MARKETING POLÍTICO DO LULA EM 2002 E OS POSICIONAMENTOS DAS REVISTAS CARTACAPITAL, PRIMEIRA LEITURA E VEJA. Autora: Ingrid Gomes INTRODUÇÃO Abstract To explore the context of Lula´s political marketing around the last election (2002) candidature for president. To understand and to evidence the media, the articulations, the products, all the leaflets material that were used to reconstruct a image less erode of “old” candidate of the Party of the Works, creating a “image” with bigger popular appeal for the Brazilian people. Also discuss the plot arranged by a team of the marketing to this candidate to presidency. Also anylise which were the journalistics receptions of magazines such as CartaCapital- from september to november, Primeira Leitura- from august to november and Veja- from september to november , to this new image of the Lula, in other words, how Far the sense of political marketing by magazines, through of the readings and analyzings subsequents of the documentary and article of bigger ideologies anxieties, through criteria qualities details. Through analyzing connections between the study of Lula´s political marketing and sensitivity express of magazines, discuss a dynamic used by these two views about one same candidature and that way they may meet (join) in the end the of election process to obtain the satisfactory successful about the voters and readers that they proposed. Keys Words: Lula, 2002 elections , CartaCapital, Primeira Leitura, Veja, analyzing and political marketing. LULA SEU MARKETING E A ANÁLISE DE REVISTAS QUE MANTIVERAM-SE CONTRA E A FAVOR DA SUA CANDIDATURA. “Comunicar é sempre uma certa maneira de agir sobre o outro ou sobre os outros.” Michel Foucault O verbo comunicar é interligado à maneira hábil de agir (política), bem como com os mais variados posicionamentos de concepção de mundo (ideologia). Claro que esta é uma visão reduzida dos conceitos, entretanto através disto é possível esclarecer a existente ligação entre ideologia, política e comunicação. O processo da comunicação é transpassado por valores notoriamente por ideológicos, por mais que alguns mitos éticos insistam em tratar a estrutura comportamental da profissão jornalística como algo a-ideológico, por exemplo, na questão que envolve a imparcialidade como o eixo norteador e condutor dos trabalhos do jornalismo. É neste sentido que as formas ideológicas agem de maneira, muitas vezes, silenciosa e difícil de identificar, conduzindo a produção jornalística, e sua respectiva parcialidade. Nessa direção, o fazer política está presente diariamente na rotina de trabalho do jornalista, mesmo que este se coloque como profissional apartidário. Ele não deixa de estar incluso no processo dialético que envolve as ramificações para se elaborar a informação jornalística. Portanto, impor ao jornalista o peso de mediador entre codificador da notícia e decodificador da mesma para a sociedade, ultrapassa a linearidade aparente desse processo, pois o jornalista terá uma percepção “cru” do fato que se transformará em matéria. Na mesma linha de pensamento, este olhar irá conduzilo a um viés fundamentado em seu repertório de mundo, o que implicará, no final deste andamento, num desfecho político-ideológico, no sentido abrangente deste termo. Eugênio Bucci ressalta que, “o jornalista não é escritor ou um artista entregue às suas idiossincrasias personalíssimas, não é uma ‘alma livre’ flanando na literatura sem nenhuma baliza que o enquadre. O jornalista é um trabalhador intelectual a serviço da democracia e do direito à informação”.1 A discussão da ideologia no cenário jornalístico é muito complexa quando este é visualizado em seu espaço mais amplo, que passa pela seleção da pauta e da sua relevância como interesse público, da escolha de fontes condizentes com o fato, do repertório do jornalista como já mencionado, do posicionamento do profissional na elaboração da notícia, que poderá ser complacente à linha editorial do veículo, da aprovação dos editores, chefes e outros cargos “superiores” na hierarquia empresarial e do espaço necessário no veículo para publicação, dependendo dos anúncios publicitários, além do item que merece destaque, que se baseia na concentração de jornalistas em lugares estratégicos, do ponto de vista econômico. Há o medo enraizado na sociedade e reforçado pela mídia que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) é o “mau”, composto de desordeiros, “vagabundos” e demais adjetivos negativos, que invade terras produtivas de pessoas justas e trabalhadoras, omitindo ao público receptor dessa mensagem a questão essencial que envolve essa problemática, a Reforma Agrária. A mídia neste fato, como explora Bernardo Kucinski, “opera principalmente reforçando crenças previamente existentes. Um exemplo menor mas típico desse processo foi a tentativa do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1997, de fazer dos esporádicos atos de violência dos sem-terra o tema central da agenda de discussão”.2 O governo, então, desvia da questão central que é a necessidade de se realizar a reforma agrária, utilizando o expediente de explorar “sentimentos latentes contra a violência”.3 A mídia conservadora aproveita do enraizamento cultural, sem nenhum compromisso com a complexidade das situações e conjunturas, para lançar novas idéias com fins privados ou mesmo reforçar as já impostas também como finalidade de apoiar as perspectivas e as projeções da elite brasileira, como é o caso da citação de Kucinski. 1 BUCCI Eugênio. Sobre ética e imprensa, p. 89. KUCINSKI Bernardo. A síndrome da antena parabólica; ética no jornalismo brasileiro, p. 23. 3 Ibid., p. 24. 2 Noam Chomsky4 afirma que a mídia mobiliza os interesses ideológicos dos que dominam o Estado e a atividade privada por meio do que ele chama de “filtros”. Ele cita cinco: 1. "Porte, propriedade e orientação para os lucros da mídia de massa", as mídias dominantes são grandes empresas, controladas por poderosos e abastados ou por gerentes que estão sujeitos a intervenções dos patrões ou de forças voltadas para o mercado e o lucro; e estão solidamente unidas por interesses em comum com outras grandes corporações, bancos e investidores. 2. "A licença da propaganda para fazer negócios”, os anunciantes escolhem criteriosamente os programas tomando por base seus princípios e evitam programas que possam interferir no "poder de compra" dos consumidores. Assim, muitas vezes, programas com bons conteúdos são excluídos da programação. 3. "Buscando fontes de notícias de mídia de massa", os MCM necessitam de notícias diárias, cumprem horários apertados e dificilmente têm jornalistas em diversos lugares onde fatos importantes podem acontecer. Percebendo isso, fontes do governo e das corporações se "esforçam" para tornar as coisas mais fáceis para a mídia, enviando discursos adiantados de conferências e reuniões, releases e pronunciamentos de acordo com o horário de fechamento dos jornais. Isto facilita para a mídia e em troca, as grandes entidades e o governo obtém acesso especial na mesma. 4. "A bateria de reações negativas e os fiscais de cumprimento", o autor usa do termo bateria de reações negativas para se referir as respostas negativas dadas a um programa ou declaração da mídia, com a finalidade de regulamentar ameaçando e ‘corrigindo’ a mídia, tentando conter qualquer desvio da linha estabelecida. O noticiário em si está projetado para produzir essa reação. 5. "Anticomunismo como mecanismo de controle", apesar de conhecermos a função real dos MCM, é notório que a mídia é manipulada pela classe dominante, se tornando um "sistema de mercado guiado" por governos, líderes de comunidades e acionistas destas mídias. Este último filtro aparece nas mais comuns das matérias veiculadas pelos meios de comunicação de massa criminalizando os movimentos sociais, como o exemplo do MST. 4 CHOMSKY Noam; HERMAN Edward S.. A manipulação do público. Nesse sentido o historiador René Dreifuss5 esclarece que essa mesma elite que influencia as idéias postas na mídia e transfere ao leitor a opinião ideológica da mesma é agregada ao poder estatal. Pois, segundo Dreifuss, o Estado é uma mera simbologia em que a elite o domina e o faz, no sentido de guiá-lo como um instrumento produtor de conceitos elitistas conservadores. Nesse contexto a mídia segue complacente ao quê a elite impõe. Na maioria das vezes o público consome a discussão que a revista oferece, muitos momentos se comportando como elemento acrítico diante do que lhe é apresentado e ainda incorpora comportamentos ou simplesmente aceita atribuições de algo que é uma mera simulação do real, deixando de contemplar as dimensões da complexidade do fato.6 Isso quando não deixa claro sua posição sobre alguma notícia ou personagem central de uma reportagem, como ocorre em muitas revistas e jornais atualmente. Realizando, subliminarmente, seus interesses editoriais conduzirem a informação ao leitor. É neste sentido que as análises das revistas selecionadas no presente projeto de estudo é relevante e necessário para a complementação de entendimento do marketing político do Lula em 2002. As revistas semanais e mensais emergem como importantes instrumentos ideológicos de concepções de mundo e de formulação de juízos de valores das minorias que detêm maior renda no Brasil. Nesse panorama da mídia atual, com a influência que as revistas selecionadas (pg 07) refletem na sociedade e mesmo na maioria da população (mesmo que de formas indiretas), surge uma discussão relevante e de interesse público: a disciplina de ser perceptível aos seus leitores e o estilo de delineamento que as revistas utilizam para instigar sua exploração ideológica. Logo, compreender o discurso e realizar uma análise minuciosa a cerca das exposições das revistas selecionadas sobre a candidatura do Lula é tentar colocar em pauta as ideologias formadoras de opinião que estes meios exercem sobre seus leitores. A relevância tem o reforço quando pensa-se nas conseqüências desse processo persuasivo, que é justamente o resultado das eleições para a presidência brasileira. Verificando se as revistas seguem o padrão de desenvolvimento de reportagens que o segmento do jornalismo propõe como pano de fundo para este gênero jornalístico, é estar dando abertura à possibilidade de averiguar o estilo de jornalismo que estas 5 6 DREIFUSS René. O jogo da direita Ibid., p. . revistas aplicam. E a partir disso clarear suas desenvolturas como papéis de mídias impressas. Analisar os fatos que antecederam as eleições de 2002 a partir do conteúdo publicado pelos periódicos CartaCapital, Primeira Leitura e Veja. CartaCapital - Setembro, Outubro e Novembro (tempo que antecedeu o segundo turno) de 2002. Primeira Leitura – Agosto, Setembro, Outubro e Novembro (tempo que antecedeu o segundo turno) de 2002. Veja – Setembro, Outubro e Novembro (tempo que antecedeu o segundo turno) de 2002. Primeiramente nas análises das revistas será descrito um breve histórico das mesmas, bem como, a apresentação do perfil do público leitor. As análises das edições mencionadas serão Título/Resumo/Análise analisadas do segundo texto/Análise critérios das metodológicos, Fotos – tais como: ilustrações – infográficos/Conclusão das análises da revista. Apenas serão analisadas reportagens, artigos, resenhas e demais matérias que envolvam o presidenciável Lula, com a finalidade de esboçar nas conclusões das análises das revistas o modo de pensar expresso na linha editorial dos veículos. Investigar se há intenções particulares no direcionamento das matérias analisadas das revistas, que talvez usem de articulações e posturas ideológicas, posicionando-se sobre o candidato em questão, o quê poderia vir a facilitar ou causar problemáticas no decorrer do marketing político do candidato Lula. Se as revistas em estudo aplicaram uma linha editorial particularista sem serem claras ao leitor, pode se observar quais foram os possíveis direcionamentos políticos que tiveram e um provável entendimento dos porquês. A par disso será importante constatar apoios midiáticos a candidatos à presidência e se o Lula beneficio-se de algumas dessas revistas, ou, simplesmente, obteve resistência. Além disso o projeto visa estudar detalhadamente, por meio das análises das ferramentas da propaganda, todo o processo de como é realizado o marketing político do Lula. Bem como quando investiga-se a maneira como se desenvolve esse processo do marketing verifica-se as mudanças e emblemáticas que cercam esse contexto de colaborar com a imagem “ideal” de um Lula aberto à mudanças de estigmas, que em geral foram prepostos por antigas eleições. Apurando as análises do caminho estratégico que o marketing político do candidato Lula alçou, é possível diagnosticar quais foram as mudanças e da maneira que se desenvolveram, a cerca da imagem deste presidenciável. Este balanço será de grande serventia para o estudo histórico do marketing político brasileiro das últimas eleições. Principalmente pelo fato que foi este candidato o eleito pela população brasileira nas eleições em destaque. A relevância de estudar esse processo de marketing é mais claro quando se tenta fragmentar a trajetória do marketing político brasileiro. Com a abertura política no Brasil em 1985, dos horários de propaganda eleitoral gratuita, em espaços reservados aos Tribunais Regionais Eleitorais pelas emissoras de rádio e TV, as campanhas políticas tiveram um novo olhar sobre suas estratégias de campanhas. A partir daí a mídia ocupa o pólo central de formação eleitoral, decorrente de articuladas idéias de profissionais da área do marketing político que se desenvolveram em torno da ação da abertura política, que se fez mais notadamente nos anos 90. Logo após a abertura política, no final da ditadura, na eleição direta para presidente em 1989, em que Collor de Melo se elegeu, o Brasil presenciou quais eram as características valorizadas para o futuro “regente” do país. Com isso o eixo do marketing político soube se incorporar desses juízos de valores e praticar as estratégias segundo pesquisas de campo com a população para saber qual era a preferência dos eleitores e o porquê. Diante disso, uma proposta do projeto é reviver o percurso estabelecido durante o processo eleitoral do candidato Lula (2002) à presidência da República, através das peças publicitárias, procurando observar os recursos utilizados na construção de sua imagem, visando agarrar o voto do eleitor. E que para tanto a presença das técnicas e procedimentos do marketing político são imprescindíveis, segundo Rubens Figueiredo o objetivo, “(...) é avaliar, através de pesquisas qualitativas e quantitativas, os humores do eleitorado para, a partir daí, encontrar o melhor caminho para que o candidato atinja a maior votação possível. A seqüência é a seguinte: análise do clima de opinião, do quadro político e dos adversários; planejamento e realização das pesquisas; análise das pesquisas e elaboração da estratégia, com a definição dos melhores meios de comunicação para se atingir os fins desejáveis; e novas pesquisas para aferir a eficácia do caminho escolhido e, se necessário, corrigir os rumos anteriormente traçados”.7 Neste mesmo cenário há a posição dos veículos de comunicação, para tanto no processo eleitoral a ação do jornalismo ganha grande destaque, para o sociólogo Francisco de Oliveira, os antigos meios de comunicação dos políticos com eleitores eram os comícios. “(..) Hoje o comício é feito mais como um caráter simbólico no fim de cada campanha. Então tudo o que você sabe sobre a política, sobre os políticos é feito pela imprensa, e a influência dela é enorme”. 8 Mino Carta, atual proprietário e diretor de redação da revista CartaCapital, comenta que essa emblemática de um veículo de comunicação apoiar abertamente um presidenciável, como foi o caso deste periódico que se colocou a favor do Lula, fica mais claro e aceitável, 7 “(...) a gente não enxergava nenhuma razão para não tomar partido, ser fiel a isso é uma linha, uma conduta perfeitamente aceitável, mas no Brasil isso não existe, nós sabemos como as coisas caminham no País. Um bando de hipócritas que nos dizem não. Por isso declaramos abertamente, diga-se que o Estadão também tomou partido abertamente, optaram pela candidatura Serra contra o candidato Lula, já nós fizemos o contrário, mas acho que esse tipo de postura é correta, tão correto quanto dizer não vou me envolver, mas aí tem que fazer jus a esta definição. Mostrar que ela é autêntica”. 9 7 FIGUEIREDO, Rubens. Marketing Político e Persuasão eleitoral. Editora Konrad Adenauer, 2000. Pg 14. 8 Entrevista em vídeo com Francisco de Oliveira. Data: Outubro/2003. 9 Entrevista em vídeo com Mino Carta. Data: Outubro/2003. Por meio da mixagem entre as conclusões das análises das revistas CartaCapital, Primeira Leitura e Veja e do estudo das peças publicitárias do processo do marketing político do Lula será possível compreender, com maior autoridade, a desenvoltura que se deu do próprio marketing político do candidato em questão. Além de diagnosticar quais desses periódicos contribuíram com sua popularidade e os porquês deste interesse, ou em detrimento disto, salientar quais revistas visaram justamente a negação da popularidade do Lula e suas respectivas intenções. Referências Bibliográficas BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São Paulo: Schwarcz, 2000. KUCINSKI, Bernardo. A Síndrome da Antena Parabólica – ética no jornalismo brasileiro. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998. RAMONET, Ignacio. Propagandas Silenciosas: Massas, Televisão, Cinema. Petrópolis – RJ: Vozes, 2002. ERBOLATO, Mário. Técnicas de Codificação em Jornalismo - Redação, Captação e Edição no Jornalismo. Ática, 1991. FIGUEIREDO, Rubens. Marketing Político e Persuasão Eleitoral. Fundação Konrad Adenauer, 2000. DREIFUSS, René. O jogo da Direita. Petrópolis – RJ: Vozes, 1989. HERMAN. E; CHOMSKY, NOAM; tradução Bazán tecnologia e Lingüística. A Manipulação do Público. São Paulo: Editora Futura, 2003. Entrevistas Entrevista em vídeo com Francisco de Oliveira. Data: Outubro/2003. Realização Ingrid Gomes. Entrevista em vídeo com Mino Carta. Data: Outubro/2003. Realização Ingrid Gomes.