Resenha de Teologia e Gênero

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INSTITUTO SÃO PAULO DE ESTUDOS SUPERIORES – ITESP
CONGREGAÇÃO DA IMACULADA CONCEIÇÃO – CIC
CELSO DE OLIVEIRA ROSA
SÍNTESE DE “TEOLOGIA FEMINISTA:
METODOLOGIA, FONTES E NORMAS”
São Paulo
2010
INSTITUTO SÃO PAULO DE ESTUDOS SUPERIORES – ITESP
CONGREGAÇÃO DA IMACULADA CONCEIÇÃO – CIC
CELSO DE OLIVEIRA ROSA
SÍNTESE DE “TEOLOGIA FEMINISTA:
METODOLOGIA, FONTES E NORMAS”
“SEXISMO E RELIGIÃO”
(ROSEMARY REDFORT RUETHER)
Trabalho de aproveitamento parcial da
disciplina Teologia e Gênero do Curso
Especial de Teologia, sob orientação da
professora Haidi Jarschel
São Paulo
2010
Sumário
Introdução .......................................................................................................................... 4
Síntese ................................................................................................................................. 5
Conclusão ......................................................................................................................... 11
Bibliografia ....................................................................................................................... 12
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Introdução
O presente trabalho têm como proposta a síntese do capítulo 1 da Obra “Sexismo e
Religião” de Rosemary Ruether. A metodologia contempla aspectos principais do tratado,
atendo em desenvolvê-los de maneira sistemática.
A proposta da autora em defender pressupostos de uma autêntica Teologia
Feminista passa em constatar a presença de importantes elementos em diversas tradições
judaicas, pagãs, cristãs e não cristãs e por fim nas escolas filosóficas contemporâneas. Por
tudo isto, a obra se reveste de uma caráter bastante científico e técnico, o que faz da leitura
um exercício reflexivo e dialético. Esta leitura permite a construção de importantes
premissas para abordagem da questão feminista nos diversos âmbitos que se manifesta a
experiência humana. Dentro desta experiência há um todo a ser delineado, em que a
presença feminina na pode ser esquecida. É na busca destes pequenos elementos
esquecidos nas diversas tradições que serão mencionadas, que a autora recolhe subsídios
para a elaboração de sua teologia feminista.
Uma chave para a leitura das próximas páginas está a crítica de elementos pré
estruturados e abertura para uma nova compreensão de elementos propostos pelas chamada
teologias de libertação para um diálogo com a Teologia Clássica e ortodoxa.
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Síntese
Uma possível justificativa para o desenvolvimento discursivo da chamada
“Teologia Feminista” seria de colocá-la frontalmente dentro da experiência humana, sendo
esta condição de partida e chegada no círculo hermenêutico. Toda experiência humana
codificada em Escritura e Tradição são fontes objetivas da verdade teológica. Sob este
ponto de vista, as chamadas teologias da libertação não se distanciaria destas fontes
objetivas, por serem também expressão da mais genuína experiência humana.
Esta experiência humana é manifesta através do divino, de si mesmo e para com a
comunidade. Os símbolos e ritos que manifestam esta experiência só podem ser
considerados portadores autênticos quando são capazes de iluminar e revelar a experiência
humana. Assim os sistemas de autoridade invertem esta relação, colocando o símbolo em
desconexão à experiência.
Neste sentido a experiência feminina nestes códigos foi quase totalmente excluída,
colocando a experiência masculina como fonte universal de conhecimento teológico.
Na experiência religiosa dos povos antigos uma premissa deve ser considerada
como reveladora: a manifestação da experiência religiosa se dá através do coletivo, onde
mais tarde o indivíduo será denominado como Profeta, Mestre e outros títulos que denotem
uma certa consciência que se manifesta no individual.
Mas esta experiência deve ser ratificada na experiência comunitária através do
símbolo e do rito que são assumidos coletivamente. Na religião judaica há uma
reinterpretação de símbolos das religiões Cananéia e do Oriente Próximo, como também
aconteceu com o Cristianismo que faz uma leitura de Jesus a partir de elementos judaicos e
helenísticos. Estes elementos atualizados tendem a falar de maneira nova e inesperada as
necessidades experienciais que os velhos modelos já não comportavam.
É claro que a comunidade tende a ser representada por uma autoridade competente
em interpretar e traduzir uma experiência coletiva, através de um cânone. Aqui se define
uma interpretação correta de uma herética ou secundária, o que desencadeia num processo
de exclusão de outro ramos da comunidade que não são considerados credíveis mediante a
ortodoxa interpretação da Escritura. Mas também a interpretação considerada “autêntica” é
capaz de fornecer elementos que permitam a contemplação de outros aspectos da
comunidade primitiva. Naquele que ensina, existe alguém que experimenta eventos
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pessoais, e isto permeia o seu ensinamento. Os códigos expressos na Tradição deverão, em
suma, atingir pessoas simples e comuns, que selecionarão aquilo que se ajusta as suas
vidas.
Uma tradição permanece viva, enquanto seus elementos podem ser reproduzidos de
gerações após gerações. Exemplos desta vitalidade de elementos da Tradição está no
êxodo- páscoa para os judeus e na morte-ressurreição de Cristo para os cristãos.
Mas também uma Tradição pode sofrer uma crise e ser desacreditada por uma
minoria crescente, isto se dá especialmente quando os reprodutores desta Tradição não
estão mais a serviço da verdade objetiva que promova os atuais sentidos da justiça, mas
reproduza padrões antigos em vista de seu interesse próprio. Algumas alavancas para
compreensão do fenômeno contemporâneo poderia ser a crítica marxista da religião. Que
considera a religião, não sob os moldes de redenção, mas de subjugação. Através das
Tradições religiosas constituídas por grupos dominantes é possível verificar aquilo que é
verdadeiro e significativo nas tradições suprimidas. Neste relance para o passado estaria
uma possibilidade de encontrar aquela verdade que é mais básica que a falsidade e a
distorção promovida ao longo da história. Este alicerce promoveria uma discussão em que
o foco não estaria simplesmente em criticar a tradição dominante, mas tocando num
elemento que revele o Ser autêntico.
Na base da Teologia Feminista está a defesa de uma postura que tenda a criticar
aqueles grupos dominantes em detrimento a exclusão de outros grupos sociais e raças.
Tomando como premissa, a própria causa de sua marginalização, as mulheres vêem a
imago/ Dei associada ao homem e o pecado original vinculado a elas. Estas vinculações se
baseiam no sexismo.
As mulheres não aspiram a imago/ Dei para que os homens sejam marginalizados e
discriminados, aspiram a inclusão de ambos os sexos como a inclusão de todos os grupos
sociais e raças. Neste sentido a Teologia Feminista levantará a sua crítica contra todas as
posturas que valorizam determinado grupo em detrimento ou subjugação de outros, como
por exemplo: o androcentrismo- os homens como norma da humanidade; o chauvinismoque faz dos ocidentais brancos como normas da humanidade, até atingir a questão
ecológica que contraria uma posição teológica em que a humanidade é a coroa da criação,
o humanocentrismo.
Há neste tratado a busca de um paradigma particular que não contempla muitas
outras tradições culturais- religiosas, mas aborda a questão sob um determinado prisma de
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amostragem de uma experiência visando promover o diálogo. Dentro desta tendência não
há um privilégio desta tradição em relação a outra ou mesmo um “exclusivismo”, mas uma
tônica particular que seria tão similar se outras tradições fossem abordadas.
Esclarecida esta abordagem, podemos elencar fontes de tradições que remontam a
um possível fundamento para a Teologia Feminista, a saber:
1. da Escritura, tanto hebraica, como cristã, do Antigo e do Novo Testamento;
2. de Tradições marginalizadas ou heréticas: gnosticismo, montanismo,
quacrismo, shakerismo;
3. da Teologia Cristã clássica;
4. da religião e filosofia não- cristãs do Oriente Próximo e do ambiente Grecoromano; e
5. de cosmovisões pós- cristãs como o liberalismo, romantismo e o marxismo.
Dentro de todas essas tradições está o princípio sexista, que distorcem –as. O que se
pretende é fazer uma releitura de todas estas tradições sob a hermenêutica Feminista,
procurando nelas importantes chaves que foram extraídas ou até perdidas e estabelecer
relações de desigualdade entre dominantes e dominados.
Contemplar a tradição profético- libertadora da Escritura é averiguar que o
Patriarcado e a dominação masculina, presente em alguns trechos da Bíblia não podem ser
aceitos assim como se rejeita aquelas normas do Antigo Israel que justifica a escravidão e a
hostilidade aos estrangeiros.
É dentro desta óptica que a hermenêutica Feminista não se opõe ao caráter
inspirador da Bíblia, mas procura sublinhar que as mulheres se encontram entre aquelas
pessoas oprimidas que Deus quer defender e libertar, a crítica de sistemas de dominação,
como o patriarcado, a esperança de uma era de igualdade e a crítica à ideologia que é
religiosa.
Uma leitura atenta do Antigo Testamento revelará este eixo no qual Deus vêm em
socorro dos pobres e oprimidos. Este eco continua na pregação de Jesus e na carta de São
Paulo aos Gálatas admite uma nova ordem social onde as divisões humanas seriam
superadas. Isto tudo demonstra uma ambivalência da Escritura em relação a ordem social
que se impunha na época. Uma proposta escatológica de rompimento com estruturas onde
impera dominação e injustiças.
Esta crítica se estende para dentro da própria religião, quando o culto e a própria fé
bíblica são instrumentalizados em função da disseminação da dominação injusta. Isto fica
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bem claro no trecho de Amós 5.21, 23-24, onde o Senhor diz desprezar solenes liturgias. E
alcança o seu ponto culminante no Novo Testamento quando Jesus assume esta
contestação a sistemas injustos e pretende purificar o templo. Em suma o Ministério de
Jesus irá bater frontalmente nas elites dominantes de Israel, como escribas e fariseus.
Contudo, aquilo que é chamado a profecia em tempos de perseguição pode assumir
uma conotação diferente, principalmente quando o cristianismo deixa de ser perseguido e
passa a ser a religião oficial do Império, o contexto de serviçalidade é radicalmente
invertido em função daquelas pessoas que representaria Deus na terra.
Esta mentalidade de dominação foi duramente rejeitada por Jesus que se configura
ao Servo Sofredor e se coloca na última ceia como o escravo que lava os pés do seu
senhor. Fica claro a rejeição por parte de Jesus da religião como meio de santificar
hierarquias ou ainda de vingança contra os antigos inimigos como se esboça no Antigo
Testamento. Por fim, Jesus quer estabelecer um novo modo de relacionamento que elimine
a dominação de uns, mesmo daqueles que já foram dominados, em detrimento de outros
grupos.
Na perspectiva do Reino de Jesus, as pessoas não mais modelarão relacionamentos
com Deus, de acordo com o tipo de poder que reduz a outras à servilidade. A tônica do
poder é eliminada em função do serviço e do relacionamento inclusivo.
No fundo a Teologia Feminista e as demais teologias de Libertação querem revelar
que dentro da Escritura há um princípio de conteúdo profético- libertador que foi oculto na
interpretação hermenêutica da Bíblia, e que são praticados nas comunidades eclesiais de
Base da América Latina hoje em dia.
Numa análise bem abrangente, vemos uma expectativa em denunciar uma opressão
que se alarga há muitas classes, mas especialmente as mulheres daqueles que são
oprimidos recebem duplamente esta corrente. Isto pode ser fundamentado tanto no Antigo
Testamento, quando os ruralistas eram oprimidos pelo sistema das cidades Império, mas
eles próprios dominavam suas mulheres no âmbito familiar, e também na ausência de
operacionalização dos princípios paulinos de igualdade perante a realidade batismal.
Na história da Igreja podemos verificar a condenação de algumas heresia, que
segundo a autora, exatamente nestas heresias estariam elementos que sustentavam a visão
igualitária proposta no Novo Testamento, mas que foi rompida pela Igreja Patriarcal. Das
heresias apontadas, vemos o montanismo, que as mulheres teriam uma participação
igualitária no ministério ordinário; o gnosticismo, que combinava princípios masculinos e
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femininos. Em tudo isto há uma busca daquele cristianismo igualitário e contracultural que
se opõe a Igreja Patriarcal e hierárquica. Não obstante, também os quacres sustentavam a
igualdade entre mulheres e homens na imago Dei e na ordem original da criação,
limitavam- se porém ao âmbito eclesial e não para a sociedade em geral.
Mas mesmo o cristianismo alternativo proposto pelas correntes heréticas não
forneceriam visão integral buscada pela Teologia Feminista, aspectos importantes ficam
vagos tanto no cristianismo ortodoxo como no herético.
Acentua que ficou muito presente nas categorias da Teologia Clássica o caráter do
androcentrismo, isto fez com que a mulher sempre ficasse marginalizada e reduzida
sempre aos imperativos que as caracterizasse na fragilidade e no pecado. Essas categorias
corrigidas pela crítica feminista podem fornecer importantes e novos elementos.
O conceito de queda, do sexismo que revelam alienação e submissão podem ser
aplicáveis a condição da humanidade, o que não favoreceria as estruturas de dominação e
subordinações injustas.
É preciso também debruçar-se sobre as origens e costumes de outras tradições
religiosas rejeitadas pelo judaísmo e pelo cristianismo, mas que foram assumidos de
maneira velada, alguns elementos nelas encontráveis. Estes elementos, em parte,
fundamentaria a ideologia patriarcal, como por exemplo a filosofia grega.
A autora critica o paralelo entre as religiões bíblicas que sustentam o patriarcado e
as religiões provindas do paganismo que se baseiam no matriarcado antigo, porque o
padrão do pensamento atribuído as religiões pagãs não se encontra de fato nas religiões do
antigo Oriente Próximo, e a inversão do dualismo da consciência ocidental proposta pelo
romantismo só oferece parte da solução do problema.
Saindo para concepções filosóficas pós modernas, a autora tentará traçar elementos
importantes de leitura feminista sob o Liberalismo, o Romantismo e o Marxismo.
O liberalismo tem como primazia a igualdade, contudo rejeita ao igualitarismo
econômico que ameace a propriedade privada, isto é visível na filosofia iluminista de John
Locke que defende como direitos básicos a vida, a propriedade e a liberdade; o
desenvolvimento mundial estaria atrelado às Instituições.
O romantismo é uma resposta contra as ciências empíricas e racionais, como
motivos da alienação humana.
Já o Socialismo compreende várias escolas, desde aquelas que vai em consonância
ao liberalismo, justificando o progresso através da ciência e tecnologia, mas critica o
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controle desses meios pelas classes dominantes. Enfim, é preciso haver uma derrubada
deste sistema em favor da vasta maioria. A crítica do marxismo atingirá a religião, vendo
nesta uma forma de dominação em vista da ideologia compensatória de humildade e
submissão, ultimamente critica o sistema de alienação e ópio proposta pela religião às
massas. Aqui se encaixa o diálogo entre o Marxismo e as Teologias de Libertação: a
denúncia de ideologias opressoras e a “paz perene” na terra, diga-se de passagem,
“totalmente utópica”.
Enfim o feminismo liberal do século XIX é aquela vertente que mais têm oferecido
avanços ao nível social para as mulheres, como os direitos a cidadania, ao voto, a
propriedade e acesso a cargos políticos, procurando devolver a mulher aquela igualdade ao
homem, no âmbito sociológico.
O feminismo marxista critica esta vertente por não ver a solução da questão na
igualação das mulheres através dos mesmos direitos do homem, que desemboca justamente
na questão trabalhista, em que as mulheres serão duplamente exploradas: no mercado de
trabalho e no lar.
Já o feminismo romântico celebra a identidade da mulher, suprimida pela
racionalidade alienada. Mas todas estas leituras teóricas filosóficas, se não bem
posicionadas, levarão a outros dilaceramentos sociais, tão graves e dolorosos quanto a
discriminação e marginalização das mulheres. O Liberalismo deformado é ideologia do
capitalismo burguês; o marxismo se converteria em comunismo e o romantismo em
fascismo.
A teologia feminista propõe portanto, uma nova síntese destas concepções
filosóficas.
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Conclusão
Analisar o debate que envolve a questão feminista é defrontar-se com vários
limites.
O primeiro dele é a questão hierárquica da Igreja, que visivelmente é masculina.
Como romper com este paradigma? Todo o movimento feminista têm-se mobilizado em
avançar nesta questão, mas objetivamente, muito pouco se avançou. Assim todos os outros
limites que poderia elencar aqui, já ficam restringidos e suprimidos a este primeiro.
O discurso oficial da Igreja não vai deter-se em análises que se voltam contra sua
própria estrutura. A formação seminarística, que é masculina, também não têm interesse
nenhum, que seus futuros pastores tenham esta visão “eclética” do fenômeno.
Por outro lado, o próprio movimento feminista, torna a discussão mais difícil e
emblemática no nível intelectual e prático, já que introduz elementos tão estranhos na
“cosmovisão ortodoxa” da Hierarquia, um pequeno exemplo é o acento no marxismo.
Percebemos que os extremos na questão, tanto por parte da Hierarquia como por parte do
Movimento Feminista tornam os desdobramentos da questão ainda mais indissolúveis,
concorrendo mesmo para um quase total silenciamento da causa em virtude do
espiritualismo neo pentecostal que se instalou na Igreja nas últimas décadas.
Assim, por mais um capítulo da história, as mulheres terão de esperar para que suas
justas reivindicações sejam ouvidas e atendidas, com um detalhe muito peculiar: a elas está
sendo dado gradualmente o direito de falar e protestar, exemplo disto é termos aulas num
Instituto Católico desta disciplina “Teologia e Gênero”, mas infelizmente a maneira radical
e estereotipada em marxismos e outros “ismos” que fazem, levam o seu discurso ao
descrédito ou as mesmas categorias metafísicas “do paraíso terrestre” sonhado pelo
marxismo, mas que jamais se realizará, porque o Reino de Jesus não é deste mundo
terreno.
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Bibliografia
RUETHER, Rosemary Redfort. Sexismo e Religião. Capítulo 1: “Teologia Feminista:
metodologia, fontes e normas”, Ed. Sinodal, 1993.
BÍBLIA SAGRADA- Edição Pastoral, Ed. Paulus
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