ao ver a foto, logo diz “mamãe” e não tia ou prima. Ela responde corretamente porque anteriormente já passou pela fase em que, para reconhecer sua mãe, recebia como estímulo de sua progenitora ou de outras pessoas frases como: “olha a mamãe”, “Venha brincar com a mamãe”, “Fale: mamãe”,etc. Tais estímulos levaram a criança a não só, por meio da repetição, a produzir a palavra mãe como também a associar tal palavra a imagem de sua mãe. A cada momento que a criança balbuciava “mamãe” recebia um reforço, um reconhecimento com frases como: “muito bem, que linda!”, etc. Tais comentários configuram o reforço, ou seja, o sentimento de satisfação proveniente de um resultado positivo do desempenho de uma atividade. Transpondo esse exemplo `a teoria de Skinner, temos uma ilustração de sua tese (Moreira, 1999 p.49) sobre o comportamento verbal que, segundo ele, é composto por 03 eventos: um estímulo, uma resposta e um reforço. Assim, a aprendizagem para o teórico é o resultado de um comportamento que é premiado, reforçado, até que ele se torne condicionado de forma que ao se retirar o esforço o comportamento continua a ocorrer. Vejamos agora como identificar uma aula ou exercícios que revelam uma concepção de aprendizagem pautada no behaviorismo. a- Sala de aula: O professor deseja apresentar o s como elemento necessário para formar o plural dos substantivos. Assim, conduz a aula da seguinte forma: Professor: uma cadeira, duas cadeiras. Agora você, João, 1 caderno, 2 ... João: 2 caderno Professor: Marisa, 1 cadeira, 2 cadeiras. Agora, você, Marta, 1 caderno , 2 .. Marta: 2 cadernos Professor: muito bem !!. 1 livro, 2 livros, agora você de novo, João, 1 sapato, 2 ... João: 2 sapatos Professor: isso mesmo, muito bom, João. Conforme podemos observar, o professor se vale do reforço positivo (muito bem, isso mesmo) para sinalizar a forma correta do plural. Tal estratégia funciona como reforço para sinalizar qual comportamento verbal se deseja obter. Assim, quando, na primeira vez, o aluno João não utiliza a forma correta do plural da palavra caderno, o professor utiliza como estratégia repetir o exemplo anterior (singular e plural: 1 cadeira, 2 cadeiras) para sinalizar como o exercício deve ser feito. Na situação descrita, vemos que as alunas Marisa e Marta conseguem, por analogia ao modelo do professor, dar a resposta certa ao observar o estímulo: uma palavra sem o s e a outra com o s para distinguir o singular do plural. A partir da situação descrita acima, podemos apresentar outro conceito do behaviorismo (idem, p.50): o da transferência. Este, por sua vez, está relacionado ao fato de que ao aprendermos algo novo estamos sujeitos a processos psicológicos de transferências positivas ou negativas de aprendizagens anteriores. Vale a pena observar que a transferência positiva possibilita a aprendizagem de novas estruturas semelhantes enquanto que a negativa causa problemas na aprendizagem. Para ilustrar o que foi dito, podemos voltar a situação descrita anteriormente para dizer que a transferência positiva ocorre quando o aluno observa que o acréscimo do s forma o plural do substantivo das palavras cadeiras, cadernos, sapatos e, por analogia, das palavras como mesas, quadros, entre outras. Entretanto, se o aluno aplicar o s para outras palavras como hotel, por exemplo, produzirá uma transferência negativa visto que o plural desta palavra não se forma apenas com o acréscimo do s. A fim de evitar a transferência negativa, é muito comum encontrarmos as seguintes sequências nos livros didáticos ou nos exercícios elaborados pelo professor: Exercício A Siga o modelo: 1 caderno : 2 cadernos 1 mesa: 2 _______________ 1 tesoura: 2 _______________ 1 bolsa: 2 _______________ Olhe a pagina X e verifique se suas respostas estão corretas. Caso não estejam, faça o exercício complementar B da página Y . Se suas respostas estiverem corretas, faça o exercício abaixo. Exercício C: Agora, observe o seguinte modelo e preencha as lacunas: 1 hotel: 2 hotéis 1 anel: 2 _______________ 1 papel: 2 _______________ A partir da sequência apresentada, podemos tecer as seguintes considerações acerca da influência da abordagem behaviorista no ensino de línguas: A repetição de exercícios produz como efeito uma resposta automática do aluno ao receber um dado estímulo, ou seja, o aluno é levado a agir de forma mecânica, pois segue apenas o comando dado. Tal abordagem faz com que o aluno não reflita sobre o funcionamento da língua. Como os mecanismos linguísticos são distintos, as palavras do exercício C (anel, hotel) são separadas das do exercício A, o que nos leva a dizer que nessa abordagem a aprendizagem é vista por etapas: cada estímulo é dado separadamente tendo em vista o conhecimento de cada estrutura linguística e a sua complexidade. Consequentemente, os materiais didáticos influenciados pela abordagem behaviorista tendem a priorizar os elementos gramaticais deixando outros elementos (contexto, por exemplo) em segundo plano. Como pudemos ver, na abordagem behaviorista, a aprendizagem é vista como um comportamento observável, que foi adquirido de forma mecânica e automática por meio de estímulos e respostas Referência: MOREIRA, Marco Antonio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo, EPU, 1999.