Hidrodinâmica Aula 11 (10 Sem./2017) 1 As relações de energia 2 Nas aulas passadas estudamos a dinâmica dos fluidos através do sistema de forças envolvidas em conjugação com a segunda lei de Newton. Vamos ver agora as implicações do balanço energético para o movimento do fluido. Um quadro mais completo não pode prescindir da análise energética uma vez que num fluido em movimento estão presentes trocas de energia mecânica em Energia térmica e vice-versa. Podemos ver claramente que sistemas como a atmosfera e os oceanos são antes de tudo sistemas termodinâmicos e como tal devem ser tratados. O problema que vamos abordar consiste na aplicação das leis da Termodinâmica ao escoamento de um fluido. Todo e qualquer elemento de fluido deve satisfazer a primeira lei de Termodinâmica dE dW dQ 3 A Equação diferencial da Energia Vamos analisar a equação, [1 / 2 u 2 ] e t (11.1) (Energia Mecânica + Energia interna) para um fluido ideal ( = 0) em um fluxo adiabático (não há troca de calor). m 2 (1 / 2.m.u 2 ) Energia cinética por unidade de volume 1 / 2 u 1 / 2 u V V m.e E Energia Interna por unidade de volume e V V E m EP EP Energia potencial (p.ex. gravitacional) Potencial . m V m V por unidade de volume 2 4 u (1 / 2 u 2 ) (11.2) u . 1 / 2u 2 t t t .( u ) Equação da continuidade (11.3) t u 1 Equação de Euler (11.4) ( f p ) (u .)u t Substituindo (11.3) e (11.4) em (11.2) obtemos, (1 / 2 u 2 ) 2 1 / 2u .( u ) u. f u.p u.(u.)u t (Exercício) Mostre que: (11.5) 2 u. (u.)u 1/ 2u.u 5 Relações termodinâmicas relevantes: H (Entalpia) E (Energia Interna) pV (m) h(entalpia específica ) e p.v(volume específico ) e 1 p ρ Sabemos, por sua vez que, dh T .ds(entropia específica ) v.dp Tds (Exercício) Mostre que: h Ts Sugestão: h h( x, y, z , t ) dh 1 p 1 dp (11.6) h dt h.(dr ) t Consideramos as funções h e s como funções de estado do fluido e portanto h = h(x,y,z,t) e s = s(x,y,z,t). 6 Da relação 11.6, concluímos que, uh uTs up up uh uTs (11.7) Podemos substituir 11.7 em 11.5 para obter, (1/ 2 u 2 ) 1/ 2u 2.( u ) u. f u.p u .(u.)u t 11.5 (1 / 2 u 2 ) 2 2 1 / 2u .( u ) u.(1 / 2u h ) Tu.s t (11.8) 7 Relações termodinâmicas relevantes (continuação): de Tds pdv Tds Nota: p 2 d 1 dv 1 1 v 2 dv 2 d d de dq dw dq Tds dw pdv d ( e) e.d .de p d ( e) e.d . Tds 2 .d p d ( e) (e ).d Tds hd Tds ( e) s h T t t t (11.9) 8 Temos também as seguintes relações, .( u ) t Equação da continuidade ds s u .s 0 Para um fluxo adiabático: dt t Substituindo essas duas relações em 11.9 ( e) s h T t t t ( e) h.( u ) T (u .s ) t (11.10) 9 O último termo da relação (11.1), pode ser escrita como: [1 / 2 u 2 ] e t ( ) . t t t Na maioria dos casos o potencial de interação, como por exemplo o potencial gravitacional, pode ser considerado independente do tempo. Fazendo uso da equação da continuidade temos então: ( ) . .( u ) t t (11.11) 10 Substituindo as equações 11.11, 11.10 e 11.8 em 11.1 obtemos: ( ) . .( u ) 11.11 t t ( e) h.( u ) T (u .s ) 11.10 t (1 / 2 u 2 ) 1 / 2u 2.( u ) u.(1 / 2u 2 h ) Tu.s t [1 / 2 u 2 ] e t (11.8) 1 2 1 2 2 [1/ 2 u ] e u h .( u ) u . ( u h ) t 2 2 11 Considerando-se a identidade vetorial, (. A) A. .(A) obtemos, [1 / 2 u 2 ] e .(u[1 / 2 u 2 h ]) t (11.12a) 12 Vemos que a relação 11.11 é estruturalmente idêntica a equação da continuidade, .( u ) t 2 [1 / 2 u ] e .(u[1 / 2 u 2 h ]) t dV .( u )dV ( u ).dS t V V S dM dV J .dS t dt V S onde, J u é o vetor vazão (kg/m3.m/s = kg/m2.s) 13 Analogamente, [1 / 2 u 2 ] e .(u[1 / 2 u 2 h ]) t onde, dE J E .dS dt (11.12b) J E (1/ 2u h )u 2 Essa relação exprime o principio de conservação de energia para um fluido ideal, não viscoso. pode ser definido como uma “vazão de energia" (J/m3.m/s = J/s.m2=W(watt)/m2). 14 A Equação diferencial da Energia (continuação): a questão do atrito 15 Princípio fundamental: primeira lei da Termodinâmica aplicado a uma parcela do fluido. dE dW dQ dE dW dQ dt dt dt dW (força)x(ve locidade) dt R F (corpo) T (superfície ) 16 Potência aplicada pelas forças de superfície 17 Parede perpendicular ao eixo – x: T1 ( x dx, y, z ) u ( x dx, y, z ) (T1 ( x, y, z ) u ( x, y, z )) T .iˆ . ˆj .kˆ dy.dz 1 11 12 13 [ 11 ( x dx, y, z ) u1 ( x dx, y, z ) 12 ( x dx, y, z ) u 2 ( x dx, y, z ) 13 ( x dx, y, z ) u3 ( x dx, y, z )] [ 11 ( x, y, z ) u1 ( x, y, z ) 12 ( x, y, z ) u2 ( x, y, z ) 13 ( x, y, z ) u3 ( x, y, z )] dy dz 11 u1 dx u1 ( x, y, z ) dx 11 ( x, y, z ) x x 11 u1 11 ( x, y, z ) u1 ( x, y, z ) u1 dx 11 dx ( termos em (dx) 2 ) x x 18 Parede perpendicular ao eixo – x: resultado. 13 u3 11 u1 12 u 2 u u u dxdydz 11 2 12 3 13 1 x x x x x x ( u u u ) 2 12 3 13 V x 1 11 Analogamente, para as paredes perpendiculares aos eixos y e z, temos: eixo y : (u1 21 u 2 22 u3 23 )V y eixo z : (u1 31 u 2 32 u3 33 )V z Combinando os resultados parciais obtemos: m dW (forças de superfície ) . u .V . u dt 19 As operações .u representam o produto do tensor tensão (ij) pelo vetor velocidade u num dado ponto do espaço. O resultado desta operação é um vetor: 11 12 13 u1 11.u1 12 .u2 13.u3 .u 21 22 23 u2 21.u1 22 .u2 23.u3 u .u .u .u 31 33 33 3 31 1 32 2 33 3 20 Potência aplicada pelas forças de corpo 21 m dW (forças de corpo) F . u f . uV f . u dt Resultado final: m dW .( u ) f . u dt (11.13) Devemos fazer agora uma observação importante sobre a relação 11.13: nesta relação está inclusa a energia de movimento. Se queremos a contribuição do trabalho mecânico para o aumento da energia interna do sistema devemos isolar a contribuição da energia cinética. 22 O cálculo da potência mecânica nos levou ao seguinte resultado, m dW . u f u . dt Usando a notação de somatório, escrevemos: u dW ij ui . ij i dt x j x j f i ui m ij ui m dW ui f i ij dt x j x j du u m dW .ui i ij i dt dt x j u m dW d (1 / 2.m.ui2 ) ij i dt dt x j Esse termo deve ser mantido no da cálculo da energia interna. (11.14) 23 Cálculo do calor por unidade de tempo trocado devido a parcela (dQ/dt): Para concluirmos a aplicação da primeira lei da Termodinâmica, devemos calcular a quantidade de calor por unidade de tempo trocada pela parcela (dQ/dt). 24 Condução O fenômeno de condução de calor ocorre quando, por exemplo num corpo, suas partes estiverem a temperaturas diferentes. O sentido do fluxo de calor é sempre da parte de maior temperatura para aquela de temperatura mais baixa. (𝐴) 𝑇2 Nã𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑢𝑡𝑜𝑟 𝑐𝑜𝑛𝑑𝑢𝑡𝑜𝑟 (𝐵) 𝑇1 −−− −𝐿 −−− − Após um tempo suficientemente longo, durante o qual os corpos (A) e (B) são mantidos à temperatura T2 e T1 observa-se que os pontos da barra laranja permanecem à mesma temperatura, (fluxo em regime estacionário), variando a temperatura de um ponto para outro linearmente. 𝑇 𝑇2 Regime estacionário a um tempo longo t∞ Regime não estacionário a um tempo t* curto. 𝑇1 𝐿 Os resultados experimentais mostram que: a) ∆𝑄 é diretamente proporcional a ∆𝑇 , ∆𝑡 e 𝐴 (área da seção reta do corpo) ∆𝑄 ∆𝑇 ∝ −𝐴 ∆𝑡 ∆𝑥 Obs 1: o sentido positivo de x é o mesmo de OX. Obs 2: o sinal negativo está de acordo com a transferência de calor da temperatura maior para menor 𝑑𝑄 𝑑𝑇 → = −𝑘𝐴 𝑑𝑡 𝑑𝑥 kA(T2 T1 ) Q H t L 𝑑𝑇 − = (𝑇2 − 𝑇1 )/𝐿 𝑑𝑥 ou A(T2 T1 ) H L/k 𝐿 𝑘 = 𝑅 (𝑟𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑎) Unidade de H: no S.I J/s (Watt) Alguns valores de condutividade. Fonte: Física 2, 5ª Edição, Resnick, Halliday e Krane (LTC). 28 Exemplo (duas placas condutoras de calor colocadas entre duas fontes a temperaturas 𝑇𝐻 e 𝑇𝐶 onde 𝑇𝐻 > 𝑇𝐶 ) (𝐴) (𝐵) 𝐿2 𝐿1 𝑇𝐻 𝑇𝐶 𝑇𝑋 𝐴(𝑇𝐻 − 𝑇𝑋 ) 𝐴(𝑇𝑋 − 𝑇𝐶 ) 𝐻2 = e 𝐻1 = , na interface 𝐻2 = 𝐻1 = 𝐻, (𝑅2 ) (𝑅1 ) logo 𝐻 = 𝐴(𝑇𝐻 − 𝑇𝐶 ) (𝑅1 + 𝑅2 ) R1 e R2 são as resistências térmicas de cada placa e A a área de contato entre elas. Convecção O fenômeno de transferência de calor envolvendo o processo de convecção ocorre quando, partículas de um ambiente, por exemplo o ar, absorvem energia e estas partículas deslocam-se no meio de forma semelhante a um fluido. Assim o calor é transferido de uma região para outra em um ambiente. Em algumas situações pode-se estabelecer um regime estacionário de transferência de calor descrito pela relação abaixo: 𝑄 = ℎ𝐴(𝑇𝑆 − 𝑇∞ ) Onde h é o coeficiente de convecção A a área do material a temperatura Ts e T∞ a temperatura do fluido que circula pelo ambiente. 𝑇𝑆 𝑇∞ Exemplo • Correntes de convecção • A colocação de aberturas nas coberturas aumenta a ventilação natural e transferem o calor pela formação de uma camada de ar móvel entre o forro e o telhado. 𝑑𝑄 𝑑𝑇 = −𝑘𝐴 𝑑𝑡 𝑑𝑥 kA dT dT q k dx A dx Fluxo de calor (W/m2) No espaço tridimensional, q kT Lei de Fourier (11.15) q.ds quantidade de calor por unidade de tempo que atravessa a área ds Q q.ds. cos t ds n̂ q 32 Lei de Fourier - Principio básico às trocas de calor no escoamento q k .T , onde T T(x, y, z, t) Contribuição das paredes perpendiculares ao eixo-x: ˆ [q ( x, y, z, t ).i q ( x dx, y, z, t ).iˆ]dydz T T k |( x dx, y , z ) |( x , y , z ) dydz x x T T (T / x) |( x dx, y , z ) |( x , y , z ) dx x x x 2T k . 2 .dV x 33 Estamos considerando, nesta dedução, que a condutibilidade térmica (k) é constante. Levando em conta as contribuições análogas das paredes perpendiculares aos eixos y e z, podemos escrever: dQ dm k 2T .dV k 2T . dt (11.16) u m dW d (1/ 2. m.ui2 ) ij i dt dt x j Para o cálculo da taxa de variação da energia interna da parcela de fluido devemos considerar as contribuições 11.16 e 11.14: dEint dW dQ dt dt dt u de ij i k 2T dt x j Se usamos a equação constitutiva, ij p. ij (. u ). ij 2 ij 34 2 ui ui de 2 p k T 2 ij (. u ) dt xi x j de p. u k 2T dt 2 ij ui (. u ) 2 x j (11.17) Função dissipação ( - chi) 35 Observações finais: 1. Como vimos, a equação 11.12b não leva em conta as trocas de calor. Se consideramos as trocas de calor por condução a equação 12.12b pode ser ampliada de forma a incorporar o fluxo de calor dado pela lei de Fourier. 2 J E (1 / 2u h )u kT 2. Se consideramos um fluido em repouso a equação 11.17 pode ser escrita como, de k 2T dt Se consideramos um material sólido ou mesmo um fluido de alta viscosidade a presença de gradientes de temperatura não induzem a formação de correntes de convecção. O calor é trocado por condução. Podemos assumir que a energia interna 36 é dada por, de c p .dT onde sabemos que cp (calor específico à pressão constante) cv (calor específico a volume constante). Assim, cP dT k 2T dt dT k 2T 2 2T dt cP T 2 2T t k cP A equação 11.18 é conhecida como Equação de Difusão Térmica e forma uma base importante para os estudos de transferência de calor. (11.18) coeficiente de difusão térmica 37 FIM 38