Escola Histórica Arquivo

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Século XIX: a Escola Histórica e a Evolução
do Marginalismo e do Subjetivismo
Econômico
A ESCOLA HISTÓRICA
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A economia política clássica, de Ricardo e Mill, tem uma
posição destacada na evolução das ideias econômicas e
pode-se considerá-la a principal vertente do pensamento
teórico e doutrinário da disciplina no século XIX.
Entretanto, não se pode esquecer de outras
contribuições para a ciência econômica que, embora com
alguma influência do legado de Adam Smith, não
participam do classicismo nem compartilham com ele os
mesmos elementos teóricos, conceituais e
metodológicos. Pelo contrário, fazem-lhe oposição
sistemática ou simplesmente ignoram a escola clássica.
Alternativa aos clássicos
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A principal alternativa aos clássicos foi a escola histórica de
economia, especialmente importante no contexto alemão.
Nesse período, o pensamento historicista dominou
amplamente as escolas na Alemanha. Tal fato é
especialmente importante levando-se em conta a grande
tradição acadêmica do país.
A economia clássica, de grande domínio e autoridade na
Inglaterra, não havia, de fato, conquistado prestígio similar
em toda a Europa.
Divisões no pensamento econômico
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O pensamento econômico ao longo do século XIX
encontra-se bastante dividido entre diferentes doutrinas
econômicas que disputavam hegemonia entre os países
europeus.
Essa segmentação da ciência era reforçada diante da
escassa comunicação entre a Inglaterra e o continente
europeu.
Em partícular, entre 1840 e 1860, auge do classicismo na
Inglaterra, praticamente não se verifica intercâmbio de
ideias entre uma região e outra. É notório o isolamento
da economia clássica inglesa no período.
Recepção dos clássicos em outros países
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Na França, o classicismo tornou-se conhecido pela obra
de J. B. Say, mas em geral os franceses não foram muito
influenciados por Ricardo e Mill.
A. Comte, notável pensador francês, trocava
correspondência com Mill, conhecia-o, mas criticava o
trabalho dele.
Na Itália, Ricardo era pouco lido e, quando lido, mal
compreendido.
Os clássicos na Alemanha
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Na Alemanha, a economia clássica teve pouca penetração.
Ricardo era muito criticado embora conhecido: mesmo discordando
dele, alguns importantes autores alemães o tinham como ponto de
referência e de interlocução.
Contudo, a academia alemã seguia um caminho próprio. Havia nela o
paradigma dominante da escola histórica, ao lado de outras
correntes.
Identifica-se, ao lado do historicismo de W. Roscher, B. Hildebrand e K.
Knies, o nacionalismo de G. F. List e A. Wagner e as contribuições
independentes de Rau, Hermann, Mangoldt e von Thünen, que deram
importantes passos no desenvolvimento da teoria econômica sem se
vincularem à escola histórica, esta mais preocupada com coleta e
tratamento de dados históricos do que com teoria abstrata.
Influência do historicismo alemão nos EUA
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Os historicistas foram muito influentes também fora da
Alemanha.
Nos Estados Unidos, sobrepujavam a autoridade da
escola clássica inglesa conquistando amplamente o meio
acadêmico. De fato, em muitas áreas o pensando norteamericano estava alinhado ao dos alemães.
No fim do século XIX, havia 10 mil estudantes
americanos em universidades alemãs.
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Em Economia, os fundadores e
o primeiro presidente da
American Economic Association
receberam seu treinamento
universitário na Alemanha.
Karl Knies influenciou
diretamente Richard Ely, que
em 1893 publicou o mais
influente livro-texto nos EUA,
os Esboços de economia.
A influência do pensamento econômico
inglês
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Em que pese o relativo isolamento da escola clássica, não se pode
negar que as ideias dos economistas ingleses tenham marcado a
história do pensamento econômico no período mais do que
qualquer outra corrente de ideias. Afinal de contas, a Inglaterra foi,
na época, a maior potência mundial e o maior centro cosmopolita.
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As ideias econômicas inglesas espalharam-se não só pela Europa,
mas por todo o mundo, inclusive com adeptos no Brasil, como
evidenciam as obras de Visconde de Cairú e Barão de Mauá,
autores que seguiam os métodos e o receituário de ideias dos
clássicos ingleses. Entretanto, havia contestações ao predomínio da
escola clássica, e os opositores agiam até mesmo dentro da
Inglaterra.
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De fato, a ortodoxia econômica inglesa reagia contra a
presença da escola histórica dentro e fora de seus
domínios.
Como os clássicos, a escola histórica alemã firmou raízes
no século XIX, embora ela tenha praticamente
sucumbido tempos depois.
No estudo dessa escola, é usual separá-la em dois
períodos: a velha e a nova escola histórica. No primeiro
deles, situa-se o grupo mais antigo dos autores que
originaram o movimento, Wilhelm G. F. Roscher (18171894), Bruno Hildebrand (1812-1878) e Karl Knies
(1821-1898).
Quem eram os historicistas alemães?
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Eram críticos vorazes do método abstrato-dedutivo dos clássicos e
estavam sob influência das idéias filosóficas mais em voga no
período: o sistema de Hegel e o evolucionismo associado ao estudo
da jurisprudência e da filologia. Tais ideias sugeriram àqueles autores
o método histórico de estudo da economia. Método que parte do
pressuposto de que a vida econômica não é isolada da vida política
e social. Assim, o que acontece com o homem depende da
sociedade, da nação e das circunstâncias históricas.
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O historicismo cuida de estudar prioritariamente a nação, a moral e
o papel do governo, opondo-se, com seu método, ao pensamento
abstrato da economia clássica.
O legado de Hegel
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Hegel via a história como o desenvolvimento do
espírito por meio das diferentes formas de
organização social. O curso da cultura seria a
manifestação de um espírito em busca de um
autodesenvolvimento, em um ciclo inato e
determinado.
Até que ponto os historicistas alemães seguem essa
ideia de história?
Jurisprudência e filologia
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A jurisprudência mostra a validade relativa do sistema
jurídico.
A filologia é o estudo da evolução das palavras.
Nova escola história alemã
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Na nova escola histórica, um grupo mais jovem de autores
tratou de aplicar o método a estudos concretos, dando
uma contribuição mais substantiva.
Destaca-se entre eles a figura de Gustav von Schmoller
(1838-1917), o economista alemão mais importante do
fim do século XIX.
Alguns elementos da crítica dos
economistas históricos à escola clássica
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Argumentam que as leis econômicas não são absolutas e
não podem ser deduzidas abstratamente de postulados
ideais.
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As leis são sempre relativas às instituições e são obtidas
pelo método indutivo a partir de dados históricos.
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Assim, não há verdade absoluta nas leis econômicas, cada
povo e cada época têm suas peculiaridades.
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Hildebrand assevera que a economia clássica erra ao
tentar aplicar sua teoria a todos os momentos e lugares.
Leis e analogias
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O homem é produto da história e, como tal, seus desejos, seu
caráter e sua relação com os bens são sempre mutáveis e as
doutrinas econômicas são relativas.
Roscher acredita em leis de causa e efeito na história e na
existência de princípios gerais aplicáveis com a ajuda da
estatística.
Outros, como Knies, negam que a história possa fornecer leis e
princípios gerais e lançam a ideia de analogia, que acabou
prevalecendo entre os historicistas.
No uso da analogia, não se supõe completo paralelismo entre
passado e presente, dada a eterna mutação da realidade histórica.
As situações históricas são apenas similares, não idênticas e,
portanto, não é possível estabelecer leis de causa e efeito, só se
podem buscar analogias entre elas.
O lado social da Economia
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Como entre os clássicos, os economistas históricos
alemães também insistiam no lado social da economia
científica.
Diferentemente deles, entretanto, para os historicistas a
dimensão social do fenômeno econômico não estaria
contida no âmbito estrito dessa ciência, sendo necessário
buscar outros ramos do conhecimento social e do
homem: a política, a sociologia e a psicologia entre
outros, pois, é preciso estudar o homem tal como ele é; e
isso só é possível levando-se em conta a
interdependência dos fenômenos sociais e das ciências
que os estudam.
O papel do método abstrato
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Os historicistas não condenam por inteiro o uso do
método abstrato e dedutivo. Roscher reconhece o valor
da abstração em certos estágios preparatórios do estudo.
Entretanto, eles conferem à abstração apenas um papel
complementar.
História e observação específica
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Leis imutáveis da natureza humana estão fora de
cogitação, mas podem-se fazer deduções de propriedades
conhecidas da natureza humana e relativamente estáveis.
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Chega-se a elas pela observação específica,
generalizando-se a partir disso, e não pelo caminho da
pura abstração da escola clássica.
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O material histórico passa a ter uma importância crucial
para a ciência e todos os outros métodos ficam
subordinados ao método histórico de indução estatística.
A economia política é incorporada à sociologia geral.
Contra o homo economicus e pelo
casamento entre filosofia e história
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A escola histórica objetiva explicar fenômenos econômicos
deduzindo-os de elementos empiricamente conhecidos da
natureza humana. Não seria correto apenas postular o homem
econômico (homo economicus) autointeressado, hipótese
consagrada nos clássicos pelos escritos metodológicos de J. S.
Mill.
Os economistas históricos enfatizam a observação empírica,
mas não eram radicalmente empiristas, porque além da
investigação empírica concreta eles utilizam elementos do
idealismo hegeliano, compondo um peculiar amálgama de
ideias. A combinação dessas duas matrizes parecia-lhes
propiciar perfeito casamento entre filosofia e história.
Diferente de Hegel, mas algo em comum...
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A escola histórica, no entanto, não aceita a noção de
Hegel da racionalidade histórica como o
desenvolvimento dialético de um espírito absoluto. Ela
não utilizava a dialética hegeliana nem se preocupou com
lógica.
Até que ponto os historicistas veem a história como um
processo significativo, isto é, que os eventos históricos
possuem significados a serem desvendados, que se
formam socialmente e são expressos pela ação humana?
Tais significados variam no tempo e com o tipo de
sociedade?
Desvendando significados
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A fim de desvendá-los, a história deveria prestar atenção
em como as pessoas pensam e vivem.
E, também, em como instituições específicas são afetadas
por tendências ou condições gerais da sociedade.
Dessas observações, a história chega às regularidades ou
condições fundamentais presentes na sociedade. Pelo
método empírico, ações e eventos concretos são
observados e estudados.
O papel da crenças
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Na visão da escola histórica, a investigação social deve
preocupar-se com o mecanismo em que ideias são
formadas.
Não é aceitável a mera postulação do homem econômico
racional e onisciente. As ideias são moldadas na
consciência individual por meio de um processo histórico
e social.
Fatores sociais modelam a consciência dos indivíduos e
essa consciência se manifesta nas instituições. As crenças
individuais dos membros da sociedade incorporam-se nas
convenções sociais e passam a comandar a vida social.
Escola Histórica inglesa
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Embora os economistas clássicos tenham repudiado esse
tipo de trabalho na economia científica, um punhado de
autores ingleses aderiu a uma concepção historicista,
mesmo sem pertencerem a uma escola bem-definida.
Na literatura, aparecem como membros da “escola
histórica inglesa”, também composta por autores
irlandeses. No entanto, não se trata propriamente de uma
escola, mas de um apanhado de trabalhos isolados.
Autores da Escola Histórica Inglesa
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Essa escola inicia-se com Richard Jones, autor do começo
do século XIX.
A lista de participantes inclui J. K. Ingram, William
Whewell,Thomas Edward Cliffe Leslie, Walter Bagehot,
Thorold Rogers, Arnold Toynbee, William Cunningham, e
William Ashley.
Características gerais
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É difícil caracterizá-la em sua totalidade, passando ao largo de
especificidades nas contribuições particulares de cada um.
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Há, contudo, elementos comuns entre eles. Em geral, são mais
otimistas que os clássicos, até por serem hostis às ideias de
Malthus.
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Como os alemães, eles consideram a escola clássica
excessivamente abstrata e irrealista. Em troca, desejam
relacionar a economia com outras ciências sociais, espelhados
no evolucionismo de Charles Darwin e de Herbert Spencer,
aplicando-o no exame da sociedade.
Contra o apriorismo e o homem econômico
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Contrários ao método abstrato e a priori, esses
economistas enaltecem o papel da observação dos fatos.
Ingram avalia o sistema a priori como antiquado,
individualista e amoral.
Contra o postulado clássico do homo economicus, apelam
para o homem real com suas paixões, seus desejos e seus
condicionantes históricos. Todos eles criticam o viés
ideológico implícito na noção de homo economicus, e
enfatizam, em troca, o progresso moral e a solidariedade
humana.
Quem é cada qual?
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Leslie e Ingram são leitores de Comte e dos alemães Roscher
e Knies. Bagehot é menos crítico do método abstrato de
Ricardo e lança a famosa proposição metodológica (igual a de
Cournot) de restringir a aplicação dele para os estágios
desenvolvidos da sociedade.
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Os historicistas ingleses fazem também críticas teóricas,
embora em geral compreendam mal os clássicos, propondo
inclusive teorias alternativas.
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Richard Jones critica a teoria da renda da terra de Ricardo e
sua lei dos rendimentos decrescentes. Em troca, desenvolve
uma melhor definição de renda.
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Bagehot propõe um novo e equivocado conceito de custo de
produção. Ele aprofundou a compreensão do papel do empresário
e também contribuiu positivamente na análise da função dos
bancos. Leslie desenvolve uma nova teoria de preços e salários.
Discute problemas agrários e a distribuição de metais preciosos.
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Toynbee estuda a legislação trabalhista e o modo como ela afeta
os salários.
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Em comum, todos eles criticam a teoria do fundo de salários de J. S.
Mill. Também era usual criticarem o movimento relativo de
salários e lucros na teoria ricardiana. Imaginavam, erroneamente,
que em Ricardo haveria sempre uma relação inversa entre essas
duas variáveis.
Conclusão
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Os economistas da escola histórica inglesa forneceram
alguma inovação teórica, mas seus trabalhos eram, em
geral, fragmentados e apresentavam inconsistências.
Isso explica em parte por que essa escola acabou não
prevalecendo no ambiente acadêmico inglês.
Controvérsias metodológicas que
enfraqueceram o historicismo na Inglaterra
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Na Inglaterra, o principal ataque ao historicismo partiu de
Neville Keynes (1852-1949), que incutiu a necessidade de
se aceitar a pluralidade de métodos.
Neville Keynes era economista e tornou-se mais
conhecido por seus escritos versando sobre lógica e
método. Ele lecionou em Cambridge.
É pai de John Maynard Keynes, o célebre fundador da
macroeconomia.
O escopo e o método da economia política
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Em seu famoso livro, Neville Keynes afirma que o método
indutivo não pode excluir a dedução:
“De acordo com departamento especial ou o aspecto da
ciência sob investigação, o método apropriado pode ser o
abstrato ou realista, o dedutivo ou indutivo, o matemático ou
estatístico, hipotético ou histórico”
Crítica ao método indutivo unilateral e ao
psicologismo
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Keynes acusa o historicismo por este se apegar
unilateralmente ao método indutivo e critica também a
preocupação da escola histórica em estudar a formação de
ideias na consciência individual.
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Para ele, a identificação dos elementos subjetivos que
compõem o conhecimento humano não é tarefa da economia
como ciência. Isso pertence ao âmbito da psicologia, uma
ciência à parte.
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A economia política é uma ciência social e não psicológica. As
leis econômicas dizem respeito a fatos sociais complexos que
não podem ser deduzidos de leis psicológicas.
Leis econômicas que não são derivadas
da psicologia
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Keynes cita a lei explicativa da determinação da renda da
terra, a lei que relaciona volume de moeda e nível de
preços na teoria quantitativa da moeda, a que descreve o
efeito dos impostos sobre os lucros e as leis que regem
os fenômenos industriais em geral.
Papel dos fatos psicológicos
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Keynes afirma que os fatos psicológicos são apenas
assumidos e não investigados nos domínios da ciência
econômica.
Eles são a base do raciocínio econômico, e mesmo os
raciocínios que partem de dados psicológicos requerem
suplementação pela observação direta de fatos sociais
complexos que constituem a vida econômica.
Críticas a John S. Mill
Curiosamente, a crítica de Keynes atinge tanto os
historicistas quanto a figura de J. S. Mill, central entre os
clássicos. Keynes lembra que Mill, em duas obras, os
Ensaios sobre questões não assentadas em economia política
e o livro sexto da obra Lógica, usa a expressão ciência
moral ou psicológica ao se referir à economia.
 De fato, Mill definiu a economia política como
“a ciência que se relaciona às leis morais ou psicológicas da
produção e da distribuição de riquezas”.
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Keynes é incisivo em apontar o que seria um grave
equívoco de Mill e mostra como essa acepção acabou
comprometendo a escola clássica, deixando-a vulnerável
às investidas dos historicistas.
Resumindo posição de Keynes
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Um ataque
metodológico à escola
histórica, mostrando a
necessidade de se
combinarem todos os
métodos de investigação,
e uma crítica sobre a
definição do objeto da
economia que a
confunde com psicologia.
O descrédito do historicismo
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As provocações da obra de Keynes atingem tanto a
escola histórica quanto os clássicos, mas na prática
acabou abalando mais a credibilidade da primeira aos
olhos da comunidade científica em geral.
É importante assinalar, no entanto, que os próprios
historicistas não se sentiram incomodados com Keynes, já
que os praticantes do método histórico eram
relativamente indiferentes a discussões puramente
metodológicas.
Mesmo que as controvérsias metodológicas tenham sido
de importância secundária para eles, elas tiveram um
papel na ruína da escola histórica no início do século XX.
O papel de Marshall
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No mundo inglês, mais importante como recusa do
historicismo foi a publicação da primeira edição dos Princípios
de economia de Alfred Marshall em 1890, mesmo ano do
lançamento da obra metodológica de Neville Keynes.
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Em matéria de doutrina econômica, os ensinamentos de
Marshall em pouco tempo dominaram completamente a
academia inglesa. É bem verdade que Marshall fez concessões
à escola histórica, evitando criticá-la por inteiro. Nem por isso,
entretanto, deixou de restringir o alcance do método indutivo.
Ele tinha clara predileção por teorias abstratas, embora
concedendo um papel para a história.
Crítica ao historicismo em outros países
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Com as ideias de Marshall e N. Keynes, a visão
estritamente historicista foi descartada. Não só na
Inglaterra. O mesmo vale para a França onde a escola
histórica nunca chegou a ser realmente importante.
Também a Áustria ficou parcialmente isolada da influência
da escola histórica alemã, graças à contribuição de Carl
Menger, que edificou sua visão filosófica da economia
científica na obra Investigações sobre o método das ciências
sociais e da economia política, de 1883. Menger envolveu-se
em ruidosas querelas metodológicas com Schmoller, o
principal expoente da escola histórica, no que ficou
conhecido como Batalha dos Métodos (Methodenstreit).
Crítica dos cientistas políticos
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O descrédito contra a economia histórica teve um teor local específico a
cada região, envolvendo críticas diferenciadas. A escola histórica foi
atacada em outras áreas do conhecimento além da econômica. Mesmo
porque os historicistas definiam-se como cientistas sociais sem dividirem o
saber social em ramificações específicas.
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Eles viam-se tanto como economistas quanto como cientistas políticos,
sociólogos etc. Essa natureza interdisciplinar no tratamento que davam a
qualquer fenômeno socioeconômico levou-os a se projetarem não só
entre os economistas: também conquistaram certa autoridade em outros
campos da ciência social, como notadamente verificou-se na ciência
política. Figuras expressivas da escola histórica alemã, como Johann
Droysen e Leopold Ranke, eram mais conhecidas entre cientistas políticos
do que entre economistas.
O papel de Weber
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Na Alemanha e nos Estados Unidos, a abordagem histórica,
embora tenha fincado raízes mais profundas, também acabaria,
tempos depois, sendo sobrepujada.
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O historicismo, que no século XIX dominou a economia
científica nesses países, desapareceu de cena quando a
concepção de ciência social de Max Weber (1864-1920)
tornou-se dominante.
A crítica de Weber
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A base da crítica metodológica de Weber aos
pressupostos da escola histórica é de que ela não dá
conta dos aspectos verdadeiramente sociológicos do
fenômeno social.
Os historicistas acreditam retratar a realidade tal como
ela é, mas para Weber nunca podemos conhecê-la.
Como os historicistas, Weber também acredita que a fim
de construir-se uma ciência social dessa realidade, cabe
investigar, prioritariamente, o significado cultural dos
eventos individuais, vendo-se até que ponto eles são
determinados historicamente.
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No entanto,Weber considera absurda a pressuposição historicista de
realidade estruturada, isto é, de que exista alguma estrutura orgânica ou um
sistema propositado funcionando como uma totalidade ou uma entidade
concreta. A visão dos processos socioeconômicos em Roscher e Knies parte
de uma visão “bioantropológica” da sociedade, e isso é criticado por Weber.
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No historicismo, eventos históricos e ações particulares adquirem significados
apenas no quadro referencial de uma realidade já estruturada. Esse
pressuposto permite aos historicistas uma base ontológica para analisar
fenômenos sociais específicos.
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Weber refuta tal pressuposto ontológico; seria, em sua acepção, como se
apoiar numa essência misteriosa, uma entidade metafísica hegeliana. Em troca,
ele propõe a utilização de novos conceitos, sendo o principal a noção de
“tipos ideais”.
Weber e os “tipos ideais”
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Max Weber não crê que se possa demonstrar cientificamente a
existência, no fenômeno social empírico, de entidades concretas
estruturadas em uma totalidade orgânica. O complexo social não se
apresenta como um mundo organizado em uma rede de relações
causais.
A realidade projetada pelas lentes dos historicistas seria, portanto,
mera invenção, criada por uma suposta intuição do investigador. Os
historicistas tomam ideias que existem apenas na cabeça do analista
como um fator real na história.
Com isso, criam-se dogmas que dificultam a prática da boa ciência,
pois, para Weber, não viceja na realidade uma racionalidade ou uma
teia de causalidades que lhe seja inerente. Pelo contrário, em Weber
a realidade apresenta-se como uma inexaurível avenida caótica de
eventos, uma infinita multiplicidade de fenômenos ou um vasto
oceano de fatos empíricos.
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Se a realidade socioeconômica para Weber é um caos, somente é
possível enquadrá-la teoricamente em um ordenamento
compreensivo pelo uso de construções mentais não empíricas.
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Conceitos não ambíguos, sistematicamente definidos, impõem
ordem ao caos. E, para tanto, Weber constrói seus tipos ideais, um
instrumento heurístico empregado na investigação dos fatos
sociais, que ordena o fluxo caótico de ações concretas tomadas
pelos indivíduos, mas não deve ser confundido com a própria
realidade histórica.
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Tal instrumento permite um tipo de reconstrução abstrata do
fenômeno social, um ordenamento analítico da realidade que
depende explicitamente de julgamentos particulares do cientista.
Ação e significados
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Para Weber, a ação do homem em sociedade é orientada
pelos significados que carrega em mente. Tais significados
dependem previamente de valores.
Portanto, o saber social deve-se preocupar com a
compreensão de valores individuais. Isso leva ao
entendimento teórico da ação.
O elemento-chave na compreensão do fato social é a
ação, e é ela que deve ser prioritariamente investigada
pela teoria. Todos os conceitos devem ser reduzidos à
ação.
Individualismo metodológico
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Não há estruturas supra individuais ou personalidades
coletivas atuantes; a explicação deve partir apenas da
ação individual. Uma postura que se denomina
modernamente de individualismo metodológico: a visão que
permite apenas indivíduos serem os tomadores de
decisão em qualquer explicação dos fenômenos sociais.
A escola histórica, por outro lado, estava presa a
representação de entidades coletivas dotadas de
racionalidade e foi então descartada.
As ideias de Weber foram decisivas nessa rejeição,
principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha.
Ideologia intervencionista
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Portanto, no século XX, a escola histórica alemã foi
perdendo importância. Em especial, a partir de 1917, com
a morte de Schmoller, essa escola praticamente deixou
de existir como entidade própria.
Não apenas no debate metodológico, mas em questão de
política econômica as contribuições desses alemães
foram sendo absorvidas. Em especial, os trabalhos dessa
escola forneceram apoio teórico à ideologia de um
estado intervencionista na economia.
Intervencionismo e nacionalismo na
Alemanha
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Ideias a favor do intervencionismo estiveram muito presentes na
Alemanha do século XIX.
Um estado alemão forte era defendido no contexto em que esse
país encontrava-se numa posição inferior em relação à Inglaterra e
necessitava desenvolver sua indústria de modo a compensar o
atraso.
Ao lado da ênfase no papel ativo do estado, a escola histórica era
nacionalista. Como tal, ela se opunha ao individualismo e ao espírito
cosmopolita dos economistas ingleses da época.
Caberia ao estado estimular a industrialização, investir na melhoria
do transporte e fortalecer a posição do país no comércio
internacional.
Preocupação com a moral
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No plano da doutrina moral, os historicistas alemães
apregoavam que a atividade econômica deveria ser
moralmente justificada.
A produção deveria se dar em volume adequado e o
padrão de distribuição de renda e de riqueza deveria
atender a um critério de justiça. O estado alemão deveria
estar vigilante na promoção dos valores morais na vida
econômica.
Justiça econômica
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O estado não apenas favorece o desenvolvimento
material do país, mas também as condições do cidadão
comum.
Com tal ação, o estado fortalece a lealdade do público
que via nele o zelador da eficiência econômica e o
protetor de seu bem-estar.
Schmoller defende abertamente que o estado patrocine
reformas sociais paternalistas de modo a promover a
justiça econômica. O principal objetivo da política social é
uma distribuição de renda mais justa.
Socialistas de cátedra
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A escola história não advogava teses socialistas; pelo
contrário, esperava que as reformas sociais afastassem os
trabalhadores da ideologia socialista.
Por assumir posições de reforma social fruto meramente
de suas reflexões acadêmicas e não do embate social das
ruas, os professores adeptos da mudança social
moderada eram chamados de “socialistas de cátedra”.
O fabricante de professores
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Até a unificação alemã em 1871, o ambiente acadêmico era
dominado pelo governo da Prússia, o mais forte dos 39
estados separados a que a Alemanha foi dividida depois das
guerras napoleônicas.
Os principais representantes da escola histórica tinham
estreita relação com os oficiais do governo prussiano. Cargos
elevados da vida acadêmica eram alcançados com a indicação
governamental. O governo controlava a maioria das
universidades.
Por sua influência no ministério da educação, Schmoller pôde
exercer uma presença política esmagadora no ambiente
universitário. Os principais cargos acadêmicos eram indicação
sua, tanto que ele se tornou conhecido como o “fabricante de
professores”.
A lealdade ao governo
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Os economistas históricos retribuíam o apoio do governo às
suas pretensões de poder na academia defendendo teses que
beneficiavam o governo imperial da Alemanha, tal como o
fortalecimento de sua presença em um estado nacionalista.
Para tanto, Schmoller foi um dos fundadores e principal líder
do Verein für Sozialpolitik, uma organização que defendia uma
legislação social que favorecesse a maior presença pública em
assuntos sociais e econômicos.
Em vez de uma democratização da sociedade, os adeptos da
escola histórica difundiam valores como a lealdade ao governo
que, em troca, faria concessões paternalistas.
Defesa de indústrias nascentes
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O ataque ao laissez-faire, no contexto de um país que
necessitava recuperar o atraso e desenvolver-se, foi
contribuição importante da escola histórica. Algumas das
teses defendidas lhe eram anteriores.
Elas estavam presentes, por exemplo, em List que propôs
a famosa ideia da defesa de indústrias nascentes: o
governo deveria cobrar uma tarifa elevada de importação
de bens manufaturados para proteger novos ramos
industriais domésticos
List
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List dizia que as nações mais adiantadas tendem a criar
obstáculos para o desenvolvimento dos países atrasados
e que o livre-comércio perpetuaria a desigualdade.
O país que deseja passar de uma fase a outra do
desenvolvimento deve contar com o auxílio do governo.
Trata-se da teoria das fases do crescimento em que o
livre-comércio seria bem-vindo apenas depois que o país
atingisse a maturidade industrial.
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