A Psychopolitical Approach of Prejudice against

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Carmona, A. M. Uma abordagem psicopolítica sobre o preconceito contra homossexuais
Uma Abordagem Psicopolítica sobre o Preconceito contra
Homossexuais
A Psychopolitical Approach of Prejudice against
Homossexuals
Andréa Moreira Carmona1
RESENHA DO LIVRO: PRADO, M. A. M.; MACHADO, F. V. Preconceito contra homossexualidades: a hierarquia da
invisibilidade. São Paulo: Cortez, 2008.
O
livro
Preconceito
contra
homossexualidades: a hierarquia da invisibilidade
compõe a Coleção Preconceitos que trata da luta
pelos direitos humanos de minorias frente aos
antagonismos sociais e a negação da equivalência
dos direitos.
Essa obra é mais um instrumento para os
avanços no conhecimento e na politização sobre o
tema do preconceito. Nessa edição, o foco do
debate se concentra no preconceito contra
homossexuais, que compõe um dos grupos sociais
mais violados em seus direitos pela cultura
heteronormativa e sexista. A iniciativa dos autores,
ambos psicólogos sociais e pesquisadores, de ir
além dos aspectos psicológicos envolvidos no
fenômeno trabalhado, representam um convite à
reflexão sobre o papel da sociedade na
manutenção ou rompimento com a construção
social da subalternidade nas relações de poder.
A partir das referências de pesquisas já
realizadas, Prado e Machado nos interpelam a um
debate político que torna essa produção ainda mais
valorosa por certo caráter de pioneirismo na
discussão sobre a homofobia no entrelaçamento do
âmbito individual/privado e social/ público. Os
autores esclarecem que, do ponto de vista
psicológico, romper com a homofobia assimilada
requer ultrapassar os valores hegemônicos
introjetados, o que impede que a experiência
homossexual seja vivenciada com legitimidade.
Para isso é necessário uma mudança de posição
frente à história subjetiva e social, pois tais valores
morais constituem as identidades individuais e
coletivas. Do ponto de vista social, a homofobia
impossibilita o processo dos indivíduos se
assumirem ou mesmo deslegitima a consolidação
de uma identidade emancipada, conduzindo às
formas violentas de manifestação do preconceito.
Por um lado, o preconceito, e sua
consolidação na homofobia, poderá conduzir a
opressão e ao sofrimento físico e psíquico do
sujeito frente à lógica das inferiorizações
sociais. Por outro lado, tal fenômeno também
poderá
conduzir
à
subordinação
de
determinados grupos sociais frente à
hierarquização das sexualidades e orientações
sexuais. Não é um fenômeno de exclusão social
simples, mas “(...) um processo perverso de
subalternidade que inclui restritivamente e de
forma estigmatizada os grupos inferiorizados
nos processos sociais” (p. 71). Daí a
importância das ações políticas para o
enfrentamento das desigualdades sociais que
mantêm legitimidade ao preconceito.
O livro se apresenta em seis capítulos
didaticamente divididos entre a exposição
teórica, conceitual e histórica do tema, a
problematização,
exemplificação
e
um
fechamento que instiga o leitor a novas
possibilidades de pesquisas e informações.
Essas argumentações são balizadas pelo recurso
de um estudo crítico confrontado com o
cotidiano das práticas militantes compartilhadas
e/ou estudadas pelos autores ao longo de suas
trajetórias na área.
Conforme é trabalhado pelos pesquisadores,
a lógica de inferiorização e opressão do grupo
LGBT está calcada na lógica de hierarquização
1
Psicóloga, Mestre em Psicologia Social pela UFMG, Professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Minas e Coordenadora de Direitos Humanos da PBH. Contato: [email protected]
Pesquisas e Práticas Psicossociais 3(1), São João del-Rei, Ag. 2008
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Carmona, A. M. Uma abordagem psicopolítica sobre o preconceito contra homossexuais
desencadeada por discursos e “valores
hegemônicos
que
contribuirá
para
o
posicionamento dos sujeitos homossexuais em
lugares de subalternidades, ainda que estes
lugares estejam disfarçados muitas vezes pela
lógica da excentricidade e pelo preconceito”
(p.11).
Reconhecer os limites tênues e as tensões
entre o espaço público e privado, bem como a
regulação e redução das orientações sexuais e
das pluralidades identitárias sexuais frente à
diversidade humana, é um processo político
importante
na
ampliação
do
campo
democrático. Ao resgatar os equívocos do
discurso hegemônico – religioso, científico
(médico, jurídico, universitário, etc) e moral –
os autores discutem a naturalização do
preconceito e a hierarquia da invisibilidade.
É elucidado o preconceito como um
mecanismo psicossocial de simplificação da
complexidade que se apresenta na relação do
sujeito com o outro, já que a emergência das
diferenças ameaça a soberania identitária
hegemônica. Dessa forma, o preconceito se
apresenta como uma estratégia de invisibilidade
das identidades subalternas para a manutenção
de posições hierarquicamente superiores. Por
esse motivo, a luta dos movimentos sociais
LGBT pela visibilidade política é uma forma de
denúncia e rompimento com as desigualdades
sociais que estão silenciadas na sociedade.
Na sua problematização, o estudo aponta
dois mecanismos psicopolíticos para o
enfrentamento
do
preconceito
contra
homossexuais: a desconstrução/ressignificação,
que sugere, principalmente, uma estratégia
individual e a construção do discurso e da ação
pública, que incide, prioritariamente, por uma
estratégia coletiva. Os autores ressaltam que
“ambos os mecanismos envolvem as formas de
organização de grupos de homossexuais e sua
coletivização, hierarquização e formas de
pertença, mas também uma dinâmica da
participação social” (p.80). Com esse indicativo,
o estudo caminha para a conclusão trazendo a
experiência pública dos movimentos sociais,
principalmente por meio das Paradas LGBT –
como maior manifestação política de
visibilidade. Nessa parte, é catalogada uma lista
de publicações e organizações do movimento
homófilo. E com um insight criativo “Para
continuidades...” do estudo, o leitor é instigado
a aceitar o convite “Para continuar lendo...”,
“Para continuar assistindo...”, Para continuar
interagindo...”, “Para continuar militando” e
“Para continuar escrevendo e pesquisando...”.
É necessário que haja a disponibilidade
para a interpelação aos/pelos outros,
reconhecendo a co-responsabilidade de
todos na sociedade. “Essa discussão sobre a
politização em torno das sexualidades
interpela um projeto coletivo de sociedade”
(p. 16), a alteridade das relações e a
intersetorialidade das ações. Acreditamos
que as possibilidades para uma sociedade
emancipatória, com reconhecimento da livre
orientação sexual como direito humano, está
na promoção de mecanismos de prevenção
das violações de direitos e exercício de
cidadania,
acompanhados
de
uma
reconstrução efetiva das capacidades sociais
do Estado e da participação da sociedade
civil organizada na gestão pública.
Enfim, a qualidade técnica, política e
criativa que Prado e Machado tiveram na
construção desse livro, demonstra rigor
científico e leitura agradável, ampliando as
possibilidades de maior politização e
aplicabilidade do estudo. Com certeza, é um
instrumento útil e necessário para aqueles
que queiram aprofundar num estudo crítico
ou mesmo fortalecer argumentos para a luta
contra-hegemônica da “hierarquia da
invisibilidade”. Que possamos colher ótimos
frutos dessa pesquisa!
Categoria de Contribuição: Resenha
Recebido: 11/08/2008
Aceito: 30/08/2008
Pesquisas e Práticas Psicossociais 3(1), São João del-Rei, Ag. 2008
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