1 VERIFICAÇÃO DAS TRAJETÓRIAS DAS PARCELAS DE AR PELO MODELO HYSPLIT NO CASO DE CCM EM MACEIÓ - ALAGOAS Natalia Fedorova1, Simon O. Krichak 2, Vladimir Levit3 , Maria Helena de Carvalho4, Luiz Ricardo Lage Rodrigues5. ABSTRACT. A wave disturbance in the field of the trade winds with a mesoscale convective complex (MCC) caused the very intense precipitation observed on 12 July 2002, in Alagoas State. The structure and the causes of the formation of this system were analysed with the use of the trajectories of the air parcels until 48 hours in advance, which were calculated by the HYSPLIT model. The forecasted vertical profiles were compared with the real vertical profiles and with the radiosonde data, using instability indexes and the convective available potential energy (CAPE). The associated synoptic systems were analysed using satellite images and the streamlines fields from NCEP model. A weak trough at low levels and a more intensive trough above 500h Pa were associated with the MCC. The possibility of the oceanic flow influence was excluded. Using the forecasted profile it was possible to elaborate the forecast of the strong convection development with 12 and 24 hours in advance. The vertical distribution of the thermal advection with warm advection at low levels and cold advection at 500 hPa was identified as the principal process of the instability development. The air parcels trajectories helped to identify the thermal waves which were responsible for the thermal advection. Key-words: HYSPLIT model, wave disturbance, forecast. RESUMO. Uma perturbação ondulatória nos ventos Alísios com desenvolvimento de um complexo convectivo de mesoescala (CCM) provocou precipitações muito intensas no dia 12 de junho de 2002 no Estado de Alagoas. A estrutura e as causas de formação deste sistema foram avaliadas utilizando-se trajetórias de parcelas de ar com até 48 horas de antecedência, calculadas pelo modelo HYSPLIT. Os perfis verticais previstos foram comparados com os perfis verticais reais e as radiossondagens, utilizando índices de instabilidade e a CAPE. Os sistemas sinóticos associados Profa. do Departamento de Meteorologia da UFAL. Fone: 214 – 1365. E-mail: [email protected], Campus A. C. Simões, BR 104 – Norte, km 97, Tabuleiro dos Martins, CEP 57072-970, Maceió, AL. Fone: (0xx82) 214 – 1365. 2 Dr., Senior Research Scientist, Dept. of Geophysics and Planetary Sciences, Tel Aviv University, Ramat Aviv, Tel Aviv 69978, ISRAEL, Phone:(972) 3-6405694 (972) 3-9622091(h), Fax:(972) 3-6409282, E-mail: "S.O. Krichak" <[email protected]> 1 Prof. do Departamento de Meteorologia da UFAL. Fone: 214 – 1365. E-mail: [email protected], Campus A. C. Simões, BR 104 – Norte, km 97, Tabuleiro dos Martins, CEP 57072-970, Maceió, AL. Fone: (0xx82) 214 – 1365. 4 Profa. do Departamento de Meteorologia da UFPel. Fone: 214 – 1365. E-mail: [email protected]. 5 Aluno do Departamento de Meteorologia da UFAL. Fone: 214 – 1365. E-mail: [email protected], Campus A. C. Simões, BR 104 – Norte, km 97, Tabuleiro dos Martins, CEP 57072-970, Maceió, AL. Fone: (0xx82) 214 – 1365. 3 2 foram avaliados usando-se imagens de satélite e mapas de linhas de corrente do modelo NCEP. Um cavado fraco em baixos níveis e outro mais intenso no nível de 500 hPa e acima foi associado com o CCM. A possibilidade de influência das correntes oceânicas foi excluída. Utilizando-se os perfis previstos foi possível elaborar a previsão de desenvolvimento de convecção severa com 12 e 24 horas de antecedência. A distribuição vertical de advecção de temperatura com advecção quente em baixos níveis e advecção fria em 500 hPa foi identificada como o processo principal no desenvolvimento da instabilidade. As trajetórias de parcelas de ar ajudaram a identificar as ondas térmicas responsáveis pela advecção da temperatura. Palavras -chave: modelo HYSPLIT, perturbação ondulatória, previsão. INTRODUÇÃO Os principais sistemas sinóticos, os quais determinam diretamente o tempo no nordeste do Brasil são: Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) (Xavier et al. 2000); Ondas de Leste (Silvestre, 1996; Gandu, 1996; Ferreira et al, 1990); Anticiclone Subtropical (Lima, Satyamurty, 1992); Vórtices Ciclônicos dos Altos Níveis – VCAN (Kousky e Gan, 1981; Rao e Bonatti, 1987; Ramirez et. al., 1999); Zonas Frontais (Parmenter, 1976; Kousky, 1979; Oliveira, 1986), Ventos Alísios e Perturbações Ondulatórias no Campo dos Alísios (POA) (Machado, 1995; Molion e Bernardo, 2000; Silva, 2002). A carência de estudos sobre as POA não permite avaliar objetivamente as causas da formação, desenvolvimento e fenômenos associados com estes sistemas no NEB. Um evento de POA teve início com a passagem de uma zona frontal em direção à África, a qual perturbou o campo dos alísios (SILVA, 2002). Esta POA deslocou-se rapidamente de leste/sudeste para a costa do NEB. Posteriormente, a confluência do que restou da mesma zona frontal com a POA provocou a convergência de umidade e o desenvolvimento do CCM. Os fenômenos adversos, associados com CCM, tais como, chuvas, aguaceiros, trovoadas, deslizamento de terra e alagamento de regiões, provocam muitos problemas no setor civil do Nordeste Brasileiro (NEB). As perdas de vidas humanas nestas tragédias mostram a necessidade de desenvolvimento de estudos nesta área. O objetivo do presente trabalho é verificar a estrutura e as causas de formação de uma POA com CCM, o qual provocou precipitações muito intensas (até 75,8 mm/24h) no dia 12 de junho de 2002 em Maceió, Estado de Alagoas, além de avaliar o funcionamento das trajetórias de parcelas de ar calculadas pelo modelo MM5. 3 METODOLOGIA E DADOS A metodologia inclui a análise sinótica dos resultados de modelos numéricos, de imagens de satélites e de dados meteorológicos convencionais, no caso do desenvolvimento de um CCM na cidade de Maceió, Estado de Alagoas, no dia 12 de junho de 2002. Para este dia e também para os dois dias anteriores ao evento, foram elaborados os seguintes bancos de dados e foram feitos os seguintes os processamentos, os quais são descritos na seqüência. 1. Foram calculadas as trajetórias das parcelas de ar chegadas em Maceió no dia 12 de junho de 2002, 12 UTC, utilizando o modelo HYSPLIT (HYbrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory; Draxler and Rolph, 2003; Rolph, 2003), rodado no Department of Geophysics and Planetary Sciences, Tel Aviv University. Neste modelo os cálculos da advecção e da difusão são realizados com base em um sistema lagrangiano. A coordenada vertical sigma foi adaptada. As trajetórias foram calculadas baseadas nos dados dos arquivos de reanálise NCAR/NCEP (NNRP), utilizando as velocidades verticais produzidas pelo modelo. Estas trajetórias foram elaboradas nos níveis de 1500, 3000, 5000 e 10000 m com 12, 24, 36 e 48 horas de antecedência. Elas foram utilizadas para identificar os pontos iniciais (latitude, longitude e altura) das trajetórias das parcelas de ar. 2. Foram elaborados os perfis verticais de temperatura (T) e de ponto de orvalho (Td) pelos dados de análise do modelo NCEP (http://www.navy.ncdc.noaa.gov/) nos pontos iniciais das trajetórias das parcelas de ar, encontrados pelos dados de latitude e longitude. Destes perfis foram tirados os dados de temperatura e de ponto de orvalho na altura do ponto inicial da trajetória. 3. Foram construídos os perfis verticais de T e Td previstos, para o ponto final da trajetória, ou seja, para a cidade de Maceió (latitude de 09º 31´S e 35º 47´W) com 12, 24, 36 e 48 horas de antecedência, utilizando os resultados de T e Td nos pontos iniciais (item anterior) das trajetórias das parcelas de ar e inseridos nas alturas dos pontos finais das trajetórias. 4. Foram comparados os perfis verticais previstos com os perfis verticais para o ponto com as coordenadas de Maceió (chamados perfis reais), obtidos novamente de dados de análise do modelo NCEP (citados em 2). Esta comparação foi feita com os dados de análise do modelo devido à ausência de radiossondagem em Maceió. 5. Foram comparados os perfis verticais previstos com as radiossondagens das cidades de Recife e Salvador. Estas cidades foram escolhidas por serem as únicas mais próximas com dados reais disponíveis sobre a estrutura vertical da atmosfera. Para as comparações dos perfis verticais (descritos em 4 e 5) foram utilizados os índices de instabilidade, tais como, K-Index (K), Total Totals (TT) e Lifted Index (LI), e, também, foi 4 calculada a energia potencial de convecção ou energia de instabilidade (CAPE, convective available potential energy) (Djuric, 1995 e Vasquez, 1994). A análise da situação sinótica foi feita usando-se imagens de satélite, mapas de linhas de corrente e de movimentos verticais, nos níveis de 925, 500 e 200hPa. Estes mapas de linhas de corrente foram construídos com dados do modelo do NCEP (operado no USA). Para visualização dos dados foi utilizado o software Grid Analysis and Display System (GrADS). As imagens dos satélites GOES e METEOSAT no canal infravermelho (a cada 3 horas) e do vapor d´ água (a cada 12 horas), para todo o período de análise, foram obtidos da página CPTEC/INPE (http://www.cptec.inpe.br). A análise das condições térmicas do Oceano Atlântico adjacente foi feita pela análise da anomalia média semanal da temperatura potencial (Ap) relativa aos dados climatológicos dos anos de 1998 até 2001. Estes dados foram obtidos no European Centre for Medium-Range Weather Forecasts ( http://www.ecmwf.int/). Foram utilizadas as seções meridionais desta anomalia ao longo da longitude de 30,2o W e da superfície até 300 m de profundidade. Além disso, foi estudada a distribuição horizontal de anomalia média semanal de temperatura da água na profundidade de 0,05 m. Todos estes dados foram analisados durante as três semanas anteriores ao evento. Os dados das precipitações diárias (desde as 7horas local até 7horas) em todas as estações do Estado de Alagoas foram obtidos pelo DHM-SERHI/AL. Foram calculados os valores médios das precipitações por região ambiental. O estado de Alagoas está dividido em seis regiões ambientais: Litoral, Zona da Mata, Agreste, Sertão, Sertão do São Francisco e Baixo São Francisco. Na região Leste encontra-se a Zona da Mata e o Litoral. Na região Oeste, encontra-se o Sertão e o Sertão do São Francisco; na região Sul, o Baixo São Francisco. A região Agreste é considerada uma região de transição. Dados meteorológicos convencionais horários foram fornecidos pela divisão de Meteorologia Aeronáutica do Aeroporto Zumbi dos Palmares (09°31'S, 30°47'W e Alt. 117m). Os valores de T e Td no Aeroporto foram utilizados para completar os perfis verticais previstos. Utilizar estes valores observados e não previstos foi possível devido à pouca variação da temperatura dia a dia. RESULTADOS Sistemas sinóticos atuantes do NEB nos dias de 10 a 12 de junho de 2002 As imagens de satélite nos canais infravermelho e vapor d´água (Figura 1) mostram próximo do NEB a existência de um aglomerado de nuvens convectivas com dimensões maiores do que 200km, de forma redonda e com temperaturas no topo muito baixas, ou seja, um complexo 5 convectivo de mesoescala (CCM), de acordo com a classificação da Organização Meteorológica Mundial OMM (Veltishev, 1990). Este CCM foi formado na periferia noroeste do anticiclone subtropical com centro sobre o sul do oceano Atlântico (Figura 2). Este anticiclone estava profundo, atingiu os níveis médios e o eixo dele estava inclinado para leste (o mapa não está apresentado). As linhas de corrente em níveis baixos e médios nas proximidades do NEB estavam quase retas às 00 UTC, ou seja, não foram observadas perturbações ondulatórios nos alísios. A perturbação apareceu mais tarde e no mapa das 12 UTC foi notada pela curvatura ciclônica dos alísios. Estas perturbações foram mencionadas como produtoras de precipitações muito intensas em alguns casos; por exemplo, como citado em Silva (2002), quando uma curvatura ciclônica dos alísios em baixos níveis e uma circulação anticiclônica acima de 500 hPa provocaram movimentos verticais muito intensos. Uma circulação parecida com o caso de Silva, foi vista no início deste período em estudo, no dia 10, com curvatura ciclônica dos alísios em baixos níveis e com uma corrente de ar vinda do hemisfério Norte da África com curvatura anticiclônica acima de 500hPa (Figura 3). Mas neste dia o CCM não se desenvolveu. a) b) Figura 1- Fragmentos de imagens do satélite GOES-8, para o dia 12 de junho de 2002, 12 UTC, nos canais IR-4 (a) e WV-3 (b). FONTE: CPTEC/INPE Os dados citados no item acima permitem também concluir que o CCM estava localizado a uma distância significativa de sistemas de grande escala, tais como uma frente fria no sul do Brasil e a ZCIT ao longo de, aproximadamente, 7oN (Figuras 1 e 2). 6 a) b) Figura 2- Mapas de linhas de corrente no nível de 925 hPa, para o dia 12 de junho de 2002, 00 UTC (a) e 12 UTC (b). FONTE: NCEP Entre os processos importantes da circulação em altos níveis é necessário citar, também, um VCAN, o qual foi visto somente no dia 10 sobre o oceano (figura 4b); no dia seguinte, existia somente um cavado muito fraco nas proximidades do NEB. a) b) Figura 3- Mapas de linhas de corrente para o dia 10 de junho de 2002, 12 UTC, nos níveis de 925 hPa (a) e 200 hPa (b). FONTE: NCEP No dia 12, o dia do evento, em altos níveis sobre o Oceano Atlântico foi observada uma região de divergência ao longo de, aproximadamente, 5oS (Figura 4). Esta divergência também estava associada com a circulação anticiclônica nesta latitude no centro do oceano Atlântico. Sobre o NEB na parte oeste desta região com divergência, foi observado um cavado. Este cavado já havia sido citado no dia anterior, como o que restou do VCAN, nas proximidades do NEB. No dia 12 este cavado intensificou-se e estava ligado com a divergência no Oceano e com a Alta da Bolívia (AB). A AB tinha no dia 12, às 00 UTC uma posição a leste da sua posição climatológica, com centro sobre o norte de Goiás (Figura 4a) e às 12 UTC, este centro enfraqueceu-se consideravelmente (Figura 4b). 7 b) a) Figura 4- Mapas de linhas de corrente no nível de 200 hPa para o dia 12 de junho de 2002, 00 UTC (a) e 12 UTC (b). FONTE: NCEP O deslocamento do cavado no nível de 500hPa, de leste para oeste, foi observado durante os dias 10, 11 e 12 (Figura 5). O eixo do cavado passou por Maceió no dia 11 de manhã; no dia 12 a retaguarda do cavado entrou no continente e na tarde do dia 12 enfraqueceu-se. 10/06 00UTC 10/06 12UTC 11/06 00UTC 11/06 12UTC 12/06 00UTC 12/06 12UTC Figura 5- Mapas de linhas de corrente nos dias 10, 11 e 12 de junho de 2002, 00 e 12 UTC no nível de 500hPa. FONTE: NCEP Formação do CCM nas imagens de satélite A formação do CCM foi observada nas imagens de satélite durante os dias 10, 11 e 12 de junho. No dia 10 foi vista a nebulosidade da ZCIT ao longo da latitude de, aproximadamente, 7 oN (Figura 6a). Esta nebulosidade coincidiu com a região de convergência das linhas de corrente em baixos níveis (figura 3a). Esta parte da ZCIT foi identificada quase no mesmo lugar durante todo o dia e somente a intensidade da nebulosidade enfraqueceu um pouco (Figuras 6a, b, c e d). Além disso, durante este dia foi vista a intensificação da convecção ao sul da ZCIT no Maranhão, próximo da costa e no Oceano Atlântico, próximo da costa do Ceará. 8 a) b) c) d) Figura 6- Fragmentos de imagens do satélite GOES-8 no canal IR, para o dia 10 de junho de 2002: (a) 00UTC, (b) 06UTC, (c)12 UTC e (d)18 UTC. FONTE: CPTEC/INPE No dia 11, às 00 UTC (Figura 7a) apareceu uma linha convectiva, a qual partia da ZCIT em direção ao sul, no Oceano Atlântico, e esta linha atingiu a latitude do estado de Pernambuco. Às 06 UTC neste dia esta linha estava mais larga e na extremidade sul desta linha foi formado um núcleo mais intenso (Figura 7b). Às 12 UTC este núcleo foi visto perto da costa da Paraíba e, ao mesmo tempo, a linha convectiva enfraqueceu (Figura 7c). Às 18 UTC deste dia o núcleo enfraqueceu e começou se formar uma linha convectiva ao sul deste núcleo. Às 21 UTC esta nova linha convectiva estava no Oceano, próximo de Alagoas (Figura 7d). Em geral, neste dia foi observada uma intensificação da convecção nas regiões ao sul da ZCIT, mais ao sul do que no dia anterior e estas regiões coincidem com a corrente de ar de norte e nordeste na atmosfera média (500 hPa, figura 5). Além disso, durante este dia, a nebulosidade da ZCIT enfraqueceu consideravelmente. a) b) c) d) Figura 7- Fragmentos de imagens do satélite GOES-8 no canal IR para o dia 11 de junho de 2002: (a) 00 UTC, (b) 06 UTC, (c)12 UTC e (d) 21 UTC. FONTE: CPTEC/INPE 9 No dia 12, às 00UTC, a linha convectiva vista no Oceano próximo de Alagoas no dia 11, às 21 UTC, deslocou-se na direção da costa e se intensificou (Figura 8a). Às 03 UTC esta linha convectiva adquiriu uma forma mais redonda e atingiu a parte norte de Alagoas, ou seja, desde esta hora este sistema tinha as características de um CCM (Figura 8b). Durante as 6 horas posteriores, o CCM entrou e cobriu quase todo o Estado; as suas dimensões aumentaram; o centro do CCM estava no nordeste de Alagoas e sudeste de Pernambuco (Figura 8c e d). Às 15 UTC o CCM começou a enfraquecer e deslocar-se para norte (Figura 8e e f). a) b) c) d) e) f) Figura 8 - Fragmentos de imagens do satélite GOES-8 no canal IR para o dia 12 de junho de 2002: (a) 00 UTC, (b) 03 UTC, (c) 06 UTC, (d) 12 UTC, (e) 15 UTC e (f) 21 UTC. FONTE: CPTEC/INPE Trajetórias das parcelas de ar pelo modelo MM5 As trajetórias em baixos níveis (aproximadamente 1500m) com até 48 horas de antecedência foram de leste, leste-sudeste e mostraram evidentemente a prevalência das correntes dos alísios, ligados com o anticiclone subtropical sobre o Oceano (Figura 9a). Estas trajetórias foram quase horizontais com variação vertical de até 100m; somente a trajetória para 48h mostrou uma subsidência fraca (280m). Esta influência dos alísios foi vista, também, no nível de, aproximadamente, 3000m; as trajetórias foram de leste e ascendentes com maior variação de altura 10 entre o começo e o fim da trajetória, de 570m para a trajetória de 36 horas de antecedência (Figura 9b). Acima, na altura de, aproximadamente, 5000m e 9000m as trajetórias viraram para norte e foram de noroeste, durante todo o período de análise (Figuras 9c e 9d). Estas trajetórias mostram a influência do cavado no nível de 500hPa, já descrito anteriormente. Todas as trajetórias nestes níveis mostram um levantamento de ar, o qual atingiu 1220 m na altura de, aproximadamente, 5000 m para a trajetória de 48 horas de antecedência. Na altura de 9000 m, foi observado um levantamento de 2220 m e esta subida iniciou-se às 00 UTC do dia 11. a) b) c) d) Figura 9- Trajetórias de parcelas de ar com 48 horas de antecedência no plano horizontal e vertical nas alturas de, aproximadamente, 9000m (a), 5000m (b), 3000m (c) e 1500m (d). 11 Estrutura da atmosfera em Maceió pelos perfis verticais previstos Os perfis verticais de T e Td previstos para o ponto final da trajetória, ou seja, para a cidade de Maceió estão apresentados na figura 10. A CAPE positiva prevista com 12h de antecedência mostra valores extremamente altos (1137 J/Kg) e a camada com esta CAPE é muita profunda; localiza-se em toda a troposfera e penetra acima de 250hPa (Tabela 1). A previsão com 24h de antecedência mostra valores menores de CAPE (482 J/Kg); a camada com CAPE positiva atinge a altura 340hPa e, além disto, este perfil apresentou possibilidade de desenvolvimento de convecção profunda. O perfil previsto com 36 horas de antecedência mostra um valor de CAPE menor ainda e diminuiu o nível de convecção (o topo da CAPE positiva) para 420hPa, ou seja, por este perfil é impossível fazer-se previsão de desenvolvimento de convecção intensa. Pela previsão com 48h de antecedência o topo da CAPE positiva é mais baixo ainda, ou seja, 560hPa. 12h 24h 48h 36h Figura 10 - Perfis verticais previstos para a cidade de Maceió com 12h, 24h, 36h e 48h de antecedência Todos os índices de instabilidade (K, TT e LI), calculados pelos perfis verticais previstos com diferentes antecedências, indicam que, com a diminuição do tempo de previsão, o perfil previsto mostra uma atmosfera mais instável (Tabela 1). Entretanto, os índices K e TT, com interpretações de Djuric (1995) e Vasquez (1994) apresentaram valores bastante pequenos e não indicaram aguaceiros. Utilizando o LI (com interpretação de Djuric), estes perfis indicaram aguaceiros com 12, 24 e 36h de antecedência. Tabela 1 - Índices de instabilidade (K, TT e LI) e CAPE positiva (J/Kg) calculados pelos perfis verticais previstos com as antecedências 12, 24, 36 e 48 horas. 12h 24h 36h 48h K 29 26 22 21 TT 37 31 24 20 LI -4,5 -3,5 -2,0 0,5 CAPE 1137 482 332 288 12 Estrutura da atmosfera pelos perfis verticais reais O perfil vertical para Maceió no dia 10 mostrou uma camada de ar úmido entre os níveis de 925 e 850hPa e outra camada em altos níveis, acima de 200 hPa (figura 11a). Nas outras camadas, (T –Td) variou de, aproximadamente, 10 até 20oC. No dia seguinte foi observado umedecimento de toda a troposfera (excluindo os altos níveis); a diferença (T –Td), em média, era 10 oC e, em baixos níveis, 3 oC. No dia 12 o umedecimento continuou e uma diferença (T –Td) menor que 3 oC foi observada em toda a troposfera, abaixo de 220 hPa. Semelhante a este caso, um processo de umedecimento numa situação de CCM associado com POA, já foi citado por Silva (2002). a) b) c) Figura 11- Perfis verticais para 12 UTC nos dias 10(a), 11(b) e 12(c) de junho de 2002 para a cidade de Maceió. FONTE: NCEP A variação da instabilidade atmosférica em Maceió foi significativa para os dias analisados. Para o dia 10 uma instabilidade fraca (CAPE 44 J/Kg) ocorreu somente em baixos níveis, abaixo de 750hPa (Tabela 2). No dia 11 a atmosfera estava muito instável (LI=-4, CAPE 2273 J/Kg) e isto estava relacionado com a distribuição de temperatura na camada superficial, até 970hPa. Nesta camada a atmosfera estava absolutamente instável, o que ajudou na formação da CAPE positiva em quase toda a atmosfera. No dia do desenvolvimento do CCM, dia 12, a instabilidade diminuiu (LI=1, CAPE 554 J/Kg), comparando-se com o dia anterior. Somente os índices K e TT mostraram um aumento fraco da instabilidade, 32 e 41, comparando-se com 27 e 38, para estes índices e dias respectivamente. Para a comparação com os perfis previstos, a Figura 12 mostra as radiossondagens nas cidades vizinhas, Recife e Salvador. Os perfis para Recife (ao norte de Maceió) nos dias 10 e 11 confirmam o umedecimento da atmosfera. No dia 10 uma camada relativamente úmida, com (T-Td) aproximadamente 5-10 oC foi observada até 800hPa e acima a atmosfera estava muita seca com valor de (T-Td) de, aproximadamente, 40 oC. No dia 11 uma camada relativamente úmida com (TTd) aproximadamente de 5-10 oC atingiu o nível de 400 hPa (Figura 12a). 13 Tabela 2 - Índices de instabilidade (K, TT e LI) e CAPE positiva (J/Kg) calculados pelos perfis verticais reais para a cidade de Maceió, para os dias 10, 11 e 12 de junho de 2002. Data K TT LI CAPE 10/06 12UTC 12 33 4 44 11/06 00UTC 27 37 -4 2273 11/06 12UTC 27 38 -4 1693 12/06 00UTC 32 41 -1 489 12/06 12UTC 32 41 -1 554 Em Salvador, ao sul do Maceió, uma camada úmida com (T-Td) de, aproximadamente, 3 oC, foi observada durante todos os dias até 600 ou 700hPa e estava ligada com uma corrente de ar de direção constante na periferia noroeste do anticiclone subtropical (Figura 12b). A instabilidade atmosférica cresceu durante os dias analisados e atingiu, no dia 12, valores significativos (K=33, CAPE 866 J/Kg), os quais geralmente estão associados com precipitações. a) b) Figura 12 - Perfis verticais para a cidade de Recife, para o dia 11 de junho de 2002 12 UTC (a) e para Salvador, para o dia 12 de junho de 2002 12 UTC (b). FONTE: CPTEC/INPE Comparação da estrutura da atmosfera em Maceió pelos perfis verticais previstos e reais A comparação dos perfis reais e previstos com 12 horas de antecedência mostra uma boa concordância, ou seja, uma umidade elevada em toda a troposfera, uma camada mais estável entre 850 e 700hPa e uma camada mais instável entre 540 e 470hPa estão apresentadas por estes dois perfis. A diferença principal é que o perfil previsto mostra uma atmosfera um pouco mais quente (em 2oC) na atmosfera média e muito mais quente (em 8oC) em altos níveis. A verificação da 14 temperatura no nível de 250 hPa pelos dados de radiossondagem de Recife confirmou que a temperatura no perfil real foi a mesma (-44 oC) que na radiossondagem. Assim, realmente a temperatura prevista neste nível foi maior do que a real. As diferenças encontradas mostram uma instabilidade um pouco diferente, ou seja, a atmosfera real foi um pouco mais instável do que a prevista. A outra diferença, a qual contribui para a instabilidade, foi a temperatura à superfície. Como à superfície é impossível fazer as trajetórias de parcelas de ar, para a construção do perfil previsto foi utilizada a temperatura real (pelos dados do Aeroporto); foi possível utilizar esta temperatura devido à sua estabilidade durante os dois dias anteriores. Todavia, o perfil real, ou seja, construído pelo modelo NCEP, apresentou uma temperatura muito mais baixa do que foi observado na realidade (A temperatura à superfície no aeroporto foi 30,5 oC e pelo NCEP 24 oC). Finalmente, devido a esta diferença, os perfis previstos mostraram uma camada superficial absolutamente instável e pelos perfis reais, condicionalmente instável. Todavia, finalmente pode ser concluído que as diferenças encontradas nos perfis previsto e real com 12 horas de antecedência, não mudaram a interpretação deste perfil previsto. Ele mostrou o desenvolvimento de convecção severa. As diferenças entre o perfil real e previsto com 24 horas de antecedência foram as mesmas que para o perfil previsto com 12 horas de antecedência; somente em altos níveis a temperatura prevista foi mais alta ainda, o que provocou a diminuição do topo do desenvolvimento de convecção, o que já foi citado durante a descrição da CAPE pelos perfis previstos. No perfil previsto com 36 horas de antecedência apareceram diferenças significativas nos níveis de 470 e 540 hPa (7 e 4 oC, respectivamente). Todavia, no nível de 850 hPa, a temperatura prevista pela trajetória foi a mesma que na realidade. No perfil previsto com 48 horas de antecedência, além dos níveis médios e altos foram verificadas as diferenças no nível de 700hPa (a temperatura prevista foi mais alta em 2 oC do que a real) e em 850 hPa (a temperatura prevista foi mais baixa em 2 oC do que a real). Trajetórias das parcelas de ar e advecção de temperatura em Maceió As trajetórias das parcelas de ar para 12 horas mostram que no nível de 850hPa a parcela sai da onda de calor vista ao longo de 33oW, do equador (Figura 13a). No nível de 700hPa a trajetória também confirma o deslocamento da parcela da onda de calor, mas neste nível esta onda parte do núcleo de ar quente com centro em 17oS e 28oW. No nível de 500 hPa o núcleo de calor sobre o NEB provoca a saída da trajetória de uma região mais fria. Esta distribuição vertical de advecção de temperatura com advecção positiva em baixos níveis e de negativa em 500 hPa contribuiu para o desenvolvimento de instabilidade. 15 As trajetórias das parcelas de ar para 24 horas identificam as mesmas ondas de calor nos níveis de 850 e 700hPa e uma região de ar mais frio no nível de 500 hPa (como para 12 horas), as quais contribuíram para a formação de instabilidade através da temperatura prevista (figura 13b e 13c). As trajetórias das parcelas de ar para 36 horas nos níveis de 700 e 500 hPa mostram a influência das mesmas ondas de calor e frio, respectivamente, como com antecedência 12 e 24 horas. Todavia, no nível de 850hPa a trajetória identifica uma outra onda de ar frio, ao longo de 24 o W, como responsável pela advecção de ar neste nível (campo não apresentado). Esta onda está ligada com o núcleo de ar frio sobre o Atlântico. Ao mesmo tempo, esta onda não provoca uma variação significativa da temperatura entre os pontos inicial e final da trajetória. a) b) c) Figura 13 Trajetórias das parcelas de ar com 12 horas de antecedência sobrepostas nos campos de temperatura no dia 12 de junho de 2002, 00UTC nos diferentes níveis: a) 850hPa; b) 700hPa e c) 500hPa. A advecção de ar quente nos baixos níveis (de 850 e 700 hPa) e a advecção de ar frio entre os níveis de 450 hPa e 250 hPa foi confirmada no começo da formação do CCM no dia 11, 12 UTC pela distribuição vertical de temperatura, construída com dados do NCEP (figura 11b). Condições térmicas da corrente oceânica próximo de Alagoas A distribuição horizontal de anomalia média semanal de temperatura da água na profundidade de 0,05m mostra ao longo da costa brasileira nas proximidades do NEB águas relativamente frias, com anomalia negativa de até -3.5 oC (Figura 13a). Esta onda de água fria da região da costa leste do norte da América do Sul foi observada durante todo o período de análise, ou seja, durante as três semanas anteriores ao evento analisado. 16 Seções meridionais de anomalia, Ap, ao longo da longitude de 30,2o W mostraram a existência na latitude de Maceió (9oS) de anomalia positiva na profundidade de, aproximadamente, 50 até 170 m (Figura 13b). Acima, na superfície do Oceano nenhuma anomalia foi registrada. b) a) Figura 13 – Campos de anomalia média semanal para os dias de 10 até 16 de junho: (a) anomalia de temperatura da água na profundidade de 0,05m e (b) seções meridionais de Ap ao longo da longitude de 30,2o W e da superfície até 300 m de profundidade . FONTE: ECMWF Movimentos verticais pelos dados do NCEP Os mapas dos movimentos verticais, construídos com dados do modelo do NCEP nos níveis de 925, 500 e 200 hPa não indicaram movimentos significativos: durante todos os dias e em todos os níveis citados os movimentos ascendentes ou descendentes não ultrapassaram 0,1 hPa s-1. Precipitações no Estado de Alagoas Durante todos os dias analisados foram registradas precipitações em todas as regiões do Estado (Tabela 3). A quantidade média das precipitações para o Estado aumentou durante os dias 10 e 11 e atingiu os valores máximos no dia 12 (as precipitações médias no Estado foram 2,7, 5,8 e 14,5 mm/24h para estes dias, respectivamente). No dia 10 as precipitações no Estado não ultrapassaram 14,5 mm/24h (na Zona da Mata, estação Santana do Mundaú). No dia 11, as precipitações médias por região mais intensas ocorreram nas regiões do Agreste (7,9 mm/24h) e Litoral (11,4 mm/24h) e a precipitações máximas registradas nas estações atingiram 18,3 mm/24h (Agreste, Mar Vermelho) e 25,0 mm/24h (Sertão, Cacimbinhas). No dia 12 as precipitações foram muito mais intensas. Na região do Baixo São Francisco, as precipitações médias foram 40,0 mm/24h e na estação Destilaria Marituba atingiram 75,8 mm/24h. 17 No Litoral, neste dia, duas estações no município de Coruripe registraram 42,5 e 47,0 mm/24h. No dia 13 as precipitações, em geral, enfraqueceram (as precipitações médias no Estado foram 10,9 mm/24h). Nas regiões do Litoral, Zona da Mata, Sertão e Baixo São Francisco foram registradas precipitações médias mais fracas do que no dia anterior; todavia, nas regiões do Agreste e Sertão do São Francisco as precipitações intensificaram-se. Neste dia os maiores valores foram registrados nas estações Destilaria Paísa (Baixo São Francisco, 52,3 mm/24h), Usina Seresta F. S C (Zona da Mata, 30 mm/24h) e Limoeiro de Anadia (Agreste, 25,6 mm/24h). Tabela 3 – Valores das precipitações diárias (em mm/24h) nas estações meteorológicas das regiões do Estado de Alagoas nos dias 10,11,12 e 13 de junho de 2002 ESTAÇÕES dia 10 dia 11 dia 12 3,0 0,0 5,2 1,0 2,1 2,5 0,0 3,0 2,3 0,0 3,5 2.1 1,0 8,0 2,2 4,0 16,1 9,0 20,0 17,0 15,6 24,8 7,8 11.4 28,0 20,0 6,0 10,2 28,6 42,5 47,0 15,0 30,5 18,7 16,0 23.9 LITORAL 1-Usina Utinga Leão 2-Usina Terra Nova 3-Usina Sumaúma 4-Usina Santo Antônio 5-Usina Roçadinho 6-Usina Guaxuma 7-Usina Coruripe 8-Usina Camaragibe Sede 9-Usina Caeté 10-Rio Largo 11-CINAL Média Média ESTAÇÕES dia 10 dia 11 dia 12 dia 13 AGRESTE ZONA DA MATA 1-Destilaria Porto Alegre 2-Santana do Mundaú 3-Usina Capricho 4-Usina João de Deus 5-Usina Laginha 6-Usina Peixe 7-Usina Porto Rico 8-Usina Seresta F. S C 9-Usina Serra Grande 10-Usina Serrana 11-Usina Triunfo 12-Usina Uruba dia 13 1,0 14,5 0,0 1,0 5,0 0,0 1,3 6,0 0,0 0,0 7,6 0,0 3,0 8,7 10,3 0,0 0,0 0,0 6,0 15,0 0,0 4,0 8,0 3,0 1,3 4,7 14,7 0,0 11,2 8,0 6,4 18,0 25,0 9,0 3,0 23,0 16,6 1,1 11,3 5,0 1-Lagoa da Canoa 10,0 2-Limoeiro de Anadia 11,0 3-Mar Vermelho 5,2 Média 12,3 SERTÃO 11,0 1-Senador Rui Palmeira 4,2 2-Santana do Ipanema 4,0 3-Monteirópolis 9,9 4-Cacimbinhas (Sede) 0,0 5-Lagoa do Girau 5,2 Média 7.1 SERTÃO DO SÃO FRANCISCO 1-Delmiro Gouveia 3,5 2-Pão de Açúcar 4,1 3-Piranhas 3,0 4-Traipu 4,0 Média 1,8 BAIXO SÃO FRANCISCO 5,0 1-Destilaria Marituba 4,1 2-Destilaria Paísa 30,0 3-Igreja Nova 3,0 4-Piaçabuçu 4,0 Média 14,2 0,9 6,5 Média para o Estado 2,8 1,2 10,5 9,2 4,2 0,0 3,2 18,3 5,0 5,1 7,9 5,2 6,7 25,6 4,0 12,1 0,0 0,0 8,9 0,0 0,0 13,2 0,0 0,0 21,0 9,0 2,2 0,0 0,0 25,0 15,0 1,8 5,4 11,6 3,7 0,0 12,6 23,0 12,0 10,3 0,0 0,0 1,5 3, 1 2,0 2,5 0,0 0,2 0,9 1,4 0,0 12,4 0,2 9,6 0,0 5,2 1,0 12,4 0,3 9,9 2,0 3,0 4,0 5,1 3,5 7,8 3,0 5,2 0,0 4,0 75,8 26,8 36,0 21,4 40,0 2,7 5,8 14,5 10,9 9,7 52,3 10,0 5,6 19,4 18 CONCLUSÃO A formação da POA com desenvolvimento de CCM próximo do Estado de Alagoas ocorreu a uma distância significativa de sistemas de grande escala, tais como a frente fria e a ZCIT. Dessa forma, neste caso, não há a perturbação inicial pela zona frontal, diferenciando-se do caso analisado por Silva (2002). A circulação anticiclônica acima de 500hPa associada com o caso de Silva, também não foi observada no dia de formação do CCM e, ao contrário, foi identificado um cavado em altos níveis no caso de 12 de junho de 2002. O deslocamento do cavado no nível de 500hPa de leste para oeste acompanhou o caso, mas o CCM se formou neste cavado somente próximo do continente, depois de quase dois dias da existência do cavado. No caso de Silva, neste nível foi observada uma crista ligada com a Alta da Bolívia, ou seja, o presente caso analisado foi completamente diferente daquele de Silva. A ausência de anomalias positivas nas correntes oceânicas próximas ao NEB descartou a possibilidade da influência de liberação de calor latente, como foi visto, por exemplo, no caso de desenvolvimento de trovoadas muito intensas em Maceió (Fedorova et al., 2004). A previsão de temperatura em baixos níveis com 12, 24 e 36 horas de antecedência, utilizando as trajetórias das parcelas de ar calculadas pelo modelo HYSPLIT, foi precisa e com 48 horas de antecedência foi muita boa. Foram encontradas diferenças significativas na previsão de temperatura pelas trajetórias das parcelas nos altos níveis, com 24, 36 e 48 horas de antecedência e em médios níveis, com 36 e 48 horas de antecedência. Foi identificado o desenvolvimento de convecção severa pelos perfis verticais previstos com 12 e 24 horas de antecedência, elaborados utilizando-se as trajetórias de parcelas de ar. Com o uso do Índice de Levantamento (LI), verificou-se que seria possível fazer-se previsão dos aguaceiros, também, com 36 horas de antecedência. As trajetórias de parcelas de ar com 12, 24 e 36 horas de antecedência no nível de 850hPa mostram a distribuição vertical de advecção de temperatura, com advecção positiva em baixos níveis e negativa em 500 hPa, o que contribui significativamente no desenvolvimento de instabilidade. As trajetórias das parcelas de ar ajudaram a identificar as ondas térmicas responsáveis pela advecção de temperatura, as quais são: 1) no nível de 850hPa, a onda de calor do equador e localizada ao longo de 33oW; 2) no nível de 700hPa, a onda de calor ligada com o núcleo de ar quente no centro do Atlântico tropical; 3) no nível de 500hPa, o núcleo de calor sobre o NEB e, conseqüentemente, a trajetória saiu da região mais fria ao redor deste núcleo. A distribuição vertical de advecção de temperatura com advecção positiva em baixos níveis e advecção negativa em 500 19 hPa foi identificada como processo principal no desenvolvimento de instabilidade e formação das precipitações muito intensas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao NOAA Air Resources Laboratory (ARL) pelo fornecimento do website READY, de transporte e dispersão o modelo HYSPLIT (http://www.arl.noaa.gov/ready.html), utilizado nesta publicação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DJURIC, D. Weather Analysis. New Jersey: Prentice Hall, 1994, 304p. DRAXLER, R.R. AND ROLPH, G.D. HYSPLIT (HYbrid Single-Particle Lagrangian Integrated Trajectory) Model access via NOAA ARL READY Website (http://www.arl.noaa.gov/ready/hysplit4.html). NOAA Air Resources Laboratory, Silver Spring, MD. 2003. FEDOROVA, N. et al. Análise dos produtos do modelo ETA em diferentes situações sinóticas para estado de Alagoas. Relatório Científico. FAPEAL, 2004, 221p. FERREIRA, N. J., CHAN, C. S., SATYAMURTI, P. Análise dos distúrbios ondulatórios de leste sobre o oceano Atlântico Equatorial. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA, 6, Salvador, Anais… , p. 462-466, 1990. GANDU, G. V. M. W. 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