A INDÚSTRIA NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS: CANADÁ E JAPÃO Canadá e Japão só se industrializaram no fim do século XIX. Localizados em continentes diferentes, tiveram também trajetórias distintas. O Canadá, antiga colônia britânica, teve seu crescimento incentivado pelo capital e pela tecnologia dos Estados Unidos. O Japão, que durante séculos esteve fechado para o Ocidente, deve sua inserção na economia mundial à dinastia Meiji, no século XIX. Potência imperialista no Pacífico, o Japão conheceu a derrota na Segunda Guerra Mundial e perdeu seus domínios coloniais. Empenhado em sua reconstrução econômica após a guerra, o Japão chegou ao fim do século XX como a segunda potência mundial. A indústria no Canadá Além de ter o quarto IDH mais alto do mundo, o Canadá possui outros excelentes indicadores sociais. Antiga colônia britânica, o Canadá obteve sua independência política apenas em 1867, quando foi criada uma Confederação canadense e a Constituição do país foi escrita. Embora o Parlamento tenha ficado submetido ao governo britânico até 1931, o Canadá dirigiu seu próprio destino desde o fim do século XIX. Por esse motivo, sua industrialização iniciou-se mais tarde do que a dos Estados Unidos. Ingleses e franceses No passado, o território canadense foi ocupado por franceses e ingleses. Estes chegaram primeiro, quando o navegador John Cabot atingiu as costas do que é hoje o território canadense. No século XVI, os franceses estabeleceram-se na região da foz do rio São Lourenço, denominada Nova França por seu descobridor, Jacques Cartier. Nesta área foram fundadas mais tarde as cidades de Ouebec e Montreal (Ville Marie). Derrotados na guerra dos Sete Anos, os franceses entregaram a Nova França aos ingleses, conforme determinava o Tratado de Paris, assinado em 1763. Como resultado desse passado, o Canadá faz parte da Comunidade Britânica de Nações (Commonwealth). Possui duas línguas oficiais - o francês, falado na província de Ouebec, e o inglês, idioma da maior parte da população - e enfrenta o separatismo da região francófona. Politicamente está dividido em onze províncias, das quais Ontário e Ouebec são as mais importantes economicamente, e dois territórios (de Yukon e do Noroeste). Um extenso território e um clima hostil Localizado no norte da porção setentrional do continente americano e atravessado pelo círculo polar Ártico, o Canadá apresenta grande parte de sua extensão sob o domínio de climas extremamente frios. Apesar de ser o segundo país mais extenso do mundo, a maior parte do território canadense é de difícil ocupação por causa do clima. Sua população de aproximadamente 31,5 milhões de habitantes em 2003 concentra-se na faixa situada ao longo da fronteira com os Estados Unidos, onde as latitudes são mais baixas e o clima é temperado. A distribuição desigual da população aumenta a média da densidade demográfica do país (3,11 hab./km²) nessa região, enquanto no norte gelado há trechos em que essa taxa não chega a 1 hab./km². A riqueza natural A mesma natureza que dificulta a ocupação humana compensou o Canadá com uma grande quantidade de recursos minerais, quase todos encontrados no norte, onde faz mais frio. O país pode ser considerado uma "potência mineral", e está entre os grandes produtores ou possuidores de reservas minerais de zinco, urânio, titânio, níquel, cobre, chumbo, cobalto, minério de ferro, ouro, e de fontes de energia, como petróleo, carvão mineral e gás natural. Outro recurso natural fez do Canadá o primeiro produtor de papel e celulose: a taiga canadense, que alimenta também a importante indústria madeireira. Um apêndice dos Estados Unidos O antropólogo e escritor brasileiro Darcy Ribeiro (1922-1997) costumava definir a economia canadense como um "apêndice dos Estados Unidos". Com essa expressão, provavelmente referia-se ao fato de que o Canadá, além de representar a continuidade das características naturais de seu vizinho do sul, tem sua economia fortemente vinculada à economia norte-americana. Essa dependência começou após a Primeira Guerra Mundial, quando filiais de empresas alimentícias norte-americanas começaram a comprar os excedentes da produção agrícola canadense (trigo, soja, cevada), desenvolvida nas férteis planícies Centrais Canadenses, o que tornava essa área praticamente uma continuação das regiões agrícolas dos Estados Unidos. Hoje, essas planícies se caracterizam pela especialização em um único tipo de gênero agrícola, geralmente o trigo, e pela alta mecanização. A produção local é controlada por empresas alimentícias norte-americanas e exportada para os Estados Unidos. O processo de industrialização canadense A industrialização canadense consolidou-se após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A partir dos anos 1940, a grande diversidade mineral atraiu o capital e empresas dos Estados Unidos que ali se instalaram. A principal região industrial do país fica no vale do rio São Lourenço e na porção Sudeste, que faz fronteira com a região Nordeste dos Estados Unidos (a mais industrializada do mundo), onde se destacam as cidades de Toronto (província de Ontário) e Montreal (província de Quebec). As indústrias de alta tecnologia (General Electric e IBM), automobilística (GM, Ford e Chrysler), petrolífera (Exxon e Texaco), química (Du Pont), siderúrgica (Iron One Company), entre outras, são controladas por empresas norte-americanas. Mais de 70% da produção industrial canadense é exportada para os Estados Unidos e, a partir de 1994, com a assinatura do Acordo de Livre Comércio da América do Norte ou Nafta, ficou mais evidente a situação do Canadá como "apêndice dos Estados Unidos". A indústria no Japão O Japão só abriu sua economia para o Ocidente e para o mundo após o início da longa dinastia Meiji, que se estendeu de 1868 a 1912, e isso foi fundamental para que o país iniciasse seu processo de industrialização. Antes disso era um país agrário, de estruturas feudais, que mantinha seus portos fechados para o Ocidente. A era Meiji O período marcado pela abertura econômica do Japão para o Ocidente ficou conhecido pelo nome da dinastia que o governou. Os imperadores Meiji preocuparam-se com medidas que foram fundamentais para a industrialização e a modernização do país. Entre elas, podemos destacar: a criação de infra-estrutura, como ferrovias e portos; a instalação de indústrias de bens de produção; os grandes investimentos na educação do povo para obter mão-de-obra preparada para desenvolver uma nova atividade; os investimentos feitos na indústria pelos grupos familiares, os Zaibatsus, que se tornariam posteriormente grandes conglomerados; a adoção do xintoísmo, religião que fazia do imperador chefe sagrado do Estado, ajudou a incentivar o povo japonês ao culto à disciplina, que é uma das principais características dessa nação. O imperialismo japonês Com um território pequeno - o Japão é um arquipélago vulcânico - e pouco favorecido do ponto de vista mineral e energético, o país iniciou sua expansão imperialista na Ásia em parte para suprir essa deficiência. As principais áreas ocupadas pelos japoneses foram: Coréia e Taiwan (1895); Manchúria, no norte da China (1931), e Nordeste chinês (1937); Península da Indochina (1941); Ilhas do Pacífico, como Iwojima, Marianas, Carolinas, Palau (na Segunda Guerra). A reconstrução pós-guerra A participação e a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial custaram-lhe não só os territórios conquistados desde o século XIX, como a destruição da economia do país. Mesmo arrasado, após o fim do conflito em 1945, o Japão tornou-se a segunda potência econômica mundial. Como isso foi possível? Podemos explicar essa recuperação, chamada de "milagre japonês", por uma série de fatores que permitiram a reestruturação econômica do país: Os Estados Unidos investiram capital na reconstrução japonesa com medo da influência chinesa que adotara o regime socialista em 1949. A ajuda norte-americana recebeu o nome de Plano Colombo, que correspondeu ao que o Plano Marshall significou para a reconstrução dos países europeus. Mais uma vez o Japão investiu maciçamente na educação da população. Já existia tecnologia fabril desde a era Meiji, e a presença dessa mão-de-obra qualificada, numerosa e mais barata que a européia ou norte-americana, facilitou a reestruturação econômica e industrial do Japão. As indústrias bélicas (proibidas pelos Estados Unidos após a guerra da Coréia) transformaram-se em indústrias de alta tecnologia, como a de instrumentos ópticos e fotográficos. Essa desmilitarização foi benéfica porque canalizou capitais para outros setores. O governo privilegiou e incentivou as exportações de produtos industrializados. Os fatores culturais, isto é, as fortes tradições, como a obediência, a dedicação ao trabalho coletivo e a disciplina, também contribuíram para essa vertiginosa ascensão. No início dessa retomada, os trabalhadores guardaram seus salários e foi essa poupança interna que permitiu novos investimentos sociais e industriais direcionados pelo Estado, A segunda economia do mundo Esse conjunto de fatores permitiu a transformação de um país arrasado pela Segunda Guerra em um forte concorrente dos Estados Unidos e em um país de grande superávit comercial, pois sempre exportou mais do que importou. Lembre-se de que o território japonês é desprovido de recursos minerais, o que o torna um grande importador de quase todos os minerais que utiliza em sua diversifica da indústria e que depois exporta transformados em automóveis, máquinas, navios, eletrônicos, entre outros. Alguns ramos industriais do Japão ocupam a primeira posição mundial, como a indústria naval, a produção de aço (siderurgia) e de seda (têxtil). E está em segundo lugar na produção de automóveis, alimentos, metalurgia, máquinas elétricas, máquinas não elétricas (os Estados Unidos estão em primeiro lugar). Na produção têxtil, ocupa a terceira posição, colocando-se depois dos Estados Unidos e da Itália. Aproximadamente a metade da exportação mundial de eletroeletrônicos e eletrodomésticos é de origem japonesa, e mais da metade dos robôs estão instalados na indústria japonesa. A tecnologia dos robôs foi criada pelos Estados Unidos e aprimorada pelo Japão. Grandes grupos industriais, bancários e comerciais japoneses estão entre as maiores corporações mundiais, como os grupos Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo, Toyota Motor Company, Nippon Telegraph & Telephone, Nissan Motor, entre outros. O capital japonês foi o maior responsável pela transformação de nações asiáticas, como Cingapura, Coréia do Sul. Taiwan e Hong Kong, em plataformas de exportação, a partir da década de 1960. O litoral leste da ilha de Honshu concentra a maior parte da população e das indústrias e a maior megalópole mundial, formada pelas cidades de Tóquio, Yokohama, Nagoya e Osaka. A falta de espaço, pois aproximadamente 80% do país é montanhoso, tem provocado o aterro de partes do litoral, onde são construídos desde aeroportos (baía de Osaka) até indústrias; essas áreas são chamadas de pôlderes industriais. Atualmente, o Japão atravessa uma séria crise que preocupa a economia internacional. porque esse país é um grande investidor de capitais e um grande importador-exportador mundial. Essa crise começou após a profunda recessão da economia japonesa na década de 1990 e da concorrência dos produtos manufaturados da Coréia do Sul e dos demais Tigres Asiáticos. O aumento do desemprego estrutural (ocasionado pelos avanços tecnológicos), a crise no sistema bancário e o menor crescimento do PIB japonês foram as principais conseqüências desses problemas. Do ponto de vista político, o Japão tenta obter o apoio de outros países, entre eles o Brasil, para integrar o Conselho de Segurança da ONU, no caso de uma reforma da organização. Sobre o assunto, leia o texto da página seguinte. QUESTÕES PARA REFLEXÃO 1- Juntos, mas separados. A região Leste é a casa da maior parte dos canadenses, mas isso não significa que eles vivam juntos. Montreal e Toronto, ambas com mais de 3 milhões de pessoas, são exemplos disso: na primeira 70% dos moradores falam francês, enquanto na segunda só se fala inglês."Explique a questão política abordada no texto. 2- Explique a frase: "0 Canadá é um apêndice da economia americana". 3- O principal problema canadense não é de ordem econômica. Justifique. 4- Compare o Canadá com o Japão em extensão territorial e recursos naturais. 5- Caracterize a importância da era Meiji no Japão. 6- Aponte três fatores que permitiram a reconstrução econômica do Japão após a Segunda Guerra.