Publicado em 26/03/2010 às 16h01: (R7.com) Escândalos em estudos sobre aquecimento global envolvem só detalhes, diz defensor da Amazônia Thomas Lovejoy defende que líderes trabalhem para limitar aumento da temperatura a 1,5ºC Felipe Maia, enviado do R7 a Manaus Texto: Foto por Stockbyte/Getty Images Lovejoy diz que, além de cortar emissões de CO2, é preciso diminuir o desmatamento na Amazônia (foto), para conter o aquecimento global Os recentes escândalos envolvendo pesquisas sobre o aquecimento global, que fizeram com que o trabalho de instituições renomadas fosse colocado em dúvida, envolvem apenas "detalhes" do processo e não afetam a principal conclusão dessas pesquisas: o homem precisa fazer algo para deter a mudança climática. A afirmação é de Tomas Lovejoy, biólogo americano e estudioso do clima que, há 40 anos, trabalha pela conservação da Amazônia. O pesquisador participa nesta sextafeira (26) do Fórum Internacional de Sustentabilidade, que acontece em Manaus. Recentemente, as pesquisas sobre o clima passaram por ao menos dois baques. No ano passado, estourou o chamado "climagate", em que especialistas são acusados de manipular dados sobre o assunto. Computadores da Universidade East Anglia, no Reino Unido, um dos centros de maior prestígio internacional em pesquisas sobre o clima, foram invadidos e mais de mil e-mails e 3.000 documentos trocados entre cientistas do clima foram roubados. O material, que revelaria uma suposta manipulação de dados para reforçar a tese do aquecimento global, está sendo usado por críticos para alertar que a necessidade de corte de emissões de CO2 (gás carbônico) não passaria de uma farsa planetária. No começo deste mês, a ONU (Organização das Nações Unidas) anunciou que uma comissão independente iria rever estudos sobre o assunto, depois que foram identificados erros em relatórios feitos pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), vinculado ao órgão. Em janeiro, o IPCC admitiu um equívoco erro ao afirmar, em seu último boletim (de 2007), que as geleiras do Himalaia se derretiam mais rápido do que as outras do mundo e poderiam "desaparecer até 2035, ou antes disso". O órgão admitiu que a previsão estava errada. Mas, para Lovejoy, esses problemas não devem fazer com que as pessoas duvidem do aquecimento global. - São apenas erros de detalhes. Não afetam as principais conclusões que temos obtido durante todo esse tempo. Quem duvida do que temos descoberto até agora são pessoas que não compreendem, ou não querem compreender, todo o processo. O pesquisador, que é presidente do Centro Heinz de Ciências, Economia e Meio Ambiente, em Washington, nos Estados Unidos, e já foi conselheiro do Banco Mundial, também pediu que os países sejam mais agressivos na tentativa de conter a mudança do clima. Enquanto os líderes mundiais ainda sofrem para chegar a um acordo, com medidas que limitem o aumento da temperatura em 2oC até o fim deste século (acima desse nível as consequências podem ser irreversíveis), Lovejoy diz que o ideal é que a marcação nos termômetros não cresça mais que 1,5oC. Apesar disso, ele considera que atingir esse índice é "muito difícil". - É algo que não vamos conseguir resolver sem a participação dos governos, da população e das empresas, que têm um papel-chave nisso. O mundo precisa ver esse desafio como uma oportunidade, como um modo de usar a criatividade. Não é o fim do mundo, mas pode ser. Além de cortar as emissões de CO2 por combustíveis fósseis, por exemplo, para deter o processo é preciso conter o desmatamento, que também contribui para o aquecimento global. Para especialistas, o desmatamento representa cerca de 20% das emissões de gás carbônico. O pesquisador defendeu a criação de unidades de conservação na Amazônia que ajudem a reduzir o desmatamento, mas também incluam a comunidade. Ele defendeu, por exemplo, o uso de mecanismos como o Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), que já existem no Amazonas. Nesse tipo de projeto, os donos de terras são recompensados pelas porções de floresta que conseguem preservar.