A CAMINHO DA CONQUISTA 5 Por que calçar os pés com o Evangelho da Paz? “Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno.” Ef 6.15-16 Quando você está envolvido com a obra de Deus, como você encara seus próprios problemas? Nos dias que antecederam sua conversão, você percebia o cerco de Deus pela sua salvação? Como você explica tamanho assédio? Como você tem escutado a voz de Deus, e o que Ele tem lhe dito? Até agora vimos dois importantes elementos na Armadura de Deus, a saber, a Verdade e a Justiça. Perceba que os elementos não são naturais como um cinto ou uma couraça. Sua descrição é ilustrativa pelo e não indicativa, pois tal armadura é sobrenatural, divina. Nas últimas, lições, portanto, vimos a respeito de estar com os lombos cingidos com a verdade e como vestir a couraça de Justiça. Um novo elemento da armadura divina que viabiliza nossa vitória sobre nossa carne e desfaz as falsas sugestões diabólicas é o Evangelho da Paz. Como você deve perceber, não há a citação específica de nenhum calçado, mas como a referência de armadura de Paulo e dos membros da Igreja de Éfeso era a armadura de um legionário romano, muitos associam este calçado às famosas cáligas (latim – caligae), sandálias de couro com cravos nas solas dos pés, o que não está de todo errado. Contudo, assim como dissemos quando falamos a respeito do cinto da verdade, a intenção do Apóstolo não é dizer que a Paz é um tipo de sandália. A ênfase do Apóstolo Benjamita era dizer a cada um de nós que devemos ter os pés calçados com a preparação do Evangelho da Paz, sendo mais uma atitude determinante para permanecermos firmes durante nossos embates espirituais. A grande pergunta que devemos fazer deve ser por que ele nos recomendou a “calçar os pés com a preparação do Evangelho da Paz”? 1. Porque é o Evangelho da Paz que nos orienta (15 min) Podemos fazer tal afirmação se mais uma vez focarmos nossas atenções a cada palavra utilizada pelo Apóstolo. A palavra traduzida como “Calçai” no original é hupodeo ( ), segundo o Theological Dictionary of the New Testament de Kittel (TDNT) significa “abaixar-se para amarrar algo; colocar calçado”. Podemos aqui fazer algumas observações preciosas a respeito desta recomendação paulina. Para estar calçado com alguma coisa é necessário se curvar para amarrá-lo. Sendo assim, para calçar-se com o Evangelho é necessário também se curvar, reconhecer sua necessidade de estar unido a ele, uma legítima demonstração de dependência a esta mensagem. Diante da mensagem de Jesus nossa postura deve ser sempre de submissão e reconhecimento de seu valor, caso contrário, no meio da batalha seremos pegos sem nada para nos calçar, para nos apoiar em nossa trajetória de fé. É por isso podemos afirmar que a submissão é o elemento que nos ata, nos amarra às Boas Novas da Salvação. Aquele, porém, que questiona, duvida ou faz pouco caso da mensagem de Cristo, no primeiro momento de combate, estará desprovido de qualquer apoio ou segurança, sendo presa fácil para seus oponentes. Ligados e plenamente submissos ao Evangelho da Paz somos colocados em um status de superioridade sobre nossos oponentes espirituais. O termo traduzido por “pés” no original grego (TDNT) é pous ( ) o qual se aplica quando se “utiliza os pés para afirma uma vitória ao colocar os pés sobre o derrotado” e, também pode se referir à “posição de discípulos aos pés de seu Mestre”. Ou seja, por nos submetermos ao Evangelho, acatando todas as recomendações de nosso Mestre e Senhor, no momento em que estivermos em batalhas, saberemos como agir e assim obter êxito completo subjugando plenamente nossos adversários. Mas por que chamar o Evangelho de Evangelho da Paz? Pelo que parece, o ambiente aqui não é de paz, mas de luta. Por que a paz estaria fazendo parte como de um dos elementos de uma indumentária de guerra, mesmo sendo de uma guerra espiritual. Porque a paz a que se refere é a paz em nosso relacionamento com Deus, é a paz pela nossa justificação, pois não estaremos sob um julgamento divino. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” Rm 5.1-3 2. Porque os pés representam a chegada do Reino de Deus, o Reino da Paz (15 min) Nos textos Bíblicos, a tomada de posse de uma área, de um território, ou de uma possessão era representada quando os pés do “posseiro” pisavam na terra requerida. Por esta razão quando Moisés falou com Deus no Monte Horebe e recebeu a incumbência para libertar o povo hebreu dos egípcios, Ele ordenou-lhe que tirasse as sandálias dos pés e não se aproximasse mais. Naquele momento, Deus estava tomando posse daquela terra e por isso Seus pés estavam plantados sobre aquele local. A terra se tornara santa, separada, exclusiva de Deus. Caso Moisés pisasse na área determinada como possessão divina, com certeza morreria, uma vez que o texto diz que o Senhor Deus estava no meio da sarça que não se consumia (Ex 2.6). “Salvo Calebe, filho de Jefoné; ele a verá, e a terra que pisou darei a ele e a seus filhos, porquanto perseverou em seguir ao Senhor.” Dt 1.36 “Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio Eufrates, até ao mar ocidental, será vosso.” Dt 11.24 “Então, Moisés, naquele dia, jurou, dizendo: Certamente, a terra em que puseste o pé será tua e de teus filhos, em herança perpetuamente, pois perseveraste em seguir o Senhor, meu Deus.” Js 14.9 Sendo assim, toda a vez os pés de algum seguidor de Cristo é plantado em algum lugar deste mundo físico, no mundo espiritual aquela área é imediatamente preparada para o recebimento do Reino de Deus, pela proclamação do Evangelho de Jesus, e assim trazer “a paz com Deus” descrita por Paulo em Rm 5. Diante desta realidade espiritual, encontramos mais um motivo para as forças das trevas tentarem nos derrubar e nos deter. Enquanto Cristo nos representa nas lutas travadas nas regiões celestes, nós também O representamos nas regiões terrenas, o que condiciona os avanços do Reino de Deus à medida que os pés da Igreja são plantados pelo anuncio do Evangelho de Cristo. “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.” 1Co 12.27 “Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja;” Cl 1.24 “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Mt 16:18 Quando nos dirigimos a pregar a mensagem do Evangelho para por fim ao conflito espiritual produzido pelo pecado, antes mesmo de uma única palavra sair de nossa boca, o ambiente espiritual já está preparado para chegada do Reino de Deus, uma vez que a planta de nossos pés já haviam sido estabelecidos ali. Esta realidade espiritual é reportada por muitos irmãos em Cristo que declaram ter recebido assédios por todos os lados, nas mais diversas circunstâncias, nos momentos que antecederam sua conversão. Onde quer que fossem ou fizessem, sempre havia alguma coisa que chamasse sua atenção para ele se render aos pés de Jesus. E por quê? Porque o Evangelho da paz já havia sido preparado, e a terra já havia sido possuída em nome do Reino de Deus pela nossa simples presença. Infelizmente, sabemos que há pessoas que não querem a Cristo e se quer estão dispostos a nos ouvir, rejeitando, inclusive nossa pessoa. Quando Jesus mandou os 70 saírem de dois em dois pregando as BoasNovas da Salvação, disse-lhes que ao chegarem a uma residência que os recebesse, a primeira coisa a fazer deveria proclamar a paz sobre aquela casa, e se houvesse algum filho da paz, ele a receberia (Lc 10.5-6). Isso não significava que todos daquela casa iriam recebê-la. Bem provável que houvessem pessoas que não aceitariam a mensagem por eles proclamada, e tal negação não gerou, a princípio, qualquer tipo de juízo sobre ela. “Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas e clamai: Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus. Digo-vos que, naquele dia, haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade.” Lc 10.10-12 Caso, porém, os rejeitasse, ou seja rejeitassem ao mensageiro, Jesus mandou que sacudissem o pó de seus pés. Aos Doze, Ele falou alguma coisa semelhante. As palavras traduzidas por “sacudir” encontradas nos Evangelhos foram “ektinasso” ( ) - sacudir de tal forma que algo que estava preso caia; ato simbólico de uma pessoa expressar desprezo extremo por outra e rejeita ter qualquer relação posterior com ela; ou sacudir-se (para livrar-se de sujeira); e “apotinasso” ( ) palavra formada pela união da preposição “apo” – preposição com sentido de separação; de separação de uma parte do todo; de qualquer tipo de separação de uma coisa de outra pelo qual a união ou comunhão dos dois é destruída; fisicamente distante, e da palavra “tinasso” que significa “balançar” (TDNT). Ou seja, aos Doze, Jesus disse para que sacudissem os pés em sinal de separação e desprezo por aqueles que os rejeitaram. Já aos Setenta, a palavra traduzida por “sacudir” foi “apomassomai” ( ), que significa “se limpar esfregando ou sacudindo asperamente para se ver livre de algo preso que lhe corroe” (TDNT). Esta é uma palavra composta formada pela preposição “apo” (veja no § acima), a palavra “massomai” que significa “mastigar, consumir, comer, devorar”. Aos Setenta, Jesus não apenas disse para eles fazerem uma demonstração de desprezo, mas de repúdio. Aqueles que rejeitaram e repudiaram, não apenas a mensagem, mas principalmente aos portadores das Boas-Novas da Salvação, não mais se deparariam com a Graça do Senhor, antes com Seu Juízo, tal qual Sodoma e Gomorra. Face essas observações podemos chegar às seguintes considerações. Quando um mensageiro do Evangelho chega até alguém para proclamá-lo, por conta de seus pés, aquela terra (vida) tem sua possessão requerida por Deus. Nesse exato momento começa uma batalha espiritual. Ao negar a possessão divina, esta pessoa passa a ser vista pelo Senhor com olhar de misericórdia, como aconteceu com os povos que habitavam em Canaã que só foram expulsos cerca de 430 anos após o patriarca Abraão ter posto a planta de seus pés naquela terra (Gn 12.7-10). A rejeição não se dá apenas pela mensagem, mas principalmente, por quem a proclamou. Deus trará juízo a quem rejeitar seus mensageiros porque estavam, verdadeiramente, representando Sua pessoa na dimensão terrena. Quando anunciamos a mensagem da paz, mesmo que não seja recebida, se houver abertura por ouvir o mensageiro, o caminho da salvação foi preparado pelos pés dos santos, os quais tomaram posse daquela terra (vida) para o Senhor. Uma vez que o Senhor tomou posse da terra, não demorará muito tempo para pessoa se curvar diante dEle, que continuará enviando mensageiros até que Salvação seja completamente instalada. Enquanto não houver repúdio àqueles que anunciam as boas-novas, há esperança. 3. Porque os pés ilustram a presença direta do próprio Deus (15 min) No Velho Testamento, há algumas citações em que é feito a metáfora utilizando a palavra “pés” como interlocutores da paz divina. Na realidade tais metáforas ilustram o próprio Senhor. São epifanias, manifestações reveladoras de Deus que ilustram a Sua presença. Por conta destas referências nas Escrituras velho-testamentárias, também podemos encontrar este mesmo tipo de citações no Novo Testamento. “Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” Is 52.7 “Eis sobre os montes os pés do que anuncia boas-novas, do que anuncia a paz! Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque o homem vil já não passará por ti; ele é inteiramente exterminado.” Nm 1.15 “Para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.” Lc 1.79 “E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco.” Rm 16.20 Em especial, vamos voltar nossas ações ao texto profético de Isaías 52.7, uma vez que este texto foi citado pelo apóstolo Paulo em Rm 10.15. A palavra hebraica traduzida como “pés” é “regel” ( ). Toda palavra termina com a sílaba “el” tem sempre uma relação ao nome de Deus. Por isso, quando encontramos a palavra “regel” (pés) associada à palavra “paz”, temos uma referência da presença de Deus. Deus está presente. Poderíamos então traduzir da seguinte maneira: “Quão formoso é o Senhor que anuncia as boas novas da paz”. É Ele que anuncia a mensagem da paz, é Ele que vai ao nosso encontro para nos convencer da justiça, pecado e juízo divino. E o que nos leva a tal convencimento? Ao profeta Isaías, o Senhor disse que este convencimento se dá porque antes de nos convencer, Ele nos chama a atenção para que voltemos nossos olhos para Ele. Quando o profeta diz, “que faz ouvir” usa uma palavra hebraica muito especial “shamá” ( ). De acordo com o Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong, “shamá” é um verbo e significa – “ouvir, escutar, obedecer; perceber pelo ouvido, compreender, dar atenção, fazer-se ouvido, chamar para ouvir, convocar, ser considerado, ser obedecido.” Antes de sermos convencidos, somos convergidos, atraídos pela Sua voz que nos chama a atenção de tal forma que passamos dar a ela uma real consideração. Isaías usa o termo “que faz ouvir” - “shamá”, duas vezes neste verso. A primeira reportando a paz e a segunda à salvação, que em hebraico é “Y ̂eshuw ̀ah” ( ), ou “Yeshuwah”, afinal, não é este o significado do nome de Jesus - "Salvação”? Sim. Ou seja, Isaías estava profetizando a respeito da nossa relação com Jesus, pois seria o Messias que nos chamaria a atenção, que nos atrairia para parar e ouvir a voz de Deus e sermos, enfim, convencidos. Podemos então afirmar que os “pés”, em Isaías, representam a presença direta de nosso Deus para restaurar a nossa paz com Ele pelo perdão de nossos pecados. Por isso, Ele se faz ouvir, nos convoca, nos chama a atenção pela pessoa de Jesus, e Este nos faz compreender e considerar quão grande salvação está sendo oferecida. Conclusão Estar calçados os pés com a preparação do evangelho da paz é estar ciente de que fomos chamados para ir como mensageiros, portadores da mensagem de restauração, da comunhão do homem a Deus, cuja representação estará sendo feita por nós, os representantes legítimos do Senhor. Sendo assim, só nossa presença já será suficiente para promover o início do processo de Salvação. Se os elementos até então usados na Armadura de Deus eram de estruturação para os embates espirituais, estar calçado com preparação do evangelho da paz é um encaminhamento direto ao “front” de grandes batalhas, agora não mais nossas, mas batalhas por outras vidas, que, como nós, precisam ser resgatadas. Quanto a nossas batalhas e nossos inimigos? No momento em que nos dispomos a pelejar por outras vidas, em obediência ao Senhor, teremos completa supremacia sobre elas, os quais são completamente dominados, que às vezes se quer nos lembraremos dela.