Coordenador do projeto: Karina Kuschnir Instituição: Universidade

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Coordenador do projeto: Karina Kuschnir
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Setor: Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA/IFCS/UFRJ)
Título do projeto: Conexões filtradas: visibilidades e acessos nos espaços de assistência
mantidos por políticos na cidade do Rio de Janeiro.
1. Resumo expandido
Este trabalho tem como base uma ampla pesquisa etnográfica sobre formas de conexão entre
políticos e a população do Rio de Janeiro. Foram mapeadas mais de 60 unidades de prestação
de serviços de assistência mantidas por parlamentares nesta cidade. Esses espaços se
apresentam com variadas formas de visibilidade e acessibilidade no tecido urbano. Quais são
as estratégias de atração, recepção e filtragem da população que passa por esses
estabelecimentos nas ruas, bairros e praças da cidade? Este trabalho buscará responder a
essas questões através da análise das imagens e dados gerados pela pesquisa etnográfica, em
diálogo com a produção teórica da antropologia urbana contemporânea.
Sobre o projeto
Este projeto faz parte da linha de pesquisa Política e cotidiano do Laboratório de Antropologia
Urbana (LAU/IFCS/UFRJ). O objetivo mais amplo desta pesquisa foi compreender práticas e
representações acerca da política por parte de diferentes atores sociais em contextos urbanos.
Como fim específico, investigamos, mapeamos e analisamos formas de conexão entre políticos
e população, especialmente com foco em Centros Sociais mantidos por parlamentares no Rio
de Janeiro. Como estratégia metodológica, realizamos 1) Georeferenciamento de dados
eleitorais; 2) Extensos levantamentos qualitativos acerca das práticas de representação de
parlamentares do Rio de Janeiro (capital) no período; 3) Estudos de caso etnográficos com
grupos políticos selecionados; e 4) Exaustivo levantamento de material de imprensa sobre o
tema no período. Como conclusão, propusemos que: 1) Os Centros Sociais devem ser vistos
como um sintoma (e não causa) das fortes relações de dependência que seus patronos
políticos mantém em relação aos financiadores (lícitos e ilícitos) de suas trajetórias
parlamentares; 2) Os Centros Sociais têm impacto sobre, pelo menos, cerca de 500 mil pessoas
anualmente na cidade do Rio de Janeiro, operando como espaço de socialização e de acesso a
cursos, bens e serviços diversos, sendo vistos positivamente pela maior parte da população
usuária; 3) Os Centros Sociais e os agentes neles envolvidos operam com valores de matrizes
ambíguas, ora partindo dos códigos de representação democrática, ora daqueles do universo
das relações pessoais clientelísticas. Como resultados, em forma de material de pesquisa, o
projeto produziu até o momento: 1) Pesquisa etnográfica resultando em cerca de 400 páginas
de diários de campo; 2) 638 imagens fotográficas e 158 cartogramas de comportamento
eleitoral; 3) Digitalização e análise de 170 reportagens de imprensa sobre o tema do projeto;
bem como, 4) Cerca de 15 extensas tabelas analíticas de material qualitativo.
Os Centros Sociais na Cidade do Rio de Janeiro
Como os políticos interagem com a população de uma grande cidade durante os seus
mandatos parlamentares? Como se dá a conexão política em espaços urbanos? A dinâmica da
própria cidade e do espaço urbano afeta essa conexão? O trabalho procura responder essas
questões a partir do estudo de caso do Rio de Janeiro, com pesquisa realizada a partir dos
espaços de assistência mantidos por vereadores, deputados estaduais e federais.
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A variável da distribuição geográfica dos votos do parlamentar mostrou-se
efetivamente significativa na explicação dos Centros Sociais. Dos 61 Centros identificados na
primeira amostra, 60 encontram-se nas Zonas Norte (e subúrbio) e Zona Oeste da cidade;
enquanto somente um localizava-se na Zona Sul, conforme demonstra o mapa da cidade do
Rio de Janeiro abaixo, onde cada ponto colorido corresponde a um Centro Social, segundo a
seguinte legenda:
 Zona Oeste  Zona Norte e Subúrbio  Zona Sul
LAU – Laboratório de Antropologia Urbana
De forma muito sintética, os atendimentos realizados pelos Centros Sociais podem ser
divididos em cinco categorias principais: Atendimentos médicos, Cursos, Atividades físicas,
Atividades alternativas e Atendimento jurídico e assistência social. Calculamos que os 61
Centros levantados na primeira amostra realizam em média 500 mil atendimentos ao ano,
podendo haver variações entre 30 mil atendimentos/ano num centro e menos de 1/3 disso em
outro.
Conexões filtradas, visibilidades e acessos – o foco desta apresentação
O foco desta apresentação será investigar como esses espaços se apresentam nas ruas
e bairros da cidade: como estabelecem suas estratégias de visibilidades e acessos à
população? Que tipo de filtros se interpõe entre esses espaços de assistência e a cidade que os
circunda? Buscamos analisar vários aspectos dos Centros Sociais a partir desses três recortes
analíticos: visibilidade, formas de acesso aos serviços oferecidos e os “filtros de conexão” entre
os espaços externos e internos dos estabelecimentos.
Analisaremos as formas externas das unidades físicas estudadas, suas escolhas de
“apresentação de si” em termos de fachada, acessibilidade à rua, uso de cores, símbolos,
emblemas, slogans e outros recursos gráficos e morfológicos. Da mesma forma, serão
analisadas as características internas desses espaços. Apresentaremos ainda as modalidades
de recepção do público, nas variadas interações com funcionários, freqüentadores e outros
personagens desses estabelecimentos, bem como os rituais de passagem, em diferentes
espaços e escalas temporais, que envolvem trocas de bens e informações diversas, e que
demarcam a passagem do público-em-geral para público-usuário dos serviços.
A partir dessas análises, buscaremos apresentar uma “gramática dos centros sociais”,
com seu universo de palavras e recursos que buscam mobilizar valores e práticas sociais.
Mostraremos que há quatro palavras-chave – comunidade, família, cidadania e trabalho – que
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operam como âncoras das narrativas acionadas por esses estabelecimentos. Tais palavras se
prestam a uma ampla possibilidade de interpretações, aparecendo associadas a imagens,
nomes e frases que lhes dão dimensões e características singulares. Espalham-se pela cidade
tanto como demarcações visuais da “presença” dos políticos em determinada área geográfica,
quanto pela presença em fachadas, imagens e documentos que fazem parte das unidades de
assistência em si mesmas.
Contribuição para o GT Dimensões do urbano: tempos e escalas em composição
Buscamos contribuir para a temática deste Grupo de Trabalho apresentando dados
etnográficos que permitem pensar comparativamente diferentes espaços da cidade levando
em conta as interações cotidianas de seus habitantes em diferentes papéis. Ao refletir sobre as
dimensões de hierarquia, troca e poder envolvidas nessas interações, podemos também
afirmar que a população usufrui de forma bastante diferenciada das complexas características
da cidade em que vive.
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