Mordedura Animal e Humana Residência Médica em Pediatria UDIP Naima M. Hamidah (R1) Hospital Regional da Asa Sul/Hospital Materno Infantil de Brasília www.paulomargotto.com.br Brasília, 22 de fevereiro de 2013 Introdução É muito freqüente a procura por assistência médica, em especial, nos setores de emergência devido a mordeduras. São em grande parte causadas por cães, sendo estimado que 80% das ocorrências são pequenos ferimentos, sem necessidade de atendimento emergencial. Geralmente os adultos apresentam lesões nas extremidades, principalmente em mãos, já as crianças mais lesões em face. Além do trauma físico, deve-se ter a preocupação com as doenças infecciosas. Epidemiologia Nos EUA, há uma incidência anual de 2 a 5 milhões de ocorrências (1% da procura às Emergências). Os custos com medicamentos por mordedura canina são estimados em $ 4.165 milhões por ano. A grande maioria das mordeduras são causadas por cães (60 a 90 %), em segundo lugar por gatos (5 a 20 %), roedores (2 a 3 %), humanos (2 a 3 %); e mais raros por outros animais. Epidemiologia 1 a 2% resultam em hospitalização. Aproximadamente 10% requer sutura e cuidados mais avançados. As infecções são causas importantes de morbidade, sequelas incapacitantes e dano estético. As mordeduras são mais comuns na cabeça e pescoço (60-70%) em crianças menores de 5 anos. São causa de 10 a 20 mortes em crianças por ano nos EUA. Epidemiologia Mordedura canina: Frequentemente causada por animais que conhecem a vitima (82% dos casos). Pastor Alemão (12% da população canina local do estudo) foram responsáveis por 34% dos casos. Cães machos e raças específicas (como Pastor Alemão e Pit Bull Terrier) foram os mais associados com os ataques. Epidemiologia Mordedura por gato: Ao contrário das mordeduras caninas, ocorrem na maioria das vezes em adultos e mulheres. 89% acontecem após serem provocados pela vítima. Quadro clínico Eritema Arranhões Abrasões Laceração aberta profunda Lesão puntiforme profunda Avulsões teciduais Lesão contusa Perfuração de órgãos vitais (crianças pequenas) * Maioria das lesões em crianças: face e mão dominante Complicações Transmissão de doenças. Infecções (celulite, abscesso subcutâneo, osteomielite, artrite séptica, tendinite, bacteremia) - Febre - Eritema - Edema - Dor / hipersensibilidade local - Drenagem purulenta - Linfangite - Tenossinovite PATOLOGIA AGENTE ANIMAL Dça da arranhadura do gato Bartonella henselae Gato Tularemia Francisella tularensis Gato e coelho Peste Yersinia pestis Gato e rato Esporotricose Sporothrix schenckii Gato Blasctomicose Blastomyces dermatitidis Cão e gato Brucelose Brucella canis Cão Leptospirose Leptospira spp Rato e gato Hepatite B e C Vírus da hepatite B e C Homem Herpes simples 1 e 2 Herpervirus Homem Sífilis Treponema pallidum Homem Tétano Clostridium tetani Homem e outros Raiva Vírus rábico Cão, gato, animais silvestres www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20tour/hipertextos/up2/mordidas_animais.html Risco para infecção Lesão por esmagamento; Ferida perfurante; Lesão envolvendo mão, dedo, próxima a osso ou tendão; Ferida com mais de 12 horas (ou 24 horas na face); Necessidade de sutura; Mordedura por gato ou humana, principalmente na face; Mordedura em pacientes com comorbidades (imunocomprometido, asplênico, estase venosa, diabetes mellitus). Microbiologia das infecções Patógenos da flora oral do agressor. As infecções usualmente resultam da contaminação por vários organismos. Os mais comuns em ordem de prevalência são: Pasteurell species, staphylococci, streptococci, and anaerobic bacteria. Microbiologia das infecções Agentes mais comuns nas lesões infectadas: Cães e gatos: Pasteurella multocida, S. aureus, estreptococos, peptostreptococos, Bacterioides, fusobacteria, Porphyromonas, Prevotella, propionibacteria em diversas associações. Humanas: S. aureus, estreptococos (grupo A), anaeróbios (Eikenella corrodens, Fusobacterium, Peptostreptococcus, Porphyromonas, Prevotella). Vírus: hepatites, HIV, Herpes simplex, Treponema pallidum. Microbiologia das infecções Pasteurella multocida: infecção por mordeduras de cães e gatos desenvolve-se rápido, com sinais inflamatórios (com dor intensa) em menos de 12-24 horas. Sinais sistêmicos como febre e linfadenopatia são infrequentes (menos de 20%), mas pode envolver osso, articulação, sangue e meninges. Celulite localizada pode aparecer em 24-72 horas. Eikenella corrodens: gram-negativo anaeróbio, constituinte comum da flora da boca humana, presente em 7 a 29% das mordeduras humanas, raro em mordedura animal. Capnocytophaga canimorsus: gram-negativo, pode causar bacteremia e sepse fatal, principalemente em asplênicos, alcoólatras e hepatopatas, após mordedura animal. Exames Hemocultura Hemograma completo PCR Cultura de secreção da ferida (contra-indicada em ferida sem aspecto de infecção) Radiografia 2 incidências (identificar corpo estranho, dano ósseo e de partes moles, presença de gás no subcutâneo, sinais de osteomielite) Ultrassonografia (formação de abscesso e localizar corpo estranho) Tomografia Computadorizada de crânio (em lesão penetrante no crânio) Conduta 1) 2) 3) 4) Estabilizar o paciente; Conter hemorragia com compressão direta; Irrigar copiosamente e realizar degermação da ferida; Explorar a ferida (retirar corpo estranho) e desbridar tecido desvitalizado; 5) Suturar primariamente lesões de couro cabeludo, face, tronco, braços e pernas (sem sinais de infecção, e se < 12 horas ou < 24h em face); 6) Deixar abertas inicialmente lesões de mãos e pés; 7) Antibioticoprofilaxia (situações de risco para infecção); 8) Profilaxia de tétano e raiva de acordo com o protocolo; 9) Antibioticoterapia se sinais de infecção; 10) Considerar profilaxia para hep B e HIV em mordedura humana. Profilaxia do tétano “Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde”, Série A. Normas e Manuais Técnicos, 6ª edição ampliada – 2005. “Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde”, Série A. Normas e Manuais Técnicos, 6ª edição ampliada – 2005. Profilaxia da raiva Antibioticoterapia Profilaxia para mordedura animal: - Risco para infecção. - Mais de 8 horas do ocorrido. - Largo espectro (Gram positivos, Gram negativos e anaeróbios). - Amoxicilina + Clavulanato VO por 3-5 dias. Outras opções: - Cobrem P. multocida (Doxiciclina, Bactrim, Penicilina V, Cefuroxima) + Anaerobicida (Metronidazol, Clindamicina). - Não cobre P. multocida (Cefalexina, Eritromicina). Antibioticoterapia Tratamento empírico para mordedura animal: - Lesões profundas ou extensas: via EV. Pode ser trocada para VO quando houver melhora clínica. - Ampicilina + Sulbactam - Piperacilina + Tazobactam - Ticarcilina + Clavulanato - Ceftriaxona + Metronidazol - Tempo: depende de cada complicação. Artrite (>4 sem), osteomielite (pelo menos 6 sem), bacteremia (10-14 dias), celulite e abscesso (5-10 dias). Antibioticoterapia Profilaxia para mordedura humana: - Qualquer tipo de ferida, mesmo sem aparência de infecção. - Largo espectro (S. aureus, E. corrodens, H. influenza e bacterias anaerobicas orais produtoras de beta-lactamase). - Amoxicilina + Clavulanato VO por 3-5 dias. Outras opções: - Cobrem E. corrodens (Doxiciclina, Bactrim, Penicilina V, Cefuroxima, ciprofloxacino, moxifloxacino) + Anaerobicida (Metronidazol, Clindamicina). - Não cobre E. corrodens (Cefalexina, Eritromicina). Antibioticoterapia Tratamento empírico para mordedura humana: - Qualquer sinal de infecção da ferida: via EV. Pode ser trocada para VO quando houver melhora clínica. - Ampicilina + Sulbactam - Piperacilina + Tazobactam - Ticarcilina + Clavulanato - Ceftriaxona + Metronidazol - Levofloxacino + Metronidazol - Tempo: depende de cada complicação. Tenossinovite (>4 sem), osteomielite (pelo menos 6 sem), bacteremia (14 dias), celulite e abscesso (5-10 dias). S/ complicação: melhora clínica determina. Bibliografia Erin E Endom, MD, “Initial management of animal and human bites”, Up to Date, Literature review current through: Jan 2013, This topic last updated: Oct 25, 2012. Larry M Baddour, MD, FIDSA, “Soft tissue infections due to dog and cat bites” , Up to Date, Literature review current through: Jan 2013, This topic last updated: Fev 1, 2012. Larry M Baddour, MD, FIDSA, “Soft tissue infections due to human bites” , Up to Date, Literature review current through: Jan 2013, This topic last updated: Mai 16, 2011. www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/virtual%20tour/hipertextos/up2/mordid as_animais.html “Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde”, Série A. Normas e Manuais Técnicos, 6ª edição ampliada – 2005.