compreendendo a dependência das drogas

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Adilson A. Cassoni
Coordenador de Saúde Publica
Presidente do C.M.S
E-Mail: [email protected]
Fone: (14) 3764-9413
Equipe de apoio Técnico:
Drª.Lucia Sebastiana da Silva - Psicóloga – SMS
Dr. Marco Antonio Ferreira da Silva – Médico Clinico Geral
Enfª Aline Ayres de Lima - Diretora da Vigilância Epidemiológica
Enf.ª Zibia Cristiane Germano – Enfermeira da UBS
Profª Patrícia Heliodora Presser – Diretora da Secretaria Municipal de
Educação
Enf.ª Adje Nalva - Fundação CASA/FEBEM
Agradecimentos:
Sr. Paulo Sérgio de Moraes – Prefeito Municipal de Iaras
Sandra Maria Rodrigues de Moraes - Secretaria Municipal da
Assistência Social
João Rodrigo Morales – Secretario de Saúde Municipal
Renata Galli Loberto – Diretora de Saúde
Sr. Reginaldo Gonçalves – Presidente da Câmara Municipal
Dr. Armando Antonio de Oliveira - Diretor da Penitenciaria “Orlando
Brando Filinto”
Igor Rogério G. da Silva – Diretor da U.I.I e II Fundação CASA
Anselmo de Oliveira - Diretor da U.I. Três Rios
Paulo Ricardo P. Machado - Diretor da U.I. Rio Novo.
Dario de Arruda M. Neto - Diretor da DRS FEBEM
Dr. Fabiano - Delegado da Policia Civil
SGT Marcos - Sargento da PM
Maria Isabel - Coordenadora dos Projetos do C.M.D.C.A.
Repr. Igrejas – Católica e Evangélica
Conselho Tutelar
Agência Banco Brasil – Iaras
Magda El Cassis - Magda Delicatessen
E principalmente a minha “SantíssimaTrindade”; minha mãe Maria José,
minha esposa Lucia a meu Pai eterno todo poderoso, que nos momentos de
agonia sempre estiveram ao meu lado...
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Índice
Abertura/Apresentação
DEPENDÊNCIA QUÍMICA (DQ)
I Dependência de drogas
II O que é droga
III Abuso de drogas
IV O aspecto biopsicossocial da dependência
V Como identificar a dependência
VI Dependência física
VII Dependência psicológica
VIII Tolerância
IX Síndrome de abstinência
X Prevenção ao abuso de drogas
XI Dificuldades em admitir a dependência
XII Possíveis danos provocados por drogas
DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL
I Alcoolismo
II Efeitos predominantes
III Dependência
IV Problemas clínicos
V Outros problemas
VI Possíveis Causas da Dependência
DEPENDÊNCIA DE MACONHA (CANABINÓIDES)
I Formas de consumo
II Efeitos predominantes
III Dependência
IV Problemas clínicos
V Outros problemas (acidentes)
VI Prevenção
DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA (“CRACK” e “MERLA”)
I Formas de abuso
II Efeitos Predominantes
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III Tolerância
IV Dependência
V Outros problemas
TRATAMENTO AMBULATORIAL
I Dependência Física
II Dependência Psicológica
III Requisitos Básicos da Dependência
IV Dados Epidemiológicos
V Transtornos Psiquiátricos em Pacientes Dependentes
de Álcool
VI Transtornos de Personalidade na dependência da
Cocaína
VII Saiba como Agir nas Emergências
VIII Possíveis danos provocados por drogas
A ESPOSA E A DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA
I O que a mulher pode fazer? Qual o papel da esposa na
situação?
O PAPEL DA FAMÍLIA DA BUSCA DE TRATAMENTO
OS DOZE PASSOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
ALCOOLISMO - AVALIE-SE
BIBLIOGRAFIA
MENSAGEM:
I Faz de Conta
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Abertura/Apresentação:
A idéia principal desta palestra é fomentar a discussão
sobre o tema criando métodos e objetivos para ações
concretas junto a nossa comunidade.
Sob o tema “Drogadição e Alcoolismo”, este projeto
piloto conta com incentivo da política federal, estadual e
municipal de saúde, ao qual prioriza a educação e a
prevenção da saúde, através da formação de agentes
multiplicadores.
O tema por si só é muito complexo. Gostaria de poder
desmistificar e principalmente inserir uma noção sobre o
assunto, já que o mesmo caberia a um seminário e/ou
simpósio.
Porém como conhecedor do assunto e principalmente
como facilitador da análise, discussão, sistematização dos
dados locais, tentarei sensibiliza-los a pactuar aqui, nesta
noite, um projeto de ações c/ caráter didático junto a nossa
comunidade, já que cabe a cada um de nós como
coordenadores/educadores, sejam eles vinculados a saúde
ou educação, priorizar pelo bem estar do próximo e o
acesso a informações inerentes aos nossos conhecimentos.
Vale salientar que a educação e prevenção, é a
maneira mais inteligente e barata de tratar um problema
eminente. Nossa sociedade esta crescendo e com ela, toda
a problemática do tema.
Creio que todos aqui presentes conhece alguém que
faz uso de entorpecentes ou pessoas com problemas com o
álcool. Famílias são dizimadas, crimes são cometidos,
acidentes sejam eles automobilístico ou pessoal acontecem,
e mesmo que você não seja usuário e/ou dependente,
mesmo assim estará correndo um grande risco de tornar
uma vitima.
Gostaria de enfatizar, que tal palestra esta sendo
efetivada por voluntários sem qualquer remuneração
monetária, e sim pelo simples motivo de poder contribuir
com a sociedade, para que possamos amenizar essa
pandemia de forma objetiva desmistificando o tema.
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Ressalto para que não haja qualquer interpretação
dúbia de pessoas mal informadas, que não há qualquer tino
político, ou realização pessoal dos participantes, e sim, a
certeza de estarmos fazendo o que é certo.
Aproveito também o momento para agradecer aos
colaboradores/apoiadores: Banco do Brasil de Iaras, aos
projetos sociais de apoio à criança e ao adolescente
vinculado a Secretaria de Assistência Social, Câmara e
Prefeitura Municipal, Fundação CASA, Penitenciaria Orlando
Brando Filinto, Secretarias da Educação e Saúde e demais
colaboradores.
Todo material didático tais como livro digital,
apresentações, estatísticas situacionais, e um vasto acervo
de informações bem como certificação, será fornecido a
todos os participantes que pactuarem um trabalho de ação
assumindo a responsabilidade no desenvolvimento de
trabalho didático e/ou procedimentos viabilizando a
efetivação do processo maior, seja este seminários,
semana cultural ou ações correlacionadas ao tema
respeitando as diversidades sócio/cultural/regional.
Gostaria também de solicitar aos Srs. e Sras., que
preenchessem ao termino do evento, a folha de avaliação
com a maior sinceridade possível, bem como sugestões
para que possamos cada vez mais aprimorar esse trabalho
piloto de informação, educação e comunicação que se
prolongara com demais palestrar de temas correlacionados
à saúde publica.
Desde já agradeço a presença e espero poder contar
com a participação de todos na efetivação deste processo
piloto pequeno, singelo, porém ambiciosos.
Cassoni, A.A.
Profissional I.E.C.
Diretor do CVS
Presidente do C.M.S.
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“Não Tenho abandonado a Deus, tanto quanto ele não me
abandonou”.
Cassoni
FUNÇÃO EDUCATIVA DO PROFISSIONAL EDUCADOR:
O PAPEL DE CADA UM
“Educação é tarefa de todos os profissionais de saúde e
educação: Insere-se em todas as atividades, deve ocorrer em todo e
qualquer contato entre profissionais e a população, dentro e fora da
Unidade de saúde, escola ou instituição”.
“A ação educativa, como um processo de capacitação de
indivíduos e de grupos para assumirem a solução de problemas, é um
processo que inclui também o crescimento dos profissionais, através
da reflexão conjunta sobre o trabalho que desenvolvem e suas
relações com a melhoria das condições de vida da população. O
técnico ou educador (de qualquer nível) tem que se preparar para um
método educativo que se baseie na participação social, através da
sua própria pratica profissional. Os profissionais devem desenvolver
entre si um espírito de equipe onde realmente reflitam, decidam e
trabalhem juntos, estabelecendo um verdadeiro relacionamento
horizontal, com a postura profissional que se estenda às relações com
a população”
Paulo Freire
I Dependência de drogas
As drogas são substâncias capazes de alterar algumas funções
cerebrais e proporcionar gratificação (sensação de bem estar) aos
usuários. Qualquer pessoa que nunca tenha feito uso de tais
substâncias é capaz de viver perfeitamente bem sem precisar fazê-lo.
Porém, se houver uma experiência agradável, após um certo período
de uso, o organismo poderá adaptar-se e passar a depender do
consumo dessas substâncias para "funcionar normalmente". Isso
ocorre porque a droga age sobre determinadas células nervosas
(neurônios) e intensifica as sensações de prazer e bem-estar e,
provoca mudanças em algumas estruturas neurológicas, chamada
neuroadaptação.
Após a neuroadaptação, o indivíduo necessitará da continuidade do
uso para manter-se em equilíbrio, podendo apresentar vários
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sintomas desagradáveis, se interromper o consumo (síndrome de
abstinência).
Para evitar confusões em relação aos efeitos das drogas psicoativas,
é preciso reconhecer a diferença entre elas. De modo geral, há
basicamente três tipos de drogas:
Ansiolíticos ou tranqüilizantes - drogas que diminuem a atividade
mental - são depressoras do sistema nervoso central (SNC) e agem
no cérebro lentificando seu funcionamento, reduzindo a capacidade
de atenção, concentração, tensão emocional e provocam perdas na
capacidade intelectual. Ex: álcool, inalantes (colas e solventes),
morfina e heroína.
Estimulantes - aumentam a atividade mental - são drogas que
aceleram o funcionamento cerebral; aumentam a produtividade do
indivíduo e inibem a sensação de cansaço ou fadiga. O indivíduo pode
acreditar que o uso seja benéfico, mas as conseqüências em médio e
longo prazo são catastróficas. Ex: cafeína, nicotina, anfetaminas,
cocaína, crack e merla.
Alucinógenos - alteram a percepção da realidade - provocam
transtornos no funcionamento cerebral, fazendo-o trabalhar de forma
desordenada, produz delírios e alucinações. Exemplo: LSD, ecstasy,
cogumelos, lírio, maconha e outras substâncias derivadas de plantas.
Os efeitos variam de acordo com quatro fatores básicos:
Tipos de droga: cada droga possui características químicas
específicas que produzem efeitos diferentes no organismo,
dependendo da quantidade e do grau de pureza.
Forma de uso: o padrão de consumo da droga, a forma de uso,
quantidade, freqüência e propósito do uso, contribuirão para
determinar os efeitos da substância.
Tipo de usuário: as pessoas possuem características biológicas e
psicológicas diferentes umas das outras podendo, portanto,
manifestar reações diferentes sob o efeito de uma mesma droga. Os
pensamentos, os medos, o estado emocional, as condições físicas e
as expectativas pessoais do usuário formam um conjunto de fatores
que influenciam diretamente os efeitos da substância.
Condições ambientais: o ambiente é caracterizado por fatores
externos ao indivíduo, mas que o influenciam e interferem nas
reações produzidas pela droga. Ex: local, horário, riscos de punição,
etc.
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O uso prolongado e a crescente necessidade de aumento das doses
com freqüência estão associados a gastos excessivos, acidentes,
perdas materiais e afetivas, discussões e pressões familiares, perda
de emprego ou dias de serviço, problemas com a justiça, etc.
Em geral ocorrem várias tentativas de interromper o uso sem
sucesso. Essas tentativas frustradas podem provocar sentimentos de
fracasso ou pensamentos como: "Eu nunca vou conseguir parar";
"Não tem jeito, eu já tentei várias vezes e não consigo" ou "Eu sou
um caso perdido". No entanto, essas crenças nem sempre são
admitidas e, a pessoa tenta justificar-se da seguinte maneira: "Eu
uso porque eu gosto"; "Eu paro quando quiser". Desse modo, não é
capaz de enxergar sozinha uma saída para o problema, nem pode
pedir ajuda, por acreditar que estaria "admitindo sua fraqueza". Todo
esse processo, comumente, demora anos para se resolver e com isso
os danos se agravam.
II O que é droga
Droga é qualquer substância ou ingrediente usado legalmente em
farmácias, tinturarias ou indústria, de origem animal ou vegetal. São
denominadas drogas de abuso substâncias ou preparações que
diferem da prática médica, legal ou social, que são autoadministradas por seus efeitos prazerosos. O álcool e o tabaco,
mesmo legais e socialmente aceitos são drogas de abuso capazes de
provocar dependência física e psicológica.
III Abuso de drogas
Usuários em geral acreditam que abuso de drogas é o uso exagerado
dessas substâncias e que, se fizerem "uso moderado" não estarão
abusando. O que determina uso ou abuso é a finalidade do emprego,
ou seja, o uso de drogas é a utilização legal de substâncias para
preparo de medicamentos, para fins industriais ou sociais e, abuso de
drogas é o consumo ilegal com o propósito de provocar alterações
mentais. O abuso é caracterizado quando há prejuízos ou sofrimento,
por conseqüência de um ou mais dos seguintes aspectos, dentro de
um período de 12 meses: usar várias vezes a substância e deixar de
cumprir obrigações importantes seja no trabalho, na escola ou em
casa; uso repetido da substância em situações nas quais a pessoa
esteja correndo riscos físicos (por exemplo: dirigir veículo
embriagado ou operar máquinas); problemas com a polícia; uso
continuado da substância apesar dos problemas sociais ou
interpessoais que já existam ou possam ser causados.
IV O aspecto biopsicossocial da dependência
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Alguns organismos apresentam vulnerabilidade à dependência, isto é,
uma tendência ou maior capacidade para tornar-se dependente. Essa
condição não significa que a pessoa tenha herdado geneticamente
essas características e irá, invariavelmente tornar-se dependente,
mas sim que, se abusar de determinadas substâncias psicoativas,
terá maiores chances de desenvolver a síndrome de dependência do
que as pessoas não-vulneráveis. A ocorrência de vários casos de
dependência química numa mesma família pode indicar a existência
de um fator que favoreça a instalação da dependência mais
rapidamente que nos grupos familiares onde não existe nenhum caso.
Em toda sociedade há disponibilidade de drogas, meio de conseguílas e oportunidade para usá-las. Sempre existe alguém para oferecer
ou fornecer a substância e incentivar o consumo. Se os efeitos
experimentados pelo indivíduo forem prazerosos, esse indivíduo
tenderá a usar mais vezes a substância, em especial se acreditar
poder controlar sempre a quantidade do consumo.
Todas essas questões devem ser levadas em conta para compreender
a complexidade da doença e porque umas pessoas tornam-se
dependentes e outras não.
A dependência de substancias tem origem multifatorial e pode ser
representada da seguinte maneira:
V Como identificar a dependência
De acordo com o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais), uma pessoa apresenta a síndrome de
dependência de substâncias psicoativas quando, pelo menos três dos
critérios abaixo, estiverem presentes.
1. Quando a pessoa pretende usar uma determinada quantidade da
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substância e acaba consumindo mais do que desejava.
2. Quando quer consumir a substância por um determinado período e
gasta mais tempo do que pretendia.
3. Sente desejo forte e persistente de usar a substância.
4. Gasta muito tempo para conseguir a substância, para se
embriagar/drogar ou para se recuperar dos efeitos.
5. Intoxica-se com freqüência ou apresenta mal-estar quando é
privado do consumo. Continua a usar mesmo sofrendo pressão no
trabalho, na escola, em casa ou quando o uso representa perigos
físicos.
6. A pessoa abandona as atividades familiares, sociais, profissionais e
programas de lazer devido ao uso da substância.
7. Mesmo sabendo que a substância causa problemas graves e
persistentes, continua a usar.
8. Desenvolve tolerância com o passar do tempo, ou seja, sente
necessidade de aumentar as doses para conseguir os mesmos
efeitos.
9. Passa a usar a sustância com maior freqüência. Por exemplo, antes
usava uma vez por mês, depois passou a usar semanalmente, todos
dias, etc.
10. Na falta da substância, apresenta mal estar e a consome
novamente para aliviar esse estado.
11. Já experimentou várias tentativas fracassadas de interromper o
consumo.
VI Dependência física
O uso continuado de uma substância pode provocar alterações
fisiológicas no organismo e desenvolver sintomas desagradáveis
quando interrompe o consumo. Só é considerada dependência física,
quando estiverem presentes os seguintes aspectos:
a) tolerância: é a capacidade de suportar doses cada vez maiores de
uma substância para atingir os mesmos efeitos. Este fenômeno
ocorre por duas razões, ou o fígado passou a metabolizar (destruir) a
substância mais rapidamente ou a substância provocou alterações no
funcionamento das células nervosas (neurônios).
b) síndrome de abstinência: é o aparecimento de sintomas
desagradáveis quando o uso da substância é interrompido ou
diminuído abruptamente.
VII Dependência psicológica
A dependência psicológica é caracterizada pela crença de que é
necessário usar a substância para sentir-se bem ou obter prazer.
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Todas as drogas podem causar dependência psicológica. Algumas
pessoas usam álcool ou outras drogas como muletas, fazendo delas
um meio para lidar com as dificuldades da vida ou para afastar
situações que acreditam não ser capazes de suportar. Pessoas
tímidas bebem muitas vezes, para ficar mais à vontade, mais
desinibidas ou extrovertidas. Alguns fumam para manter as mãos
ocupadas, quando se sentem desconfortáveis em ambientes sociais.
Alguns caminhoneiros utilizam os chamados "rebites" para
permanecer acordados, durante longas viagens. Há pessoas que
vivem em conflito com a família, com o trabalho ou não têm
habilidades para lidar com determinadas situações; e há ainda,
pessoas que sofrem de depressão, ansiedade ou outros transtornos e
abusam de álcool ou outras drogas para aliviar tais conflitos ou para
afastar os sintomas das doenças. Podemos considerar a dependência
psicológica como o sofrimento experimentado por quem tenta deixar
de usar drogas. Por exemplo: ansiedade, angústia, sensação de ter
fracassado em muitas coisas na vida, medo de nunca mais conseguir
parar de usar drogas, agressividade, nervosismo, irritação, etc. Em
casos muito graves, o usuário pode cometer suicídio, em decorrência
da depressão provocada pelo abuso ou pela falta da substância
química ou por outras causas já existentes e camufladas pelo abuso.
VIII Tolerância
Indivíduos dependentes demoram mais tempo e precisam de maiores
quantidades da substância para se intoxicar do que aqueles não
dependentes.
Este fato pode levar às pessoas a acreditarem que estão mais fortes
para beber, mas, na verdade o organismo já se adaptou à droga e
pequenas quantidades não produzem mais os efeitos esperados. Após
longos anos de abuso, o usuário pode desenvolver a perda da
tolerância, isto é, intoxicar-se com pequenas quantidades. O
indivíduo com dependência de álcool, por exemplo, não apresenta
necessariamente, problemas com bebidas na fase inicial, pois começa
com pequenas doses, geralmente em festas e bares. No decorrer do
tempo passa a consumir doses maiores e diminui os intervalos entre
um beber e outro.
IX Síndrome de abstinência
Síndrome de Abstinência é o mal-estar provocado pela interrupção
abrupta do consumo de uma determinada substância. Isso acontece
porque o organismo está "acostumado" e sente necessidade da
substância. Para entender melhor a síndrome de abstinência devemos
compreender o significado da expressão. Síndrome é um conjunto de
sinais e sintomas, sendo os sinais tudo o que a pessoa apresenta
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fisicamente (transpiração, tremores, etc.), e sintomas, as queixas
apresentadas (ansiedade, angústia, medo, sensação de estar sendo
perseguida ou vigiada, etc.). Abstinência é a privação, ou seja, deixar
de fazer algo voluntariamente ou ser impedido. Portanto, Síndrome
de Abstinência é o conjunto de sinais e sintomas apresentados
quando o consumo de álcool ou outras drogas é interrompido.
Cada droga produz um tipo de síndrome de abstinência e representa
sofrimento real (físico ou psicológico). A síndrome de abstinência de
drogas como o álcool, a morfina, heroína e cocaína podem provocar
aceleração dos batimentos cardíacos, queda na pressão arterial,
fortes dores abdominais, angústia, aumento da salivação, agitação
psicomotora, sensação de estar morrendo, transpiração excessiva,
tremor intenso, insônia, náuseas, vômitos, alucinações (sensação de
insetos caminhando sobre a pele, percepção de objetos e pessoas
diminuídos) ansiedade e até convulsões.
X Prevenção ao abuso de drogas
Prevenção é o trabalho de conscientização a fim de impedir a
ocorrência da dependência. Conscientizar adolescentes exige muita
habilidade, considerando que fatores como a idade e a incapacidade
de compreender a complexidade do problema podem dificultar esse
processo. Outro agravante é a contradição entre o que os pais e os
programas de prevenção dizem e o que dizem os amigos.
Comumente, os jovens acreditam que podem experimentar e parar
quando quiserem. Essa idéia contribui para encorajar o primeiro
contato com as drogas.
Nas primeiras experiências, o organismo pode reagir de várias
maneiras. A pessoa pode apresentar dor de cabeça, tonturas,
náuseas, entre outros sintomas. Se isso acontecer, a experiência
negativa pode inibir a vontade de usar a droga novamente. Pode, no
entanto, não ocorrer nenhuma reação, o que poderia diminuir ou
aumentar a curiosidade para experimentar mais uma vez. Em muitos
outros casos, pode provocar euforia, sensação de leveza ou modificar
a percepção da realidade. Se essa experiência for agradável, o
indivíduo poderá sentir-se gratificado e usar outras vezes, a fim de
obter os resultados prazerosos.
A maioria das drogas não causa dependência nos primeiros contatos,
fato que fortalece a crença de que se pode interromper o abuso
quando a pessoa desejar.
Em geral, o usuário compreende a dependência quando reconhece
todos os prejuízos associados ao abuso. Mas, o conhecimento apenas,
não é suficiente para evitar o consumo. É preciso ter consciência da
gravidade e extensão do problema, reconhecer as limitações e
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desejar não se expor aos riscos.
XI Dificuldades em admitir a dependência
Na maioria das vezes, a dificuldade em admitir a dependência devese ao fato de o usuário alimentar falsas crenças ou idéias de que a
dependência esteja intimamente ligada ao conceito de "falha moral",
"defeito de personalidade", falta de vontade, de motivação ou de
vergonha, etc. Uma pessoa dependente é aquela cujo organismo
sofreu alterações e adaptou-se ao uso de uma determinada
substância, o que nada tem a ver com "fraqueza de caráter", ou
"incapacidade moral". Acreditar na possibilidade de poder controlar o
consumo obriga o indivíduo a tentar provar para si mesmo, que é
capaz de controlar a compulsão ou "fissura" pela droga. No entanto, o
consumo moderado só é possível no início, antes de ocorrer a
dependência. Depois, todo esforço mental nesse sentido será inútil,
por tratar-se de alterações neurológicas e, não apenas psíquicas.
A pessoa não pode saber com exatidão quando irá se tornar
dependente. Ela só reconhecerá o problema quando tentar parar e
não conseguir. A partir daí é comum inventar justificativas como: "Eu
uso porque eu gosto"; "Eu uso para ficar mais 'ligado'"; "Todos meus
amigos usam e se eu parar não mais serei aceito no grupo"; "Não
tem jeito de parar, na minha cidade todo mundo usa". Essas
desculpas que cria para si e para os outros se mantém por muito
tempo, até a pessoa se conscientizar dos danos e decidir procurar
ajuda ou tratamento.
XII Possíveis danos provocados por drogas
Os danos são vários e dependem de muitos fatores: o tipo de droga
(álcool, tabaco, cocaína, cola, crack, LSD, etc.), tempo de uso,
condições biológicas do organismo, estrutura psicológica, condições
financeiras e sociais de cada usuário e das circunstâncias e variáveis
ambientais. Podemos destacar alguns danos comuns como agressões
físicas ou verbais, mudança no círculo de amigos, marginalização ou
discriminação, expulsões escolares ou de lugares públicos, mudanças
de endereço, gastos excessivos, perda de bens (objetos pessoais,
carros, bens imobiliários, etc.), problemas judiciais (abuso, porte,
tráfico, desacatos à autoridades, envolvimento em brigas, furtos e
assaltos), acidentes de trânsito, quedas, ferimentos, etc.
No plano profissional pode ocorrer diminuição no rendimento, faltas
por embriaguez ou “ressaca”, perda de promoções, falência, mudança
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do ramo de atividade, etc.
No aspecto escolar ou acadêmico as drogas podem ocasionar
desinteresse pelo estudo, baixo rendimento, repetências ou
dependências, problemas nos relacionamentos, evasão, suspensões,
expulsões, etc.
São inúmeros os danos biológicos e psicológicos provocados por
abuso de drogas.
DEPENDÊNCIA DE ÁLCOOL
I Alcoolismo
Na maioria das culturas, o álcool é a droga mais utilizada para fins
recreativos e seu consumo é fortemente estimulado pela sociedade e
pela mídia.
Alcoolismo foi o termo utilizado em 1849, pelo médico Magnus Huss
para referir-se ao uso crônico e patológico de bebidas alcoólicas e
suas conseqüências, que passou a ser tratada como doença, hoje
conhecida por Síndrome de Dependência de Álcool (Ramos, Bertolote
& Cols., 1997).
Por ser uma droga socialmente aceita, as pessoas aprendem a
conviver com bebidas alcoólicas, iniciam o consumo moderado,
restrito às ocasiões sociais e podem tornar-se dependentes após
algum tempo. A passagem do beber moderado para a dependência
não ocorre da noite para o dia - em geral demora vários anos. O
prazo médio para instalação da dependência é de dez anos para
homens e oito anos para mulheres, mas, esse tempo pode variar
muito de uma pessoa para outra. O consumo maciço e por tempo
prolongado de bebida alcoólica pode desenvolver no Sistema Nervoso
Central (SNC), tolerância a essa substância (Edwards, 1987).
Com a evolução da doença aumentam os danos e multiplicam-se os
sintomas de abstinência. De um modo geral, as pessoas acham
surpreendentemente fácil manter a abstinência em um hospital, onde
não há nenhum estímulo para beber. Por isso, passam a acreditar
que são capazes de manter esse comportamento também fora desse
local, mas não é o que normalmente ocorre.
Pessoas com dependência moderada, após um período de internação
podem levar semanas ou meses para voltar a beber como antes. As
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pessoas gravemente dependentes, em geral, relatam que "estão
fisgadas" de novo em poucos dias após ter voltado a beber. Pode
também ocorrer de no primeiro dia, embriagar-se anormalmente e
surpreender-se ao descobrir que perdeu a tolerância; mas em poucos
dias, passa a apresentar sintomas graves de abstinência e voltar a
beber para evitá-los (Edwards, 1987).
II Efeitos predominantes
Os efeitos predominantes do álcool são alterações na capacidade de
julgamento e no humor, fala arrastada, atividade motora prejudicada
(marcha instável ou oscilante), déficit de atenção, agressividade,
amnésia, rubor facial, alteração de comportamentos com prejuízos no
campo social ou ocupacional e ataxia. Os sintomas de abstinência são
tremores que ocorrem eventualmente ou todas manhãs (em casos
graves, atingem níveis incapacitantes); náuseas ao escovar os dentes
ou após o café da manhã; sudorese e perturbações do humor. Nas
fases iniciais, a irritabilidade é comum; em estágios mais avançados,
podem aparecer quadros apavorantes de agitação e depressão e uma
necessidade incontida de acordar no meio da noite para beber.
Dependência
A dependência de álcool é uma doença biopsicossocial, isto é, sua
origem, evolução, tratamento e manutenção da abstinência
dependem de fatores biológicos (vulnerabilidade orgânica: condição
genética favorável à manifestação da doença), psicológicos (fuga de
situações desagradáveis, redução da tensão ou timidez, etc.) e
sociais (exemplos na família, influência de amigos, uso de remédios
caseiros adicionados de bebidas alcoólicas, etc.). As conseqüências
também atingem todos os aspectos da vida da pessoa, seja na área
biológica (saúde física), psicológica (saúde mental) e social
(relacionamentos familiares, sociais e profissionais). A síndrome da
dependência de álcool pode ser descrita pelos seguintes sinais e
sintomas:
- empobrecimento do repertório de beber
Diminuição na variedade de bebidas (preferência ou exclusividade no
consumo de um determinado tipo ou marca); ocasiões previamente
determinadas para beber (data, local e horários); escolha entre beber
acompanhado ou só. Por ex: beber aos domingos com amigos após o
jogo de futebol; beber aos finais de tarde após expediente de
trabalho todos os dias; começar a beber na sexta-feira e parar no
domingo à tarde, entre outros.
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- supervalorização da bebida
A pessoa passa a desprezar atividades anteriormente apreciadas ou
consideradas importantes como jantar com a família, praticar
esportes, passear com os filhos e/ou esposa; jogar com amigos;
passear com o cachorro, etc. e, utiliza esse tempo para beber.
Procura participar apenas dos eventos nos quais haverá bebida
alcoólica e organiza seu trajeto e tempo para freqüentar locais já
estabelecidos para beber.
- Aumento da tolerância ao álcool
O aumento da tolerância é quando o organismo passa a suportar
doses cada vez maiores sem apresentar sintomas de intoxicação
(embriaguez). Nesses casos é comum a pessoa acreditar
incorretamente que esteja mais “forte” para beber.
Em muitos casos de dependência grave pode ocorrer a perda da
tolerância, isto é, após longos períodos ingerindo grandes
quantidades, a pessoa passa a se embriagar com pequenas doses.
- sintomas repetidos de abstinência
Algum tempo após a interrupção da ingestão prolongada surgem
tremores grosseiros, náuseas, suor intenso e perturbações do humor
(irritabilidade, depressão, etc.), fraqueza, alucinações ou ilusões
transitórias (passageiras). Estes sintomas podem surgir pela manhã,
em graus mais leves ou mais graves, dependendo do estado físico da
pessoa e da gravidade da dependência, levando o indivíduo a
consumir bebida alcoólica novamente para aliviar esses sintomas.
- compulsão para beber
A compulsão para beber pode ser entendida como perda ou
desistência do controle. É um desejo incontrolável ou uma ordem
subjetiva para ingerir bebidas. Pequenas doses já não são suficientes
para satisfazer uma grande necessidade (tolerância), é preciso beber
mais e mais. Tentar controlar esse impulso é inútil; logo, a pessoa
desiste e passa a beber o quanto seu organismo suportar ou o quanto
puder pagar pela bebida.
- reinstalação da tolerância após anos de abstinência.
A tolerância se reinstala rapidamente, mesmo após vários anos de
abstinência se a pessoa voltar a ingerir bebida alcoólica. Isso ocorre
pelo fato do uso prolongado de álcool, produzir alterações
neurológicas e neuroquímicas irreversíveis no cérebro (Ramos,
17
Betolote & Cols., 1997).
Problemas clínicos
A dependência de álcool pode ocasionar uma extensa lista de
problemas clínicos e, nem sempre, são associados à ingestão
excessiva. Muitos desses problemas são produzidos pelos efeitos
diretos do álcool sobre o organismo, outros são secundários, se
manifestam pelo descaso alimentar, pois, o consumo de álcool
diminui significativamente o apetite (Ramos, Bertolote & Cols., 1997;
Edwards, 1987).
Alterações sangüíneas: o abuso de álcool pode provocar vários tipos
de anemias, hemorragias, doenças do fígado, desnutrição, infecções
crônicas, diminuição dos glóbulos brancos ou aumento do tamanho
dos glóbulos vermelhos (macrocitose).
Ossos e articulações: é comum a ocorrência de inchaço doloroso das
juntas. A dependência de álcool pode desencadear, em pessoas
predispostas, crises de gota ou agravá-las (quando já existir) e
degeneração dos ossos, com riscos de fraturas em acidentes banais.
Danos cerebrais: muitos danos no cérebro provocados pelo álcool só
podem ser diagnosticados após a morte do indivíduo. Algumas lesões
cerebrais como Síndrome de Wernicke-Korsakoff, doença de
Marchiatava-Bignami (atrofia de uma estrutura profunda do cérebro),
mieliniose centro-pontina (lesão da parte inferior do cérebro) são
raras e pouco conhecidas por seus nomes técnicos. Degeneração do
cerebelo (parte do cérebro localizada na região da nuca, responsável
pelo equilíbrio e pela coordenação dos movimentos), turvações da
visão (com dificuldades para distinguir o vermelho do verde). Outras
demências também podem ocorrer (Edwards, 1987; Schuckit, 1991).
Câncer: o álcool é o maior responsável pelos casos de câncer de
boca, faringe, laringe, esôfago e fígado.
Sistema cardiovascular: o abuso de álcool é um dos principais fatores
responsáveis por danos no miocárdio por três motivos básicos: ação
direta dos efeitos tóxicos do álcool, deficiência nutricional e por lesões
miocárdicas provocadas por substâncias como o cobalto, encontradas
nas bebidas alcoólicas. Arritmias e elevação da pressão arterial
também podem ocorrer.
Problemas pulmonares: o álcool pode provocar vários problemas
pulmonares por diminuir a capacidade de funcionamento do sistema
imunológico. Em fumantes, o álcool estimula o consumo de nicotina,
18
aumentando os riscos de câncer de pulmão (Ramos, Bertolote &
Cols., 1997).
Outros problemas
Alucinose alcoólica: síndrome caracterizada por intensas alucinações
visuais ou auditivas (ver ou ouvir coisas inexistentes).
Ciúme patológico ou delírio de ciúme: síndrome caracterizada por
idéias de que o cônjuge ou parceiro (a) esteja cometendo adultério
ou traição. Situações ou gestos normais são interpretados como
indícios de atos suspeitos e, facilmente criam-se situações de
conflitos ou agressões (Edwards, 1987).
Acidentes: são muito comuns os acidentes automobilísticos,
atropelamentos, quedas, ferimentos, agressões físicas, incêndios
entre outros, associados ao abuso de bebidas alcoólicas.
Aspecto biopsicossócio-cultural da dependência de álcool
A Dependência de Álcool é uma patologia complexa que envolve e
compromete todas as esferas do funcionamento da pessoa. É
considerada, portanto, uma doença biopsicossócio-cultural.
O modelo acima (ver fig. A) representa a multifatoriedade do
problema, através dos seguintes aspectos:
a) biológicos (vulnerabilidade orgânica) - fatores genéticos que
favorecem, mas não determinam a instalação da dependência;
b) psicológicos (sensação de gratificação ou prazer resultante do
consumo de substâncias psicoativas, minimização temporária de
medos ou conflitos);
c) social (disponibilidade da substância no ambiente; influência e
modelos de outras pessoas, propagandas, etc.), e
d) cultural (conjunto de valores, crenças e padrões de
comportamentos voltados para o consumo de bebidas alcoólicas
transmitidos coletivamente por uma sociedade).
O consumo de bebidas alcoólicas, em grandes quantidades por
períodos prolongados pode provocar alterações orgânicas,
psicológicas e interferir no funcionamento sócio-econômico do
indivíduo e, desse modo, tornar-se um círculo vicioso. Após um
determinado período sem consumir a substância, a pessoa pode
experimentar desconforto e compulsão para beber. Essa necessidade
do álcool é uma alteração biopsíquica, que o indivíduo tenta aliviar
ingerindo novas doses.
19
Possíveis Causas da Dependência
O que torna uma pessoa dependente de álcool é consumir a
substância por vários anos expondo-se aos efeitos desse
comportamento. Por exemplo, necessitar de doses cada vez maiores
para obter o mesmo resultado, redução dos intervalos entre um
beber e outro etc. Mas a origem do problema pode ser atribuída a
outros diversos fatores, entre os quais destacamos os seguintes:
Cumprimento de papéis sociais - por exemplo, freqüentes reuniões de
trabalho, jantares, compromissos, festas, onde a bebida está
presente;
Acompanhar o grupo ou receber aprovação deste - a necessidade de
integração, não raro, faz com que a pessoa considere importante o
ato de beber para sentir-se engajado e aceito pelo grupo;
Afastar temporariamente situações desagradáveis - a falta de
habilidades para lidar com eventos aversivos, a baixa tolerância à
frustração e a necessidade de alívio imediato de sentimentos e
emoções negativas podem levar a pessoa a recorrer à embriaguez;
Estímulo familiar – em algumas famílias, os pais, tios, avós, etc.,
permitem, apreciam e até estimulam o consumo de bebidas alcoólicas
por crianças;
Tradições familiares – algumas famílias seguem tradições culturais de
consumir vinhos ou outros aperitivos diariamente durante às
refeições;
Imitação de modelos - crianças em geral, imitam ou reproduzem os
comportamentos dos adultos, repetem o que observam dentro do
contexto familiar através de brincadeiras, como um ensaio para a
vida adulta, e
Redução da inibição social - pessoas tímidas podem sentir-se mais à
vontade em festas ou em qualquer ocasião social após ingerir alguma
quantidade de álcool e, abusam da substância com freqüência para
tal fim.
As alterações comportamentais provocadas pelo abuso de bebidas
alcoólicas podem variar muito de uma pessoa para outra, e num
mesmo indivíduo, de acordo com inúmeras variáveis presentes na
situação. Por exemplo: reações orgânicas; percepção alterada da
realidade; estados emocionais alterados para tristeza, alegria,
irritabilidade ou agressividade; mudança na forma de tratar os
demais; a quantidade e o tempo gasto para ingerir bebidas
alcoólicas; falta de habilidades para lidar com estímulos aversivos,
20
etc.
No contexto familiar, os cônjuges e os filhos são geralmente, as
pessoas mais afetadas pelos comportamentos do indivíduo com a
síndrome de dependência, podendo estender-se também aos pais,
irmãos, etc.
No trabalho é comum, faltas freqüentes por embriaguez ou ressaca;
redução do rendimento físico/intelectual; advertências, perdas de
promoções, falências, mudanças no ramo de atividade, aposentadoria
precoce, acertos prejudiciais, etc.
A doença pode comprometer as condições habitacionais da pessoa e
dos familiares envolvidos no problema, provocando atrasos nos
pagamentos de aluguéis e/ou impostos, ações de despejo, mudanças
para casa de parentes ou, imóveis inferiores, descuido com a
conservação do ambiente (acúmulo de sujeira e lixo nas
dependências da casa), discussões com vizinhos, etc.
Problemas legais como acidentes de trânsito (com ou sem lesões
físicas do condutor ou terceiros ou vítimas fatais), danos materiais,
multas, bem como prejuízos sociais como a marginalização por
familiares, amigos, vizinhos e/ou colegas de trabalho. Freqüentes
expulsões, mudança de endereço ou da atividade profissional, gasto
excessivo, perdas de bens e da credibilidade, envolvimentos em
brigas, etc. resultantes da supervalorização da bebida e descaso com
outras atividades.
No aspecto psicológico em geral, ocorre a negação do problema;
incompreensão e sentimento de impotência por parte dos familiares;
inúmeras tentativas frustradas de tratamento; crenças inadequadas a
respeito do problema; falta de habilidades para lidar com a doença
(tanto do paciente, quanto de seus familiares) e, possível
manifestação de outros transtornos psiquiátricos simultaneamente
como depressão, esquizofrenia, transtornos de ansiedade, etc.
O tratamento adequado da dependência química deve associar
atendimento médico (farmacoterapia) e psicoterapia comportamental,
considerando e respeitando as necessidades e a individualidade do
paciente.
DEPENDÊNCIA DE MACONHA (CANABINÓIDES)
Maconha é o nome usado no Brasil, para o conjunto de folhas, flores
e sementes da planta Cannabis sativa, que cresce com facilidade em
21
regiões de clima quente. Em outros países, a droga pode receber
nomes como hashish, bangh, ganja, diamba, marijuana e marihuana.
A maconha é conhecida há mais de 2.700 a.C. Apesar de antiga é
uma das drogas mais populares. Não existem muitos estudos
precisos sobre a extensão e gravidade dos males provocados pela
maconha. Sabe-se que esta droga afeta o sistema nervoso central
(SNC), provocando a chamada síndrome amotivacional, caracterizada
pela perda de interesse por atividades sociais e intelectuais, com
sérios prejuízos educacionais para o usuário.
No Brasil, os primeiros registros escritos sobre a maconha datam de
1548.
No século XII, lutadores árabes, sob os efeitos dessa substância
lutavam e matavam cruelmente e ficaram conhecidos por
haschichins, de onde originou a palavra "assassinos" (Tiba, 1997).
O ingrediente ativo mais potente da maconha é o delta-9tetrahidrocanabinol (THC). A porcentagem de THC ativo, produzida
pela planta depende da quantidade de luz, do tipo de solo, clima, da
época da colheita e do tempo decorrido entre a colheita e o uso. A
resina das folhas de maconha é chamada, no Brasil, de haxixe, cujo
THC é mais potente que na maconha como é comumente conhecida.
Embora existam usuários de maconha nas mais diversas faixas
etárias e em todos níveis sócio-econômico, a maioria é adolescente.
Desse modo, a preocupação com o abuso é legítima, já que nesta
fase os sistemas cerebral e sexual ainda estão em desenvolvimento,
podendo ocasionar danos irreversíveis aos usuários.
Formas de consumo
Fumada: a droga pode ser fumada na forma de cigarros enrolados
manualmente ou em cachimbos artesanais conhecidos no Brasil como
"maricas". Um cigarro de maconha médio contém de 2,5 a 5mg de
THC. A maconha fumada demora em média 10 minutos para fazer
efeito no organismo. Porém, os efeitos esperados pelo usuário
aparecem após 20 ou 30 minutos e podem durar entre 2 e 3 horas.
Comestível: a maconha pode ser ingerida na forma de bolo, torta ou
outras variações alimentares. Esta forma de consumo não é comum
no Brasil, mas em países como a Holanda, onde a droga é aceita
legalmente, há lojas especializadas na produção desses produtos.
Efeitos predominantes
22
Os efeitos físicos predominantes do THC ocorrem no cérebro, coração
e pulmões. Podem ser classificados em:
efeitos físicos (ação da droga sobre o organismo)
efeitos psíquicos (ação da droga sobre os pensamentos e
percepção).
Podem também ser subdivididos em:
efeitos agudos (quando ocorrem apenas algumas horas após o uso
efeitos crônicos (seqüelas que surgem com o uso prolongado da
droga por semanas, meses ou anos).
Os efeitos físicos propriamente ditos são em geral, olhos vermelhos
(hiperemia das conjuntivas), boca seca (xerostomia), aceleração do
ritmo cardíaco (taquicardia). Os batimentos passam da normalidade
de 60 a 80 por minuto, para 120 a 140 ou até mais. As alterações no
humor dependem da quantidade, do grau de pureza, da forma de
uso, das condições orgânicas do usuário e das circunstâncias em que
é usada. Outros problemas físicos da intoxicação incluem tremores
leves, diminuição da temperatura do corpo, redução da força e do
equilíbrio dos músculos. Algumas pessoas sentem náuseas e dores de
cabeça. Com menor freqüência, o THC pode provocar convulsões e,
em pessoas com problemas cardíacos, pode causar maiores danos.
Os efeitos psíquicos podem ser euforia, sensação de relaxamento,
sonolência, aumento ou negligência do desejo sexual, perda da noção
precisa de tempo (sensação de que o tempo demora a passar),
lentificação do raciocínio, perda da capacidade de armazenar dados
na chamada memória de curto prazo, fome exagerada (conhecida na
gíria brasileira por "larica"), vontade de rir à toa (hilaridade) e
alucinações. Esses sintomas são desejados pela maioria dos usuários.
Sentimentos de angústia, medo de perder o controle da situação,
dores de cabeça, tremores e suor intenso (sudorese) também podem
ser experimentados. Quando os efeitos são desagradáveis, a
experiência é chamada "má viagem" (bad trip) ou "bode"; esses
efeitos diminuem as chances do "experimentador" usar a droga
novamente. Os efeitos crônicos mais evidentes da maconha são a
diminuição ou perda do interesse por atividades ou relacionamentos
sociais.
Esses sintomas caracterizam a síndrome amotivacional. A pessoa que
abusa de maconha desenvolve problemas com a memória e prejuízos
na capacidade de desempenhar tarefas em várias etapas. Pode
apresentar desconfiança, idéias de perseguição, apatia, diminuição
da autoconsciência, prejuízo no julgamento social, pensamento lento,
decréscimo nos impulsos e a perda da capacidade de avaliar
sensatamente a realidade. Se a droga for usada durante um estado
de estresse, a pessoa pode se tornar agressiva. Mas, a maconha por
sua ação depressora do sistema nervoso central, em geral, diminui a
agressividade. No entanto, qualquer usuário pode tornar-se agressivo
23
quando privado do consumo. Como qualquer outra droga de abuso, a
reação tóxica da maconha pode produzir confusão, desorientação e
pânico.
Dependência
Acreditava-se que a dependência psíquica da maconha era muito
mais evidente do que a dependência física. Porém, sabe-se hoje, que
a maconha causa dependência física e psíquica, bem como síndrome
de abstinência leve.
Problemas clínicos
Os problemas de saúde provocados pelo abuso de maconha, na
maioria dos casos tendem a desaparecer com a interrupção do
consumo. As áreas mais importantes de possíveis lesões são as
seguintes:
Pulmões: a maconha é irritante aos pulmões e pode provocar
bronquite (que normalmente desaparece com a interrupção do
consumo). O uso crônico de qualquer substância irritante aos
pulmões pode causar destruição dos tecidos e diminuir a capacidade
vital desse órgão, mesmo em pessoas jovens e saudáveis. A maconha
possui níveis de hidrocarbonetos carcinogênicos 50% mais altos que
o tabaco. O teor de alcatrão encontrado na maconha é maior do que
nos cigarros de tabaco. Ao contrário da crença comum e equivocada
de que a maconha, por ser fumada em sua forma natural (não
industrializada) não provoca câncer, alguns estudos comprovam a
evidência de lesões pulmonares pré-cancerosas em fumantes desta
droga após alguns anos de abuso (Schukit, 1991).
Nariz e garganta: não raro, fumantes crônicos de maconha,
apresentam faringite, sinusite e aumento significativo do risco de
câncer de cabeça e pescoço, idêntico aos fumantes crônicos de
cigarros de tabaco.
Aparelho cardiovascular: a maconha produz aceleração do ritmo
cardíaco e aumento dos riscos de complicações em pessoas com
problemas preexistentes.
Sistema reprodutor: alguns estudos apontam a diminuição em até
60% da quantidade de testosterona (hormônio masculino),
prejudicando a produção de esperma em usuários crônicos, bem
como a redução do tamanho dos testículos. Apesar dessas alterações,
a maconha não causa impotência sexual e nem a perda do desejo
sexual na maioria dos casos, mas pode provocar a esterilidade, em
24
homens. Em mulheres, a maconha pode bloquear a ovulação. Tanto
em homens, quanto em mulheres essas alterações são reversíveis
quando o consumo é interrompido. Durante a gravidez, a maconha
pode reduzir a oxigenação, causando danos ao feto e problemas no
processo de aprendizagem da criança.
Cérebro: fumantes crônicos de maconha podem apresentar
modificações no funcionamento cerebral por três meses ou mais,
após interromper o uso e, com menor freqüência, lesões irreversíveis.
Alguns estudos mostram que a atuação do THC na região do cérebro
responsável pelo controle das emoções provoca danos e disfunções
graves na memória.
Outros problemas (acidentes)
Os maiores riscos são os acidentes provocados por prejuízos no
desempenho motor. A redução da capacidade de julgamento
impossibilita uma avaliação do tempo e da distância. Esses efeitos
são muito parecidos aos de bebidas alcoólicas. Alguns pesquisadores
afirmam que a maconha reduz a capacidade de dirigir automóveis por
até 8 horas após o uso. Um estudo realizado nos Estados Unidos
revelou que esta droga diminui a capacidade de pilotar
adequadamente aviões por 24 horas após o último consumo de
maconha, mesmo em pilotos experientes. Nos casos de preexistência
de doenças psíquicas não evidentes ou controladas com
medicamentos adequados, a maconha pode agravar o quadro,
desencadear a manifestação da doença ou neutralizar os efeitos dos
medicamentos, em especial nos casos de esquizofrenia.
Prevenção
As pessoas que decidem fazer uso dessa droga ou que julgam muito
atraente o consumo crônico de maconha devem buscar conhecimento
sobre seus riscos potenciais. É comum o fato de usuários crônicos de
maconha se retirarem da competição e do convívio social, graças à
síndrome amotivacional (perda do interesse por tarefas diárias, falta
de planejamento e de objetivos na vida). Para educar sobre drogas é
preciso estar bem informado. Os argumentos devem se apoiar em
estudos científicos, capazes de apresentar com seriedade os males
associados ao abuso. As informações erradas ou tentativas de
amedrontar o usuário podem levá-lo a desconfiar de todas
informações que lhe são oferecidas e comprometer a própria
credibilidade do informante.
DEPENDÊNCIA DE COCAÍNA (“CRACK” e “MERLA”)
25
A cocaína é uma droga estimulante do sistema nervoso central
(SNC), conhecida há mais de 3000 anos. No entanto, o tipo da droga
usado hoje, o cloridrato de cocaína (pó branco extraído das folhas de
coca), só foi refinado em 1857. Sua ação bloqueia o funcionamento
de determinados neurônios (células nervosas), produzindo efeito
anestésico (Johanson, 1988; Schuckit, 1991). Em 1914, a imprensa
brasileira já alertava para os perigos referentes ao abuso de cocaína,
mas somente nas décadas de 60 e 70, a substância tornou-se popular
no Brasil, foi considerada a droga da moda nos anos 80. A cocaína é
vendida nas ruas em forma de pó.
É conhecida por várias denominações nas diferentes regiões do país.
Por exemplo, "pó", "farinha", "branquinha" (CEBRID). Para aumentar
os lucros os traficantes adicionam á droga, açúcares, anestésicos,
anfetaminas, pó de giz, entre outras substâncias. Desse modo, o
usuário consome substâncias de origem e riscos desconhecidos.
Outras variações dessa droga recebem os nomes de “crack” ou
"pedra", merla, pasta-base, free base, etc.
O crack é fumado em cachimbos artesanais ou improvisados (latas de
refrigerante), ou misturado no cigarro de maconha.
A merla (cocaína em forma de base) é conhecida e consumida
principalmente em Brasília e em outras localidades da região centrooeste do país. A pasta de coca, obtida nas primeiras fases de
refinação da cocaína, quando as folhas são tratadas com querosene
ou gasolina e ácido sulfúrico, é um produto altamente tóxico que
contém inúmeros tipos de impurezas.
A merla e a pasta de coca, são fumadas misturadas nos cigarros de
tabaco ou de maconha, conhecidos por "mesclados". O crack e a
merla por não serem solúveis em água, não podem ser utilizados de
forma injetável (CEBRID).
Formas de abuso
Via oral (Mascar as folhas ou em forma de chá).
Nos Andes, os nativos mascam as folhas de coca para aliviar as
sensações de cansaço e fadiga produzidas pela altitude da região. Os
índios peruanos misturam às folhas cal ou cinzas para facilitar a
absorção da droga. Quando mastigadas, a absorção da cocaína é feita
pela mucosa da boca; se engolidas, a absorção é feita pelo estômago
e pelos intestinos. No Peru e Bolívia, a ingestão do chá das folhas de
coca é uma prática legal, e a qualidade é controlada por órgão
governamental.
Via intranasal (inalar ou cheirar)
26
Aspirar pelo nariz é a forma mais comum de abuso da cocaína em pó.
O modo de uso consiste em colocar o pó em carreira sobre um vidro
e cheirá-lo com canudos, ou com papel enrolado. Os efeitos ocorrem
10-15 minutos após a inalação e a maior parte dos efeitos
desaparecem em duas horas aproximadamente, embora alguma
atividade persista por até quatro horas. Mesmo com altas
concentrações da droga no sangue, a pessoa torna-se ansiosa,
irritável e deprimida em poucos minutos após inalar a droga; para
evitar esse mal-estar o consumo é mantido por várias horas. Nessa
forma de abuso, os efeitos duram por mais tempo, pois a substância
ativa pode permanecer na mucosa nasal por mais de três horas e ser
detectada na urina após três dias ou mais.
Via intravenosa (injetável)
O uso injetável de cocaína, em geral, provoca os mesmos efeitos do
uso intranasal; a diferença é que ao injetar a droga o usuário
experimenta uma aceleração cardíaca intensa ("baque") mais
rapidamente. A dose intravenosa costuma ser menor do que a dose
intranasal.
O abuso intravenoso de cocaína representa maiores riscos de
overdose e de contágio por agentes transmissores da AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, de hepatite, malária e
dengue, devido ao compartilhamento de seringas e agulhas
contaminadas.
No Peru, Equador, na Colômbia e Bolívia é uma prática antiga
comum, fumar pasta de coca misturada em cigarros de tabaco ou de
maconha e, mais recentemente, passou-se a utilizá-la desse modo no
Brasil. Mas os resultados não trouxeram satisfação aos usuários e, a
partir disso, criaram um preparo especial para alcançar tais efeitos o crack.
O crack e a pasta de coca necessitam de temperatura relativamente
baixa para passar do estado sólido para o estado de vapor (95ºC) e
por tal razão são fumados em "cachimbos". O "pó" necessita de
temperatura elevada (195ºC) e por isso, não pode ser fumado
(CEBRID).
Efeitos Predominantes
Apesar da semelhança dos efeitos destas drogas é preciso distinguir a
cocaína em pó do crack e da pasta de coca, em função das diferentes
formas de administração.
Quando fumados, o crack e a pasta de coca são absorvidos pelos
vasos pulmonares quase instantaneamente, atingindo a corrente
sangüínea e o cérebro com maior rapidez do que por outras vias. Os
27
efeitos surgem entre dez e quinze segundos após o uso e duram
aproximadamente cinco minutos, obrigando o usuário a aumentar a
freqüência do consumo.
Pode ocorrer a intensificação das sensações de prazer, euforia,
sentimentos de elevada auto-estima, poder, insônia, perda do
apetite, aumento da atividade psicomotora (hiperatividade),
excitação sexual e tremores nas mãos. Outras manifestações
possíveis são náuseas, vômitos, dilatação da pupila, aumento da
temperatura corporal e da pressão arterial decorrente da elevação
dos batimentos cardíacos, ranger os dentes, boca seca, destruição do
septo nasal, falar em demasia (loquacidade), desconfiança e medo
exagerados, tocar ou morder repetitivamente objetos ou partes do
corpo e ainda idéias delirantes ou paranóides.
Tolerância
A tolerância à cocaína pode desenvolver-se dentro de poucos dias,
isto é, a pessoa usando a mesma quantidade da droga, sente seus
efeitos (sensação de euforia) com menor intensidade, sendo
necessário aumentar as doses para experimentar os efeitos iniciais,
porém, a sensação de ansiedade e aumento de energia podem
permanecer por até 4 horas.
Dependência
A dependência de cocaína pode ser observada pela presença de
sintomas depressivos ou irritabilidade quando se interrompe o uso.
Em forma de crack, a droga causa dependência quase
instantaneamente, com apenas três ou quatro doses.
Outros problemas
Os usuários de cocaína injetável podem ter complicações infecciosas
pelo compartilhamento de agulhas contaminadas, espasmos dos
vasos sangüíneos com sintomas semelhantes aos de derrame. Pode
ocorrer destruição do septo nasal em usuários que inalam a droga.
Quando fumada, a cocaína pode provocar bronquite e até perdas na
capacidade de funcionamento normal dos pulmões.
A ingestão rápida de cocaína provoca taquicardia e pode resultar em
morte. As complicações cardíacas são imprevisíveis e podem ocorrer
tanto em iniciantes, quanto em pessoas que já abusam regularmente
da droga.
28
O abuso de cocaína durante a gravidez pode atravessar a placenta e
atingir o feto. Os resultados podem ser a diminuição da oxigenação
ou efeitos estimulantes sobre o feto (com alterações cardíacas),
trabalho de parto prematuro ou abortos espontâneos.
O usuário pode apresentar bruxismo (ranger os dentes) e ainda uma
série de problemas cutâneos, incluindo escoriações (resultantes de
idéias delirantes sobre insetos na pele ) e úlceras cutâneas. A
superdosagem (overdose) no consumo de cocaína pode levar à
morte.
A ocorrência de depressão grave e suicídios entre usuários de cocaína
é comum.
TRATAMENTO AMBULATORIAL
Os objetivo primordiais do tratamento é ajudar o paciente a se
manter abstêmio, reduzir ao máximo os efeitos aversivos da
síndrome de abstinência e desenvolver habilidades para lidar com
situações de riscos.
Para atingir esses objetivos é fundamental a adesão ao tratamento
(cumprimento rigoroso das instruções médico-psicológicas),
motivação e elevado empenho para mudar comportamentos e
pensamentos inadequados. Não há uma forma única e cem por cento
eficaz de tratar os transtornos decorrentes do abuso de substâncias
psicoativas.
Nenhum método pode ser considerado superior aos demais. Pessoas
com problemas relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas e/ou
outras drogas apresentam um histórico de vida com experiências
distintas e razões individuais para manutenção do problema.
Portanto, compete aos profissionais avaliar o perfil do paciente e
ajudá-lo a escolher o tipo de tratamento mais adequado para o caso.
O principal benefício do programa ambulatorial é a oportunidade de
tratamento, sem afastar o paciente de seu convívio familiar,
profissional e social.
Outro aspecto importante desse programa consiste na aquisição de
habilidades para lidar com as situações de risco (situações que
facilitam ou aumentam os riscos de recaída), às quais o paciente
estará exposto constantemente no contexto sócio-cultural e familiar.
O tratamento é realizado em três (3) etapas, com intervalos de 60
dias entre as consultas. Na consulta inicial, realiza-se uma triagem
para formação de grupos, nos quais são esclarecidas as causas da
doença, os fatores agravantes, a evolução e gravidade dos problemas
e a forma de tratamento.
O atendimento em grupo na primeira consulta visa ampliar a
compreensão através de relatos e da observação de casos de outros
pacientes do grupo, dos efeitos físicos, psicológicos e sociais
29
provocados pelo abuso de substâncias e o desenvolvimento da
doença ao longo dos anos.
Após a consulta motivacional e avaliação do quadro clínico de cada
paciente é feita a prescrição dos medicamentos que deverão ser
tomados durante o intervalo das consultas.
Tanto o paciente, quanto os acompanhantes ou familiares são
incentivados e encorajados a ligar para clínica durante os intervalos
das consultas, sempre que houver necessidade de esclarecimentos ou
apoio da equipe profissional. Nas consultas seguintes, o atendimento
é individual.
O paciente é reavaliado e, se necessário, são realizados ajustes ou
alterações nas intervenções terapêuticas.
Dependência Física
Consiste na necessidade sempre presente, a nível fisiológico, o que
torna impossível a suspensão brusca das drogas. Essa suspensão
acarretaria a chamada crise da "abstinência". A dependência física é o
resultado da adaptação do organismo,independente da vontade do
indivíduo. A dependência física e a tolerância podem manifestarem-se
isoladamente ou associadas, somando-se à dependência psicológica.
A suspensão da droga provoca múltiplas alterações somáticas,
causando a dramática situação do "delirium tremens".
Isto significa que o corpo não suporta a síndrome da abstinência
entrando em estado de pânico. Sob os efeitos físicos da droga, o
organismo não tem um bom desenvolvimento.
Dependência Psicológica
Em estado de dependência psicológica, o indivíduo sente um impulso
irrefreável, tem que fazer uso das drogas a fim de evitar o mal-estar.
A dependência psicológica indica a existência de alterações psíquicas
que favorece a aquisição do hábito. O hábito é um dos aspectos
importantes a ser considerado na toxicomania, pois a dependência
psíquica e a tolerância significam que a dose deverá ser ainda
aumentada para se obter os efeitos desejados. A tolerância é o
fenômeno responsável pela necessidade sempre presente que o
viciado sente em aumentar o uso da droga.
Em estado de dependência psíquica, o desejo de tomar outra dose ou
de se aplicar, transforma-se em necessidade, que se não satisfeita
leva o indivíduo a um profundo estado de angústia, (estado
depressivo). Esse fenômeno não deverá ser atribuído apenas as
drogas que causam dependência psicológica. O estado de angústia,
por falta ou privação da droga é comum em quase todos os
dependentes e viciados.
Requisitos Básicos da Dependência
30
1 - forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
2 - dificuldade no controle de consumir a substância em termos do
seu início, término ou níveis de consumo;
3 - estado de abstinência fisiológica quando o uso cessou ou foi
reduzido (sintomas de abstinência ou uso da substância para aliviálos);
4 - evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da
substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos
originalmente produzidos por doses mais baixas;
5 - abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em
favor do uso da substância psicoativa, aumento do tempo necessário
para obter ou tomar a substância psicoativa ou para se recuperar dos
seus efeitos;
6 - persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara
de consequências manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado
por excesso de álcool, depressão consequênte a período de consumo
excessivo da substância ou comprometimento cognitivo relacionado à
droga.
Dados Epidemiológicos
Uso de Droga em Adolescentes
Idade de
Tempo para uso
Substância
início
problemático
11 anos
álcool
2,5 anos
12 anos
maconha
1 ano
13 anos
cocaína
6 meses
14 anos
crack
1 mês
81%
46,8%
50%
84%
65,6%
15,6%
100%
100%
Perfil dos Usuários
são de classe média
cursam o nível superior
mencionam apenas os efeitos
positivos da droga
já tiveram episódios depressivos
após o uso
acreditam que o ecstasy é seguro
já tiveram problemas financeiros
pelo uso do ecstasy
usam a droga em grupo
são usuários de outras drogas
como maconha, cocaína e LSD
31
São Paulo – SP
Drogas
Anos dos Levantamentos
1987(%)
1989(%)
1993(%)
1997(%)
2004(%)
Álcool
77,4
79,2
82,3
74,1
70,07
Tabaco
25,4
31,8
29,1
30,7
26,29
Maconha
3,5
4,7
5,7
6,4
6,6
Cocaína
0,7
1,9
2,4
3,1
1,7
17,8
24,5
18,9
14,7
16,3
Solventes
Fonte: OBID - Ano IV - Nº. 06 - Junho de 2005 - Secretaria Nacional Antidrogas
Iaras – SP
Anos dos Levantamentos
Período
Dados
Dados
DEL.POL
1 ano

Apreensão de Maconha:4,844 g
Aproximadamente R$7.266,00

P.M.
1 ano

Apreensão de Maconha:6,152 g
Aproximadamente R$9.228,00
Detenção p/ Trafico 06
Porte 03
Apreensão 02
Encaminhamento p/ internação: 07
Custo aproximado
R$ 5.000,00
Intoxicação c/ medicamentos: 02

PFF
1 ano
UBS
1 ano




Apreensão de Cocaína:
221,80g
Aproximadamente R$
11.100,00
Apreensão de Cocaína:
107g
Aproximadamente R$
5.350,00
 Alcoolismo 70
Custo aproximado R$
3.000,00
 Alcoolismo: 24
Custo aproximado R$
1.032,00
Fonte: UBS, PSF, PM, DELPOL - Ano 2008 – Secretaria Municipal de Saúde
32
Maconha
O uso na vida de drogas de abuso
na população brasileira
6,9 %
Solventes e inalantes
5,8 %
Orexígenos (estimulantes do apetite)
4,3 %
Benzodiazepínicos (calmantes)
3,3 %
Cocaína,,
2,3 %
Xaropes com codeína
2,0 %
Estimulantes (anfetaminas)
1,5 %
Opiáceos (remédios para dor derivados da morfina)
Anticolinérgicos
Alucinógenos
1,4 %
1,1 %
0,6 %
Barbitúricos
Crack
Esteróides (anabolizantes)
0,5 %
0,4 %
0,3 %
Merla (pasta de cocaína)
0,2 %
Heroína
0,1 %
Fonte: Cebrid (Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas- Universidade
Federal de São Paulo)- Levantamento Domiciliar 2001
20% da população usam substâncias psicoativas no decorrer da vida;
15% no mínimo são portadores da doença da dependência química;
10% a 12% desses usam mais de uma droga concomitante;
A incidência de DQ é de 2 a 6 vezes maior no homem;
DQ evolui do álcool para drogas mais pesadas;
150 mil óbitos/ano por alcoolismo nos USA;
15% dos DQ cometem suicídio (20 vezes maior que na população).
Transtornos Psiquiátricos em Pacientes Dependentes de Álcool
- 218 pacientes alcoolistas x 218 pacientes não alcoolistas - Serviço
Ambulatorial Universitário do estado de São Paulo;
- Prevalência em toda vida (LTP) de transtornos psiquiátricos: 70%
população alcoolista x 26% população não alcoolista;
- Depressão maior em 50%;
- Personalidade anti-social em 30%;
- Fobias em 20%;
- Abuso/dependência de outras drogas em 19%.
Transtornos de Personalidade na dependência da Cocaína
33
-
prevalência ao longo da vida de transtornos psiquáticos foi de 69%;
29% com transtornos afetivos e ansiosos
40% com transtornos de personalidade
31% sem transtornos
Saiba como Agir nas Emergências
Aprenda a conhecer os sintomas de overdose (intoxicação aguda) e
saiba o que fazer quando uma pessoa exagerou no uso de drogas e
pode estar precisando da sua ajuda:
Conheça os sintomas:
- Perda da consciência, coma ou sono repentino e/ou profundo
- Respiração lenta ou curta ou parada da respiração
- Sem pulso ou pulso fraco
- Lábios roxos
- Convulsões, movimentos involuntários, desmaios
- Palpitação, taquicardia, dor no peito
Saiba o que fazer:
- Chame o resgate ou ajuda médica para emergências,
imediatamente.
- Nunca deixe a pessoa sozinha.
- Deite a pessoa de lado, tenha certeza de não haver comida ou
vômito na garganta.
- Afaste o queixo do peito.
- Nunca dê outra droga para combater o efeito.
- Nunca ponha nada na boca da pessoa, incluindo água ou
medicamentos.
- Se a pessoa estiver tendo uma convulsão segure a sua cabeça com
cuidado para não bater no chão ou em algum móvel
Atenção: A mistura de qualquer droga com álcool ou outras drogas
aumenta o risco de overdose, ferimentos, violência, abuso sexual e
morte.
POSSÍVEIS DANOS PROVOCADOS POR DROGAS
Os danos são vários e dependem de muitos fatores: o tipo de droga
(álcool, tabaco, cocaína, cola, crack, LSD, etc.), tempo de uso,
condições biológicas do organismo, estrutura psicológica, condições
financeiras e sociais de cada usuário e das circunstâncias e variáveis
ambientais. Podemos destacar alguns danos comuns como agressões
físicas ou verbais, mudança no círculo de amigos, marginalização ou
discriminação, expulsões escolares ou de lugares públicos, mudanças
de endereço, gastos excessivos, perda de bens (objetos pessoais,
34
carros, bens imobiliários, etc.), problemas judiciais (abuso, porte,
tráfico, desacatos à autoridades, envolvimento em brigas, furtos e
assaltos), acidentes de trânsito, quedas, ferimentos, etc.
No plano profissional pode ocorrer diminuição no rendimento, faltas
por embriaguez ou “ressaca”, perda de promoções, falência, mudança
do ramo de atividade, etc.
No aspecto escolar ou acadêmico as drogas podem ocasionar
desinteresse pelo estudo, baixo rendimento, repetências ou
dependências, problemas nos relacionamentos, evasão, suspensões,
expulsões, etc.
São inúmeros os danos biológicos e psicológicos provocados por
abuso de drogas.
A ESPOSA E A DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA
O álcool é uma droga psicoativa capaz de provocar graves
conseqüências orgânicas, psicológicas e sociais, caracterizando a
Síndrome de Dependência Alcoólica.
O problema da dependência de álcool atinge pessoas de todas as
esferas sócio-econômicas e culturais no mundo todo, cujas
conseqüências negativas atingem senão todos, a maioria do contexto
biopsicossocial do indivíduo e de seus familiares. Não existe no Brasil
uma estatística precisa a respeito do problema. Nossas estatísticas
são projeções de pesquisas americanas e indicam que 10% dos
brasileiros são dependentes de álcool.
A esposa e os filhos são as pessoas mais diretamente atingidas. A
desinformação ou informações incorretas aumenta a resistência do
paciente na busca de tratamento e propiciam tentativas inadequadas
de ajuda por parte dos familiares.
As esposas em geral, são as maiores vítimas da violência doméstica
provocada pelo abuso de álcool. Por tratar-se de um depressor do
SNC, o álcool causa alterações no pensamento e nos comportamentos
do indivíduo. Desse modo, a mulher terá de lidar com situações
desgastantes e difíceis, onde geralmente há mais isolamento social
do que apoio. Não há regras sobre como agir e é imprevisível o que
irá acontecer a cada dia. A esposa não sabe se quando o marido
voltar para casa ele estará sentimentalmente bêbado ou se estará
raivoso e começará a agredi-la.
A exaustão por lidar com o desconforto contínuo e picos de crises
durante anos pode ser a queixa principal da esposa. Os problemas
35
emocionais incluem angústia, medo e infelicidade. Os sentimentos da
mulher são basicamente os seguintes:
Dúvidas e auto-acusação: não raro, ela se pergunta se o problema
não teria surgido por ela ter sido uma má esposa, ter falhado
sexualmente ou em algum outro aspecto.
Perplexidade: a esposa pode ficar perplexa diante do conflito agudo
de sentimentos que desenvolve em relação ao marido; casou-se com
ele porque o amava e às vezes, sente vontade de agredi-lo e
abandoná-lo.
Privação: freqüentemente há um sentimento de privação emocional
ou de perda: o homem com quem se casou desapareceu. Ela começa
a sentir-se desvalorizada e desgraçada.
Além dos problemas emocionais, há também os problemas reais e
concretamente ameaçadores: risco de despejo se o aluguel não for
pago; as crianças não podem freqüentar escola particular; falta de
dinheiro para as compras da semana, água, luz e telefone; vizinhos
se queixam do barulho das portas batendo na noite anterior;
discussões constantes; ciúme infundado (o alcoolismo muita vezes
leva ao ciúme patológico); descontrole esfincteriano do marido
(evacuar ou urinar nas roupas).
É claro que seria um erro sempre descrever tais casamentos nesses
extremos. Há graduações e às vezes, o comportamento do marido
embriagado causa pouco incômodo; ele fica um pouco bobo, discute
bastante, rumina o passado, tende a adormecer no sofá e dificilmente
vai para a cama, mas permanece educado e não se torna violento.
Fornece regularmente o dinheiro das compras e, se tiver um emprego
seguro ou uma boa condição financeira, alguns dos problemas da
realidade não serão tão perturbadores ou evidentes.
A esposa pode estar envolvida na medida em que tenha relação com
a origem do problema, isto é, caso seja conivente com as atitudes do
marido ou o estimule a beber. E um envolvimento positivo na medida
que seja capaz de ajuda-lo no processo de recuperação.
O que a mulher pode fazer? Qual o papel da esposa na
situação?
A passagem do beber sem problemas à dependência de álcool não se
faz do dia para a noite. É um processo de longa duração entre o
beber normal e o alcoolismo que, em geral leva vários anos. Nessa
interface começam a aparecer problemas relacionados ao abuso do
36
álcool. O processo de transição é sinalizado de várias formas, por
exemplo: começar a beber mais que o habitual para as
circunstâncias, a ponto de ficar perceptível para as pessoas mais
próximas; beber sozinho freqüentemente; beber muito rápido;
reclamar que o sono não tem sido repousante; dificuldade para
lembrar fatos recentes, etc. Algumas conseqüências orgânicas mais
precoces do consumo de álcool como gastrite alcoólica, são alguns
sinais.
Algumas esposas reconhecem as fases dessa trajetória. Não se trata
de regra, mas na maioria dos casos, ocorre o seguinte: constatação
relutante de que a bebida é realmente um problema e tenta controlar
ou prevenir o comportamento problemático, tentando isolar-se
socialmente, como uma estratégia de prevenção; recusa convites ou
estimula as pessoas à não lhes convidar para reuniões sociais e,
deixa de visitar parentes e/ou amigos.
Em seguida, a esposa começa a perceber que tais estratégias não
funcionam. As coisas pioram ao invés de melhorarem; suas reservas
vão se esgotando; ela começa a temer por sua própria sanidade;
cria-se um sentimento de desesperança; o contato sexual diminui ou
cessa; há um sentimento geral de contínuo distanciamento, medo ou
raiva. Nesta fase a esposa começa a perceber que alguma coisa
precisa ser feita - tenta convencer o marido a procurar ajuda. Se não
houver melhoras, o casamento pode se desfazer ou continuar
arrastando-se por anos a fio. A ordem das fases varia muito e as
esposas adotam diferentes estilos de enfrentamento da situação.
As principais estratégias são:
Subterfúgios - fase em que o contato é minimizado ao extremo e
começam as esquivas emocionais ou físicas: "Estamos acostumados a
isto"; "Vamos para a cama antes que ele volte e eu finjo que estou
dormindo quando ele entra no quarto"; "Aviso às crianças para
ficarem longe dele"; "Saio com as crianças no fim de semana sem
ele, na verdade nem o convidamos".
Ataques - a mulher tenta controlar o comportamento do marido
ralhando, gritando; ameaçando deixá-lo; ocasionalmente agride-o
fisicamente; avisa-lhe de que já falou com o advogado sobre
separação; despeja a bebida na pia; manipula a situação.
Manipulação - envolve comportamentos como procurar envergonhar
o marido por ele beber, mostrando seu desconforto enquanto esposa
ou acentuando o sofrimento das crianças. A própria esposa pode
embriagar-se propositalmente para mostrar-lhe como é a situação
inversa.
37
Mimar - assemelha-se àqueles comportamentos de mães que mimam
os filhos: a esposa cuida dele em suas ressacas; mantém o jantar
aquecido, quer ele chegue embriagado ou sóbrio; lhe promete
benefícios especiais se melhorar suas atitudes ou comportamentos.
Estilo de enfrentamento adequado: Condução construtiva - quando a
esposa mantém seu próprio sentimento de auto-estima, isto é,
protege e cuida da família assegurando-se de que as finanças estão
em ordem; vai trabalhar; garante que não falte nada para as
crianças; ela mesma faz pequenos consertos na casa e cuida do
jardim.
Busca de ajuda construtiva: caracterizada por comportamentos como
procurar o médico da família; fazer uma terapia; informar-se sobre
os AAs; informar-se sobre tratamentos; deixar alguns folhetos para o
marido ler; ir à biblioteca pública, ler livros ou pesquisar na internet
sobre alcoolismo para aumentar seu próprio conhecimento.
O PAPEL DA FAMÍLIA DA BUSCA DE TRATAMENTO
Os resultados mais satisfatórios no tratamento de dependência de
álcool são atingidos quando a terapêutica constitui-se de tratamento
medicamentoso e psicoterapia cognitivo-comportamental. As chances
de êxito no tratamento são maiores quando o paciente decide por si
próprio procurar ajuda profissional. Tentar enganá-lo pode ser pior do
que inútil, pois além de dificultar a adesão ao tratamento, o paciente
poderá agredir a família por tal atitude e ainda, gastar tempo e
dinheiro inutilmente.
A família precisa encontrar encorajamento, enxergar claramente seu
papel na situação e perceber melhor suas próprias necessidades.
Pode-se discutir os comportamentos a serem adotados e avaliar as
alternativas. É impossível predizer mecanicamente um modelo de
conduta ou comportamentos a serem seguidos pela família de forma
padronizada.
É importante que a família decida o que fazer e o que não fará em
relação ao problema e, quais são os seus limites emocionais, afetivos
e financeiros. Por exemplo, pode-se estabelecer como política de
ação, não mais discutir nem reclamar, ou não dar mais dinheiro para
o uso e, nem sair para comprar bebida ou drogas para o paciente.
Enfim, elaborar um programa pessoal, de acordo com as reais
possibilidades familiares é a melhor alternativa para lidar com a
situação.
OS DOZE PASSOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS
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1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que
tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos
poderia devolver-nos à sanidade.
3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados
de Deus, na forma em que O concebíamos.
4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós
mesmos.
5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro
ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse
todos esses defeitos de caráter.
7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas
imperfeições.
8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos
prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas
causados.
9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas,
sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse
prejudicá-las ou a outrem.
10.
Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando
estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
11.
Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar
nosso contato consciente com Deus, na forma em que O
concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade
em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
12.
Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a
esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem aos
alcóolicos e praticar esses princípios em todas as nossas
atividades.
ALCOOLISMO - AVALIE-SE
Acha difícil não pensar em bebida?
Perde refeições porque estava bebendo?
Depois de ter começado beber não consegue parar?
Acha difícil parar de beber antes de ficar embriagado?
Bebeu bastante num dia e na manhã seguinte precisou de um gole
para sentir-se bem?
Bebe mais que seus amigos?
Amigos e familiares lhe aborrecem dizendo que você bebe demais?
Bebe em grandes goles para sentir mais rápido o efeito da bebida?
Em festas, procura saber se a quantidade de bebida é suficiente?
Deixa de cumprir alguns deveres por causa da bebida?
Permanece bebendo por vários dias seguidos?
Precisa beber mais do que costumava para embriagar-se?
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Já tentou diminuir o consumo ou parar de beber e não conseguiu?
Já sentiu necessidade de beber em horários nos quais normalmente
não bebe?
Bebeu e na manhã seguinte apresentou tremores nas mãos?
Quase sempre tem náuseas pela manhã e/ou cãibras nas pernas?
Ultimamente tem ficado ansioso e irritado?
Não tem conseguido dormir normalmente, tem pesadelos ou sente-se
angustiado?
Sua disposição para o trabalho diminuiu?
Tem faltado muito ao trabalho ultimamente?
Tem atritos e discussões com chefes, colegas de trabalho e/ou
familiares?
Já sofreu quedas ou acidentes sob efeito de álcool?
Ciúmes e agressões têm ocorrido em sua vida familiar?
Já não faz tanta questão de manter boa aparência e higiene pessoal?
Se você respondeu SIM PARA ALGUMAS dessas questões, CUIDADO!
Procure orientação de especialistas
Referencias Bibliográficas:
RAHD, J.T; (2007) Alcoolismo e Outras Drogas: São Paulo:
Editora Bandeirantes
KNAPP, P; Bertolote, J. & Cols.(1994). Prevenção da
recaída: um manual para pessoas com problemas pelo uso
do alcool e de drogas. Porto Alegre: Artes Médicas.
ADIALA, J. C. O problema da maconha no Brasil. Rio de
Janeiro: IUERJ, 1986.
AMÉLIA, C. e COSTA, A. M. Droga: a fina flor do crime. s.d.
ANDRADE, A. G. et alii (editores). Drogas: atualização em
prevenção e tratamento. São Paulo: Edições Loyola, s.d.
CONSELHO ESTADUAL DE ENTORPECENTES DE SÃO
PAULO. Proposta de ações para uma política pública
estadual sobre drogas/violência urbana. São Paulo: Mimeo,
06 de novembro de 2000. (versão corrigida em
12/04/2002).
40
COORDENAÇÃO DE SAÚDE MENTAL. Normas e
procedimentos na abordagem do abuso de drogas. Brasília:
Ministério da Saúde (Secretaria Nacional de Assistência à
Saúde/Departamento de Programas de Saúde), 1991.
Sites de pesquisas:
www.antidrogas.com.br
www.cvs.saude.sp.gov.br
www.google.com.br
Mensagem:
Faz de Conta
Recentemente uma professora, que veio da Polônia para o Brasil
ainda muito jovem, proferia uma palestra e, com muita lucidez trazia
pontos importantes para reflexão dos ouvintes.
Já vivi o bastante para presenciar três períodos distintos no
comportamento das pessoas, dizia ela.
O primeiro momento eu vivi na infância, quando aprendi de meus
pais que era preciso ser. Ser honesta, ser educada, ser digna, ser
respeitosa, ser amiga, ser leal.
Algumas décadas mais tarde, fui testemunha da fase do ter. Era
preciso ter. Ter boa aparência, ter dinheiro, ter status, ter coisas, ter
e ter...
Na atualidade, estou presenciando a fase do faz de conta.
Analisando sob esse ponto de vista, chegaremos à conclusão que a
professora tem razão.
Hoje, as pessoas fazem de conta e está tudo bem.
41
Pais fazem de conta que educam, professores fazem de conta que
ensinam, alunos fazem de conta que aprendem.
Profissionais fazem de conta que são competentes, governantes
fazem de conta que se preocupam com o povo e o povo faz de conta
que acredita.
Pessoas fazem de conta que são honestas, líderes religiosos se
passam por representantes de Deus, e fiéis fazem de conta que têm
fé.
Doentes fazem de conta que têm saúde, criminosos fazem de conta
que são dignos e a justiça faz de conta que é imparcial.
Traficantes se passam por cidadãos de bem e consumidores de
drogas fazem de conta que não contribuem com esse mercado do
crime.
Pais fazem de conta que não sabem que seus filhos usam drogas, que
se prostituem, que estão se matando aos poucos, e os filhos fazem
de conta que não sabem que os pais sabem.
Corruptos se fazem passar por idealistas e terroristas fazem de conta
que são justiceiros...
E a maioria da população faz de conta que está tudo bem...
Mas uma coisa é certa: não podemos fazer de conta quando nos
olhamos no espelho da própria consciência.
Podemos até arranjar desculpas para explicar nosso faz de conta,
mas não justificamos.
Importante salientar, todavia, que essa representação no dia-a-dia,
esse faz de conta, causa prejuízos para aqueles que lançam mão
desse tipo de comportamento.
A pessoa que age assim termina confundindo a si mesma e caindo
num vazio, pois nem ela mesma sabe quem é, de fato, e acaba se
traindo em algum momento.
E isso é extremamente cansativo e desgastante.
Raras pessoas são realmente autênticas.
Por isso elas se destacam nos ambientes em que se movimentam.
São aquelas que não representam, apenas são o que são, sem fazer
42
de conta.
São profissionais éticos e competentes, amigos leais, pais zelosos na
educação dos filhos, políticos honestos, religiosos fiéis aos ensinos
que ministram.
São, enfim, pessoas especiais, descomplicadas, de atitudes simples,
mas coerentes e, acima de tudo, fiéis consigo mesmas.
Você sabia?
Que a pessoa que vive de aparências ou finge ser quem não é corre
sérios riscos de entrar em depressão?
Isso é perfeitamente compreensível, graças à batalha que trava
consigo mesma e o desgaste para manter uma realidade falsa.
Se é fácil enganar os outros, é impossível enganar a própria
consciência.
Por todas essas razões, vale a pena ser quem se é, ainda que isso
não agrade os outros.
Afinal, não é aos outros que prestaremos contas das nossas ações, e
sim a Deus e à nossa consciência.
43
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