Brasil investe em pesquisa com células-tronco Edital prevê para o final de abril R$ 5 milhões para o financiamento de estudos em terapia celular, inclusive com a utilização de células-tronco embrionárias Elas representam uma chance para a descoberta de tratamentos para doenças incuráveis como mal de Parkinson, diabetes, lesões na medula e graves problemas no coração. As células-tronco embrionárias estão hoje no centro das atenções das pesquisas científicas do mundo. No Brasil, o dia 2 de março de 2005 representou o início para o processo de estudos com esse tipo de célula. Com a aprovação da Lei de Biossegurança no Congresso Nacional, foi autorizada a manipulação de embriões congelados há mais de três anos nas clínicas de fertilização, que não serão utilizados por não terem a capacidade de se desenvolverem em feto ou por serem excedentes. O Ministério da Saúde e o Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), anunciaram para o final de abril o lançamento de um edital no valor de R$ 5 milhões para financiar estudos com células-tronco. Esses valores poderão ser ampliados para R$ 8 milhões, dependendo de negociações entre os dois ministérios. Os recursos serão usados para custear as chamadas pesquisas em fase pré-clínica (estudos de bancada e experimentos com animais) e clínica (experimentos em seres humanos). O diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, diz que a publicação do edital já estava prevista antes da aprovação da Lei de Biossegurança, porém englobava apenas experimentos com células-tronco adultas e de cordão umbilical. Agora, os recursos também poderão ser usados para estudos com as embrionárias. Para distribuição dos recursos e escolha dos centros que receberão o financiamento, serão observados critérios regionais. No mínimo 30% dos recursos serão destinados a regiões menos desenvolvidas do país como Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com exceção do Distrito Federal. Aplicação terapêutica – Estima-se que existam cerca de 30 mil embriões congelados nas clínicas de fertilização assistida no Brasil. Para a realização de estudos com células-tronco embrionárias, a Lei de Biossegurança apresenta algumas restrições. Uma delas diz que os embriões só poderão ser usados por meio de doação, com o consentimento dos pais, e precisam estar congelados há mais de três anos. Não se permitirá o comércio desses embriões, nem sua produção e manipulação genética. Está vetada a clonagem humana. Os cientistas acreditam que mais do que uma aplicação terapêutica, a principal contribuição das células-tronco embrionárias será para o conhecimento do mecanismo de diferenciação celular, chamado de transdiferenciação. As células-tronco são capazes de se transformar nos mais variados tecidos do organismo. Além do embrião, elas encontram-se no organismo adulto e no sangue do cordão umbilical. As células-tronco embrionárias são as que possuem potencial para se transformar em qualquer outro tipo de célula do corpo humano. “O objetivo principal das pesquisas clínicas e pré-clínicas que vamos financiar é conhecer todo o processo, para podermos, nas etapas mais avançadas, ter um conhecimento maior sobre mecanismos de transdiferenciação”, explica Reinaldo Guimarães. O Ministério da Saúde pretende utilizar o potencial de transformação das células-tronco embrionárias para o tratamento de uma série de doenças e também para reconstituição de tecidos, de pele, de ossos e de dentes. País aposta na terapia celular para doenças cardíacas O Ministério da Saúde está investindo no maior estudo com células-tronco adultas para tratamento de doenças do coração já realizado no mundo. O objetivo é verificar a viabilidade da substituição dos tratamentos tradicionais de cardíacos pela terapia com células-tronco. Serão investidos R$ 13 milhões para a avaliação de 1,2 mil pacientes com problemas no coração. A pesquisa patrocinada pelo Ministério da Saúde envolverá grupos de portadores de quatro diferentes doenças: infarto agudo do miocárdio, doença isquêmica crônica do coração, cardiomiopatia dilatada e cardiopatia chagásica. Os 1,2 mil pacientes avaliados serão divididos em grupos, com 300 pessoas cada, de acordo com o tipo de doença. Em cada um dos grupos, a metade receberá o tratamento tradicional e a outra parte será submetida à terapia celular. Nesse caso, cada paciente receberá células-tronco de sua própria medula óssea. Os outros terão acesso ao tratamento tradicional, com os melhores recursos farmacológicos ou cirúrgicos disponíveis. Se for comprovada a efetividade do uso das células-tronco no tratamento de doenças cardíacas, isso pode significar uma redução de cerca R$ 37 milhões por mês nos gastos do Sistema Único de Saúde (SUS).