Curso de Especialização em Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR: o caso da Associação de Pais, Amigos, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade - APABB Daisy Dias Lopes Brasília 2010 Universidade de Brasília - UnB Instituto de Ciências Humanas - IH Departamento de Serviço Social - SER Conselho Federal de Serviço Social - CFESS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social - ABEPSS SERVIÇO SOCIAL E TERCEIRO SETOR: o caso da APABB Aluna: Daisy Dias Lopes Trabalho monográfico apresentado ao Departamento de Serviço Social – SER/IH da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Especialista em Serviço Social. Orientadora: Edna Alves Brasília, setembro de 2010. 2 Orientadora: Edna Alves de Oliveira Profa. Mestra em Administração Pública : Examinadora: Rosane Pilar Diegues Silva Profa. Mestra em Administração Pública 3 AGRADECIMENTO Agradeço ao autor e mantenedor da minha fé. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho às pessoas com deficiência, público em que me sustentei na construção destas reflexões, aliadas aos desafios do Serviço Social. 5 INVENÇÃO A vida só é possível reinventada. Anda o sol pelas campinas e passeia a mão dourada pelas águas, pelas folhas... Ah! tudo bolhas que vêm de fundas piscinas de ilusionismo... – mais nada. Mas a vida, a vida, a vida A vida só é possível reinventada. Cecília Meireles 6 RESUMO Este trabalho monográfico discutiu a atuação do Serviço Social no espaço ocupacional ofertado por entidade do terceiro setor. Buscou-se conhecer, sob a ótica das famílias que recebem os serviços prestados pela instituição, como o Serviço Social atua frente aos compromissos ético políticos e institucionais, bem como sob o caráter multidisciplinar. Utilizou-se da metodologia qualitativa que melhor se adéqua ao problema, aqui sob análise, com realização de pesquisa de campo por meio de questionários e entrevistas que permitiu a aproximação com o fenômeno que se desejava conhecer e como estratégia de pesquisa foi utilizado o estudo de caso. Os questionários e entrevistas identificaram algumas fragilidades nos programas e projetos desenvolvidos pela instituição bem como uma concepção equivocada do trabalho que é demandado do Serviço Social. A atuação de uma organização de terceiro setor também, aponta para a desresponsabilização do Estado na garantia aos direitos sociais. Palavras-chave: terceiro setor, serviço social, projeto ético político. 7 ABSTRACT This monographic work argued the performance of the Social Service in the occupational space offered by entity of the third sector. One searched to know, under the optics of the families who receive the services given for the institution, as the Social Service acts front to the commitments ethical institucional politicians and, as well as under the character multidisciplining. One used of the qualitative methodology that better are adjusted to the problem, here under analysis, with accomplishment of research of field by means of questionnaires and interviews that the approach with the phenomenon allowed that if it desired to know and as research strategy was used the case The questionnaires and interviews had identified to some fragilities in the programs and projects developed for the institution as well as a maken a mistake conception of the work that is demanded of the Social Service. The performance of an organization of third sector also, points with respect to the less responsabilite of the State in the guarantee to the social rights. Words-key: third sector, social service, ethical project politician. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 1 Participação dos Assistentes Sociais no Terceiro Setor 26 Figura 1 Localização dos núcleos da APABB 37 Gráfico 2 Avaliação do programa de esportes – projeto movimento oferecido pelo Núcleo MG da APABB.......................................... Gráfico 3 51 Avaliação do programa de lazer oferecido pelo Núcleo MG da APABB.......................................................................................... 52 Gráfico 4 Avaliação do projeto de inclusão social oferecido pelo Núcleo MG da APABB.............................................................................. 53 Gráfico 5 Avaliação do projeto de musicoterapia oferecido pelo Núcle de MG da APABB.............................................................................. 53 Gráfico 6 Avaliação do programa grupo de atenção às famílias – Serviço Social oferecido pelo Núcleo MG da APABB............................... Gráfico 7 54 Síntese da avaliação dos programas e projetos oferecidos pelo Núcleo MG da APABB.................................................................. 55 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Determinação legal das competências do assistente social..... 46 Tabela 2 Determinação legal das atribuições do assistente social.......... 47 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AABB Associação Atlética Banco do Brasil APABB Associação de pais, amigos, pessoas com deficiência, de funcionários do Banco do Brasil e da comunidade CASSI Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil CFESS Conselho Federal de Serviço Social CONADE Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência ECA Estatuto da criança e do adolescente ONG Organização não governamental UNAMIBB União Nacional dos Acionistas Minoritários do Banco do Brasil UNI BH Centro Universitário de Belo Horizonte 11 SUMÁRIO 1. Introdução..................................................................................................... 13 2. O Terceiro Setor na contemporaneidade...................................................... 17 2.1. O Terceiro Setor e suas implicações na sociedade.............................. 20 3. O Terceiro Setor e o trabalhador assistente social....................................... 26 4. Terceiro Setor e Serviço Social: o caso da APABB .................................... 36 4.1. O Serviço Social na APABB................................................................ 44 5. Considerações finais..................................................................................... 64 Referências Bibliográficas................................................................................ 66 12 1. Introdução Este estudo monográfico se propôs analisar a atuação do Serviço Social em uma entidade de terceiro setor. A escolha deste tema deve-se, em primeiro lugar, aos estudos realizados no presente curso de especialização aliado à participação da pós graduanda em uma instituição de terceiro setor denominada Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade – APABB. Embora a participação da pós graduanda na instituição tenha se dado pelo critério de vinculação ao Banco do Brasil, o que a credenciou para exercer a função de delegada, a quem é atribuído o acompanhamento institucional e a articulação política, houve uma sintonia imediata com as atividades realizadas pelo serviço social na instituição. Considerando as temáticas estudas no curso de especialização Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais, houve interesse em aprofundar as questões relativas à atuação do assistente social nas organizações privadas não lucrativas e suas implicações na defesa dos direitos. Na instituição sob análise, o Serviço Social recebe apoio, orientações, formação continuada por meio de cursos de qualificação, encontro nacional dos assistentes sociais que trabalham nos 14 núcleos espalhados pelo território nacional. Na outra face da moeda estão os usuários destinatários deste trabalho prestado, no espaço de uma organização de terceiro setor. Portanto, este trabalho monográfico se apresentou como uma excelente oportunidade para conhecer, sob à ótica dos usuários, a atuação do Serviço Social na perspectiva de garantia de direitos. Mediante as possibilidades de conhecer como o trabalho do assistente social perpassa e dá significado às práticas da organização, como este profissional trabalha as questões postas ao Serviço Social no contexto de uma organização de terceiro setor, evidencia-se para a categoria dos assistentes sociais as contribuições deste estudo. Sobretudo, demonstrando as possibilidades e limitações da atuação profissional neste espaço. A pesquisa trabalhou com o paradigma qualitativo, entendendo-se paradigma como “um conjunto básico de crenças que orienta a ação” e ação referindo-se a “investigação disciplinada”, conforme Guba, citado por Mazzotti (1998, p.132) 13 Ou como na visão de Kunh sobre paradigma, citado também por Mazzotti (1998, p..24) uma espécie de teoria ampliada, formada por leis, conceitos, modelos, analogias, valores, regras para a avaliação de teorias e formulação de problemas, princípios metafísicos (sobre a natureza última dos verdadeiros constituintes do universo, por exemplo). Priorizou-se a escolha deste paradigma por ser o que melhor se adéqua à investigação realizada. O paradigma qualitativo é caracterizado por sua natureza compreensiva e interpretativa tornando-se adequado à investigação de valores, atitudes, percepções e motivações do público pesquisado com a preocupação de entendê-lo na sua essência bem como por possuir uma visão holística buscando a compreensão das inter relações e por assumir que a realidade é subjetiva e socialmente construída. Assim, as pesquisas qualitativas se caracterizam principalmente pelo fato de seguir a tradição compreensiva e ou interpretativa, como afirma Mazzotti (2001, p.131) (...) essas pesquisas partem do pressuposto de que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado. Ao adotar-se a pesquisa qualitativa houve toda uma intencionalidade por tratar-se, segundo Minayo (2000, p.21), de busca de respostas particulares, com um nível de realidade que não pode ser quantificado pois ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Embora o paradigma qualitativo tenha sido o norteador deste estudo ficou claro, após os estudos realizados, que vive-se um tempo científico de ambiguidade e complexidade, aparentemente uma fase de transição de paradigmas. Assim, esta pesquisa também se alinhou ao paradigma emergente citado por Boaventura Santos em seu livro Um discurso sobre as Ciências, onde suas principais características são a de que todo conhecimento científico natural é científico social; todo conhecimento é local e total com o horizonte da totalidade universal; todo conhecimento é auto conhecimento; todo conhecimento científico 14 visa constituir-se senso comum, buscando-se assim o enriquecimento da relação do indivíduo com o mundo. Portanto, buscou-se operacionalizar esta pesquisa sob os auspícios do paradigma qualitativo dentro de uma visão teórico crítica uma vez que dentro deste paradigma as regras e padrões da metodologia científica são historicamente construídos e vinculados a valores sociais e a relações políticas específicas que frequentemente, são escamoteadas através dos rituais e do discurso da ciência. (MAZZOTI 1998, p.139) A abordagem metodológica foi o estudo de caso, que foi capaz de proporcionar elementos para o conhecimento de como atua o Serviço Social na APABB, núcleo Minas Gerais, numa perspectiva de defesa de direitos. A compreensão com a qual aqui se trabalhou, sobre estudo de caso, está expressa segundo Yin (2005, p.32) como “uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto na vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.” A pesquisa bibliográfica foi realizada em livros, artigos de periódicos, material disponibilizado pela internet sobre os temas terceiro setor, direitos sociais, inclusão social. Observou-se como objetivos desta pesquisa bibliográfica segundo Gil (1996, p.63): redefinição de um problema, pois estes são, frequentemente, muito amplos ou carecem de esclarecimentos, podendo a pesquisa bibliográfica melhorar a visão do mesmo ou torná-lo mais específico (caráter exploratório); obtenção de informações acerca de técnica de coleta de dados; obtenção de dados em resposta ao problema formulado; interpretação de resultados mediante consulta a trabalhos de natureza teórica. Foi estabelecido como universo de pesquisa as famílias das pessoas com deficiência, participantes dos programas e projetos da instituição. Atualmente, a APABB possui em torno de 50 famílias usuárias de seus trabalhos. Embora as famílias, muitas vezes, se mantenham associadas, há alguns afastamentos dos programas em sua maioria de caráter temporário, dificultando, portanto o estabelecimento preciso deste número. 15 Uma das formas encontradas para investigar o objeto de estudo foi a pesquisa de campo que permitiu a aproximação com o fenômeno que se desejava conhecer e estudar. Baseado em Minayo (2000, p.53) a pesquisa de campo foi concebida como um “recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação.” Foi estabelecida uma aproximação com as pessoas do universo selecionado e pesquisado no estudo buscando consolidar uma relação de respeito, tendo sido esclarecido sobre a investigação, seus objetivos e propósitos buscando uma relação cooperativa e dialógica. A pesquisa de campo foi realizada por meio de questionário respondido por 20 famílias (representadas por pais e em maioria pelas mães) e entrevistas realizadas com 07 mães que se dispuseram a colaborar com a pesquisa. Assim, a monografia inicia-se com esta introdução que abordou de modo geral como se desenvolveu os estudos e a pesquisa. No capítulo 2, realizou-se um estudo sobre o terceiro setor na contemporaneidade. Algumas considerações de teóricos que se debruçam sobre a temática, apontando as ambigüidades encontradas neste espaço. O capitulo 3 discute a atuação do Serviço Social por meio da atuação do trabalhador assistente social no interior de organizações de terceiro setor, seus desafios e possibilidades. No capítulo 4, foi realizado uma análise de uma instituição do terceiro setor e o desenvolvimento do Serviço Social, por meio do olhar das famílias usuárias dos programas e projetos desenvolvidos na instituição, sob a coordenação e execução do profissional assistente social. Finalmente, são tecidas algumas considerações sobre a atuação e presença do Serviço Social na instituição e suas contribuições na defesa dos direitos das pessoas com deficiência. 16 2. O Terceiro Setor na contemporaneidade As sociedades registram desde os seus primórdios uma preocupação com seus indivíduos no sentido de lhes oferecer os elementos básicos à sobrevivência. Muitos são os registros de sociedades que desenvolveram relações de solidariedade com seus membros menos favorecidos. Algumas delas desenvolveram características de responsabilidade social, ética, solidariedade, principalmente entre aquelas que adotaram um modelo religioso. O desenvolvimento do que se convencionou chamar Terceiro Setor, origina-se na Europa e Estados Unidos provenientes de uma versão religiosa ligada à caridade, filantropia e voluntarismo. De acordo com Paes (2003), a proeminência da religião católica em mediar a relação do homem com Deus, sustentou por vários séculos o domínio econômico na sociedade ocidental. Ao bom católico cabia “ajudar a igreja a ajudar os pobres”, mas era a própria igreja que detinha quase todo o excedente econômico da sociedade enquanto a concepção de trabalho, juros e lucro no modelo religioso católico era visto como fruto do pecado. Na Europa, no século XVI, surge o protestantismo, no momento da ascensão da burguesia ao poder, que vai contestar o monopólio religioso da Igreja Católica e resgatar o contato direto do homem com Deus adotando assim um modelo de responsabilidade individual. Há uma nova visão: o trabalho é valorizado e aquele que trabalha o faz para Deus. A geração da riqueza e do lucro deixa de ser visto como pecado e o protestantismo impulsionado pelo Iluminismo, alcança alguns países da Europa. Com a criação dos Estados Unidos por refugiados de tradição protestante, a organização da sociedade se dá por meio de um paradigma político e de responsabilidade individual. No entanto, houve um forte senso de associação comunitária, pois as construções das igrejas protestantes vinham seguidas de uma escola (para ensinar a ler a bíblia) e se tornavam referencial para a comunidade, como centro assistencial, de resolução de conflitos e de ajuda. Fruto deste fundamento religioso unido aos padrões humanistas do Iluminismo, os países protestantes da Europa do Norte e Estados Unidos desenvolveram uma forte 17 tradição de filantropia. Ressaltando-se que nos Estados Unidos houve uma acentuada noção e prática do associativismo. Esta visão de mundo e forma de organização da sociedade permitiu o desenvolvimento do chamado terceiro setor em contraposição aos países do sul da Europa, de confissão católica, que possuem um terceiro setor menos desenvolvido. No entanto, a Igreja Católica com as transformações vivenciadas no mundo, passou a ver em causas estruturais a geração das injustiças sociais e ao denunciá-las assumiu posição similar a de Martin Luther King: “A filantropia é muito louvável, mas ela não deve permitir que o filantropista ignore as injustiças econômicas que fazem com que a filantropia seja necessária.” No Brasil, nas décadas de 60 e 70 proliferam no seio da Igreja Católica as CEB’s Comunidades Eclesiais de Base, das quais algumas originam um novo tipo de organização: as ONGS – Organizações não Governamentais, que se transformaram em entidades privadas cujo papel foi o de defender interesses públicos e aos poucos substituíram práticas assistencialistas de caráter secular no Brasil. Na compreensão de Paes (2003) são os setores progressistas que introduzem no país este tipo de organização. É a idéia política de organização da sociedade pela base. Estas organizações da sociedade civil e setores populares foram apoiados por organismos internacionais ligadas à Igreja Católica e Igrejas Protestantes da Europa. Para Paes (2003) foi assim que surgiram no Brasil as organizações privadas de defesa do interesse público ao que se convencionou colocar numa mesma categoria: terceiro setor. O terceiro setor, assim chamado vem acrescentar na organização sócio política das sociedades, para além do setor público e setor privado outro setor que se propõe constituir organizações privadas para atendimento a interesses públicos tentando romper as limitações do Estado e a sede abusiva do lucro pelo mercado. Considerando a divisão da sociedade por setores de atividades poder-se-ia dizer que junto ao Estado – o primeiro setor, e ao mercado – segundo setor, atualmente encontra-se o terceiro setor, que abrange as organizações que são capazes de mobilizar recursos humanos e materiais visando o desenvolvimento social. 18 Entretanto, para Rifkin (2000) o terceiro setor na realidade se constitui o primeiro setor uma vez que quando se estabeleceu a civilização, primeiramente, foi estabelecida a comunidade, depois surge o comércio e o governo. São as comunidades que estabelecem as relações de comércio e posteriormente o governo. Alguns autores americanos concebem o mercado como o primeiro setor e o governo o segundo, de acordo com o entendimento de que o mercado existiu primeiro, historicamente. (COELHO, 2000). Autores que discutem a temática do terceiro setor (COELHO, 2000; PAES,2003; RIFKIN,2000), referem-se que a busca de uma conceituação não é fácil e que não há muita precisão na mesma. Dentro da realidade do terceiro setor é fundamental o estabelecimento de uma conceituação para que seja construída a própria identidade destas organizações. A própria multiplicidade destas, inseridas no espaço da sociedade civil, com formas e áreas de atuação diferenciadas trazem dificuldades na formulação de um conceito para terceiro setor, o que pode dificultar o compartilhamento dessa identidade. Na visão de Salamon (2005) a diversidade do terceiro setor é tão grande que pode torná-lo subestimado e às vezes invisível enquanto realidade, embora cada vez mais ele se traduza enquanto idéia. Dentro do próprio terceiro setor encontram-se aqueles que não se identificam com outras associações quando olhados sobre o crivo das atividades que desenvolvem. No dizer de Salamom o terceiro setor carece de um conceito unificador para que o todo não venha a se mostrar menor que as partes que o constituem. De acordo com Paes (2003) o terceiro setor pode ser conceituado como o conjunto de organismos, organizações ou instituições sem fins lucrativos dotados de autonomia e administração própria que apresentam como função e objetivo principalmente atuar voluntariamente junto à sociedade civil visando o seu aperfeiçoamento. (PAES, 2003, p.88) É aquele setor que não é público nem privado, mas se relaciona de forma simbiótica com ambos adotando a metodologia deste e as finalidades daquele, o que tem a ver com a sua própria identidade. Afirma ainda que uma das formas mais tradicionais de definição do terceiro setor é nomeá-lo de acordo com a finalidade das ações das organizações que o compõem. 19 Lembra também, que estas organizações originárias de novos grupos formados no interior da sociedade civil e de movimentos sociais se mostraram como forças de interlocução e de mudança na dinâmica da vida social. Fernandes (2005) reafirma a conceituação de Paes, quando diz o terceiro setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas pela ênfase na participação voluntária, num âmbito não governamental, dando continuidade às práticas tradicionais da caridade, da filantropia e do mecenato e expandindo o seu sentido para outros domínios, graças sobretudo, à incorporação do conceito de cidadania e de suas múltiplas manifestações na sociedade civil.(FERNANDES, 2005, p.27) O autor esclarece que a definição acima pode soar estranha ao misturar conceitos que possuem uma história de divergências como filantropia e caridade ou cidadania e mecenato. São conceitos que misturam, recobrem ou alternam situações de conflito, de cooperação e indiferença. Portanto, Paes e Fernandes, concordam que o terceiro setor não possui fins lucrativos e se estruturam com ações voluntárias da sociedade civil. Salamon (2005) aponta as três faces do terceiro setor. A primeira seria o terceiro setor como idéia, aquela que atrai pelo viés dos valores sejam eles de natureza espiritual, religioso, moral ou político. Nesta face estaria incluído o conceito de terceiro setor enquanto “um conjunto de instituições que encarnam os valores de solidariedade e os valores da iniciativa individual em prol do bem público.” (SALAMON, 2005 p. 92) A segunda face tem a ver com a diversidade de instituições que professam tais valores e que podem estar dispersos não configurando a real força econômica deste setor. A terceira face é a que produziu o terceiro setor como ideologia da qual alguns se apropriaram para fins conflitantes. 2.1. O terceiro setor e suas implicações na sociedade De acordo com Paes (2000) apenas recentemente reconheceu-se a importância do terceiro setor nas sociedades e na economia, principalmente, pela sua capacidade de mobilização no atendimento às demandas sociais, que muitas vezes o Estado não é capaz de suprir e a sua capacidade de promover a criação de novos empregos e incentivar o trabalho voluntário. Considerado como um dos valores que 20 movem os defensores do terceiro setor, o altruísmo, contribui em qualificar os serviços prestados e em fomentar ou mobilizar a participação democrática, a cidadania e a responsabilidade social. O terceiro setor alcança atividades que vão desde ao atendimento de uma necessidade social até a defesa dos direitos humanos e dos direitos difusos. As atividades e áreas de atuação do terceiro setor estão voltadas para o meio ambiente, assistência social, assistência à saúde, apoio a grupos sociais carentes, educação, cidadania, direitos da mulher, de crianças e adolescentes, direitos do consumidor, consumo consciente entre outros. No contexto das sociedades contemporâneas o terceiro setor é visto como uma das possibilidades na alteração do mundo do trabalho envolvendo várias áreas de atuação. A discussão realizada por Rifkin (2005) está vinculada as implicações da era da informação que gerou conceitos como empregabilidade e empresa virtual. A atividade econômica no século XXI aponta para a necessidade de rever o contrato social com possibilidades do estabelecimento de uma corporação virtual. Assim, se as tecnologias reduzem o trabalho humano elas podem economizar trabalho e liberar o trabalhador para o tempo livre voltado para a família e a comunidade. Da mesma forma como a revolução industrial trouxe um novo formato para as relações de produção e sociais a revolução que está se dando evidenciará o fortalecimento do capital social capaz de trabalhar em prol da comunidade. Rifkin (2000) está dizendo que a revolução informacional ao automatizar os processos de trabalho e reduzir postos, não possibilitará a recolocação dos trabalhadores. Tampouco o governo, que se encontra num processo de redução do seu tamanho e da sua máquina. Portanto, o caminho que se mostra é a articulação via parceria institucional e oficial entre governo e terceiro setor como uma nova concepção de trabalho: “trabalhar para viver e não viver para o trabalho”. Assim como Rifkin (2005), Salamon (2000) entende que o terceiro setor pode impactar e contribuir com a democracia e o progresso, formando o “capital social” nos moldes apresentados por Colemam, ao fomentar as redes e as normas de confiança e reciprocidade que podem melhorar o funcionamento das sociedades. 21 Para Montaño (2002) reside aí o engodo do terceiro setor. Ao analisar os meandros das atividades em sua maioria realizadas por fundações ou organizações vinculadas ao grande capital, aponta a lógica instalada da reestruturação produtiva do capital iniciada desde os anos 70. Montaño (2002) observa que algumas corporações capitalistas inauguram até no mesmo espaço geográfico, ONGs com vistas a suprir lacunas econômicas, sociais, culturais enquanto permanecem exercendo políticas salariais e de dowsizing1 perversas junto aos seus trabalhadores. Segundo Montãno, o "terceiro setor" tem um papel ideológico na implementação das políticas neoliberais e está em sintonia com o processo de reestruturação do capital pós anos 70. Desde as décadas de 80/90 a alteração das relações entre o Estado e a sociedade, assim como entre capital e trabalho foram traduzidas na flexibilização das relações trabalhistas, no afastamento do Estado de suas responsabilidades sociais e da regulação social entre capital e trabalho. O Estado vem atuando como instrumento de consolidação “hegemônica do capital mediante seu papel central no processo de desregulação e (contra) reforma estatal, na reestruturação produtiva, na flexibilização produtiva e comercial, no financiamento do capital, particularmente financeiro” (MONTAÑO, 2002, p.17) e procedendo a transferência dos serviços sociais para a sociedade civil que vieram a ser acolhidos pelo emergente “terceiro setor”. Na visão de Montaño (2002) o “terceiro setor” aparentemente pode traduzir um espaço de participação da sociedade, mas na realidade representa a fragmentação das políticas sociais e, das lutas dos movimentos sociais. Para o autor o terceiro setor intensifica por um lado, a diminuição dos custos da atividade social — não pela maior eficiência destas entidades, mas pela verdadeira precarização, focalização e localização destes serviços, pela perda das suas dimensões de universalidade, de não-contratualidade e de direito do cidadão — desonerando o capital. (...) É neste terreno que se inserem as ‘organizações sociais’, o ‘voluntariado’, enfim, o ‘terceiro setor’, como fenômeno promovido pelos (e/ou funcional aos planos dos) governos neoliberais, orientados para América Latina no Consenso de Washington” (MONTAÑO, 2002, p. 47-48). 1 É uma forma ou técnica de redução de custos e maximização de valor para a organização. Para os trabalhadores é apenas mais uma forma capitalista de cortar empregos. 22 Alencar (2009) argumenta que, a partir da “redefinição do papel do Estado com transferência considerável de serviços sociais para a sociedade civil”, é utilizado o discurso ideológico da “autonomia”, “solidariedade”, “parceria” e “democracia”, com visível despolitização das demandas sociais e desresponsabilização do Estado. Foi neste cenário que se expandiu a noção de “terceiro setor” cuja polissemia é acentuada, sendo tratado como um espaço diferenciado ao lado do Estado (público) e mercado (privado), onde se incluem ONG’s, fundações empresariais, instituições filantrópicas e atividades de voluntariado. O “terceiro setor” de acordo com ALENCAR (2009) é considerado um setor “não governamental”, “não lucrativo” e “esfera pública não estatal” materializado pelo conjunto de “organizações da sociedade civil consideradas de interesse público.” Iamamoto (2009) reforça tais argumentos ao apontar que as políticas sociais foram reordenadas política e institucionalmente havendo um aumento da participação não governamental por meio do “terceiro setor”. São englobadas aí instituições filantrópicas, o voluntariado e organizações não governamentais onde se incluem desde as que emergiram no espaço dos movimentos sociais às de mais variadas nuances político ideológicas além da chamada filantropia empresarial. Há sempre na conceituação do “terceiro setor” uma tendência em identificá-lo com a sociedade civil que fica reduzida as entidades civis sem fins lucrativos de onde aparecem excluídos os órgãos de representação política (sindicados e partidos) demonstrando um amplo processo de despolitização. Neste espaço são encobertos os conflitos e tensões de classe com prevalência dos laços de solidariedade, da coesão social e da propaganda sobre o “bem comum” embora questões como desigualdade, pobreza, violência e outros sejam naturalizados e se busca a redução dos seus índices sem tratamento da sua causa. Para Almeida (2004) o terceiro setor vem sendo confundido com a sociedade civil, transformando-se num sujeito virtuoso e no adversário de um Estado “satanizado”, comprometendo a universalização da cidadania com sua expansão e com a substituição das políticas de Estado. Telles citada por Almeida (2004, p. 101) afirma que 23 a crescente participação do “terceiro setor” na execução das políticas públicas, especialmente, das políticas sociais, tem favorecido não só a estratégia de focalização, mas também a fragmentação dessas políticas, que mesmo que nunca tenham sido universais, estão deixando de ter o princípio da universalidade e da equidade como uma referência possível e necessária. Na discussão de Almeida (2004) o fato de que nem sempre as experiências de cooperação entre Estado e terceiro setor serem precedidas por um debate democrático e submetidas ao controle social pode comprometer a “responsabilização social do Estado brasileiro, culminando com a privatização da questão social.” (ALMEIDA, 2004, p.101) Cabral (2009) classifica as organizações de Terceiro Setor por características que expressam negatividade ao relatar qualificações como “não lucrativo, não estatal, não governamental” (CABRAL, 2009, p. 62) Para a autora essa tipologia limita a concepção sociológica da natureza inter relacional do setor em mero aspecto classificatório e deixa de expressar valores construídos socialmente. Para Cabral o terceiro setor é considerado como espaço relacional no qual lógicas diversas, discursos e racionalidades que emergem do Estado, do setor mercantil e da comunidade são interconectados por um propósito comum de proteção e desenvolvimento sociais. Neste campo intermediário de relações sociais, as organizações sociais (OTS) apresentam-se como empreendimentos privados, que atuam formal ou informalmente movidas por propósitos solidários originados na expressão pública de cidadãos que interpretam a questão social e a representam por meio das suas missões organizacionais, com o objetivo de participar da produção de bens públicos de proteção e desenvolvimento sociais. O terceiro setor, manifesta-se, neste sentido, como área intermediária de realização de esforços privados projetados sobre a questão social e as organizações sociais surgem como formas privadas e circunscritas de atuação voltadas para suas missões” (CABRAL, 2009, p. 62) Portanto, para a autora esta abordagem se propõe a superar a identificação do terceiro setor como expressão da sociedade civil por entender que esta conceituação é muito ampla. Neste sentido, as organizações de terceiro setor ao trabalhar com as expressões da questão social a terão como acervo de sua identidade bem como se posiciona de forma que supera as características econômicas, ou idiossincrasias organizacionais, para valorizar papéis públicos e sociais de que as organizações são investidas no processo de sua conformação; e esse processo, rico de significados sociais, políticos e de inter relação entre os setores, manifesta-se com o atributo da intermediação (CABRAL, 2009, p. 63) 24 A autora entende que o terceiro setor está vinculado a produção de bens públicos em seu espaço relacional. Identifica o bem público como o produto social da junção entre Estado, mercado e comunidade. No entanto, a reprodução destes bens públicos é desigual em se tratando do desenvolvimento do capitalismo. Nestes resultados estruturais que aparecem na sociedade é que a autora identifica a questão social. Em verdade, são múltiplos os olhares para o terceiro setor, ora polêmicos, ora conflitantes. Contudo, este é um setor já assimilado na cultura nacional, campo de atuação de vários profissionais e entre eles o assistente social. È o que vamos discutir no próximo capítulo. 25 3. O Terceiro Setor e o trabalhador assistente social Na realidade, o terceiro setor, embora sob a aparência de um espaço de participação da sociedade acaba por contribuir com a fragmentação das políticas sociais e dos movimentos sociais. O Estado, ao transferir responsabilidades de sua atribuições para o “terceiro setor” visa a diminuição dos custos da atividade social sob a alegação de uma maior eficiência deste setor. No entanto, vemos a precarização, focalização dos serviços com perda das dimensões de universalidade, de não contratualidade e de direito do cidadão. Convém lembrar que algumas ONG´s buscavam parcerias com os movimentos sociais e assumiram um papel articulador ao seu lado quando então tiveram importância na luta em prol do artigo 227 da Constituição Federal e depois na criação do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. No entanto, algumas mudaram de lugar nos anos 90 ocupando o lugar dos movimentos sociais, deslocando-os de seu espaço de luta e da adesão popular. Com a transferência dos serviços sociais para o “terceiro setor” o assistente social foi requisitado para ocupar também este espaço profissional na gestão de programas e projetos sociais, trabalhos de assessoria e consultoria entre outros. Na pesquisa divulgada pelo CFESS – Conselho Federal de Serviço Social, “Assistentes Sociais no Brasil – Elementos para o estudo do perfil profissional” de maio de 2005, no quesito “Natureza da instituição do principal vínculo empregatício” aparece em 1º. Lugar as instituições públicas municipais com 40,97%,; as públicas estaduais com 24%; as públicas federais com 13,19%; as privadas com 13,19% e o terceiro setor aparece com 6,81% dos assistentes sociais atuando no setor, sendo que em relação ao Terceiro Setor, ele aparece no 5° lugar, conforme gráfico abaixo, em todas as regiões, exceto no Norte, onde não há incidência dessa natureza; nas regiões Sul e Centro-oeste esta natureza institucional tem a mesma freqüência que a pública federal (11% e 10,53% respectivamente), ocupando a quarta posição. Gráfico 1 – Participação dos Assistentes Sociais no Terceiro Setor 26 Natureza da instituição do principal vínculo empregatício de assistentes sociais no Brasil 1,85 Outros 6,81 Terceiro Setor 13,19 Privada 13,19 Pública Federal 24,00 Pública Estadual 40,97 Pública Municipal - 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Percentuais FONTE: Pesquisa divulgada pelo CFESS – “Assistentes Sociais no Brasil – Elementos para o estudo do perfil profissional” maio. 2005 Em relação ao tipo de vínculo empregatício que as(os) assistentes sociais mantêm com as instituições empregadoras encontra-se como principal, já historicamente consolidado no serviço público - o estatutário- 55,68%, índice que diverge do total de 78,16% de profissionais empregados no serviço público de acordo com a natureza da instituição dos vínculos empregatícios, onde Conclui-se, portanto, que nem todas(os) as(os) profissionais que atuam em instituições de natureza pública mantêm vínculos efetivos/estatutários – normalmente decorrentes de concursos públicos –, o que pode ser visto nas demais variedades de vínculos não-estáveis. Ressalte-se que o vínculo estatutário prevalece em todas as regiões, mas com índices diferenciados em comparação ao resultado nacional: superiores no Norte (69,09%) e no Sudeste (58,03%) e inferiores no Sul (55,46%), no Centro-oeste (50,88%) e no Nordeste (47,45%). Nesta última, têm-se algumas particularidades, pois a prevalência das instituições de natureza pública é contradita pelos menores índices do vínculo mais próprio a essa natureza (Estatutário, como 47,45%). No Nordeste 26,53% das (os) assistentes sociais possuem vínculos como celetistas, 12,24% como serviços prestados e 11,73% como contrato temporário. Assim, observa-se a precarização dos vínculos mesmo na esfera pública estatal. No cruzamento dos vínculos com a natureza institucional, observa- se que as instituições públicas municipais estão em segundo lugar em relação ao vínculo celetista, estando atrás apenas das instituições privadas, as quais, juntamente com as do Terceiro Setor, possuem mais esse tipo de vínculo. Há contratos temporários nas cinco principais naturezas institucionais, com destaque, mais uma vez, para as públicas municipais.” (CFESS, 2005) Portanto, os assistentes sociais marcam presença no terceiro setor e atuam sob os mesmos dilemas – autoritarismo, não reconhecimento de direitos, visão 27 assistencialista, precariedade da condições de trabalho, entre outros, que os profissionais que atuam na esfera pública, partilhando com os demais profissionais dos limites e possibilidades na sua atuação. Semelhantemente, as relações de trabalho neste campo de atuação não diferem totalmente do setor público. Assim, a atuação dos asistentes sociais no “terceiro setor” também se mostra diluída num campo de contradições em semelhança a outros campos profissionais. A inserção dos profissionais está envolta em precariedade por seus vínculos empregatícios com flexibilização das relações contratuais, rotatividade de emprego, multiplicidade dos vínculos de trabalho, níveis salariais reduzidos, jornadas de trabalho em tempo parcial (ALENCAR, 2009). O assistente social, inserido no “terceiro setor”, como os demais, precisa estar consciente desta conjuntura adversa e da apreensão das mediações presentes nas relações de modo que explicite o caráter coletivo das demandas dos usuários do Serviço Social e as possibilidades de intervenção em consonância com o projeto ético político profissional pois o exercício da profissão envolve a ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Exige, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade, para detectar as tendências e possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profissonal, desenvolvê-las transformando-as em projetos e frentes de trabalho (Iamamoto, 1999, p.113). Uma profissão só se sustenta numa sociedade como fruto de uma necessidade social, caso contrário tende a se extinguir. Em se tratando da profissão Serviço Social, no Brasil a mesma tem um significado histórico a partir de sua inserção no sistema capitalista, onde vem dando respostas à sociedade e ao Estado frente a questão social no contexto das relações sociais que permeiam as várias expressões da vida em sociedade, tendo em vista sua mantutenção e aprimoramento durante mais de sete décadas. O Serviço Social se constitui numa profissão inscrita na divisão sóciotécnica do trabalho e na sociedade brasileira assumiu as especificidades da formação e do desenvolvimento desta sociedade, bem como resultante da ação dos sujeitos sociais – os assistentes sociais – que construíram a trajetória da profissão e a redirecionaram através destes tempos históricos. 28 Portanto, o Serviço Social segundo Iamamoto (2002) se configura e se recria no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade, fruto de determinantes macro sociais que estabelecem limites e possibilidades ao exercício profissional. Aos assistentes sociais que constroem, cotidianamente, a profissão cabe o papel de protagonistas, seja individuais ou coletivos, sendo particípes do processo de reprodução dos interesses do capital e também das respostas às necessidades de sobrevivência dos seus usuários – os trabalhadores. Este papel atribuído aos sujeitos profissionais está recheado de um caráter, essencialmente, político e se viabiliza no desafio da materialização do projeto ético político profissional, como forma de legitimação da profissão na sociedade, seja na apropriação e na ampliação dos espaços sócio ocupacionais reforçando a identidade profissional, seja através das lutas empreendidas em defesa dos direitos sociais e da sustentação de sua prática através do instrumental teórico metodológico, técnico operativo e ético político. A formação do assistente social necessita, portanto, qualificar profissionais cidadãos capazes de fazer a leitura da totalidade social brasileira, da conjuntura com conhecimento objetivo da realidade. Um profissional que pensa, reflete, cria e articula com outros sujeitos coletivos na construção de instrumentos de luta contra a barbárie instalada pelo sistema capitalista, sempre num movimento de resistência e defesa do compromisso ético político assumido. Aos assistentes sociais, segundo Silva (2009) é requerido capacidade de análise e crítica social, para fins de desvelar as armadilhas do pensamento conservador e legitimador dos mecanismos geradores da desigualdade, da injustiça e da barbárie social. Deve ser característica deste profissional o empenho em “assegurar a visibilidade, a legitimidade, a qualidade e a resolutividade de sua prática profissional, sob a perspectiva da garantia de direitos e da construção da cidadania.” (SILVA, 2009, p.451) No universo do mercado de trabalho, os efeitos nefastos do “terceiro setor” na organização dos trabalhadores, destaca-se, principalmente, pelo fato dele se apresentar como uma forma de exploração da força de trabalho, uma resposta das elites à organização popular e sindical dos anos 80. De acordo com este autor o 29 “terceiro setor” se insere dentre as estratégias neoliberais para desobrigar o Estado de atuar na área social. Iamamoto (2009) declara também que a maioria dos projetos tratados por organizações privadas não são movidos pelo interesse público, mas por interesses privados de alguns grupos e segmentos sociais o que vem a reforçar a seletividades nos atendimentos de acordo com critérios das organizações. Vivemos a “mercantilização do atendimento às necessidades sociais” a partir da privatização das políticas sociais. Assim, a partir do deslocamento das políticas sociais para a esfera do “terceiro setor” muitos assistentes sociais foram e são chamados a exercer sua prática profissional nestas instituições. Aí, tais profissionais se encontram premidos pelas exigências institucionais, que segundo Iamamoto (2009) por ser o assistente social um trabalhador assalariado, ao vender sua força de trabalho especializada aos empregadores em troca do equivalente salário ou proventos e ao ingressar nas instituições empregadoras juntamente com outros trabalhadores é chamado a implementar ações institucionais ou empresariais definidas pelo seu empregador. A relação que o assistente social vai estabelecer com o objeto de seu trabalho – as múltiplas expressões da questão social - expressas na vida das pessoas com as quais trabalha vai depender das políticas definidas pelos empregadores que estabelecerão demandas e prioridades. Reforçando, o assistente social é o profissional graduado em curso Superior de Serviço Social, que após se habilitar por meio de sua inscrição no órgão representativo da categoria, atua nas expressões da questão social, nas políticas sociais públicas, privadas e nas organizações não governamentais (ONGs). É um dos profissionais que ao atuar nas políticas sociais do país pode contribuir com sua implantação, implementação e mudanças ao realizar a mediação entre os usuários dessas políticas e as instituições. Ao exercer o Serviço Social no terceiro setor suas ações e atividades podem se dar por meio de atendimento a pessoas e famílias que estão à margem do processo produtivo ou fora do mercado de trabalho; defesa e garantia dos direitos dessa população; trabalho em conjunto com um corpo de voluntários; atuação junto a 30 segmentos como criança e adolescente, idoso, pessoas com deficiências, dentre outros. As organizações do terceiro setor constituem-se em mais um campo de atuação profissional, e o assistente social precisa entender as configurações deste espaço, seus limites e possibilidades e se qualificar continuamente tanto para sua permanência no mercado de trabalho, mas, principalmente, pelo compromisso ético e político com sua profissão e com os usuários diretos de seus serviços e das ações institucionais. De acordo com Iamamoto (2008), a atuação do profissional nesta esfera, deve ser precedida por uma leitura crítica da realidade e, principalmente, das transformações econômicas, sociais e políticas do país. Conhecer a realidade constitui-se um instrumento imprescindível para a organização e para o desenvolvimento do processo de intervenção do Serviço Social. É esta leitura e conhecimento crítico da realidade que vão delineando o trabalho que precisa ser realizado, evitando-se a mera reprodução da ação profissional, da prática pela prática, visando tornar uma ação fundada nos princípios que norteiam a profissão, numa intervenção baseada em questões teóricas, metodológicas, técnicas, operativas e ético políticas. Um dos requisitos fundamentais para o assistente social que atua neste setor é a apreensão ou a consciência de que ao executar suas ações, o faz de forma a constituir direitos e não como um mero favor aos sujeitos atendidos. Também se faz necessário conhecer o que é o terceiro setor e as instituições que o compõem enquanto visão da totalidade organizacional, seu ambiente interno e externo. Dominar a legislação que fundamenta a política de atuação do público alvo atendido pela instituição; clareza sobre os determinantes da questão social brasileira; conhecer as políticas sociais setoriais para o enfretamento dessas manifestações são também essenciais para um exercício ético e político do profissional. Fundamentando-se na Lei nº 8.662/93, que regulamenta a profissão do assistente social, (artigos 4º. e 5º.) algumas competências e atribuições do assistente social são imprescindíveis à sua atuação no terceiro setor. As principais competências são: elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, 31 programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades. As principais atribuições estão assim descritas na legislação: coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas. Contudo, uma atuação ética e política do profissional neste como nos demais campos de atuação é fundamental, pois somente com um trabalho de qualidade se poderá alcançar os objetivos, metas valores preconizados pela instituição desde que sob o enfoque da garantia dos direitos de inclusão da população usuária dos serviços. Dentro de sua relativa autonomia cabe ao assistente social direcionar o trabalho da instituição sob o prisma da defesa dos direitos da população. Embora, o assistente social, segundo Iamamoto (2009) não tenha o poder de livremente estabelecer suas prioridades, seu modo de operar, acessar todos os recursos necessários, direcionar o trabalho exclusivamente segundo suas intenções, o que é comumente denunciado como o peso do poder institucional cabe ao profissional articular as possibilidades de redirecionamento do seu trabalho dentro 32 de sua relativa autonomia para rumos diferentes dos indicados pelo seu empregador mediante as necessidades e as aspirações dos segmentos subalternos a quem é comumente dirigido o trabalho do assistente social, o que poderá potenciar e legitimar seu trabalho mesmo que na contra corrente do que foi definido pela instituição. Para a defesa de sua relativa autonomia o profissional pode contar com sua qualificação acadêmica profissional especializada, com a regulamentação das competências e atribuições privativas, além de se articular com outros agentes institucionais e organizações de trabalhadores. A relativa autonomia do profissional é fortalecida pelo respaldo coletivo de sua própria categoria, como por exemplo, a Resolução CFESS 493/2006 de 21 de agosto de 2006, que trata das condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social, onde os empregadores são instados e pressionados a disponibilizar recursos materiais imprescindíveis à prática profissional, tais como local de atendimento compatível com o sigilo, arquivos privativos para o Serviço Social, condições dignas de atendimento, dentre outros. Além de tensionado pelas necessidades dos usuários do Serviço Social o assistente social é pressionado pelo empregador por produtividade, eficiência, cumprimento de prazos e rotinas. Tais tensões não são controláveis pelo profissional e impõe limites objetivos a realização do projeto profissional coletivo, exigindo, portanto, estratégias político profissionais para que o assistente social paute seu trabalho em consonância com o projeto ético político profissional do Serviço Social. No interior das organizações do “terceiro setor”, não muito diferente de outros espaços sócio ocupacionais, o profissional vive a tensão entre a defesa dos direitos sociais universais e a mercantilização e refilantropização do atendimento às necessidades sociais, com claras implicações nas condições e relações de trabalho. (IAMAMOTO, 2009) Embora a atuação profissional do assistente social esteja sujeita a uma relativa autonomia não significa que tenha que se manter alienado e sob as determinações do empregador. É no cotidiano, junto com os usuários que o assistente social toma ciência de violações de direitos humanos e sociais, que guardado o dever do sigilo profissional, podem ser denunciadas aos órgãos 33 competentes ou meios de comunicação dando visibilidade pública na defesa dos direitos violados. O profissional tem também em suas mãos a possibilidade de socializar informações democraticamente e conduzir a população à reflexão, realizando um trabalho pedagógico e contribuindo com a emancipação dos sujeitos sociais por meio de mobilização e organização popular, integrando seus usuários aos movimentos sociais e instâncias de organização política. Poderá ainda, propor e/ou realizar pesquisas e projetos sobre o modo de vida, de trabalho, de cultura dos segmentos populacionais atendidos gerando um banco de dados sobre as expressões da questão social vivenciadas pelo grupo, capazes de alimentar ações inovadoras e atendimento às necessidades da população pelas instituições empregadoras. O profissional pode ainda participar ou qualificar os usuários para participação dos conselhos de direitos ou de segmentos como forma de defesa dos direitos humanos e sociais. Um profissional qualificado técnica, metodológica, política e eticamente pode fazer muita diferença no interior de uma instituição de terceiro setor. O assistente social ao atuar com consciência do caráter contraditório do exercício profissional passa a reconhecer que Como as classes sociais só existem em relação, pela mútua mediação entre elas, a atuação do assistente social é necessariamente polarizada pelos interesses de tais classes, tendendo a ser cooptada por aqueles que tem uma posição dominante. Reproduz, também, pela mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão. Responde tanto a demandas do capital com as do trabalho e só pode fortalecer um ou outro pólo, pela mediação de seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de dominação e exploração como ao mesmo tempo e pela mesma atividade de respostas a necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e de reprodução dos antagonismos desses interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história. A partir desta compreensão é que se pode estabelecer uma estratégia profissional e política para fortalecer as metas do capital ou do trabalho, mas se pode excluí-los do contexto da prática profissional, visto que as classes só existem inter relacionadas. É isso inclusive que viabiliza a possibilidade do profissional colocar-se no horizonte dos interesses das classes trabalhadoras. (IAMAMOTO, in Iamamoto e Carvalho, 1982, p. 75) A estes desafios está submetido o assistente social que exerce suas atribuições e competências no interior de uma instituição do Terceiro Setor. Saber analisar 34 institucionalmente e fazer uma leitura da conjuntura em que atua é requisito básico para que este profissional materialize o projeto ético político profissional. A partir dos questionários e entrevistas realizadas com as famílias dos usuários da Associação de Pais, Amigos, Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade – APABB, buscou-se conhecer os impactos do Serviço Social para estas famílias e seus filhos. O próximo capítulo buscou aproximar das famílias e sua visão do Serviço Social e do desempenho do assistente social na instituição. 35 4. Terceiro Setor e Serviço Social: o caso da APABB Este estudo analisou a APABB – Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade, organização esta enquadrada dentro da lógica do “terceiro setor”, quanto à satisfação dos usuários (famílias e pessoas com deficiência) frente a atuação do Serviço Social implantado na instituição. Captando as várias concepções de terceiro setor enunciado neste trabalho, será apresentado o panorama de atuação de uma organização que se estruturou e respondeu a um grupo social a priori. E que, posteriormente espraiou sua frente de atuação a toda a comunidade, respondendo às demandas que o Estado, naquele momento, não era capaz de atender A APABB – Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade é uma organização sem fins lucrativos, com certificado de filantropia e utilidade pública, criada pela iniciativa dos pais de pessoas com deficiência dos funcionários do Banco do Brasil com sede e foro em São Paulo (SP) e núcleos regionais em 13 estados da federação e no Distrito Federal. A partir de junho de 1986, um grupo de funcionários do Banco do Brasil em São Paulo, pais de pessoas com deficiência, começou a se reunir, tendo por motivação a genérica vivência dos mesmos problemas e enfrentamento dos mesmos desafios. Nesta primeira fase, embrionária, tratava-se simplesmente de unir pessoas, trocar experiências, idéias, procedimentos, indicações educacionais, médicas, terapêuticas, enfim, apoiarem-se mutuamente, caminhar na direção do rompimento do isolamento e criar novas alternativas. Os encontros foram consolidando uma prática solidária e útil. A evolução deste movimento fez com que, em 08 de Agosto de 1987, fosse oficialmente fundada a "Associação de Pais e Amigos de Pessoas Portadoras de Deficiência dos Funcionários do Banco do Brasil “(APABB). Posteriormente, “Associação de Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da Comunidade”, num reconhecimento à crescente participação da comunidade nas atividades da Associação. 36 A notícia da existência do "grupo" foi se espalhando e outros funcionários do Banco do Brasil, inclusive de outros Estados, tendo ou não parentes com deficiência, foram se aproximando, em busca de informações, participando das reuniões, sugerindo e se propondo a trabalhar para fazer o movimento avançar. A experiência de início conjuntural e geograficamente localizada, foi sendo positivamente avaliada e levada a se estruturar de modo mais consistente e institucional. A partir de 1991 a APABB iniciou o processo de expansão abrindo Núcleos Regionais em outras cidades. Em 03 de fevereiro de 1997, a instituição torna-se oficialmente de utilidade pública federal, e recebe em 15 de maio 1998 o certificado de entidade com fins filantrópicos. Sua atuação na defesa dos direitos das pessoas com deficiência consolida-se quando passa a integrar a bancada da sociedade civil no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência CONADE - representando o segmento das múltiplas deficiências. Com trabalho nas áreas de Serviço Social, Esporte e Lazer, Educação, Arte e Cultura atua em núcleos organizados em datas diferenciadas, conforme Figura 1 - Localização dos núcleos da APABB Fonte: site da instituição www.apabb.org.br 37 A APABB recebe recursos através de doações provenientes dos associados, em sua maioria, funcionários do Banco do Brasil e demais cidadãos sensibilizados e motivados pela causa. No intuito de viabilizar outros programas e ampliar as vagas para acesso as atividades promovidas pela APABB MG, são captados recursos na própria comunidade, através de parcerias, doações e patrocínios, evidenciando sempre a importância da inclusão no processo de desenvolvimento do país, trabalhando em prol de uma população que deve ter consolidado e inserido seus direitos individuais e sociais no interior da sociedade brasileira. De modo geral as contribuições dos associados são utilizadas, prioritariamente, para assumir os custos fixos da instituição e parcela dos programas e projetos oferecidos. Na oferta dos programas, além dos recursos investidos pela APABB, as famílias também participam. Visando democratizar o acesso a um número ampliado de participantes a entidade, em Minas Gerais, conta com parcerias com a União Nacional dos Acionistas Minoritários do Banco do Brasil (UNAMIBB), Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), COMUMVIVER - Escola Especializada, Instituto Pedro Aleixo, Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI BH), dentre outros. A instituição, também, capta recursos na comunidade por meio de doações, patrocínios de órgãos públicos e da iniciativa privada, evidenciando sempre a importância da inclusão no processo de desenvolvimento do país, trabalhando em prol de uma população que precisa acessar seus direitos individuais e sociais. Recebe também, o apoio institucional do Banco do Brasil que cede espaços em seus imóveis para funcionamento das associações em 14 estados brasileiros, além das parcerias com as entidades organizativas dos funcionários do Banco do Brasil como a Associação Atlética Banco do Brasil (AABBs), a Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (CASSI), dentre outras. Há uma estrutura centralizada que é chamada de sede e 14 núcleos espalhados pelos Estados da federação. Há um comando central que recebe, distribuiu e controla o uso dos recursos com sistemática prestação de contas e transparência no uso dos mesmos. O Núcleo da APABB em Minas Gerais foi criado em abril de 1998 por um grupo de funcionários e aposentados do Banco do Brasil e também, por pais de pessoas com 38 deficiência. Desde então, trabalha com vários programas, projetos e atividades cumprindo o objetivo primordial: acolher, defender direitos, contribuir para a inclusão social e melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência e de seus familiares. São realizados os seguintes programas e atividades na APABB, núcleo Minas Gerais: Programa de Atenção às famílias e às Pessoas com Deficiência: O Serviço Social da APABB MG tem como objetivo trabalhar as famílias das pessoas com deficiência de forma efetiva, através de suas vivências e experiências dando suporte profissional para orientar, estudar, refletir, esclarecer dúvidas, conduzir o grupo na busca de alternativas e soluções para as questões levantadas a partir de suas realidades. Em 2007 foram aproximadamente 220 atendimentos com 100% de gratuidade. Programa de Lazer e Recreação: Promove a inclusão social de pessoas com deficiência e seus familiares e desenvolve oportunidades de lazer e recreação respeitando as características individuais. Essas atividades acontecem em: clubes, parques, cinemas, shoppings, acampamentos, passeios, colônia de férias, discotecas, encontro de famílias, acantonamentos em clubes, dentre outros espaços. Assim, o programa objetiva a busca constante do desenvolvimento pleno das pessoas com deficiência seja no seu crescimento individual e grupal. Congrega possibilidades e oportunidades diversas de aprendizado, por meio da realização de atividades lúdicas e de diversão que auxiliam na manutenção do equilíbrio emocional, favorecem a saúde física e mental, facilitam o aprendizado, promovem e estimulam o relacionamento da pessoa com deficiência não apenas com seus familiares, mas com a sociedade. Tais atividades são substancialmente diferenciadas daquelas realizadas nas rotinas escolares e terapêuticas, de modo a tornar a convivência um processo natural e espontâneo da inclusão social livre de preconceitos. 39 Programa de Esporte: Este programa destina-se a propiciar atividades esportivas às pessoas com deficiência que, normalmente são discriminadas e excluídas de momentos esportivos e culturais. A prática de atividades esportivas é considerada essencial à melhoria da qualidade de vida e potencializadora da inclusão do indivíduo na sociedade. Além da natação, estão sendo incorporadas outras modalidades esportivas tais como o atletismo, o futsal e o basquete. Cabe ressaltar que a incorporação das modalidades enumeradas e demais atividades desenvolvidas, pautam-se sempre no interesse, nas características e possibilidades dos participantes, levando os responsáveis pelo programa a estabelecer nova parceria em busca de recursos físicos apropriados. O objetivo é desenvolver o “Programa de Esportes”, possibilitando disseminar, consolidar e disseminar junto aos associados, a filosofia de atuação e mobilização institucional, colaborando com a transformação da visão atual sobre o potencial das pessoas com deficiência e através de sua inclusão, ampliar seu universo de oportunidades sociais. Projeto SuperAção: Implantado em Minas Gerais no 1º semestre de 2007, o Projeto SuperAção tem como objetivo inserir a pessoa com deficiência no mercado de trabalho através da inclusão digital. Nessa perspectiva, o Projeto SuperAção, que tem como linhas de atuação os componentes estratégicos do acesso a recursos tecnológicos, do incentivo ao pensamento crítico e da capacitação de voluntários, proporciona também, mediante o contato com a tecnologia da informática e da informação, a elevação da auto-estima da pessoa com deficiência. Haja vista a expansão das possibilidades de convívio com outros grupos, além dos frequentados nos ambientes escolar e terapêutico. Mercado de trabalho: O programa em voga desenvolve ações que criam e instituem espaços para a inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Este programa visa qualificar os usuários para que possam concorrer a vagas oferecidas por grandes empresas. Estas apresentam uma demanda de contratação de pessoas com algum tipo de deficiência em virtude da lei que define percentuais obrigatórios de inclusão dos deficientes em seu quadro de pessoal. 40 Desta forma, a APABB procura promover cursos ou encaminhá-las a um treinamento que as torne qualificadas a pleitear os cargos ofertados no mercado de trabalho. Tais programas e projetos buscam alcançar os objetivos da instituição, que segundo o artigo 3º. do Estatuto, são: Artigo 3º -São objetivos precípuos da APABB, sem discriminação de qualquer natureza, a habilitação e a reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária através: I. Do apoio às pessoas com deficiência e às suas famílias, mediante orientação, encaminhamento e acompanhamento de soluções; II. Do empreendimento de ações que propiciem às pessoas com deficiência, desenvolver suas capacidades e sua inclusão social; III. Da disseminação de valores e informações à sociedade com vistas a contribuir para inclusão social e melhoria da qualidade de vida, preservação de direitos e cidadania da pessoa com deficiência; IV. Da promoção de estudos e pesquisas, palestras, encontros, seminários, cursos, debates e demais eventos que propiciem o aprofundamento e a difusão de conhecimentos voltados para a pessoa com deficiência; V. Da promoção de intercâmbio social com outras entidades voltadas para atividades sociais, de lazer, de esporte e de promoção da cultura, ao nível municipal, estadual, federal ou internacional; VI. Do estabelecimento de convênios, parcerias e associações com instituições científicas, acadêmicas, organismos públicos, privados e/ou entidades afins, municipais, estaduais, federais ou internacionais, visando a ampliar e fortalecer a oferta de serviços às pessoas com deficiência; e VII. Do atendimento gratuito do Serviço Social, mediante critérios estabelecidos pelo Colégio de Diretores da APABB, nos moldes da LOAS (Lei 8.742/93), guardado o limite legal. Parágrafo 1º - Pode ser usuária dos programas, projetos e serviços da APABB a pessoa com deficiência e sua família. Parágrafo 2º -Para alcançar seus objetivos a APABB poderá criar centros esportivos, centros de convivência, residências protegidas, e outros empreendimentos que se fizerem necessários, com recursos próprios ou oriundos de terceiros. Tais objetivos são transformados, nos núcleos, em atividades e ações, constituindo espaços de materialização destes por meio da execução dos programas de apoio às famílias, esporte, lazer, entre outros. 41 O Núcleo Minas Gerais, fundado em 1998, conta com 12 anos de existência e está aberto à participação da comunidade. Dedica-se à inclusão das pessoas com deficiência atendendo, encaminhando para os recursos cadastrados e disponíveis na rede municipal e estadual e oferecendo assessoria em assuntos das áreas jurídicas e das políticas públicas como forma de atender as demandas de seus usuários. A instituição adotou como visão tornar-se referência no acolhimento da pessoa com deficiência e sua família, bem como na defesa de seus direitos, contribuindo para a sua inclusão social e melhoria de sua qualidade de vida. E como missão, realizar ações, desenvolver projetos, estabelecer parcerias, captar recursos, garantir a visibilidade e a credibilidade da organização, em prol das pessoas com deficiência e de suas famílias. Sabe-se que atualmente, a população mundial de pessoas com deficiência é estimada em 600 milhões de habitantes. No Brasil, segundo dados do senso do IBGE de 2000, computou-se o número de 24,5 milhões de pessoas correspondente a 14,5% da população. No Estado de Minas Gerais, 3,6 milhões de mineiros possuem algum tipo de deficiência, o que corresponde a 14,9% da população do Estado. Na capital, Belo Horizonte, em torno de 350 mil pessoas possuem algum tipo de deficiência, correspondendo a 12,8 % da população. Dentre os documentos internacionais que tratam do tema, sobressaem-se aqueles editados pela Organização das Nações Unidas: Resolução 2856 de 1971, Declaração dos Direitos de Pessoas com Deficiência Mental; Resolução 30-84 de 1975, Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência; Resolução 48-96 de 1993, Normas sobre Equiparação de Oportunidades e, por último, a recente Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 13 de dezembro de 2006. A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi assinada por 128 países membros da ONU, dos quais, 28 já a ratificaram dentro de sua ordem jurídica, transformando-a em lei interna. No Brasil, conforme já mencionado anteriormente, a Convenção foi ratificada e promulgada pelo Congresso Nacional, com quorum especial, no dia 9 de julho de 2008, elevando a status constitucional os direitos das pessoas com deficiência no país. Trata-se do primeiro 42 tratado temático de Direitos Humanos do Século 21 e incluiu em seu conteúdo uma clara perspectiva de desenvolvimento. O principal objetivo do novo texto legal é "promover, proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de todos os Direitos Humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente” (Artigo 1). Institui em seus princípios a não-discriminação, a plena e efetiva participação e inclusão na sociedade, o respeito pela diferença, a igualdade de oportunidades e a acessibilidade como condição básica de imprescindível para o exercício da cidadania plena das pessoas com deficiência. Conforme elencado, anteriormente, os objetivos da APABB estão sintonizados com este documento e a instituição trabalha nesta direção. Entre os diversos avanços trazidos ao Brasil pela Convenção, com força Constitucional, destaca-se a conceituação de pessoa com deficiência. A deficiência deixa de ser apenas um conjunto de fatores clínicos do indivíduo, transformando-se na combinação entre diversos elementos médicos e sociais. E na medida em que a sociedade remove barreiras (físicas, de atitude e de comunicação) que podem obstruir a participação efetiva do cidadão, as pessoas, com ou sem deficiência, ficam mais perto de exercer a cidadania plena em um mundo de diversidades. A política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva considera aluno com deficiência aqueles que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que em interação com diversas barreiras podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. São em síntese estas concepções de deficiência com que se trabalha. Portanto, a defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiências em condição de igualdade aos direitos humanos e liberdades fundamentais das demais pessoas é um dos princípios que regem o trabalho do assistente social no interior de uma instituição de terceiro setor. Busca-se afastar toda forma de discriminação e abrir possibilidades para a inclusão social de forma integral, bem como apoio às famílias. Analisar como se dá este processo na instituição, é o proposto por este estudo. 43 4.1. O Serviço Social na APABB O Serviço Social possui um projeto ético político estabelecido pelos assistentes sociais que está inserido no projeto societário que esta categoria defende para a população deste país, conforme Netto (2006, p.15) “um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero”. Trata-se de projeto de classe que disputa com outros projetos na sociedade, no caso do Brasil com o projeto neoliberal, e se constitui em fenômeno próprio da democracia política. O projeto profissional desta categoria apresenta uma imagem da profissão, valores que a legitimam, sua função social e seus objetivos, conhecimentos teóricos, saberes interventivos, normas, práticas, entre outros, que Netto (2006) define como uma auto imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). (NETTO, 2006, p.4) Na atualidade o Serviço Social expressa seu projeto de profissão pelo Código de Ética instituído em 1993, pela Resolução CFESS n. 273/93, que atribui direitos, deveres e vedações aos assistentes sociais, guiando-se por princípios e valores humanistas, que balizam o exercício cotidiano da profissão, com destaque para o reconhecimento da liberdade como valor ético central; a defesa intransigente dos direitos humanos; a defesa do aprofundamento da democracia e da consolidação da cidadania; o posicionamento pela equidade e justiça social; o empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, a garantia do pluralismo; o compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e na articulação com outros profissionais e trabalhadores. O núcleo deste projeto profissional está no reconhecimento da liberdade como valor central. Esta, concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas concretas, gerando compromisso com a autonomia, emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais. Daí a defesa intransigente dos direitos humanos, repúdio ao arbítrio e ao preconceito e a 44 adoção do pluralismo tanto na sociedade quanto no exercício profissional. Ainda segundo Paulo Netto (2006, p.16) A dimensão política do projeto é claramente enunciada: ele se posiciona a favor da equidade e da justiça social, na perspectiva da universalização do acesso a bens e a serviços relativos às políticas e programas sociais; a ampliação e a consolidação da cidadania são explicitamente postas como garantia dos direitos civis, políticos e sociais das classes trabalhadoras. Correspondentemente, o projeto se declara radicalmente democrático – considerada a democratização como socialização da participação política e socialização da riqueza socialmente produzida. O projeto assume também uma relação de compromisso com os usuários dos serviços, com a qualidade dos serviços prestados à população bem como com a possibilidade de incluir os usuários na participação das decisões institucionais. Possibilita o compartilhamento com outras categorias e movimentos sociais desde que se solidarizem com a luta geral dos trabalhadores. Ainda que não assumido por todo contingente de assistentes sociais brasileiros tal projeto ético político vem se mantendo hegemônico na categoria. Portanto, à primeira vista a instituição sob análise pode carregar consigo a própria fragmentação das políticas sociais ao focalizar ações direcionadas a grupos especiais da sociedade – pessoas com deficiência – numa substituição às políticas universalizadoras. Mas o exercício da profissão envolve a ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição seus projetos, defender seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Exige, pois, deste trabalhador ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade, para detectar tendências e possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profissional, desenvolvê-las transformando-as em projetos e frentes de trabalho. (IAMAMOTO, 1999) Este estudo analisou em caráter geral os efeitos da atuação do Serviço Social em uma entidade de terceiro setor no atendimento à pessoas com deficiências e suas famílias por meio da atuação do assistente social. A instituição sob análise, elegeu o esporte e o lazer como carros chefes de seus programas. Porém, delegou ao 45 Serviço Social o acompanhamento e uma afinada interlocução como forma de potencializar estes programas. O Serviço Social na APABB possui uma atuação aglutinadora dos trabalhos exercidos pela equipe multidisciplinar e neste aspecto exerce a função de coordenação, ainda que não explícita, e de acompanhamento. De acordo com o Regimento Interno, artigo 84, a finalidade do Serviço Social na instituição é “atender as necessidades das pessoas com deficiência, mediante orientação, encaminhamento e acompanhamento de soluções, visando à inclusão e melhoria da qualidade de vida”, de forma gratuita. Analisando as competências e atribuições do assistente social determinadas pela Lei 8.662/93 que regulamenta a profissão do assistente social em seus artigos 4º. e 5º. encontram-se as que se articulam com o processo de trabalho do assistente social na APABB, previstas no Regimento Interno da instituição, as quais relacionamos na tabela abaixo: Tabela 1 – Determinação legal das competências do assistente social – Lei 8662/93 Lei 8662.93 – Art. 4º. Regimento Interno – Art.84 Determinação legal das competências Determinação das Competências institucionais I - Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; IX. Implantar, prioritariamente, os programas e projetos aprovados pela Sede da APABB III - Encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; VI. Manter atualizado o cadastro de recursos da comunidade, bem como ampliá-lo sempre que possível. XI. Criar e organizar a biblioteca e videoteca do seu Núcleo Regional para pesquisa e estudo dos profissionais da APABB, bem como para uso dos Associados. XVIII. Participar periodicamente de eventos, como palestras, seminários, congressos, fóruns, etc., que abordem a questão da deficiência ou outros temas relevantes ao trabalho da APABB; 46 V - Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; II. Fazer acompanhamento à pessoa com deficiência e sua família por meio telefônico ou in loco a cada seis meses. III. Informar periodicamente aos Associados sobre novos tratamentos e tecnologias referentes aos assuntos sobre deficiência. XII. Informar ao Colégio de Diretores e ao representante da APABB no Conselho de Usuários da Cassi – Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, sobre: queixas, solicitações, e dificuldades dos Associados em relação ao atendimento na Caixa de Assistência acima mencionada; XVII. Informar ao usuário, ao primeiro contato, sobre a APABB (histórico, missão, visão e atividades desenvolvidas), inclusive sobre a política de concessão de bolsas nos programas e projetos. VIII - Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; XIV. Participar, como representante oficial, das reuniões do Conselho Municipal e Estadual de Assistência Social, e como ouvinte, no Conselho Municipal e Estadual da Pessoa Portadora de Deficiência e do Conselho da Criança e Adolescente, bem como acompanhar as suas respectivas deliberações X Planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; IV. Participar das reuniões mensais do Núcleo Regional, para prestar informações sobre as atividades, levantar sugestões e expectativas, bem como tratar de outros temas de interesse comum aos Associados; XV. Elaborar relatório das atividades mensais do Núcleo Regional, enviando-o à Sede da APABB até o dia 10 do mês subseqüente ao de referência. XI - Realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades; X. Realizar estudos sócio-econômicos, para concessão de bolsas nas atividades de lazer e esporte, mediante critérios pré-estabelecidos pela Sede da APABB. Fonte: Elaboração própria - Lei 8662/93 e Regimento interno, site institucional www.apabb.org.br, acesso em 20.07.2010 Tabela 2 – Determinação legal das atribuições do assistente social – Lei 8662/93 Lei 8662.93 – Art. 5º. Regimento Interno – Art.84 Determinação legal das atribuições Determinação das Atribuições institucionais II - Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; XX. Participar da elaboração do planejamento anual de atividades da APABB em conjunto com os Delegados, responsável administrativo do Núcleo Regional, técnicos de Esporte e Lazer. 47 III - Assessoria e consultoria e órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; VIII. Organizar com os técnicos do lazer e do esporte, treinamentos, grupos de estudo e oficinas de reciclagem para os profissionais da equipe; sempre que possível. IV – Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social XXI. Manter todas as informações em relação à documentação e aos atendimentos realizados aos usuários – apenas restritas ao uso interno da APABB, não podendo ser divulgadas externamente. VI - Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social XXIII. Discutir o processo de aprendizagem e a rotina do trabalho do estagiário com a Coordenação do Serviço Social. XXIV. Responsabilizar-se pelo processo de aprendizagem do estagiário do Serviço Social, estabelecendo rotina periódica de trabalho e [...] X - Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; VII. Promover Ciclo de Palestras e outros eventos, como congressos, seminários, fóruns, extensivos à comunidade, no mínimo, uma vez por semestre. Fonte: Elaboração própria - Lei 8662/93 e Regimento interno, site institucional www.apabb.org.br, acesso em 20.07.2010 Ao assistente social da APABB está colocado o desafio, e não só a ele mas a todos os profissionais que apreendem e assumem o compromisso ético político da profissão, de dentro dos limites e possibilidades postos ao seu trabalho ou a seu campo de atuação, exercer seu protagonismo como sujeito profissional, conforme esclarece Iamamoto (2002,p.9) O ponto de partida para a análise do Serviço Social é o de que a profissão é tanto um dado histórico, indissociável das particularidades assumidas pela formação e desenvolvimento da sociedade brasileira no âmbito da divisão internacional do trabalho, quanto resultante dos sujeitos sociais que constróem sua trajetória e redirecionam seus rumos. Considerando a historicidade da profissão - seu caráter transitório e socialmente condicionado - ela se configura e se recria no âmbito das relações entre o Estado e a sociedade, fruto de determinantes macro-sociais que estabelecem limites e possibilidades ao exercício profissional, inscrito na divisão social e técnica do trabalho e nas relações de propriedade que a sustentam. Mas uma profissão é, também, fruto dos agentes que a ela se dedicam em seu protagonismo individual e coletivo. O quadro comparativo acima apresentado demonstra as possibilidades e limites postos ao exercício profissional do assistente social vinculado aos quadros da instituição sob análise, a APABB. A questão que se coloca é a impossibilidade da norma legal ser capaz de exercer a defesa dos direitos. Conjungando objetivos e missão da entidade, objetivos do Serviço Social na instituição, e a norma legal que se configura em um dos pilares do projeto ético político profissional (Lei 8662/93), tais prescrições são suficientes para a defesa dos direitos do público atendido? A 48 realidade mostra que se a norma é importante como balizadora das ações, sozinha não é capaz de produzir sua finalidade, caso não conte com a consciência crítica,teórica, metodológica, ética e política dos profissionais que a podem implementar no cotidiano da instituição e do seu fazer profissional. No âmbito das relações de trabalho, as propostas do projeto ético político precisam ser afinadas com as “provocações e desafios enfrentados no dia a dia do trabalho quotidiano.” (IAMAMOTO, 2002, p.16) Como já discutido, anteriormente, a organização do trabalho coletivo pelo empregador interfere no conteúdo e forma assumido pelo trabalho prestado pelo assistente social. Ao estabelecer as condições sociais onde deverá se materializar o projeto ético político, são demandadas um campo de mediações que vão implicar e impactar as funções, competências e atribuições do assistente social frente às atividades desenvolvidas, conforme Iamamoto (2002, p.16) tão claramente pontua: Ainda que dispondo de uma relativa autonomia técnico-profissional e ética na sua condução de seu trabalho no âmbito de organismos institucionais públicos e privados – empresariais ou não, eles também estabelecem metas a atingir, detêm poder para normatizar as atribuições e competências específicas requeridas de seus funcionários, definem as relações de trabalho e as condições de sua realização – salário, jornada, ritmo e intensidade do trabalho, direitos e benefícios, oportunidades de capacitação e treinamento, o que incide no conteúdo e nos resultados do trabalho. Mais ainda, oferecem o back-ground de recursos materiais, financeiros, humanos e técnicos para a realização do trabalho no marco de sua organização coletiva. Portanto articulam um conjunto de condições que informam o processamento da ação e condicionam a possibilidade de realização dos resultados projetados. Aí estão postos limites e aberto o campo das mediações e do protagonismo do assistente social, pois seu compromisso ético político, coloca na outra ponta os usuários dos serviços que conforme Iamamoto (2002, p.16) se manifestam por meio de outro vetor de demandas: as necessidades dos usuários, que, condicionadas pelas lutas sociais e pelas relações de poder, se transformam em demandas profissionais, reelaboradas na ótica dos empregadores no embate com os interesses dos usuários dos serviços profissionais. É nesse terreno denso de tensões e contradições sociais que se situa o protagonismo profissional. 49 Ao assistente social compete compreender e buscar desvelar as injunções a que estão sujeitos seus usuários. Imersos nas expressões da questão social, podem trazer demandas que na sua individualidade apontam para o universalidade da ausência dos direitos, das desigualdades, da precariedade do acesso a bens e serviços. Para o assistente social É importante desenvolver a capacidade de ver, nas demandas individuais, as dimensões universais e particulares que elas contêm. O desvelamento das condições de vida dos sujeitos atendidos permite ao assistente social dispor um conjunto de informações que, iluminadas por uma perspectiva teórica crítica, lhe possibilita apreender e revelar as novas faces e os novos meandros da questão social que o desafia a cada momento no seu desempenho profissional diário. É da maior importância traduzir esta reflexão no “tempo miúdo do trabalho cotidiano’, como diz Yazbek, pois a questão social está ai presente nas diversas situações que chegam ao profissional como necessidades e demandas dos usuários dos serviços: na falta de atendimento às suas necessidades na esfera da saúde, da habitação, da assistência, nas precárias condições de vida da famílias, na situação dos moradores de rua, na busca do reconhecimento dos direitos trabalhistas e previdenciários da parte dos trabalhadores rurais, na violência doméstica, entre inúmeros outros exemplos. Importa ter clareza que a análise macroscópica sobre a questão social, tal como efetuada acima, expressa uma realidade que se materializa na vida dos sujeitos. Este reconhecimento permite ampliar as possibilidades de atuação e atribuir dignidade ao trabalho do assistente social, porque ele não trabalha com fragmentos da vida social, mas com indivíduos sociais que condensam a vida social.(IAMAMOTO, 2002, p. 24) Trazendo a presente discussão para o âmbito da APABB, é bom que se registre, a seriedade da instituição no trato com os assistentes sociais. A instituição é transparente em sua forma de contratação dos trabalhadores, sempre usando do processo seletivo em várias etapas, buscando um profissional além de competente adequado ao trabalho com as pessoas com deficiências. Uma prova deste compromisso institucional é o fato da imediata aplicação da Lei 12.317 de 28.08.2010, a partir da qual os assistentes sociais já assumiram as 30 horas semanais. Portanto, dentro das ambigüidades e contradições presentes nas instituições de terceiro setor, há que se concordar com Iamamoto (2002) quando registra que tais entidades se movem por interesses privados. No entanto, no caso da APABB, embora tenha sido esta a motivação original ou seja restrita aos funcionários do Banco do Brasil, na atualidade esta condição foi vencida. Hoje a APABB está aberta à comunidade e vem demonstrando avanços para além dos serviços que presta e se 50 propõe a realizar. A participação em Conselhos de direitos é uma orientação para todos os núcleos e a própria participação no CONADE e na comissão de comunicação pelo atual presidente da instituição, aponta para o viés político e coletivo assumido pela entidade. Este é também um espaço primordial de trabalho do assistente social, no sentido de provocar e promover a politização das famílias na luta e defesa dos direitos das pessoas com deficiência. Assim, apresentamos a seguir os resultados da incursão em campo junto às famílias para que se tenha idéia da visão que estes usuários dos serviços tem dos programas institucionais ofertados e principalmente, sobre a visão que possuem do Serviço Social na APABB. Ao se comparar a concepção da profissão, seus avanços e desafios, seu compromisso com a defesa dos direitos explicitados no código de ética profissional e lei que regulamenta a profissão e o que a instituição propõe para o Serviço Social e para o profissional que o executa, buscou-se conhecer o que significa a prestação deste serviço na visão dos usuários da APABB. É importante também analisar o significado e a compreensão do Serviço Social realizado na instituição. A pesquisa realizada buscou conhecer a avaliação que as famílias fazem dos programas e projetos da APABB, incluindo as atividades do Serviço Social que são desenvolvidas no Grupo de atenção às famílias. Considerando a transversalidade do Serviço Social no formato de implementação dos demais programas e projetos, estes também, são alcançados pela atuação do trabalho do(a) assistente social. Aplicou-se um questionário à 20 famílias e foram encontrados os seguintes resultados. Gráfico 2 - Avaliação do programa de Esportes – projeto movimento oferecido pelo Núcleo MG da APABB 51 APABB - PROGRAMA ESPORTE PROJETO MOVIMENTO - 2010 12 10 8 horário 6 localização 4 profissionais 2 dias da semana 0 bom regular ruim não participa AVALIAÇÃO Fonte: Elaboração própria - dados coletados entre as famílias no dia 06.07.2010 Este programa tem sido por muitos anos aquele que aglutina o maior número de participantes. No entanto, a associação, por fatores alheios a sua vontade, vem tendo dificuldades em mantê-los em locais que melhor atendem e facilitam o acesso o que gerou a troca de locais e instituições parceiras onde se oferecem as aulas. Os horários, também, nem sempre atendem às necessidades dos associados, pois, geralmente, eles são obtidos por determinação da entidade que concede o espaço para sua realização. O Serviço Social atua em sintonia com o técnico de esportes no sentido de repassar as condições peculiares de cada associado para que suas necessidades sejam melhor acompanhadas e também usa este espaço para realizar o trabalho de apoio às famílias. Gráfico 3 - Avaliação do programa de Lazer oferecido pelo Núcleo MG da APABB APABB - PROGRAMA LAZER - 2010 12 10 8 horário 6 localização 4 profissionais 2 dias da semana 0 bom regular ruim não participa AVALIAÇÃO Fonte: Elaboração própria - dados coletados entre as famílias no dia 06.07.2010 52 Este programa, na APABB – Núcleo Minas Gerais, realiza um papel fundamental para a inclusão social deste público. Várias são as barreiras ultrapassadas com a sua realização: físicas, sociais, emocionais. O programa trabalha em algumas atividades direcionado às famílias e as pessoas com deficiências. Mas, também, se propõe a construir a autonomia destes sujeitos possibilitando que participem de algumas atividades como o acampamento e acantonamento, quando então as pessoas com deficiência experimentam ficar longe das famílias sob os cuidados dos técnicos e recreadores. O Serviço Social exerce papel importante ao trabalhar de forma multidisciplinar, orientando o técnico sobre as condições – limites e possibilidades dos participantes. Gráfico 4 - Avaliação do programa de Inclusão Digital oferecido pelo Núcleo MG da APABB APABB - PROJETO INCLUSÃO DIGITAL - 2010 16 14 12 10 8 6 4 2 0 horário localização profissionais dias da semana bom regular ruim não participa AVALIAÇÃO Fonte: Elaboração própria - dados coletados entre as famílias no dia 06.07.2010 Este programa em parceria com mais duas entidades, está sendo revisto, dado a sua baixa participação e inadequação. Foi instituído a partir de 2007. O Serviço Social acompanha sua execução contribuindo com a avaliação do nível em que as pessoas com deficiência se encontram e qual o melhor projeto pedagógico pode alcançá-las. O programa também pode ser acessado pelas famílias. Gráfico 5 - Avaliação do projeto Musicoterapia oferecido pelo Núcleo MG da APABB 53 APABB - PROJETO MUSICOTERAPIA - 2010 10 8 6 horário 4 localização profissionais 2 dias da semana 0 bom regular ruim não participa AVALIAÇÃO Fonte: Elaboração própria - dados coletados entre as famílias no dia 06.07.2010 O projeto musicoterapia foi construído pelo Serviço Social e é um dos mais recentemente implantado (fevereiro de 2010). Teve uma receptividade altamente positiva entre os associados. Os participantes vibram com as aulas e é perceptível a evolução que vem acontecendo a cada semana. É também durante a sua realização que o Serviço Social trabalha com o grupo de mães. Gráfico 6 - Avaliação do programa Grupo de atenção às famílias – Serviço Social oferecido pelo Núcleo MG da APABB APABB - PROGRAMA ATENÇÃO ÀS FAMÍLIAS SERVIÇO SOCIAL - 2010 15 horário 10 localização profissionais 5 dias da semana 0 bom regular ruim não participa AVALIAÇÃO Fonte: Elaboração própria - dados coletados entre as famílias no dia 06.07.2010 54 O programa de atenção às famílias desenvolvido pelo Serviço Social, é a porta de entrada na associação e engloba desde o primeiro atendimento, orientação social, encaminhamentos diversos à rede de serviços públicos ou privados e o trabalho com as famílias. No momento em que foi realizada esta avaliação acontecia a substituição da profissional, que teve por parte das famílias, certa resistência em aceitar a nova assistente social. Portanto, presume-se que neste estudo tenha sido avaliada muito mais a profissional do que o programa como um todo. Cabe esclarecer, que a substituição da profissional se deu por motivos de falta de atendimento ao perfil que a instituição vem estabelecendo para os assistentes sociais que realizam o trabalho com as famílias. Gráfico 7 - Síntese da Avaliação dos programas e projetos oferecidos pelo Núcleo MG da APABB em 2010 APABB - AVALIAÇÃO PROGRAMAS E PROJETOS - 2010 35 30 25 20 bom regular 15 ruim não participa 10 5 0 Esportes Lazer Inclusão digital Musicoterapia Serviço Social Grupo de atenção às famílias Fonte: Elaboração própria - dados coletados entre as famílias no dia 06.07.2010 Os dados coletados mostram que no momento atual da APABB o projeto de Musicoterapia encontra-se em alta na avaliação dos associados. Trata-se de um projeto novo, mas que vem motivando os usuários e suas famílias. Há registro, por uma das mães, que o filho por ter um vínculo muito forte com o professor e ao saber 55 do projeto sendo executado na instituição, afiliou-se para que o filho participe, conforme relata Apesar de estarmos pouco tempo freqüentando o programa da APABB, não tenho nada a reclamar. Meu filho está gostando muito da musicoterapia, ele se sente muito bem, participa com muita alegria, gosta muito dos amiguinhos e gosta muito também do professor e também tem o motivo que ele conhece o professor há muito tempo de outras escolas. Por enquanto é o que tenho a declarar. Fico agradecida a todos os funcionários e mães que muito bem me tem tratado a mim e a meu filho.2 É bom registrar que o filho já é adulto, embora a mãe registre que ele “gosta muito dos amiguinhos”, cuja maioria também são jovens adultos. Este é um dado que chama a atenção, pois muitas mães se referem e tratam os filhos como pequenas crianças. Aponta para uma das temáticas que precisa ser trabalhada pelas famílias, pois se é difícil ver os filhos crescerem, para as mães de filhos com deficiência, este é um desafio ainda maior: vê-los adultos e contribuir para sua autonomia e independência. Chama atenção, a avaliação do Serviço Social. As entrevistas realizadas tendem a esclarecer um pouco mais sobre esta avaliação insatisfatória do Serviço Social. Em entrevista com algumas mães buscou-se conhecer sobre o significado da APABB para a família e a pessoa com deficiência. Os depoimentos são positivos em relação à instituição, como relataram algumas mães Pra mim significa muita coisa. Quem dera eu pudesse ser uma associada que pudesse contribuir muito para ajudar mais ainda. Porque o meu filho desenvolveu, esta parte, assim de socialização. Ele desenvolveu, hoje ele entra em qualquer lugar, cumprimenta as pessoas, conversa. Pro meu filho foi bom demais, demais.3 Acho ótimo. A gente participa de tudo, também de muitos passeios. A gente ajuda, mas também é ajudado, com passeios, com lazer e tudo. Eu gosto de ser associada.4 Na fala das mães identifica-se uma das inadequações quanto a política pública. A associação, por trabalhar com recursos escassos, desenvolveu uma fórmula que 2 Informe repassado em entrevista realizada com as mães em 03.08.2010. 3 Idem 4 Idem 56 possibilite a realização de seus programas, nos quais as famílias entram com um percentual de participação. No entanto, verifica-se que nem sempre é possível às famílias participar de todos os programas. Daí, não há universalidade no acesso aos programas, uma das características que podem estar presentes nas intituições de terceiro setor, impossibilitando o acesso ao direito. Para minha filha foi ótimo participar da APABB. Ela já é uma menina muito espontânea, mas com a APABB, só veio a melhorar. Ela gosta demais. A socialização, é isso que eu acho que foi muito bom. Não é só bom para minha filha, para a gente também. A gente se entrosa com as mães, a gente aprende, você ouve das outras mães, você aprende. Você acha que sabe, mas aprende muito mais. É uma coisa muito boa, nossa, o relacionamento, essa família APABB, bom demais. Só temos a aprender umas com as outras.5 Assim, os depoimentos colhidos demonstram uma visão positiva da APABB enquanto instituição e espaço para a convivência entre as mães e entre as pessoas com deficiência, embora a realização do direito se dá de forma fragmentada. Quanto aos serviços prestados pelo Serviço Social, as entrevistadas o associaram estritamente ao trabalho prestado pelas assistentes sociais, espelhando o momento que a associação está vivenciando. A questão que emergiu nas entrevistas sobre o Serviço Social na APABB foi a comparação entre a atuação das assistentes sociais. Registre-se que a instituição acaba de dispensar uma profissional que atuava há seis anos e contratou uma nova profissional. Assim, ao questionar sobre o Serviço Social, todas as entrevistadas fizeram referência ao trabalho de uma em relação ao da outra. O depoimento da entrevistada expressa esta situação: Eu acho que no momento o Serviço Social da APABB está deixando muito a desejar. A APBB desde que meu filho entrou é muito voltada para as famílias. E ultimamente não está sendo assim. Tem muita família precisando de apoio de uma palavra, né? É ... muitas desejam instrução como fazer ou não fazer. E não está tendo como. Reconheço as dificuldades. Reconheço que não tem estagiário, que a assistente social atual tem pouco tempo e que a anterior tinha uma bagagem melhor para lidar, né? 6 Outra entrevistada registra as diferenças de atuação das profissionais mas faz referência ao pouco tempo de atuação da profissional atual 5 Informe repassado em entrevista realizada com as mães em 03.08.2010. 6 Idem 57 Na verdade, eu acho assim. Eu estou achando até muito pouco tempo. Tem uma diferençazinha aí. Porque ela (a profissional novata) quando a gente vem aqui na terça, ela está pouco. Ela é uma pessoa educada e tal, mas, em relação a outra assistente social, que já tem mais tempo, já vem de mais anos, entendeu. Eu acho que não dá para comparar. Por exemplo, eu, da assistente social, eu ainda não precisei da assistência. Não sei se você vai me entender... Eu prá uso meu, da minha família, eu ainda não fiz uso.7 Outra entrevistada relata uma boa experiência com o Serviço Social Eu gosto, porque tudo aquilo que a gente precisa saber, sobre os meninos com deficiência, elas (as assistentes sociais) tem boa vontade de ajudar, tem boa vontade de indicar. Eu gosto delas, são muito educadas, tem uma paciência enorme, tanto com as crianças quanto com as mães. Prá mim é ótimo. Além do que num precisa a gente ficar preocupada, esquecer uma reunião, que elas ligam. Esta semana mesmo, a assistente social, me ligou “oh, vai começar o esporte”. Se fosse outra instituição eles nem ligavam de ligar para lembrar. Eu gosto , elas são muito atenciosas, são educadas. 8 Apareceu nos depoimentos um entendimento de que o assistente social deve acompanhar as famílias, estar mais próxima numa relação quase que familiar, de compadrio. As visitas domiciliares aparecem mais dentro deste tipo de relação do que como um dos instrumentais do profissional, de sua atribuição técnica ou dentro de um programa com intecionalidades. A gente espera que melhore, que esta parte melhore (as visitas) que ela consiga fazer as visitas. Só, voltando a ser o que era. Que na época da assistente social ´x´ . Você se lembra da assistente social ´x´ ? Ela ia para nossa cidade, visitava um, visitava outro, ia pra todo lado. Então, as mães antigas já estão acostumadas com este fato, de poder contar, de ter uma pessoa para ouvir. Muitas vezes é só para ouvir. E isto num está tendo. As assistentes sociais ´x´ e ´y´ já foram na casa de todo mundo, elas vêem como é o dia a dia da gente, vê onde a gente mora e tal. 9 Dentre as competências do Serviço Social previstas pela instituição estão as visitas domiciliares (inciso I, artigo 84) que podem ser entendidas como um dos instrumentos ou técnicas a disposição do profissional na elaboração, por exemplo, do estudo sócio econômico também previsto no inciso X , que visam a concessão de bolsas pela instituição. 7 Informe repassado em entrevista realizada com as mães em 03.08.2010. 8 Idem 9 Idem 58 É importante refletir aqui conforme Guerra (2000, p. 9) Isto porque há algo que precede a discussão de instrumentos e técnicas para a ação profissional, que no nosso entendimento refere-se à instrumentalidade do Serviço Social, ou melhor, à dimensão que o componente instrumental ocupa na constituição da profissão. Para além das definições operacionais (o que faz, como faz), necessitamos compreender ´para que´ (para quem, onde e quando fazer) e analisar quais as conseqüências que no nível ´mediato´ as nossas ações profissionais produzem. Aqui questiona-se qual o significado que o Serviço Social está atribuindo as visitas domiciliares que veio através dos anos realizando aos associados. Qual o componente teleológico que vem sendo dado a estas visitas. Aqui Guerra (2000, p. 59) esclarece sobre a importância no manejo das requisições técnico instrumentais que são postas, institucionalmente, ao Serviço Social: Com isso queremos afirmar que reconhecer e atender às requisições técnico instrumentais da profissão não significa ser funcional à manutenção da ordem ou ao projeto burguês. Isto pode vir a ocorrer quando se reduz a intervenção profissional à sua dimensão instrumental. Esta é necessária para garantir a eficácia e eficiência operatória da profissão. Porém, reduzir o fazer profissional a sua dimensão técnico instrumental significa tornar o Serviço Social um meio para alcance de qualquer finalidade. Significa também limitar as demandas profissionais às exigências do mercado de trabalho. É também equivocado pensar que para realizá-las o profissional possa prescindir de referências teóricas e ético políticas. Além do bem estar causado pelas visitas do assistente social relatado pela entrevistada, das demandas dos estudos sócio econômicos, não há registros do tratamento que tenha sido dado pelo Serviço Social, às visitas que se mostraram tão freqüentes no passado da instituição. Outra questão levantada junto às mães entrevistadas foi sobre os programas e projetos coordenados pelo Serviço Social e sua repercussão na vida da pessoa com deficiência. Tempos atrás o Serviço Social se propunha a trabalhar com o grupo de mães enquanto elas aguardavam os filhos que participavam do programa Movimento (Esportes). O fato do programa acontecer no espaço da Universidade UNI BH favorecia a programação de palestras e filmes selecionadas e promovidas pelo Serviço Social. As mães relataram a seguinte visão destes momentos: No período que a gente esta lá na UNI, enquanto os meninos estavam no esporte, a gente tinha uma palestra. Teve uma palestra muito bacana sobre a pirâmide da família. No fim termina tão triste, sabe, todo mundo chora com a musiquinha que ela canta. E outras vezes a assistente social passava filme 59 para nós. Nós assistíamos com ela. Isto marca a gente porque geralmente tem uma pessoa com deficiência na família e a história se desenrola voltada para o especial, que a gente gostava muito. Então assim, para mim o que eu gostava mais é das palestras. Eu adoro palestras. 10 A mãe registra, num diálogo bem informal, as contribuições que passou a receber da APABB enquanto ficava esperando o(a) filho(a) praticar as atividades do programa de esporte, participando do grupo e das atividades propostas pelo Serviço Social. Fica patente a importância que atribui ao seu papel ao extrapolar um mero acompanhante dos filhos, mas se referencia também, na oportunidade de se enturmar e de atualizar os conhecimentos sobre pessoas com deficiências. O depoimento da mãe demonstra a valoração do aproveitamento deste espaço e deste tempo. Dentro do horário que o menino está no esporte e a gente fazer outra atividade é uma maravilha, não pode ser o contrário. Para mim tem que ser na hora ela ta na atividade dela e eu aproveitando aquele horário para estar em outra, né? Eu o que vier, está bom. Quanto mais eu ficar sabendo, quanto mais eu ficar conhecendo,sabe? Igual, quando a gente está assim na reunião. Você fica dentro de casa, às vezes a pessoa fala assim ´aquela pessoa ali não entende nada porque só leva menino para a escola, só leva menino no esporte´. Mas não acha que a gente tem aquela visão do que está acontecendo, sabe? Então, foi esta semana mesmo eu comentei com minha irmã. Falei assim: oh, você sabe, você está achando que eu levo a minha filha prá e isso e prá aquilo, que eu não estou enturmada? Engano seu. Porque no esporte, tanto eu fico enturmada como na escola. Tudo que refere aos meninos com deficiência, não é que dizer que a mãe é banal, não. Pois a mãe fica sabendo de muita coisa, fica por dentro de muita coisa. 11 Às entrevistadas foi solicitado que expressassem suas sugestões para o Serviço Social: Eu vejo muito assim. Uma atividade para as mães. Para as mães descansarem um dia, umas horas, umas quatro horas, né? Um cinema para as mães assistirem, tomar um cafezinho, comer um biscoitinho no bar da esquina. Essas coisinhas simples, né? Eu acho assim, nós temos muitas mães com muita sobrecarga, a luta é muito grande, né? Precisa destas três ou quatro horinhas, uma hora em que os meninos forem para uma atividade, né? Ter uma pessoa que vai com as mães para outra naquele período. Descansar a cabeça, porque tem mãe que não sai de casa, né? A não ser para levar para o esporte ou para levar para a escola. No dia a dia não passeia, não vai a lugar nenhum. Eu sugiro palestras que puxasse mais, com temas interessantes como sexualidade, até porque tem uma hora que eu 10 Informe repassado em entrevista realizada com as mães em 03.08.2010. 11 Idem 60 também não sei lidar com o problema. A gente na ignorância da gente fica meio perdida. Quando você fala a palavra sexo. Pronto. Acabou. Todo mundo fica, nossa senhora, né? Então você fica calada. 12 “É sempre bom as palestras, filmes, como era antigamente. Isto ajuda muito, nos distrai, a gente aprende alguma coisa. É bom que continue com as palestras, porque o que trouxer vai ser importante, estando ali com a gente. O que trouxerem de novidade, o que puderem trazer vai ser muito bom, muito proveitoso.13 A pesquisa realizada captou um pouco da visão que os usuários possuem do Serviço Social na instituição. Emergiram concepções equivocadas da atuação do Serviço Social tais como a “ajuda” que é requerida do Serviço Social. Uma das entrevistadas, porém, relata um entendimento melhor condizente com a atuação profissional : “Tem coisa que a gente não tem noção dos direitos da gente. Tem que ter uma assistente social para instruir a gente, você pode fazer isto, isto não pode.” 14. Mas de modo geral há uma necessidade da proximidade do profissional como apoio, ajuda, alguém que possa ouvir, consolar. Sobre projetos desenvolvidos pelo Serviço Social, todas as entrevistadas relataram sentir falta de palestras, filmes, que em tempo recente o Serviço Social conduzia e durante os quais as mães se identificavam com várias situações e elegem este espaço como oportunidade de qualificação para melhor compreender seus filhos e as questões das deficiências. Embora a instituição preveja em seu regimento a participação do assistente social nos espaços públicos dos conselhos ou de representação da pessoa com deficiência, não há registro de que esta participação tenha promovido uma participação das mães nestes espaços. Portanto, as ações estão sempre voltadas para questões individuais, não havendo um sentimento coletivo de defesa dos direitos. Esta situação é uma das que demonstra um sempre esperar que a instituição faça pelos seus usuários aquilo que deveria ser um compromisso coletivo. 12 Informe repassado em entrevista realizada com as mães em 03.08.2010. 13 Idem 14 Idem. 61 Aqui, parece haver um hiato entre a atuação profissional com as oportunidades de mobilizar as famílias na defesa dos direitos das pessoas com deficiência e no aspecto do protagonismo destas famílias. Na realidade, o Serviço Social, está estruturado na instituição de modo que atue de forma transversal, exercendo um fator de propulsão para estas famílias. No entanto, o que aparenta é um grupo de mães muito mais receptivas e com poucas características de militância por melhores condições de vida para as pessoas com deficiência. Esta, porém, não foi a questão de foco desta pesquisa. Mas é um tema que precisa ser discutido. A questão de foco foi o grau de satisfação dos usuários com o Serviço Social e neste ponto os questionários conforme gráficos apresentados demonstram um quadro de insatisfação ou de envolvimento inexpressivo dos associados. Ao mesmo tempo as entrevistas mostraram uma vinculação do Serviço Social ao grau de ajuda, aquilo que o assistente social pode fazer por cada situação individual e requisitam sempre atenção dos profissionais às mães individualmente. Portanto, seria de bom tom repensar o que é, o que faz, ou o que deveria ser e fazer o Serviço Social na APABB, tanto dentro das próprias expectativas que a instituição tem sobre o Serviço Social quanto trabalhar com novas possibilidades de aperfeiçoamento do Serviço Social. É importante registrar algumas competências e atribuições (macro) do assistente social fundamentais à compreensão do contexto no qual situa sua intervenção e que demanda do profissional:15 - apreender de forma crítica os processos sociais de produção e reprodução das relações sociais na perspectiva da totalidade; 15 Extraído de “Parâmetros para atuação de assistentes sociais na política de Assistência Social” – série: Trabalho e projeto profissional nas políticas sociais – publicação do Conselho Federal de Serviço Social, Brasília, 2010 62 - analisar o movimento histórico da sociedade brasileira, compreendendo as particularidades do desenvolvimento capitalista bem como as particularidades regionais; - compreender o significado social da profissão, seu desenvolvimento sócio histórico, desvelando possibilidades de ação contidas na realidade; - identificar as demandas postas pela sociedade, propiciando a formulação de propostas profissionais para o enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre o público e o privado. São estas competências que capacitam ao profissional proceder uma análise crítica da realidade, do seu contexto, para estruturar seu trabalho de forma a realizar o enfrentamento das situações com que se defronta em seu cotidiano, tão bem expressadas por Iamamoto (2002) É de suma importância para a consolidação do projeto ético-políticpo impulsionar um conhecimento criterioso do modo de vida e de trabalho - e correspondentes expressões culturais - dos segmentos populacionais atendidos, criando um acervo de dados sobre as expressões da questão social nos diferentes espaços ocupacionais do assistente social. A aproximação a população é uma das condições para permitir impulsionar ações inovadoras no sentido de reconhecer e atender às efetivas necessidades dos segmentos subalternizados. Caso contrário, o assistente social poderá dispor de um discurso de compromisso ético-político com a população sobreposto a uma relação de estranhamento perante essa população, reeditando programas e projetos alheios às suas necessidades, ainda que em nome do compromisso. Para um compromisso com usuário é necessário romper as rotinas e a burocracia estéreis, potenciar as coletas de informações nos atendimentos, pensar a reorganização do plano de trabalho tendo em vista as reais condições de vida dos usuários. Em outros termos, identificar como a questão social vem forjando a vida material, a cultura, a sociabilidade, afetando a dignidade da população atendida. Enfim, é o conhecimento criterioso dos processos sociais e sua vivência pelos indivíduos sociais que poderá alimentar propostas inovadoras, capazes de propiciar o reconhecimento e atendimento às efetivas necessidades sociais dos segmentos subalternizados, alvos das ações institucionais. Aquele conhecimento é pré-requisito para impulsionar a consciência crítica e uma cultura pública democrática para além das mistificações difundidas pela mídia. Isso requer também estratégias técnico-políticas no campo da comunicação social – no emprego da linguagem escrita, oral e midiática-, para o desencadeamento de ações coletivas que viabilizem propostas profissionais capazes para além das demandas instituídas. (IAMAMOTO, 2002, p.28) 63 CONSIDERAÇÕES GERAIS Não há como negar que no contexto de estruturação das organizações de terceiro setor co-habitam instituições sérias e outras duvidosas, aspecto de amplo conhecimento da sociedade e, muitas vezes, denunciado pela mídia. No entanto, esta é uma realidade que precisa cada vez mais ser acompanhada sob rigorosos padrões de qualidade, eficiência, eficácia e transparência, tanto pela sociedade civil quanto pelo Estado. Sendo que tanto a este quanto a sociedade civil organizada cabe prover e aplicar mecanismos de controle social. Os desafios enfrentados pela sociedade contemporânea mostram que o desenvolvimento econômico não é suficiente para promover a justiça social. Ao contrário, o que o presente século descortina é que a área social tornou-se central para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana e menos desigual, revelando que a atividade econômica é um dos meios, e que o bem estar social constitui o fim a ser perseguido e alcançado de forma sustentável. O Estado brasileiro necessita repensar seu projeto societário, de modo a desvelar a questão: O que significa estar classificada como a oitava ou nova economia do planeta e estar ranqueada mundialmente como a 79ª no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)? Embora haja os defensores do terceiro setor como uma das alternativas à ineficiência do Estado, o que vemos é que na sociedade brasileira, o terceiro setor aparece como um processo que de forma dupla recebe a transferência das responsabilidade governamentais às ONG´s, OSCIP´s e produz uma mercantilização do atendimento às necessidades sociais, o que é visível nas áreas da saúde, educação entre outras, desconhecendo e despolitizando a abordagem da questão social. (IAMAMOTO, 2002) O “caso” da APABB demonstra que se agregando profissionalismo, ativismo institucional, mobilização social, participação comunitária e uma dose de muita seriedade é possível construir programas eficientes que atendam a uma parcela da população que, precisa, cada vez mais, de uma atuação constante, abrangente e articulada por parte de todos os setores da sociedade. Mas demonstra, sobretudo, a 64 ineficiência do Estado brasileiro em atender à população que necessita destes serviços e de ter seus direitos implementados. Segundo Iamamoto (2002) esta lógica impacta o trabalho do assistente social pois A universalidade no acesso nos programas e projetos sociais abertos a todos os cidadãos, só é possível no âmbito do Estado. Este, ainda que seja um Estado de classe, dispõe de uma dimensão pública que expressa a luta pelos interesses da coletividade. Projetos levados a efeito por organizações privadas apresentam uma característica básica que os diferencia: não se movem pelo interesse público e sim pelo interesse privado de certos grupos e segmentos sociais, reforçando a seletividade no atendimento, segundo critérios estabelecidos pelos mantenedores e não fruto de uma negociação coletiva. A decisão quanto ao acesso ou não aos serviços, ao passar da esfera pública para a esfera privada, deixa de ser um direito resguardado por lei e passível de ser defendido na justiça. Portanto, ainda que o trabalho concreto do assistente social seja idêntico – no seu conteúdo útil e formas de processamento, o sentido e resultados sociais desses trabalhos são inteiramente distintos, visto que presididos por lógicas diferentes: a do direito privado e do direito público, alterando-se, pois, o significado social do trabalho técnico-profissional e o seu nível de abrangência. (IAMAMOTO, 2002, p. 30) Portanto, à vista destas reflexões, recai sobre o profissional assistente social um desafio significativo: articular os interesses da população usuária, as exigências institucionais com seu compromisso ético político com a profissão. Dentre estes desafios se inclui a capacidade de consicentização e mobilização deste público pela luta e defesa dos direitos das pessoas com deficiência nos espaços públicos de controle social. 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, Mônica. O trabalho do assistente social nas organizações privadas não lucrativas. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. (Publicação: Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, Associação de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS V. 1) Brasília, CFESS/ABEPSS, 2009. p. 449-460. ALMEIDA , Érica T. Vieira. Crítica da metamorfose do conceito de sociedade civil em “terceiro setor”. In: Serviço Social e Sociedade, São Paulo, Cortez Editora, Ano XXV, n.80, Nov. 2004, Cortez Editora CABRAL, Eloísa Helena de Souza, NETO, João Clemente de Souza (org.) Temas do Desenvolvimento: reflexões críticas sobre inovações sociais. 1ª. Ed. Expressão & Arte Editora, São Paulo, 2009. COELHO, Simone de Castro Tavares. 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