Cepea analisa impacto do milho geneticamente modificado

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DEPARTAMENTO DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO • ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA "LUIZ DE QUEIROZ"
Piracicaba, 07 de abril de 2009
CEPEA ANALISA IMPACTO DO MILHO GENETICAMENTE MODIFICADO
Conclusões apontam para boa aceitação dos principais segmentos consumidores; alimentação
humana manifesta cautela sobre assunto
A safra 2008/09 será a primeira do Brasil que conterá, pelo menos legalmente, parte da sua
produção originária de sementes geneticamente modificadas (GM). Pesquisadores do Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, analisaram os impactos potenciais
desta nova tecnologia no mercado e concluíram que a introdução do milho geneticamente modificado
no País pode ocorrer de forma tranqüila nos principais segmentos consumidores, a exemplo do que
aconteceu com a soja. Para os pesquisadores que conduziram o estudo, Joaquim Bento de Souza
Ferreira Filho e Lucilio Rogerio Alves, ambos professores da Esalq/USP, os benefícios aos produtores
é que determinarão a velocidade da difusão desta nova tecnologia.
A pesquisa é fundamentada no estudo das legislações vigentes em países importadores do grão
e de carnes brasileiros e em levantamentos junto a agentes dos principais segmentos consumidores de
milho no Brasil. Foi de grande importância também a análise da reação, em especial do segmento de
rações para animais, à soja GM introduzida no mercado brasileiro no final da década de 1990.
Com base neste histórico, em especial, os autores acreditam ser pouco provável que haja
resistência por parte dos consumidores brasileiros e, consequentemente das redes de comércio varejista
e processadores de alimentos em relação à adoção do milho GM. Essa impressão foi confirmada
através dos contatos que o Cepea mantém com os agentes da cadeia de comercialização. Ao
desenvolver esta pesquisa, um dos objetivos foi exatamente conhecer eventuais implicações sobre o
Indicador de Preço do Milho ESALQ/BM&F elaborado diariamente pelo Cepea e usado como
referência para o mercado futuro do grão no Brasil.
Segundo o estudo, o segmento agroindustrial do milho ligado à alimentação humana é aquele
que parece ser mais sensível à introdução da nova tecnologia e tem manifestado cautela com relação
ao assunto. Este segmento, contudo, pelas suas características e menor volume de milho utilizado, teria
condições de praticar a segregação do produto se necessário para clientes dispostos a pagar um prêmio
de preço para produtos com garantia de ser não GM, destacam os autores.
Quanto ao impacto potencial nas exportações brasileiras de milho e carnes, que tem sido
crescentes, a análise dos principais mercados para os quais o Brasil exporta mostra que também não
deve haver problemas. Em primeiro lugar, destacam os pesquisadores, a maioria dos países
importadores de milho do Brasil em 2007 (Irã, Coréia do Sul, Espanha), por exemplo, também importa
milho e/ou soja dos Estados Unidos, onde a utilização da tecnologia GM já é antiga, ou produz milho
ou outros produtos GM, como é o caso da Espanha. O Irã, além disso, possui um ativo programa de
pesquisas e já utiliza largamente o arroz GM. Estes países, portanto, já dispõem de legislação e aparato
institucional para lidar com esta nova tecnologia.
No caso das exportações brasileiras de carnes, Joaquim Bento Ferreira e Lucilio Alves
observam que não há, nos países importadores, legislação que obrigue a rotular carnes de animais que
tenham sido alimentados com produtos GM, mesmo porque não haveria como identificar na carne a
utilização de produtos GM na alimentação.
Os pesquisadores ressaltam que, em nível mundial, ainda está em discussão a obrigatoriedade
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de os países segregarem e identificarem as cargas transgênicas no comércio internacional e ainda não
há consenso a respeito da forma de rotulagem de produtos destinados aos consumidores. Na prática,
destacam, é o cliente comprador (importador) quem determina o percentual máximo aceitável (nível
de tolerância) de material transgênico no carregamento, quando é o caso. Além disso, o cliente pode
estabelecer a necessidade de segregação, rastreabilidade e preservação de identidade dos produtos
adquiridos, desde que esteja disposto a pagar pelos custos adicionais associados, comentam.
CONSUMO INTERNO DE MILHO - Com base em informações da Associação Brasileira das
Indústrias do Milho (Abimilho), os pesquisadores apontam que cerca de 80% de todo o milho
produzido no Brasil foi consumido sob a forma de ração nos últimos anos, com pouco mais de 10% da
produção total sendo destinada para uso industrial e para consumo humano direto, proporção que
segue estável desde o início da década de 80.
Mais da metade do milho destinado à alimentação animal vai para a criação de suínos e aves,
que representam cerca de 30% da disponibilidade total de carnes no País. No período de 2001/02 a
2005/06, a avicultura consumiu, em média, 55% do total de milho destinado à alimentação animal,
enquanto a suinocultura 37,1% e a pecuária bovina mais os outros animais apenas 9,3%.
A resposta do segmento produtor de rações para animais à introdução do milho GM é,
portanto, determinante para a cadeia do produto no Brasil, enfatizam os professores. Eles reiteram que
esse segmento tem experiência na utilização de soja GM para a produção de ração e que não houve,
desde a introdução da soja GM no final da década de 1990 no Brasil, qualquer reação ao seu uso para
ração animal, tanto por parte da indústria quanto por parte dos consumidores. Ao contrário, destacam.
O consumo “per capita” de carne de frango, um dos principais setores consumidores de rações, estaria
aumentando desde então.
Os pesquisadores do Cepea explicam que, uma vez que não é adotado um sistema de
segregação ou identidade preservada no País, não há garantia de que esses alimentos tenham sido
produzidos com soja livre de modificação genética, principalmente considerando-se o aumento da área
plantada com soja GM no Brasil. Segundo o Serviço Internacional para o Uso de Agrobiotecnologia
(ISAAA - International Service for the Acquisition of Agri-biotch Aplications), a área com soja GM
no Brasil passou de 5 milhões de hectares em 2004 para 14,5 milhões em 2007.
Outras informações podem ser obtidas com os professores responsáveis pela pesquisa, Joaquim Bento
de Souza Ferreira Filho e Lucilio Rogerio Alves, através do Laboratório de Informação do Cepea: 193429-8837 ou [email protected] Sobre o Indicador do Milho: www.cepea.esalq.usp.br/milho/
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