CURSO BÁSICO DE FORMAÇÃO DE GESTORES DE COZINHAS COMUNITÁRIAS –REDESAN- 2009– TEXTO SEMANA 12/18 – de 03 a 08/ agosto/ 2009 Módulo II: GESTÃO DE COZINHAS COMUNITÁRIAS NA PERSPECTIVA DA SAN Marilene Bandeira Machado1 Sheila Pereira Rangel2 Auto-abastecimento e abastecimento As Cozinhas Comunitárias, no seu entorno, podem fazer hortas/urbanas/comunitárias para produção de alguns tipos de hortifriti e outros produtos. Quando existe essa possibilidade as CCs conseguem se auto-abastecer pela própria produção ou produção local/regional e por vezes vender o excedente da produção gerando renda e sustentabilidade. Sabe-se que a realidade das cozinhas é distinta e que poucas possuem hortas, ou ações que propiciem a produção de gêneros alimentícios que viabilizem o auto-abatecimento. Dessa forma, é necessário que busquem abastecimento externo, ou seja, é preciso comprar ou receber doações de gêneros alimentícios para o funcionamento dessa Unidade de Alimentação e Nutrição (U.A.N). Seleção, aquisição da matéria-prima e abastecimento das Cozinhas Comunitárias (recepção, controle, armazenagem) Primeiramente é necessário estabelecer a política de compras da U.A.N (CC). A política de compras adotada e utilizada pelo setor responsável pelo serviço de alimentação e/ou gestor/a da/s CC/s deverá preceder a logística de abastecimento e aquisição da matéria-prima. Assim, a política de compras deve ser entendida como uma operação integrada de vários setores da cozinha comunitária – U.A.N e do pessoal envolvido na: aquisição: responsabilidade do pessoal administrativo. armazenamento, conservação, consumo, uso e técnicas de produção adequada de todos os produtos que compõem as diferentes necessidades: responsabilidade do pessoal técnico e operacional. contribuição do custo-benefício da compra, da rentabilidade da matéria-prima e do resultado de custo do produto final e do serviço como um todo: responsabilidade do pessoal técnico e administrativo. Existem aspectos determinantes na busca da matéria-prima, que são: a) pesquisar, levantar e organizar os dados em planilhas: as fontes de aquisição dos gêneros disponíveis na região e a localização geográfica, onde está/ão inserida/s a/s Cozinha/s Comunitária/s, procurando valorizar, apoiar e fomentar hortas urbanas/comunitárias adotando práticas de agricultura agroecológica e preferencialmente produtos da agricultura familiar; b) decidir e optar por produtos com conhecimento total do mercado: o que está sendo oferecido, onde a/s CC/s está/ão inserida/s, bem como o nível de oferta e qualidade dos produtos da época. c) valer-se da sazonalidade: elaborando tabela da safra dos diversos alimentos, disponíveis na região. Utilizar sempre os produtos da safra/estação do ano, da sua região. A maior oferta de produtos disponíveis no mercado, favorece o custo de aquisição (preços mais baixos) e por consequência melhora o custo direto da refeição (da matéria-prima alimentar), possibilitando melhor administração dos custos da CC. Ao utilizarmos alimentos da safra obtemos um ganho importante no que se refere aos princípios da segurança alimentar: o valor nutritivo e as características organolépticas, que são atributos de qualidade dos alimentos e podem ser percebidos, como: cor, tamanho, textura, sabor e aparência, pois são mais adequados para o consumo, favorecendo uma melhor aceitação e palatabilidade dos alimentos pelo usuário, cumprindo com o objetivo de oferecer uma alimentação adequada, segura e saudável em quantidade e qualidade suficientes. d) ficha técnica de produto: é o instrumento técnico-administrativo norteador para a definição da seleção, pesquisa de preços X qualidade e a decisão para aquisição. É de múltipla utilização, gerencial e fiscal, envolvendo vários setores da CC e profissionais. Deve ser confeccionada com rigoroso critério e em comum acordo com o gestor administrativo, nutricionista, cozinheiro, despenseiro e demais funcionários que necessitam e utilizam a matéria-prima alimentar, pois o conhecimento e as decisões da equipe levarão à correta utilização dos alimentos, facilitarão o gerenciamento dos cardápios, dos custos, dos estoques e o melhor resultado administrativo-financeiro da cozinha. ?? V Veejjaa eexxeem mppllooss ddee ffiicchhaass ttééccnniiccaass nnaass lleeiittuurraass ccoom mpplleem meennttaarreess.. 1 O texto que segue é de autoria da Nutricionista Marilene B. Machado - CRN 2ª 0136, professora do DT2 do Curso de FGRP – 2007. 2 Nutricionista – CRN 4913. Professora Responsável pelo Módulo II do Curso de Formação de Gestores de 2 Cozinhas Comunitárias REDESAN 2009. Organização e adaptação do texto para o Curso de FGCC REDESAN 2008. Revisão, reorganização e readaptação do texto em julho de 2009 para o Curso de FGCC REDESAN 2009. 1 Importância e razões para adotar uso de Fichas Técnicas Oportuniza estabelecer critérios de padrão de qualidade para a matéria-prima a ser adquirida e utilizada na CC e colocam-se em prática os conceitos de planejamento. Dirige os preços de custos e define os fornecedores concorrentes. Define os fornecedores e doadores. Orienta as planilhas de custos direto, indireto e os preços de venda (quando for o caso). Oferece conhecimento sobre o custo-benefício da compra, da rentabilidade da matéria-prima e do resultado financeiro final (pós-venda, no caso de refeição paga) e do serviço como um todo. (Como compramos e como cobramos a refeição?) Pesquisa de novos fornecedores e estabelecimento de concorrência para aquisição da matériaprima a ser utilizada. Pesquisa de novos e possíveis doadores. Desenvolvimento de novas preparações, revendo ingredientes, uso, consumo e o porcionamento utilizado nos cardápios. Usada como instrumento para treinamento funcional. Checa com exatidão os controles de estoques e/ou inventários. Cruza periodicamente as estatísticas das preparações elaboradas X porção técnica prevista e oferecida (per capita ou gramagem estimada). Controla o consumo da matéria-prima adquirida X prazo de aquisição. Definição e certificação de fornecedores e doadores É muito importante definir e certificar os fornecedores ou doadores que devem deter: - potencial de abastecimento conforme a demanda da CC/UAN; - observar a política de compras adotada pela CC, até mesmo para os fornecedores da agricultura familiar, buscando mecanismos que possibilitem a inclusão desse; - condições e prazos de pagamento compatíveis com o estabelecido na política de compras; - condições de cumprir prazos, datas e horários estabelecidos para entrega dos diferentes insumos para a produção; - possibilitem a realização de visita técnica (VT); - produtos fornecidos com qualidade e que preencham os requisitos necessários para qualificação de fornecimento de acordo com as normas e exigências da Legilação Vigente (Lei no. 8.666 – Lei das Licitações e Lei no. 10.696, que isenta licitação para compras da AF especificando as condições para tal, outras). ► Para qualificar fornecedores ou doadores é necessário estar antento para certas condições como: • Possui condições legais e jurídicas? • Participa normalmente de licitações e concorrências para abastecimento? • Possui reconhecida idoneidade e capacidade de fornecimento? • Oferece outros compradores como referências? • Apresenta portifólio com as FT (fichas técnicas) do diversos produtos oferecidos? • Apresenta qualidade e quantidade dos produtos fornecidos? Deixa amostras para testes de produção e características organolépticas? • Tem os fundamentos das Boas Práticas de Fabricação (BPF) implantadas ou em andamento? • Cumpre sempre os prazos de entrega? • Os preços oferecidos estão de acordo com os praticados no mercado? Este item deverá ser acompanhado pela concorrência, observando a lei da oferta X procura, bem como a sazonalidade dos produtos alimentícios. • As condições e prazos oferecidos para entrega são condizentes com a demanda da CC? • As condições e prazos oferecidos para pagamento são condizentes com as possibilidades e interesses da CC? • Visita Técnica (VT) efetuar sempre que possível. • Fazer ficha de fornecedor para poder qualificá-lo, considerando avaliação de controle de qualidade e higiênico-sanitário. É importante observar alguns aspectos na visita técnica, como: ¤ condições estruturais e físicas (pisos, paredes, ventilação, iluminação suficientes, superfícies de fácil higienização, aberturas com proteção contra insetos); ¤ condições higiênico-sanitárias dos equipamentos e dos funcionários (manipuladores) quanto à uniformes, calçados, toucas e luvas, e, de transporte; ¤ condições de conservação e estocagem da matéria-prima; ¤ condições e higiene no transporte; ¤ existência de um programa de controle de pragas; e, ¤ regulamentação do fornecedor junto aos órgãos de fiscalização sanitária, conforme o âmbito de atuação: níveis federais, estaduais ou municipais. Lembre-se: “não há como melhorar a qualidade de um produto, ou seja, ao comprar e receber um produto comprometido ou contaminado, não há como transformá-lo em algo melhor”. Segundo Kinton (1998) os fornecedores/doadores devem ser selecionados, sendo a visita técnica uma boa ferramenta para realizar a seleção e escolha. 2 ☻ Nas leituras complementares, está disponível o formulário de visita a fornecedores e relatório de vistoria. Tu encontras também a ficha técnica de fornecedor. Não deixe de ler! Aspectos a serem considerados na aquisição de matéria-prima que determinam o abastecimento adequado: Perfil dos usuários da/s CC/s sob tua gestão; Número de usuários atendidos na/s CC/s; Definição do padrão do cardápio, sistema de distribuição, diversificação de serviços, pontos de produção alimentar e distribuição; Definição das variações culinárias e gastronômicas constantes nos cardápios; Definição e estabelecimento dos per capitas (PC) ou gramagem das preparações elaboradas bem como a margem de segurança (MS) prevista em cada preparação e serviço oferecido; Definição da área de estocagem para os diversos tipos de produtos; Definição dos valores financeiros e/ou em percentual, destinados para o custo direto envolvido com a produção dos alimentos; Levantamento das fontes de aquisição dos diversos tipos de matéria-prima e demais insumos utilizados no rol dos produtos oferecidos; Fornecedores já certificados e possíveis para atendimento da demanda das necessidades e dos diversos tipos de insumos; Os volumes de compras devem ser estabelecidos de forma a evitar o excesso de produtos armazenados. Os prazos de validade dos lotes recebidos devem prever tempo suficiente para o consumo do volume adquirido. Diagrama sugerido para a aquisição de alimentos ENTREVISTA CADASTRAMENTO VISITA TÉCNICA APROVAÇÃO √ É importante retomar algumas considerações sobre a recepção, armazenamento e estoque de alimentos, conforme já vimos detalhadamente na semana 11 do curso. Recebimento de alimentos - Diagrama recomendado pelas normas técnicas. RECEBIMENTO CONFERÊNCIA SUBSTITUIÇÃO DE EMBALAGEM – se necessário ARMAZENAMENTO À TEMPERATURA AMBIENTE ARMAZENAMENTO A BAIXAS TEMPERATURAS (refrigeração /congelamento) As áreas de recepção, armazenamento e estocagem dos produtos destinados ao uso e consumo da cozinha, estão ligadas e pertencem diretamente ao setor de produção. Por isso é sempre válido reforçar instruções básicas de segurança dos alimentos, garantindo o processo produtivo do 3 alimento adequado à saúde dos usuários. Retomando: - observar a data de fabricação e prazo de validade constantes nas embalagens; - conferir a embalagem e rotulagem constante nos alimentos; - conferir quantidade do pedido e quantidade da nota fiscal; - dados relativos à data de entrega; - proceder à avaliação sensorial; - verificar as características organolépticas: cor, gosto, odor, aroma, aparência e a textura de acordo com o especificado na FT do produto. - observar as condições do entregador em conformidade com as exigências e critérios de controle higiênico-sanitário; - observar as condições de fornecimento/recebimento através das ações de controle de qualidade dos produtos no recebimento em consonância com o credenciamento dos fornecedores através das visitas técnicas, referidas no texto. - observar o certificado de vistoria do veículo de transporte, de acordo com as especificações técnicas dos alimentos adquiridos; - realizar controle microbiológico, quando necessário; - higienizar mercadorias; - verificar as temperaturas no ato do recebimento dos produtos, de acordo com os itens adquiridos e indicados como congelado, resfriado ou refrigerado; - observar atentamente as condições dos ovos, grãos e cereais, leguminosas e derivados como farináceos (avaliação sensorial). Latas, leite, queijos, laticínios e massas frescas, carnes, embutidos, peixes e frutos do mar. Utilizar as tabelas já disponibilizadas nas leituras complementares da semana 11 do curso. Além dos procedimentos citados, há vários documentos 3 que devem ser usados no processo de recebimento das compras: Pedido de compras – orienta sobre as mercadorias e quantidades que devem ser recebidas. Nota fiscal – documento obrigatório por lei onde se encontram discriminados valores unitários e totais das mercadorias e valores dos impostos. Fatura – Relação que acompanha a remessa de mercadorias expedidas, ou que se remete mensalmente ao comprador, com designação de quantidades, marcas, pesos, preços, podendo tais referências ser substituídas pela simples menção dos números e das notas fiscais extraídas, guardadas conforme determinação contábil da empresa. Boleto bancário – documento de cobrança Registro de recebimento Nota de devolução ∆ Veja nas leituras complementares, a ficha de recebimento de mercadorias. Na etapa do armazenamento destaca-se que existem três procedimentos básicos que são: congelamento refrigeração temperatura ambiente Ambos procedimentos exigem acompanhamento e monitoramento eficiente segundo as Boas Práticas de Fabricação, desde a conferência da compra da matéria-prima, recebimento, até a análise e verificação visual (procedimentos detalhados no texto da semana 11); na finalização de todo o processo ao atender e receber os produtos do fornecedor. Isso se estende até a imediata tomada de decisão de acondicionamento e estocagem propriamente dita. Para organizar de forma correta a área de estocagem, pode-se dividir a despensa e/ ou almoxarifado em três partes: a- despensa geral ou mensal b- despensa diária e c- despensa de limpeza. É muito importante manter a área de estoque junto à cozinha, principalmente porque isso viabiliza a disponibilidade de ítens para atender às exigências evitando providências de última hora; reduzindo custos, proporcionada pela compra ou produção de quantidades adequadas; proteção contra erros de planejamento, previsão ou registros imprecisos e provisão para as flutuações de vendas ou produção. Nas áreas de armazenamento e estocagem salienta-se que devem ser respeitados cuidados (segundo RDC no. 216, disponíveis de forma detalhada nas leituras complementares da semana 11) quanto à: a- armazenar em condições favoráveis à sua conservação; b- os alimentos devem ficar organizados de acordo com a data de validade do produto; Lista de documentos retirada do material produzido pela nutricionista Cleusa Ramos Enck – CRN2 1516 e administradora Patrícia dos Reis Pandolfo - CRA 23893, para o Curso de Formação de Gestores de RP – 2007- Domínio Temático 1 - Gestão Administrativa. 3 4 c- separar o estoque por ítens; d- registro em fichas de estoque – para entrada e saída de mercadorias; d- as embalagens devem estar limpas, identificadas e protegidas; e- não devem existir caixas de papelão ou madeira nas áreas de armazenamento; f- nenhum alimento em contato com o piso; g- portas de câmaras frias e ou refrigeradores, abrir o mínimo possível; h- cuidado ao armazenar alimentos crus. Deixar longe dos cozidos; i- seguir etapas de descongelamento do alimento conforme indicado no texto da semana 11; j- não misturar alimentos com material de limpeza; k- periodicamente, providenciar desinsetização e desratização, tomando as devidas precauções para evitar contaminação dos alimentos; l- janelas e portas deverão ser teladas. Está disponível nas leituras complementares o esquema de fluxos da cozinha comunitária (entrada de gêneros, armazenamento, cocção e distribuição) retirado do Manual de Implantação de Cozinhas Comunitárias do MDS. Veja o Manual na íntegra, também nas leituras complementares. BIBLIOGRAFIA ARRUDA, Gillian Alonso. Manual de Boas Práticas - Hotéis e Restaurantes. Vol.1. 2 ed. Ponto Crítico: São Paulo, 1997. ARRUDA, Gillian Alonso. Manual de Boas Práticas – Unidades de Alimentação e Nutrição. vol.2. 2 ed. Ponto Critico: São Paulo, 2000. GERMANO, Maria Izabel Simões. Treinamento de Manipuladores de Alimentos: fator de segurança alimentar e promoção da saúde. Varela: São Paulo, 2003. HAZELWOOD, D.; MCLEAN, A. C. Manual de Higiene para Manipuladores de Alimentos. 2. ed. Reimpressão. São Paulo: Varela, 1998. LOBO, Alexandre. Manual de estrutura e organização do restaurante comercial. 1 ed. Atheneu: São Paulo, 1999. KINTON, R. Enciclopédia de serviços de alimentação. Varela: São Paulo, 1998. Programa Nacional de Monitoramento da Qualidade Sanitária de Alimentos. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/programa/index.htm > Acesso em: julho 2007. SILVA Junior, Eneo Alves da. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. 1 ed. Varela: São Paulo, 1995. TEIXEIRA, Suzana. Administração aplicada às Unidades de Alimentação e Nutrição. Atheneu:São Paulo, 2000. TEICHMANN, Ione. Tecnologia Culinária. Caxias do Sul: EDUCS, 2000. ZANARDI, Ana Maria et al. Gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição: um modo de fazer. Metha: São Paulo, 2003. 5