A CAMINHO DA CONQUISTA 4 A couraça da Justiça: nossa identidade como santos “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.” Ef 6.13-14 Em nossa última lição vimos o quanto é importante estar totalmente envolvido pela Verdade para permanecer firme nos projetos de Deus e nos preceitos que nos garantem ter Jesus como nosso representante legítimo nas batalhas travadas em nosso lugar na presença do Senhor. Contudo, ao nos ater ao texto, percebemos que além de cingidos com a Verdade, estar vestidos com a couraça da Justiça é tão necessário quanto, sendo salientada por Paulo a existência de uma estreita vinculação entre a Verdade e a Justiça. Na realidade, há uma dependência desta com a primeira, ou seja, só é possível vestir-se com a couraça da Justiça se a Verdade estiver cingida em nossos lombos. Esta dependência fica clara quando nos recordamos que a Verdade personifica a pessoa de Jesus, e que o mesmo necessita estar cercando nosso viver por todos os lados, possibilitando assim que a Justiça esteja realmente afixada em nós. É por conta desta inter-relação que há traduções da Bíblia que acrescentam à idéia da Verdade como um “cinto” capaz de sustentar outras peças da armadura, sendo uma delas, a couraça. Qual a semelhança entre a couraça do legionário romano e a couraça da Justiça? O que uma e outra protegem? Como era a couraça a que Paulo se referia? Por entendermos que a imagem de armadura era a de um legionário romano, logo, temos que nos reportar a chamada “lorica segmentada”, nome dado à couraça da armadura romana. Era uma couraça laminada em segmentos de couros reforçados com chapas metálicas. O nome "segmentada" faz referência aos 26 segmentos de metal que constituíam a armadura, protegendo contra flechas, lanças e golpes de espada o abdômen, o tórax, as costas e os ombros. Cada segmento era encaixado e amarrado um ao outro. Não era uma peça inteira, o que proporcionava ao legionário romano tanto proteção como flexibilidade para seu uso. Quando, porém, nos voltamos ao original podemos enxergar elementos ainda mais preciosos do que apenas descrever uma armadura romana. Por exemplo, a palavra traduzida por “couraça” no grego é “thorax” ( ), termo aplicado também à parte do nosso corpo responsável em proteger áreas vitais de nossas vidas, o coração e os pulmões. Acaso Paulo não poderia também estar nos orientando que a couraça da justiça teria a função de proteger tanto nossa alma (coração), como nosso espírito (pulmões)? No verbo traduzido como “vestindo-vos” – “enduo” ( ) há mais duas curiosidades que merecem ser observadas. A primeira é quanto ao significado, pois a palavra “enduo” significa “estar dentro de alguma coisa” e não apenas estar coberto; é estar totalmente inserido. A segundo curiosidade é que o seu radical “duo” é o mesmo que “duno” ( ), radical das palavras “dunamis”, “dunatos” que querem dizer “poder inerente ou sobrenatural, força, habilidade; ser capaz de fazer algo, forte, poderoso, potente” (Black, Matthew ; Martini, Carlo M. ; Metzger, Bruce M. ; Wikgren, Allen: The Greek New Testament. electronic ed. of the 4th ed. Federal Republic of Germany). Por ser uma armadura espiritual, o material utilizado por Deus para fazê-la não é couro com ligas metálicas como a “lorica segmentada” romana. Os segmentos de nossa armadura são feitos com justiça. Não a justiça humana de direitos e deveres, mas a justiça justificadora. A palavra “dikaiosune” ( ) é “a justiça que justifica, que torna justo”. Por todos estes elementos, podemos fazer as seguintes afirmações: o A justiça de Deus se manifesta pela justificação de pecados provida pelo sacrifício de Jesus Cristo; diante disto, todo e qualquer compromisso com a justiça divina passa pela justificação, impondo a todos os que estiverem revestidos com a couraça da justiça a demonstração de atos de justificação, como foi exemplificado por Jesus em uma de suas parábolas (Mt 18.23-35). o Não basta apenas estar coberto pela justiça de Deus, mas estar dentro da justiça, ser participante da justiça, comprometido com a justiça. Se a justiça divina é a justificação de pecados em face da ausência de acusações, a justificação passa a ser sinônimo de santificação. A justificação nos santifica. Estar comprometido com a justificação é estar comprometido com a santidade. o Com a couraça da justiça em nós, somos investidos do poder de Deus e capacitados para exercer sua Justiça apresentando a justificação a todos aqueles que dela se acham carentes. Qual a função prática da couraça da Justiça, protegendo nosso coração e pulmões, ou seja, nossa alma e epírito? Por estar tratando de um elemento da armadura de Deus em uma guerra espiritual, o apóstolo Paulo compreende que todo soldado de Cristo necessita fazer uso da couraça da justiça, uma vez que é ela que o torna imbatível ante as sugestões enganosas do diabo e dos apelos de nossa carne. Guardando nosso coração e pulmões, nossa alma e espírito, a couraça da justiça preserva e protege nossos sentimentos e consciência. Sua eficiência está diretamente ligada ao seu elemento principal: a justiça justificadora. Esta justiça é concedida aos eleitos como dádiva divina em resposta àqueles que se cercaram completamente com a Verdade, Jesus (Lição 03). E por estarem totalmente cercados por Jesus (a Verdade) e possuídos pela justificação de Deus (isenção de pecados), somos capazes de resistir tudo que procura minar nossa confiança em nos aproximar de Deus. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” 2 Co 5:21 Sem esta couraça, somos incapazes de permanecer firmes porque nossos corações são ludibriados e nossa atenção é facilmente desviada das verdades divinas. Afinal, se não protegermos nossos corações, seremos corrompidos a deixar de produzir vida, produzindo morte. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração,porque dele procedem as fontes da vida.” Pv 4.23 Qual o seu entendimento quanto ao significado que podemos dar para o termo “permanecer inabalável”? Sendo assim, é de suma importância para nossa permanência em Cristo, visualizar a presença de tal vestimenta, afinal as vestes podem definir uma identidade. Por exemplo, os mantos são identidades de reis, as togas identidades dos magistrados, e tantos outros. Nossa armadura está identificada com a de um legionário da infantaria romana, soldado de confronto direto com os adversários, sendo os únicos que podiam fazer uso das “loricas segmentadas. Sem a couraça da justiça, se quer estamos envolvidos por uma armadura espiritual. Por isso, todo o salvo, justificado, renascido, que leva uma vida espiritual a sério, sabe a sua posição, a sua identidade em Cristo, e tem como evidencia as seguintes características cristãs: o o o o Corta suas ligações com o mundo; Age, pensa e fala diferente; Não está associado com ímpios; Não se permite ser “instrumento de iniquidade”, mas “instrumento de justiça”; “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça”. Rm 6.10-14, o Busca incansável e incessante em ter a imagem e o caráter de Jesus o Anda e vive em obediência ao Pai e a Seus mandamentos Conclusão A couraça da Justiça é nossa identidade como soldados de Cristo, afinal, alcançamos a Graça e a Justiça divina, uma vez que fomos justificados pelo sacrifício vivo de Jesus. O uso da couraça da Justiça demonstra o quanto estamos associados aos ensinamentos divinos, os quais necessitam estar entranhados em todos os Seus discípulos. O resultado é a manifestação do poder de Deus em nós para superar nosso adversário, sem que nossos corações e mentes possam ser atingidos ou feridos.