1 A ENFERMAGEM GERIÁTRICA INTENSIVA: NOVA PERSPECTIVA Katyane Leite Alves Pereira1 Douglas Ferrari Carneiro2 RESUMO A história do cuidar pela enfermagem data tempos antigos e tem seu marco com as contribuições deixadas por Florence Nightingale que retrata o exemplo de doação no cuidado com o outro, procurando levar vida e esperança aos que sofrem. A figura de Florence tem significado grandioso para a enfermagem moderna e para a UTI que se unem em prol do cuidado digno, e nesta instancia merece destaque a assistência ao idoso que diante de alterações fisiológicas e patológicas apresentam limitações e particularidades, estas por sua vez, devem ser percebidas e trabalhadas distintamente no ambiente intensivo. Além dos procedimentos técnicos, as informações fornecidas pela enfermagem à família são necessárias para continuidade do cuidado após a alta hospitalar visando à reinserção deste senescente na comunidade e assim procurando mantê-lo ativo o máximo possível. A pesquisa teve como objetivo demonstrar a intervenção e a importância da enfermagem durante o processo de internação do paciente idoso na UTI com vistas na assistência integral. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, onde foram selecionados 26 artigos nacionais, a partir do ano de 2002, na base de dados do scielo, tendo como busca as palavras-chave: envelhecimento, idosos, UTI, cuidados de enfermagem, idoso na UTI e enfermagem geriátrica. O estudo permitiu observar que o apoio familiar e o diálogo entre os atores envolvidos são suportes indispensáveis para o restabelecimento do idoso. Conclui-se que os cuidados fornecidos pela enfermagem intensiva através de técnicas planejadas e resolutivas aliada a orientações familiares são fundamentais na recuperação e reinserção social do senil. Palavras-chave: Envelhecimento. Idosos. UTI. Cuidados de Enfermagem. Idoso na UTI. Enfermagem Geriátrica. ABSTRACT The history of taking care of old people comes from a very long time and it’s marked by the contributions left by Florence Nightingale which means donation in taking care of other people, trying to take life and hope to those who suffer. The memory of Florence has great significance for modern nursing and ICU which are available to provide a worthy care, and at this moment the assistance to the elderly deserves to be emphasized before some physiological and pathological changes presenting 1 Autora e enfermeira da Equipe de Saúde da Família (ESF) de Itainópolis - PI. Especialista em Saúde Pública; Especialista em Urgência e Emergência, mestranda em Terapia Intensiva pela SOBRATI. e-mail: [email protected]. 2 Doutor em Medicina Intensiva; Presidente da Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva – SOBRATI. 2 limitations and peculiarities which must be perceived and worked differently in the intensive environment. Besides the technical procedures, the information provided by nursing to the family are necessary for the continuity of caring after discharging him or her from the hospital aiming to re-integrate such senescent to his or her community trying to keep him or her as much active as possible. This research aimed to demonstrate the role and importance of nursing during hospitalization of the elderly patient at the ICU searching an integral assistance. This is a bibliographic search, where 26national articles were selected from 2002 on, in the database of scielo, having as search the keywords: Aging, elderly, UTI, nursing, elderly and geriatric nursing at ICU. The study permitted to watch that the family support and dialogue between the factors involved are essential for the reestablishment of the elder. It is concluded that the care provided by the intensive nursing using specific and efficient techniques altogether with family support are fundamental on recovering and re-integration of such senescent in the society. Keywords: Aging. Elderly. ICU. Nursing care. Elderly in ICU. Geriatric Nursing. 1. INTRODUÇÃO A trajetória da criação das UTI´s - unidades de terapia intensiva - é marcada pela presença de alguns nomes importantes, entre ele cabe ressaltar a figura ilustre e humanista da jovem Florence Nightingale, nascida em Florença, cidade que originou seu nome, em 1820, falecendo em Londres em 1910 (COSTA et. al, 2009). Florence revolucionou a história da enfermagem com a criação do conceito moderno de enfermagem e UTI, foi considerada a precursora da terapia intensiva. Sua popularidade em todo território nacional se tornou maior após a participação como voluntária na guerra da Criméia (1854) - Reino Unido, França e Turquia declaram guerra à Rússia - partiu com 38 voluntárias para prestar assistência aos feridos, separou os graves dos não-graves, com técnicas de monitoração contínua prestando uma assistência organizada, protocolada e científica, reduzindo a mortalidade de 40% para 2%; Poliglota e dona de um conhecimento incomum para aquela época, onde as mulheres eram educadas para a vida doméstica, ela exercia sua profissão como um chamado de Deus. Florence ficou conhecida como a Dama da Lâmpada, deixando um legado valioso para a enfermagem com a criação da primeira escola de enfermagem em Saint Thomas, na Inglaterra (1859) (COSTA et. al, 2009). Após Florence o conceito de UTI foi continuado e ampliado com as contribuições de personagens importantes, entre eles, o médico Walter Dandy responsável por a criação da primeira UTI com seis leitos, neuro-pediátrica, em 3 Boston (1926) e Peter Safar com a implementação do suporte avançado de vida no ambiente intensivo (1950) (FERRARI, 2006). O envelhecimento é um processo fisiológico previsível vinculado à progressão etária e que ocorre em todo ser vivo com mudanças em quase todos os órgãos e sistemas do corpo humano, alterando suas estruturas e funções (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009). A qualidade de vida dos indivíduos está diretamente relacionada às suas condições de saúde, quer sejam físicas ou psicológicas. Tendo em vista o acelerado crescimento da expectativa de vida total composta pela quantidade de anos vividos é fundamental o apoio fornecido por redes de serviços que comportem a assistência hospitalar ou domiciliar e integrem uma equipe multidisciplinar com ações articuladas e aparato científico na realização de técnicas que exigem preparo, compromisso, agilidade e responsabilidade contribuindo para a recuperação da saúde e do bem-estar do individuo que busca além da longevidade, condições de saúde satisfatórias que lhe permitam uma expectativa de vida saudável. O senescente (60 anos ou mais) possui particularidades físicas e psíquicas que o diferencia do individuo jovem, necessitando de uma assistência peculiar com embasamento diplomático na realização das medidas terapêuticas durante seu processo de internação na UTI. O enfermeiro é tecnicamente e cientificamente capacitado para fornecer os cuidados necessários a sua reabilitação. Estima-se que em 2020 a população com 50 anos ou mais dobrará mundialmente. No Brasil, segundo os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população maior de 60 anos responderá por cerca de 11% da população geral (SIQUEIRA et. al, 2007). Este acelerado crescimento faz com que o Brasil venha se tornando um país de terceira idade (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009). Em alguns países onde o envelhecimento se deu de forma mais lenta do que no Brasil, existem programas de variadas formas de apoio à família e ao cuidador do idoso dependente (KARSCH, 2003). No Brasil existe os home care que se destinam ao tratamento do paciente no domicílio visando dessa forma à redução do custo da assistência hospitalar e institucional a idosos incapacitados (FLORIANI; SCHRAMM, 2004). 4 Atividades voltadas para promoção, prevenção e reabilitação do idoso vêm sendo desenvolvidas e reformuladas ao longo dos anos por uma equipe multidisciplinar que individualiza o cuidado prestado. Diante do exposto e focalizando a problemática da assistência ao paciente geriátrico na UTI pela equipe de enfermagem intensiva, emergiu os objetivos do estudo: Demonstrar a intervenção e a importância da enfermagem durante o processo de internação do paciente idoso na UTI contribuindo com uma assistência íntegra, humanizada, eficaz e qualificada consoante os preceitos da ética e bioética, proporcionando assim condições favoráveis para a recuperação desses pacientes, sob novas perspectivas de um cuidado permanente que não termina no hospital. O despertar para a temática surgiu da experiência geriátrica vivenciada na unidade de terapia intensiva, mediante a fragilidade de tais clientes e a importância terapêutica dos cuidados prestados para seu completo restabelecimento, física e mental, compreendendo que tal sucesso depende de uma seqüência de atitudes comprometidas com a continuidade do cuidado na comunidade quando o idoso após a alta hospitalar volta para o seu domicílio, dessa forma o profissional de enfermagem tem papel fundamental no processo de cura, quer atue na UTI, quer receba-o na comunidade, reinserindo-o e colaborando para sua reabilitação. A relevância está no considerado aumento da expectativa de vida da população e com ele, a necessidade de melhores condições de saúde que enxerguem o individuo na sua totalidade junto à expectativa de sensibilização quanto a uma assistência humana, individualizada e resolutiva que priorize a vida e a qualidade do cuidado ofertado ao ser assistido. 2. METODOLOGIA O presente estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Tal método foi realizado em três etapas: inicialmente ocorreu a coleta de fontes bibliográficas na qual foi feito levantamento da bibliografia existente, prosseguindo com a seleção de informações contidas na bibliografia encontrada e, por fim, atingiu-se a construção do texto estruturando por tópicos o material selecionado com a finalidade de alcançar o objetivo. 5 Segundo Gil (2002) a pesquisa bibliográfica é realizada a partir de materiais já elaborados através de publicações, periódicos, livros, impressos, revistas e diversos que contemplem a temática do assunto. De acordo com Prestes (2003) a pesquisa bibliográfica constitui o caminho para o conhecimento por meio de fontes embasadas em materiais gráficos, sonoros ou informativos indo de encontro a soluções precisas. O estudo foi realizado no período de dezembro de 2010 a fevereiro de 2011. Mediante o levantamento e análise do conteúdo disponível foram selecionados 26 artigos publicados em periódicos nacionais a partir do ano de 2002, na base de dados do scielo, os quais foram considerados pertinentes à pesquisa em questão. A seleção do material foi realizada de forma criteriosa contemplando a temática para a construção da redação do estudo. Dessa forma, foram utilizadas as seguintes palavras-chaves: envelhecimento, idosos, UTI, cuidados de enfermagem, idoso na UTI, enfermagem geriátrica. 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. O IDOSO 3.1.1. ASPECTOS FÍSICOS O processo de envelhecimento é percebido e descrito erroneamente por muitos que ao visualizarem como uma morbidade procuram combatê-lo, abandonando o verdadeiro sentido da sua compreensão (CONVERSO; IARTELLI, 2007). Com o decorrer dos anos e conseqüentemente o aumento da idade, o corpo humano passa por um processo de maturação sexual inevitável com alterações morfológicas e funcionais. Trata-se de um evento normal que ocorre em todo ser vivo de forma dinâmica e progressiva. O envelhecimento pode também vir acompanhado de alterações patológicas, o que não o restringe à condição de patologia (SOUZA; IGLESIAS, 2002). O ser humano vive em média 110 a 120 anos, vivencia diferentes etapas no decurso da vida que vão desde a fase adulta inicial, compreendida dos 25 aos 40 anos de idade; a meia-idade ou fase adulta média que se estende até os 65 anos de 6 idade; a fase tardia na velhice precoce que ocorre dos 65 aos 75 anos e a chamada velhice tardia que ocorre após o 75 anos de idade (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009). A partir dos 40 anos ocorre redução da necessidade calórica e acúmulo de um quilo de gordura, podendo chegar à perda de 14% da força e de 5% da massa muscular a cada década, tornando-se mais acentuado após os 65 anos de idade, principalmente nos membros inferiores com prejuízo no equilíbrio postural (COELHO; BURINI, 2009). Ocorre ainda, redução de um centímetro de estatura por década, a pele fica mais fina e friável, diminui a elasticidade e a oleosidade. Há alterações visuais, principalmente para objetos próximos e a audição declina progressivamente (SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008). Para Buss, Graciolli e Rossi (2010) o envelhecimento primário é aquele que possui características que não nos expõe diretamente ao risco de morte, como o embranquecimento dos cabelos, o aparecimento de rugas, a calvície entre outros. Diferencia-se do envelhecimento secundário por nos tornar mais vulneráveis, a citar: o colesterol elevado, o reumatismo, o diabetes, a hipertensão arterial. O sistema nervoso central é o sistema mais atingido, afetando a vida social do indivíduo devido às alterações na memória, na audição, na fala, no raciocínio lógico, na capacidade intelectual, na afetividade, no comportamento, na personalidade, na conduta, no equilíbrio e na orientação (CONVERSO; IARTELLI, 2007). No cérebro ocorrem diversas mudanças nos âmbitos neurobiológicos, neurofisiológicos, neuroquímicos e estruturais. Morfologicamente, o cérebro do idoso diferencia-se do jovem em tamanho e peso sofrendo redução, naqueles gerontes que sofreram envelhecimento patológico há alargamento ventricular e dos sulcos com afinamento dos giros (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009). No sistema cardiovascular, morfologicamente, ocorre hipertrofia ventricular. As artérias sofrem diminuição do tecido elástico com aumento de colágeno e musculatura lisa. As alterações funcionais merecem atenção especial por comprometerem a função cardíaca, pode-se citar o retardo do enchimento diastólico, o aumento da resistência vascular periférica com diminuição da perfusão cerebral e renal, a redução do consumo de oxigênio e do débito cardíaco durante a atividade física. As alterações patológicas são demonstradas pela alta prevalência da doença coronariana em idosos, sendo a causa de 50% das mortes de pessoas acima de 65 anos de idade. No sistema respiratório, morfologicamente, ocorre sobrecarga da 7 função diafragmática, redução da área alveolar e aumento da resistência vascular pulmonar. Funcionalmente, ocorre diminuição da força, endurecimento dos músculos respiratórios, redução do consumo máximo de oxigênio e comprometimento da ventilação-perfusão (SOUSA; IGLESIAS, 2002). Segundo Souza e Iglesias (2002) o sistema respiratório e o renal podem desenvolver alterações patológicas difíceis de separar das que ocorrem no processo normal de envelhecimento, é o que ocorre no sistema respiratório devido à exposição crônica a fatores como: poluentes, fumo e infecções pulmonares. Semelhança também encontrada nos rins do idoso sadio e do hipertenso. No sistema renal, morfologicamente e funcionalmente ocorre diminuição do fluxo plasmático renal com queda na taxa de filtração glomerular e redução da massa muscular esquelética como resultado da menor produção de creatinina. 3.1.2. ASPECTOS PISCOLÓGICOS E ESPIRITUAIS Na atual conjuntura em que a mídia divulga e supervaloriza a beleza e a juventude, enfatizando o envelhecimento como um problema previdenciário e dos órgãos públicos e assim influenciando e modelando opiniões preconceituosas a esse respeito, a insegurança e o medo de envelhecer bombardeiam o individuo com imagens negativas, comprometendo sua vivência e interação social (GUERRA; CALDAS, 2010). Acredita-se que os fenômenos fisiológicos e fisiopatológicos do envelhecimento tenham forte influência no estado psicológico do idoso, que muitas vezes associa a velhice a episódios tristes, perdas e a inatividade. A dificuldade de conviver com esta realidade os isola em si, deixando-os fortemente propensos a depressão, isso ocorre devido à perda da motivação e conseqüentemente da autoestima. Diante de sentimentos pré-depressivos, o convívio social e mesmo o familiar pode apresentar-se conturbado, cabe ao cuidador e/ou ao profissional de enfermagem tentar dissipar quaisquer vestígios de improdutividade através do gerenciamento de ações programadas, do estímulo a práticas espirituais, a atividades sócio-interativas e a programas de atenção a melhoria da capacidade motora (MENEZES; BACHION, 2008). 8 O suporte familiar é um fator preponderante para construção de um envelhecimento saudável. O lado afetivo expresso com demonstração de carinho e apoio é capaz de compensar o limite imposto pela idade (FONSECA et. al, 2008). Segundo Guerra e Caldas (2010) a percepção sobre o processo de envelhecimento sofre influência da história de vida, da cultura, do conhecimento acerca de e da religião de cada pessoa. É apontado por alguns como a época da vida em que está presente a solidão, o abandono e a desvalorização social, conseqüência imposta pela viuvez, aposentadoria e a perda do poder aquisitivo, para outros, é sinônimo de conquista, experiência e sabedoria. Boas condições de saúde requerem um equilíbrio entre o físico e o emocional, e para isso a fé, a espiritualidade, não guardar mágoas e fazer o bem são requisitos importantes referidos por idosos para uma boa saúde física, espiritual e emocional (CUPERTINO; ROSA; RIBEIRO, 2007). Frente ao senso de finitude a religiosidade e a espiritualidade proporcionam bem-estar psicológico, conforto e esperança na transcendência através do resgate e reavaliação de atos e fatos passados com reinvenção da história de vida. O bemestar mental na velhice engloba ainda outros fatores chaves que se caracterizam como ferramentas indispensáveis para um envelhecimento bem sucedido, entre eles, a auto-aceitação, o bom relacionamento com o outro, a autonomia, a satisfação pessoal e as perspectivas de vida (LIMA; SILVA; GALHARDONI, 2008). 4. A ENFERMAGEM E O IDOSO NA UTI De acordo com o Ministério da Saúde as UTI’s são unidades hospitalares que recebem pacientes graves e lhes fornecem atendimento médico e de enfermagem permanente com monitoração contínua dispondo de suporte tecnológico avançado e qualificado destinado à cura (CHAVES; MASSAROLLO, 2009). O cuidar em enfermagem se desdobra em duas vertentes distintas e indissociáveis, se por um lado refere-se à execução de procedimentos técnicos por outro, realiza-se na dedicação, no comprometimento, na compaixão, no amor, na sensibilidade, no respeito, na compreensão, na confiança mútua, no calor humano e no sorriso acalentador. O cuidar em enfermagem prioriza a vida e a sua essência (SOUZA et. al, 2005). 9 A internação na UTI provoca um forte impacto na vivência do individuo hospitalizado com perda significativa da autonomia e da identidade. Esta realidade repercute em toda a família que abalada e coagida diante da gravidade do estado de seu ente querido e do distanciamento imposto por normas hospitalares que restringem horários e números de visitantes, mostra-se angustiada e temerosa. No ambiente da unidade de terapia intensiva há predomínio do modelo tecnicista e mecânico, com vistas a manter o ser humano vivo ou manter o funcionamento de determinado órgão, muitas vezes deixando de lado os sentimentos dos atores envolvidos, doente/família (NASCIMENTO; TRENTINI, 2004). Os idosos constituem o grupo dos indivíduos que mais utilizam os serviços de internação hospitalar em especial as unidades de terapia intensiva (UTI), aonde as admissões chegam a mais de 50%. Esse grupo etário da população apresenta características e particularidades que o diferenciam na atenção á saúde. Entre as principais causas e conseqüências de suas internações na UTI destacam-se algumas patologias como: a insuficiência coronorariana, o câncer e as disfunções renais. Algumas literaturas referem à idade avançada como fator comprometedor do prognóstico desses pacientes admitidos na UTI (ALVES et. al, 2009). De acordo com Ruwer, Rossi e Simon (2005) as quedas e suas conseqüências no senil provocam um alto índice de hospitalizações e são responsáveis por 70% das mortes em pessoas acima de 75 anos de idade. De acordo com Ciampone et. al (2006) o percentual de sobrevida após um ano de alta da unidade intensiva em pessoas com idade entre 70 a 85 anos é de 56%, reduzindo para 27% acima dos 85 anos. A presença de doenças e o estado geral de saúde anterior à internação são importantes no prognóstico do paciente. Nesse ambiente de alta complexidade tecnológica as vontades e as expectativas do paciente e da família devem ser respeitadas considerando o melhor resultado possível na qualidade de vida após a alta. Embora o ambiente intensivo requeira o uso fundamental da tecnologia e do tecnicismo na assistência monitorizada em face de diversificadas circunstancias e patologias, estes não devem sobrepor as praticas humanísticas, mas interagirem numa concordância equilibrada. Não raro são os relatos de familiares que ao visitarem seu parente na UTI são recebidos por um responsável que lhes entrega apenas um avental e solicita a lavagem de mãos sem nenhum preparo emocional para a situação com a qual irão deparar-se, tendo em mente que o cliente intensivo 10 encontrar-se-á entubado, sondado, envolto por diversos fios, drenos, amarrado e/ou despido; na maioria das vezes o familiar sai de leito em leito procurando seu parente que em decorrência da natureza do evento causador da internação, apresenta alterações nas características pessoais podendo não ser reconhecido com segurança pela família. A humanização da assistência na UTI só será possível através do diálogo horizontal e vertical entre os cuidadores de enfermagem na UTI, o cliente e a família. O diálogo é o verdadeiro compartilhar. É muito mais do que uma conversação, considerando que o cliente poderá se encontrar entubado e sedado. O diálogo permeia a comunicação entre indivíduos e ocorre de variadas formas: Através do encontro, do envolvimento, do relacionamento, da presença, de respostas, de um chamado, entre outros. A enfermagem precisa estar envolvida com o cuidado, dessa forma estará envolvida com a família e com o cliente fornecendo suporte na desesperança, na dor e no sofrimento (NASCIMENTO; TRENTINI, 2004). O termo humanização é bastante idealizado na UTI, mas de fato significa amar o próximo como a si mesmo, compreendendo o paciente como um ser completo. Este fato não implica em não visualizar a sua patologia, mas ver além dela, enxergá-lo como um ser que sente, sofre, espera e tem vontades. Certamente o ambiente físico e a sofisticada tecnologia são fundamentais no cuidado de pacientes graves, mas a humanização transcede a maquinaria. É preciso que venhamos a compreender a essência humana só assim nosso proceder mudará a realidade do cuidado na UTI (VILA; ROSSI, 2002). 5. PERCEPÇÃO HOLÍSTICA DA SAÚDE: NOVA PERSPECTIVA A saúde pública se contextualiza por diversas práticas que visam à promoção da saúde, prevenção de doenças, a cura e a reabilitação da população global. É resultado da combinação de estratégias pelo Estado através das políticas públicas que assistem o individuo nas diferentes etapas da vida (FONSECA et. al, 2008). Com a regulamentação do SUS em 1990, as políticas públicas nacionais passaram por mudanças significativas e a saúde pública antes exclusivamente terapêutica passa a focalizar a atenção primária, dessa forma cabe ressaltar a notoriedade da política nacional de saúde do idoso aprovada em 1999 pelo Ministério da Saúde e o Estatuto do Idoso sancionado em 2003. A política nacional de saúde do idoso visa à promoção do envelhecimento saudável, a prevenção e o 11 tratamento de doenças, assegurando ao máximo sua capacidade funcional e sua vida social produtiva, por sua vez, o estatuto do idoso visa à garantia da proteção dos seus direitos a vida e à saúde, retratando a responsabilidade da família e do poder público (FONSECA et. al, 2008). Com a finalidade de ampliar o sistema único de saúde foi criado o programa de saúde da família – PSF (1994) reforçando os princípios e diretrizes do SUS com a garantia de acesso ao tratamento dentro de um sistema de referência e contrareferência, em especial aqueles com problemas de alta complexidade que requerem hospitalização. A equipe de saúde da família é composta por vários profissionais incluindo o médico, o enfermeiro e o agente comunitário de saúde. A proximidade de tais profissionais com a comunidade bem como o atendimento domiciliar torna possível o conhecimento das reais condições de saúde do idoso junto a sua família, o que favorece o desenvolvimento de práticas intersetoriais e atividades que contemplem a saúde integral do indivíduo (OLIVEIRA; TAVARES, 2010). Nessa perspectiva, diversas ações são realizadas por equipe multiprofissionais de saúde da família visando alcance do propósito da política nacional de saúde do idoso. Assim sendo, a manutenção da sua capacidade funcional e autonomia prevista na referida política objetiva ao máximo manter o idoso na comunidade no seio familiar, uma vez que a internação hospitalar mesmo que por curto prazo provoca alterações em tais padrões, limitando-o. O cuidado do cliente geriátrico na comunidade deve fundamentar-se na família e na atenção básica através de programas de educação (palestras) com orientações voltadas para práticas saudáveis, contemplar estratégias de reabilitação (fisioterapia), inserção social, assistência médica, bucal e psicológica (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003). Os benefícios oriundos da prática de exercícios regulares não são apenas físicos além de colaborar com o aumento da força muscular, da flexibilidade, do desempenho do equilíbrio corporal possibilitando a melhor locomoção e prevenindo as doenças cardiovasculares, a osteoporose e outras doenças crônicas, a atividade física traz ainda efeitos positivos na auto-estima e autoconfiança, fatores prioritários para a boa saúde mental contra a desativação da vida funcional produtiva e a depressão, transtorno cognitivo de conseqüências negativas e elevada incidência na terceira idade (SANTOS; ANDRADE; BUENO, 2009). 12 É interessante que a escolha da modalidade do exercício possa estimular a interação social e a autopercepção do equilíbrio mental e corporal, alternando as modalidades aeróbicas com outras que estimulem também a concentração e o raciocínio, a citar: ioga, musicoterapia, trabalhos manuais, dança (com movimentos que requerem agilidade e atenção) entre outros. Cada modalidade deve sempre contemplar o ser na sua individualidade respeitando os seus limites (MENEZES; BACHION, 2008). O profissional sob uma nova perspectiva deve ser capaz de compreender a competência do significado de saúde em seu sentido mais amplo com o pleno conhecimento da sua área de abrangência, da realidade familiar e das condições de saúde prevalentes para planejar, organizar e desenvolver ações contínuas, competentes e resolutivas, avaliando constantemente seus resultados (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003). A família está diretamente envolvida no processo de envelhecimento do seu geronte vivenciando junto a ele todos os impactos que esta fase traz. É sobre a conjuntura familiar que recai todas as responsabilidades sobressaindo a sua característica marcante de suporte, portanto, ela funciona como subsídio indispensável para que novas estratégias venham a ser desenvolvidas por profissionais de saúde visando à otimização da assistência prestada. O apoio e a compreensão adequada da família são fundamentais na conquista da melhoria do cuidado e da qualidade de vida do senil, assim sendo, algumas mudanças nos modelos da assistência à saúde vem ocorrendo ao longo dos anos com programas de atendimento no domicilio focalizando a família, entre eles: o programa de saúde da família (PSF), os home care, a internação domiciliária, o programa de agente comunitário de saúde (PACS) (SOUZA; SKUBS; BRETAS, 2007). O cuidado domiciliar vem ganhando mais força a cada dia tantos nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. Em países desenvolvidos onde o envelhecimento se deu de forma mais lenta, existem programas que contemplam o idoso no domicílio com oferta de serviços e suporte a família e ao cuidador, como exemplo, o community care onde é possível alternar as práticas exercidas pelo cuidador com o profissional de saúde aliviando sua jornada. Outro programa muito importante é o “comida sobre rodas” que produz e distribui refeições diante de morbidade e dependência, dessa forma o cuidador não terá que cozinhar diariamente (KARSCH, 2003). 13 O atendimento domiciliar (AD) empregado no sentido de home care teve sua difusão no Brasil no século XX. Tal modalidade busca a redução dos custos hospitalares e a otimização dos leitos devido a episódios de internações e reinternações, dessa forma, abrange uma rede serviços no domicílio que vão desde cuidados básicos de higiene, alimentação, locomoção, cuidados com a medicação, ferimentos até o uso de alta tecnologia hospitalar com acompanhamento médico e de enfermagem 24 horas por dia. Entre outros objetivos do atendimento domiciliar esta modalidade visa através de suporte terapêutico uma maior aproximação e integração da família no tratamento proposto, contribuindo para reinserção do senescente na comunidade com recuperação da sua autonomia e independência funcional, procurando mantê-lo ativo dentro do possível (FLORIANI; SCHRAMM, 2004). Ao longo dos anos e culturas a mulher se destaca como cuidadora principal, muitas necessitam inserir-se logo cedo no mercado de trabalho. Nos Estados Unidos existe uma política de apoio a essas mulheres que além de arcar com a jornada empregatícia são responsáveis pelos cuidados e as despesas de algum idoso (pai, mãe, avós), podendo ela receber benefícios na redução da jornada de trabalho ou mesmo ajuda em dinheiro para ajudar nos custos com a assistência do geronte (KARSCH, 2003). Para Karsch (2003) a atenção dos profissionais de saúde deve está voltada para a capacitação do cuidador familiar do idoso incapacitado orientando como proceder em situações difíceis e supervisionando o cuidado ofertado, principalmente quando este cuidador se tratar de outro idoso menos lesado. No cenário brasileiro apesar das mudanças ocorridas nas políticas de proteção ao idoso o Estado ainda se apresenta com uma parcela muito restrita no que se refere à oferta de serviços ao indivíduo senil e a sua família. Portanto, é necessário que as políticas públicas de saúde enxerguem novos horizontes redirecionando seus enfoques, modificando e ampliando as ações assistenciais. 6. CONCLUSÃO A partir da análise e estudo dos artigos selecionados referentes a presente pesquisa verificou-se que o envelhecimento saudável é a somatória dentre outros fatores, de cuidados básicos de saúde, condições de higiene, moradia satisfatória, 14 alimentação, atividade física, equilíbrio psicológico e o acesso adequado a políticas públicas que promovam saúde em todo ciclo vital. O senescente é um paciente que possui particularidades físicas e emocionais que o diferencia de outros pacientes, necessitando de atenção especial na abordagem e cuidados, com uma equipe multiprofissional capacitada para atender suas necessidades, tanto no ambiente hospitalar da UTI como na comunidade frente ao seu processo de reabilitação e reinserção na sociedade. Para que o envelhecimento saudável se concretize de fato, saindo de hipóteses e teorias, as práticas são fundamentais para o sucesso das intervenções, partindo do pressuposto da integralidade da assistência em saúde através da consolidação de programas que visem à promoção/prevenção por meio das mobilizações comunitárias e da qualificação de profissionais com atenções voltadas às questões gerontogeriátricas capazes de gerenciar estratégias que priorizem o físico e o mental do indivíduo senil e ainda programas que disponibilizem maiores e melhores acesso as informações de saúde. No atendimento hospitalar intensivo o enfermeiro se destaca pela assistência ofertada indo de encontro às necessidades por eles expressas tanto no âmbito da execução de saberes meramente técnicos como na individualização do cuidado percebendo-o na sua totalidade como ser que é com suas angústias e medos. A proximidade do cuidado faz com que um elo de confiança e respeito mútuo seja estabelecido entre o cliente, a família e o profissional de saúde, condição prioritária para humanização do cuidado e otimização dos resultados, elevando os níveis de saúde e contribuindo com a qualidade do cuidado, conseqüentemente, produzindo os efeitos positivos na qualidade de vida. Espera-se que o acesso a essa produção científica aguce nossos sentidos e assim abra caminho para a aquisição de novos conhecimentos, analises e pesquisas nos sensibilizando enquanto profissionais na adoção de estratégias que contemplem a saúde integral do ser assistido. REFERÊNCIAS ALVES, C. J. et. al. Avaliação de índices prognósticos para pacientes idosos admitidos em unidades de terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva, São Paulo, v. 21, n. 1, mar. 2009. Disponível em: 15 <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103507X2009000100001&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em: 20 de fevereiro de 2011. BUSS, L. 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