FILOSOFIA PARA QUEM CULTIVA A ESPERANÇA Amar a um ser é esperar dele algo indefinível, imprevisível; é, por sua vez, dar-lhe, de certo modo, o meio pelo qual poderá responder a esta espera. Por paradoxal que possa parecer, esperar é, em certo modo, oferecer; porém, o inverso não é menos verdadeiro: não esperar mais é contribuir a ferir de esterilidade ao ser de quem já não se espera nada; é, pois, de alguma maneira, privá-lo, retirar-lhe por antecipação a sua possibilidade de inventar ou de criar. Tudo permite pensar que não se pode falar de esperança senão onde existe interação entre aquele que oferece e o que recebe, comutação que é o selo de toda vida espiritual. (Gabriel Marcel) Interessante notar como a ideia ou a sensação de esperança brotam no ser humano a partir do recôndito da desesperança, ou seja, quando estamos quase “sem saída”, privados de algo ou de alguém; em situação assim, o nosso ser clama por uma atitude esperançosa. Dá-nos a impressão – e a experiência comprova isso – que o nosso ser aspira e possui sede da esperança. Entretanto, poderíamos nos questionar: o que seria, realmente, a esperança? Se partirmos de uma definição conceitual, isto é, se simplesmente definíssemos a esperança com conceitos e frases bem precisas, talvez ficássemos presos a delimitações etéreas. Devemos, pelo contrário, compreender a esperança como uma postura ativa de saída de si mesmo e como uma exigência ontológica de fluidificação da existência – em oposição à petrificação do ser e à autofagia espiritual. Esperar não se trata, então, de uma postura passiva, mas de uma atitude total e essencialmente ativa; esperar é mais do que receber, como afirma o filósofo parisiense Gabriel Marcel; esperar é oferecer. E aqui cabe justamente a célebre afirmação do grande pensador brasileiro Paulo Freire: “Esperança não provém do verbo ‘esperar’, mas do verbo ‘esperançar’, pois é sempre uma postura ativa”.