O PROCESSO DE ENFERMAGEM E SUA OPERACIONALIZAÇÃO NAS REPRESENTAÇÕES DE ACADÊMICAS DE ENFERMAGEM: UM RELATO DE EXPÉRIÊNCIA SOBRE SEUS PONTOS E CONTRAPONTOS Resumo Este estudo teve como objetivos: identificar as representações de acadêmicas de enfermagem sobre operacionalização do processo de enfermagem; e analisar as implicações dessa operacionalização para o cuidado de enfermagem. Trata-se de estudo qualitativo em que os dados foram coletados a partir de observações de acadêmicas de enfermagem e apresentados por meio de relato de experiência. Conforme evidenciamos nos campos de prática, os pontos positivos da assistência de enfermagem são a praticidade do processo e a facilidade de comunicação entre a equipe de enfermagem, e outros profissionais de saúde, devido à padronização das informações. Já os pontos negativos são a falta de liberdade do profissional enfermeiro em guiar as etapas do seu processo e poder ser mais detalhado em suas evoluções. Este favorece o cuidado e organiza as condições necessárias para a sua ocorrência. Porém, não acontecendo de forma competente implica na interferência do cuidado do paciente, pois o cuidar depende de um processo de enfermagem integral. Palavras-chaves: Estudantes de Enfermagem. Graduação em Enfermagem. Educação em Enfermagem. Resumen Este estudio tuvo como objetivos: identificar las representaciones de académicas de enfermería sobre instrumentalización del proceso de enfermería; y analizar las implicaciones de esa instrumentalización para el cuidado de enfermería. Se trata de estudio cualitativo en que los dados habían sido colectados a partir de observaciones de académicas de enfermería y presentados mediante relato de experiencia. Conforme evidenciamos en los campos de práctica, los puntos positivos de la asistencia de enfermería son la praticidade del proceso y la facilidad de comunicación entre la equipo de enfermería, y otros profesionales de salud, debido a la estandarización de las informaciones. En cambio, los puntos negativos son la falta de libertad del profesional enfermero en guiar las etapas de su proceso y poder ser más detallado en sus evoluciones. Este favorece el cuidado y organiza las condiciones necesarias para su ocurrencia. Sin embargo, no aconteciendo de forma competente implica en la interferencia del cuidado del paciente, pues el cuidar depende de un proceso de enfermería integral. Palabras-claves: Estudiantes de Enfermería. Graduación en Enfermería. Educación en Enfermería. Abstract This study had like objectives: objectives of this study: to identify the representations of academic of infirmary on instrumentalización of the infirmary process; and to analyze the implications of that instrumentalización for the care of infirmary. One is qualitative study in which the dices had been collected from presented/displayed observations of academic of infirmary and by means of experience story. In agreement we demonstrated in the practice fields, the positive points of the infirmary attendance are praticidade of the process and the facility of communication between the equipment of infirmary, and other professionals of health, due to the standardization of the information. However, the negative points are the lack of freedom of the professional nurse in guiding the stages of their process and power more to be detailed in their evolutions. This it favors the care and it organizes the necessary conditions for his occurrence. Nevertheless, occurring of competent form it does not imply in the interference of the care of the patient, because taking care of it depends on a process of integral infirmary. Keywords: Students of Infirmary. Graduation in Infirmary. Education in Infirmary. Considerações Iniciais A mais antiga definição de enfermagem é a deliberada por Florence Nightingale em 1859, que caracteriza a enfermagem como responsável pela saúde pessoal do ser humano, atribuindo a profissão o dever de cuidar do paciente deixando-o em sua melhor condição, para que a natureza atue sobre ele. A partir destes pressupostos percebemos que inicialmente a enfermagem realizava medidas de alívio e manutenção de ambiente higiênico. Porém durante o seu processo evolutivo passou a ter seu foco centrado no cuidado integral ao ser humano, sempre pautado no restabelecimento ou manutenção das suas necessidades humanas básicas (IYER, TAPTICH, BERNOCCHI, 1993). A enfermagem é uma arte, por usar a criatividade e imaginação para assistir o paciente; e é também uma ciência que está baseada em uma ampla estrutura teórica. Essa estrutura, aplicada à prática de enfermagem, é um método denominado processo de enfermagem (IYER, TAPTICH, BERNOCCHI, 1993). O processo de enfermagem foi inicialmente descrito por Lydia Hall, em 1955, em uma conferência em que ela firmou que “a enfermagem é um processo” e definiu o uso de quatro preposições: enfermagem ao paciente, para o paciente, pelo paciente e com o paciente. Já em 1961, Ida Orlando foi a primeira a utilizar a expressão “processo de enfermagem” para explicar o cuidado de enfermagem e considerou seus componentes como: comportamento do paciente, reação do(a) enfermeiro(a) e ação. Outros colaboradores foram Johnson (1959) e Wiedenbach (1963) que desenvolveram um processo diferente também constituído de três fases, que continham elementos rudimentares do processo de cinco fases aceito atualmente (IYER, TAPTICH, BERNOCCHI, 1993). No período de 1963 Virginia Bonney e Gune Rothberg empregaram termos do processo de enfermagem e apresentaram as seguintes fases: dados sociais e físicos, diagnóstico de enfermagem, terapia de enfermagem, e prognóstico de enfermagem. Em 1967, Yura e Walsh foram as primeiras a descreverem um processo de enfermagem com quatro fases, sendo eles: histórico, planejamento, implementação e avaliação. Durante os anos 70 autores como Bloch (1974), Roy (1975), Mundinger e Jauron (1975) e Aspinele (1976) acrescentaram o diagnóstico de enfermagem o que resultou em um processo de cinco fases seqüenciais e inter-relacionadas utilizadas até os dias atuais (IYER, TAPTICH, BERNOCCHI, 1993). Há vários modelos do processo de enfermagem, porém nenhum deles tem embasamento teórico, com exceção de Callista Roy que se baseia na teoria da adaptação (HORTA, 1979). O processo de enfermagem é considerado um marco histórico da prática da enfermagem e foi incorporado à estrutura teórica da maioria das grades curriculares dos cursos de graduação em enfermagem. Segundo Smith e Germain (1975) o processo de enfermagem trata-se de uma abordagem deliberativa de soluções de problemas que exige habilidades cognitivas, técnicas e interpessoais, que está voltada à satisfação das necessidades do sistema do cliente e da família (IYER, TAPTICH, BERNOCCHI, 1993). Relataram que no Brasil, o emprego do processo de enfermagem foi incentivado por Wanda de Aguiar Horta, na década de 1970, em São Paulo, que trouxe como referencial teórico a Teoria das Necessidades Humanas Básicas de Maslow. Assim a assistência de enfermagem deve se embasar em uma metodologia científica, que privilegie cinco etapas: levantamento de dados diagnóstico, planejamento, execução e avaliação. Para Horta diagnosticar e, em síntese, aplicar o método científico, isto é, a utilização dos processos lógicos pelo pensamento, na busca da verdade ou na sua exposição. Os processos gerais de pensamento são utilizados de modo sistemático e refletido na procura do diagnóstico (FAUCZ; SIQUEIRA; FÁTIMA, 2006). O processo de enfermagem é o método em que os fundamentos teóricos de enfermagem são repassados para a prática, ou seja, é a prática pautada na teoria que procura solucionar os problemas e proporcionar satisfações das necessidades, tendo seu foco centrado para a saúde e bem estar do cliente (paciente), de sua família e da comunidade (DANIEL, 1981). A autora destaca que o processo pode ser definido em três dimensões principais: o propósito, a organização e a propriedades. Estas dimensões demonstram que o processo de enfermagem visa executar o propósito de enfermagem com uma organização dentro de suas propriedades que são seis, intencional, sistemático, interativo, flexível e baseado em teorias. Logo, este processo, define a função de enfermagem que pode ser independente, que é uma ação que não requer um comando de um médico e se delimita em um âmbito de diagnóstico e tratamento de enfermagem. Ação interdependente que se faz por um enfermeiro junto a outros profissionais da saúde e ação dependente, que é a qual o profissional de enfermagem necessita de uma prescrição médica para poder desenvolver uma ação, tem como exemplo a prescrição de medicamentos. O processo de enfermagem é um método que deve ser feito a partir de técnicas organizadas e contínuas, logo este processo está classificado em cinco funções que é definida em histórico, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação. Tais funções encontram-se no processo de organização da enfermagem. A prática do processo de enfermagem pode trazer implicações para a profissão, para o cliente e para o profissional de enfermagem em particular, pois com o processo de enfermagem podemos ter um modo concreto que define o papel da enfermagem para o cliente e para outros profissionais da saúde, beneficiando assim o cliente e sua família, estimulando-os a continuidade do cuidado resultando em ambiente seguro que proporciona um meio adequado à saúde do cliente, com isto, ao final teremos um aumento na satisfação e crescimento do profissional de enfermagem. Com o método adequado e organizado do processo de enfermagem podemos assegurar ao cliente, a família e a comunidade atenção e melhora significativa de suas necessidades, pois o profissional de enfermagem estará apto a proporcionar um atendimento de qualidade que estimula o auto cuidado e a continuação de seu tratamento. A partir do exposto traçamos como objetivos deste estudo: identificar as representações de acadêmicas de enfermagem sobre operacionalização do processo de enfermagem; e analisar as implicações dessa operacionalização para o cuidado de enfermagem ASPECTOS METODOLÓGICOS O presente estudo foi descritivo, uma vez que se pretende refletir sobre as representações de acadêmicas de enfermagem ao vivenciarem processo de enfermagem em seus campos de prática. Empregamos a abordagem qualitativa, devido essa modalidade de pesquisa reconhecer como ciência o conhecimento do subjetivo do indivíduo, sua transmissão e repercussão até a formação do senso comum de uma população, senso este que orienta e explica as transformações que ocorrem no meio em que vive, ou seja, o sujeito é o autor capaz de retratar e refratar a realidade. Desse modo, ela se configura como o sistema de relação que constrói o modo de conhecimento exterior ao sujeito, mas também as representações sociais que constituem a vivência das relações objetivas pelos atores sociais (MINAYO, 1999). A técnica de coleta de dados foi à observação participante, pois esta “é obtida por meio do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado, para recolher as ações dos autores no seu contexto natural, a partir de sua perspectiva e seus pontos de vista” (CHIZZOTTI, 2003: 90). Quanto ao tipo de observação participante decidimos pela descritiva, pois esta favorece aos pesquisadores uma visão dos componentes da realidade que será investigada, quanto aos: sujeitos e seus aspectos pessoais e particulares, o local e suas circunstâncias, o tempo e suas variações, as ações e suas significações, os conflitos e a sintonia de relações interpessoais e sociais, assim como as atitudes e os comportamentos do cenário pesquisado (IBIDEM, 2003). Destacamos que a observação foi realizada por seis acadêmicas de enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará (UFPa) durante as nossas aulas práticas da atividade curricular de Introdução à Enfermagem em três instituições hospitalares públicas da cidade de Belém do Pará, que serviram como campo de prática hospitalar. O período da pesquisa foi de 29 de abril a 24 de junho de 2008, sendo que ao término de cada aula prática eram anotadas em um diário de campo as observações descritivas sobre o nosso contato com o processo de enfermagem. Outro aspecto da pesquisa foi que optamos em construir um referencial teórico para dar sustentabilidade ao material escrito nos diários de campo. Por tal motivo foram consultadas na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e, para seleção dos periódicos, utilizamos os seguintes critérios: artigos que tratam sobre o processo de enfermagem publicado em português e tendo o período de busca delimitado de 2005 a 2008. Destacamos para realizarmos a busca os seguintes descritores: processo de enfermagem, graduação em enfermagem e estudantes de enfermagem. Para proceder à análise dos dados optamos em trabalhar com a técnica de análise de conteúdo temático, devido propiciar desvelar os núcleos de significados que compõem um determinado material escrito, tornando-se evidentes por sua freqüência aumentada, que favorece a emergência de sentidos relevantes para contextualização do objeto estudado (BARDIN, 1977). Segundo Bardin (op. cit.) a análise de conteúdo temático se divide em três etapas: a pré-analise, que é representada pela seleção e organização das informações coletadas, posteriormente se realiza a consolidação do corpus; a seguir, passa-se para exploração do material e o tratamento dos dados. A pré-análise consistiu na etapa de seleção dos artigos. Nesta reunimos o material e fizemos a leitura dos mesmos, a fim de entendermos o que os diversos autores, pensam a respeito do tema proposto por nós, analisando o que seria mais relevante para nossa pesquisa. A partir daí, extraímos fragmentos dos textos encontrados, que nos possibilitassem a realização de uma discussão das idéias entre os autores. Para proceder à constituição do corpus do material foram seguidas as regras da: exaustividade (analisando o material coletado como um todo sem priorizar ou descartar alguma informação); da representatividade (o material represente o universo estudado); homogeneidade (observação da aderência ao tema, assim como a utilização das mesmas técnicas de captação dos dados com sujeitos semelhantes). Já na fase de exploração do material ocorreu uma maior imersão nos pontos fundamentais do material analisado, com a intenção de captar as relações existentes no mesmo. Observarmos não somente a repetição de palavras ou frases, mas também a dos sentidos e significados, sendo registradas juntamente com as diversas situações em que se encontravam presentes. As unidades de registro, citadas por Bardin (1977), foram analisadas e convertidas em unidades temáticas. Estas foram elaboradas de acordo com as informações obtidas durante a leitura do material coletado, atentando para o ponto de saturação das idéias comuns entre os autores consultados. O Processo de Enfermagem – Um Cuidar Fragmentado Em nosso primeiro campo de prática percebemos que o processo de enfermagem tinha suas etapas divididas entre as enfermeiras dos diferentes setores que o paciente percorre ao adentrar no hospital. Este percurso inicia no ambulatório, onde é realizada a primeira etapa do processo, o levantamento de dados, com a enfermeira do local, sendo que ela se restringe a esta etapa. Evidenciamos que se o paciente for internado em uma das clínicas da instituição, o processo continuará a partir da segunda etapa, a do diagnóstico de enfermagem. A enfermeira da clínica a qual foi conduzido o paciente estuda o levantamento de dados feito no ambulatório para formulação do diagnóstico de enfermagem, o qual é realizado em um formulário padrão do hospital. Neste encontram-se já pré-estabelecidos os diagnósticos mais freqüentes usados na enfermaria, junto com suas respectivas prescrições de enfermagem, cabendo a enfermeira marca os que correspondem às necessidades humanas básicas alteradas da pessoa admitida. Enfatizamos que fica a critério da enfermeira que acompanha o cliente, o modo como fará a implementação e, por fim, a avaliação desse processo. Durante nossa apreciação deste modelo fragmentado da aplicação do processo de enfermagem, nos questionamos se esta fragmentação das etapas do mesmo não prejudica o processo de cuidar, na medida em que a enfermeira que levanta os dados não e a mesma que irá traçar as demais fases do processo de enfermagem. Acreditamos que a realização da etapa do levantamento dos dados, assim como a confecção dos diagnósticos por enfermeiras distintas, pode contribuir para uma sistematização da assistência de enfermagem (SAE) que não contemple as reais necessidades do paciente. Esta realidade existe, pois segundo Teixeira apud Bueno (1987) não há uma consonância entre o que é aprendido e o que é vivenciado na prática de enfermagem. Isto se aplica à utilização da metodologia da assistência, pois, geralmente, os enfermeiros têm experiência com o processo como estudante, mas não o mantém na sua prática. A falta de relação entre os conceitos teóricos e a prática profissional cria uma dissonância e gera conflitos na assistência de enfermagem no que se refere ao uso da metodologia que, ao ser aplicado de modo fracionado, torna-se distorcido dos princípios teóricos (TEIXEIRA, 2004). Cabe mencionarmos o aspecto legal do processo de enfermagem, conforme mencionada na lei do exercício profissional (nº7. 498/ 1986) que prevê as atribuições do enfermeiro ligadas à metodologia da assistência de enfermagem. Pensamos que essa atribuição tão essencial para o serviço de enfermagem tem que ser implementado de seqüencial pela enfermeira da unidade de destino do paciente, pois assim estaremos valorizando os aspectos: legal, cientifico e humano da Enfermagem. Esta forma de operacionalização do processo de enfermagem, conforme constatamos com comentários da enfermeira da clínica, os positivos de um modelo préestabelecido pela instituição, podemos mencionar a diminuição do tempo para realização do processo, estimulando a enfermeira a fazê-lo, dando-lhe praticidade e favorecendo a comunicação entre a equipe de enfermagem e os outros profissionais de saúde. Este modelo não permite erros na identificação dos elementos do processo e na interpretação das evoluções, pelo fato da ficha impressa ser organizada, legível e objetiva; ao contrário do que acontece em alguns casos, quando a enfermeira não organiza as suas informações de forma coerente e em ordem dos acontecimentos, e até escreve com uma letra ilegível causando a confusão de interpretações, as quais podem até ser maléficas ao paciente por prejudicar a sua evolução. A experiência do processo de implementação do diagnóstico de enfermagem no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo evidenciou que ao ser avaliado vários prontuários foram observados, que em algumas unidades, as evoluções de enfermagem eram muito extensas, demandando um tempo maior da enfermeira para sua realização. Na maioria das unidades, as evoluções de enfermagem repetiam informações contidas nos demais impressos tais como gráficos, resultados de exames, anotação de enfermagem e evolução médica. Havia ainda unidades onde as anotações de enfermagem eram muito semelhantes à evolução de enfermagem (LIMA, KURCGANT, 2006). O referido modelo também possui pontos negativos como: a falta de liberdade do profissional enfermeiro em guiar as etapas do seu processo e poder ser mais detalhado em suas evoluções. Outro ponto verificado foi que devido o grande número de pacientes, um número de enfermeira reduzido, o desdobramento da enfermeira entre as atividades administrativas e a implementação das ações de cuidar favorece o emprego e o aceite do referido modelo pelas mesmas. Enfatizamos que condições de trabalho fazem com que as atribuições do enfermeiro se distanciem das condições ideais de enfermagem acadêmica, gerando impasses nas ações de enfermagem (TEIXEIRA, 2004). A autora supra citada, também, refere que o deslocamento de funções ligadas à assistência, o cuidado direto e indireto, as condições de trabalho, o ensino da metodologia da assistência individualizada e idealizada, contribuem para serem elementos de conflitos, que levam a refletir sobre a identidade profissional do enfermeiro na sociedade brasileira. O processo de enfermagem, sendo uma produção acadêmica, com enfoque individualista, não atende às reais necessidades do trabalho. Daí procurar-se criar adaptações, implantando o processo nos locais em que a proporção enfermeiro/leito seja adequada. Por exemplo, na consulta de enfermagem, no atendimento aos pacientes graves, nas unidades fechadas, entre outros. Há de se ver que existe um planejamento das atividades, mesmo que seja informal, uma espécie de processo oculto que é norteado pelas condições da instituição hospitalar, que pode ou não, servir de interesse para a enfermagem (TEIXEIRA, 2004). O processo de enfermagem é a ferramenta característica da autonomia da enfermagem. O modelo pré-determinado pela instituição de saúde não permite que o enfermeiro encaminhe o rumo dos seus cuidados, limitando o profissional a seguir padrões. Também as peculiaridades que a enfermeira observa por estar mais próxima, as quais podem ser a “peça” do quebra-cabeça, deixam de ser notificadas em uma ficha, pois não tem espaço para tal, prejudicando o paciente no seu tratamento, resultando numa demora no processo de cura. A Prática do Plano de Cuidado Durante nossa estadia no segundo cenário hospitalar o processo de enfermagem era desenvolvido por meio de um plano de cuidados baseado na liberdade do enfermeiro em executar a coleta dos dados, pois não existia um impresso pré-estabelecido pela instituição para esta etapa do processo de enfermagem. Foi possível perceber a fragmentação do processo de enfermagem, pois cada enfermeira fica responsável pela realização de uma etapa aleatoriamente, embora essa não seja vista como parte essencial de um plano, e sim, apenas como um momento de prestação de cuidado a parte de um todo. Outro ponto importante a ressaltar é a quantidade de pacientes para um número pequeno de enfermeiros, havendo dia em que há somente uma para realizar todas as atividades gerenciais e assistenciais que a enfermaria exige. Ressalvamos que essa jornada árdua favorece uma assistência deficitária ao paciente, além de propiciar um estresse a quem tem como meta o bem estar do mesmo – a enfermeira. Ao analisar a fragmentação do processo de enfermagem Freitas, Queiroz, Souza (2007: 210), afirmam que: Alguns fatores na instituição podem interferir na sua aplicabilidade, como falta de tempo, excesso de trabalho, rotatividades dos pacientes na unidade e a equipe de enfermagem diminuída, instituição que não cobra a aplicação do processo, dificuldades de identificar o diagnóstico de enfermagem por falta de leitura, de cumprir as prescrições, a exemplo da unidade de terapia intensiva, a falta de discussões acerca do assunto entre as colegas, bem como a falta de estímulo dos gerentes das unidades e do serviço de enfermagem geral. A execução de atividades gerenciais e assistenciais para uma única enfermeira inviabiliza a realização do processo assistencial, além de contradizer a visão de Horta que evidencia a importância da implementação desse processo a partir de uma avaliação estrutural sobre alguns aspectos (HORTA, 1996). Tais aspectos já eram abordados por Horta (1996: 121): A pertinência do processo de enfermagem com a filosofia de trabalho da instituição e do serviço de enfermagem, a disponibilidade de recursos humanos, materiais e financeiros, condições para treinamento e educação continuada da equipe e possibilidade de desenvolvimento de todas as fases nas diversas unidades e para todos os pacientes. O processo de enfermagem é caracterizado por ser um instrumento metodológico empregado para favorecer o cuidado e organizar as condições necessárias para a sua ocorrência. Porém devido um número reduzido de enfermeiros acaba não acontecendo de forma eficiente e satisfatória, o que implica na interferência do cuidado que é prestado ao paciente, haja vista que a avaliação dos resultados será comprometida, assim como a evolução e a adaptação do plano de cuidados para cada fase do tratamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo nos fez atentar para um novo olhar no cuidado, por meio do processo de enfermagem, ao ser humano internado em um hospital. Notamos que cabe a enfermeira a tarefa de realizar o processo de enfermagem de maneira mais adequada ao seu ambiente de trabalho, de forma que permita mais qualidade de assistência prestada ao cliente, devido sua aproximação com o mesmo, e atendendo não só suas necessidades fisiológicas, mas também psicológicas e emocionais. Percebemos que nos campos de pratica os modelos mais utilizados são os préestabelecidos pela instituição, e que muitas vezes distância o profissional do seu ser cuidado. Acreditamos que deve haver um novo olhar do profissional de enfermagem em relação ao paciente, com uma assistência mais humanizada e menos fragmentada; uma visão pautada na necessidade dos seus interlocutores. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. 1977. BARROS, A. L. B. L. de (et. al.). Anamnese e exame físico: avaliação diagnostica de enfermagem no adulto. Porto Alegre: Artmed, 2002. CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 6a ed. São Paulo: Cortez, 2003. CIANCIARULLO, T. I. Instrumentos básicos para o cuidar: um desafio para a qualidade de assistência. São Paulo: Atheneu, 1996. DANIEL, L. F. A enfermagem planejada. 3ª. Ed. São Paulo: EPU, 1981. FREITAS, M. C.; QUEIROZ, T. A.; SOUZA, J. A. V. O Processo de Enfermagem sob a ótica das enfermeiras de uma maternidade. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 60, n. 2, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003471672007000200015&l ng=pt&nrm=iso>. 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