CICLO DE CONFERÊNCIAS 2008 ANTROPOLOGIA E INTERVENÇÃO SOCIAL: UMA RELAÇÃO (IM)POSSÍVEL? Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Organização: Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento (CETRAD) da Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro (UTAD) Comissão Organizadora: José Portela, Prof. Catedrático, UTAD-CETRAD Pedro Gabriel Silva, Assistente Convidado, UTAD-CETRAD Octávio Sacramento, Assistente, UTAD-CETRAD Comissão Científica: Humberto Martins, PhD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – CRIA) Jean-Yves Durand, PhD (Universidade do Minho) Miguel Vale de Almeida, PhD (ISCTE – CRIA) Stanley Brandes, PhD (University of California at Berkeley) ÂMBITO E JUSTIFICAÇÃO DO EVENTO Nos últimos anos têm proliferado discursos reivindicativos de uma mais forte integração das ciências sociais no plano da intervenção social, prestação de cuidados de saúde, gestão organizacional, planeamento económico, ordenamento do território, entre muitas outras áreas que, além de envolverem conhecimentos técnicos específicos, requerem um know-how capaz de aproximar práticas e decisões da sociedade e das pessoas. Mas que saber(es) podem as ciências sociais dar a esses profissionais e como podem por eles ser integrados no plano das respectivas práticas? E mesmo no plano das epistemologias? E, no caso particular da antropologia, que relevância adquire fora dos seus círculos de produção o saber que os antropólogos constroem? Existe lugar para a visão antropológica do mundo, das coisas e das pessoas no palco das práticas interventivas dos diversos profissionais, sobretudo daqueles cujo labor implica necessariamente uma relação com o “outro”? Ainda servem as metodologias etnográficas de recolha e análise de dados para ajudar a conhecer os contextos onde se desenrola a intervenção social? Estas volta mote sobre questões, muito para lá do debate que ocorre na própria disciplina à dos limites e possibilidades de uma antropologia aplicada, servem de ao ciclo de conferências que se apresenta. Remetem para a reflexão as possibilidades e potencialidades que se oferecem à integração do 1 saber antropológico nas práticas (e pensamento) em torno da intervenção social. Em cada conferência espera-se reflectir sobre a viabilidade do conhecimento antropológico enquanto coadjuvante da intervenção social (mediante a disponibilização de instrumentos de investigação e de quadros teóricos capazes de permitir uma visão holística dos fenómenos). Apesar dos temas e casos subjacentes às conferências endereçarem situações eminentemente vinculadas à intervenção por técnicos de serviço social ou prestadores de cuidados de saúde, o público-alvo destas reuniões científicas não se limita a esses grupos de técnicos; também educadores, psicólogos, gestores, economistas, entre outros, pela natureza social/sociológica do seu trabalho e atendendo ao seu campo profissional de actuação, são destinatários privilegiados das ideias em partilha no evento. Do elenco de conferencistas constam antropólogos cujos domínios de investigação produzem um conjunto de saberes directamente relacionáveis com algumas das principais vertentes da intervenção social. O painel proposto remete para seis temáticas: saúde e serviços hospitalares; emigração e tráfico de mulheres; sexualidade e prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis em população escolar; criminalidade, sistema prisional e reinserção social; combate à pobreza e desenvolvimento; dinâmicas e estruturas familiares. Não obstante esta compartimentação temática, os âmbitos e alcance das conferências cruzam-se mutuamente, reforçando um diálogo e reflexão que o interrelacionamento já de si sugere. Se bem que cada uma das conferências se centre mais numa ou noutra dimensão, todas elas remetem simultaneamente para as questões de género, justiça, integração e exclusão sociais, educação, saúde, sociabilidades, algo que torna a colocar a questão da relevância da abordagem holística. Ainda a propósito da amplitude temática, pretende-se com a mesma implicar o ciclo de conferências na reflexão sobre a diversidade de desafios que actualmente se colocam aos profissionais de serviço social e aos demais técnicos cuja actuação e tomadas de decisão, directa ou indirectamente, se encontram circunscritas aos assuntos em apreço. Neste sentido, constitui-se como desígnio identificar e equacionar causas e motivações por detrás dos fenómenos e problemas e reflectir sobre as estratégias de intervenção junto desses contextos e populações. O evento materializa e reforça um conjunto de dinâmicas e diálogos desde há sete anos estabelecidas entre as licenciaturas de Antropologia Aplicada ao Desenvolvimento e de Serviço Social da UTAD, dando sequência à realização de ciclos de palestras e conferências conjuntas.1 Além de dar continuidade à “tradição”, pretende-se também projectar as bases para um “diálogo” mais permanente e consistente entre as diferentes ciências sociais e para um 1 Ciclos de conferências realizados até à data: 2001 – I Jornadas e Antropologia Aplicada; 2002 – Encontro Internacional sobre Associativismo na Raia Transmontana-Zamorana; 2003 – Congresso Leituras Antropológicas de Trás-os-Montes; 2004 – Ciclo de Palestras Antropologia e Experiência; 2005 – Ciclo de Palestras Antropologia, Investigação e Profissão; 2005 – Curso de Verão Ecologia, Política e Cultura (em pareceria com a Universidade de Louisville, E.U.A.; 2005 – Ciclo de Palestras Áreas de Intervenção em Serviço Social; 2006 – Ciclo de Palestras Família, Sexualidade e Filiação; 2007 – Ciclo de Conferências “O Fim da Antropologia”. 2 espaço de discussão sobre os inúmeros contributos que as mesmas, actuando num registo de interdisciplinaridade, poderão proporcionar à intervenção social nos seus mais variados contextos, áreas e domínios profissionais. OBJECTIVOS 1) Proporcionar a alunos e docentes, quer de Antropologia, quer de Serviço Social, oportunidades de reflexão em torno das aplicações e implicações do saberes científicos produzidos na área das ciências sociais com particular ênfase para a antropologia; 2) Alargar a públicos mais diversificados (educadores, médicos, enfermeiros, gestores, economistas, animadores socio-culturais, juristas, detentores de cargos na administração local e central) a divulgação do saber e metodologias de investigação antropológicos, almejando uma avaliação do seu contributo para o desempenho de práticas profissionais; 3) Colocar cientistas sociais em diálogo com conjuntos de profissionais contribuindo, assim, para uma reflexividade em torno das próprias investigações de forma a medir o alcance dos resultados produzidos; PROGRAMA O programa do evento consiste na apresentação de sete conferências a realizar entre 9 de Abril e 21 de Maio de 2008. A duração de cada conferência está estimada em duas horas (uma hora de prelecção e uma hora de debate). A distribuição das conferências entre o Pólo da UTAD em Miranda do Douro e o Campus da UTAD em Vila Real está em grande parte relacionada com as componentes lectivas trabalhadas na licenciatura em Serviço Social em ambos os locais. Desta feita, pretende-se seguir um critério de vinculação dos temas das conferências às unidades curriculares específicas leccionadas nas duas localizações em que a licenciatura de Serviço Social é assegurada na UTAD. Todavia, tal não significa que o programa de conferências seja um substituto de tempos lectivos, antes, um complemento extracurricular à formação dos discentes e aberto à restante comunidade académica, assim como às mais diversas instituições relacionadas com a intervenção social. 3 9de Abril – Miranda do Douro “A prisão como objecto etnográfico e os termos do debate público” Manuela Ivone Cunha, PhD (Universidade do Minho/IDEMEC – Aix en Provence, France) Manuela Ivone Cunha é doutorada em antropologia, ensina na Universidade do Minho e é membro do NEA, do CEAS (Portugal) e do IDEMEC (França). A sua investigação tem-se centrado em economias informais e na estrutura comparada dos mercados de drogas, em prisões e instituições totais, em criminalidade, género e etnicidade. No presente desenvolve um projecto de investigação sobre corpo, vacinação e sociedade. Publicou Entre o Bairro e a Prisão: Tráfico e Trajectos, Lisboa, Fim de Século, 2002 (trabalho galardoado com o Prémio Sedas Nunes Para as Ciências Sociais) e Malhas que a reclusão tece. Questões de identidade numa prisão feminina, Lisboa, Cadernos do Centro de Estudos Judiciários, 1994. Entre outras publicações conta-se (ed.) Aquém e Além da Prisão. Cruzamentos e Perspectivas (Lisboa, Noventa Graus, no prelo) e a coordenação de um dossier temático de Etnográfica: Formalidade e Informalidade, (Novembro, vol. 10, nº 2, 2006) bem como do dossier (ed. com Cristiana Bastos) A Prisão, a Psiquiatria e a Rua, da revista Análise Social (no prelo). 16 de Abril – Vila Real "Tráfico de Mulheres em Portugal: pânico moral, cruzadas e a construção de um problema social" Lorenzo Bordonaro, PhD e Filipa Alvim (ISCTE, CEAS/CRIA) Lorenzo Bordonaro, doutorado em antropologia pelo ISCTE, é investigador pósdoutorado do Centro de Estudos de Antropologia Social/CRIA. Coordenou e dirige projectos de investigação sobre juventude em contextos africanos (Guiné Bissau, Cabo verde), sobre processos migratórios e tráfico de seres humanos (ACIDI). Filipa Alvim, licenciada em Antropologia Social pelo ISCTE, tem trabalhado com a Amnistia Internacional - Portugal, as questões relacionadas com Direitos Humanos, em particular em relação à violência doméstica, tráfico de seres humanos e práticas culturais nocivas contras as mulheres, nomeadamente a mutilação genital feminina. Fruto desse trabalho é o Relatório Mulheres (In)Visíveis: Relatório da Campanha Acabar com a Violência Sobre as Mulheres,publicado pela Amnistia Internacional, em 2006. 23 de Abril – Miranda do Douro "Adolescência e comportamentos sexuais de risco" Marta Maia, PhD (ICS – Universidade de Lisboa) Marta Maia licenciou-se em Antropologia Social no ISCTE, em 1996. Fez o doutoramento em Antropologia Social e Etnologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris), em 2002. É Investigadora no Instituto de Ciências 4 Sociais (ICS-UL), com bolsa de pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. Em 2005 realizou um pós-doutoramento no Laboratoire d'Anthropologie Sociale - Collège de France (Paris) com bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. As suas pesquisas incidem sobre jovens, sexualidade, comportamentos sexuais de risco, saúde e doença. 30 de Abril – Vila Real “Entre estruturas e agência: as redes sociais no combate à pobreza em Portugal” Fernando Bessa, PhD (UTAD) Professor auxiliar no Departamento de Economia, Sociologia e Gestão e investigador efectivo no Cetrad (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) e investigador auxiliar no Centro de Investigação em Ciências Sociais (Universidade do Minho). Director do Mestrado em Turismo. Foi membro da equipa de avaliação da rede social de Mogadouro. 7 de Maio – Vila Real “Unidade Habitacional de Santo António – A Experiência Portuguesa de Instalação Temporária de Imigrantes” Manuela Ribeiro, PhD (UTAD) Manuela Ribeiro é socióloga, professora associada do Depº de Economia, Sociologia e Gestão da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD) Vila Real, e investigadora do Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento. As questões em torno do desenvolvimento rural e os temas no domínio dos designados “women’s studies” têm constituido os seus principais interesses de investigação. Coordenou de 2001 a 2005 o projecto “prostituição feminina em regiões de fronteira”, apoiado pela FCT. Mais recentemente, foi responsável pela realização de um estudo de avaliação do funcionamento da Unidade Habitacional de Santo António, um espaço destinado à instalação temporária e ao acolhimento de estrangeiros que, nos termos legais, por decisão judicial ou administrativa, são objecto de medida de afastamento do território nacional. 14 de Maio – Miranda do Douro “Contexto cultural e práticas sociais – o saber da antropologia na perspectiva da prestação dos cuidados de saúde” Berta Nunes, PhD (ARS-Norte) Berta Ferreira Milheiro Nunes, natural de Santa Maria de Lamas, concelho da Feira, distrito de Aveiro. Licenciada em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina do Porto em 1980. Trabalhou como médica de família e foi Directora do Centro de Saúde de Alfândega da Fé desde 1996 até 2002, altura em que este centro de saúde ganhou vários prémios de qualidade a nível nacional e europeu. Doutorou–se em Medicina Comunitária em 1996 no ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar) com um trabalho sobre as ideias e as práticas dos leigos em relação ao corpo e à saúde. A tese está publicada em livro com o título “ O saber médico do povo” pela editora Fim de Século. Foi 5 Professora Auxiliar a 20% do Pólo da UTAD de Miranda do Douro desde 2003 até 2005 leccionando a disciplina de “Antropologia Médica”. É coordenadora da Sub Região de Saúde de Bragança desde Novembro de 2005. 21 de Maio – Miranda do Douro “Crescer na (in)diferença - os filhos nas famílias homoparentais em Portugal” Margarida Moz, MsC (ISCTE) Margarida Moz concluiu a licenciatura em Antropologia Social no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) em Outubro de 1995. Em 1997 ingressou no Mestrado em Antropologia: Poder e Diferenciação Processos Contemporâneos, no ISCTE, defendendo a dissertação intitulada "Uma Lisboa Diferente - leitura antropológica da relação entre a ILGA-Portugal e a Câmara Municipal de Lisboa" em Novembro de 2001. Desde Outubro de 2005 que frequenta o Doutoramento em Antropologia, no ISCTE, orientada pela Doutora Antónia Pedroso de Lima com uma investigação intitulada "Crescer na (in)diferença" que incide sobre famílias as relações familiares homoparentais em Portugal. 6