LUCIANE NEVES BEPPLER MUDANÇA ORGANIZACIONAL E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL Projeto de final de curso apresentado à Profª Doutora Isabella Freitas Gouveia de Vasconcelos com o objetivo de obter créditos na disciplina Teoria das Organizações CURITIBA 2002 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 01 2. MUDANÇA ORGANIZACIONAL.......................................................................... 02 3. CULTURA ORGANIZACIONAL............................................................................ 03 4. SOCIEDADE, CULTURA E IDENTIDADE SOCIAL............................................ 05 5. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL...................................................... 06 6. MUDANÇA ORGANIZACIONAL E RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL...................................................................................................................... 07 7. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA E DO CASO DE ESTUDO 08 8. MÉTODO DE PESQUISA A SER SEGUIDO.......................................................... 08 9. CONCLUSÃO............................................................................................................ 09 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................... 11 1. INTRODUÇÃO Quando se pensa em mudança organizacional, há uma tendência de se concentrar primeiro em aspectos como redesenho de estrutura organizacional, replanejamento de procedimentos e realocação de pessoal. Isso acontece devido a idéia de implementar eficiente e eficazmente as mudanças, com custo mínimo para a organização. No entanto, costuma-se subestimar o impacto das mudanças no principal componente do sistema organizacional: as pessoas. Pessoas não podem ser simplesmente transferidas de uma sala para outra, religadas, reconfiguradas e sair produzindo como máquinas. Os indivíduos têm que ser preparados para o processo de mudança, uma vez que toda a rotina de trabalho com que estão acostumados pode ser radicalmente mudada. Usando a imagem de MORGAN, pessoas tendem a se apegar à suas rotinas como se apegavam a um ursinho de pelúcia na infância. Ou ainda conforme JONES, a mudança pode trazer conflito e resistência, uma vez que se está mexendo com estruturas de poder pré-existentes. Mais do que isso, o que está em cheque é a cultura anterior da organização e cultura é mais do que uma variável externa, ela é o resultado da interação entre as características dos membros da organização, em especial o fundador, a ética organizacional, o sistema de direito de propriedade e a estrutura organizacional. Daí a dificuldade em se implantar mudanças, pois se está trabalhando com no mínimo quatro variáveis em constante dinâmica. O fator principal e mais difícil de ser “gerenciado” em um processo de mudança é justamente aquele mais afetado por ela, o indivíduo. Mudanças tendem a exigir do indivíduo uma tarefa de reconstrução da identidade social, uma vez que a atuação e a autoridade dos indivíduos podem ser afetadas durante um processo como este. Veremos como alguns autores consideram a formação da identidade social determinada pela socialização primária e como outros apontam que os indivíduos estão em constante dinâmica e evolução. Veremos também os resultados que podem advir de um processo de mudança e como lidar com eles. O objetivo do presente trabalho é apresentar o embasamento teórico que venha a subsidiar a proposta de um modelo de transição que facilite o processo de reconstrução da identidade social no trabalho durante um processo de mudança organizacional. 1 2. MUDANÇA ORGANIZACIONAL Para JONES, mudança organizacional é o processo pelo qual organizações vão do seu estado presente para algum outro estado futuro desejado para aumentar sua eficácia. Mudança é o processo de ruptura com o modelo antigo. A mudança ocorre em razão de alterações ambientais externas e internas. As pessoas ou o mercado podem exigir que a organização se adapte a uma nova situação. Forças competitivas, econômicas, políticas e globais, demográficas e sociais e éticas podem criar a necessidade de mudança. JONES ressalta que a resistência organizacional é um dos principais obstáculos à mudança. A resistência acaba por causar inércia e pode ser encontrada nos níveis de subunidade, grupo e indivíduos e organização. São resistências para a mudança: Estrutura organizacional, cultura organizacional, estratégia organizacional, diferenças na orientação de sub-unidade, poder e conflito, normas do grupo, coesão do grupo, pensamento de grupo e aumento de comprometimento, distorções (viéses) cognitivos, incerteza e insegurança, percepção seletiva e retenção, hábitos. A Teoria da Mudança do Campo de Força de Lewin demonstra como as forças pró e contra a mudança atuam sempre de forma oposta e como a organização se equilibra entre estas duas forças. Para obter mudança precisa-se adotar uma estratégia que aumente as forças pró mudança e/ou reduza as que são contra. Quando a estrutura organizacional não atende mais aos propósitos da organização a mudança se faz necessária. Mudanças podem ser evolucionárias, ou seja, mudanças graduais, incrementais e com foco específico, ou revolucionárias, ou seja, mudanças súbitas, drásticas e de grande escopo organizacional. A organização pode selecionar diferentes abordagens para implantar mudanças revolucionárias para obter resultados rápidos. Espera-se que uma mudança cause uma evolução na organização como um todo, mas em muitos casos problemas relacionados à resistência e perda de identidade social podem ocorrer e o administrador deve estar atento para este fato. Resistências são comuns, pois além de estarem migrando para uma situação nova e desconhecida, pode haver perda de poder e influências psíquicas. Normas e regras podem ser usadas como esconderijos, máscaras que o indivíduo usa para exercer uma personalidade que ele só revela no trabalho. 2 Por usar o papel que possui como válvula de escape, o indivíduo cria uma relação de dependência com seu papel, ficando preso em um calabouço criado por ele próprio [MORGAN]. Também o apego ao poder exerce domínio sobre os indivíduos. A lógica da estrutura familiar pode ser transferida por processos psíquicos para a organização, e uma mudança nos papéis, autoridades e relacionamento pode ser encarada como um abandono ou traição. Mecanismos de defesa como a idealização e bodes expiatórios poderão ser usados para resistir à mudança. Para PARSONS o tipo de processo característico de sistemas sociais é a interação. Para interagir o indivíduo utiliza uma linguagem que é um sistema de símbolos que têm sentido em um código, que funciona como uma estrutura normativa. O processo de comunicação que conduz a uma resposta está um pouco relacionado a uma ou mais recepções comunicativas que podemos denominar de decisão. PARSONS diz que este processo ocorre dentro da personalidade do ator. Uma decisão é a combinação de fatores e todos os processos sociais podem ser concebidos como a combinação e recombinação de fatores variáveis e comunicáveis. Muitos processos complexos são necessários para manter um sistema societário. A nível teórico geral não existe diferença entre processos que servem para manutenção ou mudança de um sistema. Entre os processos de mudança, o tipo mais importante para a perspectiva evolutiva é o aumento de capacidade adaptativa, seja pelo surgimento interno de uma nova estrutura, seja pelo surgimento externo desta ou através da difusão cultural e da interferência de outros fatores em combinação com o novo tipo de estrutura. O componente final do processo de mudança refere-se a relação com o sistema de valor da sociedade. Quando se institucionaliza um padrão, estabelece-se a conveniência de um tipo geral de sistema social. 3. CULTURA ORGANIZACIONAL Cultura é o conjunto de valores, símbolos, crenças, ritos, mitos, hábitos que variam de sociedade para sociedade e são socialmente construídos em nossa atividade quotidiana, são modelos mentais. Segundo BERGER e LUCKMANN o indivíduo influencia a organização e é influenciado por ela. O relacionamento da cultura com o ambiente e com os indivíduos é sistêmico e funciona em circuito duplo. 3 Para SMIRCICH, a cultura pode ser entendida como uma variável, algo a ser criado e controlado ou como uma metáfora da própria organização e até da realidade social em que estão mergulhadas as organizações, analisadas em seus aspectos simbólicos e ideológicos. A cultura dominante tende a ser a daqueles indivíduos e equipes responsáveis pela geração de lucro para a empresa. JONES afirma que é a cultura organizacional que determina o modo como as decisões são tomadas, a forma de interpretação e gerenciamento do ambiente organizacional, o uso da informação e o modo como os atores sociais se comportam. Com relação ao aprendizado organizacional, as culturas podem ser culturas adaptativas, que são aquelas que valorizam a inovação e encorajam e recompensam a experimentação e a aceitação de riscos pelos gerentes de médio e baixo escalão, ou culturas inertes, que são cautelosas e conservadoras, com a opção de não correr riscos. A cultura organizacional pode ser identificada nas estórias, heróis, linguagem e cerimônias da organização. O fundador da empresa costuma imprimir sua marca pessoal à cultura da empresa e as organizações tende a selecionar e a serem selecionadas por pessoas que compartilham seus valores e crenças. Também é interessante relembrar o conceito fornecido por JONES de que organizações com diferentes estruturas organizacionais tendem a desenvolver diferentes culturas organizacionais. Estruturas mecânicas privilegiam culturas previsíveis e estáveis, já as orgânicas costumam ter culturas inovadoras e flexíveis Uma organização pode ter mais de uma cultura, resultante de sua história evolutiva. Sub-grupos podem ter orientações culturais diferentes dentro de uma mesma empresa de acordo com a experiência dos diversos atores sociais, segundo BORZEIX e LINHART. Para MORGAN, assim como indivíduos numa cultura têm diferentes personalidades enquanto compartilham de muitas coisas em comum, isto também ocorre com grupos e organizações. As organizações são mini-sociedades que têm os seus próprios padrões distintos de cultura e subcultura. Ou seja, as visões que cada organização tem de si mesma podem ser variadas. Tais padrões de crenças ou significados compartilhados, fragmentados ou integrados, apoiados em várias normas operacionais e rituais, podem exercer influência decisiva na habilidade total da organização em lidar com os desafios que enfrenta. 4 4. SOCIEDADE, CULTURA E IDENTIDADE SOCIAL Segundo PARSONS, uma sociedade precisa constituir uma comunidade que tenha níveis adequados de integração e participação. O sistema cultural é o responsável pela legitimação da comunidade societária, através de um sistema de simbolismo constituitivo que fundamenta a identidade, a solidariedade, as crenças, os rituais e outros componentes culturais que corporificam esse simbolismo. Portanto, a auto-suficiência de uma sociedade inclui o fato de institucionalizar uma amplitude suficiente de compontentes culturais, de forma a atender, de maneira relativamente satisfatória, suas exigências societárias. Então pode-se entender uma comunidade societária como uma relação entre dois fatores: uma ordem normativa e uma população coletivamente organizada. No aspecto normativo podemos citar normas e valores. Os valores podem ser entendidos como o elemento primário de ligação entre o sistema cultural e o social e regulam a manutenção de padrões de um sistema social. As normas são fundamentalmente sociais, podendo evoluir para o sistema legal em sociedades mais adiantadas. As normas são, fundamentalmente, integrativas. A coletividade é a categoria de estrutura intra-social, e seu funcionamento refere-se à realização efetiva dos indivíduos, em nome do sistema social. O papel é a categoria de estrutura de limite e tem função adaptativa. A conclusão de PARSONS é que dentro de certos limites, parece que qualquer coletividade colocada em certa situação, ou a realizar determinada função, será regulada por certa norma, quaisquer que sejam as suas outras características. Para CASTELLS, as estruturas sociais emergentes nos domínios da atividade e experiência humana levam a conclusão de que como tendência histórica, as funções e os processos dominantes na era da informação estão cada vez mais organizados em torno de redes. Nestas redes a distância varia entre zero, para os componentes de uma mesma rede, e infinito, para os componentes de redes que não se interligam. Com isso o processo de trabalho é cada vez mais individualizado, e a mão-de-obra está comprometida com o resultado, distribuída geograficamente e operando em uma divisão de trabalho que privilegia os atributos e capacidades de cada trabalhador ao invés de focar na organização da tarefa. CASTELLS afirma ainda que os processos de transformação social sintetizados 5 no tipo ideal de sociedade em rede ultrapassam a esfera de relações sociais e técnicas de produção: afetam a cultura e o poder de forma profunda. A liderança é personalizada, e a formação de imagem é a forma de gerar poder, pois sejam quais forem os atores políticos e suas preferências, eles existem no jogo do poder praticado através da mídia e por ela. 5. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL Para BERGER e LUCKMANN a identidade do indíviduo é formada não só pelos valores internalizados na primeira infância, mas também através de processos de aprendizado e internalização contínua de valores. Na visão dos autores, a identidade e as escolhas das pessoas não ocorrem de forma determinística, não somos fantoches porque podemos interromper nossos movimentos a qualquer momento. Temos a capacidade de escolher entre comportamentos de acordo com nossos valores primários e a contingência do momento. A interação e a negociação se aglutinam aos valores nas decisões que o indivíduo toma e ele é flexível para mudar de acordo com a situação que enfrenta. do ponto de vista de PARSONS, a identidade social do indivíduo é determinada pelos valores da primeira infância. Para PARSONS o indivíduo é em relação ao grupo. Em contraponto a esta leitura determinística, Weber atribui ao indivíduo a liberdade de decisão, o livre arbítrio. A teoria de racionalidade limitada de SIMON afirma que a cognição restringe as decisões. Na tomada de decisões ocorrem mais acertos do que erros, mas isso é imprevisível, já que o indivíduo não dispõe nem de toda a informação e capacidade de processamento necessária, dispõe de pouco tempo para decidir e ainda tende a tirar conclusões baseado em suas experiências anteriores. O Modelo Carnegie de Decisão se apóia no conceito de racionalidade limitada. A metáfora da cebola de ERIKSON mostra que as identidades do indivíduo são construídas em camadas. Novas situações as quais o indivíduo é submetido, induzem a criação de uma nova identidade. O núcleo primário é formado na socialização primária (família) e é composto pelos valores de base. A socialização secundária ocorre na escola e no convívio com os amigos e forma o segundo núcleo. 6 Os indivíduos têm a necessidade de serem reconhecidos pelo grupo, pois a partir deste reconhecimento eles formam uma imagem de si próprios. O grupo seria o referencial para a formação da identidade social do indivíduo. No processo de formação de identidade, o indivíduo utiliza valores que já possui em comparação com os valores que identifica durante o processo de socialização que ocorre na organização. Da mesma forma que as organizações adotam padrões institucionais, muitas vezes às custas de sua eficiência, também os indivíduos tendem a institucionalizar comportamentos aprovados pela organização para alcançar legitimidade social, mesmo às custas de seus valores pessoais. Daí a capacidade de mudar e se adaptar pode se tornar um diferencial competitivo a nível individual da mesma forma que ocorre a nível organizacional. Também indivíduos que tenham habilidades políticas e de negociação podem, como as organizações, buscar institucionalizar ou regulamentar procedimentos nos quais eles acreditam ou que lhes trazem lucro, através de sua influência junto a níveis mais altos de gerência. Citando RODRIGUES, “descarta-se a difícil construção de uma identidade própria, aceitando-se algo que está pronto e que oferece, de certa forma, um sentido à pessoa, ao grupo e à organização”. 6. MUDANÇA E RECONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL Citando VASCONCELOS "Como não se mudam rapidamente estruturas internas frutos de uma ação adaptativa desenvolvida durante anos, a resistência à mudança pode ser diminuida à medida em que se dê possibilidades de ação ao indivíduo, dentro da nova estrutura, onde ele possa utilizar os meios de ação e cognição desenvolvidos na estrutura organizacional anterior para identificar-se com o novo projeto de organização proposto, adaptando parcialmente suas estratégias de ação às novas perspectivas que lhe são oferecidas. Trata-se de efetuar um diagnóstico anterior do sistema social e de prever-se, dentro do processo de mudança organizacional, uma estrutura de transição que oferece aos atores sociais um espaço de reconstrução identitária individual e/ou coletiva." Com base no raciocínio citado acima, pretende-se propor a criação de mecanismos pelos quais os indivíduos possam negociar e criar uma nova identidade social a partir das experiências pré-existentes e do enfrentamento a desafios novos que exijam novas posturas e reações. Neste processo seriam desenvolvidas uma cultura e estrutura organizacional de 7 transição, que dependendo do grau de mudança, evoluiria gradualmente para até o modelo desejado. Propõe-se também que a organização disponibilize formas de aprendizado e adaptação às novidades àqueles funcionários que se interessarem em acompanhar a mudança no ritmo em que ela acontece. Políticas que permitam a desvinculação dos subgrupos e indivíduos que não conseguem se adaptar à nova cultura, como programa de demissão voluntária, por exemplo, também podem ser utilizadas para facilitar a transição. 7. IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA E DO CASO DE ESTUDO Pretende-se propor uma estratégia de mudança com reconstrução de identidade social e cultural para uma empresa atuante no setor de Tecnologia de Informação para o setor público, atuante no estado do Paraná, que pretende implantar mudanças em sua estrutura organizacional e no processo de controle de qualidade. A idéia é fazer um levantamento das culturas atuantes hoje na empresa sob a luz de diversas metáforas, abordando as visões política, cultural, de prisão psíquica, holográfica, orgânica, entre outras. Com esse levantamento acredita-se ser possível fazer um diagnóstico organizacional e traçar um plano que consiga levar a organização da situação atual para a situação desejada, seja ela qual for, com risco mínimo à eficiência das pessoas envolvidas no processo. Deseja-se que a transição seja uma experiência evolutiva e enriquecedora, que cause o mínimo possível de conflitos e traumas aos indivíduos e grupos. 8. MÉTODO DE PESQUISA A SER SEGUIDO Como citado por BURRELL e MORGAN, todas as teorias de organização estão baseadas em uma filosofia da ciência e em um teoria da sociedade. Para esta pesquisa pretende-se adotar um modelo próximo do paradigma radical humanista. A natureza ontológica será baseada no nominalismo ou convencionalismo, que considera que o mundo externo à cognição do indivíduo é uma coleção de nomes, conceitos e rótulos usados para estruturar a realidade. A epistemologia tende ao não positivismo, pois entende-se que a obtenção de dados deve ocorrer através da vivência das situações em conjunto com o “objeto” da análise. As situações e os dados não devem ser pesquisados, mas vivenciados. A natureza do homem será considerada como não-determinística, pois concorda-se com 8 BERGER e LUCKMAN no sentido de que o homem tem condições de fazer escolhas dada uma determinada circunstância, podendo até mesmo alterar seus valores e crenças. O ser humano evolui, se assim o desejar. A abordagem metodológica tenderá a ser ideográfica, emfatizando a análise de questões subjetivas através do envolvimento do pesquisador com o objeto de pesquisa. Pretende-se proceder uma pesquisa qualitativa, buscando identificar a cultura verdadeira e as diferenças entre a cultura explícita e a subentendida. Para isso acredita-se necessário identificar qual é a imagem que o grupo tem de si mesmo, dos outros grupos e da empresa. Também pode-se trabalhar junto com parcelas representativas da população organizacional para identificar maiores detalhes da cultura forma e informal, bem como as reações individuais ao processo de mudança. Devem ser exploradas várias “metáforas” organizacionais, identificando prisões psíquicas, jogos de poder, aprendizado holográfico, entre outras. Os resultados que a pesquisa a ser realizada pode vir a buscar atingir são os seguintes: Identificar se o comportamento dos indivíduos é ou não determinístico em relação à tomada de decisões e de que fatores esta característica depende; Verificar na prática a institucionalização de comportamentos organizacionais por parte dos indivíduos (aplicação da teoria do neo-institucionalismo a nível individual); Fornecer um mapa das diversas culturas formais e informais que compõem a cultura organizacional e da responsividade dos diversos grupos ao processo de mudança; Traçar uma relação entre estrutura organizacional e cultura organizacional na tentativa de reconhecer qual a melhor estrutura para a cultura, tecnologia, produto e complexidade de processo de produção desenvolvido pela organização. 9. CONCLUSÃO A capacidade de reagir à mudança de forma ágil e eficiente passou a ser um requisito para as organizações modernas. Estruturas organizacionais que facilitem o processo de mudança vêm sendo adotadas cada vez com maior freqüência. No entanto o processo de mudança não é simples, uma vez que existem muitos fatores que se interrelacionam e 9 afetam a dinâmica da mudança. A estrutura organizacional, a cultura de grupos e sub grupos da organização, as expectativas, talentos e limitações individuais e a pressão do mercado são alguns destes fatores que tornam tão delicado o processo de mudança. Entre eles, cultura organizacional e individual, com valores, normas, mitos e tradições organizacionais e pessoais são as mais críticas no processo de evolução. Da mesma forma que a estrutura organizacional afeta os valores culturais, a cultura também melhora o modo que a organização controla e motiva os recursos organizacionais em uma relação de mão dupla. Tanto o indivíduo e a organização atuam sobre a cultura e a estrutura, quanto as últimas refletem e modificam os indivíduos e organizações. Mais do que uma variável externa que influi na organização, a cultura é um dos componentes do sistema organizacional, um processo proativo e contínuo da construção da realidade organizacional, social e individual. A nível individual verifica-se que, durante o processo de mudança, alguns indivíduos não conseguem se adaptar ao novo papel que se espera dele, e esta situação pode gerar conflitos, anomia e desmotivação. Outros podem desenvolver uma atitude de isomorfia com o ambiente organizacional e institucionalizar comportamentos que são considerados apropriados pela organização para garantir a manutenção ou aumentar a quantidade de poder e status que possuem na organização. Da mesma forma que as organizações por vezes passam por cima de seu valor básico que é a eficiência em busca de legitimidade e sobrevivência de longo prazo, conforme defendido por MEYERS e ROWAN, também os indivíduos percebem essa tendência e fazem uso dela. Com respeito à sociedade, parece correta a afirmação de CASTELLS de que cada vez mais a nova ordem social, a sociedade em rede, parece uma metadesordem social para a maior parte das pessoas. Ou seja, uma seqüência automática e aleatória de eventos, derivada da lógica incontrolável dos mercados, tecnologia, ordem geográfica ou determinação biológica. A proposta de CASTELLS parece coincidir com o Garbage Can Model, citado em JONES, em que o caos está subjacente a pretensa idéia de organização, de controle. A velocidade com que ocorrem as negociações e mudanças atualmente, parece forçar às empresa a atuarem de uma forma mais instintiva, aceitando a racionalidade limitada de que dispõem. 10 Institucionalizar através de uma estrutura organizacional o processo de aprender a aprender pode vir a gerar uma cultura voltada para a inovação e mudança. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGER, P; LUCKMANN, T. 1989. A Construção Social da Realidade. São Paulo: Vozes. 1989. BORZEIX, A.; LINHART, D. 1996. Identidades e práticas lingüísticas na empresa. In CHANLAT, J. F. (Org.). O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. São Paulo: Atlas. 1996. volume 3, p.82–106. BURRELL, G; MORGAN, G. 1979. Sociological Paradigms and Organisational Analysis: elementes of the sociology of corporate life. Vermont: Ashgate Publishing. 2000. CASTELLS, Manuel. 2000. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra. 2000. volume 1. ERIKSON, E. 1972. Adolescence et Crise – La Quête de L´Identité. Paris: Flammarion. 1972. JONES, G. 2001. Organizational theory: texts and cases. New Jersey: Prentice Hall. 2001. MEYER e ROWAN. 1991. Institutionalized Organizations: Formal Structure as Myth and Cerminony. In POWELL, W. e DIMAGGIO, P. The New Institutionalism in Organizacional Analysis. Chicago: Chicago University Press. 1991. MORGAN, G. Imagens da Organização. 1996. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996. PARSONS, T. 1966. Societies – Evolutionary and comparative perspectives. New Jersey: Prentice-Hall. 1966. RODRIGUES, S. B. Cultura Corporativa e Identidade: Desinstitucionalização em uma Companhia de Telecomunicação Brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 1995. (mimeo) SIMON, H. 1956. Rational Choice and Structure of Enviroment. Psichological Review, LXII, p. 129-138, 1956. SMIRCICH, C. Concepts of culture and organizational analysis. Administrative Science Quarterly, Ithaca, v. 28, n. 3, p. 339-58, 1983. VASCONCELOS, Isabella Francisca Freitas Gouveia de. IBM: O Desafio da Mudança. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, Mai/Jun: pp. 84-97, 1993. VASCONCELOS, Isabella Francisca Freitas Gouveia de. A Administração de Recursos Humanos e os Processos de Formação da Identidade no Trabalho: Uma Análise Crítica da Mudança Organizacional da Bull/França. São Paulo, 1997. 300f. Tese (Doutorado em Administração) - Escola de Administração de Empresas de São Paulo, FGV. 12