Número de Questões de Filosofia no ENEM Exigência de Conhecimento Prévio de Conceitos Filosóficos Revolução Científica / Modernidade 1. (Enem 1999) (...) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas principais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites em redor dos planetas principais e com estes em redor do Sol. (...) Não duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião, se quiserem dar-se ao trabalho de tomar conhecimento, não superficialmente mas duma maneira aprofundada, das demonstrações que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes quiserem cometer contra mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por matemáticos. (COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium) Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se considerar verdadeira ciência se não passa por demonstrações matemáticas. (VINCI, Leonardo da. Carnets) O aspecto a ser ressaltado em ambos os textos para exemplificar o racionalismo moderno é a) a fé como guia das descobertas. b) o senso crítico para se chegar a Deus. c) a limitação da ciência pelos princípios bíblicos. d) a importância da experiência e da observação. e) o princípio da autoridade e da tradição. Resposta da questão 1: [D] A experiência ou experimentação é o estudo dos fenômenos em condições que foram determinadas pelo observador e sua importância está no oferecimento de condições privilegiadas para a observação, podendo assim, repetir e varias as experiências, tornar mais rápido ou mais lento os fenômenos e até simplificá-los. No geral a experimentação confirma a hipótese, porém quando isto não ocorre, precisam repeti-la ou modificá-la. A observação científica é rigorosa, precisa, metódica e, portanto, orientada para a explicação dos fatos e para isto, se utilizam de microscópio, telescópio, sismógrafo, balança, termômetro, entre outros instrumentam que proporcionam maior rigor à observação bem como a tornam mais objetiva porque quantificam o que está sendo observado. 2. (Enem 2013) Quando ninguém duvida da existência de um outro mundo, a morte é uma passagem que deve ser celebrada entre parentes e vizinhos. O homem da Idade Média tem a convicção de não desaparecer completamente, esperando a ressurreição. Pois nada se detém e tudo continua na eternidade. A perda contemporânea do sentimento religioso fez da morte uma provação aterrorizante, um trampolim para as trevas e o desconhecido. DUBY, G. Ano 1000 ano 2000 na pista dos nossos medos. São Paulo: Unesp, 1998 (adaptado). Ao comparar as maneiras com que as sociedades têm lidado com a morte, o autor considera que houve um processo de a) mercantilização das crenças religiosas. b) transformação das representações sociais. c) disseminação do ateísmo nos países de maioria cristã. d) diminuição da distância entre saber científico e eclesiástico. e) amadurecimento da consciência ligada à civilização moderna. Resposta da questão 2: [B] A crença na vida eterna é certamente um conforto que livra o homem das suas preocupações com a morte. O crente pode celebrar a morte como um momento de revelação e acolhimento. Todavia, se, por um lado, o crente não necessita temer a morte, porque ela é passagem para algo maior e melhor, por outro, ele necessita temer o julgamento que lhe condenará ou lhe inocentará. O homem contemporâneo pode não ter a crença na vida eterna, porém também não possui o fardo do pecado. As trevas e o desconhecido não são exatamente exclusividades nossas, e a morte pode ser também uma “provação aterrorizante” para o homem da Idade Média. As transformações de nossas crenças individuais não necessariamente modificaram com radicalidade nosso relacionamento com a morte. 3. (Enem 2013) Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente. CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques, Scientiae Studia. São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado). Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em a) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes. b) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia. c) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso. d) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos. e) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos. Resposta da questão 3: [C] Em geral, a ciência estabelece um método de pesquisa racional que busca a construção coletiva de conhecimentos refletidos e seguros sobre a variedade da natureza, e, também, de conhecimentos esclarecedores sobre os fenômenos que nos parecem familiares. Sendo assim, a ciência possui uma base racional fundante a qual todo homem pode ter acesso e, desse modo, todos podem participar. Ela possui, além disso, como objeto de pesquisa a perplexidade do homem perante a variância de alguns fenômenos naturais e a permanência de outros, e como objetivo da pesquisa harmonizar estas diferenças em equilíbrios dinâmicos através de conceitos e sistemas de conceitos justificados da melhor maneira possível, isto é, pela construção de experimentos controlados e avaliações imparciais. 4. (Enem 2014) A filosofia encontra-se escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles, vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto. GALILEI, G. “O ensaiador”. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. No contexto da Revolução Científica do século XVII, assumir a posição de Galileu significava defender a a) continuidade do vínculo entre ciência e fé dominante na Idade Média. b) necessidade de o estudo linguístico ser acompanhado do exame matemático. c) oposição da nova física quantitativa aos pressupostos da filosofia escolástica. d) importância da independência da investigação científica pretendida pela Igreja. e) inadequação da matemática para elaborar uma explicação racional da natureza. Resposta da questão 4: [C] A Revolução Científica do século XVII é caracterizada por questionar certos pressupostos da filosofia que a antecedia, sobretudo a escolástica. Galileu foi um dos principais pensadores do período e uma de suas ideias era de que a Terra não é o centro do Universo. Isso significava questionar verdades religiosas, procurando abrir espaço para a constituição da ciência moderna, ancorada na linguagem matemática. Descartes 5. (Enem 2014) É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado). Apesar de questionar os conceitos da tradição, a dúvida radical da filosofia cartesiana tem caráter positivo por contribuir para o(a) a) dissolução do saber científico. b) recuperação dos antigos juízos. c) exaltação do pensamento clássico. d) surgimento do conhecimento inabalável. e) fortalecimento dos preconceitos religiosos. Resposta da questão 5: [D] A dúvida radical conduz o pensador à conclusão de que pensa, o cogito. Esta é, para Descartes, o conhecimento inabalável, princípio de todas as certezas. Sendo assim, somente a alternativa [D] está correta. 6. (Enem 2013) TEXTO I Há já de algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado). TEXTO II É de caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado). A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se a) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade. b) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções. c) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos. d) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados. e) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados. Resposta da questão 6: [B] Como exemplo da radicalidade indicada pelo prof. Franklin Leopoldo e Silva, vale mencionar que Descartes inicia a segunda meditação com a metáfora de um homem submerso, ele diz: “a meditação que fiz ontem encheu-me de tantas dúvidas, que doravante não está mais em meu alcance esquecê-las. E, no entanto, não vejo de que maneira poderia resolvê-las; e, como se de súbito tivesse caído em águas muito profundas, estou de tal modo surpreso que não posso nem firmar meus pés no fundo, nem nadar para me manter à tona”. Essa metáfora expõe um homem de mãos atadas; voltar para a situação anterior é impossível, porém manter-se no meio do caminho também. A única opção é manter-se trilhando o caminho da dúvida sistemática e generalizada, esperando desse modo alcançar algum ponto firme o suficiente para ser possível apoiar os pés, e nadar de volta para a superfície. Mantendo-se nesse caminho, o filósofo busca o ponto que irá inaugurar uma cadeia de razões da qual ele não poderá duvidar. O chão desse mar no qual o filósofo está submerso é esta única coisa da qual ele não pode duvidar, mesmo se o gênio maligno estiver operando. Tal certeza radical é a certeza sobre o fato de que se o gênio maligno perverte meus pensamentos, ele nunca poderia perverter o próprio fato de que eu devo estar pensando para que ele me engane. Penso, existo é a nova raiz que nutre a modernidade. 7. (Enem 2012) TEXTO I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979. TEXTO II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado). Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume a) defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo. b) entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. c) são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento. d) concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos. e) atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento. Resposta da questão 7: [E] Da dúvida sistemática e generalizada das experiências sensíveis, Descartes espera começar a busca por algum ponto firme o suficiente para ser possível se apoiar e não duvidar. O chão deste mar de dúvidas no qual o filósofo está submerso é esta única coisa da qual ele não pode duvidar, mesmo se o gênio maligno estiver operando. Esta certeza é a certeza sobre o fato de que se o gênio maligno perverte meus pensamentos, ele nunca poderia perverter o próprio fato de que eu devo estar pensando para que ele me engane. Então, se penso, existo. David Hume (1711-1776), influenciado pela filosofia de John Locke (1632-1704), parte de uma noção da mente humana segundo a qual o homem não possui ideias inatas, porém todas elas provêm da experiência sensível para compor o conhecimento. Sendo assim, o homem conhece a partir das impressões e das ideias que concebe a partir da experiência. De experiências habituais ele constrói conhecimentos baseados em matérias de fato e relações entre ideias. Os conhecimentos sobre matérias de fato são empíricos, portanto, apenas mais ou menos prováveis, já os conhecimentos sobre relações de ideias são puros, portanto, sempre certos sem, todavia, se referir a qualquer realidade sensível. Aristóteles 8. (Enem 2013) A felicidade é portanto, a melhor, a mais nobre e a mais aprazível coisa do mundo, e esses atributos não devem estar separados como na inscrição existente em Delfos “das coisas, a mais nobre é a mais justa, e a melhor é a saúde; porém a mais doce é ter o que amamos”. Todos estes atributos estão presentes nas mais excelentes atividades, e entre essas a melhor, nós a identificamos como felicidade. ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. Ao reconhecer na felicidade a reunião dos mais excelentes atributos, Aristóteles a identifica como a) busca por bens materiais e títulos de nobreza. b) plenitude espiritual a ascese pessoal. c) finalidade das ações e condutas humanas. d) conhecimento de verdades imutáveis e perfeitas. e) expressão do sucesso individual e reconhecimento público. Resposta da questão 8: [C] Aristóteles parte do senso comum para afirmar que todas as atividades humanas, pragmáticas ou teóricas, miram um bem qualquer, de modo que o bem pode ser definido como aquilo a que todas as ações tendem. Todavia, nem todas as atividades do homem tendem para o bem da mesma maneira, pois algumas ações são seus próprios fins e outras são meios através dos quais se atinge alguma finalidade desejada. O homem é capaz de muitas atividades e, por conseguinte, é capaz de atingir muitos fins. Alguns destes fins estão subordinados a outros – por exemplo, a finalidade da agricultura é a alimentação – e, consequentemente, se não podemos dizer que cultivamos apenas por cultivarmos, ao contrário podemos dizer que nos alimentamos apenas por nos alimentarmos. Entretanto, a questão é que poderíamos considerar todas as nossas atividades, até a alimentação, em função de outras, e o fim visado pela primeira tornar-se-ia o começo da segunda. Se assim considerássemos, a sequência seguiria infinitamente, nos fazendo transitar de uma ação para outra nunca nos tranquilizando. Ora, a atividade humana deve visar o bem tendo em vista aquela atividade mais excelente, o sumo bem. Conhecer tal sumo é, então, de grande importância, pois afetaria a maneira como agimos e facilitaria a realização da nossa felicidade nos dando um bom termo para nossas ações. Segundo o filósofo grego, a política é a arte mestra, pois é decisiva para a determinação dos conteúdos de todas as ciências, isto é, todos os conhecimentos se subordinam à finalidade da política; se considerarmos que o bem é a felicidade e o sumo bem é a felicidade de todos, então a política se torna a mais decisiva das ciências por ser a atividade que realiza o último fim, o sumo bem. Portanto, se a felicidade é a atividade da alma em conformidade com a virtude perfeita, e esta virtude perfeita é adquirida através de um bom hábito dirigido pela ciência política, então a felicidade é algo divino, pois ela é o que de melhor existe no mundo, ou seja, ela é a felicidade de todos os cidadãos atingida pela boa direção da alma de cada um. Platão 9. (Enem 2014) No centro da imagem, o filósofo Platão é retratado apontando para o alto. Esse gesto significa que o conhecimento se encontra em uma instância na qual o homem descobre a a) suspensão do juízo como reveladora da verdade. b) realidade inteligível por meio do método dialético. c) salvação da condição mortal pelo poder de Deus. d) essência das coisas sensíveis no intelecto divino. e) ordem intrínseca ao mundo por meio da sensibilidade. Resposta da questão 1: [B] Platão é conhecido como um filósofo idealista. Segundo ele, a verdade encontra-se no mundo das ideias, e não no mundo material. O pensamento somente pode se aproximar das ideias através da dialética, que o purifica das crenças e opiniões. 10. (Enem 2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427–346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. Resposta da questão 10: [D] A filosofia de Platão é resultado de um trabalho de reflexão intenso e extenso, de modo que as questões durante os inúmeros diálogos por ele escritos são respondidas de maneiras distintas. Porém, Platão possui uma questão de fundo que se refere ao problema da identidade – resquício da tradição conflituosa de Parmênides e Heráclito –, a saber: o que é, é sempre idêntico a si mesmo, ou é sempre distinto? O mundo verdadeiro é uma totalidade sempre permanente, ou uma totalidade sempre efêmera? A concepção sobre Ideias que Platão formula atende, em geral, essas questões e busca demonstrar como o sensível apesar de expor uma realidade impermanente, possui um fundamento permanente. As Ideias são verdadeiras, a realidade sensível é apenas uma aparência passageira dessa realidade. A realidade inteligível (mundo das Ideias, das Formas), na qual se encontram as essências, o Ser de cada coisa existente. Uma realidade alcançável apenas pelos “olhos da alma”, pois é observado apenas pelo esforço da razão. Exatamente por ser inteligível, essa realidade tem como características: ser metafísica, isto é, imaterial, ou incorpórea; ser una, isto é, reduz a multiplicidade das coisas sensíveis a uma unidade; ser eterna, por não se submeter ao ciclo de geração e degeneração das coisas do mundo sensível. Kant 11. (Enem 2012) Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa a) a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. b) o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. c) a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. d) a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. e) a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. [A] Como diz Kant em Resposta à pergunta: “O que é Iluminismo?” (1784), a palavra de ordem deste movimento de renovação cultural é “Sapere aude!”, isto quer dizer basicamente que os homens deveriam deixar sua menoridade, da qual são culpados, e direcionarem seu entendimento a partir de suas próprias forças, sem a guia de outro. (Para uma noção geral sobre o assunto: <http://www.youtube.com/watch?v=9a9kWxpnjWk>.) Esta posição perante o mundo possibilitou um movimento em busca da liberdade e de um ideal de independência política, econômica e intelectual. Desta busca nasce, entre muitos outros movimentos, a Independência americana, a Independência haitiana e a Revolução francesa (esta última influenciada pelo pensamento do filósofo Jean-Jacques Rousseau). E sendo uma posição opositora dos regimes absolutistas, o Iluminismo almeja a libertação da riqueza e de tudo mais dos mistérios divinos tão presentes no pensamento medieval e influentes neste tipo de Estado absoluto. Tudo passa a ser problema resolvível se o entendimento do homem se empenhar de maneira metodológica. Nada é misterioso. Desta confiança na razão nasce uma reflexão sobre a riqueza e sua administração – Adam Smith, A riqueza das nações (1776), por exemplo. Neste contexto Montesquieu também é importante, na sua obra O Espírito das Leis temos um tratado sobre as relações do poder administrativo e uma teorização sobre a tripartição deste poder (executivo, legislativo e judiciário) de modo a serem separados, porém interdependentes. 12. (Enem 2013) Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento, malogravam-se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Gulbenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana na filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que a) assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento. b) defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. c) revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. d) apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. e) refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. Resposta da questão 12: [A] Primeiro, distingamos entre os tipos de juízos que Kant considera sermos capazes de fazer. Eles são três: 1) juízos analíticos (ou aqueles juízos nos quais já no sujeito encontramos o predicado, ou seja, juízos tautológicos e, por conseguinte, dos quais não se obtém nenhum tipo de conhecimento); 2) juízos sintéticos a posteriori (ou aqueles juízos nos quais a experiência sensível está presente e se faz parte decisiva do julgamento, ou seja, juízos particulares e contingentes); e 3) juízos sintéticos a priori (ou aqueles juízos nos quais o predicado não está contido no sujeito e a experiência não constitui alguma parte decisiva do conteúdo, ou seja, juízos nos quais se obtém conhecimento sobre algo, porém sem que a experiência seja relevante para a conclusão obtida, o que faz desse tipo de juízo universal e necessário). Segundo, lembremos que Kant afirmava que a matemática e a física realizam justamente o último tipo de juízo mencionado. Ele, então, se perguntava se a metafísica também não era capaz de realizar esse tipo de juízo. Para solucionar esta questão: “é possível uma metafísica baseada em juízos sintéticos a priori?”, o filósofo irá modificar o ponto de vista da investigação se inspirando em Copérnico, isto é, considerando o objeto não através daquilo que a experiência sensível expõe, porém a partir da possibilidade de a faculdade mesma de conhecer constituir a priori o objeto – o astrônomo fez algo similar quando, em vez de calcular o movimento dos corpos celestes através dos dados da experiência sensível, calculou esses movimentos através da suposição de que o próprio observador (o homem sobre a Terra) se movia. Esse a priori que Kant formula se encontra nas formas da sensibilidade, nas categorias do entendimento e no esquematismo, isto é, na sua filosofia transcendental, ou na sua filosofia sobre as condições de possibilidade do próprio conhecimento. 13. (Enem 2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano. EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974. No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim a) alcançar o prazer moderado e a felicidade. b) valorizar os deveres e as obrigações sociais. c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação. d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade. e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber. Resposta da questão 13: [A] A filosofia de Epicuro tem como um de seus princípios a moderação dos desejos e dos prazeres, tal como afirma a alternativa [A], única correta. 14. (Enem 2012) TEXTO I Anaxímenes de Mileto disse que o ar é o elemento originário de tudo o que existe, existiu e existirá, e que outras coisas provêm de sua descendência. Quando o ar se dilata, transformase em fogo, ao passo que os ventos são ar condensado. As nuvens formam-se a partir do ar por feltragem e, ainda mais condensadas, transformam-se em água. A água, quando mais condensada, transforma-se em terra, e quando condensada ao máximo possível, transformase em pedras. BURNET, J. A aurora da filosofia grega. RJ: PUC-Rio, 2006 (adaptado). TEXTO II Basílio Magno, filósofo medieval, escreveu: “Deus, como criador de todas as coisas, está no princípio do mundo e dos tempos. Quão parcas de conteúdo se nos apresentam, em face desta concepção, as especulações contraditórias dos filósofos, para os quais o mundo se origina, ou de algum dos quatro elementos, como ensinam os Jônios, ou dos átomos, como julga Demócrito. Na verdade, dão a impressão de quererem ancorar o mundo numa teia de aranha”. GILSON, E.; BOEHNER, P. História da Filosofia Cristã. SP: Vozes, 1991 (adaptado). Filósofos dos diversos tempos históricos desenvolveram teses para explicar a origem do universo, a partir de uma explicação racional. As teses de Anaxímenes, filósofo grego antigo, e de Basílio, filósofo medieval, têm em comum na sua fundamentação teorias que a) eram baseadas nas ciências da natureza. b) refutavam as teorias de filósofos da religião. c) tinham origem nos mitos das civilizações antigas. d) postulavam um princípio originário para o mundo. e) defendiam que Deus é o princípio de todas as coisas. Resposta da questão 14: [D] Anaxímenes de Mileto (585–528 a.C.) é um filósofo pré-socrático preocupado com a cosmologia, isto é, preocupado com a ordenação das coisas que compões o mundo. Desse modo, a sua filosofia posiciona princípios dos quais ele pensa poder derivar de maneira coerente e coesa o sentido da existência de tudo que há na natureza. Já São Basílio Magno (329–379 d.C.) é um teólogo preocupado com a propagação da verdade revelada pela Bíblia, o livro que já oferece toda a ordenação das coisas que compõem o mundo. Desse modo, Deus não é exatamente um princípio do qual se origina o mundo, mas sim o próprio criador desse mundo, o seu dono e conhecedor de todas as suas regras cosmológicas. 15. (Enem 2012) Não ignoro a opinião antiga e muito difundida de que o que acontece no mundo é decidido por Deus e pelo acaso. Essa opinião é muito aceita em nossos dias, devido às grandes transformações ocorridas, e que ocorrem diariamente, as quais escapam à conjectura humana. Não obstante, para não ignorar inteiramente o nosso livre-arbítrio, creio que se pode aceitar que a sorte decida metade dos nossos atos, mas [o livre-arbítrio] nos permite o controle sobre a outra metade. MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Brasília: EdUnB, 1979 (adaptado). Em O Príncipe, Maquiavel refletiu sobre o exercício do poder em seu tempo. No trecho citado, o autor demonstra o vínculo entre o seu pensamento político e o humanismo renascentista ao a) valorizar a interferência divina nos acontecimentos definidores do seu tempo. b) rejeitar a intervenção do acaso nos processos políticos. c) afirmar a confiança na razão autônoma como fundamento da ação humana. d) romper com a tradição que valorizava o passado como fonte de aprendizagem. e) redefinir a ação política com base na unidade entre fé e razão. Resposta da questão 15: [C] Percebemos claramente pela passagem citada que o pensamento de Maquiavel regula de acordo com a sorte as nossas ações de todo tipo, sendo em um momento a própria sorte um árbitro e noutro uma preocupação com a qual nos conformamos. Agir bem é agir efetivamente perante as circunstâncias. Não por outro motivo a história é muito importante para Maquiavel, pois é através dela que encontramos exemplos de homens que agiram efetivamente perante as adversidades e obtiveram resultados que contornaram o poder devastador da sorte. Neste contexto, virtù não pode ser a virtude de um homem bom como a filosofia antiga especulou, mas sim aquelas qualidades que o homem possui capazes de fazê-lo superar os eventuais percalços. No caso do Príncipe, a virtù constitui aquele conjunto de qualidades pessoais necessárias para a manutenção do estado e a realização de grandes feitos, mesmo que estas qualidades sejam eventualmente cruéis. 16. (Enem 2013) Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado, quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens se pode dizer, duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus, oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991. A partir da análise histórica do comportamento humano em suas relações sociais e políticas, Maquiavel define o homem como um ser a) munido de virtude, com disposição nata a praticar o bem a si e aos outros. b) possuidor de fortuna, valendo-se de riquezas para alcançar êxito na política. c) guiado por interesses, de modo que suas ações são imprevisíveis e inconstantes. d) naturalmente racional, vivendo em um estado pré-social e portando seus direitos naturais. e) sociável por natureza, mantendo relações pacíficas com seus pares. Resposta da questão 16: [C] Maquiavel é considerado fundador da filosofia política moderna, pois muitas das suas afirmações se contrapõem à filosofia política clássica. Basicamente, a sua reflexão se preocupa muito mais com problemas efetivos, e muito menos com reflexões utópicas sobre o dever ser. De modo que a eficiência deve ser buscada na pobreza mesma das nossas cidades como elas são, e não na possível riqueza das nossas cidades como elas poderiam ser. “Resta ver agora como deve comportar-se um príncipe com os súditos ou com os amigos. Como sei que sobre isso muitos escreveram receio, fazendo-o eu também, ser considerado presunçoso, principalmente porque, ao tratar deste assunto, me afasto das regras estabelecidas pelos outros. Mas sendo minha intenção escrever coisa útil, destinada a quem por ela se interessar, pareceu-me mais conveniente ir diretamente à efetiva verdade do que comprazer-me em imaginá-la. Muita gente imaginou repúblicas e principados que jamais foram vistos ou de cuja real existência jamais se teve notícia. E é tão diferente o como se vive do como se deveria viver, que aquele que desatende ao que se faz e se atém ao que se deveria fazer aprende antes a maneira de arruinar-se do que a de preservar-se. Assim, o homem que queira em tudo agir como bom acabará arruinandose em meio a tantos que não são bons”. (N. Maquiavel. O Príncipe. São Paulo: Círculo do livro, p. 101).