As regiões de Portugal e Europa e a Política Regional Abel Moreira Mateus Professor da Universidade Nova de Lisboa Índice Economia Urbana • Teorias do comércio internacional e da economia regional • Indicadores sobre concentração regional e especialização sectorial na UE • Impacto da integração europeia e comparação com os EUA • Impacto do alargamento a Leste • A Política Regional da UE • Conclusões e possíveis cenários futuros: implicações para Portugal Abel Mateus, “Economia Regional” Teoria Neo-clássica Nova teoria Comércio Internacional Nova Geografia Económica Estrutura de mercado Concorrência perfeita Concorrência monopolística Concorrência monopolística Determinantes da localização -Diferenças de tecnologia (Ricardo) -Dotação de factores (H-O) -Recursos naturais -Grau de rendimentos à escala ao nível da fábrica -Substitutabilidade de produtos diferenciados -Dimensão do mercado interno -Externalidades tecnológicas -Externalidades pecuniárias (ligações input-output, pool de mão-de-obra, migração induzida pela procura) -Custos do comércio Localização industrial -Distribuição da actividade económica determinada pelas dotações -Especialização inter-industrial -Equilíbrio único -Distribuição da actividade económica em grande parte exógena -Especialização intra e interindustrial -Equilíbrio único -Distribuição da actividade económica endógena -Forças de aglomeração centrípetas -Especialização intra e inter-industrial -Equilíbrio múltiplo -U de Krugman Estrutura do comércio -Inter-industrial -Intra e inter-industrial -Intra e inter-industrial Impacto da liberalização -Ganhos líquidos de bem-estar -Todos os países (regiões) ganham -Proprietários dos recursos escassos perdem -Ganhos líquidos de bem-estar -Grandes países (regiões) ganham mais do que as pequenas -Possibilidade de todos os proprietários de recursos ganharem -Ganhos líquidos de bem-estar -Periferia (centro) perde (ganha) com estádio intermédio de liberalização -Periferia (centro) ganha (perde) com estádio avançado de liberalização Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Espacial Economia Urbana • A teoria tradicional do comércio internacional(RicardoHecksher-Ohlin) diz que: – a localização dominante é inter-sectorial, com os sectores a acompanhar as vantagens comparativas das regiões, – Com custos do comércio, e a procura distribuída mais equilibradamente que os recursos, a dispersão da actividade económica estaria correlacionada positivamente com o nível dos custos do comércio. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Espacial Economia Urbana • As novas teorias do comércio internacional supõe que a força de trabalho determina a dimensão do mercado e que não há mobilidade do trabalho entre países: – Existe especialização inter-sectorial, com as actividades agrupadas em clusters que oferecem melhores condições de aprovisionamento dos mercados. – Existe especialização intra-sectorial entre empresas, em que cada uma produz uma variedade entre um conjunto horizontal de produtos. – Com a redução dos custos de comércio as actividades com rendimentos crescentes à escala tendem a localizar-se no Centro. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Espacial Economia Urbana • A nova geografia económica, supõe que todos os factores, incluindo as empresas, são móveis. A distribuição espacial tende a ser instável devido às ligações input-output e às externalidades de mercado: – os grandes países do core produzem uma maior variedade de bens com rendimentos crescentes e beneficiam mais do efeito “mercado doméstico”. Os sectores com elevadas economias de escala localizam-se próximo destes centros. Estes centros pagam salários mais elevados, o que atrai mais trabalhadores e alarga o mercado. – os países da periferia especializam-se em sectores intensivos em mão-de-obra com baixos salários, rendimentos constantes e spillovers limitados. – Mas estas soluções são instáveis, podendo-se produzir um U na relação entre custos do comércio e grau de concentração. Abel Mateus, “Economia Regional” Hot Banana Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Espacial Economia Urbana • A Figura seguinte representa o modelo de U-daespecialização de Krugman. • Em A, com elevados custos de transporte e comunicações, e barreiras ao comércio internacional, existe uma elevada dispersão da actividade económica • A baixa dos custos de transporte e outros custos leva a uma maior concentração da actividade económica (B) • Continuando aqueles a baixar, e aumentando a disparidade nos custos da mão-de-obra (ou outros custos dos factores que não migram) entre o centro e a periferia, começa a tornar-se cada vez mais rentável deslocalizar certa produção para a periferia (C). Temos o fenómeno da globalização com subida dos salários reais da periferia e possível queda dos salários reais da mão-de-obra não qualificada do centro. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Espacial C Grau de concent ração Grau de dispersão A B Redução cust os t r anspor t e Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • UE: com elevada disparidade regional nos níveis de desenvolvimento económico • A disparidade entre a região mais pobre (Iperos-Grécia) e mais rica (Londres) é de 1:5,33 • A disparidade entre o país mais pobre (Grécia) e o país mais rico (Luxemburgo) é de 1:2,22. Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” at al rid un a ad or ad jo s ro Ip ei s re ra tro ei en Aç o M C te te Al en N Li sb oa Al ga rv e C M Pa ris Br em en Lo nd re sC en tra H l am bu rg Lu o xe m bu rg o Br ux el as D ar m st ad t Vi en O a be rb ay er n Economia Regional PIB per capita (UE=100) 250 200 150 100 50 0 Abel Mateus, “Economia Regional” A Posição das regiões portuguesas • Lisboa e Vale-do-Tejo está já próxima da média da UE • As regiões mais atrasadas são os Açores e Alentejo (56 e 58% da média da EU) • As regiões com maior sucesso de convergência são a Madeira* e Algarve (ganharam 40 e 33 pontos percentuais nos últimos 30 anos) _________________ Nível do PIB da Madeira está afectado pela estimação do off-shore. Abel Mateus, “Economia Regional” 1999 REGIOES PIB a preços de m ercado 10 9 Euro % PIB a preços de m ercado per capita VAB por pessoa em pregada 10 3 Euro 10 3 Euro Total 108.0 100.0 10.6 19.2 Norte 31.5 29.2 8.7 16.3 Centro 14.9 13.8 8.4 15.6 Lisboa e Vale do Tejo 48.3 44.7 14.1 24.1 Alentejo 4.4 4.1 8.4 17.4 Algarve 3.9 3.6 10.3 19.4 R.A.Açores 1.9 1.8 8.1 15.1 R.A.Madeira 2.8 2.6 11.5 20.2 Extra Regio 0.2 0.2 Abel Mateus, “Economia Regional” 18.5 Convergência regional 120 100 Continente 80 Norte Centro Lisboa e VTejo 60 Alentejo Algarve 40 Açores Madeira 20 0 1970 1980 Abel Mateus, “Economia Regional” 1985 1990 1995 2000 Economia Espacial: comparação Europa e EUA A Europa está bastante atrasada em relação aos EUA: em nível de vida, produtividade e nível de emprego 160 140 120 Standart of living (PPP) Labour productivity (PPP) mployment level Consumer price level 100 80 60 40 20 0 EU15 Abel Mateus, “Economia Regional” USA A disparidade no PIB per capita entre regiões da UE é o dobro da dos EUA (First Report on Economic and Social Cohesion, European Commision) Entre 2/3 e ¾ da actividade económica na UE é gerada nas áreas urbanas. Abel Mateus, “Economia Regional” Convergência entre regiões da Europa • Sala-i-Martin estimou uma taxa de convergência entre 1950 e 1990 de cerca de 2% ao ano • Mas este processo entrou em reverso nos anos 1990, desde que a integração europeia se começou a aprofundar (Magrini, 1999) • Cerca de metade da diferença no rendimento entre regiões é devida a diferenças entre os países membros (Fuente e Vives (1995) • Embora se tenha continuado a verificar convergência entre países nos anos 1990, aumentou a disparidade entre regiões • Maior concentração de actividades económicas num dado país e maior concentração em certos Abel Mateus, sectores “Economia a Regional” nível da UE (Amiti, 1998) Economia Regional A especialização está a crescer mas a um ritmo lento Ta b le 1 : E vo lutio n o f the P ro d uc tio n a nd Tra d e S p e c ia lis a tio n o f the E U m e m b e r S ta te s (1 9 7 0 -1 9 9 7 ) K ru g m a n s p e c ia lis a tio n 7 0 /7 3 8 0 /8 3 8 8 /9 1 9 4 /9 7 P ro d uc tio n 0 .4 3 0 .4 0 .4 4 0 .4 7 E xp o rts 0 .6 7 0 .6 2 0 .6 3 0 .6 3 in d e x S o u rc e : M id e lfa rt -K n a rvik e t a l. (1 9 9 9 ) Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • Enquanto o grau de especialização industrial nos Seis cresceu gradualmente, • A entrada na CE produziu um forte aumento na Espanha, Portugal, Grécia, Irlanda e Dinamarca, iniciado em (198486), que são os países com maior grau de especialização. • O processo de especialização ainda foi mais intenso na Finlândia, Áustria e Suécia a partir de 1994-96. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • França, Alemanha e Reino Unido são países com elevado nível tecnológico e com indústrias com rendimentos crescentes à escala. Por exemplo, 70% do VAB da indústria automóvel está concentrado nestes três países. • A Irlanda e a Finlândia especializaram-se em sectores de elevada tecnologia e de rendimentos crescentes. A intensidade de mão-de-obra qualificada subiu drasticamente na Irlanda nos anos de 1980 e 1990. • A Grécia e Portugal permanecem especializados em sectores intensivos em mão-de-obra de baixos salários e de baixo nível tecnológico. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • Os estudos da Comissão suportam a ideia de que o peso do comércio intra-industrial cresceu na Europa nos últimos 30 anos devido ao processo de integração e à convergência de tecnologias e de dotação de factores. • A subida desta percentagem foi notável para Portugal. • Mas estudos mais recentes do CEP mostram que se deu intensificação de comércio intra-industrial de produtos de baixa qualidade do Sul contra alta-qualidade do Norte. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • • • • Em comparação com os EUA a especialização regional e a concentração industrial são bastante mais elevadas nos EUA que na UE Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • Experiência histórica dos EUA (que já leva um avanço de cerca de um século na integração económica) – Na indústria, e desde finais do século XIX até em torno dos anos 1950, houve um forte aumento da concentração regional (e empresarial) – na última metade do século XX deu-se um declínio na concentração - que ainda está em curso – Nos serviços, a especialização regional é menor do que na indústria. Com a terciarização das economias, os índices globais de concentração tendem a baixar • Esta experiência corrobora a teoria do U- daespecialização regional de Krugman Kim, Economic integration and convergence: US regions, 1840-1987, NBER WP 6335, 1997 Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • Principal conclusão: ainda é cedo para verificar a teoria de U-daespecialização na Europa, mas a evidência está a indicar uma tendência para maior concentração, seja a nível de país, seja a nível da EU. (Estaríamos do lado esquerdo do U). • O impacto da adesão à UE provocou importantes efeitos de especialização dentro dos pequenos países membros. • Mas enquanto que a especialização foi no bom sentido para os pequenos países do Norte (Irlanda e Finlândia), nos países do Sul (Grécia e Portugal) ainda não é claro que a especialização tenha sido no sentido de sectores com mais intensidade tecnológica e mão-deobra mais qualificada. • A adaptabilidade e os ajustamentos estruturais são fundamentais para a competitividade, crescimento e emprego. Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • E o futuro da Europa? • As ligações a jusante dos sectores industriais estão a tornar-se cada vez mais importantes determinantes de localização. Por exemplo, os fornecedores de componentes de automóveis estão a localizar-se cada vez mais junto às fábricas de montagem. • As ligações a montante também se estão a tornar importantes. Indústrias muito dependentes de bens intermédios estão-se a localizar nas regiões centrais com bom acesso aos fornecedores. • As indústrias e serviços com elevada intensidade tecnológica e de mão-de-obra qualificada vão tender a localizar-se junto de grandes pools de capital humano e acesso fácil a centros de R&D. Abel Mateus, “Economia Regional” Impacto do Alargamento • Portugal vai sofrer um corte nos Fundos Estruturais que deverá atingir 20-30% em 2010 • Os benefícios per capita da PAC vão-se reduzir de 15-20% até 2010 • Os sectores em que Portugal vai perder mais a favor do Leste são os Têxteis (também sujeitos à concorrência chinesa) e no Equipamento e Material de Transporte (já se está a verificar um enorme deslocamento do IDE para Leste) Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” Efeitos Produção para Europa de Leste Produtividade 2.50% Serviços Públicos Serviços Privados Têxteis Curtumes e calçado Madeira Metais Minerais Químicos Alimentares Equipamento transportes Máquinas Outras manufacturas Agricultura Energia 4.55 6.00 14.00 10.61 7.94 12.30 9.01 9.09 7.29 37.15 18.16 9.62 -5.58 -4.28 Prémio de risco Liberalização 5% -5% -10% 10% 9.38 12.33 28.84 21.99 16.32 24.93 18.40 18.73 15.32 74.97 37.05 19.76 -11.33 -9.04 2.39 4.00 8.75 6.73 5.03 7.96 5.94 5.80 4.51 23.11 11.56 6.11 -4.95 0.07 Fonte: Forslid, et. Al. Economics of Transition, 2002. Abel Mateus, “Economia Regional” 4.86 8.22 17.93 13.86 10.30 16.14 12.12 11.94 9.38 46.66 23.51 12.50 -9.93 0.03 0.56 1.68 42.08 12.09 2.81 4.66 2.96 6.19 3.63 23.92 1.56 2.95 -10.45 -14.82 20% 3.05 7.37 179.16 44.03 12.89 15.94 11.05 23.96 16.91 71.81 19.50 15.83 -46.92 -63.12 Política Regional Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” A Política Regional é redistributiva: Abel Mateus, “Economia Regional” Política Regional da EU para o QEA (2000-2006) • Os quadros seguintes mostram a dimensão do QEA da União. Portugal beneficia com cerca de 40 biliões de euros, contando com os fundos complementares do orçamento português. • Portugal é o país que mais está a beneficiar, em termos de percentagem do PIB (4,7%) e segundo em termos per capita (540 euros per capita). • A maioria dos fundos continuam a ser orientados para infraestruturas, seguindo-se os destinados a apoio económico, e os recursos humanos. Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” • Os impactos macroeconómicos estimados com um modelo input-output encontram-se no quadro seguinte: Abel Mateus, “Economia Regional” Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • E o futuro de Portugal? • Nos últimos quinze anos houve um notável processo de convergência real com aproximação das dotações dos factores da UE, mas este processo está no último quinquénio em desaceleração e as estimativas são agora de pelo menos 50 a 60 anos para atingir a média da EU. • O progresso técnico a favor de sectores intensivos em mão-de-obra qualificada (tecnologias de informação) e redução dos custos de transporte e comunicação vão continuar a intensificar a globalização: países com mais baixos níveis de qualificação (Portugal) vão sofrer a concorrência dos PVD. • Necessidade de continuar a reduzir custos de periferia (estamos a caminhar de B para C no U-Krugman?) Abel Mateus, “Economia Regional” Economia Regional Economia Urbana • O alargamento a Leste vai provocar maior concorrência nos sectores intensivos em mão-de-obra não qualificada (têxteis e vestuário). Preocupação com perda de competitividade da economia portuguesa. • A maior concentração das indústrias com economias de escala e efeitos a montante pode levar a uma progressiva transferência para o centro (impacto sobre a indústria automóvel e componentes). Possíveis obstáculos na convergência. • A terciarização da economia vai continuar a intensificar-se. • Políticas importantes: intensificação da acumulação de capital humano, maior adaptabilidade e flexibilidade nas estruturas produtivas, maior dinamismo na transformação empresarial - e políticas de facilitação destes processos. Abel Mateus, “Economia Regional”