AINDA SOMOS MUITO DESIGUAIS Marcus Eduardo de Oliveira

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AINDA SOMOS MUITO DESIGUAIS
Marcus Eduardo de Oliveira (*)
O fator desigualdade no desenvolvimento humano continua a ser a pedra
no sapato dos brasileiros. Entre os países da América Latina, estamos na nona
posição no ranking que mede essa desigualdade. Esse é o resultado do último
estudo divulgado pela ONU-Pnud, com base em dados de 2006.
O IDH-D (Índice de Desenvolvimento Humano ajustado à Desigualdade)
que considera a renda per capita domiciliar; a taxa de alfabetização e os anos
de estudos das pessoas de 7 anos ou mais e, o acesso a água potável e
adequadas condições de higiene, destacando-se o acesso a banheiro nos
domicílios, mostram o Brasil com um índice de 0,629, portanto, na condição de
país de desenvolvimento médio (de 0,500 a 0,800).
Numa escala de 0 a 1, o IDH-D aponta que quanto mais próximo de 1, como
são os casos de Argentina (0,842) e Uruguai (0,834), melhor é a situação, com
pouca desigualdade nos quesitos estudados. No outro extremo, quanto mais
próximo de zero, pior é a condição social, como são os casos de Honduras
(0,382) e Nicarágua (0,288).
Pois bem. Diante desses dados uma questão se impõe como pertinente: o
crescimento econômico em si não resolve a questão da desigualdade social.
Crescer economicamente não significa (e nunca significou) que a vida das
pessoas mais necessitadas irá melhorar, embora seja o crescimento da
economia um fator benéfico no conjunto das opções a favor da busca de bemestar. Lembremos, nesse pormenor, que de 1870 a 1980, o PIB brasileiro
cresceu mais de 150 vezes; no entanto, nesse mesmo período de tempo,
excluídos os contratempos e sobressaltos políticos e econômicos, a vida dos
brasileiros, em termos de melhoria substancial na qualidade de vida, não
acompanhou esse forte crescimento do produto.
Ademais, ainda que a renda per capita dos brasileiros mais pobres, de
2000 a 2008, tenha crescido 72%, o IDH-D nos coloca na incômoda posição de
sermos muito desiguais, o que ressalta, grosso modo, a relação conflituosa
entre os campos econômico e social, contribuindo para a latente desigualdade. E
somos desiguais basicamente pela deficiência de ajustar o crescimento da
economia em termos de distribuição equitativa da renda, e de nos negarmos a
enfrentar o desafio de conjugar mercado e virtudes civis, visando construir
uma economia com eficiência, de característica tipicamente solidária.
Continuamos desiguais, pois não aproveitamos a potencialidade econômica
de um país dono da quinta maior extensão territorial do mundo em favor de um
programa de produção de alimentos para o consumo doméstico; ao contrário:
preferimos adoçar a boca dos estrangeiros com a exportação de alimentos e
vitaminas. Continuamos desiguais, pois não criamos ainda uma cultura de
subordinar a economia aos objetivos sociais. Continuamos desiguais, pois, depois
de mais de 500 anos de história econômica e política, ainda temos políticas
econômicas desenhadas apenas para fazer a riqueza subir, e não para fazer a
pobreza se reduzir a zero, entendendo que a pobreza um dia acabará enquanto
a riqueza está aumentando. É por isso que ainda somos um país paradoxal: um
país rico com uma triste e dramática pobreza vinculada a um elevado grau de
desigualdade.
Definitivamente, só vamos diminuir essa desigualdade e eliminar os focos
de pobreza quando a economia for direcionada para produzir tudo aquilo que
elimina o estado de pobreza, ou seja, escola pública de qualidade, saúde pública
confiável, saneamento básico, água potável, cultivar a terra e eliminar o
latifúndio, coletar o lixo das ruas, e permitir com que cada brasileiro carente
tenha possibilidade de comprar arroz, feijão e o bife para o fim de semana.
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor de economia da FAC-FITO e do
UNIFIEO. Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP).
Colunista do site “O Economista” e do “Portal EcoDebate”. Contribui ainda com a
Agência Zwela de Notícias (Angola) e com o Notícias Lusófonas (Portugal).
Blog - http://blogdoprofmarcuseduardo.blogspot.com
e-mail - [email protected]
Twitter - http://twitter.com/marcuseduoliv
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