Ludi circenses: As corridas de carruagens Um desporto muito apreciado pelos romanos era a corrida de carruagens. Espectáculo mais antigo que os jogos gladiatórios, tinha sua origem nas lendas romanas que atribuíam a Rómulo a criação dessas competições, provavelmente em homenagem à Plutão ou como estratagema para distrair os homens e facilitar o sequestro das sabinas. Mas, assim como os jogos gladiatórios, as corridas perderam seu lado religioso com o decorrer dos tempos. Os veículos das corridas eram principalmente as bigas (carruagem puxada por dois cavalos) e quadrigas (puxada por quatro cavalos) guiadas por seus condutores, os aurigas. Vestidos com uma túnica leve, os aurigas usavam um capacete de metal, faixas protegendo as pernas, um chicote na mão direita e as rédeas presas à cintura. Os escravos formavam o maior contingente de aurigas, mas existiam muitos corredores profissionais que ganhavam altas somas para correr. Os corredores ganhavam entre 15 mil e 30 mil sestércios, com alguns ganhando 60 mil por corrida. Juvenal reclamava que um auriga ganhava em uma hora 100 vezes mais que um advogado. Quadriga em uma corrida. Observe as rédeas em volta do corpo do auriga O mais famoso auriga foi Caio Apúlio Diócles, um lusitano que abandonou as corridas aos 42 anos com 24 anos (122-146) de carreira. Sua primeira vitória foi no ano de sua estreia, participando de 4257 corridas, vencendo 1462 e ficando em segundo lugar em 1437 vezes. Diócles ganhou durante sua carreira mais de 35 milhões de sestércios. É de crer que a maioria dos cavalos utilizados fossem Lusitanos dada a fama que tinham no Império Romano, e é provável que se tenha iniciado em EMÉRITA AUGUSTA (Mérida) onde existia um hipódromo de grandes dimensões. Maquete mostrando o Circus Maximus As corridas aconteciam em hipódromos que existiam em várias partes do território romano. Somente em Roma existiam cinco pistas, o mais famoso hipódromo era o Circus Maximus com capacidade para 250 mil espectadores. O Circus Maximus tinha a forma da letra “U” fechada com 640 X 190 metros. Sua construção foi realizada aproveitando uma ladeira existente e levantando uma outra no lado oposto. No centro havia um muro chamado de espinha. O evento começava com a entrada do patrocinador dos jogos em uma carruagem, seguido dos competidores, normalmente em número de quatro. Após ocupar um local de honra no hipódromo, a largada era dada pelo patrocinador que deixava um lenço branco cair ao chão. As carruagens partiam em grande velocidade para uma corrida de sete voltas na pista do hipódromo. Os aurigas faziam parte de equipes coloridas, chamadas, factio Existiam as equipes vermelho (factio russata), branco (factio albata), azul (factio veneta) e verde (factio prasina). Parece que as equipes que representavam as estações do ano. O vermelho, o verão; o azul, o Outono; branco, o inverno e o verde, a primavera. As equipes tinham claques. Muitas vezes as claques acabavam entrando em conflito no hipódromo e a violência se espalhava pelas ruas. Juvenal deixou escrita sua opinião sobre a torcida do verde: “Hoje, (...), Roma inteira está no circo (...). Venceu o Verde. Se perdesse, veríamos toda a cidade aflita e atordoada, como no dia em que os cônsules foram derrotados em Canas." Outros autores tinham uma opinião divergente sobre o comportamento das claques. Plínio disse que “Eu não me espantaria se os espectadores fossem ver a velocidade dos cavalos ou a habilidade dos aurigas, mas tudo o que eles apoiam é cor da equipe do auriga. Se eles trocassem as cores no meio da corrida, eu juro que eles seguiriam apoiando as mesmas cores." Local onde existiu o Circus Maximus. Foto de Albert Hoxie Durante as corridas eram comuns os acidentes devido a instabilidade das carruagens. Mesmo assim, o povo romano vibrava com as corridas. Os espectadores eram atraídos pela estratégia utilizada pelos aurigas e pela acção constante durante a competição. Eles tentavam manter-se sempre na parte interna da pista, perto da espinha e como todos tentavam isso, os choques eram constantes, e como os aurigas estavam com as rédeas presas em suas cinturas, caso uma carruagem fosse destruída, ele poderia ser arrastado pelos cavalos e serem esmagados por outros cavalos e pelas rodas das carruagens. O interesse era tamanho que, Nero (54-68) e Calígula (37-41) se tornaram torcedores apaixonados da equipe Verde. Domiciano (81-96), outro amante das corridas, chegou a criar mais duas equipes, a áurea (factio aurata) e a púrpura (factio purpurea), mas não tiveram uma longa vida. Em outra ocasião, Domiciano (8196) reduziu o número de voltas de sete para cinco, realizando 100 corridas em um dia.