Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum Ano B 14 de junho de 2015 ‘ Caríssimos Irmãos e Irmãs: O profeta Ezequiel, que viveu no exílio seis séculos antes de Cristo, havia predito sobre a destruição do reino de Judá, o término da casa real de Davi e a deportação à Babilônia, primeiramente com o rei Joaquim e depois com o rei Sedecias. (cf. Ez 17,11-21; 2Rs 25, 130; Jr 39 1-10) Na perícope proclamada, Ezequiel profetiza sobre o futuro M essias e seu Reino, dizendo: do tronco de Davi – com a imagem do cedro – Deus fará surgir um descendente, na imagem de um broto. Ele será a cabeça do Reino M essiânico, na imagem do cedro plantado sobre o monte alto de Israel, isto é, em Jerusalém. Cedro vigoroso, no qual pousarão em seus galhos e ramos todos os pássaros, ou seja, todos os povos estarão à sua sombra. O povo da Antiga Aliança vivia um momento de grande desolação e humilhação. O caos parecia ser definitivo. Deus o tinha abandonado pelos pecados cometidos. Jerusalém tinha sido destruída e seus chefes e nobres enviados para o exílio da Babilônia. Entretanto, 1 Ezequiel – porta-voz de Deus – traz esperança àqueles que estavam prostrados na humilhação e abandono. Conforme o salmo 91 que cantamos, Deus não abandona o justo. Floresce mesmo no exílio e na humilhação, como a palmeira. Esse justo – um sujeito coletivo – era imagem de todos os que fariam parte do Reino M essiânico. As flores e os frutos dessa palmeira são a salvação trazida pelo M essias. É preciso, pois, esperar no poder de Deus salvador. Esse momento histórico de Israel prefigurava a realidade do Reino inaugurado pelo Cristo, o M essias esperado, que traria a salvação a toda a humanidade; sendo o próprio Jesus o Reino e seu Evangelho a Lei suprema do mesmo. Todos nós, pelo Sacramento do Batismo, nascemos no Reino e para Reino de Deus, inaugurado pelo Cristo adormecido na cruz, quando de seu lado correu sangue e água. Ele, por meio de seus ministros ordenados e por todos os que participam de seu sacerdócio comum, ou seja, os batizados, lançam a semente da Palavra neste mundo, edificando, assim, o Reino, no qual Cristo é a cabeça e nós os membros. Portanto, o Reino é a Igreja, o Cristo total, como a definia Santo Agostinho. A semente lançada por terra é a sua Palavra que deve atingir todos os corações. Aqueles que a acolhem e transformam-na em vida visibilizam sempre mais e mais nitidamente a realidade do Reino, que 2 no tempo já antecipa, não em plenitude, o Reino da Jerusalém gloriosa. Aqueles que vivem a Palavra tornam, pois, Deus cada vez mais “Emanuel” entre nós, pois tudo o que fazem, pensam e sentem revela e implanta a natureza divina na existência deste mundo: o amor, porque “Deus é amor”. Celebrando a nossa fé, o Senhor nos pede, como homens e mulheres de seu Reino, viver o amor, ou seja, sanar todas as pecaminosas situações pelo amor, enxergar todos e a realidade na qual estamos inseridos pelo prisma do amor, exercer a justiça com amor, dizer a verdade de coração com amor e tendo a oportunidade de vingança, lembrar-se de que o amor é perdão. E mais! Nada de imediatismo, típico de nossa cultura. Tudo tem seu tempo para germinar e dar frutos. M embros do Reino de Deus, somos, por vocação, semeadores que espalham sobre a terra a Palavra da vida, com pequenos gestos, do tamanho de um grão de mostarda. Colaboramos para a edificação do mesmo com atitudes evangélicas que nos parecem ser minúsculas, mas que tomam grandes proporções se nelas perseveramos. É o grão de mostarda deitado por terra; um trabalho paciente e cotidiano. Se não persistirmos em guardar a Palavra e transformá-La em vida, à exemplo do Povo Eleito, seremos levados sem resistência à Babilônia da amoralidade, do consumismo doentio, do vazio existencial, da secularização, do egocentrismo suicída, da banalidade e do 3 descartável nas relações interpessoais e com a natureza, da rivalidade e competitividade homicidas, do homem brincando de ser Deus, como dizemos hoje. Enfim, sem viver da Palavra, a desumanização será um fato e, consequentemente, a infelicidade será o “modus vivendi” daquele que fora criado à imagem e semelhança de Deus. São Paulo nos adverte: compareceremos todos ao tribunal divino e receberemos cada um a devida recompensa. Portanto, enquanto estamos neste corpo preparemo-nos para esse momento decisivo por toda a eternidade. São Bento, em sua Regra tem uma palavra de vida que nenhum de nós pode descurar: “Nada absolutamente anteponham a Cristo”. (RB 72,11) Nada antepor a Cristo é nada antepor ao seu Reino. É, igualmente, nada antepor à sabedoria e às normas de sua Palavra que se resumem na experiência do amor. Como Ele nos disse, quem vive o amor cumpriu toda a Lei. Nada de grandes pretensões, nada de grandioso, nada de lupa em nossos sonhos e aspirações na edificação do Reino de Deus, que já está dentro de nós e entre nós. Acreditemos nos pequenos, mas insistentes e perseverantes gestos de amor – grãos de mostardas lançadas por terra – que as oportunidades e desafios da vida nos oferecem. Assim seja! 4