MANIFESTO PELA DEMOCRACIA E CONTRA O PRECONCEITO Ronaldo Santos Soares Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo Esta carta manifesta e reflete uma opinião pessoal, diante da crescente manifestação, por alguns canais da grande imprensa e por setores reacionários descontentes com os avanços do País, de uma onda de acusações sem provas, de ofensas, de declarações disparatadas contra o Governo Federal e contra uma candidata à Presidência da República. A poucos dias do primeiro turno das eleições gerais, cabe uma discussão sobre a forma como tais setores estão se conduzido diante da sociedade, desejando minar o confronto de ideias e, em vez disso, gerar ódios e inventar um clima de terror sobre um pleito eleitoral até aqui conduzido de forma exemplar e transparente. Esse é o comportamento danoso à democracia. Resta a esperança de que a sociedade brasileira atual está mais atenta para evitar esse ensaio de retrocesso político. A população deve manifestar, de forma civilizada, a sua vontade e a sua voz, pelo respeito à Constituição, contra a calúnia e contra o preconceito. O Brasil vive agora 22 anos de normalidade democrática e de respeito às instituições, com eleição direta e livre manifestação das correntes políticas de opinião. Estamos vivendo o mais longo período democrático de nossa História e assim deve-se conservar como mostra de amadurecimento do conjunto da sociedade brasileira. Trata-se de uma fase de transparência, de exposição do Poder Público à sociedade, de reconhecimento pela sociedade dos esforços pela preservação das instituições, pela probidade dos atos públicos e pelo respeito às leis. Infelizmente, o que hoje se vê da parte de alguns setores minoritários da sociedade. Estes sim estão descontentes com os avanços progressivos da democracia representativa e com a consolidação de um modelo de Governo pautado na busca pela coesão social e na responsabilidade no tratamento da coisa pública. De um modelo de Governo aprovado pela maioria dos brasileiros. Vê-se uma tentativa de tais setores de colocar em plano inferior a discussão de ideias para o País, de projetos de Estado e de planos para o nosso desenvolvimento econômico e social. Em seu lugar, vê-se a colocação – por setores da grande mídia e por inconformados com a vontade popular – de um jogo de calúnias, de ofensas que beiram a linguagem baixa, de ilações sem provas, de prejulgamentos, de declarações de cariz preconceituoso, que totalmente destoam dos valores éticos que esses mesmos setores tanto dizem defender. O verdadeiro debate de ideias – que interessa à maioria dos brasileiros e que trata sobre o futuro do País – foi contaminado por uma tentativa feita por esses segmentos minoritários de se instalar uma campanha do ódio, do ataque à honra, da manifestação do personalismo, do turvamento da discussão de ideias. Não deveria ser assim. Um dos pilares da democracia – e isso todos nós cidadãos temos de reconhecer – é a liberdade de expressão. A Constituição Federal consagra a liberdade de informação. As instituições republicanas de nosso País respeitam o direito protegido por nossas leis da livre e soberana divulgação de opiniões dos canais de imprensa e de comunicação, da mesma forma como respeita a pluralidade das opiniões de todos os setores e segmentos da sociedade, em concordância com os princípios democráticos. No atual cenário de normalidade do Estado de Direito, declarar que a democracia representativa em nosso País está ameaçada é um grande despropósito, uma afirmação sem fundamento. Pelo contrário: o País está prestes a viver um período de escolha dos governantes e dos parlamentares de forma transparente e decente, sem fraudes, sem atos de violência, de intimidação, de fomento de ódios, sem tensões de intolerância. Estamos vivendo mais um momento de grande afirmação e de manifestação da democracia, em que o povo brasileiro em todos os seus quadrantes e através de sua escolha livre, novamente mostra voz ativa e papel proeminente. Entristece a todos nós, pessoas de bem cientes de todos os avanços conquistados pelo País nos anos atuais da retomada democrática, ver o comportamento de retrocesso desses segmentos de uma oposição raivosa, que se julga dona da verdade, mas deixa-se mover mais por suas próprias paixões e menos pelos anseios da sociedade; mais por seu próprio sentimento de ira, de rancor – talvez também de uma inveja pela estrondosa popularidade do atual Governo, dentro e fora do Brasil – e menos pelo desejo sincero de melhoria dos avanços para o País. Trata-se de um desconchavo dizer que a solidificada democracia brasileira vive um "autoritarismo". Levando-se ainda em consideração que nosso País ganhou crédito e respeito da comunidade mundial, que possui voz ativa nas decisões internacionais, que ganha projeções positivas ao redor do mundo pelo valor de sua democracia e que age estritamente em harmonia com os preceitos constitucionais – construídos em nosso País com sacrifício e a duras penas. Trata-se de um dislate dizer que os poderes do Estado brasileiro estejam sendo ameaçados, coagidos por um poder só – como, aliás, foi na época da ditadura militar. Felizmente, foge de nossa atual realidade qualquer ação atentatória à Constituição, ou de fechamento do Congresso Nacional, ou de decretação de atos adicionais, ou de intervenção nos meios de comunicação. Todas essas arbitrariedades foram combatidas com coragem por homens e mulheres éticos, tanto do atual Governo quanto da oposição, que compreenderam as aspirações da população e que ajudaram a construir, ainda que de forma lenta e com sobressaltos, as bases do Estado Democrático de Direito no Brasil. Trata-se de mentira desmedida dizer que o Governo queira fazer interdições à liberdade de expressão e de informação. O Estado brasileiro possui leis constitucionais que protegem esse direito, ratificado pelos tratados internacionais assinados pelo Governo de nosso País. Nosso atual Presidente da República, que veio das camadas populares, que lutou contra o autoritarismo e que foi prisioneiro político de um regime que silenciou a imprensa e a vontade popular, tem reafirmado em todas as suas declarações e em todos os seus atos o respeito à Constituição e à liberdade de informação – valores que ele próprio ajudou a construir na Assembleia Nacional Constituinte. O Presidente da República, os ministros de Estado e os diretores das agências do Governo ouviram livremente toda a sorte de críticas da parte de alguns canais da grande imprensa, porém, muitas delas, como agora, não são críticas fundamentadas, mas ofensas panfletárias, opiniões de prejulgamento e imprecações de teor preconceituoso. Quando alguém do setor público federal quer lançar sua defesa e sua crítica contra esse comportamento que foge do escopo informativo e do compromisso com os fatos, esses mesmos canais passam a assumir o papel de porta-vozes do conservadorismo político, inventando a "ameaça à imprensa". Quando alguém do Governo atual nestes últimos oito anos telefonou para algum diretor de redação ou editor-chefe de algum jornal pedindo-lhe para não publicar tal matéria de reportagem? Quando o Presidente da República ou alguém de seu ministério ou das agências do Poder Executivo entrou em contato com donos de emissoras de rádio ou de televisão intimando-os a limitarem o teor de suas mensagens ou comunicações ou coagindo-os a não divulgarem algo que fosse ofensivo ao Poder Público constituído? Tal acinte da difamação, das ofensas ferozes, do julgamento preconcebido e da dúvida sobre as instituições e sobre os representantes eleitos é a real ameaça à democracia e à estabilidade nacional que vinha sendo até aqui – e de forma bem-sucedida – conduzida de forma pacífica. Não é de se surpreender o fato de esses setores descontentes – que arrogantemente se dizem representar toda a sociedade – promoverem tantas agressões, tantas acusações sem provas, em que eles julgam e sentenciam os membros do Poder Público sem que haja qualquer comprovação e antes do processo legal. Teme-se mesmo que haja, de fato, um temor real vindo desses segmentos em relação ao atual Governo. Porém, esse temor – como sempre houve a partir das camadas que tradicionalmente dirigiam nosso País – pode ser velado e movido pelo conservadorismo anacrônico e pelo preconceito, por seu natural sentimento reacionário, pela possibilidade iminente de ser eleita uma Presidente da República. Se este modelo nacional de gestão democrática manteve fortes alicerces no Brasil nos últimos anos, é simplesmente devido à vontade soberana da maioria do povo brasileiro. Assim como o padrão anterior de 1994 a 2002 – veladamente defendido pelos círculos que hoje são de oposição – permaneceu oito anos à frente do País através da vontade popular. O respeito à democracia tem de passar pelo respeito aos anseios da maioria dos cidadãos que compõem o variado tecido social de nosso País, para o benefício não de uma minoria, mas para o desejado benefício de toda a população. Se o atual Governo conquistou o apoio de 80% da população brasileira e é admirado e respeitado pela comunidade internacional, não foi por outra causa senão pelo trabalho bem desempenhado de manutenção da estabilidade monetária, de combate à inflação, de rigor na administração das empresas públicas e nas autarquias, de geração de políticas de promoção e de bem-estar social e de estabelecimento de princípios e diretrizes transparentes de gestão pública. Todo o apoio popular foi conquistado pela melhoria de um processo de estabilidade econômica e social que somente agora alcança de fato toda a população brasileira e repercute positivamente nos dados e nas cifras de um País na marcha do desenvolvimento. Portanto, não se trata de "autoglorificação", como dizem certos canais minoritários de rancor. Trata-se de esforço e de reconhecimento pelo trabalho feito para o País. Quando esses setores bem representados em nossa grande imprensa despertarão para o quer a maioria do povo brasileiro? Deseja-se o retorno à discussão amadurecida de um projeto para o Brasil, ao debate das ideias para o País, mas que seja feito de forma desapaixonada, sem que se ataque a honra pessoal de quem deseja conduzir o País. Que não se use da ofensa para misturá-la à discussão nacional. Quem age dessa forma, com demasiada preocupação em difamar e caluniar de forma segregatória, mostra menosprezo em relação às necessidades do País e da população. Até mesmo estas manifestações de desapreço movidas pelo rancor e tais tentativas de incitação ao ódio puderam ser feitas publicamente contra um Governo que emana do povo, o que mostra que não há, nem houve da parte da atual gestão federal, nenhuma tentativa de censura. Existe o Estado brasileiro que respeita a sua Constituição. Vivemos num Estado que respeita a livre expressão do pensamento e a livre informação, necessários para o bom funcionamento do Poder Público. Tanto que as denúncias estão sendo apuradas e investigadas pela Polícia Federal e todos os investigados estão afastados de suas funções para que se conduzam livremente as investigações, de forma transparente. Neste ponto, merece ser elogiado o Governo Federal que agiu rapidamente dentro das bases da ética na conduta pública, já demonstrado pelas muitas operações e investigações já realizadas nos últimos oito anos. A candidata que infelizmente está sendo atacada de forma implacável e odiosa – justamente por esses setores que nunca respeitaram a discussão democrática de ideias e a vontade popular – tem asseverado que quer a apuração dos fatos e a punição dos responsáveis por lesarem o Poder Público. Mas que isso seja feito desde que apareçam provas e desde que se respeite o processo legal. Nenhum grupo político ou canal de imprensa tem o direito de agir como se fosse um tribunal, condenando pessoas sem comprovação da culpa – isto é uma atitude antidemocrática. Lamenta-se que o grupo político que quer se aproveitar da mensagem do ódio, da intimidação e da segregação, por exigir tanta transparência no plano federal, não coloque em prática essa mesma transparência no plano estadual. Lamenta-se que alguns grandes canais da imprensa deem tratamento privilegiado a um grupo político e total aversão a outro, mesmo que este no Governo tenha respaldo da maioria da população. É triste perceber que uma parte da grande imprensa comporta-se, inclusive com linguagem panfletária carregada de imprecações e de bravatas, como se fosse o prolongamento de um partido político de oposição. A total imparcialidade dos meios de comunicação é conduta que reflete o amadurecimento de uma sociedade. Criticar não é a mesma coisa que intimidar ou ameaçar, como infelizmente alguns setores da mídia são tentados a fazer contra pessoas de vida honrada. Poder-se-ia ser seguido o exemplo dos jornais e dos canais de comunicação dos Estados Unidos da América, que declaram, através de editoriais, quais candidatos apoiam em período eleitoral e por quais motivos que o defendem. Uma declaração de forma aberta, sem disfarces, que consagra a livre manifestação da informação e da opinião em uma sociedade plural. Quem se declara cidadão de bem não semeia inimizades nem recorre a agressões e ofensas feitas pelas costas contra pessoas de conduta ética e que fazem trabalho sério pela sociedade. A história costuma fazer julgamentos severos dos caluniadores e daqueles que propagam o ódio, a inverdade e a mentalidade preconceituosa, por mera motivação eleitoral acionada por sentimentos mesquinhos, pela inveja do sucesso de um modelo alheio, pelo desejo de agressão e pelo destempero. Os brasileiros de bem podem, mais do que em nenhum outro período anterior, acreditar no futuro de nossa democracia, de nossas leis e de nossas instituições. Tais valores serão dentro em breve confirmados pela vontade soberana do povo – origem e destino de uma sociedade democrática. Que o amor vença o ódio. Que a esperança vença o preconceito e o desespero. Ronaldo Santos Soares Bacharelando em Letras Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo [email protected] Carta elaborada em 28 set. 2010. São Paulo – SP.