Diagnóstico Pulsátil

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Diagnóstico Pulsátil
Instituto Brasileiro de Biossíntese
Em Biossíntese olhamos para a história evolutiva do corpo, compreendendo o significado
das suas camadas germinativas e o seu desenvolvimento, da concepção em diante, em
termos da morfologia dinâmica da pessoa que pede ajuda terapêutica. Analisamos e
procuramos compreender esta pessoa, do seu processo formativo às estruturas corporais;
da história da vida intra-uterina à morfologia dinâmica do corpo.
Morfologia Dinâmica
As três camadas embrionárias (endoderma, mesoderma e ectoderma) diferenciam-se e
formam, respectivamente, as três regiões principais do corpo: abdómen, coluna e cabeça.
Os órgãos internos do tronco, pulmões e órgãos abdominais podem ser considerados o
principal reservatório de energia do endoderma.
O centro organizacional dos principais músculos e da estrutura óssea do esqueleto é a
coluna, com as suas extensões nos braços, pernas e cabeça. A coluna e estes membros
são os principais órgãos executivos do mesoderma.
Os principais órgãos ectodérmicos com a exceção da pele estão concentrados na cabeça:
olhos, ouvidos, nariz, língua, cérebro.
As camadas germinativas do embrião
No centro do corpo há o tubo gastrointestinal, formado a partir do endoderma.
Embriologicamente, os pulmões são a derivação germinativa desse tubo. As funções
respiratórias e de sentimento podem ser consideradas como as atividades mais centrais e
internalizadas do corpo. É por meio desses sistemas de órgãos que o corpo gera energia
para se manter vivo. Em terapia se quisermos que uma pessoa se torne mais “centrada”,
pedimos-lhe que se deite e se conscientize da sua respiração e dos movimentos
peristálticos das suas vísceras.
A segunda camada germinativa do corpo é formada a partir do mesoderma. O sistema
cardiovascular e os sistemas esqueleto-muscular são derivados dessa camada. Ela é
responsável pelos níveis de pressão dos fluidos no corpo, e pelo grau de tensão e
relaxamento muscular. O coração bombeia sangue através do corpo para carregá-lo de
energia disponível para a ação. Os músculos, durante quaisquer movimentos
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desempenhados pelo corpo, como andar ou correr, descarregam essas ações e a ação
rítmica desses músculos desempenha o papel de bomba venosa para auxiliar o sangue a
voltar ao coração. As posições de “stress” bioenergéticas agem inicialmente sobre esta
camada, tonificando os músculos flácidos, relaxando os tensos, e melhorando o fluxo
circulatório através do corpo, num processo chamado “grounding”.
A terceira camada germinativa é formada a partir do ectoderma. Ela constitui o tubo mais
externo, isto é: a pele e os órgãos sensoriais, mais a totalidade do sistema nervoso,
centralizado no cérebro. Governa o sistema perceptivo, o fluxo de informação que entra e
que sai do corpo. O trabalho terapêutico que encoraja a conscientização sensorial, o
contacto de olhos e as maneiras de nos encontrarmos uns aos outros, é chamado por
Boadella de “facing”. Segundo Keleman houve um salto qualitativo quando ficámos eretos
e enfrentámos o mundo com a nossa parte macia do corpo, ficámos mais sensíveis e
discriminados. A posição face a face no ato de amor expressa esta oportunidade
ampliada de maximização do contacto.
Embora no corpo já formado e completo, as camadas embrionárias estejam arranjadas
nesta sequência, as camadas não se desenvolvem nessa ordem. O ectoderma e o
endoderma formam-se como os dois lados do disco embrionário. O ectoderma começa a
desenvolver-se antes, com o desdobramento da parte de trás, o qual forma no início, o
canal neural. Podemos justificadamente considerar os sistemas ectodérmicos como os
mais primitivos na ordem de importância durante o desenvolvimento. Os tecidos do
mesoderma são os últimos a formarem-se na sequência.
Poderíamos dizer que a camada endodérmica corresponde ao projeto da vida, a camada
ectodérmica ao projeto espiritual e a camada mesodérmica é a estrutura para que estes
projetos se realizem nesta vida.
Impedimentos do fluxo energético e as suas consequências no encouraçamento
dos grandes reservatórios
Segundo Boadella, se concordássemos com Freud diríamos que a origem da neurose dáse no período edípico, com Melanie Klein procuraríamos pela sua origem no primeiro ano
de vida da criança ou com Frank Lake (1988) e Francis Mott procuraríamos pela sua
origem na vida intra-uterina. Mas o que realmente nos interessa aqui é que em algum
momento da evolução do ser humano existe uma quebra da unidade do organismo. Esta
perda da unidade afeta a integração funcional das três camadas germinativas do corpo.
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Reservatórios, Fluxos e Pontes. Formação dos Cortes
Boadella faz a distinção de três tipos de reservatórios energéticos: o reservatório
abdominal pélvico, o reservatório muscular e o reservatório cerebral.
Reservatório abdominal pélvico
Este reservatório inclui a barriga, as nádegas e os órgãos de descarga genitais. A
intensidade da descarga genital depende da quantidade de energia que pode ser
acumulada neste reservatório. Como exemplo de distúrbio neste reservatório podemos ter
a colite ulcerativa crónica e a colite espástica crónica. Gerda Boyesen (Boyesen, M.L.
1974) no seu trabalho com a psicoperistalse lidou muito com este reservatório,
descrevendo-o como um sistema aberto ou fechado. Segundo esta autora as vísceras
podem absorver e armazenar tensão nervosa.
Reservatório muscular
Este reservatório inclui músculos e tecidos, pressão osmótica dos fluidos do corpo nos
tecidos musculares nos processos hipotónicos e hipertónicos. Os músculos podem tornarse tensos quando seguram o impulso conscientemente, e a pessoa neste caso sente a
tensão nos músculos.
Reservatório cerebral
O cérebro e a cabeça contêm impulsos poderosos, examinando e avaliando a descarga
muscular. Segundo Rossi (1993), um dos sucessores de Milton Erickson, na vida do diaa-dia o cérebro traduz informação, que experienciamos em forma de palavras, imagens e
emoções, em impulsos neurais no córtex cerebral. Alguns desses impulsos neurais são
traduzidos em hormonas no sistema límbico-hipotalâmico-pituário, na base do cérebro,
que opera como um elo de comunicação mente-corpo. Essas hormonas atuam como
“mensageiros moleculares” que atravessam a corrente sanguínea, onde podem captar
“receptores” em todas as células do corpo. Este sistema mensageiro-receptor de
moléculas (chamado tradicionalmente de sistema “neuro-endocrinológico” nos manuais de
medicina) é o que atualmente se reconhece como elo de comunicação que carrega e
transporta informação entre os indicadores ambientais, o nosso cérebro e o nosso corpo,
até ao nível celular.
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Os grandes bloqueadores: nuca, garganta e diafragma
A nuca, a garganta e o diafragma são três reservatórios de energia entre os quais pode
haver uma maior conjunção (pontes) ou disjunção (bloqueios).
A cabeça está ligada à coluna pela base do pescoço - nuca. Se o pescoço está tenso, o
fluxo de conexão entre ectoderma e mesoderma fica interrompido. Há aí uma dissociação
entre o pensamento e a ação. Se uma quantidade maior de energia fica retida acima do
bloqueio do pescoço, há uma tendência de maior identificação com o pensamento em
detrimento da ação. Num caso extremo, isso ocasionaria um padrão de comportamento
compulsivo ou obsessivo. A pessoa obsessiva gasta imenso tempo planeando ações,
mas a energia que a faria mover-se está presa na cabeça. O relaxamento das tensões do
pescoço normalmente permite que a atividade flua pela coluna na forma de movimentos
expressivos. Muitas dores de cabeça são geradas por tensões no pescoço e podem ser
aliviadas quando a energia é redistribuída. Se a energia é retida abaixo do bloqueio do
pescoço, pode haver uma hiperatividade sem um planeamento prévio das ações, um
padrão típico de movimento impulsivo. O corpo pode ser sobrecarregado enquanto a
cabeça recebe uma carga insuficiente de energia. A pessoa não pensa. O relaxamento da
tensão do pescoço permite que a energia flua do corpo para o rosto, olhos, voz e cérebro,
ocasionando uma maior reflexão e consequente comunicação.
A junção entre a cabeça e o abdómen está na garganta. Aqui a região ectodérmica da
cabeça une-se com a região endodérmica do abdómen. O pensamento e o sentimento
integram-se através da função expressiva da voz: linguagem exploratória fluente,
diferente da linguagem explicativa, nivelada e mecânica. Quando uma criança aprende a
engolir os seus sentimentos, a garganta bloqueia as ações para manter os sentimentos
presos. A energia emocional fica presa no tronco e não tem válvula de escape para o
rosto. Uma pessoa assim sente a pressão das emoções fortes, mas também sente que se
irá desprestigiar se mostrar essas emoções. O rosto mantém-se impassível, sem
expressão, contrastando com a pressão emocional interna. O caso oposto ocorre quando
muita emoção é expressa através do rosto, mas pouco contacto é mantido com o centro
do corpo. É como se a emoção fosse vomitada para aliviar a pressão interna. O padrão de
comportamento de engolir emoções e não permitir que elas se expressem no rosto é
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tipicamente masoquista. O padrão de bombear a energia para a voz e para o rosto é
tipicamente histérico. Mas uma pessoa num estado de histeria pode preferir gritar ao
invés de expressar os seus sentimentos através da linguagem, com o seu nível superior
de percepção do ego. Assim, o trabalho de dissolver o bloqueio da garganta pode ajudar
a pessoa que engole os seus sentimentos a deixá-los subir como uma catarse, e, no caso
da pessoa que é “hipercatártica”, ajuda a evidenciar as funções integradoras da
linguagem.
A terceira junção primária do corpo é aquela existente entre a coluna e o abdómen, entre
o eixo mesodérmico da coluna e a energia endodérmica do tronco. A ponte é o diafragma,
que é a principal bomba respiratória do corpo. Quando o diafragma está livre, tem a
função de ser o principal regulador da respiração e, também, faz uma massagem efetiva
nos órgãos internos. O diafragma está ancorado na coluna através da vértebra lombar
superior. Um diafragma tenso age como uma corda atada à espinha e assim a espinha
sente que está a ser puxada. Isso quebra a integração entre a respiração e o movimento.
Para o bebé chutar é respirar e respirar é chutar. Mais uma vez, existem dois padrões de
ruptura. Num deles a pessoa move-se mecanicamente com pouca emoção e com pouca
mudança visível na respiração. No padrão oposto, a pessoa aumenta o ritmo da sua
respiração, normalmente num estado de ansiedade, mas não encontra uma forma de
traduzir a energia, mobilizada pela respiração, em movimento. A respiração é hiperativa e
o sistema muscular é pouco ativo. Isso muitas vezes acontece com uma oxidação
excessiva do sangue.
As três pontes são a nuca, a garganta e o diafragma. O diafragma pode ser considerado
como a parte debaixo do pescoço, embriologicamente origina-se ali e cresce para baixo
durante o desenvolvimento fetal. O nervo frénico que controla o diafragma passa pela 3ª e
4ª vértebra cervical. O relaxamento do pescoço e a mobilização dos tecidos dessa região
são normalmente seguidos de relaxamento do diafragma.
Se a energia ficar estagnada nesses reservatórios, sofrer estase e se recusar a ser
descarregada encontraremos três tipos de couraça: couraça cerebral, couraça muscular e
couraça visceral.
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Couraça Cerebral, Couraça Muscular e Couraça Visceral
Na biossíntese reconhecemos três formas de encouraçamento:
Couraça visceral
Quebra ou disfunção na peristalsis ou na respiração. Tendência a hiperventilação ou a
hipoventilação e a um sistema fechado no abdómen (síndrome de vísceras irritadas).
Formas extremadas, disposição à asma ou colite.
Couraça Muscular ou Encouraçamento dos Tecidos
O tónus muscular pode sofrer distúrbio em duas direções: hipotonia (fraqueza, falta de
carga energética) ou hipertonia (aperto, carga em excesso).
Em casos extremos, vemos tendências a dores reumáticas ou doenças cardiovasculares
(hipertensão, tensão cardíaca). Segundo Lowen (1977) só existe este tipo de couraça nos
caráteres rígidos, ou em estruturas de caráter que incluem como parte do seu mecanismo
neurótico uma habilidade de diminuir a sensibilidade à dor. Isto exclui todas as estruturas
pré-genitais.
Couraça Cerebral
Pode manifestar-se na forma de distúrbios dos ritmos cérebroespinais, ou de distúrbios
dos processos de carga bioeléctrica no cérebro (corrente trancefálica), ou do fluxo das
hormonas do cérebro. Pode ser vista como distúrbios da visão e do contacto ocular. A
tendência ao pensamento obsessivo ou ao pensamento esquizofrénico desordenado
seriam expressões sérias de couraça cerebral. E, mais especificamente a:
- Couraça ectodérmica cerebral: O esquizóide com a sua ênfase no pensamento tende a
desenvolver uma couraça ectodérmica cerebral.
- Couraça ectodérmica cutânea: O histérico cuja fome de toque é grande tende a
desenvolver uma couraça ectodérmica cutânea: “toque a minha pele e prove-me de que
estou vivo”.
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Embriologia e Sistema Nervoso
Apesar do sistema nervoso ter a sua origem no ectoderma, o ser humano tem três
sistemas nervosos principais, cada um dos três sistemas parece ter uma relação funcional
com as camadas embriónicas e a compreensão destes sistemas pode ser usada como
base para a discriminação caracterológica.
Sistema Vegetativo
Regula o fluxo da vida emocional. Divide-se em simpático (desgaste de energia) e em
parassimpático (recuperação de energia). Uma pessoa sob a influência do simpático tem
tendência a sobrecarregar-se (over-charge), ser explosivo e impulsivo. De outro modo,
uma pessoa sob a influência do parassimpático terá dificuldade a construir a carga
(under-charge) e, defrontada com uma crise, terá tendência à fraqueza, à passividade, à
retirada do conflito e na forma mais extrema à depressão.
Sistema Subcortical ou Extrapiramidal
Regula a postura. Quando o tónus muscular é hipertenso, o corpo é levado à ação e é
rigidamente defendido contra o colapso. A pessoa está identificada com a ação e o
mundo material. Alternativamente, quando o tónus muscular é hipotónico, o corpo se
sentirá vagaroso e demostrará tendência a enfraquecer ou colapsar. A falta de confiança
no “ground” pode levar à tendência a uma vida imaginativa superdesenvolvida, junto a um
sentido enfraquecido da realidade externa.
Sistema Sensorial Cortical
Regula a formação de limites. A pessoa com limites fracos (under-bound) terá dificuldade
de impedir, discriminar o estímulo sensorial que entra. Será facilmente invadida com
informação (visão, som, sentimento dos outros, influências psíquicas). Terá uma
tendência a focar de menos. A pessoa com excessos de limites (over-bound) não deixará
que uma impressão não desejada chegue a ela e desenvolverá uma forma de vida
obsessiva e focalizada em excesso.
Segundo a Biossíntese, podemos classificar os diferentes caráteres a nível da
combinação do desequilíbrio e equilíbrio entre esses três sistemas vistos acima.
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CARÁTER
FLUXO GROUND FOCO
Esquizóide
-
-
-
Histérico
+
+
-
Oral
-
-
-
Paranóide
+
-
+
Masoquista
-
+
+
Psicopata
+
-
-
Passivo-feminino
-
+
-
Fálico
+
+
+
Padrões pré-natais de caráter
Joyce McDougall também fala em histeria arcaica, falando do conflito do direito de existir,
mais do que o direito as satisfações libidinais normais da vida adulta. Aqui as ansiedades
estão ligadas ao temor de perder a sua identidade subjetiva ou até a vida.
Bibliografia
Boadella, D., Dynamic Morphology, in Embriology and Therapy, Collected papers from
Energy and Character. Abbotsbury Publications, Dorset, November, 1984.
Boadella, D., Correntes da Vida: Uma introdução à Biossíntese, Editora Summus, São
Paulo, 1992.
Boyesen, M.L., Psycho-Peristalsis: The abdominal Release of Nervous Tension, Energy
and Character, Vol. 5, No 1, 1974.
Keleman, S., The Human Ground – Sexuality, Self and Survival. Center Press, Berkeley,
1975.
Lake, F., Clinical Theology. London, Darton. Longman and Todd Ltd, London 1988.
Lowen, A., O Corpo em Terapia. Editora Summus, São Paulo, 1977.
McDougall, J., Teatros do Corpo – O Psicossoma em Psicanálise, Ed. Martins Fontes,
Julho, 1991.
Rossi, E. L., The psychobiology of mind-body healing – New concepts of therapeutic
hypnosis. Springer Verlag, 1993.
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