Século XIX: a Escola Histórica e a Evolução do Marginalismo e do Subjetivismo Econômico A ESCOLA HISTÓRICA A economia política clássica, de Ricardo e Mill, tem uma posição destacada na evolução das ideias econômicas e pode-se considerá-la a principal vertente do pensamento teórico e doutrinário da disciplina no século XIX. Entretanto, não se pode esquecer de outras contribuições para a ciência econômica que, embora com alguma influência do legado de Adam Smith, não participam do classicismo nem compartilham com ele os mesmos elementos teóricos, conceituais e metodológicos. Pelo contrário, fazem-lhe oposição sistemática ou simplesmente ignoram a escola clássica. Alternativa aos clássicos A principal alternativa aos clássicos foi a escola histórica de economia, especialmente importante no contexto alemão. Nesse período, o pensamento historicista dominou amplamente as escolas na Alemanha. Tal fato é especialmente importante levando-se em conta a grande tradição acadêmica do país. A economia clássica, de grande domínio e autoridade na Inglaterra, não havia, de fato, conquistado prestígio similar em toda a Europa. Divisões no pensamento econômico O pensamento econômico ao longo do século XIX encontra-se bastante dividido entre diferentes doutrinas econômicas que disputavam hegemonia entre os países europeus. Essa segmentação da ciência era reforçada diante da escassa comunicação entre a Inglaterra e o continente europeu. Em partícular, entre 1840 e 1860, auge do classicismo na Inglaterra, praticamente não se verifica intercâmbio de ideias entre uma região e outra. É notório o isolamento da economia clássica inglesa no período. Recepção dos clássicos em outros países Na França, o classicismo tornou-se conhecido pela obra de J. B. Say, mas em geral os franceses não foram muito influenciados por Ricardo e Mill. A. Comte, notável pensador francês, trocava correspondência com Mill, conhecia-o, mas criticava o trabalho dele. Na Itália, Ricardo era pouco lido e, quando lido, mal compreendido. Os clássicos na Alemanha Na Alemanha, a economia clássica teve pouca penetração. Ricardo era muito criticado embora conhecido: mesmo discordando dele, alguns importantes autores alemães o tinham como ponto de referência e de interlocução. Contudo, a academia alemã seguia um caminho próprio. Havia nela o paradigma dominante da escola histórica, ao lado de outras correntes. Identifica-se, ao lado do historicismo de W. Roscher, B. Hildebrand e K. Knies, o nacionalismo de G. F. List e A. Wagner e as contribuições independentes de Rau, Hermann, Mangoldt e von Thünen, que deram importantes passos no desenvolvimento da teoria econômica sem se vincularem à escola histórica, esta mais preocupada com coleta e tratamento de dados históricos do que com teoria abstrata. Influência do historicismo alemão nos EUA Os historicistas foram muito influentes também fora da Alemanha. Nos Estados Unidos, sobrepujavam a autoridade da escola clássica inglesa conquistando amplamente o meio acadêmico. De fato, em muitas áreas o pensando norteamericano estava alinhado ao dos alemães. No fim do século XIX, havia 10 mil estudantes americanos em universidades alemãs. Em Economia, os fundadores e o primeiro presidente da American Economic Association receberam seu treinamento universitário na Alemanha. Karl Knies influenciou diretamente Richard Ely, que em 1893 publicou o mais influente livro-texto nos EUA, os Esboços de economia. A influência do pensamento econômico inglês Em que pese o relativo isolamento da escola clássica, não se pode negar que as ideias dos economistas ingleses tenham marcado a história do pensamento econômico no período mais do que qualquer outra corrente de ideias. Afinal de contas, a Inglaterra foi, na época, a maior potência mundial e o maior centro cosmopolita. As ideias econômicas inglesas espalharam-se não só pela Europa, mas por todo o mundo, inclusive com adeptos no Brasil, como evidenciam as obras de Visconde de Cairú e Barão de Mauá, autores que seguiam os métodos e o receituário de ideias dos clássicos ingleses. Entretanto, havia contestações ao predomínio da escola clássica, e os opositores agiam até mesmo dentro da Inglaterra. De fato, a ortodoxia econômica inglesa reagia contra a presença da escola histórica dentro e fora de seus domínios. Como os clássicos, a escola histórica alemã firmou raízes no século XIX, embora ela tenha praticamente sucumbido tempos depois. No estudo dessa escola, é usual separá-la em dois períodos: a velha e a nova escola histórica. No primeiro deles, situa-se o grupo mais antigo dos autores que originaram o movimento, Wilhelm G. F. Roscher (18171894), Bruno Hildebrand (1812-1878) e Karl Knies (1821-1898). Quem eram os historicistas alemães? Eram críticos vorazes do método abstrato-dedutivo dos clássicos e estavam sob influência das idéias filosóficas mais em voga no período: o sistema de Hegel e o evolucionismo associado ao estudo da jurisprudência e da filologia. Tais ideias sugeriram àqueles autores o método histórico de estudo da economia. Método que parte do pressuposto de que a vida econômica não é isolada da vida política e social. Assim, o que acontece com o homem depende da sociedade, da nação e das circunstâncias históricas. O historicismo cuida de estudar prioritariamente a nação, a moral e o papel do governo, opondo-se, com seu método, ao pensamento abstrato da economia clássica. O legado de Hegel Hegel via a história como o desenvolvimento do espírito por meio das diferentes formas de organização social. O curso da cultura seria a manifestação de um espírito em busca de um autodesenvolvimento, em um ciclo inato e determinado. Até que ponto os historicistas alemães seguem essa ideia de história? Jurisprudência e filologia A jurisprudência mostra a validade relativa do sistema jurídico. A filologia é o estudo da evolução das palavras. Nova escola história alemã Na nova escola histórica, um grupo mais jovem de autores tratou de aplicar o método a estudos concretos, dando uma contribuição mais substantiva. Destaca-se entre eles a figura de Gustav von Schmoller (1838-1917), o economista alemão mais importante do fim do século XIX. Alguns elementos da crítica dos economistas históricos à escola clássica Argumentam que as leis econômicas não são absolutas e não podem ser deduzidas abstratamente de postulados ideais. As leis são sempre relativas às instituições e são obtidas pelo método indutivo a partir de dados históricos. Assim, não há verdade absoluta nas leis econômicas, cada povo e cada época têm suas peculiaridades. Hildebrand assevera que a economia clássica erra ao tentar aplicar sua teoria a todos os momentos e lugares. Leis e analogias O homem é produto da história e, como tal, seus desejos, seu caráter e sua relação com os bens são sempre mutáveis e as doutrinas econômicas são relativas. Roscher acredita em leis de causa e efeito na história e na existência de princípios gerais aplicáveis com a ajuda da estatística. Outros, como Knies, negam que a história possa fornecer leis e princípios gerais e lançam a ideia de analogia, que acabou prevalecendo entre os historicistas. No uso da analogia, não se supõe completo paralelismo entre passado e presente, dada a eterna mutação da realidade histórica. As situações históricas são apenas similares, não idênticas e, portanto, não é possível estabelecer leis de causa e efeito, só se podem buscar analogias entre elas. O lado social da Economia Como entre os clássicos, os economistas históricos alemães também insistiam no lado social da economia científica. Diferentemente deles, entretanto, para os historicistas a dimensão social do fenômeno econômico não estaria contida no âmbito estrito dessa ciência, sendo necessário buscar outros ramos do conhecimento social e do homem: a política, a sociologia e a psicologia entre outros, pois, é preciso estudar o homem tal como ele é; e isso só é possível levando-se em conta a interdependência dos fenômenos sociais e das ciências que os estudam. O papel do método abstrato Os historicistas não condenam por inteiro o uso do método abstrato e dedutivo. Roscher reconhece o valor da abstração em certos estágios preparatórios do estudo. Entretanto, eles conferem à abstração apenas um papel complementar. História e observação específica Leis imutáveis da natureza humana estão fora de cogitação, mas podem-se fazer deduções de propriedades conhecidas da natureza humana e relativamente estáveis. Chega-se a elas pela observação específica, generalizando-se a partir disso, e não pelo caminho da pura abstração da escola clássica. O material histórico passa a ter uma importância crucial para a ciência e todos os outros métodos ficam subordinados ao método histórico de indução estatística. A economia política é incorporada à sociologia geral. Contra o homo economicus e pelo casamento entre filosofia e história A escola histórica objetiva explicar fenômenos econômicos deduzindo-os de elementos empiricamente conhecidos da natureza humana. Não seria correto apenas postular o homem econômico (homo economicus) autointeressado, hipótese consagrada nos clássicos pelos escritos metodológicos de J. S. Mill. Os economistas históricos enfatizam a observação empírica, mas não eram radicalmente empiristas, porque além da investigação empírica concreta eles utilizam elementos do idealismo hegeliano, compondo um peculiar amálgama de ideias. A combinação dessas duas matrizes parecia-lhes propiciar perfeito casamento entre filosofia e história. Diferente de Hegel, mas algo em comum... A escola histórica, no entanto, não aceita a noção de Hegel da racionalidade histórica como o desenvolvimento dialético de um espírito absoluto. Ela não utilizava a dialética hegeliana nem se preocupou com lógica. Até que ponto os historicistas veem a história como um processo significativo, isto é, que os eventos históricos possuem significados a serem desvendados, que se formam socialmente e são expressos pela ação humana? Tais significados variam no tempo e com o tipo de sociedade? Desvendando significados A fim de desvendá-los, a história deveria prestar atenção em como as pessoas pensam e vivem. E, também, em como instituições específicas são afetadas por tendências ou condições gerais da sociedade. Dessas observações, a história chega às regularidades ou condições fundamentais presentes na sociedade. Pelo método empírico, ações e eventos concretos são observados e estudados. O papel da crenças Na visão da escola histórica, a investigação social deve preocupar-se com o mecanismo em que ideias são formadas. Não é aceitável a mera postulação do homem econômico racional e onisciente. As ideias são moldadas na consciência individual por meio de um processo histórico e social. Fatores sociais modelam a consciência dos indivíduos e essa consciência se manifesta nas instituições. As crenças individuais dos membros da sociedade incorporam-se nas convenções sociais e passam a comandar a vida social. Escola Histórica inglesa Embora os economistas clássicos tenham repudiado esse tipo de trabalho na economia científica, um punhado de autores ingleses aderiu a uma concepção historicista, mesmo sem pertencerem a uma escola bem-definida. Na literatura, aparecem como membros da “escola histórica inglesa”, também composta por autores irlandeses. No entanto, não se trata propriamente de uma escola, mas de um apanhado de trabalhos isolados. Autores da Escola Histórica Inglesa Essa escola inicia-se com Richard Jones, autor do começo do século XIX. A lista de participantes inclui J. K. Ingram, William Whewell,Thomas Edward Cliffe Leslie, Walter Bagehot, Thorold Rogers, Arnold Toynbee, William Cunningham, e William Ashley. Características gerais É difícil caracterizá-la em sua totalidade, passando ao largo de especificidades nas contribuições particulares de cada um. Há, contudo, elementos comuns entre eles. Em geral, são mais otimistas que os clássicos, até por serem hostis às ideias de Malthus. Como os alemães, eles consideram a escola clássica excessivamente abstrata e irrealista. Em troca, desejam relacionar a economia com outras ciências sociais, espelhados no evolucionismo de Charles Darwin e de Herbert Spencer, aplicando-o no exame da sociedade. Contra o apriorismo e o homem econômico Contrários ao método abstrato e a priori, esses economistas enaltecem o papel da observação dos fatos. Ingram avalia o sistema a priori como antiquado, individualista e amoral. Contra o postulado clássico do homo economicus, apelam para o homem real com suas paixões, seus desejos e seus condicionantes históricos. Todos eles criticam o viés ideológico implícito na noção de homo economicus, e enfatizam, em troca, o progresso moral e a solidariedade humana. Quem é cada qual? Leslie e Ingram são leitores de Comte e dos alemães Roscher e Knies. Bagehot é menos crítico do método abstrato de Ricardo e lança a famosa proposição metodológica (igual a de Cournot) de restringir a aplicação dele para os estágios desenvolvidos da sociedade. Os historicistas ingleses fazem também críticas teóricas, embora em geral compreendam mal os clássicos, propondo inclusive teorias alternativas. Richard Jones critica a teoria da renda da terra de Ricardo e sua lei dos rendimentos decrescentes. Em troca, desenvolve uma melhor definição de renda. Bagehot propõe um novo e equivocado conceito de custo de produção. Ele aprofundou a compreensão do papel do empresário e também contribuiu positivamente na análise da função dos bancos. Leslie desenvolve uma nova teoria de preços e salários. Discute problemas agrários e a distribuição de metais preciosos. Toynbee estuda a legislação trabalhista e o modo como ela afeta os salários. Em comum, todos eles criticam a teoria do fundo de salários de J. S. Mill. Também era usual criticarem o movimento relativo de salários e lucros na teoria ricardiana. Imaginavam, erroneamente, que em Ricardo haveria sempre uma relação inversa entre essas duas variáveis. Conclusão Os economistas da escola histórica inglesa forneceram alguma inovação teórica, mas seus trabalhos eram, em geral, fragmentados e apresentavam inconsistências. Isso explica em parte por que essa escola acabou não prevalecendo no ambiente acadêmico inglês. Controvérsias metodológicas que enfraqueceram o historicismo na Inglaterra Na Inglaterra, o principal ataque ao historicismo partiu de Neville Keynes (1852-1949), que incutiu a necessidade de se aceitar a pluralidade de métodos. Neville Keynes era economista e tornou-se mais conhecido por seus escritos versando sobre lógica e método. Ele lecionou em Cambridge. É pai de John Maynard Keynes, o célebre fundador da macroeconomia. O escopo e o método da economia política Em seu famoso livro, Neville Keynes afirma que o método indutivo não pode excluir a dedução: “De acordo com departamento especial ou o aspecto da ciência sob investigação, o método apropriado pode ser o abstrato ou realista, o dedutivo ou indutivo, o matemático ou estatístico, hipotético ou histórico” Crítica ao método indutivo unilateral e ao psicologismo Keynes acusa o historicismo por este se apegar unilateralmente ao método indutivo e critica também a preocupação da escola histórica em estudar a formação de ideias na consciência individual. Para ele, a identificação dos elementos subjetivos que compõem o conhecimento humano não é tarefa da economia como ciência. Isso pertence ao âmbito da psicologia, uma ciência à parte. A economia política é uma ciência social e não psicológica. As leis econômicas dizem respeito a fatos sociais complexos que não podem ser deduzidos de leis psicológicas. Leis econômicas que não são derivadas da psicologia Keynes cita a lei explicativa da determinação da renda da terra, a lei que relaciona volume de moeda e nível de preços na teoria quantitativa da moeda, a que descreve o efeito dos impostos sobre os lucros e as leis que regem os fenômenos industriais em geral. Papel dos fatos psicológicos Keynes afirma que os fatos psicológicos são apenas assumidos e não investigados nos domínios da ciência econômica. Eles são a base do raciocínio econômico, e mesmo os raciocínios que partem de dados psicológicos requerem suplementação pela observação direta de fatos sociais complexos que constituem a vida econômica. Críticas a John S. Mill Curiosamente, a crítica de Keynes atinge tanto os historicistas quanto a figura de J. S. Mill, central entre os clássicos. Keynes lembra que Mill, em duas obras, os Ensaios sobre questões não assentadas em economia política e o livro sexto da obra Lógica, usa a expressão ciência moral ou psicológica ao se referir à economia. De fato, Mill definiu a economia política como “a ciência que se relaciona às leis morais ou psicológicas da produção e da distribuição de riquezas”. Keynes é incisivo em apontar o que seria um grave equívoco de Mill e mostra como essa acepção acabou comprometendo a escola clássica, deixando-a vulnerável às investidas dos historicistas. Resumindo posição de Keynes Um ataque metodológico à escola histórica, mostrando a necessidade de se combinarem todos os métodos de investigação, e uma crítica sobre a definição do objeto da economia que a confunde com psicologia. O descrédito do historicismo As provocações da obra de Keynes atingem tanto a escola histórica quanto os clássicos, mas na prática acabou abalando mais a credibilidade da primeira aos olhos da comunidade científica em geral. É importante assinalar, no entanto, que os próprios historicistas não se sentiram incomodados com Keynes, já que os praticantes do método histórico eram relativamente indiferentes a discussões puramente metodológicas. Mesmo que as controvérsias metodológicas tenham sido de importância secundária para eles, elas tiveram um papel na ruína da escola histórica no início do século XX. O papel de Marshall No mundo inglês, mais importante como recusa do historicismo foi a publicação da primeira edição dos Princípios de economia de Alfred Marshall em 1890, mesmo ano do lançamento da obra metodológica de Neville Keynes. Em matéria de doutrina econômica, os ensinamentos de Marshall em pouco tempo dominaram completamente a academia inglesa. É bem verdade que Marshall fez concessões à escola histórica, evitando criticá-la por inteiro. Nem por isso, entretanto, deixou de restringir o alcance do método indutivo. Ele tinha clara predileção por teorias abstratas, embora concedendo um papel para a história. Crítica ao historicismo em outros países Com as ideias de Marshall e N. Keynes, a visão estritamente historicista foi descartada. Não só na Inglaterra. O mesmo vale para a França onde a escola histórica nunca chegou a ser realmente importante. Também a Áustria ficou parcialmente isolada da influência da escola histórica alemã, graças à contribuição de Carl Menger, que edificou sua visão filosófica da economia científica na obra Investigações sobre o método das ciências sociais e da economia política, de 1883. Menger envolveu-se em ruidosas querelas metodológicas com Schmoller, o principal expoente da escola histórica, no que ficou conhecido como Batalha dos Métodos (Methodenstreit). Crítica dos cientistas políticos O descrédito contra a economia histórica teve um teor local específico a cada região, envolvendo críticas diferenciadas. A escola histórica foi atacada em outras áreas do conhecimento além da econômica. Mesmo porque os historicistas definiam-se como cientistas sociais sem dividirem o saber social em ramificações específicas. Eles viam-se tanto como economistas quanto como cientistas políticos, sociólogos etc. Essa natureza interdisciplinar no tratamento que davam a qualquer fenômeno socioeconômico levou-os a se projetarem não só entre os economistas: também conquistaram certa autoridade em outros campos da ciência social, como notadamente verificou-se na ciência política. Figuras expressivas da escola histórica alemã, como Johann Droysen e Leopold Ranke, eram mais conhecidas entre cientistas políticos do que entre economistas. O papel de Weber Na Alemanha e nos Estados Unidos, a abordagem histórica, embora tenha fincado raízes mais profundas, também acabaria, tempos depois, sendo sobrepujada. O historicismo, que no século XIX dominou a economia científica nesses países, desapareceu de cena quando a concepção de ciência social de Max Weber (1864-1920) tornou-se dominante. A crítica de Weber A base da crítica metodológica de Weber aos pressupostos da escola histórica é de que ela não dá conta dos aspectos verdadeiramente sociológicos do fenômeno social. Os historicistas acreditam retratar a realidade tal como ela é, mas para Weber nunca podemos conhecê-la. Como os historicistas, Weber também acredita que a fim de construir-se uma ciência social dessa realidade, cabe investigar, prioritariamente, o significado cultural dos eventos individuais, vendo-se até que ponto eles são determinados historicamente. No entanto,Weber considera absurda a pressuposição historicista de realidade estruturada, isto é, de que exista alguma estrutura orgânica ou um sistema propositado funcionando como uma totalidade ou uma entidade concreta. A visão dos processos socioeconômicos em Roscher e Knies parte de uma visão “bioantropológica” da sociedade, e isso é criticado por Weber. No historicismo, eventos históricos e ações particulares adquirem significados apenas no quadro referencial de uma realidade já estruturada. Esse pressuposto permite aos historicistas uma base ontológica para analisar fenômenos sociais específicos. Weber refuta tal pressuposto ontológico; seria, em sua acepção, como se apoiar numa essência misteriosa, uma entidade metafísica hegeliana. Em troca, ele propõe a utilização de novos conceitos, sendo o principal a noção de “tipos ideais”. Weber e os “tipos ideais” Max Weber não crê que se possa demonstrar cientificamente a existência, no fenômeno social empírico, de entidades concretas estruturadas em uma totalidade orgânica. O complexo social não se apresenta como um mundo organizado em uma rede de relações causais. A realidade projetada pelas lentes dos historicistas seria, portanto, mera invenção, criada por uma suposta intuição do investigador. Os historicistas tomam ideias que existem apenas na cabeça do analista como um fator real na história. Com isso, criam-se dogmas que dificultam a prática da boa ciência, pois, para Weber, não viceja na realidade uma racionalidade ou uma teia de causalidades que lhe seja inerente. Pelo contrário, em Weber a realidade apresenta-se como uma inexaurível avenida caótica de eventos, uma infinita multiplicidade de fenômenos ou um vasto oceano de fatos empíricos. Se a realidade socioeconômica para Weber é um caos, somente é possível enquadrá-la teoricamente em um ordenamento compreensivo pelo uso de construções mentais não empíricas. Conceitos não ambíguos, sistematicamente definidos, impõem ordem ao caos. E, para tanto, Weber constrói seus tipos ideais, um instrumento heurístico empregado na investigação dos fatos sociais, que ordena o fluxo caótico de ações concretas tomadas pelos indivíduos, mas não deve ser confundido com a própria realidade histórica. Tal instrumento permite um tipo de reconstrução abstrata do fenômeno social, um ordenamento analítico da realidade que depende explicitamente de julgamentos particulares do cientista. Ação e significados Para Weber, a ação do homem em sociedade é orientada pelos significados que carrega em mente. Tais significados dependem previamente de valores. Portanto, o saber social deve-se preocupar com a compreensão de valores individuais. Isso leva ao entendimento teórico da ação. O elemento-chave na compreensão do fato social é a ação, e é ela que deve ser prioritariamente investigada pela teoria. Todos os conceitos devem ser reduzidos à ação. Individualismo metodológico Não há estruturas supra individuais ou personalidades coletivas atuantes; a explicação deve partir apenas da ação individual. Uma postura que se denomina modernamente de individualismo metodológico: a visão que permite apenas indivíduos serem os tomadores de decisão em qualquer explicação dos fenômenos sociais. A escola histórica, por outro lado, estava presa a representação de entidades coletivas dotadas de racionalidade e foi então descartada. As ideias de Weber foram decisivas nessa rejeição, principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha. Ideologia intervencionista Portanto, no século XX, a escola histórica alemã foi perdendo importância. Em especial, a partir de 1917, com a morte de Schmoller, essa escola praticamente deixou de existir como entidade própria. Não apenas no debate metodológico, mas em questão de política econômica as contribuições desses alemães foram sendo absorvidas. Em especial, os trabalhos dessa escola forneceram apoio teórico à ideologia de um estado intervencionista na economia. Intervencionismo e nacionalismo na Alemanha Ideias a favor do intervencionismo estiveram muito presentes na Alemanha do século XIX. Um estado alemão forte era defendido no contexto em que esse país encontrava-se numa posição inferior em relação à Inglaterra e necessitava desenvolver sua indústria de modo a compensar o atraso. Ao lado da ênfase no papel ativo do estado, a escola histórica era nacionalista. Como tal, ela se opunha ao individualismo e ao espírito cosmopolita dos economistas ingleses da época. Caberia ao estado estimular a industrialização, investir na melhoria do transporte e fortalecer a posição do país no comércio internacional. Preocupação com a moral No plano da doutrina moral, os historicistas alemães apregoavam que a atividade econômica deveria ser moralmente justificada. A produção deveria se dar em volume adequado e o padrão de distribuição de renda e de riqueza deveria atender a um critério de justiça. O estado alemão deveria estar vigilante na promoção dos valores morais na vida econômica. Justiça econômica O estado não apenas favorece o desenvolvimento material do país, mas também as condições do cidadão comum. Com tal ação, o estado fortalece a lealdade do público que via nele o zelador da eficiência econômica e o protetor de seu bem-estar. Schmoller defende abertamente que o estado patrocine reformas sociais paternalistas de modo a promover a justiça econômica. O principal objetivo da política social é uma distribuição de renda mais justa. Socialistas de cátedra A escola história não advogava teses socialistas; pelo contrário, esperava que as reformas sociais afastassem os trabalhadores da ideologia socialista. Por assumir posições de reforma social fruto meramente de suas reflexões acadêmicas e não do embate social das ruas, os professores adeptos da mudança social moderada eram chamados de “socialistas de cátedra”. O fabricante de professores Até a unificação alemã em 1871, o ambiente acadêmico era dominado pelo governo da Prússia, o mais forte dos 39 estados separados a que a Alemanha foi dividida depois das guerras napoleônicas. Os principais representantes da escola histórica tinham estreita relação com os oficiais do governo prussiano. Cargos elevados da vida acadêmica eram alcançados com a indicação governamental. O governo controlava a maioria das universidades. Por sua influência no ministério da educação, Schmoller pôde exercer uma presença política esmagadora no ambiente universitário. Os principais cargos acadêmicos eram indicação sua, tanto que ele se tornou conhecido como o “fabricante de professores”. A lealdade ao governo Os economistas históricos retribuíam o apoio do governo às suas pretensões de poder na academia defendendo teses que beneficiavam o governo imperial da Alemanha, tal como o fortalecimento de sua presença em um estado nacionalista. Para tanto, Schmoller foi um dos fundadores e principal líder do Verein für Sozialpolitik, uma organização que defendia uma legislação social que favorecesse a maior presença pública em assuntos sociais e econômicos. Em vez de uma democratização da sociedade, os adeptos da escola histórica difundiam valores como a lealdade ao governo que, em troca, faria concessões paternalistas. Defesa de indústrias nascentes O ataque ao laissez-faire, no contexto de um país que necessitava recuperar o atraso e desenvolver-se, foi contribuição importante da escola histórica. Algumas das teses defendidas lhe eram anteriores. Elas estavam presentes, por exemplo, em List que propôs a famosa ideia da defesa de indústrias nascentes: o governo deveria cobrar uma tarifa elevada de importação de bens manufaturados para proteger novos ramos industriais domésticos List List dizia que as nações mais adiantadas tendem a criar obstáculos para o desenvolvimento dos países atrasados e que o livre-comércio perpetuaria a desigualdade. O país que deseja passar de uma fase a outra do desenvolvimento deve contar com o auxílio do governo. Trata-se da teoria das fases do crescimento em que o livre-comércio seria bem-vindo apenas depois que o país atingisse a maturidade industrial.