A Grande Muralha

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A GRANDE MURALHA
Jota Alcides*
Quando o assunto é a China, o Governo brasileiro atual é só louvores e
aplausos, até justificados, pelo seu notável e invejável desempenho econômico.
Afinal, a China é a segunda maior economia do mundo, superada apenas pelos
Estados Unidos, e a nação com maior crescimento econômico dos últimos 25
anos, média anual de 10%, conforme o Fundo Monetário Internacional. Somente
neste 2015 é que está sendo esperado um PIB chinês estável menor devendo
ficar nos 7% de 2014, mesmo assim acima da média mundial.
Embora aliado do regime comunista castrista de Cuba, o Governo do
PT tem uma clara tendência pelo modelo comunista da China onde a economia
deixou, em 1978, de ser planificada, centralizada e fechada, como era na extinta
União Soviética, e passou para uma economia mista, economia de mercado, com
empresas privadas e fortes empresas estatais. Mas, é abertura econômica de um
lado e fechadura política de outro.
Por isso, quando a questão é política na China, o Governo brasileiro se
esquiva alegando que não comenta assuntos internos de outro país. É a hipocrisia
que usa para tentar enganar os brasileiros sobre a terrível ditadura comunista
chinesa. Aproveita-se do fato de que a China fica do outro lado do mundo e nem
os chineses sabem o que acontece na China porque tudo é controlado pelo
Partido Comunista Chinês. E a face mais visível dessa ditadura é a violenta
censura aos meios de comunicação nacionais e internacionais. Tudo o que se lê
ou que se vê na China é produzido ou controlado pelo Governo. O que realmente
interessa ao povo não chega ao conhecimento do povo.
Relato de uma brasileira que mora na China, Cristine Marote, dá uma
idéia da censura comunista chinesa: o Governo barra não apenas criticas
políticas, mas também temas relacionados com religião, sexo, drogas e
homosexualismo; das prisões de jornalistas anuais no mundo, a maior parte
acontece na China; o Governo controla a Internet através do chamado "Escudo
Dourado", um firewall, sistema de segurança que bloqueia sites considerados
"perigosos"; o Governo usa mais milhares de computadores e de censores para
analisar o conteúdo de textos, vídeos e áudios; manifestações no Tibet por
independência são bloqueadas; Facebook, YouTube e Twitter são censurados; na
China não há transmissões de televisão ao vivo e as coberturas supostamente
em tempo real têm um delay (atraso) de 30 segundos, tempo suficiente para os
censores cortarem ou mudarem a imagem, caso algo inesperado aconteça;
“Quando ligamos a rádio Jovem Pan para ouvir a transmissão das
corridas de Fórmula 1 e a TV aqui em casa para assistir a corrida, percebemos
isso com clareza. É até bem interessante, pois sabemos com 30 segundos de
antecedência o que veremos na telinha da TV. E o mesmo acontece com os
noticiários da BBC, CNN e outras emissoras que se tem acesso na China”, diz
Cristine Marote.
Quanto aos jornais, são todos controlados pelo Partido Comunista
Chinês. Entre 100 maiores jornais do mundo em circulação, 15 são chineses e os
cinco maiores atingem 9 milhões de exemplares. O principal, o Diário do Povo,
com 3 milhões de exemplares (pouco para uma população de 1,3 bilhão de
habitantes), é um jornal do Governo, pelo Governo e para o Governo, não tem
nada de povo. Desde 1949 é o órgão oficial do Partido Comunista Chinês e só
divulga o que é importante para o partido manter o controle e o poder.
Durante a chamada Revolução Cultural Chinesa, ampla e profunda
campanha político-ideológica promovida de 1966 a 1976, na República Popular
da China, pelo então líder do Partido Comunista Chinês, Mao Tsé-tung, para
neutralizar a crescente oposição que lhe faziam alguns setores menos radicais do
partido, o Diário do Povo era praticamente a única fonte de informação para
chineses e estrangeiros na China. Atualmente, o Diário do Povo online tem
também edições em inglês, russo, espanhol, japonês, árabe, alemão e coreano.
Tudo censurado.
Censura é ainda mais forte na Internet. São 450 milhões de internautas
chineses. Dá uma trabalheira danada ao Governo fiscalizar e bloquear sites para
essa multidão que fica navegando o tempo todo. Mas ele mantém um verdadeiro
exército armado e combativo fazendo censura policialesca firme e rigorosa: mais
de 600 mil computadores e cerca de 30 mil censores para analisar o conteúdo de
textos, vídeos e áudios, até propagandas são censuradas. O Partido Comunista
Chinês teme que o livre compartilhamento de informações gere instabilidade
social, afete a segurança nacional e tumultue a vida na China, ameaçando-lhe o
poder mantido ditatorialmente, na linha dura ortodoxa do marxismo-leninismo,
desde 1949. Portanto, comunistas falando em democracia é hipocrisia.
Daí, o símbolo milienar da China, a Grande Muralha, com seus mais de
oito mil quilômetros, maior estrutura arquitetônica de defesa do mundo, construída
a partir de 220 a.C, simboliza também a enorme barreira que é o Partido
Comunista Chinês para a liberdade de expressão, para os direitos humanos e
para a democracia na China.É o maior partido político do planeta com 83 milhões
de militantes comunistas formando uma grande e intransponível muralha que
encobre e esconde do mundo pressões, perseguições, prisões, opressões,
condenações, violações políticas, torturas, sangue e mortes sob o signo da foice e
do martelo. Como diria Mão Tse-tung, "um regime separado só pode ser criado e
mantido pela força das armas”.
*Jota Alcides é jornalista e escritor
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