O Conhecimento da Ciência Geográfica: Um Breve Histórico Como é comum às outras ciências sociais, não é fácil definir ou estabelecer com precisão o que é Geografia?. Por não existir ciências estanques, com objetivos delimitados, para facilitar o estudo de determinadas áreas, foi dividida em várias outras, compartimentandose uma totalidade (ANDRADE, 1987). Esta divisão da ciência em vários campos de conhecimento trouxe como resultado tanto o alargamento do conhecimento científico, tornando difícil a uma pessoa dominar todo o seu campo, como faziam os sábios gregos, como visava formar especialistas que entendessem o mais profundamente possível de áreas cada vez mais restritas. Para evitar que os estudiosos tivessem uma visão global e total da realidade, estimulou-se cada vez mais a especialização, em conseqüência neutralizar ou reduzir a capacidade crítica dos estudiosos ou pesquisadores. Acredita-se que a Geografia tornou-se autônoma graças aos trabalhos dos geógrafos alemães Karl Ritter e Alexandre Humboldt a partir do século XIX, quando também ganharam autonomia várias outras ciências sociais. Isto não significa dizer que não existisse um conhecimento geográfico e uma aplicação da Geografia desde a Pré-História; aplicação e conhecimentos estes se expandindo à proporção que a civilização ia desenvolvendo-se e a sociedade aumentava a capacidade de modificar e dominar a natureza para melhor aproveitamento dos recursos disponíveis (MOREIRA, 1986). Apesar do trabalho pioneiro desses mestres e dos seus seguidores, a Geografia demorou a ser aceita nas universidades. A preocupação principal era no ensino secundário como fonte de informações a respeito das áreas do globo terrestre, nomes de rios, mares, montanhas, oceanos, países, cidades e recursos produzidos. Era, portanto, um ramo do conhecimento meramente informativo que não estimulava qualquer crítica ou reflexão. Daí definir-se durante muitos anos Geografia como a “ciência que descreve a superfície da Terra”. No momento histórico em que vivemos, onde as definições e os objetivos das ciências não são imutáveis, sofrem transformações com as mudanças operadas na sociedade, a Geografia pode ser definida como a “ciência que estuda as relações entre a sociedade e a natureza”, ou melhor, a forma como a sociedade organiza o espaço terrestre. O determinismo ambiental foi uma corrente filosófica que influenciou consideravelmente a Geografia. Fundamentada nas teorias naturalistas de Darwin e Lamarck, seriam as condições naturais, clima, temperatura e suas variações, localização, responsáveis pelo desenvolvimento humano e a sua capacidade de progresso (ANDRADE, 1987). A influência do meio natural no ser humano não seria só comportamental; dependendo da localização em zonas frias ou temperadas, maiores seriam também as possibilidades de progresso econômico e social. Esta corrente filosófica contribuiu também para o expansionismo territorial e político nas conquistas americanas, asiáticas, africanas, determinando as áreas onde estavam localizadas suas riquezas e a colonização era mais lucrativa. Na Geografia esta corrente foi defendida por Frederic Ratzel em seus estudos como destaca (MOREIRA, 1986) Segundo Andrade (1987), o Possibilismo, escola que focalizava a relação entre o homem e a natureza, surge no final do século XIX, na França e nos Estados Unidos. De acordo com essa doutrina, o meio natural não era determinante, mas proporcionava as condições para a modificação do comportamento humano. Sendo conseqüentemente um agente geográfico. Vidal de La Blache considerou não só a Geografia uma ciência natural, como também a influência da natureza sobre o ser humano definida pelo Naturalismo de Lamarck e Darwin. Destacaram-se na escola francesa, além de La Blache, Max Sorre com os fundamentos da Geografia Humana, e Martonne com o Tratado de Geografia Física. No início do século XX destacamos Elisée Reclus e Pieter Kropotkim, representantes da Geografia Libertária. Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939/1945) que abalou ou destruiu as estruturas econômicas, sociais e também morais de quase todos os países europeus, surgiu a urgente necessidade de reconstrução. Para reconstruir, além do planejamento indispensável, seria necessária a força do povo diante do momento histórico, levando em conta a disputa de interesses políticos dos grupos capitalistas e socialistas. Os cientistas sociais tiveram novos caminhos com o levantamento de diagnósticos da situação social e econômica nas políticas de planejamento que exigiam uma dimensão tanto histórica quanto geográfica (ANDRADE,1987). Para os geógrafos, foi o grande desafio trabalhar em conjunto com outros especialistas e fora das universidades para uma mudança e conhecimento da Geografia; e para as ciências, o surgimento de novas disciplinas, como Antropologia, Sociologia, Economia . A Geografia começou a ser analisada de maneira diferente, reformulando seus princípios filosóficos e científicos, refletindo sobre as relações sociais. Neste contexto, a busca pela renovação da Geografia ganhou espaço com novas técnicas e métodos de pesquisa e análise do conjunto geográfico da época. Entretanto, segundo Moraes (1998, p.98) “se a insatisfação com as propostas tradicionais é um traço comum entre os geógrafos, os níveis de questionamento variam bastante, outros avançam buscando as razões mais profundas na base social e na função ideológica desse conhecimento”. Como se pode observar, o movimento de renovação, ao contrário do pensamento tradicional, não possui uma unidade, segue caminhos diversos, o que origina duas correntes de pensamento, a Pragmática e a Crítica. Nas duas vertentes, aparecem posturas filosóficas, porém os fundamentos metodológicos são diversificados. A Geografia Pragmática busca uma nova linguagem, novas técnicas e uma participação mais ativa na sociedade. Conforme Moraes (1998, p. 100) “nesse sentido, os autores pragmáticos vão propor uma ótica prospectiva, um conhecimento voltado ao futuro, que instrumentalize uma Geografia aplicada”. No entanto, a crítica à Geografia Tradicional é apenas formal e superficial, visto que, não mencionam os compromissos sociais do pensamento tradicional, buscando apenas uma mudança de forma, porém não alterando o conteúdo social. A Geografia Crítica, de acordo com Moraes (1998, p. 117) “tem suas raízes na ala mais progressista da Geografia Regional francesa”. Neste país abre-se uma discussão mais política na análise geográfica e o homem passa a ser um agente influenciado pela natureza, porém, atua transformando-a. O autor continua, dizendo que “... tal abertura embasou-se na crescente importância do elemento humano na Geografia Francesa, que aparece: na diferenciação entre o meio e o meio geográfico, na sujeição da Geografia Física à Humana, e na idéia da região como produto histórico (e sua valorização como objeto primordial)”. A geografia deixa de ser estática e isolada das demais ciências e passa a andar junto, em especial, com a História e a Economia. Portanto, cabe a cada geógrafo, aceitar e utilizar, ou criticar e aperfeiçoar a vertente de pensamento geográfico que melhor se adapte à sua filosofia de vida e à realidade do espaço geográfico, levando sempre em consideração que o ser humano é o centro do processo de construção do espaço, paisagem e território. Desta forma, a corrente de pensamento escolhida devem ir de encontro com os objetivos/anseios do professor/aluno/pesquisador, já que, vive-se a era do conhecimento, sendo este o alicerce da sociedade. É com base nesse aspecto que temos que “formar” seres pensantes, criativos, críticos, pessoas que se sintam parte integrante e atuante do contexto sócio-econômico e cultural a que pertencem. Esse é o verdadeiro papel da Geografia, e o ponto fundamental da produção intelectual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Manoel Correia de. Geografia. Ciências das Sociedades: Uma Introdução à Análise do Pensamento Geográfico. São Paulo: Atlas, 1987. MORAES, Antônio Carlos Roberto. Geografia. Pequena História Crítica. 16. ed. São Paulo: Hucitec, 1998. MOREIRA, Ruy. O que é Geografia. 7 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.