Teoria de Bandas – 2 Elétrons Quase Livres CF086 - Introdução a Física do Estado Sólido 1 Introdução O modelo de elétrons livres fornece alguns resultados interessantes, mas existem pontos não explicados. Num sólido periódico, as funções de onda eletrônicas têm essa mesma periodicidade. Como consequência, surgem bandas de energia, e pode haver intervalos de energia separando estas bandas. São os gaps de energia. Os elétrons não podem ter energias nas regiões dos gaps. 2 Introdução Dependendo do valor dos gaps, e do preenchimento das bandas, o material é isolante, semicondutor ou condutor. Se as bandas são totalmente preenchidas ou vazias, temos um isolante. Se o preenchimento das bandas está entre algo como 10 % e 90 %, temos um condutor. Fora destes limites, temos um semicondutor. 3 Introdução Por que há gaps? Considere um sólido periódico 1D, onde a 1ª ZB 𝜋 𝜋 fica na região [− , ]. 𝑎 𝑎 Vetores recíprocos nessa rede são dados por 𝐾= 2𝜋𝑛 𝑎 Condição de Laue: 1 𝑘⋅𝐾 = 𝐾 2 4 Introdução Nesta rede 1D, na condição de difração, temos 𝜋𝑛 𝑘= 𝑎 Logo, nos limites da 1ª ZB, onde 𝑘=± 𝜋 𝑎 a condição de Laue é satisfeita. Sendo assim, elétrons que tenham esse vetor de onda são refletidos de volta para dentro da 1ª ZB, resultando em ondas estacionárias. 5 Introdução Estas ondas são da forma 𝜓+ ∝ 2 cos 𝜋𝑥 𝑎 , 𝜓− ∝ 2𝑖 sen 𝜋𝑥 𝑎 As formas acima fazem com que os elétrons tenham probabilidades diferentes para locais diferentes, resultando em energias potenciais diferentes. Densidade de probabilidade: 𝜚 𝑥 = 𝜓∗𝜓 = 𝜓 2 6 Introdução Os caroços iônicos geram um potencial periódico, como na figura. Onda plana: dada por 𝑒 𝑖𝑘𝑥 . Densidade de probabilidade: 𝜚 𝑥 = 𝑒 −𝑖𝑘𝑥 𝑒 𝑖𝑘𝑥 = 1 Não há acúmulo de carga em nenhum ponto. 7 Introdução Para a função de onda 𝜓 + , a densidade de probabilidade fica 𝜚+ 𝑥 = 𝜓+∗ 𝜓+ ∝ cos 2 𝜋𝑥 𝑎 Ocorrem máximos em 𝑥 = 0, ±𝑎, ±2𝑎, … → locais dos íons positivos. Elétrons ficam localizados nos locais onde o potencial elétrico positivo é alto, resultando numa energia potencial negativa e pequena. 8 Introdução Para a função de onda 𝜓 − , a densidade de probabilidade fica 𝜚− 𝑥 = 𝜓−∗ 𝜓− ∝ sen2 𝜋𝑥 𝑎 Ocorrem mínimos em 𝑥 = 0, ±𝑎, ±2𝑎, … → locais dos íons positivos. Os máximos de probabilidade ocorrem entre os íons. 9 Introdução Elétrons ficam localizados nos locais onde o potencial elétrico positivo é baixo ou nulo, resultando numa energia potencial maior que nos dois casos anteriores. 10 Introdução Estas diferenças entre as energias potenciais geram diferenças nas energias totais para as funções 𝜓± 𝑥 → gap de energia na borda da ZB. Vamos investigar o problema em mais detalhes. 11 Elétrons de Bloch Os elétrons numa estrutura periódica ficam sujeitos a um potencial periódico, de modo que 𝑈 𝑟+𝑅 =𝑈 𝑟 𝑅: qualquer vetor da rede de Bravais. Hamiltoniana do sistema: ℏ2 2 ℋ𝜓 = − 𝛻 + 𝑈 𝑟 𝜓 = ℰ𝜓 2𝑚 onde 𝑈(𝑟) é o potencial periódico. 12 Elétrons de Bloch Elétrons descritos pela equação acima: elétrons de Bloch. Elétrons livres: caso particular de elétrons de Bloch quando 𝑈 𝑟 = 0. Soluções de Bloch 𝜓(𝑟): descrevem elétrons de Bloch e são autofunções (autovetores) do operador ℋ com autovalor ℰ. 13 Teorema de Bloch Os autovetores 𝜓 da hamiltoniana apresentada acima, onde 𝑈 𝑟 é periódica para qualquer vetor 𝑅 da rede de Bravais são dados por 𝜓𝑛𝑘 𝑟 = 𝑒 𝑖𝑘⋅𝑟 𝑢𝑛𝑘 (𝑟) onde 𝑒 𝑖𝑘⋅𝑟 → onda plana (elétron livre) e 𝑢𝑛𝑘 𝑟 segue 𝑢𝑛𝑘 𝑟 + 𝑅 = 𝑢𝑛𝑘 (𝑟) 14 Teorema de Bloch Outro modo de escrever o teorema (demonstrar equivalência): 𝜓𝑛𝑘 𝑟 + 𝑅 = 𝑒 𝑖𝑘⋅𝑅 𝜓𝑛𝑘 (𝑟) Demonstração 1: quadro. Condições de contorno: Born – von Karman. Nesse caso, supor 𝑁𝑖 células unitárias na direção definida por 𝑎𝑖 . Então, 𝜓 𝑟 + 𝑁𝑖 𝑎𝑖 = 𝜓 𝑟 , 𝑖 = 1, … , 3 15 Elétrons de Bloch Há 𝑁 = 𝑁1 𝑁2 𝑁3 células primitivas no sólido. Das equações anteriores, temos 𝜓𝑛𝑘 𝑟 = 𝑒 𝑖𝑁𝑖𝑘⋅𝑎𝑖 𝜓𝑛𝑘 (𝑟) Logo, 𝑒 𝑖𝑁𝑖𝑘⋅𝑎𝑖 = 1 Mas, 𝑘 = 𝑥1 𝑏1 + 𝑥2 𝑏2 + 𝑥3 𝑏3 16 Elétrons de Bloch Com isso, os valores de 𝑘 são: 𝑘= 𝑚1 𝑚2 𝑚3 𝑏1 + 𝑏2 + 𝑏 𝑁1 𝑁2 𝑁3 3 Cada possível 𝑘 ocupa um volume 𝑣𝑘 = 𝑏1 𝑏2 𝑏3 1 ⋅ × = 𝑏1 ⋅ 𝑏2 × 𝑏3 𝑁1 𝑁2 𝑁3 𝑁 Note que o volume da célula primitiva na rede recíproca vale 𝑉𝑘 = 𝑏1 ⋅ 𝑏2 × 𝑏3 17 Elétrons de Bloch Assim, o número de valores possíveis para 𝑘 numa célula primitiva (1ª ZB) vale 𝑉𝑘 =𝑁 𝑣𝑘 Note que 𝑁 é também o número de pontos de rede. 𝑁 ∼ 1023 . Relação com rede real (volume 𝑣 da célula primitiva): 1 1 2𝜋 𝑣𝑘 = 𝑏1 ⋅ 𝑏2 × 𝑏3 = 𝑁 𝑁 𝑣 3 2𝜋 = 𝑉 3 18 Elétrons de Bloch Densidade de estados: 𝒟 𝑘 = 𝑉 2𝜋 3 Igual a elétrons livres. 19 Modelo de Kronig-Penney Exemplo de potencial periódico 1D: modelo de Kronig-Penney: sucessão periódica de poços finitos. Região 0 ≤ 𝑥 ≤ 𝑎: equação de Schrödinger ℏ2 𝑑 2 𝜓 − = ℰ𝜓 2𝑚 𝑑𝑥 2 20 Modelo de Kronig-Penney Definindo-se 𝑍= 2𝑚ℰ , 𝑚 ℏ2 𝑍 2 ℰ= 2𝑚 temos soluções 𝜓1 𝑥 = 𝐴𝑒 𝑖𝑍𝑥 + 𝐵𝑒 −𝑖𝑍𝑥 , 0≤𝑥≤𝑎 21 Modelo de Kronig-Penney Região −𝑏 ≤ 𝑥 ≤ 0: equação de Schrödinger ℏ2 𝑑 2 𝜓 − + 𝑈0 = ℰ𝜓 2𝑚 𝑑𝑥 2 Definindo-se 𝑄= 2𝑚(𝑈0 − ℰ) , 𝑚 ℏ2 𝑄2 𝑈0 − ℰ = 2𝑚 temos soluções 𝜓2 𝑥 = 𝐶𝑒 𝑄𝑥 + 𝐷𝑒 −𝑄𝑥 , −𝑏 ≤ 𝑥 ≤ 0 22 Modelo de Kronig-Penney As soluções devem seguir o teorema de Bloch, ou seja, 𝜓 𝑥+ 𝑎+𝑏 = 𝑒 𝑖𝑘 Considerando as continuidades de 𝜓 e 𝐴+𝐵 =𝐶+𝐷 , 𝑎+𝑏 𝑑𝜓 𝑑𝑥 𝜓(𝑥) em 𝑥 = 0 e 𝑥 = 𝑎, temos 𝑖𝑍 𝐴 − 𝐵 = 𝑄 𝐶 − 𝐷 , 𝐴𝑒 𝑖𝑍𝑎 + 𝐵𝑒 −𝑖𝑍𝑎 = 𝑒 𝑖𝑘 𝑎+𝑏 𝑖𝑍 𝐴𝑒 𝑖𝑍𝑎 − 𝐵𝑒 −𝑖𝑍𝑎 = 𝑄𝑒 𝑖𝑘 𝑥=0 𝐶𝑒 −𝑄𝑏 + 𝐷𝑒 𝑄𝑏 𝑎+𝑏 𝐶𝑒 −𝑄𝑏 − 𝐷𝑒 𝑄𝑏 23 Modelo de Kronig-Penney Resolvendo o sistema de equações, chega-se a 𝑄2 − 𝑍 2 senh 𝑄𝑏 sen 𝑍𝑎 + cosh 𝑄𝑏 cos 𝑍𝑎 = cos 𝑘 𝑎 + 𝑏 2𝑄𝑍 Vamos definir 𝑄2 𝑎𝑏 𝑃= 2 Considerando os limites 𝑏 → 0 e 𝑈0 → ∞, com 𝑃 fixo, temos uma sucessão de funções delta como potencial. 24 Modelo de Kronig-Penney Nesse caso, a condição entre os parâmetros é 𝑃 sen 𝑍𝑎 + cos 𝑍𝑎 = cos 𝑘𝑎 𝑍𝑎 Só há solução na faixa −1 ≤ cos 𝑘𝑎 ≤ 1. • • Um dado 𝑃 fixa o valor de ℰ. Se há solução para esse 𝑃, temos o(s) valor(es) de 𝑘 correspondentes. 25 Modelo de Kronig-Penney Há valores de ℰ não acessíveis nas bordas das ZB → gaps. 𝑃 sen 𝑍𝑎 + cos 𝑍𝑎 = cos 𝑘𝑎 𝑍𝑎 26 Modelo de Kronig-Penney Comparação entre um poço finito e uma sucessão periódica de poços 27 Equação Central e T. de Bloch Vamos obter outra relação que permite provar o teorema de Bloch, além de reescrever a equação de Schrödinger. Solução em série de Fourier: 𝑐𝑞 𝑒 𝑖𝑞⋅𝑟 𝜓 𝑟 = 𝑞 𝑞: vetores permitidos pelas condições Born – von Karman. Na 1ª ZB, 𝑞 = 𝑘. 28 Equação Central e T. de Bloch Potencial é periódico. Em série, 𝑈𝐾 𝑒 𝑖𝐾⋅𝑟 𝑈 𝑟 = 𝐾 onde 𝑈𝐾 = 1 𝑣 𝑈 𝑟 𝑒 −𝑖𝐾⋅𝑟 𝑑𝑣 celula Por hipótese, 𝑈0 = 0, além disso, como 𝑈 é real, 𝑈𝐾∗ = 𝑈−𝐾 29 Equação Central e T. de Bloch Se 𝑈(𝑟) tiver simetria de inversão, 𝑈𝐾 é real. Calculamos agora 𝑝2 ℏ2 2 𝜓=− 𝛻 2𝑚 2𝑚 e 𝑐𝑞 𝑒 𝑖𝑞⋅𝑟 = 𝑞 𝑞 𝑈𝐾 𝑐𝑞 𝑒 𝑖 𝑈𝜓 = ℏ2 𝑞 2 𝑐𝑞 𝑒 𝑖𝑞⋅r 2𝑚 𝐾+𝑞 ⋅𝑟 𝐾,𝑞 30 Equação Central e T. de Bloch Definindo 𝑞′ = 𝐾 + 𝑞 e manipulando, chega-se a 𝑈𝐾 𝑐𝑞−𝐾 𝑒 𝑖𝑞⋅𝑟 𝑈𝜓 = 𝐾,𝑞 Substituindo na eq. de Schrödinger, obtém-se a equação central, dada por ℏ2 𝑞 2 − ℰ 𝑐𝑞 + 2𝑚 𝑈𝐾 𝑐𝑞−𝐾 = 0 𝐾 31 Equação Central e T. de Bloch Na 1ª ZB, 𝑞 = 𝑘, e ficamos com ℏ2 𝑘 2 − ℰ 𝑐𝑘 + 2𝑚 𝑈𝐾 𝑐𝑘−𝐾 = 0 𝐾 Fora da 1ª ZB, introduzimos um 𝐾′ tal que obtemos ℏ2 𝑘 − 𝐾′ 2𝑚 2 − ℰ 𝑐𝑘−𝐾′ + 𝑈𝐾−𝐾′ 𝑐𝑘−𝐾 = 0 𝐾 onde 𝑘 está na 1ª ZB. 32 Equação Central e T. de Bloch Para um dado 𝑘 na 1ª ZB, os coeficientes 𝑐𝑘−𝐾′ envolvem vetores 𝑞 que diferem de 𝑘 por um vetor da rede recíproca. Há 𝑁 valores de 𝑘 na 1ª ZB ⇒ 𝑁 problemas independentes. Soluções: 𝑐𝑘−𝐾 𝑒 𝑖 𝜓𝑘 𝑟 = 𝐾 𝑘−𝐾 ⋅𝑟 = 𝑒 𝑖𝑘⋅𝑟 𝑐𝑘−𝐾 𝑒 −𝑖𝐾⋅𝑟 𝐾 33 Bandas de Energia Com isso, a função 𝑢(𝑟) do teorema de Bloch fica 𝑐𝑘−𝐾 𝑒 −𝑖𝐾⋅𝑟 𝑢𝑘 𝑟 = 𝐾 Obs.: 1. 2. 𝑘 não é dado por 𝑘 = 𝑝/ℏ para elétrons de Bloch pois 𝜓𝑘 (𝑟) não é autoestado de 𝑝 (verificar) (𝜓𝑘 é de ℋ). ℏ𝑘 é o momento cristalino do elétron de Bloch. Para um dado 𝑘, há diversas soluções para ℰ, o que dá origem ao índice n em 𝜓𝑛𝑘 (𝑟). Então, ℰ = ℰ𝑛 (𝑘). 34 Bandas de Energia 3. Se 𝑘 não está restrito à 1ª ZB, então deve ocorrer 𝜓𝑛,𝑘+𝐾 = 𝜓𝑛𝑘 , 4. ℰ𝑛 𝑘 + 𝐾 = ℰ𝑛 𝑘 Os níveis de energia têm a periodicidade da rede, e formam as bandas do sólido. ℰ𝑛 (𝑘) são funções periódicas e contínuas de 𝑘, de modo que têm máximos e mínimos. 35 Bandas de Energia 5. A velocidade média eletrônica num dado nível é dada por 𝑣𝑛 𝑘 = 6. 1 𝛻 ℰ (𝑘) ℏ 𝑘 𝑛 Com isso, apesar da interação com a rede, os elétrons se movem sem degradar sua velocidade média, que é alterada por impurezas, defeitos, etc, não pela rede em si. 36 Bandas de Energia O preenchimento das bandas no estado fundamental de N elétrons de Bloch é feito de forma similar ao caso de elétrons livres. Os índices 𝑛 e 𝑘 representam os elétrons. Por hipótese, consideramos 𝑘 na 1ª ZB, para evitar repetição. Há, então, duas situações. Algumas bandas ficam totalmente vazias enquanto outras ficam totalmente preenchidas. Nesse caso, a diferença de energia entre o topo da mais alta banda preenchida e a base da banda vazia imediatamente superior é o gap 𝐸𝑔 de energia. 37 Bandas de Energia • Se 𝐸𝑔 ≫ 𝑘𝐵 𝑇, temos um isolante. Se 𝐸𝑔 ∼ 𝑘𝐵 𝑇, temos um semicondutor intrínseco. • Como o número de níveis numa banda é igual ao número de células primitivas, e como cada nível acomoda dois elétrons, se o número de elétrons na célula primitiva é par, então nesses casos pode ocorrer um gap de energia. 38 Bandas de Energia • Se algumas bandas ficam parcialmente preenchidas, é possível ter um metal ou semimetal. Nesse caso, a energia do elétron mais energético (energia de Fermi) fica no intervalo entre bandas ou intrabanda. • Há uma superfície de energia que separa os níveis preenchidos dos vazios, que é a superfície de Fermi (análogo à esfera de Fermi para elétrons livres), dada matematicamente por ℰ𝑛 𝑘 = 𝐸𝐹 39 Bandas de Energia • Se existe uma superfície de Fermi, o sólido é metálico. Cu (FCC) W (BCC) 40 Bandas de Energia • • Vamos agora investigar dois casos importantes. Começamos com elétrons livres, onde 𝑈 = 0 e 𝑈𝐾 = 0. A equação central fica 0 ℰ𝑘−𝐾 ′ − ℰ 𝑐𝑘−𝐾 ′ = 0 • onde 0 ℰ𝑘−𝐾 ′ • ℏ2 = 𝑘 − 𝐾′ 2𝑚 2 , ℰ𝑞0 ℏ2 𝑞 2 = 2𝑚 ℰ 0 é a energia de um nível para elétron livre. 41 Bandas de Energia • Para cada 𝐾′, há duas opções: 1. 𝑐𝑘−𝐾′ = 0. Nesse caso, o termo associado a esse coeficiente não aparece em 𝜓𝑘 (𝑟). 2. 0 ℰ = ℰ𝑘−𝐾 ′ . Esse caso ocorre apenas uma vez, a menos que alguns valores de 𝐾′ 0 correspondam ao mesmo ℰ𝑘−𝐾 ′ , ou seja, o nível é degenerado. 3. As funções de onda ficam, nesse caso, ondas planas, dadas por 𝜓𝑘 𝑟 ∝ 𝑒 𝑖 𝑘−𝐾′ ⋅𝑟 42 Bandas de Energia • Outro caso importante: 𝑈𝐾 não é nulo, mas é muito pequeno, e os elétrons estão sujeitos a um potencial fraco. Temos novamente dois casos. • No primeiro caso, para um dado 𝑘, considere um vetor recíproco 𝐾1 tal que a 0 0 energia ℰ𝑘−𝐾 para elétrons livres é bem diferente dos valores ℰ𝑘−𝐾 para outros 1 𝐾 quando comparado com os valores de 𝑈𝐾 (ou 𝑈, em geral), ou seja, 0 0 ℰ𝑘−𝐾 − ℰ𝑘−𝐾 ≫𝑈 , 1 ∀𝐾 ≠ 𝐾1 43 Bandas de Energia • 0 Queremos investigar o entorno do nível ℰ = ℰ𝑘−𝐾 com 𝑐𝑘−𝐾 = 0 pois 𝐾 ≠ 𝐾′. 1 A equação central fica 0 ℰ − ℰ𝑘−𝐾 1 𝑐𝑘−𝐾1 = 𝑈𝐾−𝐾1 𝑐𝑘−𝐾 𝐾 • Temos, também, da equação central, com 𝐾 ′ ≠ 𝐾1 , 0 ℰ − ℰ𝑘−𝐾 ′ 𝑐𝑘−𝐾 ′ = 𝑈𝐾−𝐾′ 𝑐𝑘−𝐾 = 𝑈𝐾1−𝐾′ 𝑐𝑘−𝐾1 + 𝐾 𝑈𝐾−𝐾′ 𝑐𝑘−𝐾 𝐾≠𝐾1 44 Bandas de Energia • ou, 𝑐𝑘−𝐾′ = • 0 ℰ − ℰ𝑘−𝐾 ′ 𝑈𝐾−𝐾′ 𝑐𝑘−𝐾 + 𝐾≠𝐾1 0 ℰ − ℰ𝑘−𝐾 ′ 𝑐𝑘−𝐾 ∼ 0 para 𝐾 ≠ 𝐾1 , logo 𝑐𝑘−𝐾′ ∼ 𝒪(𝑈), e então (quadro), ℰ= • 𝑈𝐾1−𝐾′ 𝑐𝑘−𝐾1 0 ℰ𝑘−𝐾 1 + 𝑈𝐾−𝐾1 0 ℰ𝑘−𝐾 1 𝐾 − 2 0 ℰ𝑘−𝐾 + 𝒪(𝑈 3 ) A correção dos níveis não degenerados é de 2ª ordem em U. 45 Bandas de Energia • Considere agora um dado 𝑘 e 𝑚 vetores 𝐾1 , 𝐾2 , … , 𝐾𝑚 onde 0 0 ℰ𝑘−𝐾 − ℰ𝑘−𝐾 ∼𝒪 𝑈 𝑖 • e 𝑗 0 0 ℰ𝑘−𝐾 − ℰ𝑘−𝐾 ≫𝑈 , 𝑗 𝐾 ≠ 𝐾𝑗 Neste caso, desenvolvendo chega-se a (quadro) 0 ℰ − ℰ𝑘−𝐾 𝑐𝑘−𝐾𝑖 = 𝑖 𝑈𝐾𝑗 −𝐾𝑖 𝑐𝑘−𝐾𝑗 , 𝑖 = 1, … , 𝑚 𝑗 46 Bandas de Energia • Caso particular: dois níveis eletrônicos próximos entre si, com uma diferença ∼ 𝒪(𝑈), mas muito longe de outros níveis. 47 Bandas de Energia • Neste caso, desenvolvendo chega-se a (quadro) ℰ − ℰ𝑞0 𝑐𝑞 = 𝑈𝐾 𝑐𝑞−𝐾 0 ℰ − ℰ𝑞−𝐾 𝑐𝑞−𝐾 = 𝑈−𝐾 𝑐𝑞 = 𝑈𝐾∗ 𝑐𝑞 • 0 Devemos ter ℰ𝑞0 ≈ ℰ𝑞−𝐾 , pois os níveis estão próximos entre si, e também 0 ′ ℰ𝑞0 − ℰ𝑞−𝐾 ′ ≫ 𝑈, para 𝐾 ≠ 0, 𝐾. 48 Bandas de Energia • 0 Para ocorrer ℰ𝑞0 = ℰ𝑞−𝐾 , deve ocorrer • Portanto, 𝑞 deve terminar num plano de Bragg, que é um plano que bissecta 𝐾, correspondendo ao limite da 1a ZB. 𝑞 = |𝑞 − 𝐾| 49 Bandas de Energia • Quando dois níveis eletrônicos estão próximos entre si, isso ocorre perto da fronteira da ZB. • Estes níveis são os mais afetados pelo potencial fraco. • Apenas na fronteira da ZB a diferença entre elétrons livres e elétrons de Bloch tornam-se relevantes. • Apenas na fronteira da ZB o potencial realmente importa. 50 Bandas de Energia • • Para obter ℰ, devemos resolver ℰ − ℰ𝑞0 −𝑈𝐾 −𝑈𝐾∗ 0 ℰ − ℰ𝑞−𝐾 =0 Então (quadro), ℰ= 0 ℰ𝑞0 + ℰ𝑞−𝐾 2 1 ± 2 ℰ𝑞0 0 − ℰ𝑞−𝐾 2 + 4 𝑈𝐾 2 51 Bandas de Energia • Exatamente na 1ª ZB (|𝑞 = |𝑞 − 𝐾), temos ℰ𝑞 = ℰ𝑞0 ± |𝑈𝐾 | • No plano de Bragg, a diferença entre níveis vale 2 𝑈𝐾 . • Em 1D, introduzimos a variável 𝐾=𝑞− • 𝐾 2 que mede o afastamento do plano 52 Bandas de Energia • Com isso, desenvolvendo chega-se a (quadro) 0 0 ℰ+ = ℰ𝐾/2 + 𝑈𝐾 2ℰ𝐾/2 ℏ2 𝐾 2 + 1+ 2𝑚 𝑈𝐾 0 ℰ− = ℰ𝐾/2 − 𝑈𝐾 2ℰ𝐾/2 ℏ2 𝐾 2 + 1− 2𝑚 𝑈𝐾 0 53 Bandas de Energia • Representação (1D): A. Desenha-se um nível de elétron livre B. Outro nível de elétron livre é colocado em 𝐾 C. Separa-se a degenerescência em 𝐾 2 54 Bandas de Energia D. Representação da distorção no nível de elétron livre. E. Efeito das outras ZBs no nível de elétron livre. Note o surgimento dos outros gaps associados aos outros vetores da rede recíproca. Esse modo de apresentar chama-se esquema de zona estendida. 55 Bandas de Energia F. Níveis apresentados no esquema de zona reduzida, onde os vetores 𝑘 possíveis são apresentados apenas na 1ª ZB, após uma translação apropriada. G. Níveis apresentados no esquema de zona repetida, explicitando a periodicidade dos níveis. 56 Bandas de Energia • Comparação entre o esquema de zona estendida e bandas. 57 Bandas de Energia • Note que, se 𝑈𝐾 = 0 para um dado K, não há descontinuidade nas bandas em 𝐾 𝑘 = 2 , e não aparece um gap na fronteira dessa ZB. • Quando elétrons em bandas de energias ficam sujeitos a campos externos, é interessante introduzir a ideia de massa efetiva 𝑚∗ ou 𝑚𝑒𝑓 , que é particularmente importante no estudo de semicondutores. • Considere inicialmente a velocidade de grupo do elétron, dada por 𝑑𝜔 𝑣𝑔 = 𝑑𝑘 58 Massa Efetiva • Podemos associar uma energia ℰ à frequência 𝜔, mediante ℰ = ℏ𝜔. Então, 𝑣𝑔 = • Generalizando: 𝑣𝑔 = • 1 𝑑ℰ ℏ 𝑑𝑘 1 𝛻 ℰ(𝑘) ℏ 𝑘 Ao aplicar um campo elétrico sobre um elétron, durante um tempo 𝑑𝑡, executando um deslocamento 𝑑ℓ, realiza-se um trabalho 𝑑𝑊 = −𝑒𝐸𝑑ℓ = −𝑒𝐸𝑣𝑔 𝑑𝑡 59 Massa Efetiva • Podemos escrever, também, 𝑑ℰ = 𝑑ℰ 𝑑𝑘 = ℏ𝑣𝑔 𝑑𝑘 𝑑𝑘 • O trabalho transferido ao elétron varia sua energia pelo mesmo valor, de onde sai 𝑑𝑘 𝑒𝐸 =− 𝑑𝑡 ℏ • E, então, ℏ 𝑑𝑘 =𝐹 𝑑𝑡 60 Massa Efetiva • Se houver um campo magnético ℬ agindo sobre o elétron, obtemos ℏ • 𝑑𝑘 = −𝑒𝑣 × ℬ 𝑑𝑡 ou 𝑑𝑘 𝑒 = − 2 𝛻𝑘 ℰ × ℬ 𝑑𝑡 ℏ • Com isso, no espaço recíproco, 𝑘 varia de forma que é perpendicular tanto a ℬ como a 𝛻𝑘 ℰ. 61 Massa Efetiva • O elétron se move numa superfície isoenergética (ℰ = 𝑐 𝑡𝑒 ). • A projeção de 𝑘 sobre ℬ, ou seja, 𝑘ℬ , é constante de movimento. • A órbita do elétron fica na intersecção entre a superfície de energia constante e o plano perpendicular a ℬ, caracterizado por 𝑘ℬ . 62 Massa Efetiva • Para elétrons livres, a energia é dada por ℏ2 𝑘 2 ℰ= 2𝑚 • onde 𝑚 é a massa usual (de repouso) do elétron. • Se há um campo elétrico externo aplicado, temos 𝑑𝑣 1 𝑑 𝑑ℰ = 𝑑𝑡 ℏ 𝑑𝑡 𝑑𝑘 63 Massa Efetiva • Podemos escrever (quadro) 𝑑𝑣 1 𝑑2ℰ = 𝐹 𝑑𝑡 ℏ2 𝑑𝑘 2 • ou 𝐹 = ℏ2 • 𝑑2ℰ 𝑑𝑘 2 −1 𝑑𝑣 𝑑𝑡 Comparando com 2a lei de Newton, temos a massa efetiva 𝑚∗ = 𝑚𝑒𝑓 = ℏ2 𝑑2ℰ 𝑑𝑘 2 −1 64 Massa Efetiva • Outra forma de escrever 1 1 𝑑2ℰ = 𝑚∗ ℏ2 𝑑𝑘 2 • Para superfícies de energia anisotrópicas (Ge ou Si, p. ex.), temos um tensor massa efetiva, dado por 1 𝑚∗ 𝜇,𝜈 1 𝑑 2 ℰ𝑘 = 2 ℏ 𝑑𝑘𝜇 𝑑𝑘𝜈 𝑑𝑣𝜇 = 𝑑𝑡 𝜈 1 𝑚∗ 𝐹𝜈 𝜇,𝜈 65 Massa Efetiva • • Note que energia. 𝑑2 ℰ 𝑑𝑘 2 Na região do centro da 1ª ZB, 𝑘 ≃ 0, e a energia é dada por ℰ = 𝑚. • estabelece a concavidade da curva ℰ(𝑘), ou seja, da banda de ℏ2 𝑘 2 2𝑚 (elétrons livres). Então, 𝑚∗ = Nessa região, ao aplicar um campo elétrico, o elétron se comporta como um elétron livre sujeito ao campo. 66 Massa Efetiva • Afastando-se do centro da 1ª ZB e indo em direção à borda da zona, a concavidade muda. 𝑑2 ℰ 𝑑𝑘 2 = 0. Nesse ponto, 𝑚∗ → • Em algum ponto há um ponto de inflexão, onde ∞, e o elétron não responde ao campo elétrico. • Passando desse ponto, em direção à borda da ZB, a curvatura é negativa, e o elétron acelera em sentido oposto ao do campo. • Ao passar para a próxima ZB, a concavidade muda novamente, e a resposta volta a ser “normal”, mas 𝑚∗ pode ser bem diferente da massa do elétron. 67 Massa Efetiva • Qual a razão para esses comportamentos? Há relação com a condição de 𝜋 difração de Bragg ( 𝑘 = 𝑎 ). • Em 𝑘 ≃ 0 (centro da ZB), estamos longe da condição de difração, e não há participação do cristal. O elétron adquire energia ao ser acelerado, e também momento. 𝜋 − , 𝑎 • Quando 𝑘 → aumentar sua energia faz com que o momento fique ainda mais perto da condição de difração, dando origem a uma reflexão e a uma troca de sentido no momento do elétron (compensada em parte pela rede). • A compensação é exata no ponto de inflexão. 68 Massa Efetiva • 𝑑2 ℰ 𝑑𝑘 2 1 Outra questão: se é grande, então 𝑚∗ é grande, e ℰ(𝑘) cresce rapidamente com 𝑘 ⇒ número de estados 𝑘 num intervalo 𝑑ℰ é pequeno ⇒ 𝒟(ℰ) é pequena. D(E)< E E * m< D(E)> * m> dE k< k k> k 69 Massa Efetiva • Como estimar 𝑚∗ ? Usando ressonância cíclotron. • Submete-se a amostra a um campo magnético ℬ estático e intenso perpendicular ao plano da amostra. • Os elétrons executam órbitas helicoidais em torno das linhas de campo. No plano perpendicular a ℬ, elas descrevem circunferências. • A frequência angular de giro é dada por • 𝜔𝑐 é a frequência cíclotron. 𝜔𝑐 = 𝑞 ℬ 𝑀 70 Massa Efetiva • • • Aplica-se um campo elétrico oscilante com frequência 𝜔𝐸 paralelo ao plano da amostra. Quando 𝜔𝐸 = 𝜔𝑐 , ocorre ressonância, e energia é absorvida pelos elétrons do material. Com isso, acham-se as massas efetivas dos elétrons, mediante 𝑚∗ = 𝑒 ℬ 𝜔𝐸 71 Massa Efetiva • Variando-se 𝜔𝐸 ou ℬ, faz-se uma varredura e, cada vez que alguma frequência 𝜔𝑐 é atingida, há um pico de absorção. 72 Massa Efetiva • A partir das frequências de ressonância, acham-se as respectivas massas efetivas 𝑚∗ . • Para ocorrer ressonância, o tempo médio entre colisões deve ser da ordem ou maior que o período cíclotron. Para diminuir a frequência de colisões, diminui-se a temperatura. • Ge - 4 K 73 Bandas de Energia • Voltando à questão das bandas de energia, note que, se 𝑈𝐾 = 0 para um dado K, 𝐾 não há descontinuidade nas bandas em 𝑘 = 2 , e não aparece um gap na fronteira dessa ZB. • Nosso próximo passo é investigar algumas propriedades de materiais semicondutores, em particular propriedades ópticas e os gaps de energia. 74