SOBRATI – SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA SHEILA DE MELO SILVA SONILDA SANTANA DE MELLO A IMPORTÂNCIA DA HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA VOLTADA AO TRINÔMIO PACIENTE,EQUIPE E FAMÍLIA. ORIENTADOR: Prof. Ms. Carlos Vitório de Oliveira BRASÍLIA-DF 2011 SOBRATI – SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA SHEILA DE MELO SILVA SONILDA SANTANA DE MELLO A IMPORTÂNCIA DA HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA VOLTADA AO TRINÔMIO PACIENTE,EQUIPE E FAMÍLIA. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à SOBRATI Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, sob orientação do Prof. Ms. Carlos Vitório de Oliveira como requisito parcial para a conclusão do Curso de Mestrado Profissionalizante em terapia Intensiva. BRASÍLIA-DF 2011 RESUMO A humanização em saúde visa proporcionar um tratamento global do indivíduo. Sendo esta definida como resgate do respeito à vida humana, considerando as circunstâncias sociais, éticas, educacionais, psíquicas e emocionais, presentes em todo o relacionamento. Este artigo busca refletir a importância da humanização da assistência de Enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva, tendo por objetivos principais favorecer uma reflexão sobre a importância da humanização da assistência de Enfermagem em UTI, especificamente pautada na análise crítica quanto à importância desta assistência humanizada, conduzindo a ações e estratégias que promovam a humanização otimizada desse ambiente. Discute ainda a relevância da interação entre o trinômio equipe/paciente/família, visando à qualidade da assistência e recuperação mais rápida do paciente. Para tanto optamos pela metodologia da pesquisa bibliográfica tendo como critério de seleção produção científica do período de junho de 1979 a dezembro de 2006. Sendo assim, utilizou-se como ferramentas artigos científicos, dissertações e livros para a fundamentação teórica e discussão do tema. Os achados foram agrupados em duas áreas: “Humanização da Assistência de Enfermagem na UTI” e “Relações Interpessoais Paciente-Família-Equipe”. Concluímos que a humanização da assistência de Enfermagem em UTI é um processo complexo envolvendo dificuldades e mudanças de posturas, gerando sentimentos diversos por quem os realiza. Entretanto, um investimento na formação humana dos profissionais, bem como o reconhecimento de suas limitações, propiciará uma assistência integral e mais humanizada, resultando em uma ação comprometida com o indivíduo e familiares com mais qualidade, viabilizando uma retroalimentação nos cuidados à saúde nas UTIs. PALAVRAS-CHAVE: Humanização, Unidade de Terapia Intensiva, Equipe de saúde/paciente/família. ABSTRACT The humanization in health seeks to provide a global treatment of an individual. This would be defined as rescue of respect to a human’s life, considering the social circumstances, ethnical, educational, psychical and emotional, present in the whole relationship. This article searches to reflect the importance of the humanization of the Nursing’s attendance in the Intensive Therapy Unit, specifically ruled in the critical analysis as to the importance of this humanized attendance, leading to actions and strategies that promote the optimized humanization of that … It still discusses the relevance of the interaction among the trinomial /patient/family, seeking the quality of the attendance and the patient's fastest recovery. Therefore, we opted for the methodology of the bibliographical research, having selected as the criterion the scientific production from June of 1979 to December of 2006. In this manner it was used as tools in scientific articles, dissertations and books for the theoretical foundation and theme’s discussion. The discoveries were contained in two areas: “Humanization of the Attendance of Nursing in ITU”, “Patient-Family-Support Team Interpersonal relationships”. We concluded that the humanization of the attendance of Nursing in ITU is a complex process, involving difficulties and changes of postures generating several feelings for whoever accomplishes them. However, an investment in the professional’s human formation, as well as the recognition of their limitations will propitiate an integral and more humanized care resulting in a committed action with the individual family for more quality care, making it possible for feedback in the care toward better health in the ITU. KEY-WORD: Humanization, Intensive Care Unit (ICU) Health Team/Patient/Family. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 06 2 OBJETIVOS.......................................................... 08 3 08 MATERIAL E MÉTODO................................................................................................ 4 DESCRIÇÃO........................................................................................................ 5 HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA...................................................................................... 6 RELAÇÕES INTERPESSOAIS PACIENTE,EQUIPE E FAMÍLIA................... 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. REFERÊNCIAS............................................................................................... 09 09 11 14 15 1. INTRODUÇÃO A Humanização consiste num processo reflexivo acerca de valores e princípios que norteiam a prática profissional de Enfermagem, pressupondo um tratamento e cuidado digno, solidário e acolhedor por parte dos profissionais de saúde, ao seu principal objeto de trabalho - o doente. Perceber o outro requer uma atitude profundamente humana. Reconhecer e promover a humanização, à luz de anseios éticos, demanda um esforço para rever, principalmente, atitudes e comportamentos dos profissionais envolvidos direta ou indiretamente na assistência ao paciente. Em virtude do acelerado processo técnico e científico no contexto da saúde, a dignidade da pessoa humana com freqüência, parece ser relegada a um segundo plano. A doença, muitas vezes, passou a ser o objeto do saber reconhecido cientificamente, desarticulada do ser que a abriga e na qual ela se desenvolve. Os profissionais da área de saúde parecem, gradativamente, desumanizar-se, favorecendo a desumanização da sua prática. A humanização encontra respaldo, na atual Constituição Federal, sobretudo, no artigo 1, inciso III que assinala sobre “a dignidade da pessoa humana” sendo um dos fundamentos do Estado Democrático do Direito. (Constituição da República Federativa do Brasil, 1988). Vale ressaltar, que o exercício profissional da Enfermagem baseia-se, sobretudo, pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem – CEPE, estes evidenciados pela caracterização de sistemas de valores, explicitação da moralidade de um grupo. Quanto aos valores da profissão de Enfermagem, o CEPE, no artigo 3, norteia a prática profissional para o respeito à vida, à dignidade, e aos direitos da pessoa humana, sem qualquer discriminação, estabelecendo assim a responsabilização pela promoção do ser humano nas múltiplas dimensões. (GELAIN, 1988). Nos últimos anos, precisamente entre as décadas de 50 a 80, a humanização é enfocada de modo circunscrito às relações interpessoais estabelecidas com o paciente, mostrando-se desarticulada das dimensões político-sociais do sistema de saúde. O modelo assistencial de saúde no país, até a década de 80, era centrado no atendimento curativo, individual e especializado, tendo como principal espaço para as ações de saúde – o hospital – que não se constituía como direito de todos, caracterizando uma prática meramente mecanicista, focada apenas na doença e não no ser/indivíduo biopsicossocial Diante deste contexto e, devido à importância do processo de humanização nos serviços hospitalares do país, á partir dos anos 80, precisamente a partir do movimento de Reforma Sanitária, começa a ser instaurado um novo projeto de saúde. Esse passa a valorizar a saúde como direito a todo cidadão a ser garantido pelo Estado, envolvendo os princípios que regem e permeiam o SUS – equidade, integralidade e participação social, visto que o Ministério da Saúde implanta e desenvolve o Programa Nacional de Humanização Assistência Hospitalar – PNHAH. Tal Programa caracteriza-se pelo conjunto de ações integradas com o intuito de modificar o padrão da assistência prestada ao usuário seja nas instituições hospitalares públicas ou filantrópicas (conveniadas ao SUS) do país, objetivando com isso à melhoria da qualidade e eficácia dos serviços prestados por tais instituições. Além disso, visa implementar o aprimoramento das relações entre profissionais de saúde e usuário, dos profissionais entre si e do hospital com a comunidade. Partindo do conceito de humanizar como busca incessante de se alcançar o equilíbrio físico, psíquico e espiritual do doente, é que se começa a desenvolver a temática desse estudo. Esse que visa uma retrospectiva do processo de humanização nas Unidades de Terapia Intensiva, ambiente considerado mórbido, frio e altamente tecnicista, em virtude dos adventos tecnológicos e estímulos emocionais nocivos, sobretudo, pelas questões relativas à morte, à dor, ao estresse, aos riscos de contaminação, infecção hospitalar, levando ao limiar entre viver e morrer evidenciado pelas intercorrências inesperadas, labilidade do estado clínico do paciente, podendo desencadear por parte da equipe, sentimentos diversos, levando desde a baixa autoestima profissional (falta de confiança em si próprio), bem como a insatisfação com o trabalho. Diante do exposto, tem-se como proposição principal neste estudo, favorecer uma reflexão sobre a importância da humanização na assistência de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva voltadas para o trinômio paciente/equipe de enfermagem/família. Especificamente, a pretensão é de uma análise pautada na criticidade quanto à importância da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva, conduzindo a ações e estratégias que promovam a humanização desse ambiente, de forma otimizada, além de discutir a relevância da interação entre o trinômio equipe/paciente/família com vista à qualidade da assistência e recuperação do paciente. Neste sentido, esta pesquisa buscará realizar uma retrospectiva do processo de humanização na Unidade de Terapia Intensiva, enfatizando os acontecimentos que marcaram as mudanças ocorridas no processo de valorização da humanização das práticas de saúde. 2- Objetivos Refletir sobre a importância da humanização na assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva; Discutir a relevância da interação entre o trinômio equipe/paciente/família com vistas à qualidade da assistência e recuperação do paciente. 3- Material e Método Estudo descritivo realizado através de revisão bibliográfica analítica e baseado em obras secundárias aborda o tema em questão publicado entre o período de 1979 a 2006 os quais funcionaram como alicerce conceitual. A coleta do material para pesquisa foi realizada em ambiente virtual, através da Biblioteca Virtual de Saúde ( BVS ), onde dissertações e artigos foram incluídos, nos resultados de busca, com os seguintes descritores: “ Humanização da assistência de Enfermagem em Unidades de terapia Intensiva, cuidado humanizado em Enfermagem em UTI”. Após a realização das fases da sistematização, percebeu-se que apenas as referências bibliográficas encontradas em literatura tradicional não eram o suficiente para nortearem o aspecto conceitual básico, visto que retrataram em nível de noções básicas quanto ao tratamento humanizado em Terapia Intensiva. Deste ponto em diante, buscou-se outras fontes (artigos científicos, dossiês, resenhas) em ambiente virtual com ênfase no objeto do estudo. 4-Descrição Humanizar é garantir condições dignas ao homem em meio a sua essência, respeitando, de forma integral e igualitária. A toda humanidade fornecendo uma série de benefícios, estes considerados essenciais à condição humana (Collet, 2003). 5 - Humanização da Assistência de Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva Desde os primórdios, o que diferencia o ser humano dos demais animais é seu corpo biológico e a forma como este é evolutivo por todas as relações sociais que o cercam. A linguagem torna possível a construção do saber, isto é, o homem passa a reconhecer/descobrir que tem capacidade de conviver com seus semelhantes, o que constitui sua identidade cultural, favorecendo seu potencial de transformar o meio, no qual está inserido, seja de forma benéfica ou destrutiva, como, por exemplo, transforma a doença em saúde ou vice-versa. Dessa maneira, o homem descobre seu potencial e acredita que toda a sabedoria pode ser transformada em conhecimento e que este pode responder a todas as questões envolvendo o campo humano e das relações interpessoais. Para Collet (2003, p. 190): humanizar é, ainda, garantir a palavra a sua dignidade ética, ou seja, o sofrimento humano, as percepções de dor ou de prazer no corpo para serem humanizados, é preciso ainda que esse sujeito ouça do outro palavras do seu reconhecimento. É pela linguagem que fazemos as descobertas de meios pessoais de comunicação com o outro. Nesse contexto, percebe-se do profissional de enfermagem que visa, sobretudo, tornar a assistência ao indivíduo criticamente doente, humanizada considerando-o como um ser biopsicosocioespiritual. O aspecto humano do cuidado de enfermagem, com certeza, é um dos mais difíceis de ser implementado. A rotina diária e complexa que envolve o ambiente da unidade de terapia intensiva (UTI) faz com que os membros da equipe de enfermagem, na maioria das vezes, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está a sua frente. Apesar do grande esforço que os enfermeiros possam estar realizando no sentido de humanizar o cuidado em UTI, esta é uma tarefa difícil, pois demanda atitudes às vezes individuais contra todo um sistema tecnológico dominante. A própria dinâmica de uma UTI não possibilita momentos de reflexão para que seu pessoal possa orientar melhor (ROSSI, 1988). Embora seja o local ideal para o atendimento a pacientes agudos graves superáveis, a UTI parece oferecer um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital. Os fatores agressivos não atingem apenas os pacientes, mas também a equipe multiprofissional, principalmente, a enfermagem que convive diariamente com cenas de pronto-atendimento, pacientes graves, isolamento, morte, entre outras (BERK, 1979). Por força dos efeitos negativos do ambiente sobre o paciente, a família e a equipe multiprofissional, devem adotar medidas que visem a necessidade de humanização dos serviços que utilizam alta tecnologia. O paciente internado na UTI necessita de cuidados de excelência, dirigidos não apenas para problemas fisiopatológicos, mas também para as questões psicossociais, ambientais e familiares que se tornam intimamente interligadas à doença física. A essência da enfermagem em cuidados intensivos não está nos ambientes ou nos equipamentos especiais, mas no processo de tomada de decisões baseado na sólida compreensão das condições fisiopsicológicas do paciente (CARNEIRO, 1982). É importante abordar a necessidade de humanização do cuidado de enfermagem na UTI, com a finalidade de provocar uma reflexão da equipe e, em especial, dos enfermeiros. Além de envolver o cuidado do paciente, a humanização, estende-se a todos aqueles que estão envolvidos no processo saúde-doença nesse contexto, que são, além do paciente, a família, a equipe multiprofissional e o ambiente. A humanização deve fazer parte da filosofia da enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir os pensamentos e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI. 6 - Relações Interpessoais Paciente-Equipe-Família O enfermeiro, na sua prática profissional, lida com pessoas em situações variadas. É um trabalho definido dentro das profissões de ajuda, com o objetivo de promover o crescimento pessoal, melhor funcionamento e ajustamento social da pessoa a ser ajudada (BENJAMIN, 1971; MUCHIELLI, 1978; DANIEL, 1983; RODRIGUES, 1986 apud LIMA, 1993). É importante que o enfermeiro questione como tem percebido este cuidar junto dos pacientes para que possa, se julgar necessário, repensar e refazer a sua prática na busca de um atendimento mais adequado e terapêutico. Carneiro (1982) revela que a comunicação desenvolvida entre enfermeiros e pacientes tem se caracterizado por mensagem curtas, breves e unilaterais, prevalecendo a verbal, do tipo oral, e desenvolvida assistematicamente, sendo pouco valorizadas as habilidades expressivas do enfermeiro como um meio terapêutico na promoção e recuperação do doente. Observa-se que a comunicação pode retornar uma fonte potencialmente geradora de tensão tanto para o paciente quanto para os enfermeiros. Ciosak & Sena (1983) fazem um alerta dos profissionais, que em UTI, de modo geral, ignoram a solidão e o nível de consciência do paciente, apresentando comportamentos inadequados e até mesmo brincadeira, por considerarem que determinados pacientes estão inconscientes, o que nem sempre corresponde à realidade. Acrescentam, ainda, que a equipe de enfermagem pode não estar preparada para estabelecer interação com o paciente, limitando-se, portanto, a cumprir as prescrições médicas. Os pacientes internados em UTI são na maioria das vezes, dependentes e sentem-se impotentes com a falta de autonomia e o controle de si mesmo. A pessoa internada em UTI fica cercada de pessoas ativas e ocupadas, o que frequentemente pode ser um coadjuvante para a instalação da ansiedade e sentimentos de isolamento. A doença grave e o medo de morrer também separam o paciente de sua família. O paciente na UTI precisa ser respeitado e atendido em suas necessidades e seus direitos humanos, a exemplo de: controle da dor, privacidade, individualidade, direito à informação, ser ouvido em suas queixas e angústias, cuidado ao seu pudor, atenção às suas crenças e espiritualidade e a presença da sua família. Entende-se como família a unidade social proximamente conectada ao paciente através do amor, podendo ou não ter laços legais ou de consangüinidade. Acredita-se que o paciente é um segmento da família e que esta é de vital importância para a recuperação do paciente, sendo necessário ofertar as reais necessidades dos familiares. (ALMEIDA, 1986) O núcleo familiar deve ser compreendido como uma unidade, um sistema que possui leis internas de funcionamento e organização. Quando um membro da família é hospitalizado ou fica doente, o equilíbrio e os papéis ocupados por cada um são afetados. A doença grave precipita a desestruturação familiar, e eclodem antigos conflitos que permaneciam latentes. As situações de crise vividas pelos familiares de pacientes internados em UTI podem ser exemplificadas pela desorganização das relações interpessoais em virtude do isolamento do paciente, de problemas financeiros e medo da perda da pessoa amada. Halm E Cls (1993), op.cit: AMIB (2004) demonstram que o nível de estresse na família é mais alto no momento da admissão, começando a se estabilizar no sexto dia e decaindo consideravelmente perto de vigésimo oitavo dia, esses achados sugerem que a interação com os familiares deva ocorrer na fase inicial da internação. Wallace-Barnhill (1989) op.cit: Amib (2004) revela que o tempo requerido para o ajustamento familiar após internamento em UTI é influenciado pelas seguintes características: 1. Idade e importância do paciente para a família; 2. Número de membros da família diretamente envolvidos; 3. Relações individuais dentro da família; 4. Quantidade de estresse interpessoal no momento da crise; 5. Estabilidade psicológica geral do sistema familiar. A família, frequentemente, sente-se desamparada e temerosa a beira do leito de um paciente gravemente enfermo. Os tubos, curativos, fios e aparelhos com os quais a equipe está tão acostumada, são amedrontadores para os familiares. Nesse momento, a equipe tem a oportunidade de oferecer, de forma peculiar, apoio à família e ao paciente, usando o toque para desenvolver um sentimento de confiança e apoio. O processo de atuar humanitário é uma excelente forma de reduzir a ansiedade da família e do paciente e de ajudá-los a sentirem-se mais a vontade em um ambiente estranho. É fundamental no processo de humanização entender a equipe de maneira interdisciplinar, atuando e potencializando as ações entre si, respeitando o potencial de cada um. Os profissionais de saúde que trabalham em UTI são confrontados diariamente com questões relativas à morte, o que pode ser relacionado às causas geradoras de estresses. Vários estudos de Chiatonne (1997) Noto (1984), Martins (1991), op.cit: AMIB (2004), assinalam a violenta gama de estímulos emocionais nocivos aos quais os profissionais de saúde estão intermitente expostos, entre eles: a atitude de lidar com a intimidade emocional e corporal do paciente; conviver com limitações técnicas, pessoais e materiais em contraponto ao alto grau de expectativas e cobranças lançadas sobre esse profissional pelos pacientes, familiares, instituição hospitalar e até mesmo pelo próprio profissional; a solicitação intermitente de decisões rápidas e precisas; a cruel e desumana tarefa de selecionar quem usa este ou aquele equipamento, pois o número de urgência é quase superior aos recursos , e conseqüentemente, à morte, diante do exposto, espera-se que as equipes estejam treinadas e experimentadas para lidar com essas situações. Pitta (1990) aponta que o sofrimento psíquico da equipe da UTI pode ser identificado pelas jornadas prolongadas e pelo ritmo acelerado de trabalho, a quase inexistência de pausas para descanso ao longo do dia, a intensa responsabilidade por cada tarefa a ser executada, com a pressão de ter uma vida nas mãos. As intercorrências inesperadas, como mudanças repentinas no estado clínico de um paciente que estava bem, aumentam a tensão e a ansiedade, essas situações geram inquietudes na equipe como um todo, fazendo-a avaliar as capacidades pessoais de conviver no ambiente da UTI. Esses sentimentos podem levar a frustração, raiva, depressão e falta de confiança em si próprio, diminuindo a satisfação com o trabalho. É importante que a equipe esteja aberta e colabore para o trabalho interativo, contribuindo para o saber interdisciplinar, facilitando sempre o processo comunicacional. O trabalho em equipe, como nos fala Campos (2005), além de acrescentar conhecimentos e dividir ansiedades, favorece o surgimento de soluções. Vale salientar que, o cuidado emocional é de responsabilidade de toda a equipe de saúde, que precisa estar em condições emocionais de trabalhar com os pacientes e seus familiares. Ser saudável é uma conquista que deve ser buscada não só para os pacientes, mas também, para a vida dos profissionais que atuam em UTI. É indispensável que, os profissionais que atuam em unidade de terapia intensiva, entendam a importância do processo da humanização, pois através deste estarão resgatando a dignidade do ser humano, muitas vezes abalada pela situação da internação. 7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS A humanização da assistência de Enfermagem é um processo longo, amplo e contínuo, visto que além de envolver dificuldades requer mudanças de posturas que quase sempre geram medos, inseguranças, sobretudo, resistências pelo fato de que ao longo da história da Enfermagem, compreendeu-se que, estes profissionais foram formados para uso meramente e exclusivo da técnica do cuidar. Contudo, nos atuais moldes da contemporaneidade, a humanização neste âmbito requer além de uma profunda reflexão, com base em valores e princípios éticos que resultem, sobretudo, na utilização dos conhecimentos científicos, uma postura que extrapole a relação técnica entre o trinômio equipe/paciente/família, exigindo-se dos profissionais de Enfermagem na assistência prestada em Unidades de Terapia Intensiva um processo humanizatório que viabilize a utilização da tecnologia, principalmente, a sensibilidade, o respeito ao outro (paciente), a sinergia entre o enfermeiro e toda a sua equipe, bem como a família se façam presentes no cuidado ao cliente por todos os envolvidos direta ou indiretamente. Todavia é de fundamental relevância, um investimento na formação humana dos sujeitos que compõem as instituições, além do reconhecimento, das limitações dos profissionais que atuam nas Unidades de Terapia Intensiva, haja vista apesar dos profissionais de Enfermagem reconhecerem a importância de se prestar uma assistência integral, ainda convivem em seu cotidiano de trabalho com inúmeras dificuldades para efetivar uma assistência humanizada. Sendo assim, faz-se mister que em uma UTI os pacientes possam ser entendidos em suas necessidades e em sua individualidade sob os cuidados humanos melhor qualificados e materiais necessários, adequados para um atendimento de qualidade. Ampliando o horizonte de possibilidades do paciente, deixando este, de ser limitado, no que concerne a priorização dos aspectos biológicos. O paciente deve ser entendido como um ser holístico, considerando que a humanização nos cuidados prestados sobreponha à técnica, assim favorecendo a uma mudança do modelo assistencial centrado apenas nos sintomas. Por fim, uma formação mais humana possibilitará uma assistência de Enfermagem em que o compromisso com o indivíduo e seus familiares se processe de maneira global com mais qualidade, sobretudo, que venha a proporcionar uma reorientação e transformação nos cuidados à saúde, exacerbadamente, mais humanizada nas Unidades de Terapia Intensiva. 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, MCP: ROCHA, JSY. O saber de enfermagem e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez, 1986. AMIB. Humanização em cuidados intensivos. Rio de Janeiro: Ed. Revinter, 2004. BACKES, Dirce e al. A humanização hospitalar como expressão da ética. Revista Latino-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto, v.14, n.1, p. 132-5, jan./fev., 2006. BERK, JL.L et al. Manual de terapia intensiva. 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