SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE CONSULTA PÚBLICA No- 9, DE 10 DE MARÇO DE 2010 O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, Considerando a importância do papel que desempenham os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a melhoria da qualidade da atenção à saúde, para a prescrição segura e eficaz, para a atualização e democratização do conhecimento, para a melhoria da qualidade da informação prestada aos doentes e para a melhoria dos processos gerenciais dos programas assistenciais; Considerando a necessidade de se estabelecer critérios de diagnóstico e tratamento de enfermidades e, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, promover o uso racional dos medicamentos para o tratamento de doenças por meio de regulamentação de indicações e esquemas terapêuticos; Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas são resultado de consenso técnico-científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia; Considerando a necessidade de estabelecer mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a necessidade de se promover ampla discussão desses Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, possibilitando a participação efetiva, na sua formulação, da comunidade técnico-científica, associações médicas, profissionais da saúde, associações de pacientes, usuários e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população em geral; Considerando a necessidade de atualizar o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Doença de Wilson, estabelecidos pela Portaria SAS/MS nº 844, de 31 de outubro de 2002; e Considerando a Portaria SAS/MS nº 375, de 10 de novembro de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS, resolve: Art. 1º - Submeter à Consulta Pública o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - DOENÇA DE WILSON, constante do Anexo deste Ato e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade dele integrante. Parágrafo único. O Protocolo Clínico e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade, de que trata este Artigo, encontramse disponíveis, também, no sítio: www.saude.gov.br/sas - legislação. Art. 2º - Estabelecer o prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data da publicação desta Consulta Pública, para que sejam apresentadas sugestões, devidamente fundamentadas, relativas ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de que trata o Artigo 1º desta Consulta Pública. § 1º - As sugestões devem ser encaminhadas, exclusivamente, para o seguinte endereço eletrônico: pcdt.consulta2010@saude. gov.br, especificando o número da Consulta Pública e o nome do Protocolo no título da mensagem; § 2º - As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas em: I. Estudos Clínicos de fase III - realizados no Brasil ou exterior; e II. Meta-análises de Ensaios Clínicos. Art. 3º - Determinar que o Departamento de Atenção Especializada - Secretaria de Atenção à Saúde coordene a avaliação das proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas ora submetido à Consulta Pública, para que, findo o prazo estabelecido no Artigo 2º deste Ato, seja aprovado e publicado, passando a vigorar em todo o território nacional. Parágrafo único. O novo Protocolo passará a vigorar em todo o território nacional após a devida aprovação e publicação por meio de Portaria específica. Art. 4º - Esta Consulta Pública entra em vigor na data de sua publicação. ALBERTO BELTRAME ANEXO Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas Doença de Wilson 1. METODOLOGIA DE BUSCA DA LITERATURA Para a análise de eficácia dos tratamentos específicos da Doença de Wilson foram realizadas as buscas nas bases descritas a seguir e selecionadas para avaliação meta-análises, revisões sistemáticas e ensaios clínicos randomizados, controlados e duplo-cegos publicados até a data limite de 31/12/2009. Na base Medline/Pubmed foi utilizada a estratégia "Hepatolenticular Degeneration "[Mesh] limitada a "Humans, Clinical trial". Das 40 referências encontradas, apenas 1 ensaio clínico foi evidenciado, sendo a comparação entre trientina e tetratiomolibdato, que não estão disponíveis no Brasil. Na base Cochrane utilizou-se "Hepatolenticular Degeneration". Nenhuma meta-análise sobre Doença de Wilson foi encontrada. Foram consultados ainda o "UpToDate", versão 17.3, através do site http://www.uptodateonline.com, livros texto e artigos não indexados que nortearam a elaboração deste protocolo. 2. INTRODUÇÃO A doença de Wilson (DW) é uma doença genética com manifestações clínicas conseqüentes a um defeito no metabolismo no cobre, 1 que leva ao seu acúmulo. Foi descrita pela primeira vez por Kinnear Wilson(2) em 1912. Caracteriza-se por ter uma herança autossômica recessiva, sendo que o gene envolvido é o ATP7B, situado no braço longo do cromossoma (13). Aproximadamente 1 em 30.000 indivíduos são homozigotos para essa doença, sendo que os heterozigotos não desenvolvem a doença e não precisam ser tratados. O gene ATP7B está contido em uma área do DNA de aproximadamente 80kb, contém 22 exons transcritos em um RNA mensageiro de aproximadamente 7,8kb que tem alta expressão no fígado. Existem diversos tipos de mutações nesse gene que podem causar a DW(1). A absorção de cobre proveniente da dieta excede as quantidades diárias necessárias. Sua excreção pelos hepatócitos na bile é essencial para a manutenção da homeostase deste meta (l3). Aparentemente o produto do gen ATP7B está presente no sistema de Golgi e é essencial para o transporte do cobre através das membranas das organelas intracelulares. A ausência ou função diminuída do ATP7B diminui a excreção hepática de cobre e causa o acúmulo deste metal na DW(1). A ceruloplasmina é uma glicoproteína sintetizada no fígado e que contém 6 átomos de cobre por molécula. O defeito no transporte intra-celular de cobre leva a uma diminuição na incorporação de cobre na ceruloplasmina. Acredita-se que a ausência de cobre na ceruloplasmina deixe a molécula menos estável, sendo o motivo pelo qual o nível circulante de ceruloplasmina nos pacientes com DW está diminuído(1). Quando a capacidade de acúmulo de cobre no fígado é excedida ou quando há dano hepatocelular, há a liberação de cobre na circulação e o nível de cobre sérico não ligado à ceruloplasmina torna-se elevado. Este cobre circulante deposita-se em tecidos extrahepáticos, sendo que um dos principais locais para a sua deposição é o cérebro, causando dano neuronal e sendo a responsável pelas manifestações neurológicas e psiquiátricas da DW(1). As manifestações clínicas da DW devem-se, principalmente, ao acometimento hepático e do sistema nervoso central(1), sendo extremamente variáveis(3). Sem tratamento a doença evolui para insuficiência hepática, doença neuropsiquiátrica, falência hepática e morte. As manifestações hepáticas da DW podem variar de um quadro assintomático até casos com cirrose descompensada. Alguns casos podem se apresentar como hepatite fulminante(3). As manifestações clínicas do sistema nervoso central podem, em alguns casos, ser a forma de apresentação da doença. Os sinais e sintomas mais freqüentes são anormalidades motoras similares às da doença de Parkinson, incluindo distonia, hipertonia, rigidez, tremores e disartria. Em até 20% dos casos os pacientes podem ter sintomas exclusivamente psiquiátricos, sendo estes muito variáveis e incluindo depressão, fobias, comportamento compulsivo, agressivo ou anti-social3. A DW também pode causar dano renal (nefrocalcinose, hematúria, aminoacidúria), hemólise, hipoparatireoidismo, artrite, artralgias, osteoartrose, cardomiopatia e arritmias. As opções para o tratamento são farmacológicas e o transplante hepático. Também se deve seguir dieta com baixa quantidade de cobre, principalmente nas fases iniciais da doença. Os alimentos com quantidade mais elevada de cobre são os frutos do mar, chocolate, amêndoas, café, feijão, fígado, cogumelos e soja (3). Contudo, a dieta isoladamente não é suficiente para o tratamento. O transplante deve ser reservado para pacientes com doença hepática terminal ou fulminante (1,3). O tratamento farmacológico é baseado em quelantes e sais de zinco5. Os quelantes são a penicilamina(6), o dimercaprol (british anti-Lewisite - BAL), a trientina(7,8) e o tetratiomolibdato. Agem removendo e detoxificando o cobre intra e extracelular, sendo que a maior experiência de uso é com a penicilamina. Os sais de zinco agem diminuindo a absorção intestinal de cobre(9). O BAL não é usado por ter muitos efeitos adversos, e a trientina e o tetratiomolibdato não estão registrados no Brasil. Normalmente o tratamento é iniciado com os quelantes, que são usados, associados ou não aos sais de zinco, na remoção do excesso de cobre depositado. Alguns autores recomendam que, após a remoção pelos quelantes do excesso de cobre depositado, os sais de zinco poderiam ser utilizados em monoterapia para prevenir o reacúmulo de cobre(1). Contudo essa conduta não é uniforme, pois existem relatos na literatura de casos de piora neurológica e também de descompensação hepática progressiva refratária à reinstituição do tratamento causadas pela interrupção dos quelantes. A DW deve ser especialmente considerada em pacientes jovens com sintomas extrapiramidais, em pacientes com doença psiquiátrica atípica, naqueles com hemólise inexplicada ou manifestações de doença hepática sem outra causa aparente1. O diagnóstico é feito pela soma dos achados clínicos e laboratoriais. São indicativos da doença, além dos sinais e sintomas expostos acima, a presença de anéis de Kayser-Fleisher na córnea, ceruloplasmina sérica baixa, concentração hepática de cobre elevada (acima de 250 mcg por grama de tecido hepático seco) e excreção urinária de cobre elevada (cobre urinário basal de 24 h acima de 100 mcg) (1,4). 4. CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID 10) - E83.0 Distúrbios do metabolismo do cobre 5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos no protocolo de tratamento pacientes que se enquadrem em uma das seguintes situações: presença de todos os seguintes critérios: (1) Presença de anéis de Kayser-Fleischer em exame de lâmpada de fenda realizado por oftalmologista; (2) concentração sérica de ceruloplasmina reduzida; (3) cobre urinário basal de 24 h acima de 100 mcg; concentração hepática de cobre acima de 250 mcg por grama de tecido hepático seco; ou teste molecular mostrando mutação no gene ATP7B associada com DW. 6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão excluídos do presente protocolo os pacientes que apresentarem pelo menos um dos seguintes critérios: a) concentração hepática de cobre abaixo de 50mcg por grama de tecido hepático seco na ausência de tratamento prévio; b) contra-indicação ao uso dos medicamentos deste protocolo; c) hipersensibilidade/intolerância ao uso dos medicamentos. 7. TRATAMENTO O tratamento de escolha da DW é o tratamento farmacológico, por tempo indefinido. O transplante hepático, que tem a vantagem de corrigir o defeito metabólico subjacente, deve ser reservado como tratamento alternativo em casos graves ou refratários. O mecanismo de ação dos medicamentos utilizados na DW divide-se em tratamentos quelantes, que promovem a excreção renal do cobre depositado em excesso nos tecidos e o tratamento com medicamentos que diminuem a absorção intestinal de cobre. A escolha entre estes tratamentos é dependente de haver ou não manifestações clínicas, laboratoriais ou histológica de atividade da doença. Se houver, o tratamento com quelantes deve ser priorizado. Não havendo manifestações de atividade, o tratamento visando à diminuição da absorção de cobre pode ser suficiente. Pacientes com DW também devem ser orientados a manter uma dieta com baixas quantidades de cobre. TRATAMENTO COM QUELANTES A penicilamina é considerado o quelante de primeira escolha para a DW,(1,3,10) pela experiência com o seu uso e comprovada eficácia. Até 30% dos pacientes desenvolvem efeitos adversos que impedem a manutenção do medicamento. As manifestações neurológicas de alguns pacientes podem piorar após o início da penicilamina devido à realocação dos depósitos de cobre, podendo haver recuperação dessa piora inicial com o uso continuado(3,13). DIMINUIÇÃO DA ABSORÇÃO O acetato de zinco age induzindo a produção de metalotioneina, um quelante de metais com maior afinidade com o cobre do que com o zinco. Após quelado, o cobre presente no tubo digestivo não pode ser absorvido e é eliminado pelas fezes. Como existe secreção salivar de e gástrica de cobre, pode haver um balanço negativo de cobre também com este tratamento. Tem sido utilizado como terapia de manutenção em pacientes diagnosticados em por rastreamento em uma fase subclínica, para evitar o re-acúmulo de cobre em pacientes que já responderam à penicilamina ou para potencializar os quelantes em casos em que não está havendo uma adequada resposta ao tratamento, principalmente em casos neuropsiquiátricos. Também pode ser uma opção para pacientes intolerantes à penicilamina. Em uma série de casos com 17 pacientes tratados com acetato de zinco e com seguimento médio de 14 anos, pacientes com manifestações exclusivamente neurológicas mostraram melhor resposta ao tratamento apenas com acetato de zinco em comparação aos pacientes com manifestações hepáticas, especialmente fossem moderadas ou graves. Dessa forma, terapia inicial com acetato de zinco pode ser considerada em pacientes apenas com manifestações neurológicas ou manifestações hepáticas leves. (14) Inexiste apresentação comercial disponível do medicamento acetato de zinco; pode ser produzido em farmácias de manipulação. 7.1. FÁRMACOS - Penicilamina: cápsulas de 250mg - Piridoxina: comprimidos de 50mg ou solução oral de 1mg/ml e 10mg/ml 7.2. ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO Penicilamina: Inicia-se com 250mg/dia, aumentando-se a dose em 250mg/dia semanalmente10 até se atingir 1.000 a 1.500mg/dia divididas em 3 a 4 doses diárias3 sempre em jejum (uma hora antes ou duas horas depois das refeições). A dose pediátrica é de 20mg/kg/dia igualmente fracionadas. Na fase de manutenção, usualmente após 4 a 6 meses após o inicio do tratamento, a dose pode ser reduzida para 750 a 1.000mg/dia, dividida em duas administrações. Recomenda-se a utilização simultânea de piridoxina 25mg por dia a fim de evitar a deficiência dessa vitamina. Acetato de zinco: iniciar com 50mg de zinco elementar a cada 8h. Preferencialmente deve ser usado pelo menos uma hora antes ou uma hora depois das refeições, o que pode em alguns casos ocasionar sintomas dispépticos. Nesses casos pode-se sugerir que a dose de zinco seja tomada junto às refeições, mas devendo-se titular a necessidade de aumento de dose através da medida do cobre sérico livre (3). 7.3. TEMPO DE TRATAMENTO - CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO O tratamento da DW deve ser contínuo e ininterrupto. O principal fator do qual dependerá o sucesso do tratamento é a adesão adequada do paciente ao esquema farmacológico proposto (1). Alguns pacientes desenvolvem uma reação febril, com rash cutâneo e proteinúria, nos primeiros 7 a 10 dias de tratamento com penicilamina, sendo indicada a interrupção do tratamento. Em alguns casos é possível a retomada do tratamento com penicilamina, usando-se doses menores associadas a corticóide. Não havendo melhora, pode ser necessária a troca para o tratamento com acetato de zinco. Ao longo do tratamento com penicilamina também podem ocorrer proteinúria, leucopenia, trombocitopenia, anemia aplásica, síndrome nefrótica, síndrome de Goodpasture, síndrome miastênica, desenvolvimento de síndrome semelhante ao Lúpus Eritematoso Sistêmico, reações alérgicas com febre, artralgias e linfadenopatia generalizada. Em todas essas situações a penicilamina deve ser substituída por um medicamento alternativo(3). Os pacientes que após o início de quelantes estiverem com um cobre urinário de 24 h abaixo de 500 mcg/dL associado a um cobre livre sérico abaixo de 10 mcg/dL, podem ter a dose de quelante reduzida ou substituída por doses de manutenção de acetato de zinco, sendo mantida a monitorização com cobre sérico livre para certificação da adesão à prescrição do medicamento e da dieta. Com a interrupção dos quelantes, pode haver casos de piora neurológica e também de descompensação hepática progressiva refratária à reinstituição do tratamento. 7.4. BENEFÍCIOS ESPERADOS Os benefícios esperados com o tratamento da DW são aumento da expectativa de vida e diminuição da sintomatologia com melhora na qualidade de vida. 8. CASOS ESPECIAIS Gestantes: A penicilamina foi teratogênica em ratas quando usada em doses seis vezes superiores às maiores doses recomendadas para uso humano. O uso de quelantes em mulheres gestantes deve contemplar a relação risco-benefício, pois a parada do tratamento durante a gestação pode ter efeitos deletérios na saúde materna (10). Caso se opte pelo seu uso, as doses não devem ultrapassar 1g por dia, sugerindo-se não ultrapassar a dose de 500 mg/dia durante o segundo e os dois primeiros meses do terceiro trimestre(1). Deve-se utilizar 250 mg por dia nas últimas seis semanas de gestação, sendo que nos casos em que o parto foi cesáreo deve-se manter esta dose até a cicatrização da ferida operatória estar completa(1). Por causa dos efeitos teratogênicos dos quelantes, alguns autores(11) têm sugerido o uso de zinco durante a gestação, sendo que outros sugerem a manutenção dos quelantes nas doses preconizadas acima pelo risco do desencadeamento de anemia hemolítica ou de insuficiência hepática aguda com a interrupção do tratamento( 12). 9. MONITORIZAÇÃO O benefício do tratamento pode ser monitorado através da melhora dos sinais e sintomas clínicos e através da adequada excreção de cobre urinário e redução no cobre sérico livre (não ligado à ceruloplasmina). A dosagem do cobre urinário de 24 horas deve ser avaliada ao final do primeiro mês, sendo que se espera encontrar valores superiores a 2000mcg por dia para se considerar uma excreção urinária de cobre adequada. Este valor começa a diminuir em aproximadamente 3 meses de uso do medicamento, após os quais a medida do cobre sérico livre passa a ser a principal medida da adesão ao tratamento. Espera-se que, com o uso adequado do medicamento, o cobre sérico livre fique abaixo de 10mcg/dL. Após o correto ajuste da dose, a monitorização através do cobre sérico livre deve ser feita a cada 6 a 12 meses. Não há indicação de repetição de biópsia hepática para monitorização do tratamento. Devido aos potenciais efeitos adversos hematológicos e renais sérios envolvendo o uso de penicilamina, recomenda-se exame físico (incluindo exame da pele, linfonodos e temperatura corporal), exame qualitativo de urina, creatinina e hemograma completo com plaquetas a cada semana no primeiro mês, a cada 14 dias nos primeiros 5 meses de tratamento e após mensalmente. (10) Testes de função hepática devem ser realizados a cada seis meses enquanto o paciente estiver em uso do medicamento. A penicilamina deve ser interrompida se houver proteinúria acima de 1 g/dia, houver redução da depuração da creatinina endógena ou se cilindros com hemácias ou leucócitos forem encontrados no exame qualitativo de urina. É tema de debate a suspensão da penicilamina com níveis menores de proteinúria, mas alguns autores preconizam a sua suspensão a partir do momento que se encontre 2 cruzes de proteína no exame qualitativo de urina. O uso de trienteno pode causar anemia ferropriva, pela ação quelante sobre o ferro da dieta. Pacientes em risco ou em uso prolongado devem ser monitorados quanto a presença de deficiência de ferro. 10. REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTOR Recomenda-se que os doentes sejam atendidos em serviços que contem com especialistas em gastroenterologia e neuologia. Há de se observar os critérios de inclusão e exclusão de doentes neste Protocolo, a duração e a monitorização do tratamento, bem como para a verificação periódica das doses dos medicamentos prescritos e dispensados e da adequação de uso. 11. TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE - TER É obrigatória a cientificação do paciente ou de seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos colaterais ao uso dos medicamentos preconizados neste protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Roberts EA, Schilsky ML. AASLD PRACTICE GUIDELINES - Diagnosis and Treatment of Wilson Disease: An Update. Hepatology 2008;47(6):2089-2111. 2. Wilson SAK. Progressive lenticular degeneration: a familial nervous disease associated with cirrhosis of the liver. Brain 1912;34:295. 3. Cox DW, Roberts EA. Wilson´s Disease. In: Feldman M, Scharschmidt BF, Sleisenger MH. Sleisenger & Fordtrans´s Gastrointestinal and Liver Disease. 6ª ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 1998. pp.1104-1112. 4. Martins Costa C, Baldwin D, Portmann B, Lolin Y, Mowat AP, Mieli-Vergani G. Value of urinary copper excretion after penicillamine challenge in the diagnosis of Wilson´s disease. Hepatology 1992;15:609-615. 5. Anderson LA, Hakojarvi SL, Boudreaux SK. Zinc acetate treatment in Wilson's disease. Ann Pharmacother 1998;32(1):78-87 6. Czlonkowska A, Gajda J, Rodo M. Effects of long-term treatment in Wilson's disease with D-penicillamine and zinc sulphate. J Neurol 1996;243(3):269-73. 7. Walshe JM. Treatment of Wilson's disease with trientine (triethylene tetramine) dihydrochloride. Lancet 1982;1(8273):643-7. 8. Dubois RS, Rodgerson DO, Hambidge KM. Treatment of Wilson's disease with triethylene tetramine hydrochloride (Trientine). J Pediatr Gastroenterol Nutr 1990;10(1):77-81 9. Sturniolo GC, Mestriner C, Irato P, Albergoni V, Longo G, D'Inca R. Zinc therapy increases duodenal concentrations of metallothionein and iron in Wilson's disease patients. Am J Gastroenterol 1999;94(2):334-8. 10. Lacy C, Armstrong L, Goldman M, Lance L. Drug Information Handbook. 18ª ed. Lexi-Comp Inc. 2009. pp.1247-1249. 11. Brewer GJ, Johnson VD, Dick RD et al. Treatment of Wilson´s disease with zinc. XVII: Treatment during pregnancy. Hepatology 2000;31:364. 12. Sternlieb I. Wilson´s disease and pregnancy [editorial]. Hepatology 2000;31:531. 13. Brewer GJ, Terry CA, Aisen AM et al. Worsening of neurological symptoms in patients with Wilson´s disease with initial penicilamina therapy. Arch Neurol 1987;44:490. 14. Linn FH, Houwen RH, van Hattum J, van der Kleij S, van Erpecum KJ. Long-term exclusive zinc monotherapy in symptomatic Wilson disease: experience in 17 patients. Hepatology. 2009 Nov;50(5):1442-52. TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE PENICILAMINA Eu,______________________________________________ (nome do(a) paciente), declaro ter sido informado(a) claramente sobre os benefícios, riscos, contra-indicações e principais efeitos adversos relacionados ao uso do(s) medicamento(s) penicilamina, indicada para o tratamento da doença de Wilson. Os termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram resolvidas pelo médico _____________________________________________________ (nome do médico que prescreve). Assim declaro que: Fui claramente informado(a) de que o medicamento que passo a receber pode trazer as seguintes melhorias: - aumento da expectativa de vida; - diminuição da sintomatologia com melhora na qualidade de vida. Fui também claramente informado a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos adversos e riscos: - medicamento contra-indicado em casos de hipersensibilidade (alergia) ao fármacos ou componentes da formulação; - há evidências de riscos ao feto com o uso da penicilamina, portanto, caso engravide, avise imediatamente o médico; - os principais efeitos adversos relatados com a penicilamina incluem reações alérgicas (coceira, vermelhidão na pele), náuseas, vômitos, diarréia, dor no estômago, diminuição ou perda do paladar, diminuição das células brancas e vermelhas do sangue (que devem ser muito controladas), fraqueza nos músculos, zumbidos, agitação, ansiedade, queda de cabelo, visão borrada; efeitos mais raros incluem inflamação do pâncreas, inflamação dos pulmões, síndromes miastênicas (dificuldade para respirar, falar, mastigar, engolir, visão dupla e fraqueza nos músculos) e síndromes lúpicas (bolhas na pele, dor no peito e dor nas juntas), proteinúria e síndrome nefrótica. - o risco da ocorrência de efeitos adversos aumenta com a superdosagem. Estou ciente de que este medicamento somente pode ser utilizado por mim, comprometendo-me a devolvê-lo caso não queira ou não possa utilizá-lo ou se o tratamento for interrompido. Sei também que continuarei ser atendido, inclusive em caso de eu desistir de usar o medicamento. Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento, desde que assegurado o anonimato. Local: Data: Nome do paciente: Cartão Nacional de Saúde: Nome do responsável legal: Documento de identificação do responsável legal: _____________________________________ Assinatura do paciente ou do responsável legal Médico Responsável: CRM: UF: ___________________________ Assinatura e carimbo do médico Data:____________________ Observação: Este Termo é obrigatório ao se solicitar o fornecimento de medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) e deverá ser preenchido em duas vias, ficando uma arquivada na farmácia e a outra entregue ao usuário ou seu responsável legal. CONSULTA PÚBLICA No- 10, DE 10 DE MARÇO DE 2010 O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, Considerando a importância do papel que desempenham os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a melhoria da qualidade da atenção à saúde, para a prescrição segura e eficaz, para a atualização e democratização do conhecimento, para a melhoria da qualidade da informação prestada aos doentes e para a melhoria dos processos gerenciais dos programas assistenciais; Considerando a necessidade de se estabelecer critérios de diagnóstico e tratamento de enfermidades, e, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, promover o uso racional dos medicamentos para o tratamento de doenças por meio de regulamentação de indicações e esquemas terapêuticos; Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas são resultado de consenso técnico-científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia; Considerando a necessidade de estabelecer mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a necessidade de se promover ampla discussão desses Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, possibilitando a participação efetiva, na sua formulação, da comunidade técnico-científica, associações médicas, profissionais da saúde, associações de pacientes, usuários e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população em geral; Considerando a necessidade de estabelecer o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Dermatomiosite e Polimiosite e de atualizar a Consulta Pública SCTIE/MS nº 12, de 04 de novembro de 2004; e Considerando a Portaria SAS/MS nº 375, de 10 de novembro de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS, resolve: Art. 1º - Submeter à Consulta Pública o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - DERMATOMIOSITE E POLIOMIOSITE, constante do Anexo deste Ato e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade dele integrante. Parágrafo único. O Protocolo Clínico e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade, de que trata este Artigo, encontramse disponíveis, também, no sítio: www.saude.gov.br/sas - legislação. Art. 2º - Estabelecer o prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicação desta Consulta Pública, para que sejam apresentadas sugestões, devidamente fundamentadas, relativas ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de que trata o Artigo 1º desta Consulta Pública. § 1º - As sugestões devem ser encaminhadas, exclusivamente, para o seguinte endereço eletrônico: pcdt.consulta2010@saude. gov.br, especificando o número da Consulta Pública e o nome do Protocolo no título da mensagem; § 2º - As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas em: I. Estudos Clínicos de fase III - realizados no Brasil ou exterior; e II. Meta-análises de Ensaios Clínicos. Art. 3º - Determinar que o Departamento de Atenção Especializada - DAE/SAS/MS coordene a avaliação das proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas ora submetido à Consulta Pública, para que, findo o prazo estabelecido no Artigo 2º deste Ato, seja aprovado e publicado, passando a vigorar em todo o território nacional. Parágrafo único. O novo Protocolo passará a vigorar em todo o território nacional após a devida aprovação e publicação por meio de Portaria específica. Art. 4º - Esta Consulta Pública entra em vigor na data de sua publicação. ALBERTO BELTRAME ANEXO PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS DERMATOMIOSITE E POLIMIOSITE 1. METODOLOGIA DE BUSCA DA LITERATURA Foi realizada revisão da literatura na data de 15/01/2010 nas bases de dados MEDLINE/PUBMED, EMBASE e Cochrane. No Medline/Pubmed foi utilizada a seguinte estratégia: "dermatomyositis/ therapy"[Mesh Term] OR "polymyositis/therapy"[Mesh Term] AND (Clinical Trial[ptyp] OR Meta-Analysis[ptyp] OR Practice Guideline[ptyp] OR Randomized Controlled Trial[ptyp] OR Controlled Clinical Trial[ptyp]) AND "humans"[MeSH Term] resultando em 68 estudos. No EMBASE, foi utilizada a estratégia ('dermatomyositis'/ exp OR 'polymyositis'/exp) AND 'drug therapy'/exp AND ([cochrane review]/lim OR [controlled clinical trial]/lim OR [meta analysis]/lim OR [randomized controlled trial]/lim OR [systematic review]/lim) AND [humans]/lim", que resultou em 130 estudos. Quando analisados individualmente, a maioria foi excluída por referirse a outras condições clínicas, apresentar desfechos sem relevância ao presente protocolo ou estudar medicamentos sem registro no país. Foram incluídos 15 estudos considerados relevantes. A busca na biblioteca Cochrane localizou uma revisão sistemática relacionada ao tema, já localizada na busca acima. Foram incluídos uma diretriz internacional de tratamento, capítulos de livro-texto, capítulo relacionado ao tema da base UpToDate 17.3 e artigos não indexados considerados relevantes pelos autores. 2. INTRODUÇÃO As miopatias inflamatórias são um grupo heterogêneo de doenças que se caracterizam por fraqueza muscular proximal e elevação sérica de enzimas originadas da musculatura esquelética. Embora não existam sistemas de classificação de doença prospectivamente validados, a classificação originalmente proposta por Bohan e Peter [1] é amplamente utilizada. São reconhecidos cinco subtipos de doença: polimiosite primária idiopática (PM), dermatomiosite primária idiopática (DM), PM ou DM associada à neoplasia, PM ou DM juvenil e PM ou DM associada a outras doenças do colágeno. Atualmente, um projeto internacional multidisciplinar está em andamento para desenvolver um consenso sobre critérios de classificação das miopatias inflamatórias [2]. Na PM/DM, a principal manifestação é a fraqueza proximal e simétrica de cinturas escapular e pélvica e de musculatura cervical. Dependendo do grau da perda de força, o paciente pode manifestar desde fadiga e intolerância ao exercício até marcha cambaleante e dificuldades para subir escadas. A evolução tende a ser gradual e progressiva. Alguns poucos pacientes podem apresentar mialgia associada. Disfagia, distúrbios cardíacos, acometimento respiratório, vasculite e calcificações subcutâneas (calcinoses) são manifestações extra-musculares possíveis. A DM se diferencia da PM pelo acometimento cutâneo. As pápulas de Gottron são consideradas patognomônicas de DM. Consistem de pápulas róseas ou violáceas localizadas nas superfícies extensoras das articulações interfalangeanas e metacarpofalangenas, cotovelos, joelhos e maléolo medial. O sinal de Gottron é um eritema macular com a mesma distribuição das pápulas de Gottron. O heliótropo, caracterizado por lesões eritematosas ou violáceas nas pálpebras superiores, é outro sinal típico. Além destes, são observadas manchas ou placas eritematosas desencadeadas por fotoexposição com distribuição característica no tórax superior, ombros e dorso (sinal do xale), e/ou pescoço e tórax anterior em "V" (sinal do decote). Fissuras e descamação podem ocorrer nas polpas digitais dos quirodáctilos, e são referidas como "mãos de mecânico" [3]. A etiologia das miopatias inflamatórias permanece desconhecida. Há relatos de associação com antígenos de histocompatibilidade, agentes ambientais e auto-imunidade. A incidência anual de PM e DM é estimada em menos de 10 casos por milhão de indivíduos. As mulheres são mais afetadas numa proporção aproximada de 2:1, havendo um pico bimodal de surgimento da doença entre os 5 e 15 anos e os 45 e 65 anos [4]. O curso da doença é variável. A maioria dos pacientes responde satisfatoriamente ao tratamento inicial com glicocorticóides, especialmente na DM. Adicionalmente, pode-se identificar outros padrões evolutivos com um período de remissão inicial seguida de um ou mais episódios de recidiva, curso monocíclico ou refratário ao tratamento usual. Dentre os fatores de mau prognóstico pode-se destacar diagnóstico inicial em idosos, grau avançado de fraqueza muscular no momento do diagnóstico, disfunção da musculatura respiratória, presença de disfagia, demora no início do tratamento após 6 meses do início dos sintomas, comprometimento pulmonar (doença intersticial pulmonar) ou cardíaco (miocardite) e associação com neoplasia [5-7]. 3. CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID-10) - M33.0 Dermatomiosite juvenil - M33.1 Outras dermatomiosites - M33.2 Polimiosite 4. DIAGNÓSTICO Os clássicos critérios descritos por Bohan e Peter ainda são úteis para a orientação diagnóstica de PM/DM. Após a exclusão de outras etiologias, como infecciosas, metabólicas, tóxicas, distróficas, endocrinológicas e miopatias mitocondriais e por corpúsculo de inclusão [1, 2, 8]: a) Fraqueza muscular proximal das cinturas pélvica e escapular; b) Evidência de miosite à biópsia muscular: Os parâmetros mais utilizados para evidenciar inflamação muscular incluem necrose de fibras musculares do tipo I e II; fagocitose de elementos celulares; degeneração e regeneração de fibras musculares com variação no diâmetro das fibras musculares; e infiltrado linfomonocitário endomisial, perimisial, perivascular ou intersticial; c) Elevação de qualquer enzima muscular sérica: creatinofosfoquinase (CPK) ou aldolase ou desidrogenase lática (DHL), ou aminotransferases (em particular, a aspartatoaminotransferase - AST/ transaminase glutâmico-oxalacética - TGO); d) Eletromiografia compatível com miopatia: potenciais de unidade motora polifásicos, de baixa amplitude e de curta duração; fibrilações, mesmo em repouso; descargas de formato bizarro e repetitivas; e) Lesões cutâneas características de DM: heliótropo; pápulas de Gottron; sinal de Gottron. Diagnóstico Dermatomiosite Polimiosite Definitivo Presença de 4 dos critérios de "a-d" * Presença de 4 dos critérios de "a-d" Provável Presença de 3 dos critérios de "a-d" * Presença de 3 dos critérios de "a-d" Possível Presença de 2 dos critérios de "a-d" * Presença de 2 dos critérios de "a-d" *Acrescido do critério "e": lesões cutâneas características de DM. O fator antinuclear (FAN) é positivo em 80% dos pacientes com PM ou DM. [9]. Aproximadamente 30% dos pacientes com DM e PM possuem auto-anticorpos definidos como miosite específicos (anti-Jo-1, anti-PL-7, anti-PL-12, anti-EJ, anti-Mi-2). Tais anticorpos estão associados a manifestações clínicas características. Por exemplo, febre, artrite, fenômeno de Raynaud e doença pulmonar intersticial compõem uma síndrome relacionada ao anticorpo anti-Jo1 (síndrome anti-sintetase), presente em 20% dos pacientes com PM. Embora os anticorpos miosite-específicos tenham papel importante na avaliação prognóstica dos pacientes, sua aplicação na tomada de decisão terapêutica na rotina clínica necessita de validação em estudos mais abrangentes [10]. Os níveis séricos das enzimas musculares estão elevados em algum momento durante a evolução da doença, sendo que a CPK apresenta maior sensibilidade. O surgimento de níveis elevados de CPK pode anteceder a fraqueza muscular clínica em algumas semanas. Pacientes com diagnóstico de PM/DM apresentam um risco aumentado de neoplasia em comparação com a população em geral [11]. A indicação de triagem para neoplasia deverá ser orientada através da identificação de fatores de risco à anamnese e exame físico completo, e de acordo com a faixa etária de cada paciente. 5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos neste protocolo os pacientes com diagnóstico provável ou definitivo de PM ou DM. 6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Os critérios de exclusão são individualizados para cada medicamento: - Hidroxicloroquina: uso concomitante de primaquina, maculopatia prévia associada aos antimaláricos ou hipersensibilidade ao medicamento; - Azatioprina e ciclofosfamida: imunossupressão (SIDA, Linfoma e outros), infecção ativa, tuberculose, gestação, lactação, pacientes com neoplasia atual ou hipersensibilidade ao medicamento; - Ciclosporina: imunossupressão (SIDA, Linfoma e outros), insuficiência renal crônica, pacientes com neoplasia atual, gestação, lactação, infecção ativa, tuberculose, hipertensão não-controlada ou hipersensibilidade ao medicamento; - Prednisona e metilprednisolona: úlcera péptica ativa, insuficiência hepática, tuberculose ou hipersensibilidade aos medicamentos; - Imunoglobulina humana: deficiência seletiva de IgA, gestação, lactação, hiperprolinemia ou hipersensibilidade ao medicamento; - Metotrexato: gestação, lactação, doenças hematológicas graves, doença ulcerosa péptica ativa, anormalidades hepáticas ou renais graves, abuso de drogas ou etilismo, infecção ativa, tuberculose ou hipersensibilidade ao medicamento. 7. TRATAMENTO 7.1 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Além do manejo terapêutico adequado, intervenções não farmacológicas são importantes na abordagem dos pacientes com miopatias inflamatórias. Dentre elas destacam-se: programas de reabilitação desde o início da doença [25-27], medidas para evitar aspiração em pacientes com disfunção esofágica, fotoproteção em pacientes com DM e profilaxia contra osteoporose e infecções oportunistas [5]. 7.2 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO A baixa prevalência e a heterogeneidade de expressão clínica das miopatias inflamatórias, bem como a falta de critérios diagnósticos bem estabelecidos, dificultam a condução de ensaios clínicos, e, conseqüentemente, o estabelecimento de uma estratégia terapêutica padronizada [12]. Além disso, a abordagem individual de cada paciente depende da gravidade da doença muscular e sistêmica e da identificação de fatores de mau prognóstico. O tratamento deve ser iniciado com o uso de glicocorticóide (GC) sistêmico [13]. Os pacientes precisam ser orientados que a corticoterapia pode ter duração maior do que 12 meses. O uso de glicorticóides pode induzir remissão de doença em aproximadamente 40% a 60 % dos pacientes, embora mais de 80% apresentem algum grau de melhora clínica e laboratorial com o tratamento [14]. No caso de resposta insatisfatória, pode ser necessária a repetição da biópsia muscular com vistas ao diagnóstico diferencial com outras miopatias (ex. miosite por corpúsculo de inclusão). A introdução de imunossupressores juntamente com a corticoterapia é aconselhável, principalmente naqueles pacientes com fatores de mau prognóstico. Azatioprina (AZA) e o metotrexato (MTX) são considerados medicamentos de primeira linha como agentes poupadores de GC [5]. A AZA tem sido utilizada nas miopatias inflamatórias associada ao GC [12]. A associação de prednisona mais azatioprina foi avaliada em ensaio clínico randomizado, duplo-cego, comparada com prednisona mais placebo em 16 pacientes com diagnóstico de PM. Após três meses de tratamento, não houve diferença entre os grupos nas variáveis avaliadas (força muscular ou CPK) [15]. Estes pacientes foram reavaliados após três anos de seguimento, e o grupo tratado com a associação de prednisona e azatioprina utilizou uma dose diária menor de corticóide (1,6mg/kg VS. 8,7mg/kg) e apresentou maior capacidade funcional [16]. O MTX também foi avaliado quanto à sua eficácia nas miopatias inflamatórias [12]. Análise retrospectiva de 113 casos consecutivos demonstrou que o MTX pode ser superior ao uso de AZA ou GC em pacientes sem resposta clínica completa após tratamento inicial com um curso de prednisona [14]. Estudo randomizado comparou ciclosporina com MTX em pacientes com diagnóstico de PM/DM grave. Ao final de 6 meses, não houve diferença estatística significativa entre os grupos em relação à força muscular e teste funcional, avaliação clínica e global do paciente, nível sérico de CPK e mioglobina [17]. A associação de MTX oral e azatioprina pode ser falha prévia à pelo menos um fármaco citotóxico. Estudo randomizado cruzado comparou AZA associada com MTX administrados por via oral contra MTX intravenoso em pacientes com miosite inflamatória refratária. Não foram encontradas diferenças nos níveis séricos de CPK no final do seguimento. Análise por intenção de tratar mostrou uma tendência de melhora clínica (força muscular e capacidade funcional) no grupo que utilizou a terapia combinada oral [18]. Nos pacientes refratários ao tratamento com GC e imunossupressores, tem sido preconizado o uso de imunoglobulina humana (IGH). Esta recomendação é baseada em dois estudos. Este medicamento foi avaliado em ensaio clínico duplo-cego, controlado contra placebo, em 15 pacientes com DM resistente ao tratamento com corticóide e imunossupressores. No grupo tratado com IGH, houve resposta estatisticamente significativa na avaliação do escore de força muscular e dos sintomas neuromusculares após 3 meses [19]. Em estudo observacional com 35 pacientes com PM refratária ao tratamento com corticoterapia e imunossupressores foi administrada IGH mensalmente com duração de tratamento de quatro a seis meses. Após seis meses, houve uma redução de 50% da dose inicial de prednisona, redução dos níveis de CPK e melhora da força muscular. Houve resposta clínica satisfatória em 70% dos pacientes, que foi mantida em aproximadamente metade deles ao longo de 3 anos de observação [20]. O uso de IGH não se relacionou com eventos adversos sérios [21]. A ciclofosfamida intravenosa é uma alternativa em pacientes portadores de PM/DM associada à doença pulmonar intersticial resistente ao uso de GC e imunosupressores. Em estudo observacional com 17 pacientes, foram encontrados os seguintes resultados: 11 pacientes evoluíram com melhora da dispnéia após introdução da ciclofosfamida, 6 de 7 pacientes descontinuaram oxigenioterapia e 12 pacientes obtiveram melhora maior ou igual à 10 % na capacidade vital [22]. Alguns pacientes com DM apresentam doença cutânea não responsiva ao uso de GC e imunossupressores. Estudos observacionais têm demonstrado benefício com o uso de antimaláricos como hidroxicloroquina e disfosfato de cloroquina, sendo este último menos utilizado devido ao risco de toxicidade ocular [23, 24]. 7.3 FÁRMACOS - Prednisona: comprimidos de 5 e 20 mg - Metilprednisolona: pó para solução injetável de 500mg - Azatioprina: comprimidos de 50mg - Metotrexato: comprimidos de 2,5mg ou solução injetável 25mg/ml - Ciclosporina: comprimidos de 10, 25, 50, 100mg e solução oral de 100mg/ml - 50 ml - Ciclofosfamida: pó para solução injetável 1g - Imunoglobulina humana: frasco-ampola de 500, 1.000, 2.500, 3000, 5.000 e 6000mg - Hidroxicloroquina: comprimidos de 400 mg 7.4 ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO - Prednisona: iniciar com 1mg/kg/dia, que deve ser mantida por 6 à 8 semanas; se houver controle da doença, iniciar diminuição gradual da dose não maior do que 20% da dose vigente a cada 4 semanas até 10mg/dia e manter conforme evolução clínica até completar 9 à 12 meses de corticoterapia; caso haja recidiva durante a diminuição de dose, retornar à mínima dose efetiva e adicionar AZA ou MTX (ou ajustar as doses dos mesmos, se já em uso). - Metilprednisolona: administrar pulsoterapia de 1000mg intravenosa ao longo de 1 hora por 3 dias consecutivos e repetir mensalmente conforme resposta terapêutica. Indicada nos casos de fraqueza muscular grave ou acometimento sistêmico grave, incluindo os pacientes com envolvimento do esôfago, com disfagia importante e risco de aspiração, envolvimento pulmonar intersticial e ou miocardite. - Azatioprina: iniciar com 50mg/dia em adultos, por via oral, aumentando 50mg semanalmente até a dose total de 2-3mg/kg/dia. - Metotrexato: iniciar com 15mg/semana por via oral ou subcutânea, podendo ser aumentada até 25mg/semana. - Ciclosporina: iniciar com 3-4mg/kg/dia divididos em duas doses até a dose máxima de 6mg/kg/dia. Indicada na falha do uso de GC mais AZA ou MTX. - Ciclofosfamida: administrar 300 a 800mg/m2 intravenosa à cada 4 semanas. Indicada na falha do uso de GC mais AZA ou MTX ou presença de doença pulmonar intersticial grave. - Imunoglobulina humana: 1g/kg/dia por dois dias ou 0,4g/kg/dia por cinco dias, repetidas mensalmente por 3 à 6 meses. Indicada na falha do uso de GC mais AZA ou MTX; ou doença grave refratária à pulsoterapia com GC. - Hidroxicloroquina: dose usual é de 400mg/dia, para casos de doença cutânea não responsiva à GC. 7.5 TEMPO DE TRATAMENTO (CRITÉRIOS DE INTERRUPÇÃO) Não existe um período estabelecido para a duração do tratamento. Após atingir a remissão clínica, as dosagens dos fármacos podem ser diminuídas gradualmente, sob monitorização sistemática da atividade de doença. Sugere-se diminuir primeiro a dose da prednisona. Após suspensão do GC, diminuir a dose dos imunossupressores em intervalos mensais ao longo de aproximadamente 6 meses. 7.6 BENEFÍCIOS ESPERADOS - Melhora da força muscular; - Prevenção de desenvolvimento de complicações extra-musculares; - Na DM, controle das manifestações cutâneas. 8. MONITORIZAÇÃO Com relação à eficácia, ainda não foram validados escores padronizados para medir a atividade de doença e dano nas miopatias inflamatórias [2]. Sugere-se a monitorização periódica da força muscular no quadríceps, deltóides e flexores do pescoço, bem como das enzimas musculares. As enzimas mais comumente utilizadas são CPK, aldolase, LDH, AST/TGO e ALT/TGP. A melhora clínica tem maior valor na avaliação da resposta terapêutica do que as enzimas musculares séricas. Ajustes nas doses do GC com o objetivo de normalizá-las podem determinar doses cumulativas desnecessariamente aumentadas [5]. Além da triagem de doenças infecciosas previamente ao seu início, a toxicidade dos imunossupressores deve ser cuidadosamente monitorada: - Prednisona e metilprednisolona: solicitar glicemia de jejum, potássio, perfil lipídico, densitometria óssea e aferição da pressão arterial no início do tratamento. Pacientes devem receber suplementação diária de cálcio (1.500mg/cálcio elementar), vitamina D3 (400 800 UI) ou bisfosfonados de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde para Osteoporose. Reavaliar anualmente o perfil lipídico e densitometria óssea. - Azatioprina: solicitar hemograma e plaquetas, testes de função hepática (fosfatase alcalina, AST/TGO e ALT/TGP) quinzenalmente até o terceiro mês e, após, mensalmente. A AZA deve ser suspensa ou ter a dose reduzida em pacientes que desenvolvem leucopenia (leucócitos <4.000 / mm3) ou trombocitopenia (contagem de plaquetas <150.000 / mm3). - Metotrexato: devem ser solicitadas provas de função hepática (TGO, TGP), hemograma, contagem de plaquetas, uréia e creatinina antes do início do tratamento, e mensalmente nos primeiros seis meses e, após, a cada 2 à 3 meses durante seu uso ou conforme necessidade clínica. Se houver elevação de transaminases de duas vezes o valor do limite superior de referência, o medicamento deve ser suspenso por duas semanas e então reavaliado com nova aferição de enzimas hepáticas. Consumo de bebidas alcoólicas é desaconselhado ao longo do tratamento com MTX. Diminuição da contagem de leucócitos ou de plaquetas necessita redução da dose do metotrexato. Também deve-se diminuir a dose se houver o surgimento de úlceras orais ou estomatite. Tosse e dispnéia devem ser avaliadas com Rx de Tórax e testes de função pulmonar devido ao potencial risco de pneumonite, assim deve ser usado com cautela em pacientes pneumopatas. Sintomas como náuseas e vômitos respondem à redução da dose do MTX ou incremento da dose semanal de ácido fólico. Pode ser utilizado antiemético ou ingestão com as refeições para tentar diminuir estes sintomas. As causas mais comuns de toxicidade aguda do metotrexate são a insuficiência renal aguda e a administração concomitante de sulfametoxazol-trimetoprim. A associação de ácido fólico (5-10 mg/semana) pode minimizar os efeitos adversos. É contraindicado o uso de MTX em pacientes com insuficiência renal, hepatopatias, supressão da medula óssea e em mulheres em idade fértil que não estejam fazendo anticoncepção. - Ciclosporina: monitorizar pressão arterial sistêmica e função renal (creatinina) antes do início do tratamento e repetidas a cada 2 semanas nos primeiros 3 meses de tratamento e, após, mensalmente se o paciente estiver clinicamente estável. Se houver o desenvolvimento de hipertensão, deve ser realizada redução de 25% a 50% da dose de ciclosporina; persistindo hipertensão após esta redução o tratamento deve ser descontinuado. Também perfil lipídico e eletrólitos séricos devem ser avaliados periodicamente. Está contra-indicada em pacientes com alteração da função renal, hipertensão não controlada e malignidade. Seu perfil de toxicidade restringe sua utilização. - Ciclofosfamida: solicitar hemograma, plaquetas, e exame comum de urina com microscopia 14 dias após a cada infusão até a estabilização da dose. Além da imunossupressão com conseqüente aumento de risco de infecções, aumento de risco de neoplasias, infertilidade, toxicidade hematológica e cistite hemorrágica são outros eventos adversos potenciais. Para prevenir esta última, se recomenda hidratação vigorosa, e se sugere a administração de MESNA IV ou VO (1mg para cada mg de ciclofosfamida) dividida em 3 tomadas: 30 minutos antes da infusão, 30 minutos após a infusão e 4 horas após o término da infusão. - Imunoglobulina intravenosa: pacientes devem ser monitorados quanto à reações infusionais. Dentre outros eventos descritos, citam-se meningite asséptica, insuficiência renal, hiperproteinemia, edema pulmonar e eventos trombóticos. - Hidroxicloroquina: deve ser realizado exame oftalmológico no início do tratamento e a cada 6-12 meses. Hemograma periódico é recomendado. Dosagem de enzimas musculares (CPK e aldolase) está indicada nos casos com suspeita de miopatia. 9. ACOMPANHAMENTO PÓS-TRATAMENTO Inexiste uma duração de tratamento pré-determinada. O seguimento dos pacientes, incluindo consultas e exames complementares, deverá ser programado conforme a evolução clínica e as alterações detectadas à monitorização da toxicidade dos medicamentos. 10. REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTOR Recomenda-se que sejam atendidos em serviços especializados em reumatologia ou clínica médica. Há de se observar os critérios de inclusão e exclusão de doentes neste Protocolo, a duração e a monitorização do tratamento, bem como para a verificação periódica das doses do medicamento prescrito e dispensado, da adequação de uso e do acompanhamento pós-tratamento. 11. TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE - TER É obrigatória a cientificação do paciente ou de seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos colaterais ao uso de medicamento preconizado neste protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1.Bohan, A. and J.B. Peter, Polymyositis and dermatomyositis (first of two parts). N Engl J Med, 1975. 292(7): p. 344-7. 2.Oddis, C.V., et al., International consensus guidelines for trials of therapies in the idiopathic inflammatory myopathies. Arthritis Rheum, 2005. 52(9): p. 2607-15. 3.Brenol, C.V. and R.M. Xavier, Semiologia do Sistema Locomotor, in Exame Clínico - Consulta Rápida, E. Barros, et al., Editors. 2004, ArtMed: Porto Alegre. p. 510. 4.Firestein, G.S. and W.N. Kelley, in Kelley's textbook of rheumatology. 2009, Saunders/Elsevier: Philadelphia, PA. p. 2 v. (various pagings). 5.Miller, M.L. and S.A. Rudnicki, Initial Treatment of dermatomyositis and polymyositis in adults, in UpToDate, D.S. 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Beardmore, Resistive exercise in the rehabilitation of polymyositis/dermatomyositis. J Rheumatol, 1993. 20(8): p. 1340- 4. TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE (TER) Azatioprina, ciclofosfamida, ciclosporina e imunoglobulina humana. Eu,______________________________________________ (nome do(a) paciente), declaro ter sido informado(a) claramente sobre os benefícios, riscos, contra-indicações e principais efeitos adversos relacionados ao uso do (s) medicamento (s) azatioprina, ciclofosfamida, ciclosporina e imunoglobulina humana, indicados para o tratamento da polimiosite e dermatomiosite. Os termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram resolvidas pelo médico _____________________________________________________ (nome do médico que prescreve). Assim declaro que: Fui claramente informado(a) de que o (s) medicamento (s) que passo a receber pode (m) trazer as seguintes melhorias: - melhora da força muscular; - prevenção do desenvolvimento de complicações extra-musculares; - na dermatomiosite, controle das manifestações da pele. Fui também claramente informado a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos adversos e riscos: - não se sabe ao certo os riscos do uso dos medicamentos ciclosporina e imunoglobulina na gravidez, portanto, caso engravide, devo avisar imediatamente ao meu médico. - a ciclofosfamida não deve ser usada durante a gestação pelo risco de má formação do feto; - há riscos para a azatioprina durante a gravidez, porém o benefício pode ser maior que os riscos e isso deve ser discutido com seu médico. - os efeitos adversos mais comumente relatados para os medicamentos são: - para azatioprina: diminuição das células brancas, vermelhas e plaquetas do sangue, náuseas, vômitos, diarréia, dor abdominal, fezes com sangue, problemas no fígado, febre, calafrios, diminuição de apetite, vermelhidão de pele, perda de cabelo, aftas, dores nas juntas, problemas nos olhos (retinopatia), falta de ar e pressão baixa. - para ciclofosfamida: náuseas, vômitos, perda de cabelo, risco aumentado de infecções, diminuição do número de células brancas no sangue, anemia, infecções da bexiga acompanhada ou não de sangramento. - para ciclosporina: problemas nos rins e fígado, tremores, aumento da quantidade de pêlos no corpo, pressão alta, aumento do crescimento da gengiva, aumento do colesterol e triglicerídeos, formigamentos, dor no peito, batimentos rápidos do coração, convulsões, confusão, ansiedade, depressão, fraqueza, dores de cabeça, unhas e cabelos quebradiços, coceira, espinhas, náuseas, vômitos, perda de apetite, soluços, inflamação na boca, dificuldade para engolir, sangramentos, ias, inflamação do pâncreas, prisão de ventre, desconforto abdominal, diminuição das células brancas do sangue, linfoma, calorões, aumento da quantidade de cálcio, magnésio e ácido úrico no sangue, toxicidade para os músculos, problemas respiratórios, sensibilidade aumentada a temperatura e aumento das mamas; - para imunoglobulina humana: dor de cabeça, calafrios, febre, reações no local de aplicação da injeção e incluem dor, coceira e vermelhidão.Problemas renais que incluem aumento de creatinina e uréia no sangue, insuficiência renal aguda, necrose tubular aguda, nefropatia tubular proximal, nefrose osmótica. Estou ciente de que este(s) medicamento(s) somente pode(m) ser utilizado(s) por mim, comprometendo-me a devolvê-lo(s) caso não queira ou não possa utilizá-lo ou se o tratamento for interrompido. Sei também que continuarei ser assistido, inclusive em caso de eu desistir de usar o medicamento. Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento, desde que assegurado o anonimato. O meu tratamento constará dos seguintes medicamentos: ( ) azatioprina ( ) ciclofosfamida ( ) ciclosporina ( ) imunoglobulina humana Local: Data: Nome do paciente: Cartão Nacional de Saúde: Nome do responsável legal: Documento de identificação do responsável legal: _____________________________________ Assinatura do paciente ou do responsável legal Médico Responsável: CRM: UF: ___________________________ Assinatura e carimbo do médico Data:____________________ Observação: Este Termo é obrigatório ao se solicitar o fornecimento de medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) e deverá ser preenchido em duas vias, ficando uma arquivada na farmácia e a outra entregue ao usuário ou seu responsável legal. Nota: A administração endovenosa de metilprednisolona e de ciclofosfamida é contemplada, respectivamente, pelos procedimentos 0303020016 - PULSOTERAPIA I (POR APLICAÇÃO) e 0303020024 - PULSOTERAPIA II (POR APLICAÇÃO), da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais do SUS. CONSULTA PÚBLICA No- 11, DE 10 DE MARÇO DE 2010 O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, Considerando a importância do papel que desempenham os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a melhoria da qualidade da atenção à saúde, para a prescrição segura e eficaz, para a atualização e democratização do conhecimento, para a melhoria da qualidade da informação prestada aos doentes e para a melhoria dos processos gerenciais dos programas assistenciais; Considerando a necessidade de se estabelecer critérios de diagnóstico e tratamento de enfermidades, e, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, promover o uso racional dos medicamentos para o tratamento de doenças por meio de regulamentação de indicações e esquemas terapêuticos; Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas são resultado de consenso técnico-científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia; Considerando a necessidade de estabelecer mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a necessidade de se promover ampla discussão desses Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, possibilitando a participação efetiva, na sua formulação, da comunidade técnico-científica, associações médicas, profissionais da saúde, associações de pacientes, usuários e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população em geral; Considerando a necessidade de atualizar o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Hiperprolactinemia, estabelecidos pela Portaria SCTIE/MS nº 76, de 1º de novembro de 2006; e Considerando a Portaria SAS/MS nº 375, de 10 de novembro de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS, resolve: Art. 1º - Submeter à Consulta Pública o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - HIPERPROLACTINEMIA, constante do Anexo deste Ato e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade dele integrante. Parágrafo único. O Protocolo Clínico e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade, de que trata este Artigo, encontramse disponíveis, também, no sítio: www.saude.gov.br/sas - legislação. Art. 2º - Estabelecer o prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicação desta Consulta Pública, para que sejam apresentadas sugestões, devidamente fundamentadas, relativas ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de que trata o Artigo 1º desta Consulta Pública. § 1º - As sugestões devem ser encaminhadas, exclusivamente, para o seguinte endereço eletrônico: pcdt.consulta2010@saude. gov.br, especificando o número da Consulta Pública e o nome do Protocolo no título da mensagem; § 2º - As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas em: I. Estudos Clínicos de fase III - realizados no Brasil ou exterior; e II. Meta-análises de Ensaios Clínicos. Art. 3º - Determinar que o Departamento de Atenção Especializada - Secretaria de Atenção à Saúde coordene a avaliação das proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas ora submetido à Consulta Pública, para que, findo o prazo estabelecido no Artigo 2º deste Ato, seja aprovado e publicado, passando a vigorar em todo o território nacional. Parágrafo único. O novo Protocolo passará a vigorar em todo o território nacional após a devida aprovação e publicação por meio de Portaria específica. Art. 4º - Esta Consulta Pública entra em vigor na data de sua publicação. ALBERTO BELTRAME ANEXO PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS HIPERPROLACTINEMIA 1- METODOLOGIA DE BUSCA E AVALIAÇÃO DE LITERATURA Inicialmente foi realizada uma busca na literatura de artigos de revisão que abrangessem os seguintes tópicos relacionados à hiperprolactinemia: etiologia, manifestações clínicas, complicações e diagnóstico. Posteriormente, foi feita uma estratégia de busca nas bases de dados eletrônicas Embase, Pubmed, Lilacs e CENTRAL (the Cochrane, Library) com o intuito de identificar estudos envolvendo bromocriptina quando comparada a cabergolina no tratamento dos pacientes com hiperprolactinemia. Os termos utilizados na busca foram os descritores DeCS/MeSH relacionados à hiperprolactinemia, prolactinoma, cabergolina e bromocriptina. 2- INTRODUÇÃO A prolactina é um hormônio produzido pelas células lactotróficas da hipófise anterior e tem como principal função a indução e manutenção da lactação. Quanto à sua regulação, o hipotálamo exerce influência inibitória por meio da liberação da dopamina, cuja ação se faz predominantemente nos receptores D2 dos lactotrofos. A hiperprolactinemia é uma alteração frequente na prática médica, sendo responsável por amenorréia secundária em 20% a 25% dos casos(1). As causas desta anormalidade se enquadram em três principais categorias: fisiológicas, farmacológicas e patológicas. As causas fisiológicas mais importantes são gravidez e amamentação. Os medicamentos que mais ocasionam a hiperprolactinemia são os neurolépticos (fenotiazinas, butirofenonas, risperidona, sulpirida), os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, clomipramina), inibidores da monoaminoxidase, alguns anti-hipertensivos (verapamil, reserpina, metildopa), os medicamentos de ação gastrointestinal (domperidona, metoclopramina) e, mais raramente, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina e os contraceptivos orais, entre outros (Tabela 1)(2 3). Entre as causas patológicas, os prolactinomas são os mais importantes. Estes são adenomas da hipófise que expressam e secretam prolactina em diversos graus e são geralmente classificados de acordo com o tamanho: microadenomas (com menos de 10 mm de diâmetro) ou macroadenomas (iguais ou maiores que 10 mm). Nas mulheres, mais de 90% dos prolactinomas são tumores intra-selares, pequenos e raramente aumentam de tamanho; porém nos homens e em crianças a grande maioria é macroadenoma ao diagnóstico)3). A hiperprolactinemia é encontrada em cerca de 40% dos pacientes com hipotireoidismo primário(4) e em 30% dos casos de síndrome dos ovários policísticos (SOP)(5). Pode também ser uma manifestação ocasional da doença de Addison e um achado comum em pacientes com cirrose hepática ou insuficiência renal. A denominação hiperprolactinemia idiopática tem sido reservada para os pacientes sem uma causa óbvia para o distúrbio hormonal. Na maioria dos casos, trata-se, provavelmente, de microadenomas muito pequenos que não foram visualizados pela Ressonância Magnética (RM)(6). Em pacientes assintomáticos deve-se antes investigar a macroprolactinemia. As manifestações clínicas podem decorrer da ação direta da prolactina no tecido mamário, do hipogonadismo ou do efeito massa nas hiperprolactinemias tumorais(7). Na primeira, tem-se a galactorréia que é um sinal clínico característico da hiperprolactinemia, exceto em casos de hipoestrogenismo associado. A hiperprolactinemia interrompe a secreção pulsátil do hormônio liberador de gonadotrofina, inibe a liberação de hormônio luteinizante e hormônio folículo estimulante e reduz diretamente a esteroidogênese gonadal. De maneira coletiva, essas alterações levam à amenorréia nas mulheres, impotência e disfunção erétil nos homens, infertilidade, diminuição da libido e, a longo prazo, podem ocasionar diminuição da densidade mineral óssea em ambos. Nos prolactinomas, principalmente em tumores grandes, a compressão de outras células hipofisárias ou do tronco hipotálamo-hipofisário pode causar hipopituitarismo, e as manifestações neurológicas e oftalmológicas são também comuns, representadas principalmente por cefaléia e alterações nos campos visuais. Tabela 1. Principais medicamentos que podem causar hiperprolactinemia. Neurolépticos Fenotiazinas Butirofenonas Tioxantenos Neurolépticos atípicos Risperidona Molindona Antidepressivos Antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos Inibidores da monoamino oxidase Inibidores seletivos da recaptação da serotonina Outros Opióides e cocaína Antihipertensivos Verapamil Metildopa Reserpina Medicamentos Gastrointestinais Metoclopramina Domperidona Antagonistas dos Receptores H2 de Histamina (?) Estrógenos Adaptado de Molitch 20052. 3- CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID 10) - E22.1. Hiperprolactinemia - D35. 2. Neoplasia benigna da glândula hipófise (pituitária) 4. DIAGNÓSTICO 4.1. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Em mulheres, o diagnóstico de hiperprolactinemia deve ser investigado frente à ocorrência de distúrbios menstruais, particularmente oligomenorréia e amenorréia, galactorréia ou infertilidade, e em homens com sintomas de hipogonadismo, diminuição da libido, disfunção erétil, e infertilidade. Esta hipótese diagnóstica deve também ser considerada em qualquer paciente com sinais e sintomas decorrentes de efeito massa na região selar, como anormalidades de campos visuais e hipopituitarismo associado. 4.2. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Durante a avaliação de um paciente com sintomas ou sinais clínicos ou exames laboratoriais de hiperprolactinemia, é fundamental que causas fisiológicas e medicamentosas sejam afastadas por meio de uma cuidadosa história clínica, um bom exame físico e teste de gravidez quando for necessário. Hiperprolactinemia laboratorial em pacientes assintomáticos deve levar à investigação de macroprolactinemia. Além disso, deve-se dosar o TSH e proceder a exames bioquímicos de função renal e hepática, para que sejam afastados respectivamente o hipotireoidismo primário, a insuficiência renal e a insuficiência hepática(3,6). Em pacientes com macroadenomas hipofisários associados com hiperprolactinemia, o diagnóstico diferencial se impõe entre macroprolactinoma e pseudo-prolactinomas (lesões selares ou periselares que provocam aumento da prolactina sérica por compressão da haste hipofisária, e não por produção aumentada de prolactina). 4.3. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Por muitos anos a prolactina foi mensurada por radioimunoensaio, mas atualmente esse método tem sido substituído pelos ensaios de quimioluminescência e imunoradiométrico. Para os ensaios mais comumente utilizados (1 mcg/L equivalente a 21,2 mIU/L, padrão OMS 84/500), os níveis séricos normais de prolactina geralmente são menores que 20 ng/mL e 25 ng/mL em homens e mulheres, respectivamente3 6. Contudo, outros ensaios podem padronizar valores diferentes como normais, e por isso o resultado deve ser interpretado de acordo com o método de dosagem utilizado. Geralmente os níveis da hiperprolactinemia têm relação com sua etiologia; níveis alterados até 100 ng/mL estão mais associados a medicamentos psicoativos, estrógeno, causa idiopática, e aos microprolactinomas; níveis maiores que 200 mcg/L estão associados aos prolactinomas, sendo que os macroprolactinomas na maioria das vezes apresentam valores maiores que 250 ng/mL.(3) Para a determinação inicial de hiperprolactinemia, é ideal que a coleta de sangue seja realizada pelo menos uma hora após a alimentação e o despertar, e deve-se também evitar o estresse excessivo da venopunção3 6. Na maioria das vezes, uma única medida sérica da prolactina é adequada para fazer o diagnóstico de hiperprolactinemia em associação com dados clínicos e radiográficos, mas um resultado pouco elevado (20 a 60 ng/mL) deve ser confirmado, especialmente quando não há correlação clínica com a hiperprolactinemia laboratorial. 4.4. DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO Uma vez confirmada a hiperprolactinemia e tendo sido afastadas as causas secundárias anteriormente citadas, o paciente deve então ser submetido à RM de hipófise para a pesquisa do prolactinoma. A Tomografia Computadorizada (TC) é menos efetiva que a RM para a identificação desses tumores, principalmente para os microprolactinomas, mas ela pode ser útil na impossibilidade ou contraindicação da realização da primeira, particularmente nas suspeitas de macroprolactinomas(3). Por outro lado, uma RM de hipófise normal não exclui a presença de um microprolactinoma, pois muitas destas lesões são menores do que a capacidade de detecção deste exame. Existem duas armadilhas na investigação da hiperprolactinemia: a presença da macroprolactina e o chamado "efeito gancho"( 8). A primeira resulta de uma ligação anômala da prolactina a imunoglobulinas circulantes, formando um complexo de alto peso molecular. Essa ligação reduz a atividade biológica da prolactina, significando que os indivíduos com macroprolactinemia têm elevadas concentrações no soro da prolactina, mas geralmente são assintomáticos( 9). Por isso, esse diagnóstico deve ser considerado principalmente nos indivíduos que se apresentem com queixas não relacionadas à hiperprolactinemia, que foi detectada por acaso num exame laboratorial. A pesquisa da macroprolactinemia é realizada pelo teste de precipitação com polietilenoglicol (PEG), que se baseia na insolubilização das imunoglobulinas após exposição a concentrações definidas de PEG. Após esse procedimento, recuperações menores que 30% da prolactina são diagnósticos de macroprolactinemia, enquanto recuperações maiores do que 65% afastam esse diagnóstico. Valores intermediários entre 30% e 65% de recuperação não permitem um diagnóstico preciso e, nesses casos, é necessário solicitar a cromatografia liquida em coluna de filtração por gel para a definição do problema(10 11). O "efeito gancho" caracteriza-se pela leitura de valores falsamente baixos de prolactina em casos de macroprolactinomas que secretam grandes quantidades de hormônio. Esse efeito dever ser suspeitado nos indivíduos com macroadenomas hipofisários e valores normais ou não muito elevados de prolactina (até 200 ng/mL), e para excluí-lo deve-se solicitar a dosagem da prolactina diluída(8). O diagnóstico diferencial nestes casos são com os chamados "pseudoprolactinomas" - lesões selares e peri-selares que provocam hiperprolactinemia por compressão da haste hipofisária, e não por produção excessiva de prolactina pela lesão. Nestes últimos, a prolactina diluída não mostrará valores elevados, enquanto nos macroprolactinomas com "efeito gancho" na dosagem de prolactina, a diluição da amostra mostrará valores extremamente altos de prolactina sérica. 5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos neste Protocolo de tratamento de hiperprolactinemia os pacientes que apresentarem dois critérios de inclusão abaixo, sendo o critério (a) obrigatório: a - Níveis elevados de prolactina (maior que 20 ng/mL em homens e maior que 30 ng/mL em mulheres); b - TC ou RM de hipófise demonstrando macroprolactinoma; c- RM de hipófise demonstrando microprolactinoma associado à clínica de hiperprolactinemia e/ou hipogonadismo; d - Exame de RM de hipófise normal, mas associado à clínica de hiperprolactinemia e/ou hipogonadismo. 6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão excluídos deste Protocolo de tratamento de hiperprolactinemia os pacientes que apresentarem qualquer um dos critérios abaixo: a - Hipotireoidismo Primário como causa da hiperprolactinemia; b - Hiperprolactinemia secundária a medicamento; c - Gestação como causa da hiperprolactinemia; d - Macroprolactinemia positiva (taxa de recuperação menor que 30%, teste PEG); e - Insuficiência renal e hepática; f -Hipersensiblildade ao(s) medicamento(s); ou g -Pacientes com hiperprolactinemia por compressão da haste hipofisária ("pseudoprolactinomas"). 7. CASOS ESPECIAIS Hiperprolactinemia induzida por medicamento Para os pacientes com hiperprolactinemia induzida por medicamento, o tratamento primário consiste em suspendê-lo ou substituíla por algum outro fármaco alternativo. Quando se tratar do uso de neurolépticos, deve-se discutir com o psiquiatra a possibilidade da troca por um antipsicótico que não cause essa alteração hormonal, ou a cause em menor intensiade (2). O mesmo se faz para os indivíduos em uso de antidepressivos. O tratamento com agonista dopaminérgico não é, a princípio, recomendado nessas situações, e seu uso deve se limitar a casos bem específicos, quando não há alternativas terapêuticas, sempre de comum acordo e acompanhamento com o psiquiatra. Para os casos de pacientes sintomáticos, em que o medicamento não pode ser suspenso, uma alternativa a ser considerada é a reposição de estrógeno/testosterona, ou ainda o uso do bisfosfonato se há osteoporose (2 3). 8. TRATAMENTO O objetivo primário do tratamento de pacientes com microprolactinoma ou hiperprolactinemia idiopática é restaurar a função gonadal e sexual por meio da normalização da prolactina. Mas, no caso dos macroprolactinomas, além do controle hormonal, a redução e o controle tumoral são fundamentais. Sendo assim, todos os pacientes com macroadenoma necessitarão de tratamento. Nos demais casos, terão indicação apenas os indivíduos com sintomatologia decorrente da hiperprolactinemia, tais como: infertilidade, galactorréia relevante, alterações no desenvolvimento puberal ou hipogonadismo de longa data. Ocasionalmente, mulheres com hiperprolactinemia leve, ciclos menstruais regulares e que desejam engravidar necessitarão também do tratamento(3). Portanto, a não introdução do agonista dopaminérgico pode ser uma opção para os pacientes com microprolactinoma ou hiperprolactinemia idiopática que são assintomáticos, ou ainda para as mulheres com menstruação regular, com galoctorreia leve e prole constituída, e para as mulheres menopausadas e apenas com galactorreia leve. No entanto, esses pacientes devem ser seguidos com mensurações frequentes de prolactina, a fim de se detectar precocemente o aumento de algum tumor pré-existente(3). Uma vez feito o diagnóstico de hiperprolactinemia, o paciente ter preenchido os critérios de inclusão e tendo sido afastados os fatores de exclusão descritos, a cabergolina deve ser o tratamento inicial tanto para a causa idiopática como tumoral, ficando a bromocriptina reservada para as mulheres hiperprolactinêmicas com desejo de engravidar, ou na indisponibilidade do primeiro. 8.1. OPÇÕES FARMACOLÓGICAS DE TRATAMENTO. Os agonistas dopaminérgicos constituem a primeira opção de tratamento. Estes fármacos normalizam os níveis de prolactina, restauram a função gonadal e reduzem significativamente o volume tumoral dos prolactinomas na maioria dos pacientes(3). Todos os agonistas dopaminérgicos são eficazes, mas a cabergolina e a bromocriptina são os mais usados. A bromocriptina tem sido utilizada há mais de 25 anos no tratamento da hiperprolactinemia, apresentando taxas de 48% a 72% de normalização da prolactina(12-17), e de aproximadamente 70% na redução dos macroprolactinomas18-20. Devido sua meia vida curta, ela é tomada duas a três vezes ao dia com doses variando de 2,5 a 15 mg, na maioria das vezes não se ultrapassando 7,5 mg/dia. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômitos, cefaléia, tontura, hipotensão postural, e acometem de 20% a 78% dos usuários (13 15 17 21). A cabergolina é um agonista específico ao receptor D2 da dopamina e possui uma meia vida longa, geralmente administrada semanalmente, na dose de 1 a 2 mg, mas em algumas situações doses maiores que 3 mg/semana são necessárias. A taxa de normalização de prolactina e redução tumoral são de 76,5% a 93% e 67% a 92 %, respectivamente(12 13 15 17 20-22), e os efeitos colaterais, embora sejam similares, são muito menos frequentes do que os observados com a bromocriptina. Pela maior eficácia e melhor tolerância, a cabergolina é considerada superior a bromocriptina no tratamento da hiperprolactinemia, sendo o medicamento de primeira escolha do tratamento. Em suma, os estudos sugerem que a cabergolina seja a primeira opção de tratamento para hiperprolactinemia idiopática e tumoral, tanto em caso de micro como de macroprolactinoma. A bromocriptina deve ser preferida como primeira escolha somente em mulheres hiperprolactinêmicas com infertilidade e desejo de engravidar, pela maior segurança e experiência com este medicamento em gestantes. Devido os efeitos colaterais já mencionados desses fármacos, é recomendado uma introdução com doses baixas e aumento gradativo das mesmas: - Bromocriptina: recomenda-se iniciar com 1,25 mg, por via oral, depois do jantar ou a hora de dormir durante uma semana; então aumentar para 1,25 mg duas vezes por dia (depois do café da manhã e depois do jantar ou a hora de dormir); e incrementos de dose de 2,5 mg podem ser realizados a cada três a sete dias conforme a necessidade. - Cabergolina: recomenda-se iniciar com 0,25 mg, por via oral, duas vezes por semana ou 0,5 mg uma vez por semana; e incrementos de 0,25 mg a 1 mg duas vezes por semana podem ser realizados, com intervalo de incremento de no mínimo 4 semanas conforme necessidade. 8.2. CIRURGIA E RADIOTERAPIA COMO OPÇÃO DE TRATAMENTO PARA OS PROLACTINOMAS. Embora em alguns centros com neurocirurgiões experientes a taxa de cura cirúrgica para microprolactinomas e macroadenomas pequenos seja ao redor de 75%, o agonista dopaminérgico é o tratamento de escolha para esses tumores. Nos macroprolactinomas maiores e mais invasivos, o tratamento medicamentoso deve ser sempre a primeira opção, uma vez que a cirurgia não é isenta de complicações e as taxas de cura são muito baixas. Entretanto, até 10% dos pacientes com macroprolactinoma podem requerer a cirurgia, caso não ocorra resposta aos agonistas dopaminérgicos ou ainda se o déficit visual não melhorar com o tratamento medicamentoso. Nesses casos, a retirada parcial da massa tumoral pode também proporcionar melhor resposta ao tratamento com agonista dopaminérgico. Outras possíveis indicações para o tratamento cirúrgico incluem os macroprolactinomas císticos que causem sintomas neurológicos, apoplexia com déficit neurológico e intolerância aos agonistas dopaminérgicos(3). A radioterapia externa raramente é indicada em caso de prolactinoma, principalmente pela sua baixa eficácia e efeitos colaterais relevantes, como hipopituitarismo, danos ao nervo óptico, disfunção neurológica e risco aumentado de acidente vascular cerebral e neoplasias secundárias. Ela é reservada apenas aos pacientes com tumores agressivos ou prolactinomas malignos, não responsivos aos agonistas dopaminérgicos e a cirurgia. 9. MONITORIZAÇÃO E ACOMPANHAMENTO 9.1. HIPERPROLACTINEMIA IDIOPÁTICA OU MICROPROLACTINOMA O objetivo principal do tratamento de pacientes com hiperprolactinemia idiopática ou microprolactinoma é restaurar a função gonadal e a fertilidade. Em 90% a 95% dos casos de microprolactinoma não há progressão no tamanho do tumor, de maneira que a redução desses tumores não é uma meta do tratamento, embora isso possa ocorrer na maioria dos casos. Uma vez normalizados os níveis da prolactina, a mesma pode ser mensurada anualmente. Caso não ocorra normalização dos níveis da prolactina, deve-se aumentar a dose do agonista dopaminérgico prescrito, e se não obtiver resposta deve-se trocar por outro agonista dopaminérgico. É importante ressaltar que o agonista dopaminérgico pode restaurar a função gonadal, em vigência dos níveis ainda altos de prolactina; nesses casos a resposta clinica deve ser superior aos níveis de prolactina para o seguimento e ajuste de dose do medicamento(3). Ainda não há sinais preditivos para avaliar se a suspensão do agonista dopaminérgico nesses pacientes será segura. Contudo, recentes estudos têm indicado que a retirada desses fármacos pode ser segura em pacientes com longo tempo de normalização da prolactina e sem evidência de tumor pela RM(26-28). Uma vez suspenso o agonista dopaminérgico, pode recidivar a hiperprolactinemia, mas geralmente sem se acompanhar de recrescimento tumoral. A possibilidade desse crescimento parece ser maior se a duração do tratamento antes da retirada do medicamento for inferior a 12 meses; por isso o tempo mínimo de tratamento com agonista dopaminérgico recomendado29 é de pelo menos um ano(3), o que representa um intervalo de tempo aceitável para manter esse medicamento uma vez tendo sido regularizado o quadro clínico do paciente. Entretanto esses indivíduos devem ser seguidos cuidadosamente para avaliação de recidiva da alteração hormonal. 9.2. MACROPROLACTINOMA Como já citado, no grupo de pacientes com macroprolactinoma o tratamento visa, além da normalização da prolactina, à redução tumoral. O tratamento deve ser iniciado com baixas doses do agonista dopaminérgico e aumentado gradativamente. A redução tumoral pode ser observada de uma a duas semanas após inicio do tratamento, enquanto que para alguns pacientes essa resposta pode ser mais tardia. Tem se observado também que junto com a redução tumoral, há melhora do déficit visual, recuperação do hipopituitarismo e restauração do ciclo ovulatório em 90% das mulheres prémenopausadas( 30). É recomendado então monitorar a prolactina e repetir a RM de hipófise dois a três meses depois de introduzido o medicamento, e repeti-la periodicamente de acordo com a evolução do paciente. Uma vez tendo sido normalizados os níveis da prolactina por pelo menos dois anos, e o tumor reduzido em mais de 50% do tamanho inicial, a dose do agonista dopaminérgico pode ser diminuída gradativamente até a menor dose de cada classe, pois nesse estágio baixas doses são capazes de manter estáveis os níveis de prolactina e o tamanho tumoral(3). E se o paciente apresentar níveis normais de prolactina após três anos de uso do agonista dopaminérgico, associado a uma marcante redução tumoral, pode ser feita tentativa de suspensão do fármaco. No entanto, pode haver recorrência da hiperprolactinemia e do crescimento da lesão, de maneira que é mandatório o seguimento periódico desses indivíduos. 9.3. USO DOS AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS NA GESTAÇÃO Há uma ampla experiência de mulheres que ficaram grávidas em vigência do uso da bromocriptina, e que também a mantiveram durante a gestação. A incidência de abortos, malformações congênitas e gravidez ectópica nesse grupo de pacientes não é maior que à da população geral(31-32). Resultados similares também têm sido reportados nas pacientes que usaram a cabergolina antes e durante a gravidez(33-37). Mas, como a segurança da bromocriptina já foi observada em mais de 6.000 mulheres que engravidaram em vigência do seu uso, e com a cabergolina essa experiência é menor, tem-se preconizado o uso da primeira nas pacientes hiperprolactinêmicas que querem engravidar. Entretanto, estudos mais recentes têm confirmado que o uso da cabergolina durante e após a gestação não aumentou a incidência de abortos e malformações congênitas, sugerindo que seu uso também é seguro durante a gestação(38-40). Apesar disto, a recomendação é que todas as grávidas, independentemente do agonista dopaminérgico, sejam expostas ao menor tempo de uso, principalmente no primeiro trimestre da gestação. Para as mulheres com microprolactinoma ou hiperprolactinemia idiopática, há uma concordância geral de que esses fármacos sejam suspensos quando confirmado a gravidez. Quanto aos macroprolactinomas, ainda não existe um consenso sobre a melhor maneira de acompanhá-los durante a gestação. Alguns recomendam manter o tratamento nos tumores com maior chance de crescimento; outros orientam suspender o medicamento e monitorar cuidadosamente a paciente. O preconizado para esses casos é que a conduta deve ser individualizada e com avaliação frequente no que se refere aos sinais e sintomas de expansão tumoral, tais como cefaléia ou defeito de campo visual. 9.4. CABERGOLINA E VALVOPATIA CARDÍACA Recentemente o uso de altas doses de cabergolina (>3 mg/dia ou >20 mg/semana), particularmente doses cumulativas superiores a 4.000 mg, foi associado com valvopatias cardíacas em doentes de Parkinson(41-42). As doses usadas no prolactinoma são muito inferiores a essa, geralmente não ultrapassando 3,5 mg por semana. Um estudo associou o uso prolongado de diversos agonistas dopaminérgicos para prolactinoma com o aumento da prevalência de calcificação valvar aórtica e regurgitação tricúspide leve, mas sem doença clínica(43). Em outro estudo observacional mais recente, também em pacientes com prolactinoma, não se evidenciou associação da cabergolina com estreitamento ou regurgitação valvar(44). A conclusão é que novos estudos serão necessários para confirmar se essa associação existe com as doses utilizadas na hiperprolactinemia. Por enquanto, recomenda-se que os pacientes sejam observados quanto a manifestações de doenças cardíacas valvares, e principalmente para os pacientes com doses altas de cabergolina (> 3 mg/semana) deve-se realizar um ecococardiograma transtorácico antes de iniciar o tratamento e durante o seguimento. 10. REGULAÇÃO, CONTROLE E AVALIAÇÃO PELO GESTOR Há de se observar os critérios de inclusão e exclusão de doentes neste Protocolo, a duração e a monitorização do tratamento, bem como para a verificação periódica das doses de medicamento(s) prescritas e dispensadas, e da adequação de uso e do acompanhamento pós-tratamento. 11. TERMOS DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE É obrigatória a cientificação do paciente ou de seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos colaterais ao uso de medicamento preconizado neste Protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. 12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Brue T, Delemer B. Diagnosis and management of hyperprolactinemia: expert consensus - French Society of Endocrinology. Ann Endocrinol (Paris) 2007;68(1):58-64. 2. Molitch ME. Medication-induced hyperprolactinemia. Mayo Clin Proc 2005;80(8):1050-7. 3. Casanueva FF, Molitch ME, Schlechte JA, Abs R, Bonert V, Bronstein MD, et al. Guidelines of the Pituitary Society for the diagnosis and management of prolactinomas. Clin Endocrinol (Oxf) 2006;65(2):265-73. 4. Notsu K, Ito Y, Furuya H, Ohguni S, Kato Y. Incidence of hyperprolactinemia in patients with Hashimoto's thyroiditis. Endocr J 1997;44(1):89-94. 5. Abram F, Linke F, Kalfon A, Tchovelidze C, Chelbi N, Arvis G. [Erectile dysfunction secondary to hyperprolactinemia. Apropos of 13 cases]. Prog Urol 1998;8(4):537-41. 6. Chahal J, Schlechte J. Hyperprolactinemia. Pituitary 2008; 11( 2): 141- 6. 7. 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TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO BROMOCRIPTINA E CABERGOLINA Eu,______________________________________________ (nome do(a) paciente), abaixo identificado(a) e firmado(a), declaro ter sido informado(a) claramente sobre todas as indicações, contra-indicações, principais efeitos colaterais e riscos relacionados ao uso dos medicamentos bromocriptina e cabergolina indicados para o tratamento da hiperprolactinemia. Estou ciente de que este medicamento somente pode ser utilizado por mim, comprometendo-me a devolvê-lo caso o tratamento seja interrompido. Os termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram esclarecidas pelo médico____________________ (nome do médico que prescreve). Expresso também minha concordância e espontânea vontade em submeter-me ao referido tratamento, assumindo a responsabilidade e os riscos por eventuais efeitos indesejáveis. Assim, declaro que: Fui claramente informado(a) que caso os meus sintomas sejam decorrentes da hiperprolactinemia, esses medicamentos podem trazer os seguintes benefícios: - Redução e/ou normalização dos níveis da prolactina; - Redução do tumor da hipófise (adenoma), com alívio dos sintomas associados, tais como: distúrbios visuais e alterações nos nervos cranianos; - Regularização dos ciclos menstruais; - Melhora do desejo sexual; - Correção da infertilidade; - Reversão e/ou estabilização da perda de massa óssea. Fui também claramente informado(a) a respeito das seguintes contra-indicações, e potenciais efeitos colaterais e riscos: - Estes medicamentos foram classificados na gestação como fator de risco B, ou seja, estudos em animais não mostraram anormalidades nos seus descendentes. São necessários mais estudos sobre estes medicamento em seres humanos, porém o risco de qualquer alteração para o bebê é muito improvável. - A bromocriptina pode causar náuseas, vômitos, dor de cabeça, tontura, cansaço, alterações digestivas, secura da boca, perda de apetite e congestão nasal, hipotensão ortostática, alterações dos batimentos cardíacos, inchaço de pés, perda de cabelo, psicose, alucinação, insônia, pesadelos, aumento dos movimentos do corpo, fibrose pleuro-pulmonar e peritoneal, pressão alta (raro). - A cabergolina pode causar dores de cabeça, tonturas, náuseas, fraqueza, cansaço, hipotensão ortostática, desmaios, sintomas gripais, mal estar, inchaço nos olhos e pernas, calorões, pressão baixa, palpitação, vertigem, depressão, sonolência, ansiedade, insônia, dificuldade de concentração, nervosismo, espinhas, coceiras, dor no peito, distúrbios na menstruação, prisão de ventre, dores abdominais, azia, dor de estômago, vômitos, boca seca, diarréia gases, irritação na garganta, dor de dente, perda de apetite, dores no corpo, alteração da visão. - Esses medicamentos interferem na lactação, portanto o uso dos mesmos durante a lactação deverá ser feito de acordo com avaliação risco-benefício; - A descontinuação do tratamento sem a autorização médica poderá ocasionar recrescimento do tumor (adenoma), recidiva da hiperprolactinemia e dos sintomas iniciais; -Esses medicamentos são contra-indicados em caso de hipersensibilidade aos mesmos; - O risco dos efeitos adversos aumenta com a super-dosagem dos mesmos. Estou ciente de que posso suspender o tratamento a qualquer momento, mas me comprometo a avisar o médico responsável caso isso venha ocorrer. Sendo que este fato não implicará em qualquer forma de constrangimento entre mim e meu médico, que se dispõe a continuar me tratando em quaisquer circunstâncias. Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento desde que assegurado o anonimato. Declaro, finalmente, ter compreendido e concordado com todos os termos deste Consentimento Informado. Assim, o faço por livre e espontânea vontade e por decisão conjunta, minha e de meu médico. O meu tratamento constará do seguinte medicamento: ( ) bromocriptina ( ) cabergolina Local: Data: Nome do paciente: Cartão Nacional de Saúde: Nome do responsável legal: Documento de identificação do responsável legal: _____________________________________ Assinatura do paciente ou do responsável legal Médico Responsável: CRM: UF: ___________________________ Assinatura e carimbo do médico Data:____________________ Observação: Este Termo é obrigatório ao se solicitar o fornecimento de medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica e deverá ser preenchido em duas vias, ficando uma arquivada na farmácia e a outra entregue ao usuário ou seu responsável legal. CONSULTA PÚBLICA No- 12, DE 10 DE MARÇO DE 2010 O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, Considerando a importância do papel que desempenham os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a melhoria da qualidade da atenção à saúde, para a prescrição segura e eficaz, para a atualização e democratização do conhecimento, para a melhoria da qualidade da informação prestada aos doentes e para a melhoria dos processos gerenciais dos programas assistenciais; Considerando a necessidade de se estabelecer critérios de diagnóstico e tratamento de enfermidades, e, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, promover o uso racional dos medicamentos para o tratamento de doenças por meio de regulamentação de indicações e esquemas terapêuticos; Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas são resultado de consenso técnico-científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia; Considerando a necessidade de estabelecer mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a necessidade de se promover ampla discussão desses Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, possibilitando a participação efetiva, na sua formulação, da comunidade técnico-científica, associações médicas, profissionais da saúde, associações de pacientes, usuários e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população em geral; Considerando a necessidade de estabelecer o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Miastenia Gravis; e Considerando a Portaria SAS/MS nº 375, de 10 de novembro de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS, resolve: Art. 1º - Submeter à Consulta Pública o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - MIASTENIA GRAVIS, constante do Anexo deste Ato e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade dele integrante. Parágrafo único. O Protocolo Clínico e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade, de que trata este Artigo, encontramse disponíveis, também, no sítio: www.saude.gov.br/sas - legislação. Art. 2º - Estabelecer o prazo de 30 (trinta) dias a contar da data da publicação desta Consulta Pública, para que sejam apresentadas sugestões, devidamente fundamentadas, relativas ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de que trata o Artigo 1º desta Consulta Pública. § 1º - As sugestões devem ser encaminhadas, exclusivamente, para o seguinte endereço eletrônico: pcdt.consulta2010@saude. gov.br, especificando o número da Consulta Pública e o nome do Protocolo no título da mensagem; § 2º - As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas em: I. Estudos Clínicos de fase III - realizados no Brasil ou exterior; e II. Meta-análises de Ensaios Clínicos. Art. 3º - Determinar que o Departamento de Atenção Especializada - Secretaria de Atenção à Saúde coordene a avaliação das proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas ora submetido à Consulta Pública, para que, findo o prazo estabelecido no Artigo 2º deste Ato, seja aprovado e publicado, passando a vigorar em todo o território nacional. Parágrafo único. O novo Protocolo passará a vigorar em todo o território nacional após a devida aprovação e publicação por meio de Portaria específica. Art. 4º - Esta Consulta Pública entra em vigor na data de sua publicação. ALBERTO BELTRAME ANEXO Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Miastenia Gravis 1. METODOLOGIA DE BUSCA Para a análise da eficácia dos tratamentos específicos para a Miastenia Gravis atualmente registrados na ANVISA e, portanto, disponíveis para utilização e comercialização no Brasil, foram realizadas as buscas nas bases descritas abaixo. Foram avaliados todos os estudos disponíveis nas bases descritas e selecionadas para avaliação meta-análises e ensaios clínicos randomizados, controlados e duplo-cegos publicados até a data limite de 01/10/2009. Na base Medline/Pubmed: "prednisone"[Substance Name] AND "myasthenia gravis"[ Mesh] -"azathioprine"[Substance Name] AND " myasthenia gravis "[Mesh] "cyclosporine"[Substance Name] AND "myasthenia gravis"[ Mesh] -"Intravenous Immunoglobulins"[Substance Name] AND "myasthenia gravis"[Mesh] "Plasmapheresis"[Substance Name] AND "myasthenia gravis"[ Mesh] limitadas a: "Humans, Meta-Analysis, Randomized Controlled Trial" Na base Ovid MEDLINE: Intravenous Immunoglobulins AND myasthenia gravis AND Clinical Trial [Publication Type] Plasmapheresis AND myasthenia gravis AND Clinical Trial [Publication Type] Na base Cochrane: "Intravenous Immunoglobulins" "Plasmapheresis" "myasthenia gravis" 2. INTRODUÇÃO A Miastenia Gravis (MG) é uma doença autoimune da porção pós-sináptica da junção neuromuscular caracterizada por fraqueza flutuante que melhora com o repouso e piora com o exercício, infecções, menstruação, ansiedade, estresse emocional e gravidez.(1) Tal fraqueza pode ser limitada a grupos musculares específicos (i.e., músculos oculares, faciais, bulbares) ou ser generalizada. (2,3) A crise miastênica é definida por insuficiência respiratória associada a fraqueza muscular grave.1 A incidência da MG varia de 1-9 por milhão, e a prevalência de 25-142 por milhão de habitantes, havendo discreto predomínio em mulheres.(4) A idade de início é bimodal, sendo os picos de ocorrência em torno de 20-34 anos para mulheres e 70-75 anos para homens.(5,6) Na maioria dos pacientes, a MG é causada por anticorpos contra receptores de acetilcolina (ACh). O papel destes anticorpos na etiologia da MG foi claramente estabelecido nos anos 70, quando a plasmaferese provou ser eficaz na remoção dos mesmos e na conseqüente melhora funcional por mais de 2 meses.(7) Existem também alterações anatômicas bem estabelecidas, tais como aumento do tamanho da junção neuromuscular e diminuição do comprimento da membrana pós-sináptica.(7) Por tratar-se de doença de caráter autoimune, outras afecções de mesma natureza podem coexistir em paciente com diagnóstico de MG, devendo ser rastreadas de forma racional, (4) especialmente hipo/hipertireoidismo e doença do timo. Setenta por cento dos pacientes com MG tem hiperplasia de timo e aproximadamente 10% tem timoma - com potencial para comportamento maligno - sendo este mais comum nos pacientes entre 50 e 70 anos de idade. Entre outras doenças possivelmente concomitantes estão a artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, aplasia de células vermelhas, colite ulcerativa e doença de Addison.(5) As complicações clínicas mais importantes da MG são a tetraparesia e a insuficiência respiratória (crise miastênica). A mortalidade dos pacientes com MG é extremamente baixa (1,7 por milhão da população geral), graças aos avanços na área do Intensivismo. (1) O tratamento da MG objetiva o controle dos sintomas motores característicos, a diminuição das exacerbações, o aumento do período em remissão e tratamento das crises miastênicas. O comportamento da MG frente à gestação, cirurgias de grande porte e ao uso de anestésicos e outros medicamentos será abordado a seguir em seções específicas. 3. CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID-10) G 70.0 Miastenia Gravis 4. DIAGNÓSTICO A história e os achados físicos dão usualmente as pistas iniciais mais importantes da definição da MG, seguidos pelos exames complementares. (1,2) 4.1 DIAGNÓSTICO CLÍNICO Anamnese: uma história detalhada dos sintomas de fraqueza muscular e fatigabilidade é imprescindível para o esclarecimento de queixas vagas, associadas à MG. É importante inquirir sobre progressão dos sintomas miastênicos, que usualmente afetam os músculos oculares na fase inicial, mas tendem a generalizar-se dentro de 2-3 anos após o diagnóstico. Anormalidades oculares: freqüentemente há queixa de ptose palpebral, visão borrada ou diplopia, particularmente após uma sessão de leitura ou ao final do dia. O envolvimento da musculatura ocular externa estará presente em 90%-95% dos casos em algum momento da doença. Uma maneira de aumentar a sensibilidade da detecção deste achado é pedir ao paciente que olhe para cima de forma sustentada ou abra e feche ambos os olhos repetidamente. Após a manobra, oftalmoplegia completa e nistagmo também podem ser vistos, embora menos freqüentes. Quando a manifestação inicial de uma síndrome miastênica for de origem ocular, a hipótese de Síndrome de Eaton-Lambert é virtualmente excluída.(8) Anormalidades de musculatura bulbar e facial: um terço dos pacientes apresenta dificuldade de mastigação e deglutição, podendo haver inclusive, emagrecimento associado. Regurgitação nasal de líquidos ou sólidos pode resultar do acometimento dos músculos faríngeos e palatais. Caso haja fraqueza concomitante de língua, disartria e voz anasalada podem sobrevir. Embora menos freqüente a fraqueza facial pode ser detectada pedindo ao paciente que feche os olhos contra resistência. Eventualmente, o paciente pode apresentar um "sorriso canino" por falência da musculatura do canto da boca, e retração labial Envolvimento apendicular: fraqueza muscular dos membros e pescoço é encontrada em até 30% dos pacientes, sendo que em apenas 3% destes o predomínio é distal. Anormalidades respiratórias: ocasionalmente os pacientes podem apresentar-se com insuficiência respiratória por fraqueza diafragmática e de músculos respiratórios assessórios,9 configurando a crise miastênica. Uma maneira eficaz de avaliar disfunção respiratória à beira do leito é pedir que o paciente conte em voz alta até 20 após uma inspiração máxima. Caso seja incapaz de realizar tal tarefa sem interromper para respirar novamente, sua capacidade vital forçada pode ser estimada em menos de 1 litro. Demais partes do exame neurológico: sensibilidade e reflexos usualmente são normais. Os pacientes com MG podem ser classificados em 4 grupos de acordo com a Classificação de Osserman e Genkins, (10) levando em consideração o padrão de fraqueza. Na segunda coluna são apresentadas as prevalências de cada um dos grupos (Quadro 1): QUADRO 1 - Classificação da Miatenia Gavis conforme Osserman e Genkins Grupo 1: Ocular 20% Ptose, diplopia Grupo 2a: Generalizada leve 30% Envolvimento ocular e de extremidades, sem sinais bulbares proeminentes Grupo 2b: Generalizada moderadagrave 20% Sinais oculares ou bulbares, envolvimento variável da musculatura apendicular, sem crises presentes Grupo 3: Aguda fulminante 11 % Sinais generalizados com envolvimento bulbar proeminente, com crises presentes Grupo 4: Grave de instalação tardia 9% Generalizada, sinais bulbares proeminentes e crises presentes Fonte: Referência 10 4.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Testes laboratoriais confirmatórios são essenciais para o diagnóstico de MG. A ordem de realização dos mesmos é sugerida: Estudo eletroneuromiográfico: o teste da estimulação elétrica repetitiva, realizado durante a eletromiografia, é o teste de escolha para avaliação de pacientes com potencial disfunção da junção neuromuscular,( 9) sendo o método diagnóstico mais resolutivo entre os disponíveis para o diagnóstico de MG1 variando a sensibilidade conforme o segmento anatômico e a classe de doença, segundo a classificação de Osserman.(10) A técnica inicial recomendada é a da estimulação repetitiva a 3-Hz.4 O teste será positivo caso seja registrado um decremento do potencial de ação muscular composto evocado maior que 10% quando comparado entre o primeiro e o quarto ou quinto estímulo, 1,4 apresentando 75% de sensibilidade.(6) As neuroconduções sensitiva e motora são normais, enquanto que a eletromiografia pode eventualmente demonstrar um padrão miopático concomitante. Caso este exame seja normal e ainda permanecer suspeição diagnóstica, recomenda-se a realização da eletromiografia de fibra única, (11) que apresenta uma sensibilidade de 99%, excluindo virtualmente MG caso sua análise for normal. Laboratorial: o teste imunológico mais comumente utilizado para o diagnóstico de MG mede a quantidade de anticorpo antireceptor de Ach marcado por alfa-bungarotoxina (pesquisa de anticorpo antimúsculo estriado). A sensibilidade deste teste é de 50% na MG ocular e 85% na MG generalizada.(6) Outros exames: uma vez confirmado o diagnóstico, deve-se investigar concomitância de outras doenças freqüentemente associadas com MG. Para tal, recomenda-se realização de tomografia computadorizada de tórax à procura de aumento de volume do timo e planejamento de cirurgia caso houver indicação no futuro. Hemograma, função renal e hepática, eletrólitos, velocidade de eritrossedimentação, provas de função tireóidea e de atividade reumática são necessárias para excluir outras doenças. (1,4) 4.3 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Outras doenças que causam fraqueza muscular sistêmica ou de nervos cranianos podem ser confundidas com MG.(12) Síndromes miastênicas congênitas (não confundir com miastenia gravis juvenil, ou neonatal transitória) são raras e de natureza não-autoimune. MG induzida por fármacos tem sido associada a penicilamina, curare, procainamida, quininas e aminoglicosídeos. Lesões intracranianas com efeito de massa ou lesões de tronco encefálico(7) podem causar achados oculares de nervos cranianos que mimetizam a miastenia.(1) Outras síndromes incluem a síndrome de Lambert-Eaton, tireoideopatias, oftalmoplegia externa progressiva e distrofia óculo-faríngea. 5. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO O diagnóstico de MG requer a presença de três dos critérios abaixo, (1,4,7) sendo que pelo menos um deles deve ser baseado nos achados/exames complementares (estudo eletroneuromiográfico ou teste imunológico anticorpo anti-receptor de Ach): Fraqueza adquirida de músculos voluntários incluindo aqueles inervados por nervos cranianos; Flutuação e fatigabilidade; Resposta eletromiográfica com decremento de amplitude do potencial muscular de pelo menos 10% após estimulação repetitiva a 3-5 Hz; ou Melhora clínica objetiva após instituição de medicamentos anticolinesterásicos realizada em Centro de Referência ou; Eletromiografia de fibra única positiva (com jitter médio maior que 20micro s); ou Concentração de anticorpos anti-receptor de acetilcolina maior que 1nM. 6. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Serão excluídos todos os pacientes que apresentarem: outras formas de miastenia que não forem a MG (ver diagnóstico diferencial); contra-indicações ou efeitos adversos intoleráveis aos medicamentos indicados. 7. CASOS ESPECIAIS 7.1 CRISE MIASTÊNICA: definida como disfunção respiratória que exige ventilação mecânica, é uma complicação potencialmente fatal que ocorre em aproximadamente 15%-20% dos pacientes com MG.(13) A mortalidade nestes casos caiu de 40% no início da década de 60 para apenas 4% a partir de meados da década de 70, devido em grande parte a melhoria dos cuidados respiratórios e das unidades de terapia intensiva, e, em menor parcela, devido ao amplo uso de imunoterapias como plasmaferese e imunoglobulina (ver tratamento da Crise Miastênica a seguir). Thomas et al13 estudaram 73 episódios de crises miastênicas e observaram que 74% dos pacientes apresentou episódio nos primeiros 2 anos de doença, sendo infecção a maior causa identificável de precipitação (38%). Em 30% dos casos não foi encontrada nenhuma causa precipitante. Apesar dos avanços em termos de mortalidade observados em 25 anos a média de duração de intubação nos pacientes com crise (2 semanas) não apresentou diminuição significativa. Um dos diagnósticos diferenciais importantes nas crises miastênicas são as chamadas "crises colinérgicas", geralmente por excesso de medicamentos anticolinesterásicos (neostigmina, piridostigmina). Em ambas as situações o paciente pode apresentar visão borrada, dispnéia, aumento de secreções, disartria e fraqueza generalizada. Por esta razão é que usualmente recomenda-se a redução ou mesmo a interrupção do medicamento anticolinesterásico vigente na eventualidade de um quadro respiratório fulminante associado à MG em atividade.(14) 7.2 MIASTENIA GRAVIS JUVENIL: trata-se de uma situação definida pelo surgimento de sinais e sintomas miastênicos entre o primeiro e o 18o ano de idade, (15) perfazendo 10% de todos os casos de MG. No entanto, alguns casos relatados na literatura podem representar, na verdade, Miastenia Congênita (doença sem caráter autoimune), particularmente naqueles com anticorpos antireceptor de acetilcolina negativos. Nestes casos, se houver sintomas incapacitantes, recomenda-se iniciar piridostigmina 1mg/kg de peso com ajuste gradual de dose conforme sintomas. Para pacientes com doença moderada a grave, utiliza-se prednisona em doses de 1mg/kg com alternância de dose após 2-4 semanas. Transcorrido este período diminuir gradativamente a dose (aproximadamente 1-5 mg a cada 24 semanas, dependendo do peso do paciente) até a suspensão total. Outros imunossupressores são desencorajados nestes pacientes, embora tenha se obtido alguns resultados satisfatórios em séries de casos com azatioprina, ciclosporina(16,17) e imunoglobulina.(18) 7.3 GRAVIDEZ: não piora o desfecho à longo prazo da MG. Na verdade, o curso da doença é altamente variável e imprevisível durante a gestação e pode mudar nas gestações subseqüentes. (19) Em recente revisão da literatura(20) envolvendo 322 gestações de 225 mães miastênicas, observou-se piora dos sintomas em 41% das pacientes. Cinqüenta e nove por cento ou melhoraram dos mesmos ou permaneceram inalteradas. Das mães que pioraram, 30% o fizeram no período pós-parto. A regra geral no manejo desta situação é evitar uso de outros agentes imunossupressores além da prednisona pelos efeitos teratogênicos, embora a plasmaferese e a imunoglobulina tenham se mostrado seguras nestas situações, quando estritamente necessárias. (19) Sulfato de magnésio deve ser evitado em mãe pré-eclâmpticas em função do seu efeito bloqueador neuromuscular. A maior preocupação acaba sendo a miastenia neonatal transitória, resultante da transferência passiva de anticorpos maternos anti receptor-Ach através da placenta. Existe um risco teórico da passagem destes anticorpos através do leite materno, mas a grande maioria dos bebês não apresenta problemas durante a amamentação. (5) 7.4 MG AUTOIMUNE NEONATAL TRANSITÓRIA: pode ocorrer em até 10% dos neonatos filhos de mães com MG. Tal condição resulta da transferência passiva de anticorpos maternos anti receptor-Ach através da placenta, tendo início usualmente nos primeiros 3 dias de vida, manifesta através de choro fraco, dificuldade de sucção, fraqueza generalizada, tônus diminuído, dificuldade respiratória, ptose e diminuição da expressão facial e com resolução espontânea após 18-20 dias. A MG autoimune neonatal transitória não pode ser confundida com Miastenia Congênita, doença de caráter não-autoimune e com apresentação clínica distinta e mais tardia. Os pacientes com esta condição podem ser tratados sintomaticamente com medicamentos anticolinesterásicos. Crianças com crise miastênica podem necessitar de plasmaferese. A imunoglobulina humana parece não ser efetiva nestes.21 7.5. MG ANTI-MUSK: aproximadamente 50% dos pacientes com MG sem anticorpos anti-receptor de acetilcolina apresentam anticorpos contra uma enzima da membrana muscular, denominada tirosina quinase músculo-específica (anti-MuSK). Em estudo recente, Lavrnic e cols (22) analisaram 17 pacientes com esta condição observando uma maior prevalência de mulheres, envolvimento facial e bulbar predominantes e refratariedade aos anti-colinesterásicos. 7.6 CUIDADOS PERIOPERATÓRIOS E MANEJO DE MEDICAMENTOS NOS PACIENTES COM MG: vários cuidados especiais são necessários ao paciente com MG submetido a procedimento cirúrgico em função dos riscos que este oferece: disfunção respiratória grave, arritmias e intolerância a agentes anestésicos. Assim, no período pré-operatório deve-se investigar sobre a concomitância de outras doenças autoimunes (presentes em 10% dos casos), tais como artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, hipotireoidismo, situações essas com potenciais implicações nos cuidados a seguir.(23) Avaliação da função pulmonar e estudo estrutural do tórax (presença de timoma e possível compressão traqueal) devemse realizados, bem como status cardíaco (bloqueios de condução, hipertrofia de câmaras cardíacas). Do ponto de vista medicamentoso, deve-se garantir a estabilidade clínica do paciente com o mínimo de medicamento possível. Descontinuidade do corticóide às vezes é possível, diminuindo o risco de problemas de cicatrização e infecção. Finalmente, em alguns casos selecionados, dependendo da classificação do paciente (especialmente pacientes no Grupo 3 e 4) e da urgência do procedimento pode-se lançar mão de plasmaferese préoperatória. (23) A escolha da anestesia geral envolve o uso da inalação ou agentes intravenosos. Entre os primeiros, sevoflurano, isoflorano e halotano, apesar de diminuírem a transmissão neuromuscular em 50% dos casos, proporcionam boas condições operatórias sem o uso de medicamentos paralisantes. Propofol é o agente intravenoso de eleição, não alterando a transmissão neuromuscular. Existem casos raros de complicações neuromusculares em pacientes com MG durante a aplicação de anestésicos regionais. (24) Com relação aos relaxantes musculares não-despolarizantes, estes devem ser administrados apenas um quinto da dose usualmente utilizada em pacientes normais, sendo o atracúrio o fármaco de eleição. Por fim, lembrar de alguns fármacos que sabidamente diminuem a transmissão neuromuscular em pacientes com MG, tais como aminoglicosídeos, procainamida, betabloqueadores, fenitoína, morfina, barbitúricos, lidocaína e, mais recentemente descrita, a gabapentina. (25) 8. TRATAMENTO 8.1 CRISE MIASTÊNICA A crise miastênica nada mais é do que uma situação de refratariedade aguda (geralmente Osserman 3) à terapia utilizada que necessita de uma ação relativamente rápida pelos riscos que a mesma oferece. Nesta situação a primeira recomendação é reduzir ou descontinuar a terapia anticolinesterásica básica, já que em algumas situações a crise colinérgica por excesso de medicamento pode mimetizar uma crise miastênica. Como as demais opções imunosupressoras (prednisona, azatioprina, ciclofosfamida e ciclosporina) levam um certo tempo para que surtam efeito clínico nos pacientes com MG (azatioprina, por exemplo, pode levar meses), a intervenção mais rápida em termos de início de ação é a plasmaferese e a imunoglobulina, sendo igualmente eficazes (ver seção específica sobre as duas práticas). 8.2 TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO Inicia-se com inibidores da aceticolinesterase em doses padronizadas, sendo reservado o uso de imunossupressores em casos selecionados, geralmente nas MG generalizadas ou refratárias às abordagens iniciais básicas. Não existe tempo de tratamento definido, visto que trata-se de uma doença crônica e com sintomas muitas vezes flutuantes. Assim, deve-se tentar sempre o controle da mesma com a menor dose necessária com vistas à suspensão se possível conforme alívio dos sinais e sintomas referidos. 8.2.1 INIBIDOR DA ACETILCOLINESTERASE (PIRIDOSTIGMINA) A piridostigmina inibe transitoriamente o catabolismo da acetilcolina (Ach) pela acetilcolinesterase aumentando a quantidade e a duração deste neurotransmissor na fenda sináptica e, conseqüentemente, melhorando a força muscular. Piridostigmina padrão: apesar de não haver estudos randomizados, duplo-cego, contra-placebo para piridostigmina, sua eficácia no controle sintomático da MG está claramente estabelecida por estudos nível 4 de evidência. (1,5,12) Piridostigmina de liberação controlada: apesar de eficácia similar à piridostigmina padrão na melhora dos sintomas motores, (5) a mesma não oferece vantagens sobre a forma padrão em função de sua absorção intestinal errática. Sua principal indicação é nos pacientes que se queixam de fraqueza incapacitante ao despertar. Assim, nestes casos, ao invés do uso da medicamento de liberação lenta, recomenda-se apenas acordar 30 minutos mais cedo e tomar a piridostigmina padrão. Esquema de administração: inicia-se piridostigmina em adultos na dose de 30-60mg via oral a cada 6 horas. Em crianças a dose inicial é de 1mg/Kg. A dose é gradualmente ajustada, se necessário, à medida que houver o controle dos sintomas miastênicos e redução dos efeitos adversos. A maioria dos adultos requer 60-120mg a cada 4-6 horas. Benefícios esperados: melhora dos sintomas motores. Monitorização: controle de efeitos adversos colinérgicos. Apresentações disponíveis: comprimidos de 60mg 8.2.2 PREDNISONA São os agentes imunossupressores mais comumente utilizados em MG. Ensaios clínicos randomizados, controlados, duplocego (26,27) demonstram sua eficácia contra a doença no controle dos sintomas e diminuição de exacerbações. São reservados para os casos refratários à piridostigmina. As diferentes posologias do corticóide (uso diário, uso alternado ou em pulsoterapia) não parecem apresentar eficácias distintas. (28,29) No caso dos pacientes com indicação de manutenção crônica de corticóide, a associação de azatioprina parece contribuir para redução da primeira, reduzindo substancialmente a gama de seus efeitos adversos associados após 3 anos de seguimento. (27) A pulsoterapia intravenosa intermitente com metilprednisolona também foi sugerida como poupadora de corticóide e seus efeitos adversos. (26) No entanto, a ausência de ensaios a longo prazo (superiores a três anos) não permitem a recomendação do uso da metilprednisolona de forma sistemática. Esquema de administração: duas estratégias são recomendadas em pacientes com5: (1) começar com altas doses via oral matinais diárias por 2 semanas seguido de uso alternado até o controle total dos sintomas. Após este período, diminuir 5mg a cada 2-3 semanas. Nesta fase, caso haja recidiva, considerar associação com outro imunossupressor. Não existem ensaios clínicos randomizados comparando os demais imunossupressores entre si; (2) iniciar com doses baixas (15-20mg/dia) com aumento gradual (5mg a cada 2-4 dias) até melhoria dos sintomas. Em geral, o primeiro esquema é preferido nos casos moderado-grave, enquanto que o segundo nos casos generalizados leves ou puramente oculares refratários.1 Embora ambos os esquemas terapêuticos estejam associados à piora transitória da força muscular (10%-30% dos casos), este efeito adverso é minimizado pelo aumento gradual da dose da prednisona. Benefícios esperados: melhora motora e aumento do tempo de remissão de doença. Monitorização: controle de efeitos adversos. Apresentações disponíveis: comprimidos de 5 e 20mg 8.2.3. AZATIOPRINA Azatioprina é provavelmente o segundo imunossupressor mais utilizado em MG depois da prednisona1 e três ensaios clínicos controlados e randomizados comprovam a sua eficácia em 70% dos pacientes (27,30,31) isoladamente ou em associação com prednisona, não somente sobre os sintomas motores, mas também como poupadora de corticóide. Assim seu uso é indicado para aqueles pacientes corticóide-resistentes ou com efeitos adversos importantes ou que precisam reduzir a dose da prednisona. Esquema de administração: inicia-se azatioprina via oral na dose de 50mg/dia em adultos com aumento gradual nos próximos 12 meses até 2-3 mg/Kg/dia. Benefícios esperados: melhora dos sintomas motores e tempo de remissão, isoladamente ou em associação com corticóide e diminuição da dose da prednisona. Monitorização: hemograma e provas de função hepática a cada semana até estabilização da dose. A partir daí, uma vez por mês. Uma queda nos leucócitos totais a 3.000-4.000/mm3, ou ainda dos linfócitos abaixo de 1.000/mm3 são indicadores de uma dose adequada. 5 A azatioprina deve ser suspensa se leucócitos diminuírem até 2500/mm3 ou número absoluto de neutrófilos abaixo de 1000/mm3 Apresentação disponível: comprimido de 50mg. 8.2.4. Ciclosporina A ciclosporina é reservada para aqueles pacientes com MG generalizada que não responderam adequadamente à corticoterapia, à azatioprina e à associação dos dois. (5) Trata-se de um imunossupressor de ação mais rápida do que a azatioprina (2-3 meses, com efeito primariamente sobre a imunidade celular. (32) Dois importantes ensaios clínicos randomizados, controlados, contra-placebo avaliaram a eficácia e a tolerância da ciclosporina em pacientes com MG generalizada (33,34) em 12 e 18 meses respectivamente com resultados encorajadores. No entanto, aproximadamente 25% dos pacientes desenvolvem toxicidade renal, o que limita seu uso mais amplo. É então contra-indicado em pacientes acima de 50 anos com hipertensão arterial sistêmica pré-existente ou creatinina sérica basal acima de 1mg/dl do valor normal. (33) Não existem ensaios clínicos que comparem a ciclosporina com outros imunossupressores. Outro desfecho importante melhor avaliado por Ciafaloni et AL (34) em recente revisão foi seu efeito poupador-de-corticóide, onde observou que 95% dos pacientes são capazes de diminuir ou mesmo descontinuar a prednisona após o início da ciclosporina. Uma meta-análise recente concluiu que há efeitos benéficos da ciclosporina em monoterapia ou associada ao corticóide. (35). Esquema de administração: inicia-se na dose de 34mg/Kg/dia via oral divido em duas doses com aumento gradual de 6mg/Kg/dia conforme necessário para o controle dos sintomas. Após a obtenção da melhora máxima, diminuir a dose ao longo de meses até a mínima tolerável. Benefícios esperados: efeito poupador de corticóide e melhora motora. Monitorização: o nível sérico deve ser mantido entre 50150ng/ml. Este parâmetro, bem como a pressão arterial, eletrólitos e a função renal devem ser monitorizados periodicamente. Ajustes de doses devem ser feitos sempre que níveis maiores que 150ng/ml ou se creatinina maior que 150% do valor basal.5 Apresentações disponíveis: cápsulas de 10, 25, 50 e 100mg e solução oral 100mg/ml - 50ml 8.2.5. CICLOFOSFAMIDA Trata-se de um agente alquilante com propriedades imunossupressoras com efeito primordial sobre linfócitos B amplamente utilizados em distúrbios autoimunes. (36) Recomenda-se este imunossupressor apenas nos casos de refratariedade aos medicamentos anteriores. Seu uso é limitado devido por seus efeitos adversos, tais como desconforto gastrointestinal, toxicidade medular óssea, alopécia, cistite hemorrágica, teratogenicidade, esterilidade, risco aumentado de infecções oportunistas e malignidade.5 Além disso, existe apenas um estudo controlado, randomizado, duplo-cego contra-placebo que comprova sua eficácia através de pulsos mensais por 12 meses, (36) tanto sobre os sintomas motores quanto pela diminuição de dose de corticóide necessária. No entanto, além da amostra reduzida, o tempo de seguimento (12 meses) foi insuficiente para avaliar a ocorrência de efeitos adversos significativos. Uma meta-análise recente concluiu que há efeitos benéficos da ciclofosfamida em monoterapia ou associada ao corticóide. (35) Esquema de administração: pulsoterapia intravenosa mensal com 500mg/m2 de superfície corporal por 12 meses. Benefícios esperados: melhora dos sintomas motores e diminuição de dose dos corticóides. Monitorização: controle dos efeitos adversos Apresentações disponíveis: frasco-ampola de 200 e 1.000mg 8.2.6. IMUNOGLOBULINA HUMANA As primeiras descrições do uso da imunoglobulina humana intravenosa (IGIV) para MG foram publicadas em 1984.45-46 Desde então, vários estudos não-controlados têm demonstrado sua eficácia, especialmente nas formas agudas da doença, (47-51) mas também nos casos de MG refratária como terapia de manutenção por pelo menos 1 ano. (52,53) Um grande ensaio randomizado e controlado, (54) com 87 pacientes refratários ao medicamento imunossupressor, concluiu que a IGIV é igualmente eficaz à plasmaferese, mas preferível em relação à mesma devido ao menor índice de efeitos adversos. Dois ensaios clínicos randomizados e controlados foram realizados avaliando o papel da IGIV nas situações crônicas leve-moderadas: o de Wolfe et al, (55) que foi interrompido pela falta de disponibilidade do fármaco no mercado e, mais recentemente, o de Gajdos et al., 2005. (56) Neste último, após analisar 173 pacientes, os autores não encontraram diferenças significativas entre as doses de 1g/Kg vs. 2g/Kg. Dalakas e cols (57) preconizam que o uso da IGIV humana é jsutificado na falta da plasmaferese, em casos refratários à terapia imunossupressora e na preparação de um paciente com fraqueza importante para timectomia. No entanto, apesar da eficácia bem estabelecida da IGIV na fase aguda, dados provenientes de estudos randomizados são ainda insuficientes para aceitar ou refutar o papel da IGIV na MG como terapia de manutenção com desfechos a longo prazo. (52) Esquema de administração: A melhor evidência da eficácia da IGIV na MG (56) utilizou a dose de 1g/Kg de peso por 3 dias consecutivos, sendo esta a dose recomendada por este protocolo. Benefícios esperados: melhora funcional na Classificação de Osserman à curto prazo em casos de MG refratária a outros imunossupressores. Monitorização: avaliação periódica da função renal, especialmente em pacientes diabéticos; controle de IgA previamente ao tratamento infusão para avaliação do risco de anafilaxia. O uso da IGIV, entendido como sendo mais simples do que a plasmaferese, está associado com menos de 5% de efeitos adversos leves e auto-limitados. (5) Apresentações disponíveis: ampolas com 0,5g, 1g, 2,5g, 3g, 5g e 6g. 8.2.7. OUTROS IMUNOSUPRESSORES Não existe até o presente momento nenhum estudo controlado e randomizado, comparando estes imunossupressores contra os tratamentos já estabelecidos para a MG. Existem apenas relatos de casos e promissores ensaios abertos, (37-39) porém com poucos pacientes e reduzido tempo de seguimento.(40-43) Mais recentemente, o micofenolato não demonstrou benefício adicional no controle dos sintomas miastênicos, quando utilizado junto com corticóide,44 achado confirmado por meta-análise.(35) Assim, devido ao seu alto custo e riscos inerentes e não comparação com tratamentos já estabelecidos na literatura, a utilização destes medicamentos ainda não pode ser recomendada. 8.3 MODALIDADES TERAPÊUTICAS NÃO-FARMACOLÓGICAS 8.3.1 PLASMAFERESE Existem várias séries de casos(58-59) demonstrando claramente um benefício à curto prazo desta prática na MG, tanto clinicamente quanto na diminuição dos títulos de anticorpos anti-receptor de acetilcolina. Não existem ensaios clínicos randomizadoscontrolados adequados que determinem se a plasmaferese é superior à imunoglobulina, apenas indícios de que seja igualmente eficaz.(54) Assim, em casos de exacerbação clínica com risco de vida, a plasmaferese deve ser considerada da mesma forma que a imunoglobulina, caso esta última for contra-indicada ou não estiver disponível. Esquema de administração: não existe conclusão sobre a posologia mais eficaz da plasmaferese no tratamento da MG refratária.( 1) Em geral, realiza-se troca de 2-3 litros de plasma 3 vezes por semana até que a força muscular seja significativamente restituída (em geral pelo menos 5-6 trocas no total). Melhora funcional é detectada após 2-4 trocas. Pacientes devem iniciar imunossupressores concomitantemente devido à transitoriedade dos efeitos da plasmaferese sobre a função muscular. Em função dos efeitos adversos (trombose, tromboflebite, infecção, instabilidade cardiovascular), a plasmaferese é limitada a situações de crise miastênica. Benefícios esperados: melhora da função motora a curto prazo, não especificamente crise miastênica Monitorização: exame vascular periférico, cardíaco e controle de infecções. 8.3.2 TIMECTOMIA A timectomia é indicada nos pacientes com presença de timoma. No entanto, o papel deste procedimento em pacientes com MG sem a presença de timoma é incerto. Uma revisão baseada em evidências de 21 estudos controlados, não-randomizados (60) concluiu que os pacientes com MG sem timoma que vão à timectomia tem uma chance 1,7 vezes maior de melhora clínica, 1,6 de tornar-se assintomático e 2,0 remissão espontânea sem medicamento. No entanto, viu-se que todos os estudos revisados apresentavam sérios problemas metodológicos, tais como não randomização, desfechos indefinidos bem como ausência de controle para importantes variáveis como sexo, idade, técnicas cirúrgicas, tempo e gravidade de doença. Assim, a timectomia é considerada como uma "opção contribuidora" para o aumento da probabilidade de melhora ou remissão nos pacientes com MG não timomatosa, (60) em pacientes entre a adolescência e os 60 anos de idade. Em função da carência de evidência epidemiológica sobre o assunto, tal prática, portanto, não pode ser recomendada a todos os pacientes com MG, exceto nos casos de timoma. 9. ACOMPANHAMENTO PÓS TRATAMENTO Os pacientes devem ser reavaliados uma semana e um ano após a administração do tratamento, por meio da Escala Osserman (Quadro I) 10 REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTOR Todos os pacientes com dificuldades diagnósticas, refratários ao tratamento clínico ou com intolerância medicamentosa devem ser atendimentos em serviços especializados. Há de se observar os critérios de inclusão e exclusão de doentes neste protocolo, a duração e a monitorização do tratamento, bem como para a verificação periódica das doses de medicamento(s) prescritas e dispensadas, e da adequação de uso. 11 TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE - TER É obrigatória a cientificação do paciente, ou de seu responsável legal, dos potenciais riscos, benefícios e efeitos colaterais relacionados ao uso de medicamento preconizado neste Protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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Neurology 2000;55:7-15 TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE Azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida e imunoglobulina humana Eu, _________________________________________ (nome do(a) paciente), declaro ter sido informado(a) claramente sobre os benefícios, riscos, contra-indicações e principais efeitos adversos relacionados ao uso do (s) medicamento (s) azatioprina, ciclosporina e imunoglobulina humana, indicados para o tratamento da miastenia gravis. Os termos médicos me foram explicados e todas as minhas dúvidas foram resolvidas pelo médico _______________________________________________________ (nome do médico que prescreve). Assim declaro que: Fui claramente informado(a), de que o medicamento que passo a receber pode trazer as seguintes melhorias: - melhora dos sintomas motores e tempo de remissão com azatioprina; - efeito poupador de corticóide e melhora motora com ciclosporina; - melhora funcional à curto prazo em casos de MG refratária a outros imunossupressores com imunoglobulina. Fui também claramente informado a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos adversos e riscos: - ciclosporina e imunoglobulina humana: não se sabe ao certo os riscos do uso destes medicamentos na gravidez, portanto, caso engravide, devo avisar imediatamente ao meu médico; - azatioprina: há riscos para o feto durante a gravidez, porém o benefício pode ser maior que o risco e isso deve ser discutido com seu médico; - ciclofosfamida: não deve ser usado durante a gestação pelo risco de má formação do feto. Os efeitos adversos mais comumente relatados são: para azatioprina: diminuição das células brancas, vermelhas e plaquetas do sangue, náuseas, vômitos, diarréia, dor abdominal, fezes com sangue, problemas no fígado, febre, calafrios, diminuição de apetite, vermelhidão de pele, perda de cabelo, aftas, dores nas juntas, problemas nos olhos (retinopatia), falta de ar, pressão baixa para ciclosporina: problemas nos rins e fígado, tremores, aumento da quantidade de pêlos no corpo, pressão alta, aumento do crescimento da gengiva, aumento do colesterol e triglicerídeos, formigamentos, dor no peito, batimentos rápidos do coração, convulsões, confusão, ansiedade, depressão, fraqueza, dores de cabeça, unhas e cabelos quebradiços, coceira, espinhas, náuseas, vômitos, perda de apetite, soluços, inflamação na boca, dificuldade para engolir, sangramentos, inflamação do pâncreas, prisão de ventre, desconforto abdominal, diminuição das células brancas do sangue, linfoma, calorões, aumento da quantidade de cálcio, magnésio e ácido úrico no sangue, toxicidade para os músculos, problemas respiratórios, sensibilidade aumentada a temperatura e aumento das mamas; para ciclofosfamida: náuseas, vômitos, perda de cabelo, risco aumentado de infecções, anemia, toxicidade para medula óssea, infecções na bexiga, risco de sangramento (redução do número de plaquetas); para imunoglobulina humana: dor de cabeça, calafrios, febre, reações no local de aplicação da injeção que incluem dor, coceira e vermelhidão, aumento de creatinina e uréia no sangue e problemas graves nos rins. Estou ciente de que este(s) medicamento(s) somente podem ser utilizado(s) por mim, comprometendo-me a devolvê-lo(s) caso não queira ou não possa utilizá-lo ou se o tratamento for interrompido. Sei também que continuarei ser atendido, inclusive em caso de eu desistir de usar o medicamento. Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento, desde que assegurado o anonimato. Local: Data: Nome do paciente: Cartão Nacional de Saúde: Nome do responsável legal: Documento de identificação do responsável legal: _____________________________________ Assinatura do paciente ou do responsável legal Médico Responsável: CRM: UF: ___________________________ Assinatura e carimbo do médico Data:____________________ Observação: Este Termo é obrigatório ao se solicitar o fornecimento de medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica e deverá ser preenchido em duas vias, ficando uma arquivada na farmácia e a outra entregue ao usuário ou seu responsável legal. Nota: A administração endovenosa de metilprednisolona e de ciclofosfamida é contemplada, respectivamente, pelos procedimentos 0303020016 - PULSOTERAPIA I (POR APLICAÇÃO) e 0303020024 - PULSOTERAPIA II (POR APLICAÇÃO), da Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais do SUS. CONSULTA PÚBLICA No- 13, DE 10 DE MARÇO DE 2010 O Secretário de Atenção à Saúde, no uso de suas atribuições, Considerando a importância do papel que desempenham os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para a melhoria da qualidade da atenção à saúde, para a prescrição segura e eficaz, para a atualização e democratização do conhecimento, para a melhoria da qualidade da informação prestada aos doentes e para a melhoria dos processos gerenciais dos programas assistenciais; Considerando a necessidade de se estabelecer critérios de diagnóstico e tratamento de enfermidades, e, observando ética e tecnicamente a prescrição médica, promover o uso racional dos medicamentos para o tratamento de doenças por meio de regulamentação de indicações e esquemas terapêuticos; Considerando que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas são resultado de consenso técnico-científico e são formulados dentro de rigorosos parâmetros de qualidade, precisão de indicação e posologia; Considerando a necessidade de estabelecer mecanismos de acompanhamento de uso e de avaliação de resultados, garantindo assim a prescrição segura e eficaz; Considerando a necessidade de se promover ampla discussão desses Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, possibilitando a participação efetiva, na sua formulação, da comunidade técnico-científica, associações médicas, profissionais da saúde, associações de pacientes, usuários e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e da população em geral; Considerando a necessidade de estabelecer o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas - Doença de Reiter; e Considerando a Portaria SAS/MS nº 375, de 10 de novembro de 2009, que aprova o roteiro a ser utilizado na elaboração de PCDT, no âmbito da Secretaria de Atenção à Saúde - SAS, resolve: Art. 1º - Submeter à Consulta Pública o PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - DOENÇA DE REITER, constante do Anexo deste Ato e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade dele integrante. Parágrafo único. O Protocolo Clínico e o Termo de Esclarecimento e Responsabilidade, de que trata este Artigo, encontramse disponíveis, também, no sítio: www.saude.gov.br/sas - legislação. Art. 2º - Estabelecer o prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data da publicação desta Consulta Pública, para que sejam apresentadas sugestões, devidamente fundamentadas, relativas ao Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de que trata o Artigo 1º desta Consulta Pública. § 1º - As sugestões devem ser encaminhadas, exclusivamente, para o seguinte endereço eletrônico: pcdt.consulta2010@saude. gov.br, especificando o número da Consulta Pública e o nome do Protocolo no título da mensagem; § 2º - As sugestões enviadas deverão, obrigatoriamente, estar fundamentadas em: I. Estudos Clínicos de fase III - realizados no Brasil ou exterior; e II. Meta-análises de Ensaios Clínicos. Art. 3º - Determinar que o Departamento de Atenção Especializada - Secretaria de Atenção à Saúde coordene a avaliação das proposições apresentadas, elaborando a versão final consolidada do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas ora submetido à Consulta Pública, para que, findo o prazo estabelecido no Artigo 2º deste Ato, seja aprovado e publicado, passando a vigorar em todo o território nacional. Parágrafo único. O novo Protocolo passará a vigorar em todo o território nacional após a devida aprovação e publicação por meio de Portaria específica. Art. 4º - Esta Consulta Pública entra em vigor na data de sua publicação. ALBERTO BELTRAME ANEXO Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas ARTRITE REATIVA - DOENÇA DE REITER 1 - METODOLOGIA DE BUSCA DA LITERATURA Foram utilizadas as bases de dados Medline/Pubmed, EMBASE e livros-texto de Medicina. Busca na base de dados Medline/Pubmed (acesso em /01/2010): Utilizando-se os termos "Reactive Arthritis"[Mesh] AND "Diagnosis"[Mesh] restringindo-se para artigos na língua inglesa e em humanos, utilizando-se os filtros "Practice Guideline", "Review", "Guideline", obteve-se 99 artigos. Usando-se os termos "Reactive Arthritis"[Mesh] AND "Therapeutics"[Mesh], restringindo-se para artigos na língua inglesa e em humanos, utilizando-se os filtros "Clinical Trial", "Meta-Analysis", "Practice Guideline", "Randomized Controlled Trial", "Review", "Guideline" e "Controlled Clinical Trial", obtiveram-se 49 artigos. Busca na base de dados EMBASE (acesso em 05/01/2010): Utilizando-se os termos 'reactive arthritis'/exp AND 'diagnosis'/ exp restringindo-se para artigos na língua inglesa e em humanos, utilizando-se os filtros 'review'/it, obteve-se 114 artigos. Usandose os termos 'reactive arthritis'/exp AND 'therapy'/exp, restringindose para artigos na língua inglesa e em humanos, utilizando-se os filtros [cochrane review]/lim OR [controlled clinical trial]/lim OR [meta analysis]/lim OR [randomized controlled trial]/lim OR [systematic review]/lim, obtiveram-se 30 artigos. Escolha dos artigos para inclusão no PCDT: Todos os artigos foram revisados, e os identificados como revisões, consensos ou estudos clínicos sobre o tema, foram selecionados para a elaboração do protocolo, e incluídos no texto. Busca em livros-texto: O livro UpToDate, disponível através do site www.uptodateonline. com, versão 17.2 foi consultado no dia 25/11/2009. 2- INTRODUÇÃO A artrite reativa, antigamente denominada Doença de Reiter, é uma das espondiloartropatias soronegativas: grupo de doenças reumáticas crônicas, que afetam articulações periféricas e da coluna, e que compartilham características clínicas, radiológicas e genéticas semelhantes. Neste grupo de doenças (espondiloartropatias), além da artrite reativa, encontram-se a espondilite anquilosante, a artrite psoriática, a espondiloartropatia associada à doença inflamatória intestinal e a espondiloartropatia indiferenciada. (1) O termo artrite reativa faz referência a uma artrite que se desenvolve logo após ou durante uma infecção bacteriana; geralmente genito-urinária ou gastro-intestinal, desencadeada por patógenos que não se consegue isolar nas articulações acometidas. (2,3) É, pois, uma artrite asséptica que ocorre subseqüentemente a uma infecção extraarticular.( 4) A artrite reativa, é composta da tríade clínica de artrite, uretrite e conjuntivite pós-infecciosas. (3) O envolvimento extra-articular da artrite reativa pode também cursar com vulvite, balanite, lesões mucocutâneas, dactilites e entesites diversas. (5-7) Existe uma forte associação das espondiloartropatias com o antígeno leucocitário humano B27 (HLA-B27), que está presente em cerca de 60% dos pacientes com artrite reativa. (2-10) O antígeno bacteriano desencadeia a reação imunológica responsável pela presença da artrite, que se perpetua mesmo após a cura da infecção. A positividade do HLA-B27 é um marcador de risco para artrite, e também de risco para envolvimento do esqueleto axial, e de maior agressividade da doença. (3,5,8) A artrite reativa é uma entidade nosológica cujo conceito ainda está em evolução, não havendo critérios diagnósticos ou de classificação definitivos e validados. Um consenso de especialistas (2) reunidos em Berlin em 1999 sugeriu que a identificação de alguns fatores pode ser de utilidade no diagnóstico de artrite reativa: - Patógenos causadores - clássicos: Chlamydia trachomatis, Yersinia sp., Salmonella sp., Shigella sp. e Campilobacter sp.; e prováveis: Clostridium difficile e Chlamydia pneumoniae; - Intervalo entre a infecção sintomática e início da artrite - de alguns dias a 8 semanas. - Padrão da artrite típico: mono ou oligoartrite assimétrica, predominantemente de membros inferiores; - Diferença entre artrite reativa aguda e crônica: artrite reativa de mais de 6 meses de duração é diagnosticada como crônica. A artrite reativa é uma doença pouco freqüente, e, entre as espondiloartropatias, constitui a minoria dos casos.2 A sua incidência é provavelmente subestimada, já que casos leves podem não ser diagnosticados. A artrite reativa é uma condição que ocorre globalmente, afetando predominantemente adultos jovens entre 20 e 40 anos. Acomete mais homens do que mulheres, numa taxa de 3:1 quando a infecção inicial é gênito-urinária. (5, 8) Já a artrite reativa pós-entérica atinge igualmente ambos os sexos. (8) Em populações de países escandinavos, os dados de prevalência da artrite reativa são de 30-40 por 100.000 pessoas e de incidência de 5-28 por 100.000 pessoas/ano. Estima-se que em torno de 1% das uretrites não-gonocócicas e 3% das enterites bacterianas ocorra desenvolvimento posterior de artrite reativa. Em surtos de diarréias bacterianas, a incidência de artrite é de 0%-4%. No Brasil, em uma série hospitalar, verificou-se aumento da prevalência de artrite reativa na população de pacientes infectados com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) a partir de 1985.9 Nesses pacientes, a artrite reativa tem quadro clínico mais agressivo e mais resistente aos tratamentos usuais. (5,9) O prognóstico na maioria dos pacientes é bom, com a maioria recuperando-se gradualmente em poucos meses. Entretanto, 66% dos pacientes permanecem com desconforto articular, dor lombar baixa e sintomas de entesopatia depois da crise inicial, e cerca de 15%-30% desenvolvem doença inflamatória articular crônica. ( 6,7,8,11) 3- CLASSIFICAÇÃO ESTATÍSTICA INTERNACIONAL DE DOENÇAS E PROBLEMAS RELACIONADOS À SAÚDE (CID-10) - M02.3 Doença de Reiter 4 - DIAGNÓSTICO 4.1 - CLÍNICO A síndrome clínica caracterizada por artrite, uretrite, conjuntivite e lesões mucocutâneas, comumente conhecida por artrite reativa ou Doença de Reiter, é uma doença multissistêmica desencadeada por uma resposta imune do hospedeiro após exposição a um antígeno. (5) A tríade clássica - artrite, uretrite e conjuntivite - ocorre apenas em um terço dos casos e o quadro clínico acompanhado de sinais mucocutâneos é pouco freqüente. O paciente é geralmente um adulto jovem (entre 20-40 anos), com história de infecção nas últimas 4 semanas. (5) A artrite reativa pode se manifestar de forma localizada e leve, ou de forma grave e multissistêmica, acompanhada de febre, mal-estar e perda de peso. O envolvimento articular varia desde uma monoartrite transitória até poliartrite com acometimento axial. A manifestação clínica mais comum (95%) é a presença de uma oligoartrite aguda e assimétrica de membros inferiores, principalmente em joelhos, calcanhares e matatarsofalangeanas. As sinovites, tendinites e entesites das pequenas articulações apresentam-se com os sintomas dolorosos e os dedos característicos desta doença ("dedos em salsicha"). No entanto, 50% dos pacientes podem apresentar acometimento dos membros superiores. (8) Dores nas costas e nas nádegas ocorrem devido ao acometimento das articulações sacroilíacas. Também pode haver apresentação reativa à infecção com entesite ou bursite isoladas, sem presença de artrite. Em 30% dos casos pode haver conjuntivite, que geralmente precede a artrite em poucos dias, e tende a ser leve e bilateral. Queixa de olhos vermelhos e secreção ou de crostas nas pálpebras ocorrem em alguns casos. A secreção é estéril, e o quadro regride em até 4 semanas. Complicações como episclerite, ceratite, uveíte (irite) e úlcera de córnea são muito raras, mas exigem identificação e tratamento especializado urgente, pois podem evoluir para cegueira. (5,8) A artrite reativa que ocorre após doença sexualmente transmitida está associada à uretrite ou à cervicite. Estas podem ser assintomáticas, mas normalmente se manifestam com disúria ou secreção uretral/vaginal. (5) O envolvimento entérico na artrite reativa pode ser leve e passar despercebido. (5) 4.2- DIAGNÓSTICO LABORATORIAL/RADIOLÓGICO Em paciente com mono-oligoartrite a importância da avaliação laboratorial reside na análise do líquido sinovial, para diagnóstico diferencial com artrite séptica, artrite por cristais e atrite traumática. O líquido sinovial na artrite reativa apresenta predomínio de polimorfonucleares na fase aguda, e de linfócitos na fase crônica. As imagens radiológicas são inespecíficas, servindo apenas para afastar outros diagnósticos. A testagem do HLA-B27 isoladamente tem pouco valor diagnóstico, não estando indicado na rotina de atendimento desses pacientes. Os demais exames laboratoriais são de pouca utilidade para o diagnóstico de artrite reativa, pois são inespecíficos e pouco sensíveis. Os marcadores inflamatórios, velocidade de sedimentação globular (VSG) e proteína C reativa (PCR), geralmente encontram-se aumentados, e podem ser utilizados como marcadores laboratoriais de atividade da doença. A investigação etiológica pode ter algum interesse epidemiológico, entretanto coproculturas geralmente são negativas quando ocorre a fase de artrite. (8) 5 - CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Serão incluídos neste protocolo de tratamento pacientes que apresentarem quadro clínico de monoartrite ou oligoartrite assimétrica predominantemente de membros inferiores, com história comprovada ou sugestiva de infecção genitourinária ou gastrointestinal nas 4 semanas anteriores ao aparecimento dos sinais articulares. 6 - CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Pacientes que tenham intolerância ou hipersensibilidade à sulfassalazina. 7 - TRATAMENTO Os antiinflamatórios não esteróides (AINEs) são o tratamento inicial dos pacientes de artrite reativa. (4,12) Corticóide intraarticular e a sulfassalazina são usados quando os AINEs não controlam os sintomas satisfatoriamente. Exercícios físicos e fisioterapia podem fazem parte do tratamento da artrite reativa. Os antibióticos podem ser úteis para as uretrites em atividade. Os AINEs são a primeira linha de tratamento para a fase aguda de dor e inflamação da artrite. São usados nas suas doses máximas e de forma contínua por pelo menos 2 semanas, sendo geralmente bastante eficazes no controle dos sintomas. (5,8,10) Apesar de melhorar os sintomas, não existem evidências de que os AINEs alterem o curso da doença. (2,10) As medidas de mobilidade da coluna e os reagentes de fase aguda (VSG e PCR) não mostram modificação significativa com o uso de AINEs. (10) O uso de corticóide intra-articular pode ajudar de forma segura e eficaz o tratamento de uma lesão única e com sintomas incapacitantes. As injeções locais de corticóide também são efetivas no controle dos sintomas nas entesites. Raramente o uso de corticóide sistêmico é indicado, sendo empregado apenas nos raros casos de doença grave, prolongada ou sistêmica; em que ocorre resistência aos AINEs. (2,5,8,12) Nesses casos, o corticóide pode ser administrado pelo período de uma a doze semanas. (5,8) O uso de antibióticos por curto ou longo período no tratamento da artrite reativa é foco de muitos estudos. Entretanto, depois que a artrite se manifesta, o uso de antibióticos não parece modificar o curso da doença. (1,5, 8,13) O uso de antibióticos para as infecções gastro-intestinais ativas segue os padrões da prática das doenças infecciosas nos locais em que acontecem. Em geral, os antibióticos não são indicados para as infecções entéricas não complicadas. (2,5) Para as infecções genitourinárias por Chlamydia, o tratamento adequado é prontamente indicado para o paciente e para o seu parceiro sexual. Teoricamente, isto diminuiria o desenvolvimento da artrite reativa; entretanto, por razões éticas, estudos placebo-controlados nunca foram realizados. (1,2,5) O uso das chamadas drogas modificadoras das doenças reumáticas (DMARDs) está indicado quando não há controle satisfatório dos sintomas com AINEs e corticóides tópicos, ou se a doença se torna crônica, recorrente ou mais erosiva e agressiva. (2,5,12) As DMARDs foram desenvolvidas primariamente para o tratamento da artrite reumatóide, e seu emprego, posteriormente extrapolado para as espondiloartropatias soronegativas. Entre os DMARDs, a sulfassalazina é a mais estudada para a condição, sendo bem tolerada, segura e eficaz para a doença articular periférica, nas doses de até 2000mg/dia. (1,5,15) Além da ação antibacteriana, a sulfassalazina diminui os níveis de imunoglobulina (Ig) sérica, principalmente a IgA, e reduz o VSG. Em ensaio clínico randomizado multicêntrico (19 centros), que incluiu 134 pacientes com artrite reativa que havia apresentado falha ao tratamento inicial com AINEs, tratados por 9 meses (com placebo ou sulfassalazina 2000mg/dia) mostrou superioridade da sulfassalazina no tempo para resolução dos sintomas e no controle satisfatório dos sintomas ao final do tratamento (62,3 vs. 47,7% para sulfassalazina e placebo, respectivamente; p=0,02). (16) Outros estudos menores confirmaram os resultados de diminuição do tempo de duração, da gravidade da rigidez matinal, da melhora do bem-estar geral e dos exames laboratoriais com o uso da sulfassalazina. (10,15) Na dose de 2000mg/dia, os efeitos adversos documentados foram de desconforto gastrointestinal leve. (12,16,17) 7.1. FÁRMACOS 7.1.1. AINE Ibuprofeno: comprimidos de 600 mg. 7.1.2. GLICOCORTICÓIDE INTRAARTICULAR Fosfato dissódico de dexametasona: solução injetável 4 mg/mL. 7.1.3. DMARD Sulfassalazina: comprimidos de 500mg 7.2. ESQUEMAS DE ADMINISTRAÇÃO Ibuprofeno 600mg - 1 comprimido via oral, três a quatro vezes ao dia. Sulfassalazina 500mg - 1 a 2 comprimidos via oral, duas vezes ao dia - por 3 a 6 meses ou até a remissão da doença articular inflamatória. Fosfato dissódico de dexametasona: 0,1 a 1 ampola intraarticular, a cada 4 semanas. 7.3. TEMPO DE TRATAMENTO O tratamento deve ser mantido ou interrompido baseado na avaliação do médico e dos sintomas e sinais do paciente. 7.4. BENEFÍCIOS ESPERADOS A melhora dos sintomas de dor e dos sinais de inflamação articular, e melhora da qualidade de vida. O reconhecimento e tratamento precoces da artrite reativa pode reduzir morbidade e a progressiva incapacidade nos pacientes acometidos - uma população jovem e produtiva.4 8 - MONITORIZAÇÃO No acompanhamento dos pacientes é importante avaliar atividade da doença através da avaliação clínica. São importantes: sinais de edema articular, presença e tempo de duração de rigidez matinal, dor noturna, número de articulações acometidas, mobilidade da coluna, e limitação funcional. Presença de entesites, dactilites, conjuntivites, uretrites, e o estado geral do paciente devem ser também avaliados. Exames laboratoriais como hemograma, exame sumário de urina (urina tipo 1), VSG devem ser realizados nas consultas de acompanhamento. Nos casos de artrite reativa aguda as consultas devem inicialmente ter intervalo menor que 1 mês, sendo progressivamente espaçadas ao longo do tratamento. Nos casos de artrite reativa crônica, as consultas devem ter intervalo de 3-6 meses. Em pacientes em uso de AINEs devem ser avaliados níveis presssóricos, sinais de perda de função renal (edema e ganho de peso) e sintomas dispépticos. Se houver suspeita de perda de função renal, creatinina e uréia séricos devem ser solicitados. Pacientes em uso de glicocorticóide intra-articular devem ser avaliados para complicações locais e sistêmicas. As complicações locais são infreqüentes, podendo ocorrer em decorrência da injeção do glicocorticóide em tendões, podendo levar a ruptura; e nervos, podendo levar a necrose. É importante que em todas as consultas sejam avaliados sinais clínicos de excesso glicocorticóide, como fragilidade capilar, presença de giba, estrias violáceas, fácies de lua cheia, fraqueza muscular proximal e hipertensão. O excesso de glicocorticóides pode levar a osteoporose, miopatia, hipertensão arterial, diabetes mellitus e catarata. Pacientes que durante o tratamento com sulfassalazina apresentem leucopenia (<3.000 leucócitos/mm3), contagem de polimorfonucleares <1.500/mm3, plaquetas <100.000/mm3, diminuição aguda ou progressiva da hemoglobina ou do hematócrito ou desenvolverem proteinúria, devem suspender tratamento com este fármaco. 15 9 - REGULAÇÃO/CONTROLE/AVALIAÇÃO PELO GESTOR Há de se observar os critérios de inclusão e exclusão de doentes neste Protocolo, a duração e a monitorização do tratamento, bem como para a verificação periódica das doses de medicamento(s) prescritas e dispensadas, da adequação de uso e do acompanhamento pós-tratamento. 10 - TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE - TER É obrigatória a cientificação do paciente ou de seu responsável legal dos potenciais riscos, benefícios e efeitos colaterais ao uso de medicamento preconizado neste protocolo. O TER é obrigatório ao se prescrever medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. 11 - ACOMPANHAMENTO PÓS-TRATAMENTO Os pacientes com remissão da doença, sem sequelas, não necessitam de acompanhamento regular específico. Pacientes com complicações em decorrência da doença ou do tratamento devem ter acompanhamento mantido orientado para o problema apresentado, conforme a avaliação da equipe médica assistente. 12 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Anandarajaj AP, Ritchlin C.T. Treatment update on spondyloarthropathy: From NSAIDs and DMARDs to anti-TNF-alfa agents . Current Opinion in Rheumatology 2005, 17:247-256. 2. David T Yu, MD, Reactive Arthritis (formerly Reiter syndrome) 2009 UpToDate. 3. Inman RD, The Spondyloarthropathies. Cecil Textbook of Medicine - 22nd Edition. Goldman and Ausiello. Saunders. 2004. 4. Chudomirova K, Abadjieva TS, Yankova R. 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Comparison of sulfasalazine and placebo for the treatment of axial and peripheral articular manifestations of the seronegative spondylarthropathies: a Department of Veterans Affairs Cooperative Sudy. Arthritis Rheum. 1999 Nov;42 (11):2325-9 16. Clegg DO, Reda DJ, Weisman MH, Cush JJ, Vasey FB, Schumacher HR Jr, Budiman-Mak E, Balestra DJ, Blackburn WD, Cannon GW, Inman RD, Alepa FP, Mejias E, Cohen MR, Makkena R, Mahowald ML, Higashida J, Silverman SL, Parhami N, Buxbaum J, Haakenson CM, Ward RH, Manaster BJ, Anderson RJ, Henderson WG, et al. Comparison of sulfasalazine and placebo for the treatment of reactive arthritis (Reiter's syndrome). A Department of Veterans Affairs Cooperative Study. Arthritis Rheum. 1996 Dec; 39 (12): 2021-7 17. Olivieiri I, Palazzi C, Peruz G, Padula A. Management Issues with Elderly-Onset Rheumatoid Arthrtis: an Update. Drugs and Aging. 2005 22|: 10 (809-822) TERMO DE ESCLARECIMENTO E RESPONSABILIDADE SULFASSALAZINA Eu,_______________________________________________ (nome do(a) paciente), declaro ter sido informado(a) claramente sobre os benefícios, riscos, contra-indicações e principais efeitos adversos relacionados ao uso do medicamento sulfassalazina, indicado(s) para o tratamento da artrite reativa - "síndrome de Reiter". Os termos médicos foram explicados e todas as minhas dúvidas foram resolvidas pelo médico _____________________________________________________ (nome do médico que prescreve). Assim declaro que: Fui claramente informado(a) de que o medicamento que passo a receber pode trazer as seguintes melhorias: - Melhora dos sintomas de dor e dos sinais de inflamação articular; - Melhora da qualidade de vida. Fui também claramente informado a respeito das seguintes contra-indicações, potenciais efeitos adversos e riscos: - estudos com sulfassalazina no primeiro trimestre da gravidez em animais não mostraram anormalidades nos descendentes, porém não há estudos em humanos; risco para o bebê muito improvável; estudos no terceiro trimestre da gravidez mostraram evidências de riscos ao feto, mas um benefício potencial pode ser maior que os riscos; - os efeitos adversos mais relatados foram: dores de cabeça, sensibilidade aumentada aos raios solares, alergias de pele graves, dores abdominais, náuseas, vômitos, perda de apetite, diarréia, hepatite, dificuldade para engolir, diminuição do número dos glóbulos brancos no sangue, parada na produção de sangue pela medula óssea (anemia aplásica), anemia por destruição aumentada dos glóbulos vermelhos do sangue (anemia hemolítica), diminuição no número de plaquetas no sangue, falta de ar associada a tosse e febre (pneumonite intersticial), dores articulares, cansaço e reações alérgicas. - medicamento está contra-indicado em casos de hipersensibilidade (alergia) ao fármaco; - o risco da ocorrência de efeitos adversos aumenta com a superdosagem. Estou ciente de que este medicamento somente pode ser utilizado por mim, comprometendo-me a devolvê-lo caso não queira ou não possa utilizá-lo ou se o tratamento for interrompido. Sei também que continuarei ser atendido, inclusive em caso de eu desistir de usar o medicamento. Autorizo o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde a fazer uso de informações relativas ao meu tratamento, desde que assegurado o anonimato. Local: Data: Nome do paciente: Cartão Nacional de Saúde: Nome do responsável legal: Documento de identificação do responsável legal: _____________________________________ Assinatura do paciente ou do responsável legal Médico Responsável: CRM: UF ___________________________ Assinatura e carimbo do médico Data:____________________ Observação: Este Termo é obrigatório ao se solicitar o fornecimento de medicamento do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (CEAF) e deverá ser preenchido em duas vias, ficando uma arquivada na farmácia e a outra entregue ao usuário ou seu responsável legal.