BRASIL, PAÍS SUBDESENVOLVIDO INDUSTRIALIZADO "A evolução política progressista do Império corresponde assim, no terreno econômico, à integração sucessiva do país, numa forma produtiva superior, à forma capitalista." O ingresso do Brasil, como país soberano, no sistema capitalista mundial ocorreu não como nação industrializada, mas como um dos inúmeros participantes da periferia do capitalismo. Durante quase um século, permanecemos como exclusivo produtor e fornecedor de matérias-primas agrícolas, como ocorreu no período colonial. O Brasil só consolidou sua industrialização após a Segunda Guerra, num processo conhecido como substituição de importações. Apesar de industrializado, o Brasil permanece subdesenvolvido em virtude dos indicadores sociais, do nível tecnológico e da dependência da tecnologia e de investimentos internacionais, como financiamentos de bancos privados estrangeiros e abertura de filiais e de empresas transnacionais. Dessa forma permanece como uma nação capitalista industrializada periférica (é considerado um dos Novos Países Industrializados). Não faz parte do "centro" do sistema, isto é, dos países desenvolvidos. Investimentos estrangeiros e transnacionais Como país subdesenvolvido industrializado, o Brasil tem sua economia dependente de investimentos estrangeiros e da presença de empresas transnacionais. Segundo o World Investment Report 2004, publicado pela Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), o ingresso líquido dos IED (investimentos estrangeiros diretos) na economia brasileira em 2003 foi de 10,144 bilhões de dólares. Apesar da queda progressiva desses investimentos, desde 2000 o Brasil pode ser considerado um "país com elevado potencial de atração e elevado índice de IED". Entretanto, apresenta algumas dificuldades de competitividade entre os países emergentes para atrair investimentos estrangeiros. Entre essas dificuldades, podemos citar a carga tributária, os custos da área trabalhista e o excesso de burocracia. O modelo econômico “arquipélago” Até fazer parte do conjunto das nações industrializadas periféricas, a economia brasileira funcionava como um "arquipélago", ou seja, apresentava um conjunto de áreas econômicas que funcionavam como "ilhas", uma vez que eram voltadas para o exterior e desarticuladas entre si. Assim ocorria com a cana-de-açúcar no Nordeste, o café no Sudeste, a borracha no Norte e a pecuária no Sul. Somente após a Segunda Guerra Mundial, com a construção de indústrias e rodovias, houve a integração da economia brasileira em torno de um único centro polarizador, no caso a região Sudeste. Em função dessa nova organização espacial da economia brasileira a partir da industrialização, podemos utilizar diferentes propostas de estudo para explicar esse processo. A divisão regional oficial do IBGE é em cinco grandes regiões. Veremos a seguir três dessas propostas: os complexos regionais, a regionalização elaborada por Milton Santos e os eixos nacionais de desenvolvimento. Os complexos regionais brasileiros Além da divisão oficial regional do IBGE, outra proposta caracteriza os espaços brasileiros segundo a organização da sua economia (modelo centro-periferia). Ela foi elaborada em 1967 pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger, que dividiu o Brasil em três grandes complexos regionais Amazônia, Nordeste e Centro-Sul-, segundo suas características geoeconômicas. Na regionalização proposta por Geiger desaparecem os limites que separam os estados. Além disso, veja outras modificações que ela apresenta em relação à divisão oficial do IBGE: O sul de Mato Grosso e de Tocantins está agrupado ao complexo regional do Centro-Sul, por causa de suas relações de dependência econômica. O norte de Minas Gerais passa a compor o complexo do Nordeste por ser uma área com características econômicas e naturais semelhantes: clima semi-árido e pobreza, fazendo parte, inclusive, do Polígono das Secas. A porção oeste (ocidental) do Maranhão passa a integrar o complexo regional da Amazônia por sua afinidade econômica extrativista (da mata dos Cocais). Amazônia Com uma área de 5 milhões de km², a Amazônia compreende 58% do território brasileiro. Além da região Norte estabelecida pelo IBGE, que tem aproximadamente 3 870 000 km², abrange grande parte dos estados de Mato Grosso e Maranhão. Principais características: Quadro natural: clima equatorial, domínio de terras baixas amazônicas, floresta equatorial e bacia Amazônica. Quadro humano e econômico: pequena população absoluta, baixa densidade demográfica e economia baseada no extrativismo mineral e vegetal. Apresenta crescimento industrial na Zona Franca de Manaus. É o principal reduto de povos indígenas, de problemas de posse de terra e desmatamentos (queimadas). Desde a década de 1960, a Amazônia tornou-se fronteira de expansão agropecuária e de povoamento. Nordeste Com 1,5 milhão de km² a região geoeconômica do Nordeste ocupa 18% do território brasileiro, área quase equivalente ao Nordeste delimitado pelo IBGE. Compreende o norte de Minas Gerais, mas não inclui o oeste do Maranhão. Considerada a "região-problema" do país, o Nordeste enfrenta graves conflitos sociais e econômicos: área de repulsão de população, analfabetismo, mortalidade infantil, concentração de renda e de terras, seca, falta de oportunidades de emprego. De acordo com o IBGE pode ser dividido em quatro sub-regiões: Meio-Norte, Sertão, Agreste e Zona da Mata. Meio-Norte. Maranhão e Piauí compõem essa sub-região, que é uma zona de transição entre o Nordeste e a Amazônia. O extrativismo do babaçu e a agricultura do algodão e do arroz são as principais atividades econômicas do Meio-Norte. São Luís é a cidade mais populosa dessa sub-região. Sertão. É a maior das sub-regiões nordestinas, ocupada em sua maior parte pelo Polígono das Secas, que abrange os locais afetados por secas periódicas. A pecuária extensiva de corte e o cultivo de arroz e algodão são as principais atividades econômicas do Sertão. Recentemente, a irrigação tem favorecido a produção de frutas em áreas sertanejas às margens do rio São Francisco. Agreste. Pequena faixa que atravessa de norte a sul os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A cidade de Campina Grande, na Paraíba, é chamada de "capital do Agreste". O Agreste marca a transição entre a área litorânea (Zona da Mata) e o Sertão. A policultura comercial e a pecuária leiteira são as principais atividades econômicas. Zona da Mata. Sub-região economicamente mais importante do Nordeste, a Zona da Mata ocupa a faixa litorânea do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia, incluindo o Recôncavo Baiano. Foi o primeiro local do Brasil a ser povoado. Hoje é a área mais populosa e a que concentra duas das três maiores cidades do Nordeste: Salvador (Bahia) e Recife (Pernambuco). O cultivo da cana-de-açúcar e do cacau representa sua principal atividade econômica. Centro-Sul Com cerca de 2 milhões de km², o complexo regional do Centro-Sul abrange integralmente os estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Cata ri na, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, a maior parte de Minas Gerais e Goiás e uma pequena parte de Tocantins e Mato Grosso. Corresponde às terras das regiões Sudeste. Sul e Centro-Oeste. É o complexo regional mais importante e o centro econômico da nação, com mais de 60% da população brasileira. Aí estão vinte das 26 áreas metropolitanas do país. As desigualdades regionais Podemos perceber a grande diferença socioeconômica entre os complexos regionais brasileiros analisando os indicadores sociais de alguns estados. Ficam nítidos os contrastes e o melhor desempenho dos estados ou unidades que compõem o Centro-Sul. Os "quatro brasis" O geógrafo Milton Santos e a professora Maria Laura Silveira propuseram uma nova regionalização do Brasil. baseada em quatro regiões ou em "quatro brasis". O critério principal definidor dessa nova regionalização foi o do "meio técnico-científico-informacional", isto é, a "informação" e as "finanças" estão irradiadas de maneiras desiguais e distintas pelo território brasileiro, determinando "quatro brasis", Veja a seguir como é constituída cada região definida por essa nova regionalização: Região Amazônica: inclui os estados do Amapá, Pará, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia. Baixas densidades técnicas e demográficas. Região Nordeste: inclui os estados do Maranhão. Piauí. Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Foi a primeira região a ser povoada. Apresenta uma agricultura pouco mecanizada se comparada à região Centro-Oeste e à região Concentrada. Região Centro-Oeste: inclui os estados de Goiás. Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. De ocupação recente, apresenta uma "agricultura globalizada", isto é, moderna, mecanizada e produtiva. Região Concentrada: inclui os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É a região que concentra a maior população, as maiores indústrias, os principais portos, aeroportos, shopping centers. supermercados, as principais rodovias e infovias, as maiores cidades e universidades. Portanto, é a região que reúne os principais meios técnico-científicos e as finanças do país. Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento A divisão em Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento talvez não possa ser encarada como uma nova divisão regional, mas como uma nova definição espacial do território brasileiro, feita pelo Ministério do Planejamento em 2001. Essa divisão leva em conta as potencialidades socioeconômicas e de infra-estrutura de cada área delimitada, visando maior integração de nosso país e redução dos desequilíbrios regionais e sociais através da criação de renda e empregos em todas as áreas do país. Os itens analisados para estabelecer os eixos de integração e desenvolvimento foram: hierarquia funcional e regional das cidades (hierarquia e rede urbana), principais atividades econômicas e distribuição da população, malha de transporte (rodovias, ferrovias, hidrovias interiores, transporte marítimo, portos e terminais marítimos e fluviais) e ecossistemas. Outro objetivo desse estudo foi identificar obstáculos ao crescimento de determinadas áreas do país e incentivar a participação da iniciativa privada no desenvolvimento econômico e social brasileiro. Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento são nove: Arco Norte, Madeira, Amazonas, Oeste, Sudoeste, Araguaia-Tocantins, Transnordestino, São Francisco, Sul e Rede Sudeste. Veja o mapa ao lado. A Rede Sudeste ou Rótula exerce o papel de articuladora entre as demais regiões. A Rótula não deve ser considerada como eixo, pois seu papel será integrar os demais eixos, uma vez que conta com 38% da população do país, 70% do PIS e o mais alto grau de urbanização. Entretanto, a efetivação desse projeto não havia acontecido até 2005. QUESTÕES PARA REFLEXÃO 1- "A segunda etapa de desenvolvimento industrial consiste na aplicação de medidas destinadas a propiciar a diversificação e a expansão do setor. Neste contexto é que se colocam a Revolução de 1930, o Estado Novo instituído em 1937, o getulismo e suas variantes, a democracia populista. etc. Em linhas gerais, esse estágio situa-se entre 1930 e 1964. É a época da implantação do modelo substituição de importações." Descreva o modelo de substituição de importações introduzido no Brasil. 2. O Brasil é industrializado, entretanto permanece subdesenvolvido. Justifique a afirmação apresentando dois exemplos. 3. Os complexos regionais brasileiros seguem uma proposta diferente da regionalização estabelecida pelo IBGE. a) Aponte uma diferença dessa nova regionalização em relação à do IBGE. b) O complexo regional do Nordeste está dividido em sub-regiões. Caracterize-as. c) Por que o norte de Minas Gerais passou a integrar o complexo regional do Nordeste? 4. O Ministério do Planejamento (Ações Federais 19952002) publicou uma série de 27 Livros que reuniu as ações federais realizadas entre 1995 e 2002. "Nesse período, a maior parte dos investimentos em projetos de desenvolvimento social, infra-estrutura, meio ambiente e informação muitos deles desenvolvidos em parceria com governos estaduais, iniciativa privada e agências internacionais - foram direcionados para espaços geoeconômicos definidos por nove Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento, identificados por meio de estudo do BNDES e do Ministério do Planejamento, entre 1997 e 1999..." Com base no texto do capítulo e no texto acima, cite dois benefícios que podem resultar da criação dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento. 5. Por que a Rede Sudeste é também chamada de Rótula?