Os últimos dias do Reino de Judá e o Exílio

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Centro Bíblico
Mater Misericordiae
Curso História de Israel – 2ª parte
Tema 1: O Exílio Babilônico
Os últimos dias do Reino de Judá
e o Exílio Babilônico
CRONOLOGIA DOS ÚLTIMOS REIS DE JUDÁ
Josias
640-609
Joacaz
609
3 meses de reinado
Joaquim (Eliaquim)
609-598
11 anos de reinado
Joakin (Jeconias)
597
3 meses de reinado
Sedecias (Matanias)
597-587/6
11 anos de reinado
PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS
• 609: Judá vassalo do Egito. Coroação de Joacaz (Shalum), que é
deposto pelo faraó e substituído por Eliaquim, que muda seu nome
para Joaquim.
“O povo da terra tomou Joacaz, filho de Josias, ungiu-o e o constituiu
rei em lugar de sua pai.
Joacaz tinha vinte e três anos quando começou a reinar e reinou três
meses em Jerusalém. (...) Ele fez o mal aos olhos do Senhor, como o
haviam feito seus pais.
O faraó Necao o aprisionou em Ribla, para que não reinasse mais em
Jerusalém, e impôs ao país um tributo de cem talentos de prata e
talentos de ouro.
O faraó Necao constituiu como rei a Eliacim, filho de Josias, em lugar
de seu pai Josias, e mudou seu nome para Joaquim. Tomou Joacaz e
levou-o para o Egito, onde ele morreu.” (2Rs 23,30b-34)
“Joaquim tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar e reinou
onze anos em Jerusalém.” (2Rs 23,36)
• Joaquim instituiu altos impostos, devido às exigências feitas pelo
Egito; chegou a recuperar alguns territórios.
“Joaquim pagou ao faraó a prata e o ouro, mas teve de criar impostos
no país, para pagar a quantia exigida pelo faraó; exigiu de cada um,
segundo suas posses, a prata e o ouro que era preciso dar ao faraó
Necao.” (2Rs 23, 35)
• 605: início da dominação babilônica sobre Judá.
• 601: revolta de Joaquim
“Nabucodonosor, rei de Babilônia, marchou contra ele, e Joaquim lhe
esteve sujeito durante três anos e depois se revoltou de novo contra
ele.” (2Rs 24,1)
• 598: assédio de Nabucodonosor. Joaquim morre nessa ocasião. É
sucedido por seu filho Joakin – entrega-se quase que
imediatamente ao babilônios (597).
• O rei é deposto e deportado para Babilônia. Recebeu um
tratamento favorável (cf. 2Rs 27-30; Jr 52,31-34).
• Nabucodonosor apoderou-se de tesouros do templo de Jerusalém e
levou cativos para Babilônia pessoas de influência, soldados e
artesãos (entre os deportados, Ezequiel): 1ª deportação, em 597 (cf.
2Rs 24,23-26).
“Naquele tempo, os oficiais de Nabucodonosor, rei de Babilônia,
marcharam contra Jerusalém e a cidade foi sitiada.
Nabucodonosor, rei de Babilônia, veio contra a cidade, enquanto
seus soldados a sitiavam.
Então Joakin, rei de Judá, foi ter com o rei de Babilônia, ele e sua
mãe, seus oficiais, seus dignitários e seus eunucos, e o rei de
Babilônia os fez prisioneiros, no oitavo ano de seu reinado”
(2Rs 24,10-12)
• Nabucodonosor nomeou um outro filho de Josias, Matanias,
mudando seu nome em Sedecias.
• 594/3: coalizão anti-babilônica, com apoio do Egito. Por razões
desconhecidas, o plano não avançou e o rei se submeteu a
Babilônia.
• 589/8: nova coalizão. Nabucodonosor veio a Jerusalém. Sitiou-a até
o 11º ano de Sedecias, e a cidade que caiu em junho-julho de
587/6.
“No nono ano de seu reinado, no décimo mês, no dia dez,
Nabucodonosor, rei de Babilônia, veio contra Jerusalém com todo o seu
exército.
Acampou diante da cidade e construiu trincheiras ao seu redor.
A cidade ficou sitiada até o décimo primeiro ano de Sedecias.
No quarto mês, no dia nove, quando a fome se agravava na cidade e a
população não tinha mais nada para comer, a cidade foi aberta.
Então o rei fugiu de noite, com todos os guerreiros, pela porta que há
entre os dois muros, perto do jardim do rei (...) e tomou o caminho da
Arabá.
O exército dos caldeus perseguiu o rei e o alcançou nas planícies de
Jericó, onde todos os seus soldados se dispersaram para longe dele.”
(2Rs 25,1-5)
• Sedecias foi capturado junto com seus familiares, que foram
mortos, enquanto que o rei, tendo seus olhos perfurados, foi
conduzido a Babilônia (cf. 2Rs 25,6-7).
• Jerusalém foi submetida a saque; suas fortificações, destruídas; o
templo, incendiado e os objetos de valor, levados para Babilônia.
Sorte análoga tiveram outras cidades de Judá. Uma parte da classe
dirigente e dos artesãos foi deportada (cf. 2Rs 25,8-21).
• Foi nomeado como governador um membro da nobreza local,
Godolias (cf. 2Rs 25,22), que alguns meses depois é morto (cf. 2Rs
25,25). Houve talvez uma terceira deportação (cf. Jr 52,30). Parte do
povo fugiu para o Egito (cf. 2Rs 25,26; Jr 42).
• Os babilônios iniciam uma colonização mediante elementos locais:
distribuem as terras dos deportados aos remanescentes. Criam
assim uma classe de pequenos proprietários com os que ficaram e
com outros trazidos do exterior (cf. 2Rs 25,12).
Salmo 78(79),1-4
Invadiram vossa herança os infiéis,
profanaram, ó Senhor, o vosso templo,
Jerusalém foi reduzida a ruínas!
Lançaram aos abutres como pasto
os cadáveres dos vossos servidores;
e às feras da floresta entregaram
os corpos dos fiéis, vossos eleitos.
Derramaram o seu sangue como água
em torno das muralhas de Sião,
e não houve quem lhes desse sepultura!
Nós nos tornamos o opróbrio dos vizinhos,
um objeto de desprezo e zombaria
para os povos e aqueles que nos cercam.
Lm 1,1-3
Que solitária está a cidade populosa! Tornou-se viúva a primeira
entre as nações, a princesa das províncias, em trabalhos
forçados.
Passa a noite chorando, pelas faces correm-lhe lágrimas. Não há
quem a console! ...
Judá foi desterrada, humilhada, submetida a dura servidão. Hoje
habita entre as nações, sem encontrar repouso.
Lm 4,4-6.9-10
A língua do lactente colou-se, de sede, ao seu palato. As
criancinhas pedem pão: não há ninguém que lho parta! Os
que comiam iguarias desfalecem pelas ruas; os que se criaram
na púrpura, apertam-se no lixo.
A falta da filha de meu povo é maior do que os pecados de
Sodoma, que foi arrasada num momento, onde as mãos não
se cansaram. (...)
Mais felizes foram as vítimas da espada do que as da fome,
que sucumbem, esgotadas, por falta dos frutos do campo.
As mãos de mulheres compassivas fazem cozer seus filhos;
eles serviram-lhe de alimento na ruína da filha de meu povo.
A SITUAÇÃO DOS EXILADOS
• Houve um grande número de deportados: 2Rs 24,14.16
(17.000 pessoas); Jr 52,28-29 (4.600 pessoas).
• Aspecto social:
- agrupados em aldeias: Ez 3,15.
- gozavam de uma relativa liberdade (Jr 29). Podiam trabalhar,
guardar suas tradições, adquirir bens e reunir-se para orações
(cf. Ez 8,1; 14,1; 33,30-32).
- prosperidade: os arquivos do banco Murashû, em Nippur
(Mesopotâmia) (ca. 450-400). Cf. também Esd 2,68-69.
- o rei Joakin foi agraciado por Evil-Marduk (em 562-560: cf. 2Rs
25,27-30), o que foi um sinal de esperança para o povo.
• Aspecto cultural:
- contato com a cultura babilônica.
- abandono progressivo do hebraico em favor do aramaico.
- contraposição aos mitos babilônicos  ênfase no
monoteísmo (Is 44,6).
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• Aspectos religiosos:
- perigo diante da religião estrangeira: necessidade de reforçar a fé:
circuncisão, sábado, pureza cultual: Jr 17,19-27; Is 56,1-8; Gn 1,1–
2,4.
- tendência nacionalista: Sl 137; Is 40,1-2.
- queda de Jerusalém vista como punição pela infidelidade (Jr 44,2-6)
 se o povo agora for fiel, pode ter esperança (1Rs 8,46-51).
- reflexão teológica: coleção de tradições e releitura e aplicação para
a situação atual: trabalho da tradição Sacerdotal (P) do Pentateuco
e do Deuteronomista.
- reflexão sapiencial.
- interiorização da religião (Jr 31,31-33; Ez 36).
- responsabilidade pessoal x mentalidade do clã: Ez 18,1-36; Jr 31,29.
- ênfase no poder de Deus Criador, capaz de retirar seu povo de
Babilônia (II Is).
- abertura da salvação a todos, mesmo não judeus, que aderirem ao
Senhor (II Is).
- grandes promessas para o futuro (Ez 36; Jr 31,31-34). Expectativa
de retorno para Judá (“novo êxodo”).
Junto aos rios de Babilônia nos sentávamos, chorando, com saudades
de Sião.
Nos salgueiros que ali estavam, penduramos nossas harpas.
Lá, os que nos exilaram pediam canções,
Nossos raptores queriam alegria:
“Cantai-nos um canto de Sião!”
Como poderíamos cantar um canto do Senhor numa terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém, que me seque a mão direita!
Que me cole a língua ao paladar se eu não me lembrar de ti,
Se eu não elevar Jerusalém ao todo da minha alegria!
(Sl 137/136, 1-6)
https://www.youtube.com/watch?v=RcO4RDoHFDo
A SITUAÇÃO DOS REMANESCENTES
NA TERRA
Aspecto social
• a divisão das terras de Judá pelos que ali ficaram implicou
descontentamento por parte dos mais abastados mas
satisfação para os mais pobres.
“nossa herança passou a estranhos, nossas casas a
desconhecidos”
(Lm 5,2)
• Justificava-se teologicamente esta situação: o desterro foi o
juízo do Senhor para os poderosos (cf. Ez 11,15; 33,24).
Aspecto político
• domínio babilônico: impostos, chefes administrativos.
• alguma autonomia administrativa, centrada na autoridade dos
anciãos.
• problemas com alguns povos vizinhos, que se aproveitaram
da situação para invadir partes do território:
– Edom (Am 1,11-12)
– Fenícios e filisteus (Ez 26,2; 25,15)
– Amon (Jr 49,1)
• ataques à população (Am 1,9)
Aspecto religioso
• desenvolvimento de liturgias de lamentação nas ruínas do
templo (cf. Jr 41,5).
• ênfase em ritos penitenciais: jejum (Is 58) – 4 vezes ao ano (cf.
Zc 7,2-5; 8,18-19):
– 10º mês – início do assédio de Jerusalém
– 4º mês – primeira brecha aberta nas muralhas de
Jerusalém
– 5º mês – destruição do templo e do palácio
– 7º mês – assassinato de Godolias
E também em outras ocasiões (cf. Esd 8,21.23)
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