CF 2009: Fraternidade e Segurança Pública

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CF 2009: Fraternidade e Segurança Pública
Entrevista com o Jornal O SÃO PAULO
1. Porque a Igreja resolveu falar de “Segurança Pública”? Não é um tema
muito distante do interesse religioso?
R. A falta de segurança é preocupante e se manifesta nos fatos e situações de
violência que atingem a população, ferindo a dignidade das pessoas e seus direitos
fundamentais. A segurança pública é um dever do Estado e um direito dos
cidadãos; por outro lado, ela não depende apenas do Estado, mas também dos
cidadãos. A Igreja acredita que uma forte tomada de consciência sobre a situação
de violência e sobre seus motivos possa contribuir para a tomada de atitudes
corretas na superação desse problema. Os temas da Campanha da Fraternidade
não são necessariamente “religiosos”, mas referem-se a situações que o povo vive
e onde fica caracterizado um “pecado social” e a falta de fraternidade. A motivação
da Campanha é religiosa; chama à conversão do coração e à vivência da caridade
concreta e da fraternidade, como atitudes coerentes com a fé e o amor a Deus.
2. Quais resultados a Igreja espera obter com uma campanha dessas?
R. Antes de tudo, é desejável o envolvimento amplo da sociedade nesta Campanha
para que ela não fique apenas “dentro” da Igreja; o problema atinge a todos.
Esperamos que a Campanha também possa contribuir para despertar a
sensibilidade das consciências diante de certa cultura da violência que se vai
afirmando e na qual a violência acaba sendo aceita como “normal” e até inevitável.
A solução, no fundo, está ligada em grande parte a uma correta educação para a
paz, desde o berço até à morte. Evidentemente, a Igreja quer chamar à conversão
dos corações, para que o respeito ao próximo, à sua dignidade, aos seus direitos e
à sua vida; e que o agir violento seja superado. Claro é que a Igreja também
espera que a Campanha ajude a superar as situações de violência estrutural na
sociedade, de maneira que a justiça social verdadeira tenha como fruto a paz
social.
3. A Igreja acredita que a corrupção também é sintoma da falta de
segurança pública na sociedade brasileira. Por que?
R. A corrupção vinga no campo da impunidade; ela é uma forma de violência
porque desrespeita o direito dos outros e o bem comum. Aquilo que é surrupiado
ao patrimônio público pela corrupção fará falta sobretudo aos mais necessitados e
lhes faz violência. Os fatos de violência nunca são isolados mas acabam
desencadeando uma espiral de violência. Não é diferente com a corrupção que, por
isso mesmo, precisa ser combatida mediante a afirmação do direito e ao respeito
ao próximo.
4. O Texto-Base da CF 2009 mostra que as diversas formas de violência no
Brasil são um fenômeno social. Quais as implicações dessa afirmação?
R. Não todas as formas de violência são um fenômeno social, nem se pode afirmar
que a violência depende sempre de problemas sociais. Muitos fatos de violência
dependem mesmo da falta de uma ética pessoal e da corrupção dos costumes. Por
isso, a Igreja também apela nesta Campanha da Fraternidade para a conversão
pessoal, para o abandono do vício da violência e para a reorientação de tendências
à violência para hábitos de respeito e de paz. Mas não há dúvidas que há muitas
situações e fatos de violência que estão implicados com problemas sociais e
culturais; as injustiças sociais e certos mecanismos de organização social e
econômica são promotores de violência contra as pessoas. Por isso também se faz
necessária a “conversão” das estruturas de violência com as quais temos que
conviver todos os dias.
5. Na cidade de SP as pessoas sofrem bastante com a violência crescente.
Concretamente, de que maneira a Igreja local aqui em SP pretende
contribuir na solução deste problema?
R. Infelizmente, a violência passou a fazer parte do dia a dia das cidades grandes,
médias e pequenas. O risco é que nos habituemos com ela e fiquemos sem reação.
A Igreja age em diversas frentes: socorro e assistência às vítimas da violência,
educação para a justiça, a fraternidade e a paz, alerta às consciências para o
respeito à pessoa do próximo, à sua dignidade, seus direitos e sua vida; podemos
dizer que a ação da Igreja é sobretudo educativa, pois ela não dispõe de recursos
para a vigilância ou a repressão da violência, nem seria isso de sua competência,
mas do Estado.
6. Como uma campanha sobre segurança
preparação da Páscoa para os católicos?
pública
pode
ajudar
na
R. A Campanha da Fraternidade insere-se no apelo quaresmal da conversão ao
Evangelho e da busca da “vida nova”; também a superação da violência e a
construção de relações de justiça e fraternidade está nessa mesma linha. A
conversão deve ser pessoal, mediante o arrependimento dos pecados que tenham
relação com a violência; mas a Campanha da Fraternidade também é um chamado
à conversão comunitária, para somar esforços na superação mais eficaz de um
“pecado social” e de suas causas.
S.Paulo, 7.3.09
+ Odilo P. Scherer
O SÃO PAULO, ed. 10.03.09
Fonte:CNBB
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