Sessão Plenária 4

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Sessão Plenária 4: Movimentos migratórios e mudanças demográficas nas
comunidades judaicas da América Latina”
Abraham Kaúl [Presidente da Plenária]
À minha direita está Jacobo Shemaría, presidente da Comunidade Israelita de
Guadalajara; ele foi o iniciador do programa Crescimento Demográfico, da sua
comunidade.
À minha direita o Licenciado Enrique Burbinski, representante de HIAS, Hebrew
Immigrant Aid Society para a América Latina. O Sr. Burbinski atua também como
consultor do Joint no Uruguai. Ele se desempenhou também como Diretor
Executivo da AMIA e do Clube Náutico Hacoaj e entre os anos 94 e 97
coordenou a Associação de Profissionais da Comunidade Judaica na Argentina.
À minha esquerda está Daniel Liwerant; vou mencionar apenas sua atuação
dos últimos anos, entre 1997 e 2001, foi presidente do Conselho Mundial do
Keren Hayesod, de 2001 a 2003 e até o presente é o Co-presidente do
departamento de Aliá da Agência Judaica e membro do Executivo da mesma,
Dr. Honoris Causa da Universidade Hebraica de Jerusalém.
A Dra. Raquel Ejgenberg do Uruguai vai coordenar a mesa. Ela é Diretora Geral
do Instituto Ariel da Escola Hebraica do Uruguai, consultora da UNESCO e
recebeu o prêmio Max Fisher ao educador judeu. Quem fala, Abraham Kaúl,
Presidente da AMIA da Argentina vai presidir esta mesa. Vou pedir ao operador
para passar o vídeo e que possamos ouvir as pessoas que emigraram, o que
aconteceu com elas, como se sentiram, para começar a conhecer mais esta
questão. Obrigado.
Projeção do vídeo sobre experiências migratórias
Abraham Kaúl [Presidente da Plenária]
Umas breves palavras de abertura. Em função da experiência da Argentina, em
dezembro de 2001, com a demissão do ex-presidente Fernando De la Rúa,
estoura a crise socioeconômica mais importante que viveu a Argentina desde a
sua criação. Já nada será igual na Argentina. De 4000 judeus que nós
atendíamos por problemas socioeconômicos até janeiro de 2001, hoje de manhã
soubemos que a comunidade judaica na Argentina atende 36.000 e calculam-se
50.000 os judeus que vivem em situação de pobreza. Mas não é só uma
situação de pobreza, é a formação, devido à crise, de uma nova classe social
judaica, uma classe de judeus pobres, fenômeno não tão conhecido no mundo
judeu. Rapidamente a comunidade articulou seus mecanismos para encontrar
âmbitos de contenção, mas não foram suficientes. Durante 2003 se produziu
uma fenomenal Aliá da comunidade judaica a Israel, cerca de 6400 irmãos
nossos fizeram Aliá a Israel fazendo parte hoje dos cerca de 80.000 judeus
argentinos que vivem em Israel. Mas este processo não conseguiu satisfazer as
necessidades das pessoas e rapidamente se produziu - possivelmente numa
quantidade similar - uma emigração da Argentina a diferentes países do mundo,
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todos eles ligados a comunidades judaicas, fundamentalmente dispostos a
decidi-lo, mas também outros emigraram para os Estados Unidos por sua
excelente posição econômica, transformando os EUA em outro dos centros de
emigração.
Possivelmente a gestação do povo judeu tenha começado com o primeiro
imigrante, Abraham: “Levanta-te do lugar onde vives, deixa tuas coisas e vai
para a terra que te indicarei”. Soma-se a isso o conselho do eterno judeu
errante, de aquele que emigra de um país a outro. Novas situações e novos
desafios se apresentam, estamos no meio de um processo. Este processo hoje
na comunidade judaica argentina produziu uma modificação demográfica não
apenas na Capital Federal mas em muitas comunidades judaicas do interior do
país, comunidades pequenas, onde 70% da comunidade está composta por
casais mistos. A migração produziu modificações a esta situação e, logicamente,
os perigos aumentam. Os palestrantes vão expor suas posições, suas
experiências e seus conhecimentos, mas eu também como Presidente da
Comunidade Judaica da Argentina quero colocar uma pergunta para nós,
dirigentes. Por que é necessário migrar, quando vai chegar o momento em que
os judeus assumamos uma atitude de participação na vida nacional dos países
em que vivemos para ajudar a modificar as estruturas? Sempre deveremos
migrar? Vamos começar com o presidente da comunidade de Guadalajara,
Jacobo Shemaría.
Jacobo Shemaría [integrante do painel]
Boa tarde, gostaria de fazer uma breve exposição dividida em três partes, a
primeira, os antecedentes que nos levaram a pensar num programa de
crescimento demográfico, a segunda seria quais foram nossas experiências, as
boas e as ruins, e por último para onde nos dirigimos com este projeto.
Começamos realmente a trabalhar nesta área no ano 2000. Nesse momento a
comunidade tinha 560 membros, a escola tinha 85 alunos e fazendo uma
estatística sobre o tamanho dos grupos vimos que os grupos mais numerosos
da escola correspondiam ao segundo grau, ou aos anos superiores. Víamos que
no futuro teríamos uns 60 alunos na escola, aproximadamente. Essa é a
dificuldade econômica que se tem por ser uma comunidade completa. Nós
temos um colégio integral, temos duas sinagogas, um centro social e esportivo,
um panteão, e todo tipo de comitês e áreas de gestão que qualquer comunidade
grande tem. Manter tudo isso é um problema difícil economicamente, aliás, o
problema social se divide, basicamente, em dois: os grupos do colégio que são
muito pequenos, então, vocês podem imaginar que se há alguma criança que
não se dá bem com esse grupo, não tem outro grupo para onde ir. Esse é um
problema social que enfrentamos cotidianamente. Por outro lado os jovens em
idade de casar, para encontrar seu parceiro judeu / judia têm que dirigir-se a
outros lugares.
Por tudo isso decidimos desenvolver um programa de crescimento demográfico.
Vou mostrar quais foram os resultados do programa a 30 meses do início. Na
comunidade somos 590 membros, em lugar de 560, o colégio tem 74 alunos
mais 11 que vão incorporar-se no final do ano, a partir da chegada das novas
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famílias. É um total de 86 alunos contra 60 que estimávamos se não fizéssemos
nada. Chegaram 14 famílias, que representam 8% da população da comunidade
israelita de Guadalajara e 23% da população escolar. O aspecto ruim tem sido
tanto a difícil adaptação dos imigrantes como sua aceitação por parte dos
membros atuais e acho que esse tema não é nada novo, acontece em Israel ou
aconteceu em Israel ao longo de toda a história de fazer Aliá. É uma questão
que estamos trabalhando todos os dias. Foram três dessas 14 famílias que
emigraram, que representam 8 alunos na escola, e essa foi uma perda
importante. O perfil das famílias que chegaram é este: são famílias às quais nós
tínhamos oferecido empregos dentro das empresas dos membros da
comunidade. O requisito que estabelecemos é que tivessem pelo menos dois
filhos menores de 9 anos, com a idéia de preencher o colégio imediatamente e
procuramos a menor idade possível para que permanecessem a maior
quantidade de tempo no colégio, que estivessem associados atualmente a
organizações judaicas, que fossem pessoas com identidade judaica. Quanto a
certificados, que não tivessem antecedentes penais, que tivessem bons
antecedentes comerciais e bons antecedentes de trabalho e um espírito
empreendedor. Buscamos que a empresa que lhes está dando emprego fosse o
início de algo, ou seja que em algum momento eles possam iniciar um
empreendimento.
Os benefícios que oferecemos a estas famílias que imigraram a Guadalajara são
assim: buscamos que recebam pelo menos 2500 dólares, somando os salários
do pai e da mãe. Oferecemos bolsas escolares de 100% no primeiro ano, 75%
no segundo ano e assim por diante, vai se reduzindo em 25% por ano, de
maneira que no quinto ano estejam pagando 100% da cota da escola. A cota
mensal na comunidade também tem um subsídio, no primeiro ano são 30
dólares por mês. Para que vocês tenham uma idéia: nós temos cotas
diferenciadas, mas a média estaria em 280 dólares mensais, então eles pagam
12% da cota. No segundo ano em diante pagam conforme a renda e a forma de
vida que levam, como fazemos com todos os membros da comunidade. Nós
lhes oferecemos uma garantia para que possam alugar uma casa. Quando
chega algum estrangeiro ao país, algum membro da comunidade lhe oferece
uma garantia. Também lhes conseguimos créditos para móveis e
eletrodomésticos para a casa. Indicamos uma família adotiva, uma família da
comunidade que de alguma forma os acompanhe, sobretudo nos primeiros
meses depois de chegar. O valor estimado de tudo o que acabo dizer, durante
cinco anos, é 56.000 dólares e atualmente estamos pedindo a assinatura de um
contrato de honra, de compromisso comunitário, de apoiar a comunidade e de
continuar na comunidade.
Por último, o terceiro ponto, para onde vai a comunidade. Estamos
querendo ter um programa mais ambicioso, o programa que utilizamos, de
algum modo, é muito limitado. Somos uma comunidade muito pequena, nem
todos os membros têm empresas e empregos para oferecer, então, queremos
que a comunidade cresça muito mais rápido e se vai estar limitado pelo trabalho
que podemos oferecer, estaremos incorporando cinco, sete famílias por ano, isto
é, não é um crescimento muito acelerado. Para onde estamos apontando agora?
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Estamos procurando famílias que possam investir, além de continuar com o
programa que estamos desenvolvendo. Sobre isso há uma piada que com
certeza vocês já conhecem: com se faz um milhão de dólares nos Estados
Unidos em dois anos? é preciso levar dois milhões de dólares. Isso é um pouco
o que estamos querendo promover, estamos querendo comparar Miami, porque
para quase todos os latinos, o primeiro lugar nos Estados Unidos para onde se
pensa emigrar é Miami e analisando e procurando estar no lugar de quem
emigra, sabemos que se nós tivéssemos a possibilidade de ir aos Estados
Unidos ou de ir a Guadalajara, nós, que conhecemos como é a vida em
Guadalajara e como é uma oportunidade de negócios em Guadalajara, sabemos
que Guadalajara é uma oportunidade melhor: fazer negócios nos Estados
Unidos sabemos que não é algo tão fácil, em Guadalajara, entretanto, há muitas
mais oportunidades, muitas mais oportunidades de êxito. Há um melhor nível de
vida, e não estou falando do nível de vida material, porque os Estados Unidos é
um país do primeiro mundo, estou falando do nível de vida familiar, que
definitivamente é muito importante. Nós já estabelecemos relações, de alguma
forma já preparamos o caminho para quando quem quer investir em Guadalajara
tenha que explorar esse caminho nós vamos poder ajudá-lo nesse caminho:
temos relações com a Secretaria de Promoção Econômica para facilitar os
trâmites de qualquer pessoa que queira emigrar a Guadalajara, para investir,
incentivos econômicos e também com possíveis parceiros que não tenham que
ser dentro da comunidade.
Não sei quantos de vocês conhecem o que é Activa Business Center,
algo semelhante ao Ariel Job Center da Argentina. É uma fundação que se
formou em cidade do México faz alguns anos e nós fomos com eles para
promover empregos ou alguns microempreendimentos e de alguma forma já
contamos com a Activa Business Center em Guadalajara, isso está começando
e está funcionando muito bem. Empresários da mesma comunidade israelita de
Guadalajara estariam dispostos a receber estas pessoas, a orientá-las, a ajudálas ou até associar-se ou as relações que os membros da comunidade têm
também com gente de fora da comunidade que podem ser também possíveis
parceiros para quem queira investir em Guadalajara. Temos que ter uma
comunidade 100% atraente. Além de tudo o que temos, contamos com
instalações que em lugar de ser para 590 membros poderiam ser para 2000
membros, custou muito trabalho, quase todas as comunidades que têm por volta
de 74 alunos na sua escola decidiram fazer com que a escola funcionasse a
tempo parcial ou abri-la a não judeus também. Nós mantivemos de alguma
forma tudo o que consideramos importante e estamos lutando por fazer crescer
a comunidade.
Para finalizar, vou desenvolver agora quatro pontos acerca do que temos feito
para tornar a comunidade ainda mais atraente do que já é hoje: número um,
melhorar o plano atual que temos, quanto ao processo de seleção, a idade dos
filhos, a consolidação familiar das famílias, sentimos que em alguns casos
poderíamos ter feito uma melhor seleção, assegurar-nos de que as famílias que
vão emigrar tenham as expectativas adequadas. Estamos também reforçando o
comitê de imigração, nunca é suficiente, para quem está imigrando, sempre é
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muito difícil aceitar essa mudança. Conscientizar os membros da comunidade
sobre isto, que é muito importante para nossa comunidade e um trabalho forte
que temos que fazer e que estamos fazendo a cada dia é conscientizar os
membros. Em cidade do México há quase 50000 judeus, nós estamos a 600 km
de cidade do México e já faz alguns anos começamos a reforçar, a ter muita
mais atividade, muitas mais relações com as comunidades de cidade do México,
como com Activa Business Center, isso também nos ajuda. Atividades
intercomunitárias que estamos começando a organizar para que a vida social
dos jovens seja melhor. Nós temos um templo tradicional ortodoxo número um,
temos buscado evitar a imigração já há 9 famílias que nesse tempo saíram da
comunidade buscando ter um rabino ortodoxo, etc. Sabemos que podemos atrair
até o mais praticante, que não seja uma limitação para eles e também o
reconhecimento das comunidades do México já que 90% dos membros dos
judeus da cidade do México assistem a uma comunidade ortodoxa. Por último,
estamos trabalhando em algo que é ser sede de algo importante, não sabemos
exatamente o quê, pode ser algum instituto, alguma coisa que produza, o fato de
estarmos auto-produzindo judaísmo para sermos mais atraentes como
comunidade. Normalmente pensamos que só corresponde a imigração a quem
estiver pensando em migrar ou para alguma comunidade pequena que quer
imigrantes, as comunidades pequenas temos sim grandes problemas, eu quero
convidá-los, todos podemos pôr nosso grão de areia, tanto aqueles que talvez
tenham uma casa, que os recebam, como para as comunidades pequenas para
que não continuem sendo pequenas porque correm muito perigo. Conheçam
nossa comunidade, muitos vão tomar uma decisão diferente. Muito obrigado.
Enrique Burbinski [integrante do painel]
Quero destacar o orgulho que sinto de ser o Diretor de HIAS na América Latina. Esta
organização, há 123 anos, honra o preceito “Kol Israel Arevim Zelaze”, “Todos os
judeus são responsáveis uns pelos outros” e é por essa razão, para assumir essa
responsabilidade, que reabriu seu escritório na América Latina, em 2001.
Uma organização que incorporou o princípio bíblico de “Amarás teu próximo” e é por
isso que realizamos também tarefas humanitárias em solidariedade com os refugiados
da Quênia e do Equador.
Hoje, juntamente com a Agência Judaica, a organização resgata nossos irmãos do
Iraque e os leva para Israel.
Quero esclarecer algo importante: todos nós, a Instituição e as pessoas, somos parte do
povo judeu, e como tal nós consideramos Medinat Israel como o centro de vida do
nosso povo, queremos um Israel forte, seguro, onde nossos irmãos e amigos encontrem
o presente e o futuro que todos almejamos. Shalom al Israel.
E nós afirmamos isto em cada uma das nossas reuniões, a cada pessoa e cada família
que chega até nós. Às vezes nos perguntam se somos shlijim da Agência Judaica. E
nós respondemos que eles devem saber que o que Israel faz por nós, não poderá fazêlo nem Comunidade, nem organização alguma .
Mas também, e respeitando a liberdade de escolha de cada indivíduo, se sua decisão
não é fazer Aliá neste momento, queremos que viva em Comunidade, que envie seus
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filhos a uma escola judaica, que freqüentem o Templo e o Clube, que permaneçam
dentro do âmbito comunitário, fortalecendo as Comunidades.
Porque acreditamos que é necessário e saudável que as Comunidades se consolidem e
cresçam, porque consolidando o povo judeu, o Estado de Israel se fortalece.
Vamos começar então desde o início, quando Adonai diz a Abraham:
Lej Leja me artzeja, mi beit abija, el haaretz asher areka”
“Deixa o país em que nasceste, a casa de teus pais, pela terra que te mostrarei”
Mas logo continua “farei nascer de ti um povo grande e numeroso, teu nome será
reconhecido”
Rambam, diz que Ad’ lhe oferece uma compensação, e qual é? é fazer um povo
grande, está se referindo a dar continuidade, descendência, cadeias de gerações. E por
que a oferece? porque tem consciência do esforço que está pedindo a Abraham frente
ao corte que implicava a emigração de Ur da casa de seus pais.
Acrescenta também que “teu nome será reconhecido”, aludindo à necessidade de
contar com referentes, que reconheçam nosso nome, já que na nova terra será um
desconhecido.
E por que eu inicio minha fala com estes versículos da Gênese? porque além de que
Ad’ envia a Abraham para a Terra prometida, para Israel - eu sei que alguns
concordarão com isto e outros não - acredito que esta maneira de iniciar-nos como
povo nos particularizou e nos marcou ao longo de toda nossa história.
Este devir histórico de migração trás migração, de assentamentos e deslocamentos é,
ao meu ver, constitutivo do nosso ser como povo. E é por isso que nossa missão no
trabalho em HIAS é ajudar as pessoas, mas também fazer com que não se quebre a
cadeia judaica de gerações, que não se rompa a transmissão, a continuidade, a
educação.
Agora quero apresentar a vocês 2 pequenos fragmentos de um filme que se chama
“Em algum lugar da África”
A ação deste filme decorre desde antes do início da Segunda Guerra Mundial até
depois da sua finalização.
Relata a história de um judeu, da sua família, que vendo a ascensão de Hitler ao poder,
prevêem o massacre posterior e decidem emigrar à África. O filme desenvolve muito
bem a questão do exílio.
Por que escolher este filme? Por que estes fragmentos? As contradições e dureza do
filme são um espelho da realidade que se vive. O filme é uma clara expressão dos mitos
e fantasias existentes.
Estes são alguns exemplos deles e de algumas situações que enfrentamos no nosso
trabalho cotidiano:
De um lado o imigrante sente que tem o direito de pedir, que os outros devem ajudá-lo,
e os outros o fazem: com sua influência torna-se possível o encontro (lembrem-se do
filme) entre os homens presos e suas famílias.
Mas o imigrante pede mais, reclama mais, exige mais.
O imigrante diz que ele é parte do mesmo povo, que seus pais contribuíram para Keren
Hayesod, sempre pagaram o clube, o shule, e que agora ele precisa dos outros, que os
outros têm a obrigação de ajudá-lo (lembrem o diálogo da esposa com o Presidente da
Comunidade)
Quem são os outros? O dirigente, a comunidade, aqueles que estão dispostos a ajudar,
a colaborar, a receber o imigrante, mas com limitações, com limitações reais acerca do
que é possível e o que não é possível e com limites próprios, pessoais, então os
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dirigentes se perguntam quanto esforço eles devem realizar, durante quanto tempo
devem manter as bolsas nas escolas, quantas bolsas devem dar no Clube, quanto
trabalho devem dar, quanto devem promover a imigração, isso gera compromissos, e se
não dá certo, e se é preciso demiti-lo, quem se ocupará dessa família?
Não, é muita responsabilidade, é melhor deixar que se eles vêm, que venham sozinhos,
e então nosso compromisso e responsabilidade será muito menor.
Ou até podemos pôr condições, devem ser de tal ou qual modo e senão que eles
venham se quiserem mas a gente não se compromete.
Já tivemos a experiência em outros momentos críticos, podem pensar, e depois, que
aconteceu?, eles partiram ou permaneceram, integraram-se ou se assimilaram.
Não queremos ter problemas !!
Mas vocês viram como são os argentinos: arrogantes, prepotentes, exigentes, altivos,
gritalhões... a gente não quer isso aqui.
Porém, também pensam: são capazes, trabalhadores, profissionais, estão procurando
uma oportunidade para poder crescer, têm uma cultura extraordinária, será que vão
conseguir se acostumar à vida aqui?, realiza-se menos atividade fora de casa, janta-se
cedo, não há carne.
Buenos Aires é fantástica, a nossa é uma cidade pequena, e a nossa é uma
Comunidade pequena.
Os uruguaios são diferentes, mais tranqüilos, e os interioranos, esses é que nos
interessam.
Estamos dispostos a pagar-lhes um pouco mais para que tenham uma vida digna?
Como vamos enfrentar os custos desta nova situação?
Como vamos enfrentar as reclamações dos membros locais das Comunidades que
devem pagar mais ou as reclamações dos que têm problemas de tipo social?
Seremos capazes de conviver com novos integrantes da Comunidade que estabelecem
outro estrato social, uma nova classe média na nossa comunidade?
E eles, vêm para ficar ou estão de passagem? Agora com o efeito K., será que eles
estão pensando em voltar ou todo este enorme esforço que a gente faz, vale a pena?
Será que realmente fortalecemos a Comunidade?
E os imigrantes pensam:
Será que vou continuar no trabalho? Quanto tempo teremos as bolsas na escola e no
clube, e se decidem mudar de idéia?
Será que vou me adaptar à nova cidade? Será que vou poder conhecer pessoas da
Comunidade? Vou poder ter novos amigos? E as crianças? Será que vão estar à
vontade? A escola é pequena, será que vão conseguir ter amigos? E se brigam? Minha
filha é adolescente, será que vai poder conhecer algum rapaz da coletividade? E a
Universidade, vou poder pagá-la? Estou condenando-a por causa da nossa
necessidade e do nosso projeto? Quem vai ajudar minha esposa na casa? Aqui estão
os avós e a irmã dela... Nós não vamos poder pagar uma faxineira!
Será que vão fazer um lugar para nós, havendo tantas diferenças econômicas?
Vamos poder nos integrar e ficar? Será que este esforço enorme vale a pena??
Um deles exige, o outro põe condições, entre a exigência e os condicionamentos ambos
ganham ou ambos podem perder. Ambos têm medo, ambos se aproximam temerosos
pelo contato com o outro. Ambos se necessitam.
É válido e respeitável que cada Comunidade queira manter suas próprias condições
culturais e religiosas, ninguém pode questioná-lo.
É intrínseco ao ser humano procurar as melhores condições para si e para sua família.
Mas as oportunidades são exatamente isso: OPORTUNIDADES !!
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Para as Comunidades, oportunidades de fortalecer-se, de oferecer a seus filhos um
futuro comunitário e para as famílias, oportunidades de serem recebidas, e em muitos
casos com trabalho, oportunidades de terem o apoio de uma rede de contenção
comunitária que lhes facilitasse um pouco o terrível esforço de emigrar.
E este é ainda um tempo de OPORTUNIDADES!! Para uns e para outros.
Compreender o ponto de vista humano talvez nos ajude a integrar aqueles que vêm de
fora e a consolidar-se como Comunidade.
Devemos lembrar que trata-se de pessoas que sofrem o enorme impacto de abandonar
seu lugar de vida, aquele que o constituiu como pessoa, aquele onde tudo era
conhecido, amigável, nesse lugar não devia pensar onde comprar o jornal, os cigarros
ou onde beber um cafezinho: ele sabia!!
Separar-se do cotidiano, abandonar a terra natal, suas famílias, seus amigos, seu
ambiente, o ecossistema que o sustenta, tem um custo que é preciso medir, para que
não seja impossível de enfrentar.
Separar-se do país provoca grandes ansiedades relativas às possibilidades de se
arraigar em outro país.
Esta ação de discriminar-se ocupa um lugar central no processo de imigração.
Não consideram apenas a emigração como possibilidade, mas vêem o país como se se
tratasse de um novo nascimento, uma maneira de apagar magicamente todo padecer.
O país estrangeiro, o novo país, passa a ser depositário de todas as esperanças e ter
acesso a esse novo país é o projeto mais desejado.
O imigrante não é mencionado por outras pessoas. Nos primeiros tempos não há outro
que o reconheça, à exceção de seu entorno mais direto.
Graciela Bar, no seu trabalho, fala da emigração como quebra vital: “não há campainha
nem telefone que toquem, em geral, nos primeiros tempos. Não há outro que NOS
nomeie”.
Vocês se lembram da importância do nome e o reconhecimento prometido a Abraham?
Natan Sonis escreveu: O imigrante anseia uma mudança qualitativa nas condições de
existência, isso acarreta um nível necessário de idealização, a ilusão abre as portas
para a adaptação e o desenvolvimento.
A importância da idealização é fundamental.
Sem idealização do país para onde o imigrante vai não é possível fazer a decolagem,
mas sem perda da idealização do país que se abandona não é possível aterrissar no
novo país.
A partir de compreender esta necessidade de idealizar o novo lugar, nós que vivemos
no Terceiro Mundo devemos saber que nosso esforço e nossas propostas para atrair
imigrantes devem ser extremamente atraentes e interessantes
A Argentina, o Uruguai, a Venezuela, como países, destruíram a idealização de muita
gente, destruíram a fantasia de que com trabalho, honestidade, títulos profissionais,
está assegurado um futuro melhor.
Nossos pais e avós, que eram imigrantes, chegaram a estas terras latino-americanas
com as mãos vazias, eles também deixaram nas suas terras as famílias, os amigos, sua
vida cotidiana.
Eles, por decisão própria, por uma questão cultural ou para evitar-nos o sofrimento não
falaram sobre aquilo que deixaram: família, amigos, afetos, terra, o silêncio foi a regra
geral. O silêncio por medo, por vergonha ou por culpa lhes permitiu suportar a distância,
o afastamento, a dor de não ver mais os seres queridos.
Naquela época o mundo era só mundo, não se falava de globalização, não existia
Internet ou telefonia celular, produzia-se um corte, eram obrigados a se afastar, porque
não existia outra possibilidade.
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Hoje a nova tecnologia nos aproxima uns dos outros, isso é bom, mas também dificulta
o “rompimento”, o corte com aquilo que deixamos.
É verdade que torna próximos os afetos, mas vale a pena se perguntar se ajuda ou
dificulta o corte que em toda imigração é necessário fazer.
Daí a importância para as Comunidades de ter um tempo para pensar, para criar ou
recriar espaços de diálogo, de encontro, de análise da realidade que elas e os
imigrantes estão vivendo.
Compreender que a sensação que se tem é de:
NICHT AIN NICHT AER,
Não sou daqui, nem sou de lá, tenho meus afetos no meu país, o país que deixei e também estou
começando a ter afetos neste novo país.
Portanto, compreender a dor que provoca deixar os pais ou os avós, sãos ou doentes,
ou os irmãos, e compreender a culpa que isso acarreta, ajuda a integrá-los melhor .
Olhar-se uns aos outros, olhá-los, reconhecer-se no outro, estar presente.
Escutar, escutar, escutar, perguntar, perguntar, perguntar.
Todo esforço feito nesse sentido é valiosíssimo.
Na Argentina há uma publicidade de um Shopping que acho adequado lembrar, diz
assim: “o importante não é que você venha, mas que volte, que volte e volte a vir outra
vez”
A crise enviou os imigrantes para as Comunidades, o esforço delas agora é ver como
fazer para que continuem integrados a elas.
Há muitos que permaneceram nos países aos quais se dirigiram, eles supuseram e
comprovaram que essa rede de contenção comunitária funciona, que a Comunidade o
cuida.
Estabelecer um novo tipo de relação, com respeito, com ética, aquele que dá e aquele
que recebe, em liberdade, construindo o sentimento de pertencer a essa Comunidade e
a essa Sociedade, sem submissão, sem exclusão.
Hoje renasce na Argentina - no Uruguai ainda não, na Venezuela também não - hoje na
Argentina renasce das cinzas uma esperança, um pouco de ideal, de confiança, de
ilusão no futuro. Condições essenciais para a permanência.
É verdade que pode cair a demanda, mas também é verdade que há outros que
analisam a questão de maneira diferente, que pensam de outra maneira, que se
lembram da história recente em seus países, que vêem a situação atual de seus pais,
ou avós, primos ou tios, alguns deles também pensam ir embora, esta população é um
nicho de oportunidades.
Oportunidades para eles e para as Comunidades.
Vamos compreender melhor quem são eles, como pensam, vamos falar um pouco do
Perfil da nossa gente, isso nos permitirá pensar melhor como atraí-los ou conservá-los
ou integrá-los.
São assim:
 Classe média,
 Profissionais jovens, solteiros ou casados com filhos.
 Com experiência prévia de trabalho
 Muito preocupados com a questão da segurança
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









Muito envolvidos na vida judaica e decididos a mantê-la como parte central de
seu esquema de decisão
Na maioria, seculares ou de pouca observância religiosa
Querem âmbitos comunitários, escola e clube para seus filhos
Querem âmbitos comunitários conforme sua maneira de viver o judaísmo
Têm desenvolvido projetos comerciais ou empreendedores autônomos.
Muito informados
Analisam a realidade, são usuários da Internet,
Escolhem, avaliam, decidem, estudam o mercado, fazem contas acerca de
quanto precisam para viver dignamente
Ninguém os leva pelo nariz
Querem viver com dignidade; para estar mal preferem ficar no seu país, apesar
de todas as dificuldades
Quando as imagens da TV percorrem o mundo e se observa o conflito, os comícios, as
marchas, o “panelaço”, os “piqueteiros”, os “cartoneiros”, a destruição, as mortes,
aparece a solidariedade comprometida. Quando não aparecem estas imagens na TV,
esta solidariedade comunitária tem tons diferentes.
Da mesma maneira como cada um de nós é um ser único e particular, cada
Comunidade é única e diferente.
A maneira como cada Comunidade assume cada oportunidade, é uma decisão de cada
uma delas. Mas é preciso afirmar claramente que assim como nas relações entre as
pessoas ou dentro de uma organização os espaços vazios são ocupados, também é
assim entre as Comunidades, e enquanto algumas delas debatem o que fazer, outras
aproveitam a oportunidade que a história contemporânea do nosso povo lhes está
oferecendo.
As crises se reiteram na vida do nosso povo e em especial nos nossos países.
Cada experiência tem sua conseqüência em outras comunidades.
No Uruguai é muito comum ouvir dizer que quando se resfriam em Buenos Aires,
espirram em Montevidéu.
Quando a crise estoura na Venezuela, seus ruídos chegam até Miami ou a Costa Rica,
como reagirá a Comunidade da Venezuela e que evolução terá a situação na Colômbia,
ou na Bolívia?
Crises semelhantes e diferentes, atitudes semelhantes e diferentes.
Como prevenir, como pensar antecipadamente, como gerar idéias novas? Como
aproveitar as oportunidades?
Esta exposição teve a intenção de provocar, de criar um espaço de reflexão, motivar,
apresentar um enfoque que permita novos enfoques, novas reflexões ou velhas
reflexões em contextos novos.
Para finalizar quero lembrar uma frase de Octavio Paz. Ele disse: “Quando você sinta
que tudo está perdido, lembre que ainda temos o futuro”
Daniel Liwerant [integrante do painel]
Vou dar a esta comunicação um enfoque que parte dos grandes movimentos
migratórios contemporâneos dos judeus e vou me concentrar nos desafios que esses
movimentos colocam às comunidades judaicas do nosso tempo.
Do estabelecimento do Estado de Israel até o presente, aproximadamente 2,8 milhões
imigrantes se deslocaram no mundo judaico, de uma comunidade para outra. Desse
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volume de imigrantes, Israel captou 70%, ou seja, dos 2,8 milhões imigrantes,
chegaram a Israel aproximadamente 2 milhões. Daí que, apesar das críticas, seja
surpreendente o êxito desse fluxo migratório, já que a taxa de permanência em Israel é
de 80%.
Israel é superado nessa taxa apenas por dois países no mundo, pela Austrália e pelos
Estados Unidos. A permanência geral das migrações no resto do mundo tem taxas que
variam entre 25% e 60%. Como eu disse antes, Israel está numa posição de êxito, com
uma taxa de permanência superior a 80%.
Com certeza, essa posição de êxito está ligada a todos nós, porque é o resultado dos
esforços conjuntos de promover a aliá, a imigração a Israel, e de ajudar para a absorção
dos imigrantes. Este projeto coletivo liga-se à iniciativa judaica generalizada que
entregou os fundos e organizou os imigrantes para que isto acontecesse no Estado de
Israel. Liga-se também ao trabalho e apoio das organizações como Keren Hayesod e
United Jewish Appeal e também ao esforço da Agência Judaica, que é o instrumento
oficial que tem nas suas mãos o desenvolvimento com êxito da promoção e absorção
da imigração.
Como resultado desse trabalho, o mapa demográfico judaico experimentou uma
profunda transformação. Estima-se que em 1950, 5% da população judaica habitava no
Estado de Israel e 95 % fora do país. Atualmente, a proporção variou radicalmente: em
Israel vivem 5,4 milhões de judeus, que equivalem a 38% do total da população judaica.
Segundo o comportamento demográfico de outras comunidades, sobretudo a dos
Estados Unidos e as conseqüentes projeções para as próximas décadas, é possível
afirmar que em 2005 a população judaica de Israel superará a dos Estados Unidos e
será a maior comunidade judaica. Conforme essas previsões, para o ano 2020, ou até
antes, a maioria do povo judeu vai morar em Israel, sendo, portanto, necessário
destacar de novo o sucesso do movimento sionista e da criação do Estado de Israel.
Como uma crescente tomada de consciência no mundo judaico acerca da
importância estratégica da demografia e devido a que o total da população judia
mundial permaneceu estável desde os anos 50 até a atualidade, são os
movimentos migratórios os que quase de maneira exclusiva permitem que as
comunidades cresçam ou se reduzam, num movimento que tende a enriquecer
em quantidade de habitantes a vida judaica no Estado de Israel e o mundo
desenvolvido, e reduzir a vida judaica nas outras regiões.
Esse é o caso das nossas comunidades judaicas na América Latina, onde se vive uma
situação de decrescimento e redução de sua população. Elas passaram de ser
sociedades que recebiam imigração, até os anos 50, a se transformar em sociedades
expulsivas depois dos anos 70. A demografia judaica, a partir da década dos 80, em
particular, experimentou no continente um processo de reversão: em lugar de atrair e
assimilar judeus de outros lados, criou emigração. Assim, as comunidades judaicas
foram um reflexo do que estava acontecendo nas sociedades em geral. O México e a
Argentina, apesar de suas diferenças, são sociedades e comunidades que levaram
seus membros a abandonar seus países para buscar novos horizontes.
Para o futuro, estas tendências não indicam cenários muito interessantes. Conforme as
estimativas mais recentes, nos anos 50 havia na América Latina aproximadamente
520.000 judeus, muito abaixo das suposições. Atualmente, calcula-se que há 410.000 e
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as previsões apontam para um decrescimento ulterior de 10% cada 10 anos. É verdade
que esta tendência varia conforme os países; a diminuição demográfica nas
comunidades judaicas da Argentina e do Uruguai tem sido mais acelerada que nas
comunidades do México, Chile e provavelmente de alguns países da América Central.
O grande impacto que o sionismo e o Estado de Israel tiveram na imigração e na
absorção de judeus foi reforçado, no nosso continente, pelo lugar que tiveram na
formação das nossas comunidades. O sionismo permitiu que se consolidasse a vida
comunitária, suas instituições, sua cultura e sua educação. Foi uma fonte de
identificação e uma idéia mobilizadora. 65% das pessoas que abandonaram o
continente, foram a Israel. Cerca de 35% da população atual da comunidade judaica da
Argentina mora em Israel; 50% da comunidade do Uruguai, 10% da comunidade do
Brasil e 25% do Chile. Em outros termos, uma média de 25% da população total. Se na
América Latina, atualmente, vivem 400.000 judeus, o número de olim ascende a
110.000. Esta imigração teve diferentes causas e pode ser explicada tanto por suas
raízes ideológicas como pela necessidade e pela capacidade de Israel e da Agência
Judaica de receber estas imigrações, e de obter bons resultados de absorção.
O conhecimento destas tendências nos exige ter projetos estratégicos que permitam
apoiar simultaneamente os movimentos migratórios e garantir a continuidade da vida
comunitária. A necessidade de emigrar, em contextos de crise deve nos levar ao
desenho e implementação de políticas conjuntas e consensos, além da diversidade de
modos de entender a vida judaica, que sempre deve ser fortalecida.
É preciso lembrar, na nossa perspectiva, que a Agência Judaica tem tido um papel
determinante não apenas na aliá mas também na educação, tendo dedicado esforços e
recursos para construir comunidades culturalmente sólidas. Frente à questão da
imigração e para garantir uma absorção com êxito, tem desenvolvido vários programas
voltados a atender diferentes necessidades. Entre eles, eu quero destacar o shajar que
é a procura e sincronização de empregos; o programa de capacitação e adaptação
profissional e o programa que recupera uma velha tradição judaica de criação de
landsmanshaft, através da criação de grupos populacionais identificados que possam
estar num mesmo lugar, como é o caso de Kiryat Bialik.
Hoje, as tendências no continente nos indicam, como já mostrei, a necessidade de
cooperar entre as diferentes organizações para apoiar as migrações e fortalecer as
comunidades. Devemos racionalizar nossos esforços e recursos; somar iniciativas e
atuar de maneira ativa e responsável para imprimir ao mundo judaico o sentido e
caráter que buscamos: não devemos esquecer que as tendências demográficas não
são apenas o resultado de comportamentos biológicos mas também culturais e de
organização comunitária.
O Estado de Israel é capaz de absorver a imigração e é capaz de manter os vínculos
que tem mantido com as comunidades do continente. Não é inútil lembrar isso, já que,
de um lado, depois dos acontecimentos de 11 de Setembro o mundo ocidental está
conhecendo novas limitações à imigração e, de outro, a tendência a emigrar no mundo
judaico continuará vigente. Neste cenário, o Estado de Israel combina mais uma vez
ideologia e necessidade.
Quero concluir esta intervenção chamando a atenção para o fato de que em forma
paralela a esta mesa, organizou-se um painel para jovens, o Plenário 4B onde se
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analisa de que forma se constrói um futuro judaico para as próximas gerações. Se os
jovens que estão imaginando o futuro não utilizarem hoje os meios não só intelectuais e
emocionais, mas também os meios práticos que temos para programar nosso futuro,
estarão cometendo um erro. Portanto, deveria ter sido programada uma mesa conjunta,
porque o mundo latino-americano, que é o mundo desses jovens não pode ser pensado
sem levar em consideração os movimentos populacionais e os perfis demográficos em
permanente mudança.
Raquel Ejgenberg [Coordenadora da Plenária]
Antes de dar início às perguntas, quero dizer que acho que algo que esteve
pairando durante a exposição dos três palestrantes é o tema de (...) e a questão
da oportunidade. A oportunidade apareceu nas três exposições, a oportunidade
que busca o imigrante como possibilidade de ter uma vida digna, um futuro para
ele e para sua família. Começamos vendo os rostos da emigração, vimos no
vídeo alguns rostos dos emigrantes e daqueles que os recebem, depois ouvimos
uma experiência concreta da comunidade de Guadalajara, onde se juntam os
recursos de uma comunidade que não quer desaparecer, uma comunidade
pequena com as necessidades de outra comunidade que está procurando uma
oportunidade. Passamos para a experiência de HIAS, onde além de marcar a
questão do sionismo como realidade, também é algo que preocupa e ocupa as
pessoas que estão trabalhando. Afastando a câmara, vimos que também existe
outra possibilidade, outras comunidades: Enrique nos contou quais são as
preocupações e as ocupações de ambas partes, os medos, as fantasias que
surgem em um e outro lugar. Concluímos com a exposição de Daniel, e vemos
Israel desde um lugar que gera outro tipo de trama social para o imigrante.
Assim, eu gostaria de referir-me à palavra “oportunidade” e sua etimologia.
Oportunidade, poderia se dizer, também vem de porto e o porto, na metáfora do
navegante, pode ser o lugar de abrigo, de proteção, mas também o lugar desde
onde o navegante tem que partir porque exatamente isso é o que não encontra.
Nós falamos de muitos portos aos que chegaram nossos emigrantes, porém,
esses não foram portos de abrigo. Conforme as informações que nos dava
Daniel, aparece Israel como porto que retém, que protege e que faz crescer os
judeus de todas as perspectivas. Acredito que poderíamos afirmar que esta é a
contribuição dos nossos palestrantes.
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